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R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 358 U n id ad e F • m a er a de r e o uç es e t ra ns or m aç es O liberalismo econ mico As atividades industriais geradas ao longo do século XVIII inauguraram novas relações entre trabalhadores e donos dos meios de produção. Para acompanhar essas inovações, alguns pensadores, que hoje poderíamos chamar de economistas, pro- puseram um conjunto de ideias e teorias capazes de explicar o contexto inédito que surgia na Europa, em particular na Inglaterra, naquele período. Nas- cia, assim, o liberalismo econ mico. Na teoria liberal, a busca do interesse próprio é a principal motivação do comportamento humano, e o sujeito é visto como um ser independente dos vínculos sociais, cada um concorrendo com os de- mais pela realização de seus objetivos. Assim, os liberais davam muito mais importância ao indivíduo do ue sociedade s i erais de endiam ue os indivíduos (principalmente os empreendedores, ou seja, os homens de negócio) deveriam ser livres para atender a seus interesses sem nenhuma coerção exterior, fosse da sociedade, fosse do Estado. Ao perseguir seus interesses privados, os indivíduos estariam simultaneamente sendo úteis sociedade pois sua ati idade geraria renda e criaria empregos, contribuindo para o aumento da riqueza da nação. As ideias de Adam Smith O mais importante teórico do liberalismo foi o economista escocês Adam Smith [doc. 4]. No seu principal livro, A riqueza das nações, publicado em 1776, Smith defendia a supressão de toda e qual- quer restrição ao livre desenvolvimento do mercado. Em princípio, isso seria igualmente benéfico para trabalhadores e empresários. Segundo ele, da mesma forma que o empresário procura sempre a melhor aplicação para o seu capital, o trabalhador procura sempre o maior salário em troca do seu trabalho. Ambos procuram o maior lucro possível com aquilo que têm para oferecer no mercado. Se cada um fosse livre para procurar as melhores oportunidades e empregar seu capital ou seu tra- balho onde quisesse, a sociedade como um todo sairia ganhando. Para Adam Smith, em vez de ser uma caracte- rística moral negativa, o desejo de lucro leva o em- presário a produzir de acordo com as necessidades dos consumidores, regulando a oferta pela procura. Concorrendo com outras empresas pelos mesmos consumidores, cada uma delas procuraria superar as outras ao oferecer produtos de melhor qualidade ou menores preços. Assim, para os teóricos liberais, a economia é um conjunto de práticas regidas por leis naturais e seria irracional opor-se a essas leis. Por isso os liberais rejeitavam as medidas mercantilistas e pregavam o laissez-faire, ou seja, a não intervenção do Estado na economia, que devia obedecer apenas s eis sicas da o erta e da procura Segundo Adam Smith, o papel do Estado deveria se reduzir apenas a três funções básicas: • a proteção do país contra invasões estrangeiras; • a administração da justiça (o que incluía a proteção propriedade pri ada a garantia do cumprimento de contratos e a segurança interna, indispensáveis s ati idades econ micas • a realização de grandes obras públicas, como ca- nais, pontes e estradas (que, por exigirem muito capital, podiam ficar a cargo do Estado). O pai da economia política Adam Smith (1723-1790) é considerado o pai da economia política e um dos maiores repre- sentantes do liberalismo econômico. Como ainda não havia cátedra de economia em sua época, ensinava filosofia moral na universidade escoce- sa de asgo ma de suas ideias undamentais era a crença de que haveria uma “mão invisível”, encarregada de harmonizar todos os interes- ses egoístas em concorrência na economia de mercado. DOC. 4 1. Explique o funcionamento dos sistemas doméstico e manufatureiro. 2. Relacione o aumento da produção de ferro com o de- senvolvimento dos transportes da época [doc. 3]. 3. Identifi que as principais características do liberalis- mo econômico. QUESTÕES Centavo escocês comemorativo com a efígie de Adam Smith, 1797. Museu Britânico, Londres. HIST_PLUS_UN_F_CAP_19.indd 358 11/11/10 14:16:06 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . Seção 19.4 Objetivos Avaliar a importância da Revolução Industrial e identificar os resultados que produziu. Relacionar as duras condições de trabalho nas fábricas, no início da Revolução Industrial, à organização sindical dos trabalhadores. Reconhecer os danos que a sociedade industrial causou ao meio ambiente. Termos e conceitos • Meio ambiente • Trabalho • Ludismo • Organização dos trabalhadores 359 C ap ít u lo 1 9 • as e o uç es ng es as e o uç ão nd us tr ia DOC. 1 Vista de Leeds, Yorkshire, no início do século XIX, gravura do século XIX. O cotidiano das cidades e dos trabalhadores O aumento populacional A população das cidades industriais inglesas cresceu a taxas impres- sionantes entre os séculos XVIII e XIX. Em 1760, Manchester, por exemplo, tinha cerca de 17 mil habitantes; em 1831, esse número saltou para 237 mil e, em 1851, para 400 mil habitantes. Birmingham teve um desenvolvimento semelhante: em 1740, tinha 25 mil pessoas; em 1800, passou a ter 100 mil e, em 1851, chegou a 230 mil [doc. 1]. O crescimento demográfico era uma realidade em toda a Inglaterra, resultado, entre outras coisas, de melhorias promovidas na agricultura, que aumentaram a produtividade dos campos. A população inglesa duplicou de tamanho no perío- do entre 1750 e 1820. Por volta de 1840, a maior parte da população europeia ainda vivia no campo e somente 19 cidades do continente tinham mais de 100 mil habitantes, nove das quais ficavam na Inglaterra. Nessa época, Londres era a maior cidade do mundo, com cerca de 1 milhão de habitantes. A questão ambiental Nos séculos XVIII e XIX, não havia preocupação alguma com a preserva- ção do meio ambiente. O tema tornou-se importante apenas no século XX. No entanto, é evidente que as transformações provocadas pela Revolução Industrial trouxeram alterações sensíveis no ambiente. A busca de uma pro- dução maior e cada vez mais veloz gerava consumo amplo e descontrolado de recursos naturais. O exemplo mais óbvio ocorreu na extração e utilização do carvão mineral, que fazia as máquinas a vapor funcionarem [doc. 2]. HIST_PLUS_UN_F_CAP_19.indd 359 11/11/10 14:16:06 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 360 U n id ad e F • m a er a de r e o uç es e t ra ns or m aç es Desde o final do século XVI, o crescimento das cidades, sobretudo de Londres, gerava forte demanda por combustíveis domésticos. O fácil acesso ao carvão vegetal provocou, até o princípio do século XVIII, a de- vastação de parte significativa das florestas inglesas. O problema ambiental e as necessidades energéticas da nascente indústria estimularam a obtenção de outras fontes carboníferas e o aprimoramento da extração do carvão mineral em áreas mais profundas das minas. A nova dinâmica do trabalho, da circulação e do consumo de mercadorias implicava, em todas as suas fases, uma visão equivocada de que a natureza era uma fonte inesgotável de recursos, prontos a benefi- ciar o homem. O uso industrial da água e o acúmulo de dejetos nas áreas de mineração alteravam a vida local. O aumento populacional levou milhões de pessoas a viverem em um mesmo espaço urbano e gerou uma grande quantidade de lixo, que era despejado a céu aberto e propiciava condições ideais para a propagação de doenças. A exploração da mão de obra nas fábricas No início da Revolução Industrial, praticamente não havia limites para a exploração da mão de obra.Não existia legislação trabalhista, nem direitos sociais, como descanso remunerado, férias, limitação do ho- rário de trabalho, aposentadoria etc., que só seriam aprovados muito mais tarde, a partir do fim do século XIX. A jornada de trabalho costumava variar de 12 a 18 horas diárias. Além disso, era comum o trabalho de crianças e mulheres. Dentro das fábricas, os trabalha- dores estavam sujeitos a multas e punições severas. Para garantir a sobrevivência, todos os membros da família tinham de trabalhar nas fábricas. Antes das primeiras leis restringindo o trabalho feminino e infantil, os empresários davam preferência para as crianças e as mulheres, que recebiam bem menos que os homens adultos: “Aumentou muito o número de trabalhadores porque os ho- mens foram substituídos no trabalho pelas mulheres e sobretudo porque os adultos foram substituídos por crianças. Três meninas com 13 anos de idade e salário de 6 a 8 xelins por semana subs- tituem um homem adulto com salário de 18 a 45 xelins.” Thomas de Quincey. The Logic of Political Economy. In: MARX, Karl. O capital. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975. v. 1. p. 451. Documentos oficiais do governo britânico descre- vem casos de trabalhadores que vendiam seus filhos e paróquias que faziam leilões de crianças órfãs para trabalhar nas fábricas. Jornais exibiam anúncios ofere- cendo crianças para alugar, como se fossem escravos. A mortalidade infantil, nas cidades industriais britâni- cas, era altíssima. Por volta da metade do século XIX, em Nottingham e Manchester, principais distritos industriais ingleses, para cada 100 mil crianças nas- cidas vivas, em torno de 25 mil morriam. A insurreição contra as máquinas ma das principais ormas de resist ncia dos tra- a adores degradação das condiç es de tra a o e de vida foi a destruição de máquinas, movimento que na Inglaterra ficou conhecido como ludismo. O nome do movimento supostamente é uma homena- gem ao primeiro trabalhador que se revoltou contra as máquinas, Ned Ludd. Não se sabe se Ludd foi um personagem real ou apenas uma lenda, mas um jor- nalista da época afirmou que os ludistas chamavam aquele que comandava a quebradeira de máquinas de general Ludd, talvez para ocultar sua identidade real e evitar represálias [doc. 3]. O ludismo não foi um movimento de operários fa- bris, mas de artesãos qualificados, cujas habilidades estavam sendo substituídas pelas máquinas. Os traba- lhadores exigiam uma lei eliminando a maquinaria das fábricas, que prejudicava não só os artesãos qualifica- dos, mas também os pequenos comerciantes e outras categorias pro issionais igadas ind stria t ti As ações judiciais e os apelos dos trabalhadores não tiveram efeito, não lhes restando alternativa senão a revolta. A partir de 1811, o movimento de destruição de máquinas espalhou-se por toda a Inglaterra. O governo enviou o exército para reprimir a revolta, mas ela já havia se alastrado e contava com o apoio da população pobre, dos camponeses e de pequenos comerciantes locais. Em 1812, o governo inglês instituiu uma lei que punia com a morte a destruição de máquinas e enviou mais contingentes armados para acabar com a insur- reição. Por fim, os líderes foram presos, julgados e en- forcados. O movimento, mesmo assim, não terminou, e continuou atuando de forma esporádica até 1816. Revolução Industrial e meio ambiente “A civilização agrícola, superada pela Revolução Industrial, usava fontes renováveis de energia. O vento enfunava as velas, os rios moviam moinhos. As florestas, cortadas em pequena escala para abastecer cozinhas e lareiras, eram logo recompostas pela natureza. [...] A civilização industrial, pelo contrário, estruturou-se numa base de combustíveis fósseis e não renováveis. Estamos falando principalmente do gás, do petróleo e do carvão de pedra.” MARCOVITCH, Jacques. Para mudar o futuro: mudanças climáticas, políticas públicas e estratégias empresariais. São Paulo: Edusp/Saraiva, 2006. p. 32-33. DOC. 2 HIST_PLUS_UN_F_CAP_19.indd 360 11/11/10 14:16:07
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