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R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 269 C a p ít u lo 8 • Fi si o lo g ia d a s p la n ta s a n g io sp e rm a s Seção 8.7 Objetivos❱❱❱❱ Definir fotoperiodismo CCCCCCC e explicar o que são plantas de dia-longo, plantas de dia-curto e plantas indiferentes. Relacionar as CCCCCCC propriedades dos fitocromos ao fotoperiodismo. Termos e conceitos❱❱❱❱ fitocromo• fotoblastismo• estiolamento• fotoperiodismo• vernalização• Fitocromos e desenvolvimento As plantas são capazes de responder a estímulos luminosos graças a uma proteína presente em suas células, o fitocromo. A molécula de fitocromo pode assumir duas formas interconversíveis, capazes de se transformar uma na outra: o fitocromo Pr e o fitocromo Pfr. O fitocromo Pr (do inglês phytochrome red, fitocromo vermelho) transforma-se em fitocromo Pfr (do inglês phytochrome far red, fitocromo vermelho longo) ao absorver luz vermelha de comprimento de onda na faixa de 660 nm. O fitocromo Pfr, por sua vez, transforma-se em fitocromo Pr na escuridão ou se absorver luz vermelha de comprimento de onda mais longo, na faixa de 730 nm (vermelho de onda mais longa). (Fig. 8.33) Figura 8.33 Representação esquemática dos fatores que afetam a conversão da forma inativa do fitocromo (Pr) para a forma ativa (Pfr), e vice-versa. Fitocromo Pr Fitocromo Pfr RESPOSTAS FISIOLÓGICAS Germinação Floração Abertura estomática etc. Luz vermelho longa Luz vermelha Conversão lenta no escuro Como a luz solar contém tanto comprimentos de onda correspondentes ao vermelho quanto ao vermelho longo, durante o dia as plantas apresen- tam as duas formas de fitocromos, com certa predominância de fitocromo Pfr. À noite, o fitocromo Pfr converte-se espontaneamente em fitocromo Pr. Dependendo da duração do período de escuridão, essa conversão pode ser total, de tal forma que a planta, ao fim de uma longa noite de inverno, pode apresentar apenas fitocromo Pr. 1 Luz e germinação de sementes Os fitocromos estão envolvidos em diversos processos fisiológicos, entre eles a germinação das sementes de certas espécies de planta. Algumas se- mentes precisam de um estímulo luminoso para germinar, enquanto outras não necessitam de luz para a germinação. A dependência da luz para a ger- minação é uma característica adaptativa de sementes pequenas como as de alface, por exemplo. Sementes com essa característica não possuem muitas reservas nutritivas e precisam germinar perto da superfície do solo a fim de iniciar o mais rápido possível a produção de seu próprio alimento. O efeito da luz sobre a germinação é denominado fotoblastismo (do grego photos, luz, e blástos, broto). Sementes que necessitam de estímulos lumi- nosos para germinar são chamadas de fotoblásticas positivas; as que não necessitam de luz para germinar são denominadas fotoblásticas negativas. Sementes fotoblásticas positivas necessitam de estímulos luminosos porque nelas o processo de germinação é induzido pelo fitocromo Pfr, que se forma durante o período de exposição à luz. R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 270 U n id a d e C • D iv e rs id a d e , a n at o m ia e f is io lo g ia d a s p la n ta s O papel do fitocromo Pfr na germinação pode ser demonstrado experimentalmente expondo- -se sementes fotoblásticas positivas, como as de alface, a lampejos alternados de luz vermelha com comprimento de onda de 660 nm e de luz vermelho longa com comprimento de onda de 730 nm. Independentemente de quantos lampejos forem dados, a semente responde somente ao último deles. Se o último lampejo for de luz vermelha, que induz a conversão do fitocromo Pr em fitocromo Pfr, as sementes germinam; se for de luz vermelho longa, que induz a conversão do fitocromo Pfr em fitocromo Pr, as sementes permanecem dormentes. Dessa forma, verifica-se que a germinação das sementes fotoblásticas positivas é induzida pelo fitocromo Pfr. 2 Luz e estiolamento As sementes da maioria das espécies vegetais são fotoblásticas negativas, germinando mesmo quando enterradas profundamente no solo. Nes- ses casos, o cauloide alonga-se rapidamente e o gancho de germinação só se desfaz na superfície do solo, após a planta entrar em contato com a luz. O crescimento que ocorre na ausência de luz, en- quanto a jovem planta está sob o solo, é chamado de estiolamento. Trata-se de um processo adapta- tivo, pois o crescimento rápido faz a planta atingir logo a superfície; por outro lado, a manutenção do gancho caulinar na ausência de luz evita o contato direto da gema apical e das primeiras folhas com as partículas de solo, o que poderia acarretar danos às frágeis estruturas da jovem planta. Pode-se demonstrar facilmente que o estio- lamento resulta da ausência de luz colocando-se sementes para germinar sobre um substrato úmido (solo, algodão, papel absorvente etc.) em condições naturais e na escuridão. Plantas que se desenvol- vem no escuro apresentam caule alongado, folhas pequenas, gancho de germinação pronunciado e cor amarelada, uma vez que os plastos não produ- zem clorofila na ausência de luz. Esse conjunto de características, típico do estiolamento, deve-se à ausência de fitocromo Pfr. (Fig. 8.34) 3 Luz e floração Fotoperiodismo A floração de diversas espécies de planta ocorre em épocas específicas do ano. É comum ouvirmos dizer que tal planta floresce em agosto, outra em outubro e assim por diante. Mas o que faz as plantas florescerem em épocas determinadas? Essa questão começou a ser elucidada há cerca de 80 anos pelos pesquisadores estaduniden- ses W. W. Garner (1875-1956) e Harry Ardell Allard (1880-1963). Eles verificaram que as plantas de uma variedade de tabaco e de uma variedade de soja só floresciam se o comprimento do dia, isto é, o período iluminado, fosse inferior a um certo número de horas. Garner e Allard denominaram esse comportamento das plantas de fotoperiodismo*. Ao estudar outras espécies de planta, Garner e Allard verificaram que a influência do fotope- riodismo na produção de flores variava entre as espécies e que, quanto ao comportamento de floração, as plantas podiam ser classificadas em três tipos básicos: plantas de dia-curto, plantas de dia-longo e plantas indiferentes. Plantas de dia-curto são as que florescem quando a duração do período iluminado é inferior a um determinado número de horas, denominado fotoperíodo crítico. Em geral, essas plantas florescem no início da primavera ou do outono; exemplos de plantas de dia-curto são o morango e o crisântemo. Figura 8.34 À esquerda, planta de ervilha germinada em condições naturais, replantada ao lado de uma planta de mesma idade germinada na ausência de luz (à direita). Gancho de germinação Segundo nó Primeiro nó Folhas Segundo nó Primeiro nó R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 271 C a p ít u lo 8 • Fi si o lo g ia d a s p la n ta s a n g io sp e rm a s Plantas de dia-longo florescem quan- do a duração do perío do iluminado é supe- rior ao fotoperíodo crítico. Em geral, essas plantas florescem no verão; exemplos são a íris, a alface e o espinafre. Note que não é o comprimento abso- luto do período iluminado que importa, mas se ele é maior ou menor do que um determinado valor, o fotoperíodo crítico da espécie de planta considerada. Por exemplo, a erva-touro (Xanthium struma- rium) é uma planta de dia-curto e o espi- nafre (Spinacia oleracea) é uma planta de dia-longo, mas ambas florescem se expostas a períodos de iluminação de 14 horas. A erva-touro é classificada como de dia-curto porque floresce quando o período de iluminação é igual ou inferior a 16 horas, seu fotoperíodocrítico. O es- pinafre é considerado uma planta de dia- -longo porque floresce quando submetido a período de iluminação igual ou superior a 12 horas, seu fotoperíodo crítico. Plantas indiferentes são aquelas cuja floração independe do fotoperíodo. Nesse caso, a floração ocorre em res- posta a outros tipos de estímulo, como um período de frio, de chuva ou de calor. O tomate, o dentálio e o feijão-de-corda são exemplos de plantas indiferentes. (Fig. 8.35) Controle de fotoperiodismo pelo fitocromo Nas plantas de dia-curto, o fitocromo Pfr atua como inibidor da floração e elas só flores- cem nas estações do ano em que as noites são longas. A razão é que, durante o período prolongado de escuridão, todo fitocromo Pfr converte-se espontaneamente em fitocromo Pr, deixando de inibir a floração. Nas plantas de dia-longo, o fitocromo Pfr atua como indutor da floração e elas só florescem se os períodos de escuridão são curtos, de modo que não haja conversão total de fitocromo Pfr em fitocromo Pr. Na época do ano em que as noites são longas, as plantas de dia-longo não florescem, porque todo o fitocromo Pfr é convertido em fitocromo Pr, o qual não induz a floração. Outros fatores também podem determinar a floração de plantas que respondem ao foto- periodismo. Por exemplo, o trigo de inverno, uma planta de dia-curto, não florescerá mesmo com o fotoperíodo apropriado se a planta não for exposta por várias semanas a temperaturas inferiores a 10 °C. Essa necessidade de frio para florescer, ou para uma semente germinar, é comum em plantas de clima temperado, sendo chamada de vernalização. Se, após a vernali- zação, o trigo de inverno for submetido a fotoperíodos indutores menores que o fotoperíodo crítico, ele florescerá. O termo fotoperiodismo é utilizado atualmente para todas as formas de vida, para designar qualquer resposta biológica * que dependa da relação entre a duração do período iluminado e do período de escuridão, em um ciclo de 24 horas. A B Figura 8.35 Na caatinga, a floração da maioria das plantas depende das chuvas e não do fotoperíodo, ou seja, são plantas indiferentes. A. Caatinga na seca. B. Caatinga, logo após um período de chuvas.