Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PAPILOSCOPIA Professor: Rodrigo Bertuol Revisão I 2023 2 A reprodução ou edição não autorizada desta publicação, parcial ou integral, por qualquer forma, processo ou meio, incluindo qualquer armazenamento permanente ou temporário em outros sites, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9610/1998). 3 SUMÁRIO INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................6 1. Processos de identificação – breve histórico........................................................................7 1.1 Nome............................................................................................................................................7 1.2 Marcação física.........................................................................................................................8 1.3 Mutilação....................................................................................................................................8 1.4 Tatuagem....................................................................................................................................9 1.5 Fotografia....................................................................................................................................9 1.6 Identificação pela arcada dentária...................................................................................9 1.7 Antropometria........................................................................................................................10 1.8 Papiloscopia.............................................................................................................................11 2. Identificação versus reconhecimento...................................................................................14 3. Papiloscopia....................................................................................................................................15 3.1 Datiloscopia.............................................................................................................................15 3.2 Quiroscopia..............................................................................................................................20 3.3 Podoscopia...............................................................................................................................21 3.4 Poroscopia................................................................................................................................21 4. Identificação criminal.................................................................................................................22 4 5. Identificação civil..........................................................................................................................23 6. Impressões papilares...................................................................................................................25 REFERÊNCIAS......................................................................................................................................28 5 INTRODUÇÃO O fato de não existirem duas pessoas com impressões digitais idênticas possibilita sua diferenciação de forma inequívoca. No entanto, qual é a base científica para tal afirmação? Um dos pioneiros a realizar um cálculo matemático para definir com que frequência seria possível que se repetissem impressões digitais em duas pessoas distintas foi Francis Galton, apontando que a probabilidade para isso ocorrer seria de uma em cada 64 bilhões de pessoas. Em 2013, segundo a ONU, existiam 7,2 bilhões de pessoas e a estimativa então era de que em 2050 esse número possa chegar aos 9,6 bilhões de habitantes. Em 1999, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, em conjunto com o FBI e a empresa Lockheed Martin, realizou um experimento e concluiu-se que a taxa de erro provável na identificação com impressões papilares é de 1 em 10 elevado a 97. Considerando o tamanho da população mundial e os fatores que afetam a formação das cristas papilares, mesmo com números superlativos como os apontados, é praticamente zero a probabilidade de repetição de digitais. Tal certeza estatística é uma das razões que tornam a ciência papiloscópica completamente confiável, fazendo com que a identificação por meio das impressões digitais seja um método de análise preciso. Mas por qual motivo é importante que a identificação seja realizada de forma correta e inequívoca? 6 1. Processos de identificação – breve histórico Desde que o ser humano iniciou o convívio em sociedade, mesmo nos tempos em que os núcleos humanos eram nômades, também surgiu a necessidade de identificar pessoas, seres e objetos. Imaginemos que um agrupamento humano pré-histórico tivesse, dentre seus membros, alguns mais habilidosos na criação de ferramentas de caça. Estes membros teriam interesse em manter suas ferramentas sob sua guarda e não gostaria de tê-las misturadas com outras ferramentas pertencentes a outros do grupo. Assim, colocar algum sinal identificador qualquer que fosse – algo amarrado, uma coloração diferente ou um design específico que permitisse afirmar a quem determinada ferramenta pertencia. Da mesma forma, facilitaria a comunicação entre os membros se cada indivíduo tivesse a sua identificação, para que fosse possível saber se todos os membros estavam presentes no grupo quando das atividades cotidianas, identificar aqueles de outras tribos e por aí vai. Dentre os diversos processos de identificação temos: 1.1 Nome Provavelmente a adoção de um nome foi a primeira forma de identificação adotada pelos seres humanos para sua diferenciação dentro de um grupo. A princípio a escolha de um nome, nas eras primordiais de convivência em sociedade, tinha um grande peso, pois acreditava-se que o destino do portador poderia ser determinado pelo nome a ele atribuído. De certa forma, até os dias atuais essa percepção ocorre, ainda que inconscientemente. Quem nunca ouviu comentários sobre como o nome de determinada criança é indicativo de suas peraltices? Com o aumento da população, o surgimento de homônimos – pessoas com o mesmo nome – começou a trazer desafios. A alternativa de resolução desses desafios seria a inclusão de novos adjetivos ao nome, tornando-os compostos. Um dos primeiros registros do uso de nomes compostos aconteceu na China, por volta do ano 2.850 a.C., pelo imperador chinês Fushi, que determinou a adoção de sobrenome ou nomes de famílias. 7 Por ser um termo que auxilia na identificação dos indivíduos, durante a evolução da sociedade, percebeu-se que algumas pessoas se aproveitavam da inexistência de normas mais rígidas para a determinação dos nomes e sobrenomes. Isso fazia que, quando havia interesses especialmente nocivos, adotavam novos nomes diferentes dos originalmente atribuídos. Até que em 1551, na França, foi criada a primeira determinação escrita que proibia a mudança de nome sem autorização do rei, procedimento adotado rapidamente por diversos países na época. Ainda assim, o nome não era a forma mais segura de determinar a identificação segura de uma pessoa, pois mesmo a adoção de sobrenomes não impedia o surgimento de homônimos, fazendo ser necessária a adoção de mais dados biográficos, tais como a informação sobre os nomes completos dos pais e a data de nascimento. Mas mesmo com esses dados complementares a possibilidade de duas pessoas distintas apresentarem nomes pessoais, de pais e datas de nascimentos iguais, mas com características físicas diferentes permanecia. 1.2 Marcação física O convívio em sociedade também trouxe outras implicações para o ser humano. Alguns indivíduos tinham dificuldade em se integrar à convivência harmoniosa e precisavam ser separados. Outros, pelas regras da época, eramescravizados e como tal precisavam ser identificados. Adotou-se durante períodos remotos da História a marcação com um ferrete em brasa para diferenciar os criminosos das pessoas inocentes, os escravos dos cidadãos livres. É um processo cruel e que, no caso de criminosos que eventualmente se arrependessem de seus atos ou de escravos que adquirissem liberdade tornava a reintegração muito difícil, senão impossível. 1.3 Mutilação Outra forma utilizada na mesma época que a marcação com ferrete, mas com o viés estritamente punitivo, era a mutilação. A parte do corpo escolhida para ser mutilada dependia da natureza do delito e da legislação vigente. Sua origem remete à Lei de Talião – olho por olho, dente por dente. Além de ser desumana, sua aplicação apresentava algumas dificuldades, pois nem todo crime permitia correspondência direta com alguma parte do corpo. Ainda assim, diversas civilizações adotaram a mutilação como forma de identificar 8 criminosos e apartá-los. 1.4 Tatuagem Era uma forma que também servia razoavelmente bem aos propósitos de segregar escravos e criminosos. No Antigo Egito e em Roma era um dos métodos mais usuais para identificar escravos. Já em tempos mais modernos, precisamente no ano de 1832, na Inglaterra, foi proposto que se fizesse uso da tatuagem de forma a permitir a identificação civil, por meio da tatuagem de letras na parte interna do antebraço e a identificação criminal por números, na mesma parte do corpo. Porém, seu uso acabou não sendo aceito para fins de identificação civil, pois era considerado inconveniente e doloroso, não era imune à adulteração e ainda poderia provocar infecções de pele. 1.5 Fotografia O processo fotográfico foi um passo importante para o aprimoramento dos processos de identificação, mas não oferecia novas formas para impedir que erros fossem cometidos. Por melhor e mais completo que fosse o arquivo fotográfico quando do início do uso da fotografia, ainda era possível que pessoas mal intencionadas adulterassem suas características físicas, para dificultar sua identificação. Mesmo no caso de identificação civil, ainda haviam situações onde o identificado poderia ter um irmão gêmeo, ter sofrido algum tipo de modificação involuntária ou outra deformação que impedisse ou dificultasse sua identificação, além de que a fisionomia humana pode sofrer grandes alterações com o passar do tempo. Atualmente a fotografia é um procedimento acessório à identificação, bastante útil ao reconhecimento. 1.6 Identificação pela arcada dentária Este método foi desenvolvido inicialmente em 1897, pelo dentista cubano Oscar Amoedo Valdés, ao propor o uso do estudo dos dentes como forma de determinação de identidade. É um procedimento de grande importância para a Medicina Legal, visto que é o mais usual quando as impressões digitais não podem ser utilizadas, como, por exemplo, nos casos de cadáveres carbonizados, uma vez que os dentes só são calcinados em temperaturas superiores a 1200°C. 9 Também é possível, por meio da análise da arcada dentária, determinar se um crânio pertence a um homem ou mulher. Ainda que apresente vantagens, o sistema de identificação pela arcada dentária depende da existência de registros odontológicos, é de classificação e arquivamentos complexos, restringindo seu uso para identificação corriqueira. 1.7 Antropometria Foi, por suas características de classificação e arquivamento, a metodologia de identificação criminal preferida de sua época. Teve sua criação em 1879, por Alphonse Bertillon. Consistia na anotação de medidas de partes específicas do corpo humano, que constatou-se serem imutáveis a partir dos 21 anos de idade, quais sejam: Diâmetro antero-posterior da cabeça; Diâmetro transversal da cabeça; Diâmetro bi-zigomático; Comprimento do pé esquerdo; Comprimento do dedo médio esquerdo; Comprimento do dedo mínimo esquerdo; Comprimento do antebraço; Estatura; Envergadura (comprimento dos braços abertos); Busto. As medidas eram anotadas em fichas de cartolina, onde também constavam a fotografia do identificado, as impressões digitais dos dedos polegar, indicador, médio e anular direitos, dados biográficos (filiação, sexo, data de nascimento) marcas e anomalias, caso existissem. Entretanto, à medida que o acervo de identificação crescia, mais difícil ficava a localização de um suspeito. Além disso, a tomada das medidas acabavam sofrendo a interferência – ainda que involuntária – do responsável pela medição; sem falar que o próprio identificado poderia 10 burlar a tomada de suas medidas, induzindo o identificador a erro e, com isso, ganhar uma nova ficha identificadora. Mesmo com suas limitações, o método da bertillonagem foi um dos que mais se aproximou do ideal, por congregar modos distintos de identificação, dando a seu criador também o reconhecimento como verdadeiro criador da identificação científica, tendo sido usado por diversos países por mais de 30 anos. 1.8 Papiloscopia O século XVIII foi de extrema produção científica, nos mais diversos segmentos. E não era diferente com a biometria. Alguns pesquisadores, em lugares distintos do mundo, acabaram conduzindo estudos similares, por vezes sem conhecimento da produção um do outro. Isso acarretou em diversos materiais onde notava-se que, a despeito da distância e eventual desconhecimento dos trabalhos, estes revertiam em resultados muito similares na questão do estudo das impressões digitais. Independente da origem dos estudos, na segunda metade do século foi quando a ciência papiloscópica deu seus maiores saltos evolutivos. Dentre os principais nomes relacionados ao estudo da Papiloscopia, temos: Johannes Evangelist Purkinje; Willian Herschell; Henry Faulds; Francis Galton; Edwar Richard Henry, e Juan Vucetich. Destes, o que trataremos com destaque será Juan Vucetich, croata naturalizado argentino, que apresentava grande interesse na evolução científica dos estudos em criminalística que aconteciam mundo afora em sua época, e que por ser um entusiasta das metodologias mais modernas na identificação criminal é destacado para criar, no Departamento de Polícia de La Plata, um escritório antropométrico. Vucetich percebeu, após estudar com atenção o trabalho de Galton, que poderia fazer bom uso das impressões digitais em seu departamento. 11 Baseado no livro escrito de Francis Galton, chamado Finger Prints, Vucetich percebeu que as impressões digitais poderiam ser agrupadas em 4 grandes grupos: Arcos; Presilhas Internas; Presilhas Externas, e Verticilos. Também é atribuído a Juan Vucetich a resolução do primeiro caso criminal utilizando impressões digitais, em 1892. A Papiloscopia, enquanto ciência, apresenta vantagens que a credenciam como a mais completa forma de individualização humana. Os estudos realizados desde seus primórdios permitiram a formulação dos seguintes postulados: Universalidade: todos ser humano apresenta impressões papilares. Somente em casos raros as cristas papiloscópicas estão ausentes na pele de uma pessoa, em decorrência de peculiaridades genéticas, como é o caso da Síndrome de Nagali ou adermatoglifia, cujos portadores não tem desenhos papilares. Mas mesmo o fato de uma pessoa não possuir impressões digitais já pode ser considerado uma característica individualizadora. Perenidade: o desenho papilar está formado a partir do 6º mês de vida intrauterina e assim permanecerá até a putrefação completa da pele. Imutabilidade: o desenho papilar não sofrerá alterações naturais no decorrer da vida. Eventuais alterações serão por influência externa ao organismo, tais como lesões profundas na pele. Variabilidade: o desenho papilar nunca se repete, ele apresenta variação entre os desenhos,detalhes e minúcias presentes na pele. Classificabilidade: os desenhos papilares presentes nas pontas dos dedos permitem que sejam criados grupos, onde estes se agrupam de forma tal a possibilitar seu arquivamento de forma lógica e de fácil compreensão. 12 Praticabilidade: a análise das impressões digitais pode ser facilmente realizada a partir da sua coleta, quer seja em papel ou em meio eletrônico. Em alguns casos o especialista em Papiloscopia pode, mesmo sem o uso de ferramentas de aumento para análise de minúcias, verificar se determinada impressão digital é compatível com outra somente pela fórmula básica. 13 2. Identificação versus reconhecimento A ciência papiloscópica tem como um de seus maiores benefícios a inequívoca identificação humana. Isso se dá pela confirmação da identidade, por meio do uso de meios técnico- científicos inconfundíveis, irrefutáveis e precisos, além de ser extremamente prática e de baixíssimo custo. Além da ciência papiloscópica, a odontologia e o DNA também são procedimentos que fazem uso de meios técnico-científicos que permitem identificar alguém. O reconhecimento, por sua vez, é empírico e subjetivo, não obedece a critérios científicos que permitam sua repetição. Um cadáver, caso esteja em avançado estado de decomposição, pode fazer com que o reconhecimento facial seja impossibilitado, pois as características fisionômicas do rosto da pessoa falecida sofrem alterações drásticas, a depender das condições ambientais. Dessa forma, é bastante temerário que um corpo seja liberado para sepultamento adotando o simples reconhecimento. A perda de um ente querido gera grande comoção. Se porventura descobre-se que o corpo já sepultado pode não ser da pessoa que foi reconhecida de forma empírica, mas não identificada cientificamente, há mais um transtorno a ser enfrentado pela família: a possibilidade de ser necessária a exumação do cadáver. Os familiares passarão por um processo traumático de retirada do ente querido de seu túmulo, e consequentemente por todo o processo emocionalmente doloroso de sepultamento, sendo forçada a reviver inclusive a situação que causou a morte de seu parente. Porém, não sendo confirmada a identidade e descobrindo-se que o corpo pertence a um terceiro, a família entrará na angústia de não saber o paradeiro da pessoa que agora supõe-se desaparecida, repercutindo na rotina de forma imprevisível, mas certamente negativa. Para evitar que esses transtornos aconteçam, busca-se a segurança de efetiva e eficaz identificação cadavérica antes do sepultamento. 14 3. Papiloscopia A Ciência Papiloscópica é uma das formas de biometria mais conhecida. A coleta de dados biométricos pode se dar pelas impressões papilares, por íris, medidas corporais, arcada dentária, voz e até pelas papilas gustativas. Por sua natureza intrínseca, a Papiloscopia possui vasta aplicação e assim pôde ser dividida em ramos que permitem fazer uso de características das papilas dérmicas de forma a permitir que uma pessoa possa ser identificada por suas impressões digitais, impressões palmares, impressões plantares e até pelos poros presentes nas cristas papilares. Essa diversidade de formas originou divisões na Papiloscopia: Datiloscopia: realiza a identificação por meio das impressões digitais (pontas dos dedos); Quiroscopia: realiza a identificação por meio das impressões palmares (palmas das mãos); Podoscopia: realiza a identificação por meio das impressões plantares (plantas dos pés); Poroscopia: auxilia na identificação por meio do mapeamento dos poros. Nota-se, assim, que o termo genérico “impressões digitais” muitas vezes pode levar um leigo ao erro, pois quando se fala no uso de Papiloscopia para a identificação humana temos que saber qual ramo dessa ciência que está sendo considerado. Mas, via de regra, a identificação faz uso da datiloscopia. 3.1 Datiloscopia É o método de identificação papiloscópica por excelência, resultado de diversos estudos. Isso se deve pelo fato de que, dentre todas as formas de biometria, a coleta das impressões existentes nas pontas dos dedos é mais prática e usual. Os desenhos papilares e a forma como se caracterizam na ponta dos dedos permitiu que 15 fossem criados sistemas de identificação, classificação, subclassificação e arquivamento de fichas datilares – suporte de papel onde são coletadas as impressões digitais. São utilizadas as duas faces da individual datiloscópica, nome técnico da ficha de identificação. Em uma face são coletadas as impressões roladas de cada dedo, permitindo a classificação. Na outra face, são registrados os dados relativos à coleta (local, data, nome, assinatura, nº do Registro Geral) e os dedos de forma tal que seja possível verificar se a sequência na coleta rolada não sofreu troca nas posições. Figura 1 – Individual datiloscópica com a coleta rolada de cada dedo, possibilitando sua classificação pela fórmula datiloscópica. Figura 2 – Individual datiloscópica com informações sobre o local da coleta, data, responsável pela coleta, nome completo do identificado, sua assinatura e a coleta dos dedos de forma pousada, permitindo verificar se a coleta rolada foi realizada adequadamente. Até pouco tempo, a coleta era realizada aplicando-se uma fina camada de tinta na ponta dos dedos do identificado, de forma que seja entintado desde a ponta até pouco abaixo da linha interfalangeana. Para realizar o procedimento, é necessário empregar algumas ferramentas. São elas: o rolo de entintamento, uma placa para aplicação da tinta e uma placa de suporte para a coleta. 16 Figura 3 – Material utilizado para a coleta de impressões digitais. Figura 4 – Aplicação de tinta na ponta dos dedos. 17 Figura 5 – Rolagem dos dedos, para coleta Figura 6 – Estação de coleta biométrica eletrônica 18 O entintamento vem sendo substituído pela coleta biométrica eletrônica, a qual é mais prática e rápida. Não há uma estimativa sobre quais são os estados brasileiros que ainda fazem uso apenas do entintamento, que apresenta inconvenientes para o identificado, mas cuja qualidade de impressões coletadas geralmente é muito boa para sua classificação e análise. Porém, isso depende muito da capacidade do coletor em realizar a aplicação adequada de tinta, de modo que as impressões não fiquem borradas pelo excesso de tinta ou ilegíveis pela sua falta. Uma situação onde o entintamento ainda mantém sua necessidade é na identificação cadavérica. Em função do grau de putrefação ou outras limitações, o uso de equipamentos eletrônicos torna-se inviável, fazendo com que o conhecimento sobre o entintamento seja de grande importância. Para que fosse possível realizar o arquivamento e a busca das impressões digitais, muitos países adotaram o sistema criado por JuanVucetich, no qual são atribuídas letras aos polegares e números nos demais dedos, para cada tipo fundamental de impressão. Dessa forma, os arcos recebem a letra A ou o número 1; presilhas internas a letra I ou o número 2, presilhas externas a letra E ou o número 3; por fim, os verticilos a letra V ou o número 4. Figura 7 – Exemplo de classificação no sistema Vucetich. Com base nessa fórmula, as digitais são arquivadas. Para tornar as buscas mais eficazes, são adotadas subclassificações nos dedos da mão direita com base na contagem de linhas das impressões. Essa subclassificação encontra-se exemplificada na figura 1. 19 Figura 8 – Papiloscopista analisa individual datiloscópica em acervo O acervo eletrônico, quando as impressões são coletadas e armazenadas em meio informatizado, não leva em consideração a classificação das impressões para realizar as buscas no arquivo, pois os algoritmos dos sistemas informatizados adotam forma específica de pesquisa. 3.2 Quiroscopia É ométodo de identificação papiloscópica pela análise dos papilogramas presentes nas palmas das mãos, porém não há um sistema de classificação da mesma forma como acontece com as impressões digitais. Sua coleta acontece apenas na identificação criminal. A palma é divida em três regiões, para analisar e apontar em laudos onde foram localizadas as minúcias encontradas: Superior ou infra-digital; Tenar; e Hipotenar. 20 Figura 9 – Impressão palmar 3.3 Podoscopia É o método de identificação papiloscópica pela análise dos papilogramas presentes nas plantas dos pés. Diferente dos métodos anteriores, este é utilizado em situações onde a pessoa não possua os membros superiores ou outra situação que não permita sua identificação pelas digitais ou palmares. Não é usual, pois mesmo apresentando cristas papiloscópicas passíveis de análise, seu uso é muito restrito. Também não possui uma forma de arquivamento padronizada. 3.4 Poroscopia É um ramo específico da Micropapiloscopia. Existem situações onde a presença de cristas papilares pode provocar dúvidas em sua análise, buscando-se a possibilidade de fazer uso dos poros presentes para auxiliar na afirmação ou negação da identidade de uma pessoa. Seu uso tem maior aplicabilidade em análises de originalidade de impressão, permitindo afirmar se esta foi produzida por meio artificial ou não. É de difícil coleta, tanto em tinta quanto em meio eletrônico. Depende mais das características morfológicas da pele do identificado do que da forma de coleta, propriamente. Seu uso ainda não é muito difundido no Brasil. 21 4. Identificação criminal Inicialmente, quando as impressões digitais foram adotadas como forma de identificação, seu uso restringia-se à identificação de criminosos. Dessa forma, ao determinar ao culpado o cumprimento de sentença, a possibilidade de condenar um inocente diminuiu drasticamente. Também era menor a probabilidade de que presos trocassem de nome, para tentar burlar o sistema. O Brasil adotou a identificação criminal por meio das impressões digitais em 1903, após a fundação do primeiro Gabinete de Identificação e Estatística da Polícia do Distrito Federal, no Rio de Janeiro, por Félix Pacheco. Atualmente a identificação criminal é aplicada de forma distinta à do início do século XX. Pela legislação atual, consta na Lei nº 12.037/2009 os dispositivos sobre a identificação criminal do civilmente identificado. De acordo com a lei, se uma pessoa for presa e apresentar à autoridade policial qualquer dos documentos de identidade nela indicados – no caso, carteira de identidade, carteira de trabalho, carteira profissional, passaporte, carteira de identificação funcional ou outro documento público com o fim de identificar seu portador – em estado de conservação adequado e que permita sua identificação, não será necessário submeter-se à coleta de sua foto e impressões digitais. Porém, se o documento apresentar indícios de fraude, impossibilitar a identificação de seu portador ou estiver ausente, é facultado à autoridade policial a determinação de ofício para que realiza-se o procedimento de identificação criminal. Além da coleta das impressões digitais, também é realizada a coleta das impressões palmares e a fotografia tomada é frontal e da lateral direita. Em alguns estados, como no Paraná, são tomadas também fotos da lateral esquerda, para o trabalho de perícia de reconhecimento facial. O arquivamento das individuais datiloscópicas dos identificados criminalmente é realizado de acordo com o sistema Vucetich. 22 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12037.htm 5. Identificação civil A identificação civil surge como forma de auxiliar o Estado na promoção da cidadania. Nesse sentido, alguns países definiram em lei a necessidade de formar uma base de dados civil, a qual foi iniciada no Brasil em 1907, quatro anos depois de iniciada a identificação criminal. Também adotou-se o sistema desenvolvido por Juan Vucetich para a classificação e gestão da base de dados de impressões digitais, baseado na fórmula datiloscópica. A identificação civil consiste no registro de dados biográficos, quais sejam: Nome; Filiação; Data de nascimento; Naturalidade; Sexo; e Estado civil. Somado aos dados biográficos, é realizada a coleta de foto e das impressões digitais para a formação do banco de dados. A legislação que rege a emissão do RG está em atualização, e deve estar plenamente aplicada até o final do ano de 2023. O cadastro civil conta ainda com os dados da certidão correspondente ao estado civil da pessoa, apresentada no momento do requerimento, e o endereço residencial. À medida que o acervo foi aumentando, basicamente em função do aumento da população e da demanda por documentos oficiais de identificação, ampliou-se também o tempo necessário para pesquisa, a qual serve para verificar se quem estava requerendo documento de identidade possuía ou não cadastro. Esse aumento de tempo de pesquisa gerava transtornos, pois implicava na demora na emissão da carteira de identidade. Em muitos estados, a adoção de sistemas automatizados de identificação de impressões 23 digitais, AFIS na sigla em inglês, fez com que os prazos para emissão de documentos de identidade diminuísse drasticamente, sem que isso implicasse em aumento de pessoal. Isso porque as impressões digitais são armazenadas em meio digital, o arquivamento não é mais realizado somente de acordo com a fórmula datiloscópica e as formas de busca dos cadastros ficou muito mais rápida. O número de fraudes também é menor e há a possibilidade de troca de informações entre órgãos, como acontece no Paraná e no Rio de Janeiro, entre o Instituto de Identificação e o Detran, por exemplo. Em âmbito federal, pode acontecer o compartilhamento de informações entre os Institutos de Identificação e o TSE, havendo interesse em celebrar de convênio de parceria. Nos últimos 15 anos, o governo federal tem realizado um trabalho mais intenso na atualização da legislação que trata da identificação. Com isso a população tem muito a ganhar, pois a agilidade que o Estado ganha na oferta de melhores serviços é ampliada. 24 6. Impressões papilares A pele é responsável pela proteção de nosso corpo contra agentes externos, por auxiliar na regulação da temperatura corporal e percepção de estímulos físicos, dentre outras funções, sendo o órgão mais extenso do corpo humano. Possui três camadas – epiderme, derme e hipoderme, sendo a epiderme a camada mais exterior e a hipoderme, que apesar de não ser efetivamente considerada parte da pele, mas é responsável pela ligação entre as camadas superiores aos órgãos e estruturas adjacentes. Figura 10 – Camadas da pele Quando analisamos a área que a pele recobre, nota-se que nas palmas das mãos e na sola dos pés há uma diferenciação em relação às demais partes: não há presença de pelos ou de glândulas sebáceas. Isso ocorre porque a função de proporcionar atrito é incompatível com a presença de gordura ou oleosidade. Logo, nas palmas das mãos e planta dos pés só há presença de glândulas sudoríparas. Essa diferenciação das partes da pele acontece, obviamente, durante o desenvolvimento fetal. A formação das estruturas que darão origem aos membros superiores e inferiores tem início por volta da 4ª semana de gestação estimada (SGE). Por volta da 6ª SGE é perceptível o desenvolvimento das mãos e pés e também começam a se formar as estruturas da pele que darão origem às impressões papilares. A formação da epiderme se dá a partir do início da 8ª SGE, quando a forma das mãos e pés está praticamente finalizada. Assim, é possível afirmar que os desenhos das digitais já estão com as características definidas. 25 Figura 11 – Fases de crescimento da mão Ao observar a figura11, notamos que na fase indicada pela letra C as pontas dos dedos estão bastantes inchadas. É nesse momento que o tipo fundamental das impressões digitais começam a se definir. Quando o formato da ponta dos dedos é simétrico nessa fase, a probabilidade é maior de se formarem os arcos e verticilos, e quando é assimétrico se formarem as presilhas. Figura 12 – Representação artística do desenvolvimento das estruturas onde estarão presentes as impressões digitais e como pode se dar a formação dos tipos fundamentais. Além da formação dos tipos fundamentais, a forma como a pele recobrirá a ponta dos dedos também é fator importante para perceber como se formarão as minúcias, caracteres que auxiliam na individualização, por serem pontos de grande interesse para a Papiloscopia. 26 Figura 13 – Representação artística do desenvolvimento das cristas que darão as características individuais de cada pessoa. Quando o profissional de Papiloscopia realiza a análise de impressões digitais, para afirmar se pertencem ou não à mesma pessoa, são levados em conta uma série de características de modo que a identificação possa ser confirmada como positiva ou negativa. 27 REFERÊNCIAS ALEM, Ludmila. Papiloscopia forense: identificação humana pela análise das impressões papiloscópicas. Ed. da autora, 2022; LEE HC, Gaensslen RE, editores. Advances in Fingerprint Technology. 2ª ed. Boca Raton: CRC Press; 2001; CHAMPOD, Christophe... [et al.]. Fingerprints and other ridge skin impressions. Boca Raton: CRC Press; 2004; U.S. DEPARTMENT OF JUSTICE. The Fingerprint Source Book. 2ª ed. Washington: National Institute of Justice; 2012. 28
Compartilhar