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R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 124 U n id a d e A • G e n é ti ca Quando fêmeas selvagens de corpo cinzento-amarelado e asas normais (PPVV) são cruzadas com machos de corpo preto e asas vestigiais (ppvv), a geração F1 é inteiramente constituída por machos e fêmeas com fenótipo selvagem. As fêmeas da geração F1, no cruzamento-teste com machos de corpo preto e asas vestigiais (ppvv), produzem quatro tipos de descendente, nas seguintes porcentagens: • 41,5% de corpo cinzento-amarelado e asas alongadas; • 41,5% de corpo preto e asas vestigiais; • 8,5% de corpo cinzento-amarelado e asas vestigiais; • 8,5% de corpo preto e asas alongadas. Esses resultados indicam que as fêmeas duplo-heterozigóticas produzem quatro tipos de ga- meta, embora não em mesma proporção: 41,5% PV, 41,5% pv, 8,5% Pv e 8,5% pV. Note que o fenótipo dos descendentes é determinado pela constituição genética do óvulo, uma vez que o macho, sendo duplo homozigótico recessivo, fornece apenas alelos recessivos para os descendentes. (Fig. 5.5) Figura 5.5 Representação esquemática de um cruzamento em drosófila que mostra a segregação não independente dos genes para cor do corpo e forma das asas. O cruzamento-teste de fêmeas duplo-heterozigóticas (com machos duplo-recessivos) mostra que elas formam quatro tipos de gametas, mas em proporções diferentes das esperadas pela lei da segregação independente. (Imagem sem escala, cores-fantasia.) O fato de os quatro tipos de gameta da fêmea não serem produzidos em mesma proporção (25% de cada tipo), como seria esperado pela segunda lei de Mendel, mostra que os genes não se segregaram independentemente. Gametas portadores dos alelos P/V e dos alelos p/v ocorrem em porcentagens bem maiores do que gametas portadores dos alelos P/v e p/V. Morgan explicou os resultados obtidos admitindo que os genes para cor do corpo e forma da asa localizam-se no mesmo par de cromossomos homólogos da drosófila, e, sendo assim, eles não se segregam independentemente (relembre a explicação para a segregação independente no capítulo 4). Corpo cinzento- -amarelado/asa alongada GAMETAS Corpo preto/ asa vestigial Corpo cinzento- -amarelado/asa alongada PPVV PV pv ppvv ppvv ppvvppVvPpvvPpVv 41,5% 8,5% 8,5% 41,5% PpVv PV Pv pV pv pv CRUZAMENTO- -TESTE GAMETAS GAMETA R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 125 C a p ít u lo 5 • O m a p e a m e n to d o s g e n e s n o s cr o m o ss o m o s Cromossomo 1 M (normal) R (Vermelho) U (Cor verde na base) T (Não tangerina) (Caule liso) Wf (Flor amarela) m (manchada) r (Amarelo) u (Cor uniforme) t (Tangerina) (Caule piloso) wf (Flor branca) D (Alta) d (Baixa) 12 15 23 21 4 17 21 4 6 14 P (Liso) p (Aveludado) O (Normal) Ne (Folha normal) S (Inflorescência simples) S (Inflorescência composta) Bk (Sem pescoço) Lc (Poucos lóculos ovarianos) lc (Muitos lóculos ovarianos) o (Oblongo) ne (Folha necrosada) bk (Com pescoço) Cromossomo 2 Cromossomo 7 Em 1915, Morgan e seus colaboradores já haviam descoberto 85 mutações em drosófila. Analisando os cruzamentos, eles verificaram que alguns desses mutantes segregavam-se inde- pendentemente, enquanto outros apresentavam ligação gênica. Com base nesses dados, Morgan e sua equipe separaram as 85 mutações em quatro grupos, denominados grupos de ligação. Os genes de um mesmo grupo apresentavam ligação entre si, mas segregavam-se independen- temente de genes dos outros três grupos. Estudos citológicos de Drosophila melanogaster, por sua vez, mostraram que essa espécie tem 4 pares de cromossomos (2n 5 8). Morgan percebeu que o fato de haver 4 pares de cromos- somos e 4 grupos de ligação não era mera coincidência, mas um forte indício de que os genes localizam-se nos cromossomos, uma vez que genes que fazem parte de um mesmo cromossomo tendem a ser herdados juntos. Em milho, análises genéticas semelhantes permitiram separar os genes conhecidos em dez grupos de ligação. Não por acaso, o número de pares de cromossomos do milho é 10 (2n 5 20). Na espécie humana há 24 grupos de genes em ligação, correspondentes aos 22 pares de autosso- mos e aos cromossomos sexuais X. O tomate tem 12 grupos de ligação e 12 pares de cromossomos homólogos. (Fig. 5.6) Figura 5.6 Representação esquemática de três dos 12 pares de cromossomos do tomate, mostrando a localização de alguns genes, cada um deles com dois alelos. Os números entre os genes indicam a distância relativa entre eles no cromossomo. (Imagem sem escala, cores-fantasia.) (Baseado em Griffiths, A. J. F. e cols., 1998.) R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 126 U n id a d e A • G e n é ti ca 2 Explicando a recombinação pela permutação Uma questão que intrigava os geneticistas pioneiros era que, se os genes estavam fisicamente unidos na estrutura do cromossomo, por que sua ligação não era completa? Por que apareciam fenótipos recombinantes na descendência? Para entender essa questão, vamos relembrar o cruzamento descrito anteriormente e mos- trado na figura 5.5 de fêmeas de drosófila duplo-heterozigóticas quanto aos alelos para cor do corpo e forma da asa. Pela análise da geração parental, concluímos que um dos cromossomos da fêmea apresentava os alelos P/V, recebidos da mãe, enquanto seu homólogo apresentava os alelos p/v, recebidos do pai. Como os cromossomos homólogos separam-se na meiose, era de esperar que essas fêmeas formassem apenas dois tipos de gameta: 50% com o cromossomo materno, portador dos ale- los dominantes (P/V), e 50% com o cromossomo paterno, portador dos alelos recessivos (p/v). Entretanto, os resultados mostram que, além desses dois tipos de gameta, as fêmeas duplo- -heterozigóticas formaram também gametas recombinantes, 8,5% deles com os alelos P/v e 8,5% com os alelos p/V. A ligação entre genes localizados em um mesmo cromossomo não é completa porque, durante a meiose, ocorrem quebras e trocas de pedaços entre cromátides de cromossomos homólogos. Esse fenômeno, conhecido como permutação cromossômica (em inglês crossing-over), leva à formação de certo número de gametas com novas combinações entre os alelos — gametas recombinantes —, diferentes das existentes nos cromossomos herdados dos pais — os gametas parentais. A hipótese da permutação foi proposta em 1909, pelo citologista belga Frans Alfons Janssens (1863-1924), para explicar o entrelaçamento entre cromátides de cromossomos homólogos (quiasmas) que os citologistas vinham observando em seus estudos de meiose. Quando os cromossomos homólogos iniciam sua separação, na prófase I da meiose, há locais em que a cromátide de um homólogo cruza-se com uma cromátide do outro. Esses locais são visualizados ao microscópio óptico como uma letra X e, por isso, foram denominados quiasmas (do grego khiasmós, disposição em cruz, em forma da letra khi, X). (Fig. 5.7) Figura 5.7 A. Micrografia de cromossomos de gafanhoto em processo de meiose, mostrando quiasmas (microscópio óptico; aumento . 7503, colorizado artificialmente). B. Representação esquemática de um par de cromossomos homólogos emparelhados (bivalente ou tétrade) mostrando a troca de pedaços entre cromátides de um par de cromossomos homólogos, que originam os quiasmas. (Imagem sem escala, cores-fantasia.) Quiasma Cromossomos homólogos (duplicados) Cromátides-irmãs Cromátides-irmãs Partindo da ideia de Janssens, Morgan elaborou uma hipótese para explicar a ligação incomple- ta entre os genes. Ele imaginou que, durante a meiose das fêmeas de drosófila, há certa chance de ocorrerem permutações entre cromátides homólogas. Se algumas dessas permutaçõesocor- rerem exatamente entre os genes para cor do corpo e tamanho da asa, a ligação é rompida e formam-se dois tipos de cromátides recombinantes, um com os alelos P/v, e outro com os alelos p/V. (Fig. 5.8) A B