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Para estabelecer um jogo de palavras que contrapõe os deslocamentos reais aos imaginários, o autor da tira recorre a pronomes. Na fala da menina Enriqueta, esses termos cumprem uma função generalizadora: levam o leitor a refletir sobre o poder da ficção na criação de mundos imaginários e sobre a possibilidade, criada pela leitura, de “viagens” por esses mundos. Os pronomes nenhum e qualquer desempenham uma função importante na construção do sentido da tira, porque participam do jogo de palavras que sugere um dos grandes prazeres associados à leitura: a descoberta de outros mundos e realidades por meio da ficção. Por serem pronomes indefinidos, esses termos permitem a elaboração de reflexões de natureza mais generalizante, filosófica, como é o caso da segunda fala de Enriqueta (“O bom das férias é que não temos que ir a lugar nenhum, então podemos ir a qualquer lugar...”). Nas próximas seções, vamos conhecer os pronomes demonstrativos e os indefinidos. Pronomes demonstrativos Pronomes demonstrativos são aqueles que fazem referência às pessoas do discurso, estabelecendo, entre elas e os seres por eles designados, uma relação de proximidade ou distanciamento, no tempo e no espaço. Observe. Na tira, o pronome este é usado por Jon para identificar a tigela com a ração destinada ao gato Garfield. Este é um pronome demonstrativo. O efeito de humor, nesse caso, é construído justamente pelo valor demons- trativo do pronome por meio do qual Jon procura enfatizar que a comida do gato é a ração e não o filé com ervilhas que está sendo devorado por Garfield naquele momento. Esse tipo de pronome também mantém um vínculo estreito com os pronomes pessoais, pois indica, com relação às pessoas do discurso, o que delas está próximo ou distante, no espaço e no tempo. Assim: Traga para mim aquele livro que está sobre a mesa da sala (aquele: pro- nome demonstrativo que indica distanciamento no espaço entre o ser por ele designado [livro e a 1a e 2a pessoas do discurso). A principal característica dos pronomes demonstrativos, portanto, é a sua função dêitica ou indicativa. a) Quais são os termos responsáveis pelo estabelecimento do contraste entre as afirmações contrapostas nesse jogo de palavras? b) De que modo o uso desses termos afeta o sentido do substantivo que acompanham? GARFIELD Jim Davis DAVIS, Jim. Garfield. Folha de S.Paulo. São Paulo, 24 nov. 2009. 228 U n id ad e 4 • C la ss es d e pa la vr as R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt . 1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . I_plus_gramatica_cap15_C.indd 228 2/12/10 2:52:34 PM • As formas dos demonstrativos são as seguintes: Também são pronomes demonstrativos: o, a, os, as quando seu sentido for equivalente a isto, isso, aquilo, aquele, aquela, aqueles, aquelas. O (aquele) que chegar primeiro ganhará um prêmio. Não podemos ignorar tudo o (aquilo) que os nossos antecessores fizeram. São loucos os (aqueles) que agem desta forma. São pronomes demonstrativos as palavras mesmo(a)(s), próprio(a)(s), semelhante(s) e tal, tais quando determinam substantivos. Observe. Encontrei-me, depois de tantos anos, com a mesma senhora que vendia balas de coco! Este é o próprio autor do livro? Ele já sabia que tais boatos iriam circular, após a sua demissão. Os demonstrativos podem ocorrer combinados com as preposições de e em. Nesse caso, as formas resultantes serão: deste (e flexões), neste (e flexões), nesse (e flexões), disto, disso, nisto, nisso; daquele (e flexões), naquele (e flexões), daquilo, naquilo. • É importante lembrar o tipo de relação que cada um dos pronomes demonstrativos pode estabelecer para que se possam compreender as sinalizações que fazem sobre espaço, tempo e as pessoas do discurso. Este , esse isto isso Este (e suas flexões de gênero e número) e isto indicam proximidade espacial com relação à 1a pessoa do discurso. Este indica tempo presente, também com relação à 1a pessoa. Veja. Isto está com cheiro de mofo. Nesta tarde, às cinco horas, haverá um show beneficente. Esse (e suas flexões) e isso indicam proximidade espacial com relação à 2a pessoa do discurso. Observe a tira. Pronomes demonstrativos + preposição de deste, daquele (e flexões) disto, disso, daquilo + preposição em neste, nesse, naquele (e flexões) nisto, nisso, naquilo Variáveis Invariáveis Masculino Feminino este estes esta estas isto esse esses essa essas isso aquele aqueles aquela aquelas aquilo MINDUIM Charles M. Schulz SCHULZ, Charles M. Snoopy. Jornal da Tarde. São Paulo, 7 set. 2003. 229 C ap ít u lo 1 5 • P ro no m e II R ep ro du •‹ o pr oi bi da . A rt . 1 84 d o C —d ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . I_plus_gramatica_cap15_C.indd 229 12/6/10 4:17 PM Para identificar duas coisas que a irritam (o lençol de Linus e os biscoitos do Snoopy), Lucy usa o pronome demonstrativo esse(s). O fato de o lençol e os biscoitos estarem próximos de seus interlocutores explica a escolha da menina por esta forma do demonstrativo. Esse indica ainda tempo passado ou tempo futuro pouco distante com relação à época em que se dá a interlocução. Veja. O resultado sairá nessa segunda. Aquele (e suas flexões), aquilo Aquele (e suas flexões) e aquilo indicam distanciamento espacial com relação à 1a e à 2a pessoas do discurso. Aquele indica passado vago ou muito remoto. Aquelas árvores no alto daquela colina são pinheiros. Você sabe o que é aquilo brilhando lá no céu? Naquele tempo, acreditava-se mais na palavra das pessoas. Este e aquele também são usados, em textos, para fazer referência a elementos mais próximos (este) em contraposição a elementos mais distantes (aquele) no próprio texto: “Os homens e as mulheres jamais se entenderão: estas os acusam de machistas; aqueles não aceitam sua pos- tura feminista”. Esse e este podem ser empregados para se referir a afirmações feitas no texto. Esse refere-se ao que já foi abordado anteriormente e este ao que acaba de ser mencionado. Observe. Seja como for, podemos remontar toda essa enorme produção literária e cinematográfica ao ano de 1898, quando o escritor inglês Herbert George Wells (1866- -1946) publicou seu romance A guerra dos mundos — aliás, este mesmo romance também mereceu uma adaptação De olho na fala Na fala, os pronomes esse (e flexões) e aquele (e flexões) são muitas vezes empregados na mesma frase, desacompanhados dos elementos a que fa- zem referência, o primeiro para indicar a proximidade espacial de algo em relação à 2a pessoa do discurso e, o segundo, para fazer referência à 3a pessoa do discurso (o assunto). Um exemplo de uma ocorrência desse tipo seria quando, em uma conversa de duas pessoas diante de um computador, uma delas diz à outra: Esse é aquele (para identificar um arquivo referido em uma conversa anterior). O referente dos pronomes pode, em uma circunstância como essa, ser indicado por meio de um gesto. No caso da escrita, porém, uma indeterminação desse tipo poderia criar problemas. Se não explici- tarmos os referentes dos pronomes, o enunciado pode se tornar incompreensível. O mesmo exemplo, nesse caso, deveria vir apresentado de outro modo: Esse arquivo é aquele de que falávamos. 230 U n id ad e 4 • C la ss es d e pa la vr as R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt . 1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . I_plus_gramatica_cap15_C.indd 230 2/12/10 2:52:34 PM