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R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 150 U n id ad e C • A da de éd ia : ci de nt e e ri en te O mosteiro Cada mosteiro era dirigido por um abade, encar- regado de vigiar a conduta de seus membros e de guiá-los no caminho da salvação. A função do abade assemelhava-se muito à de um pai. Já os monges deviam aprender a cultivar o silêncio e a humildade, virtudes adquiridas com uma disciplina diária de trabalho, penitência e oração, constituindo um estilo de vida estritamente regrado. A disciplina da vida monástica foi estabelecida em egras, conjunto de preceitos que regulavam a vida dos monges, como as de são Basílio, de são Columbano e de são Patrício. Uma das mais importantes foi a egra de são Bento, de Bento de Núrsia (c. 480-547), fundador da Ordem Bene- ditina e da Abadia do Monte Cassino [doc. 2]. Sua obra destacava a necessidade de o mosteiro ser completamente independente do mundo exterior, dispondo de tudo o que era necessário para a vida em comum. A Regra de são Bento difundiu-se e acabou sendo adotada por outras comunidades monásticas [doc. 3]. Havia também os anacoretas, monges eremitas que viviam isolados nas florestas, distantes do con- vívio social, não estando submetidos à autoridade de alguma ordem ou instituição. Devido à sua exces- siva independência, os anacoretas eram objeto de desconfiança, sendo equiparados a criminosos. No entanto, eram venerados por muitas pessoas, que vinham procurá-los para curar doenças e lhes ofere- ciam água e comida. Ora, trabalha e lê Os princípios da Regra de são Bento podem ser resumidos no lema “ora, labora et legere” – ora, tra- balha e lê. Para são Bento, a leitura tinha um espaço privilegiado na vida do monge, em especial a leitura das Sagradas Escrituras. O ritmo da vida no mosteiro buscava o justo equilíbrio entre o trabalho (corpo), a leitura (alma) e a oração (espírito). DOC. 2 “A ociosidade é inimiga da alma. Por isso, os ir- mãos devem estar ocupados a determinadas horas no trabalho manual e de novo a horas fixas na leitura das coisas de Deus.” S.P. Benedicti Regula commentata. In: MIGNE, J. P. Patrologiae cursus completus. Series Latina. Paris: s/e, 1866. T. LXVI. (tradução nossa) A organização do mosteiro “[...] os cristãos aceitavam muito melhor as comuni- dades monásticas como espaços de paz e trampolins para a eternidade. [...] esse lugar fechado, guardado por um porteiro, tornou-se em toda a Gália um oásis característico da paisagem mental e física do país. Como diz são Bento, ‘o mosteiro deve ser construído, se possível, de tal forma que todo o necessário – quer dizer, a água, o moinho, o jardim e os vários ofícios – exerce-se no interior do mosteiro, de modo que os monges não sejam obrigados a correr para todos os DOC. 3 lados lá fora, pois isso não é nada bom para suas almas’. No entanto, [...] os cenobitas não cortam relações com o exterior e não se enquistam no tecido social. Hóspedes, peregrinos e noviços são ali acolhidos. [...]” ROUCHE, Michel. Alta Idade Média ocidental. In: VEYNE, Paul (Org.). História da vida privada. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. v. 1. p. 418-419. Abadia de Monte Cassino, construída no século VI. Itália, década de 1990. HIST_PLUS_UN_C_CAP_07.indd 150 19.08.10 14:41:06 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 151 C ap ít u lo 7 • A or m aç ão d a ur o a eu da l • A ade. Derivado do aramaico abba, que significa “pai”. Geralmente, o abade era um monge mais velho e experiente, eleito pelos irmãos para decidir sobre todos os assuntos importantes da comunidade. • Cirílico. Adjetivo formado a partir do nome do provável fundador desse alfabeto: Cirilo. O alfabeto cirílico derivou-se dos alfabetos glagolítico e grego. A conversão dos reinos bárbaros Com o objetivo de obter conversões, missões cristãs de monges pregadores percorriam os reinos bárbaros, alargando as fronteiras da cristandade. O primeiro rei bárbaro a converter-se à fé cristã foi Clóvis, rei dos francos, em 498. Esse aconteci- mento teve implicações profundas, pois, durante a Idade Média, a conversão a alguma fé religiosa não dependia exclusivamente de convicções íntimas e pessoais do convertido. A conversão era uma questão política. Buscava-se, antes de tudo, converter o rei ou chefe de uma comuni- dade, que então era imitado por todo o seu povo. Desse modo, era possível cristianizar comunidades inteiras, que passavam a ser reconhecidas nominalmente como cristãs e, a partir daí, deviam fidelidade à Igreja. As conversões eram feitas pela persuasão pacífica, por tratados diplomáticos ou pela força das armas. O processo foi lento, porém contínuo. Na Europa Ocidental, entre os séculos VI e VII, missões de monges irlandeses percorreram as ilhas britânicas, a Inglaterra e a Escócia, cristianizando totalmente a região. No século VIII, o monge inglês Bonifácio empreendeu uma série de missões e conseguiu converter grande parte das tribos germânicas que viviam ao leste do Rio Reno [doc. 4]. Por fim, entre os séculos IX e X, foram conver- tidos os povos eslavos e escandinavos que viviam nos limites da cristandade. Essa conversão foi obra 1. Quais seriam os objetivos centrais das recomen- dações da Regra de são Bento: “ora, trabalha e lê” [doc. 2]? 2. Qual foi a importância do movimento monástico na expansão do cristianismo durante a Idade Média? 3. Quais os dois tipos de recomendação feitos pelo papa ao monge Bonifácio? Quais os objetivos des- sas recomendações [doc. 4]? QUESTÕES tanto dos monges ocidentais quanto dos monges de Constantinopla, que chegaram a inventar um dia- leto e um novo alfabeto, o cirílico, para evangelizar os povos eslavos das estepes russas. A estratégia foi bem-sucedida, pois entre os séculos VI e X as missões cristãs conseguiram converter praticamente todos os reinos bárbaros na Europa. O reino dos francos, um dos primeiros a ser convertido, acabou se tornando o defensor oficial da cristandade ocidental. Por volta do ano 1000, após séculos de luta da Igreja pela conver- são, a Europa podia ser considerada um continente cristão, cercada por territórios islâmicos. A cristianização da Germânia O monge inglês Bonifácio foi encarregado de cristianizar e organizar a Igreja na Germânia, ter- ritório da Alemanha atual. Nesta carta, escrita em 732, o papa Gregório III lhe dá instruções de como agir com os convertidos. DOC. 4 “Tu não podes, conforme dizes, satisfazer às necessi- dades de conversão das massas que, nesses países, foram ganhas por ti para a verdadeira fé, tanto se desenvolve em todos os sentidos a propagação da fé graças ao Cristo. Ordenamos-te, portanto, conforme aos estatutos dos santos cânones, à medida que cresce a multidão dos fiéis, que nomeies bispos em nome da sede apostólica, mas com uma piedosa consideração, a fim de que a dignidade episcopal não seja aviltada [...]. No caso daqueles que mataram um pai, uma mãe, um irmão ou uma irmã, determinamos que eles não podem receber o corpo do Senhor durante toda a sua vida, com exceção da extrema-unção. Eles devem abster-se de carne e de vinho; enquanto viverem, deverão jejuar na 2a, na 4a e na 6a feira, e assim, por suas lágrimas, pagar pelos crimes cometidos. Tu enumeras ainda entre outros pontos duvidosos o fato de que alguns dos fiéis vendem aos pagãos seus escravos para ser imolados. Nós te ordenamos, irmão, que corrijas este abuso com o maior cuidado. Tu não deves mais permiti-lo daqui para frente. Aos que o perpetrarem, deves impor a mesma penitência imposta que para o homicídio. [...]” Carta do papa Gregório III a são Bonifácio [732]. CARPENTIER, J.; LEBRUN, F. Histoire de l´Europe. Paris: Seuil, 1990. p. 149-150. (tradução nossa) Iluminura desacramentário representando germanos sendo batizados e o martírio de São Bonifácio, 975. Biblioteca Universitária, Heidelberg. HIST_PLUS_UN_C_CAP_07.indd 151 19.08.10 14:41:07 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . Objetivos Explicar o processo de formação do Império Carolíngio. Entender a aliança entre o poder monárquico e o poder religioso durante o Império de Carlos Magno. Termos e conceitos • Igre a Católica • Império • enascimento Carolíngio Seção 7.3 152 U n id ad e C • A da de éd ia : ci de nt e e ri en te O reino cristão dos francos A dinastia merovíngia O Reino Franco configurou-se como o mais poderoso da Europa Ocidental da Alta Idade Média. Ele formou-se e expandiu-se sob o governo de duas di- nastias: a dinastia merovíngia (séculos V-VIII) e a dinastia carolíngia (séculos VIII-IX). Vejamos como se deu esse processo. Desde a ocupação da Gália romana, no século V, até a metade do século VIII, os francos foram governados pela dinastia dos merovíngios (descenden- tes de Meroveu, um suposto ancestral mítico). O primeiro soberano merovíngio importante foi Clóvis, que se converteu ao cristianismo em 498 e foi o primeiro rei bárbaro a governar com o apoio da Igreja Católica. Carlos Magno e a dinastia carolíngia A dinastia carolíngia iniciou-se no século VIII com Pepino, o Breve. A ascensão dos carolíngios foi apoiada pela Igreja, que desejava estabele- cer uma aliança com o reino dos francos para expulsar os lombardos de Roma. A aproximação da Igreja com os francos já havia se iniciado com Carlos Martel, pai de Pepino, que comandou a luta para expulsar os árabes muçulmanos da Gália. A aliança estratégica entre os francos e a Igreja se consolidou no reinado de Carlos Magno, neto de Carlos Martel. Carlos Magno assumiu o reino em 768 e, em pouco tempo, construiu um enorme império, expandindo os domínios francos, que passaram a ser governados por um único soberano. No decorrer de várias campanhas militares consecutivas, Carlos Magno conseguiu realizar uma série notável de conquistas [doc. 1]. Fonte: DUBY, Georges. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2003. p. 36. OCEANO ATLÂNTICO MAR MEDITERRÂNEO REINO ANGLO-SAXÃO EMIRADO DE CÓRDOBA CALIFADO ABÁSSIDA SAXÔNIA AUSTRÁSIA NÊUSTRIA ALEMANHA BAVIERA BORGONHA AQUITÂNIA REINO DA ITÁLIA ÍSTRIA ESTADOS DA IGREJA BRETANHA ÁVAROS ESLAVOS MARCA DA BRETANHA MARCA DA PANÔNIA MARCA HISPÂNICA DUCADO DE ESPOLETOCÓRSEGA SARDENHA DUCADO DE BENEVENTO SICÍLIA Aquisgrã Magúncia Reims Milão Pávia Aquileia Veneza Ravena BeneventoRoma Nápoles Rio Sena Rio Reno Rio Loire Rio Danúbio Rio Pó Rio Ebro MAR DO NORTE MAR BÁLTICO Trévis Verden Worms Atgny Conquistas de Carlos Magno Estados tributários Área de influência carolíngia Domínio bizantino Reino dos francos no início do governo de Carlos Magno O império de Carlos MagnoDOC. 1 230 km Conteúdo digital Moderna PLUS http:// www.modernaplus.com.br Mapa animado: A Europa merovíngea e carolíngia HIST_PLUS_UN_C_CAP_07.indd 152 19.08.10 14:41:08