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w w w .m o d e rn a p lu s. co m .b r Moderna PLUS GRAMÁTICA 2 TEXTO: ANÁLISE E CONSTRUÇÃO DE SENTIDO Volume único MARIA LUIZA M. ABAURRE MARIA BERNADETE M. ABAURRE MARCELA PONTARA Parte II Unidade 4 Classes de palavras Capítulo 12 Substantivo Pratique Os diminutivos pesinho e coraçãozinho, por sua vez, têm uma conotação mais afetiva. O resultado do investimento na variação do grau dos substan- tivos destacados é evidente: a crônica fica com um tom mais bem-humorado e consegue caracterizar, de modo facilmente compreensível para o leitor, determinado tipo de comportamento feminino. No texto analisado, a variação de grau é usada com sentido pejorativo. Sua tarefa, agora, é fazer exatamente o inverso: escreva uma crônica em que a variação de grau do substantivo seja usada de modo positivo. Seu tema será: “um mulherão”. Em seu texto, esse e outros substantivos devem aparecer nos graus aumentativo e diminutivo. Provavelmente você já deve ter ouvido o aumentativo mulherão utilizado em um contexto muito específico, para fazer referência aos atributos físicos de uma mulher. Mas será que é só a beleza que permite o uso desse aumen- tativo? Que atitudes e práticas diárias podem caracterizar um mulherão? Antes de escrever seu texto, faça uma relação dos comportamentos que justifiquem essa denominação e pense em qual pode ser a melhor maneira de ilustrá-los, como fez a autora do texto “Mulherzinha!”. Explicar aos alunos que a crônica (principalmente uma que invista no humor, como é o caso do texto trans- crito) admite o uso de um registro mais coloquial do português escrito, recorrendo, em certos momentos, a estruturas próprias da oralidade. Por esse motivo, não devem estranhar a presença, no texto, de gírias (tipo, super), reduções de formas verbais (tô, tá), etc. O objetivo desta atividade é permitir que os alunos reflitam so- bre o valor conotativo das formas associadas às variações de grau dos substantivos. Como a tarefa pede que produzam uma crônica definindo um mulherão, é fundamental que o texto resultante apresente uma estrutura compatível com o gênero textual solicitado e que outros substantivos, além de mulherão, sejam usados em seu grau aumentativo ou diminutivo. Na crônica a seguir, a escritora gaúcha Martha Medeiros questiona o estereótipo do mulherão na visão dos brasileiros. Se achar interessante, leia o texto para seus alunos. O mulherão Peça a um homem para descrever um mulherão. Ele imediatamente vai falar no tamanho dos seios, na medida da cintura, no volume dos lábios, nas pernas, bumbum e cor dos olhos. Ou vai dizer que mulherão tem que ser loira, 1,80 m, siliconada, sorriso colgate. Mulherões, dentro deste conceito, não existem muitas: Vera Fischer, Letícia Spiller, Malu Mader, Adriane Galisteu, Lumas e Brunas. Agora pergunte para uma mulher o que ela considera um mulherão e você vai descobrir que tem uma em cada esquina. Mulherão é aquela que pega dois ônibus para ir para o trabalho e mais dois para voltar, e quando chega em casa encontra um tanque lotado de roupa e uma família morta de fome. Mulherão é aquela que vai de madrugada pra fila garantir matrícula na escola e aquela aposentada que passa horas em pé na fila do banco pra buscar uma pensão de 100 reais. Mulherão é a empresária que administra dezenas de funcionários de segunda a sexta, e uma família todos os dias da semana. Mulherão é quem volta do supermercado segurando várias sacolas depois de ter pesquisado preços e feito malabarismos com o orçamento. Mulherão é aquela que se depila, que passa cremes, que se maquia, que faz dieta, que malha, que usa salto alto, meia-calça, ajeita o cabelo e se perfuma, mesmo sem nenhum convite para ser capa de revista. Mulherão é quem leva os filhos na escola, busca os filhos na escola, leva pra natação, busca os filhos na natação, leva os filhos pra cama, conta histórias, dá um beijo e apaga a luz. Mulherão é aquela mãe de adolescente que não dorme enquanto ele não chega, e que de manhã bem cedo já está de pé, esquentando o leite. Mulherão é quem leciona em troca de um salário mínimo, é quem faz serviços voluntários, é quem colhe uva, é quem opera pacientes, é quem lava roupa pra fora, é quem bota a mesa, cozinha o feijão e à tarde trabalha atrás de um balcão. Mulherão é quem cria filhos sozinha, quem dá expediente de oito horas e enfrenta menopausa, TPM e menstruação. Mulherão é quem arruma os armários, coloca flores nos vasos, fecha a cortina para o sol não desbotar os móveis, mantém a geladeira cheia e os cinzeiros vazios. Mulherão é quem sabe onde cada coisa está, o que cada filho sente e qual o melhor remédio para azia. Lumas, Brunas, Carlas, Luanas e Sheilas: mulheres nota dez no quesito lindas de morrer, mas mulherão é quem mata um leão por dia. Março de 1999 MEDEIROS, Martha. Trem-bala. 7. ed. Porto Alegre: L&PM, 2001. p. 205-206. w w w .m o d e rn a p lu s. co m .b r Moderna PLUS GRAMÁTICA 1 TEXTO: ANÁLISE E CONSTRUÇÃO DE SENTIDO Volume único MARIA LUIZA M. ABAURRE MARIA BERNADETE M. ABAURRE MARCELA PONTARA Parte II Unidade 4 Classes de palavras Capítulo 13 Adjetivo Usos das formas aumentativas e diminutivas USOS DE... Como vimos em relação ao substantivo, a variação de grau pode as- sumir conotações fortes e expressar opiniões muito marcadas. No caso dos adjetivos, cuja função é, por definição, especificar algo referido pelo substantivo, o caráter valorativo expresso pelas formas aumentativas e diminutivas pode ser ainda maior. Na crônica transcrita a seguir, a jornalista Sonia Biondo reflete sobre o preconceito que pode se esconder por trás do uso de adjetivos no diminutivo para fazer referência a bens associados a mulheres. Observe. O maravilhoso mundo da mulher Pode ser a seu favor, vá lá, mas todo cuidado é pouco. Quando, no meio de uma conversa, alguém usar a perigosíssima expressão de mulher, desconfie. Tanto pode estar se referindo a um carro quanto a uma roupa, a um perfume ou uma profissão — em qualquer caso, o termo esconde, ainda que embalado em carinho e boas intenções, um preconceito horrendo. Imagine só: você vai comprar um carro, aquele momento impor- tantíssimo na vida da mulher, e de repente é surpreendida com uma amável sugestão: “Por que não um bem bonitinho, pequenininho, branquinho, uma gracinha?”. A su- cessão de diminutivos é o primeiro mau sinal. Por que você teria de escolher um carro assim? Sem falar que a existência de um carro de mulher significaria a possibilidade de um modelo oposto — o carro de homem. Que, pelo visto, deve ser bonitão, grandão, por aí. Mas do que é que nós estamos falando mesmo? De preconceito, claro. Cada vez que seu namorado, filho, pai, irmão, amigo ou marido recomendar para você um carro de mulher, a luta feminina perde mais um round. A mo- tivação para um conselho do gênero é a mesma que, mais cedo ou mais tarde, acabará justificando um salário mais baixo para uma mulher solteira, por exemplo. Afinal, ela precisaria ganhar apenas o suficiente para manter sua vidinha, comprar suas roupinhas e, adivinhe só, o seu carrinho. E o apartamento de uma mulher sozinha, então? Tem que ser aconchegante, dizem. Por que não um bem grande de quatro quartos, só para ter o prazer de ver os três lá, vazios, prontos para serem qualquer coisa que você quiser? [...] Na longa batalha que a mulher começa a travar pela desigualdade em relação ao sexo masculino, a tão sonhada diferença não está no modelo da roupa, no tipo do carro ou no tamanho do apartamento. Felicidade mesmo será ser reconhecida como mulher, com jornadas de trabalho justas em relação às obrigações da maternidade, por exemplo, e poder comprar um carrão todo só para ela com um salário igualzinho ao do marido. E o melhor: continuar casada com ele. BIONDO, Sonia. Mulher integral; cem flagrantes femininamente corretos sobre a nova mulher. Rio de Janeiro: Gryphus, 1999. p. 55-56. (Fragmento). A jornalista discute as imagens associadas a carrosde mulher e de homem. Para traduzir a expectativa da sociedade brasileira em relação ao tipo de carro que uma mulher deve ter, recorre a uma sequência de adjetivos no diminutivo: bonitinho, pequenininho, branquinho, gracinha. E adverte: “A sucessão de diminutivos é o primeiro mau sinal”. Por que os diminutivos podem ser vistos como um “mau sinal” em relação ao que a sociedade espera da mulher? De modo geral, o estereótipo social da mulher é de um ser mais frágil, dependente, incapaz de tomar decisões, que precisa do cuidado e da proteção dos homens. Nesse sentido, os adjetivos no diminutivo ajudam w w w .m o d e rn a p lu s. co m .b r Moderna PLUS GRAMÁTICA 2 TEXTO: ANÁLISE E CONSTRUÇÃO DE SENTIDO Volume único MARIA LUIZA M. ABAURRE MARIA BERNADETE M. ABAURRE MARCELA PONTARA Parte II Unidade 4 Classes de palavras Capítulo 13 Adjetivo Pratique a reforçar essa imagem, porque atenuam o sentido e dão a impressão de um carro mais delicado, adequado a uma pessoa também delicada. Observe que o uso de aumentativos teria um efeito contrário e, pro- vavelmente, emprestaria um aspecto “masculinizado” ao carro. É por isso que a jornalista faz a hipótese de que o carro de homem deve ser “bonitão, grandão, por aí”. Na visão preconceituosa que nem chega a ser discutida, ou sequer percebida, os diminutivos dão uma ideia de feminilidade, porque sugerem fragilidade; e os aumentativos passam a impressão de masculini- dade, porque sugerem virilidade. Como revela a própria autora, o trágico da perpetuação de imagens estereotipadas como essas sobre mulheres e homens é que, no caso das mulheres, tais imagens parecem sugerir que as necessidades individuais e as expectativas sociais devem ser menores. Isso tem uma consequência direta nas relações trabalhistas: “afinal, [a mulher] precisaria ganhar apenas o suficiente para manter sua vidinha, comprar suas roupinhas e, adivinhe só, o seu carrinho”. Por meio de uma sucessão de substantivos no dimi- nutivo, Sonia Biondo ajuda a compreender melhor algo que contribui para a perpetuação de uma situação de injustiça social grave: muitas vezes mulheres exercendo a mesma função que homens recebem um salário menor que o deles. Essa crônica ajuda a tomar consciência do poder conotativo da lingua- gem. No caso, o uso do diminutivo para adjetivar um bem feminino pode ser o primeiro sinal de que ainda há muito a mudar na sociedade brasileira em relação à imagem que se faz das mulheres. Só assim elas conquistarão o direito a ter um salário igualzinho ao dos homens. Agora que você tomou conhecimento do valor conotativo do uso das formas aumentativas e diminutivas dos adjetivos, sua tarefa será procurar um texto que exemplifique um uso semelhante ao feito por Sonia Biondo. Depois de encontrado o exemplo, você deverá analisar o contexto em que ele ocorre e produzir um parágrafo explicando o sentido conotativo que os aumentativos e/ou diminutivos assumem no texto. O objetivo desta atividade é permitir que os alunos passem a observar e analisar contextos de ocorrência da flexão de grau dos adjetivos. No momento de avaliar as análises feitas é importante ob- servar se os alunos realmente iden- tificaram casos de formas derivadas de adjetivos no aumentativo ou no diminutivo. É muito frequente, nesses contextos, a confusão entre formas derivadas de substantivos e as derivadas de adjetivos.