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55 C om en tá ri os e r es po st as d as a ti vi da de s R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt. 1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . c) Sim, porque está na idade de trocar a “fama do caçador pela glória do guerreiro”. 2 Sim. Do mesmo modo que no quadro, o texto fornece uma série de detalhes que teriam a finalidade de recriar, aos olhos do leitor, a imagem do índio caçando. Além disso, a preocupação de Alencar em tratar de um costu- me da tribo de Jaguarê é evidente: a cena foi construída para revelar que a transformação do caçador em guer- reiro só se dará, naquela cultura, pelo enfrentamento de um inimigo poderoso, ameaçador. A caracterização idealizada do índio, no texto, é absoluta: forte, jovem, belo, Jaguarê não teme os animais da floresta. Na ver- dade, eles nem sequer representam uma ameaça para ele, que precisa procurar um inimigo mais poderoso, caso queira construir sua identidade como guerreiro. 3 a) Após o grito de guerra lançado como um desafio por Jaguarê, a natureza “responde” ao índio por meio da sucuri e do tigre. b) Ao propor um “diálogo” entre o índio e os animais, o narrador sugere a perfeita integração entre ele e a na- tureza em meio à qual é apresentado. Essa integração, já proposta desde o início da cena, é tão absoluta que a sucuri e o tigre compreendem o “desafio” feito pelo ca- çador: “venham me enfrentar”. Outra função associada ao diálogo é também aumentar a frustração de Jaguarê, porque, mesmo lançando um desafio, ele não é respon- dido por um inimigo à altura da prova a ser vencida. 4 Sim. Além de todas as qualidades de Jaguarê (força, coragem, etc.), que podem ser associadas às perso- nagens heroicas românticas, o narrador também o insere em uma situação de extremo perigo, que terá de ser superada individualmente. Como herói român- tico, Jaguarê precisa cumprir uma jornada individual que exige sacrifícios de sua parte (o abandono do ambiente acolhedor da tribo, o afastamento da jovem Jandira, o enfrentamento do perigo maior...) e cuja superação, graças a suas qualidades individuais, fará com que alcance a recompensa pretendida. Texto para análise 343 1 Peri está “na flor da idade”, tem “talhe delgado e esbelto como um junco selvagem, está vestindo uma simples túnica de algodão, a que os indígenas chamavam aimará, apertada à cintura por uma fai- xa de penas escarlates, [que] caía-lhe dos ombros até ao meio da perna”. É forte, corajoso, ágil e tem plena consciência dessas habilidades. Além disso, é caracterizado como “selvagem”, uma referência não só ao seu povo, mas também a sua natureza livre e heroica. A onça é apresentada como um animal enorme, com um “dorso negro, brilhante, marche- tado de pardo”, cujos olhos comparavam-se a “dois raios vítreos e pálidos, que semelhavam os reflexos de alguma cristalização de rocha, ferida pela luz do sol”. Ao confrontar Peri, mostrava-se ameaçadora e terrível, “rugindo de fúria e vingança”, equiparando- -se ao índio em força, agilidade e coragem. > A caracterização de Peri procura construir para o leitor a imagem do índio como o herói do romance indianista. Para reforçar essa imagem, ele é colocado diante de um adversário poderoso, pois, quando o embate termina com a vitória do indígena, o leitor comprova a natureza heroica incomparável da per- sonagem que protagonizará o romance. 2 “Assim, estes dois selvagens das matas do Brasil, cada um com as suas armas, cada um com a consciência de sua força e de sua coragem, consideravam-se mutuamente como vítimas que iam ser imoladas.” > Tanto o índio quanto a onça, ambos caracterizados pela sua força, agilidade, graça e coragem, são exemplos vivos das belezas inigualáveis de nosso país. Esses dois “selvagens brasileiros” representam o espírito livre da nação brasileira que se delineia no romance indianista. 3 A resposta do aluno deve reconhecer na descrição e na ação do índio a marca da força, da coragem natural, da exuberância desse habitante original do Brasil. Deve observar também a comparação com um animal sel- vagem descrito em toda a sua força e beleza. A vitória do índio sobre a onça reforça a coragem e o vigor do elemento humano. Todas essas características são, na perspectiva do projeto romântico indianista, extensi- vas ao próprio país: o Brasil seria uma nação tão forte e grandiosa quanto seu habitante original. 4 a) A música de Caetano Veloso traz a imagem do índio que renasce em uma espécie de redenção, depois de “exterminada a última nação indígena”. Esse índio “pousará no coração do hemisfério sul” e virá impávido, apaixonado, tranquilo e infalível. Caetano recupera a imagem do índio heroico e exuberante, eleito como representante da identi- dade do Brasil no Romantismo. b) Ao evocar a imagem de Peri, o texto reforça a representação do índio como heroico, corajoso, apaixonado. 5 Não. Tanto no texto de Alencar quanto na música, temos um índio idealizado, heroico, forte, que repre- senta o seu povo e sua cultura. Na lei, percebemos que essa imagem não corresponde ao tratamento real dispensado aos indígenas em 1845: naquela época, os nativos eram vistos não como o símbolo máximo do Brasil, mas como seres que precisavam ser “salvos” pelo homem branco, sendo submetidos a um processo de aculturação e absorvidos como mão de obra. Texto para análise 351 1 Sim. É possível perceber a absoluta devoção e abnega- ção de Peri a Cecília. Bastou que a jovem manifestasse, “brincando”, seu desejo de ver uma onça viva para que o índio arriscasse sua vida para satisfazer a moça. Tal relação de devoção evoca a vassalagem característica da Idade Média: Peri comporta-se como o vassalo de Cecília, a quem elegeu como sua “senhora”. Professor: seria interessante mostrar como tal submissão de Peri a Cecília é uma extensão de sua vassalagem a D. Antônio Mariz, como é possível constatar em outras pas- sagens do romance. No final, por exemplo, Peri se converte ao cristianismo a pedido de D. Antônio, para salvar Cecília. 2 “Crede-me, Álvaro, é um cavalheiro português no corpo de um selvagem!” a) O modelo de herói escolhido é o cavalheiro portu- guês, ou seja, o homem europeu. Sup_P2_(038-074)-c.indd 55 11/11/10 11:32 AM 56 C om en tá ri os e r es po st as d as a ti vi da de s R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt. 1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . b) Embora Peri represente o herói nacional, seu caráter não é o de “um selvagem”, mas o de um “cavalheiro portu- guês”. Assim, toda a sua dedicação a Cecília, sua cora- gem, seu heroísmo seriam decorrência dessa imagem do índio romântico concebido à semelhança do homem europeu: seu comportamento é a representação dos mais nobres princípios da sociedade burguesa (hones- tidade, bravura, paixão, abnegação, etc.), imensamente valorizados no Romantismo. O fato de Alencar carac- terizar o índio como um verdadeiro cavaleiro medieval torna mais explícita a influência do modelo romântico europeu como base dos romances brasileiros. 3 Não. Embora Alencar apresente Peri como um herói indígena, a construção da personagem e de seu caráter é influen ciada pelo olhar de homem civili- zado. Nesse contexto, a imagem de Peri é a de um selvagem que, como vimos pela Lei de 1845, preci- sava ser “salvo” pelo homem branco (é importante lembrar que o romance foi publicado em 1857). Por esse motivo, o olhar de Alencar para o herói que construiu não é completamente “livre”, pois projeta no romance muito do contexto cultural em que se formou. Sendo assim, a imagem do indígena apresenta características que refletem um modelo europeu de cavalheirismo. 4 Martim volta para fundar a “mairi dos cristãos”, ou seja, iniciar o processo de colonização das novas terras e de conversão dos povos indígenas. a) “Muitos guerreiros de sua raçaacompanharam o chefe branco, para fundar com ele a mairi dos cristãos. Veio também um sacerdote de sua reli- gião, de negras vestes, para plantar a cruz na terra selvagem”. b) Não. Alencar apresenta a colonização e a cate- quização dos povos indígenas, isto é, o processo de aculturação, de modo natural. Ele sugere a necessidade de “salvar” os índios pela religião, já que essa “terra selvagem” teria uma cruz plantada por um sacerdote da religião do chefe branco. 5 Poti é o que primeiro se ajoelha diante da cruz para ser batizado, abrindo mão de sua cultura, de seu nome e de suas crenças. Para o índio, isso não representa submissão; ao contrário, na cena, Poti está feliz, pois “não sofria ele que nada mais o separasse de seu irmão branco. Deviam ter ambos um só Deus, como tinham um só coração”. Toda a cena sugere que o índio se entrega de bom grado à cultura do conquistador português, sem lamentar o processo de aculturação por que passa. > A conversão de Poti indica que o processo de colonização vem associado à catequização dos índios. Mais do que isso, da maneira como a cena é apresentada, percebe-se a sugestão de que esse processo foi natural para os indígenas, que docilmente aceitavam a nova religião, como se estivessem esperando a “salvação” do homem branco. 6 O projeto indianista tinha como propósito escrever ro- mances que valorizassem o elemento brasileiro não marcado pela colonização. Nesse sentido, Alencar usa a fala de Batuirité para “denunciar” o massacre de um povo e de sua cultura. Na cena final, o que está em jogo, como enfatiza o narrador, é a adoção do “Deus verdadeiro”. Brasileiro do século XIX, Alencar vive em um país cristão. Educado por uma sociedade que não questiona a supremacia branca nem sua religião, o autor acaba por refletir em suas obras essa visão: transforma Peri em um perfeito “cavalheiro português” e faz Poti abraçar alegremente a fé de seu “irmão” português. 7 a) Segundo o antropólogo, com a catequização, o índio passa a ver o mundo a partir da perspectiva cristã, ou seja, os valores que antes ele cultuava (a liberdade, a ingenuidade, a bravura, a criatividade, a alegria) acabam contaminados pelos conceitos cristãos do pecado, da punição, da covardia. b) Darcy Ribeiro apresenta uma visão negativa dessa conversão. Segundo o antropólogo, a cristandade traz para o índio o mundo do pecado e do sofrimen- to, negando todos os seus costumes, ou condenan- do-os como inadequados aos valores cristãos. Nesse cenário, “todo o futuro possível seria a negação mais horrível do passado, uma vida indigna de ser vivida por gente verdadeira”. Jogo de ideias 353 A atividade proposta tem por objetivo, além de apro- fundar a discussão apresentada no capítulo sobre o ro- mance indianista, em especial os de José de Alencar, levar os alunos a compreender que o contato entre a cultura europeia e a indígena, da forma como é apresentado nesses romances, é idealizado e marcado, culturalmente, pela visão do autor no momento em que produziu cada uma de suas narrativas. Assim, os alunos serão levados a se perguntar se o que viram nos romances no que se refere ao processo de aculturação sofrido pelos povos indígenas durante o período de colonização, de fato, corresponde à realidade. Também acreditamos ser pos- sível, por meio dessa atividade, estimular nos alunos a habilidade de argumentar com propriedade a partir de uma determinada perspectiva de forma a convencer o lado oposto e o público da validade da argumentação construída. Achamos que a tarefa de realizar um debate em que sejam defendidas diferentes visões sobre os desdobra- mentos do contato entre suas culturas durante o processo de colonização permitirá que os alunos exercitem sua capacidade de análise dos elementos que, nos roman- ces indianistas, revelam a idealização desse contato e apresentam, por exemplo, a chegada do homem branco como algo positivo, inclusive pelos próprios indígenas, como fica sugerido na cena de conversão de Poti, no romance Iracema. Achamos que, por meio dessa análise, os alunos serão capazes de compreender e aprofundar seus conhecimen- tos no que diz respeito ao projeto literário do romance indianista e analisar como esse contato entre duas cul- turas tão diferentes seria visto a partir de perspectivas diversas. Para que isso ocorra, será necessário que eles, no momento de elaborar a argumentação com base nos textos de José de Alencar e de Darcy Ribeiro, percebam que, no primeiro, o autor apenas descreve o comportamento dos índios a partir da visão de mundo apresentada nos Sup_P2_(038-074)-c.indd 56 11/12/10 11:30 AM 57 C om en tá ri os e r es po st as d as a ti vi da de s R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt. 1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . romances indianistas, ou seja, uma visão de que o índio precisa ser “salvo” pelos portugueses e mais: que deseja isso; já Darcy Ribeiro faz uma avaliação dos efeitos para o povo indígena do contato com o homem branco, deixando evidente que a intervenção dos portugueses na cultura indígena foi nociva. Conexões 356 O documentário No caminho da expedição Langsdorff foi produzido pela Grifa Mixer Cinematográfica e exibido no canal de tevê a cabo Discovery. Mais informações podem ser obtidas no site http://mixer.com.br. Uma viagem no tempo: primeiras leituras 358 Para sugestões gerais sobre o trabalho com os textos trans- critos nesta seção, leia, neste Suplemento, a parte inicial da orientação para a seção “Uma viagem no tempo: primeiras leituras” do Capítulo 12. Achamos interessante que os alunos possam ter um primeiro contato com o romance regionalista pela leitura de um trecho de Inocência, de Visconde de Taunay. Terão, assim, a oportunidade de observar o esforço de criar uma representação da vida no interior do Brasil, ainda que mantendo preservada a idealização sentimental típica do romantismo. Nesse sentido, é interessante, por exemplo, comparar as reações de Inocência, no diálogo transcrito, ao compor- tamento de personagens como Carolina (protagonista do romance A moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo) ou Aurélia (do romance Senhora, de José de Alencar). Inocência reage com certo espanto e admiração à constatação de que ama Cirino. E as diferenças entre o modo como o envolvi- mento amoroso é retratado nos romances regionalistas e nos romances urbanos não param por aí. Em lugar de vir acompanhado de felicidade, o amor traz, para a moça, um sentimento de vergonha e temor. Concluída a leitura do trecho transcrito, o professor pode estimular a conversa sobre esses e outros aspectos que aju- darão os alunos a refletirem sobre a experiência: > Sentiram dificuldade para ler o texto? Por quê? > Algum aspecto da caracterização das personagens que participam do diálogo chamou sua atenção? Qual? Por quê? > Perceberam alguma relação entre as imagens e o texto? > O diálogo entre Inocência e Cirino tematiza o amor entre essas duas personagens. Nos capítulos an- teriores, eles tiveram contato com trechos em que o envolvimento amoroso entre os protagonistas era apresentado. O amor entre Augusto e Carolina, Aurélia e Fernando, Paulo e Lúcia, Peri e Ceci é se- melhante ao de Inocência e Cirino? > O comportamento de Inocência, no trecho, leva o leitor a formar que imagem sobre ela? > O que Inocência pensa sobre o amor? E sobre o casamento? > Em uma determinada passagem do texto fica claro que Inocência e Cirino vivem no sertão. Eles acham que o comportamento das personagens é afetado pelo espaço em que se encontram? De que modo? > Do diálogo entre Cirino e Inocência, é possível ima- ginar que o envolvimento entre as personagens terá um final feliz ou trágico? Por quê? > O texto e as imagens os fazem lembrar de outros textos, músicas ou filmes contemporâneos? Se sim, qual é a semelhança percebida? Se não, quais são as principaisdiferenças? É importante lembrar que as perguntas acima servem somente como um roteiro básico para estimular a partici- pação dos alunos e podem, evidentemente, ser substituí- das por outras que o professor julgar mais interessantes. Os próprios alunos podem fazer questões que tenham sido motivadas pela leitura dos textos. O importante é que essa experiência faça com que se sintam mais à vontade para discutir textos literários, sem que se preocupem em encontrar uma interpretação “correta” para eles. Capítulo 18 O romance regionalista. O teatro romântico 360 O trabalho realizado ao longo deste capítulo favore- ce o desenvolvimento da competência de área 5 e das habilidades H15, H16 e H17. Para identificá-las, consultar a matriz do Enem 2009, que se encontra no Portal Moderna Plus. Leitura da imagem 361 1 Espera-se que o aluno identifique uma venda, ou um empório. > Nas prateleiras atrás da senhora aparecem várias peças de roupa (gravatas, camisas), peças de tecido. Há um balcão, que separa as mercadorias dos fre- gueses; no lado direito, ao fundo, vê-se uma balança (os pesos aparecem à esquerda). 2 As pessoas parecem conversar. A moça borda, enquan- to o homem segura uma linha vermelha que está sendo enrolada pela senhora atrás do balcão. a) Há, entre elas, um clima de familiaridade. Trata-se, provavelmente, de pessoas que se conhecem. b) A ideia de familiaridade pode ser associada à descon- tração do contexto em que as pessoas estão repre- sentadas. O fato de haver uma sacola, com objetos espalhados pelo chão (algo que parece ser um livro, uma sanfona), também sugere familiaridade, porque, se essas pessoas não se conhecessem, provavelmente se comportariam de modo mais cerimonioso e os objetos não esta riam largados pelo chão. 3 A familiaridade – quase domesticidade – entre as pessoas sugere um ambiente onde todos se conhecem e não fazem muita cerimônia. Geralmente esse tipo de ambiente é mais comum nas cidades pequenas do interior do país. Nos grandes centros urbanos, as pessoas são mais “anônimas” e as transações comer- ciais mais impessoais, uma consequência natural do maior número de habitantes dessas cidades. O fato Sup_P2_(038-074)-c.indd 57 11/11/10 11:32 AM
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