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1981 — Primeiro relato científico de casos atípicos de pneumonia entre homens homossexuais em Los Angeles. 1980 1985 1990 1995 2000 2005 1986 — Avaliações clínicas demonstram que o zidovudine (AZT) retarda a morte por aids. 1995 — É introduzida a terapia tripla (coquetéis de drogas), incluindo potentes inibidores da protease. 1999 — A aids torna-se a quarta maior causa de mortalidade no mundo. 2001 — Estimado em 40 milhões o número de pessoas vivas infectadas pelo HIV. 2003 — Primeira reunião de avaliação da persistência do HIV durante a terapia com drogas. 1992 — A introdução de testes virais permite estimar o nível de HIV no sangue. 1997 — A terapia antirretroviral altamente ativa (HAART) faz a taxa de mortalidade anual por aids nos EUA cair pela primeira vez desde o começo da epidemia. 1984 — O grupo do pesquisador norte-americano Robert Gallo anuncia a descoberta do vírus causador da aids. 1983 — O grupo do pesquisador francês Luc Montagnier isola um novo vírus de um paciente com aids. AIDS — HISTÓRIA DE UMA EPIDEMIA R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 63 C a p ít u lo 2 • Ví ru s No início da década de 1980, quando surgiram os primeiros casos de aids, não havia nenhum medica- mento capaz de combater a imunodeficiência; também não havia tratamentos eficientes para as infecções oportunistas que acometiam os portadores do HIV. Em- bora a aids ainda não tenha cura, inúmeras pesquisas científicas realizadas nessa área têm permitido o de- senvolvimento de tratamentos cada vez mais eficientes para aliviar os sintomas da doença. (Fig. 2.14) As primeiras drogas usadas no combate à infecção pelo HIV eram inibidoras da transcriptase reversa. Esse tipo de droga age interrompendo o processo de síntese de DNA a partir do RNA viral. Entre os inibidores da trans- criptase reversa podem-se citar o AZT (zidovudine), o ddC (zalcitabine), o ddI (dideoxinosine), o d4T (estavudine), o 3TC (lamivudine), o abacavir (ziagen) e o tenofovir (viread). Essas drogas são eficazes em diminuir a veloci- dade de multiplicação do vírus, o que retarda o apareci- mento das infecções oportunistas; entretanto, o tra- tamento prolongado pode selecionar formas mutantes resistentes do vírus e os sintomas reaparecem. Atualmente, as novas drogas utilizadas são capa- zes de inibir a ação das proteases virais, que são as enzimas responsáveis pela maturação e montagem dos novos vírus dentro da célula. Figura 2.14 Alguns marcos importantes na história da epidemia de aids, até o ano de 2004. Uma vez que os vírus podem tornar-se resisten- tes a qualquer uma das drogas utilizadas em seu combate, os pesquisadores têm utilizado os cha- mados coquetéis antivirais, que combinam drogas inibidoras da transcriptase reversa e das proteases. Apesar de não eliminar o vírus, os coquetéis são os principais responsáveis pelo declínio no número de mortes em decorrência da doença e pela melhora da qualidade de vida dos portadores do HIV. Após algum tempo de tratamento, o vírus deixa de ser detectado nos testes sanguíneos, mas os sintomas da aids reaparecem se o tratamento é interrompido. A razão disso é que o vírus continua presente em estado latente em locais como linfo- nodos, cérebro, testículos e olhos. Apesar de eficientes, os coquetéis antivirais podem apresentar efeitos colaterais severos. Al- guns inibidores da transcriptase reversa causam diminuição do número de hemácias e de glóbulos brancos do sangue; outros causam inflamação do pâncreas e dolorosas lesões nos nervos. Os inibi- dores de proteases provocam náuseas, diarreia e outras complicações gastrintestinais, além de po- derem interagir com outras drogas e causar danos sérios ao organismo. Fonte: New Scientist, v. 182, n. 2.441, p. 37, 2004. CIÊNCIA E CIDADANIA Causou a pandemia de gripe de Hong Kong Gripe de aves na Ásia Causou a pandemia de gripe asiática H1N1 H2N2 H3N2 H5N1 Causou a pandemia de gripe espanhola e é responsável pela pandemia de gripe de 2009 Envelope lipoproteico Espícula N (neuraminidase) Espícula H (hemaglutinina) RNA viral Proteínas do capsídio 1918-1928 2009-? 1929-1946 1947-1956 1977- ? 1957-1967 1901-1917 1968- ? 1997 H1N1 H0N1 R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 64 U n id a d e B • Ví ru s, m o n e ra s, p ro to ct is ta s e f u n g o s Um problema mundial de saúde: gripe Embora seja uma doença corriqueira, milhares e milhares de pessoas morrem anualmente em de- corrência da infecção pelo vírus de gripe. Na grande pandemia (epidemia mundial), ocorrida em 1918 e 1919, morreram entre 20 e 40 milhões de pessoas em todo o mundo, de todas as idades e classes sociais. Entre as vítimas estava Francisco de Paula Rodrigues Alves, o presidente da República do Brasil na época. Outras grandes pandemias foram a gripe asiática de 1957, que matou mais de 1 milhão de pessoas, e a gripe de Hong Kong de 1968, em que morreram cerca de 700 mil pessoas. Variedade dos vírus de gripe Há diversas variedades de vírus de gripe, todas incluídas no gênero Influenzavirus. Os vírions da gripe têm forma esférica com diâmetro entre 80 e 120 nm e apresentam um envelope lipoproteico externo. Este envolve um nucleocapsídio que contém oito moléculas diferentes de RNA. O envelope lipoproteico tem dois tipos de glico- proteínas características do vírus de gripe: a hema- glutinina, que constitui as espículas H, e a neura- minidase, que constitui as espículas N. As espículas recebem esse nome porque formam saliências afila- das no envelope membranoso do vírus. As espículas de hemaglutinina permitem que o vírus se ligue às células hospedeiras. As espículas de neuraminidase parecem ser importantes para que os vírus recém- -formados desprendam-se da célula hospedeira. As variedades de vírus de gripe são caracteriza- das pelos tipos de espículas N e H que apresentam; já são conhecidos dezesseis tipos de hemaglutininas e nove tipos de neuraminidases, que costumam ser identificados por um índice alfanumérico (H0, H1, H2 etc.; N1, N2 etc.). A gripe asiática que assolou o mundo em 1957, por exemplo, foi causada por uma variedade viral H2N2, que combinava as espículas H do tipo 2 e espículas N do tipo 2. O vírus H5N1, por exemplo, que combina espículas H do tipo 5 e espículas N do tipo 1, é responsável por epidemias de gripe em aves que ocorrem na Ásia desde 1997. O vírus H5N1 raramente é transmitido para seres humanos, entretanto, quando isso ocorre, costuma ser fatal. Felizmente, ainda não foi registrado ne- nhum caso de transmissão desse vírus entre seres humanos. (Fig. 2.15) Ao contrair gripe, a pessoa produz anticorpos contra as espículas do vírus que a infectou, tornando-se imune àquele tipo de gripe. Por isso, depois de um surto gripal, grande parte da população torna-se imune ao tipo de vírus causador. Podem surgir em algumas pessoas, porém, vírus mutantes dotados de espículas H e N ligeiramente diferentes das presentes na linhagem original, o que impede os anticorpos produzidos de atuar eficientemente. Os vírus mutantes podem pro- vocar novo surto da doença, por exemplo, nos meses de inverno, quando a resistência natural das pessoas diminui devido às variações climáticas. Figura 2.15 À esquerda, representação esquemática da estrutura de um vírus de gripe com parte do envelope e do capsídio removidos para mostrar as moléculas de RNA em seu interior. À direita, tipos de vírus que vêm causando epidemias. (Imagens sem escala, cores-fantasia.) (Baseado em Tortora, G. J. e cols., 1995.) Os pontos de interrogação em certas datas indicam que não se sabe quando acabaram os surtos epidêmicos devido àquele vírus. CIÊNCIA E CIDADANIA R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al eL ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 65 C a p ít u lo 2 • Ví ru s No Brasil, o Ministério da Saúde atua preventi- vamente contra a gripe, ministrando à população, preferencialmente aos maiores de 60 anos de idade, uma vacina antigripe produzida com uma mistura das formas virais mais comuns, em particular das que causaram gripe nos últimos anos. (Fig. 2.16) Variedades muito perigosas do vírus da gripe surgem esporadicamente por meio de recombinação genética. Como os vírus têm oito moléculas de RNA diferentes em seu genoma, se uma célula é infectada simultaneamen- te por dois tipos diferentes de vírus, podem se formar partículas virais com combinações de moléculas de RNA das duas variedades, não reconhecidas pelo sistema imunitário humano. Nesses casos, o vírus recombinan- te pode se reproduzir rapidamente e se espalhar pela população, causando pandemias de gripe. A Organização Mundial de Saúde mantém vigilân- cia rigorosa e permanente sobre os surtos de gripe, tentando identificar rapidamente os novos vírus que surgem. Se são identificados logo, é possível produzir vacinas e imunizar grande parte da população antes que a epidemia atinja maiores proporções. Outra preocupação dos órgãos de saúde pública é monitorar criadouros de aves e de porcos, cujos vírus de gripe podem eventualmente infectar seres humanos. Embora os vírus desses animais não sejam transmiti- dos de pessoa para pessoa, há um risco de ocorrerem alterações na hemaglutinina viral, capacitando-os a infectar células humanas. Isso aconteceria tanto por mutação dos genes virais animais quanto por recom- binação com o vírus de gripe humano. Por exemplo, uma célula infectada simultaneamente por um vírus de ave e por um vírus humano poderia originar novos tipos de vírus, com misturas dos dois tipos de RNA, eventualmente capaz de infectar células humanas. Esses novos vírus seriam perigosos porque, tendo parte de seus componentes proveniente do vírus de ave, não seriam reconhecidos por nosso sistema imunitário. No sudoeste asiático, foco inicial de várias epidemias de gripe, o ambiente é perigosamente favorável à recom- binação entre vírus de animais domésticos e de humanos, devido à criação de marrecos junto com porcos. Como estes últimos podem ser infectados tanto por vírus de aves quanto por vírus humanos, é possível ocorrer recom- binação do material genético de ambos os vírus em suas células, tendo como resultado a produção de novos tipos virais. O vírus H1N1, responsável pela chamada “gripe suí- na”, que teve início no México em 2009, pode ter surgido da maneira acima relatada. (Fig. 2.17) Recentes estudos genéticos da hemaglutinina do vírus da gripe aviária asiática mostraram que uma única mutação já seria capaz de permitir ao vírus se ligar a receptores humanos e, assim, ser transmitido de pessoa para pessoa. Figura 2.16 Cartaz da campanha de vacinação contra a gripe (cortesia do Ministério da Saúde). Figura 2.17 A. Criação consorciada de galinhas e porcos na aldeia chinesa de Zian Fu Chun, China. B. Pesquisadores testam vacina experimental para a gripe aviária. (São Petersburgo, Rússia, 2006.) A B
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