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ANTI-HIPERTENSIVO – b-BLOQUEADOR: PROPRANOLOL A descoberta do propranolol como um fármaco "inteligente" foi realizada por Sir James Black e colaboradores. Eles basearam sua pesquisa na premissa de que antagonistas seletivos de receptores β-adrenérgicos poderiam ter propriedades hipotensoras. Utilizando a adrenalina como protótipo, Black formulou a hipótese de modificá-la estruturalmente para obter antagonistas seletivos. Na época, Dale e colegas desenvolveram um protocolo farmacológico para distinguir os subtipos α e β de receptores adrenérgicos, o que facilitou os estudos sobre a seletividade. As primeiras modificações estruturais introduzidas por Black focaram na função amina terminal da adrenalina, resultando no isoproterenol, que, contrariamente ao desejado, era um agonista parcial. Novas modificações estruturais consistiram na substituição da função catecol por um grupo orto-diclorobenzeno, levando à síntese de um antagonista com propriedades de agonista parcial. A próxima modificação estrutural aumentou a natureza hidrofóbica da molécula, resultando no pronetalol, o primeiro antagonista seletivo de receptores β-adrenérgicos. Apesar disso, o pronetalol mostrou toxicidade na avaliação clínica, levando a novas modificações que culminaram no propranolol, derivado sintético acessível do α-naftol. Curiosamente, a estrutura e síntese do propranolol já eram conhecidas, mas suas propriedades bloqueadoras de receptores β não, permitindo seu patenteamento como o primeiro antagonista β-seletivo, uma inovação terapêutica significativa para o tratamento da hipertensão. A partir do propranolol, outros β-bloqueadores foram desenvolvidos, como o metoprolol e o atenolol, com propriedades antagonistas β1-seletivas. Além disso, com a identificação de mais subtipos de receptores adrenérgicos, surgiram agonistas seletivos para o tratamento de condições como asma, enfisema e doença pulmonar obstrutiva crônica, como o salbutamol e o salmeterol. A contribuição de Black para a terapêutica e saúde é vasta, considerando a mortalidade associada à hipertensão, uma doença crônica não transmissível que não tinha tratamento eficaz até a descoberta do propranolol ANTI-HIPERTENSIVO – b-BLOQUEADOR: PROPRANOLOL A descoberta do propranolol (4.8, Figura 4.17), outro fármaco “inteligente”, por Sir Ja- mes Black e colaboradores, teve como base a premissa de que antagonistas seletivos de receptores b-adrenérgicos teriam propriedades hipotensoras. Partindo da estrutura da adrenalina (4.33), agonista natural, como protótipo, Black formulou a hipótese de modi- ficá-la estruturalmente de maneira a obter antagonistas seletivos.9 À mesma época, Dale e colaboradores desenvolveram protocolo farmacológico capaz de distinguir os subtipos a e b de receptores adrenérgicos, o que viabilizou os estudos sobre a seletividade. A pri- meira modificação estrutural introduzida por Black na molécula da adrenalina (4.33) se deteve na função amina terminal, mantendo sua natureza secundária mas introduzindo um radical alquila mais volumoso do que a metila original. Dessa forma, o isoproterenol (4.34) foi sintetizado e se mostrou, contrariamente ao desejado, um agonista parcial, capaz de discriminar os receptores b dos a. Esse perfil de seletividade orientou as modi- ficações estruturais subsequentes, que consistiram na modificação da função catecólica por um grupamento orto- diclorobenzeno. Essa substituição isostérica, clássica, de um grupo funcional monovalente por outro, eliminava o caráter doador-aceptor de hidro- gênio, típico da função catecólica, e introduzia substituintes hidrofóbicos nesta região da molécula. Essa alteração estrutural conduziu a um antagonista com propriedades de agonista parcial, o (4.35), indicando que novas alterações estruturais seriam necessárias para se modularem à relação antagonista/agonista e a b-seletividade. A próxima mo- dificação estrutural foi planejada de maneira a aumentar a natureza hidrofóbica nesta região da molécula, o que foi feito pela introdução de um segundo anel benzênico em substituição aos átomos de cloro de 4.35, resultando no pronetalol (4.36), primeiro an- tagonista seletivo de receptores b-adrenérgicos descoberto (Figura 4.17). Infelizmente, a avaliação clínica de 4.36 indicou toxicidade, obrigando a novas modificações estruturais. A partir de 4.36, Black e colaboradores10 introduziram modificações subsequentes que resultaram no propranolol (4.8), derivado de fácil acesso sintético a partir do a-naftol, regioisomêro mais disponível dos fenóis naftalênicos. Como curiosidade, vale o registro de que a estrutura química do propranolol (4.8) já havia sido descrita na literatura e sua síntese era conhecida à época, mas não suas proprie- dades b-bloqueadoras, o que permitiu seu patenteamento como o primeiro antagonista b-seletivo de receptores adrenérgicos, útil para o tratamento da hipertensão, atuando por um novo mecanismo de ação, até então desconhecido, representando portanto, uma au- têntica e importante inovação terapêutica. A partir deste fármaco protótipo ou cabeça de série, vários outros b-bloqueadores (me-too ́s) foram desenvolvidos, como o metoprolol (4.37)11 e o atenolol (4.38),12 que apresentam propriedades antagonistas b1-seletivas (Figura 4.17). Posteriormente, com a identificação de mais subtipos de biorreceptores adrenérgicos, foi possível ampliar significativamente as possíveis indicações e os benefícios terapêuticos oriundos da intervenção adrenérgica, surgindo fármacos agonistas seletivos, para o trata- mento de asma, enfisema e doença obstrutiva pulmonar crônica, diretamente ou como co- adjuvantes a exemplo do salbutamol (4.39) e salmetero (4.40) (Figura 4.17). A contribuição da invenção de Black para a terapêutica e para a saúde não é simples de ser dimensionada quando se considera, por exemplo, a mortalidade provocada pela hipertensão, doença crô- nica não transmissível sem tratamento até a invenção do propranolol.
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