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R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 129 C a p ít u lo 4 • A d e sc o b e rt a d a c é lu la v iv a Observação vital Uma técnica citológica relativamente simples é a observação vital, também conhecida por exa- me a fresco. O material biológico vivo é colocado entre a lâmina e a lamínula e observado. Essa técnica é utilizada, por exemplo, para observar células vegetais vivas. (Fig. 4.8) Fixação e coloração das células A observação a fresco permite distinguir poucas estruturas celulares. Para evidenciar os detalhes internos das células, o material bioló- gico tem de passar por diferentes tratamentos antes de ser observado. Geralmente, o primeiro tratamento é a fixação, que consiste em matar rapidamente as células, preservando ao máximo sua estrutura interna, como se fosse uma es- pécie de mumificação. Para obter esse efeito, costuma-se mergulhar as células em líquidos fixadores (formol, ácido acético, álcool etc.), que têm a propriedade de coagular as proteínas do material, preservando o aspecto geral da célula e das estruturas celulares. As estruturas celulares, mesmo depois de fixadas, apresentam contraste pequeno, distin- guindo-se pouco umas das outras. Para superar essa dificuldade, os cientistas desenvolveram técnicas para colorir determinadas estruturas celulares, a fim de realçá-las. Depois de obter fatias finas de células previamente fixadas, elas são colocadas sobre lâminas de vidro e mergu- lhadas em soluções que contêm substâncias coloridas, os corantes. Os corantes têm afinidade por certas estruturas da célula, associando-se especificamente a elas. Depois que a preparação é retirada do corante, lavada e observada ao mi- croscópio, essas estruturas tornam-se coloridas e destacam-se das demais. Figura 4.8 Observação vital (ou exame a fresco) de células do pelo estaminal da trapoeraba-roxa (Tradescantia pallida), uma planta comum de jardim. A. Aspecto geral da planta em um canteiro. B. Folhas e flores. C. Detalhe da flor, mostrando os pelos estaminais (setas). D. Micrografia de pelos estaminais com células vivas, observadas ao microscópio óptico (aumento 1103). E. Micrografia de células do pelo estaminal observadas em maior aumento ( 2703). D E B A C R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 130 U n id a d e B • O rg a n iz a çã o e p ro ce ss o s ce lu la re s Figura 4.9 Micrografia de corte de pele humana corada com hematoxilina e eosina e observada ao microscópio óptico (aumento 3003). Uma técnica comum de coloração citológica emprega os corantes hema- toxilina e eosina. A hematoxilina é um corante azul-arroxeado com grande afinidade pelo núcleo celular e pouca afinidade pelo citoplasma; a eosina é um corante alaranjado com grande afinidade pelo citoplasma celular e pouca afinidade pelo núcleo. Células coradas simultaneamente com esses dois corantes aparecem ao microscópio com o núcleo arroxeado e o citoplasma alaranjado. (Fig. 4.9) Nos exames a fresco, também podem-se utilizar alguns corantes espe- ciais, conhecidos como corantes vitais, que penetram na célula e evidenciam suas estruturas sem matá-la. Exemplos de corantes vitais são o azul de me- tileno e o verde Janus, este último com grande especificidade na coloração de estruturas citoplasmáticas denominadas mitocôndrias. Esfregaço Se o material biológico é constituído por células isoladas ou pouco unidas entre si, pode-se simplesmente espalhá-lo sobre a lâmina de vidro, processo conhecido por esfregaço. Por exemplo, para preparar lâminas de sangue, pinga-se uma gota desse material sobre a lâmina e espalha-se bem, para formar uma camada fina. Isso evita que as células fiquem empilhadas e permite observá-las isoladamente. A técnica de esfregaço também pode ser utilizada para observar células de revestimentos mucosos, as quais se soltam com certa facilidade. Por exemplo, para obter células do revestimento interno da boca, raspa-se levemente a superfície da mucosa bucal com um instrumento adequado, espalhando as células coletadas sobre uma lâmina de microscopia, de modo a obter o esfregaço. (Fig. 4.10) Esmagamento No caso de células frouxamente associadas, como as de partes moles de tecidos animais ou vegetais, pode-se preparar o material por meio da técnica de esmagamento. O material, geralmente já fixado e corado, é colocado entre uma lâmina e uma lamínula de vidro e esmagado pela pressão suave do dedo polegar. Em alguns casos, o material pode ser aquecido previamente para fazer com que suas células se separem com mais facilidade. (Fig. 4.11) Corte manual Quando o material biológico tem células firmemente unidas entre si, é necessário cortá-lo em fatias finas, denominadas cortes histológicos. É possível cortar manualmente certos materiais vegetais relativamente rígidos — caules, raízes, folhas etc. — com uma lâmina de barbear bem afiada e observá-los a fresco entre a lâmina e a lamínula. As estruturas vegetais, sendo geralmente mais rígidas que as dos animais, permitem a confecção de cortes suficientemente finos para uma observação vital satisfatória. Inclusão e corte com o micrótomo O estudo microscópio detalhado das células requer que elas sejam cortadas em fatias muito finas. Para isso, é preciso submeter os materiais biológicos a tratamentos que endurecem as células e facilitam o corte. O método mais comum para enrijecer materiais biológicos é chamado de inclusão. O material é mergulhado em uma substância inicialmente lí- quida que depois endurece, preenchendo-o e envolvendo-o completamente. Em preparações destinadas ao microscópio óptico, mergulha-se em para- fina derretida pelo calor o material já fixado e espera-se que ela esfrie e solidifique. O material fica, assim, incluído dentro de um bloco de parafina solidificada e pode ser cortado em fatias bem finas, com cerca de 5 micro- metros de espessura. Para se realizarem cortes histológicos finos assim, emprega-se um aparelho chamado micrótomo. (Fig. 4.12) Figura 4.10 Micrografias de células da mucosa bucal humana ao microscópio óptico (aumento 2403). A. Sem coloração, com um recurso óptico que aumenta o contraste. B. Com coloração dos núcleos por hematoxilina. C. Com dupla coloração, por hematoxilina (colore núcleos) e eosina (colore o citoplasma). A B C Tubo com orceína em aquecimento Cebola Fragmentação com estiletes Corte das pontas das raízes Colocação da lamínula Orceína fria Esmagamento A B C D E F G Colocação da lamínula Transferência dos cortes para a lâmina Imersão do material biológico Forma de metal com parafina líquida Aplicação de bálsamo do-canadá Coloração Dissolução da parafina com xilol Bloco de parafina Lâmina de metal Bloco de parafina solidificada Forma retirada Braço do micrótomo Cortes R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 131 Figura 4.11 Representação esquemática de etapas da preparação de uma lâmina de raiz de cebola pela técnica de esmagamento. As pontas das raízes são fervidas em um tubo com o corante orceína e transferidas para uma lâmina. Aplica-se orceína fria sobre elas. Em seguida, são picadas com dois estiletes e esmagadas entre lâmina e lamínula. Micrografia de células de raiz de cebola ao microscópio óptico (aumento 380, com uso de filtro verde) Micrografia de corte da musculatura do coração de mamífero ao microscópio óptico (aumento 350) Figura 4.12 Representação esquemática das técnicas de inclusão em parafina e corte. Antes de ser mergulhado na parafina liquefeita pelo calor (A), a cerca de 65 °C, o material biológico é fixado, desidratado e impregnado de um solvente orgânico, o xilol. Depois quea parafina se solidifica (B), a peça que contém o material incluído é cortada no micrótomo (C). Os cortes são colocados sobre lâminas de vidro, a parafina é removida com xilol e faz-se a coloração. (D, E, F). Finalmente, os cortes de tecido biológico recebem gotas de uma cola especial (bálsamo-do-canadá) e são cobertos com uma lamínula (G).