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Amanda Karynne - Odontologia UFPE - 2022 Endodontia —----------------- Diagnóstico —----------------- Engloba: ● Identificação ● Interpretação ● Sinais ● Sintomas ● Características de alteração tecidual Exige uma abordagem sistemática do paciente, incluindo a anamnese (exame subjetivo), o exame físico/clínico (exame objetivo) e os exames complementares. O diagnóstico endodôntico é fruto de uma série de informações, advindas do confronto da queixa principal do paciente com testes clínicos pulpares, perirradiculares, sondagem periodontal e exame radiográfico, além de outros testes complementares. Em algumas ocasiões, o confronto das informações obtidas poderá ser inconclusivo, tendo de ser adiada por algum tempo a decisão sobre se o tratamento endodôntico deve ou não ser instituído. Fatores que influenciam no diagnóstico ● Relação paciente-profissional ● Conhecimento científico ● Vivência clínica ● Interesse ● Recursos adequados ● Bom senso Polpa (paredes rígidas) - subjetividade da dor - severidade de acordo com o estado de saúde… Tudo isso pode influenciar, devendo-se coletar o maior número possível de informações, possibilitando um diagnóstico correto. Estruturação ➔ Anamnese (técnica do interrogatório)➔ Exame clínico (técnica da exploração)➔ Exame de vitalidade pulpar (técnica da estimulação) ➔ Exame de imagem (técnica da interpretação) Anamnese Fundamental para o estabelecimento do diagnóstico. ➢ Queixa principal ➢ História médica e odontológica Características clínicas da dor ● Sede - localizada ou difusa ● Aparecimento - espontânea ou provocada ● Duração - curta ou longa ● Frequência - intermitente ou contínua ● Intensidade - leve, moderada ou severa Escala analógica da dor Desenha uma linha de 10 cm para o paciente e pede pra ele marcar o nível de dor que ele está sentindo. Exemplo: Inspeção Deve começar no momento em que o paciente entra no consultório. A simples observação do gestual e da expressão facial podem apresentar informações muito relevantes, denunciando, por exemplo, se o paciente está acometido ou não de uma dor de grande intensidade. Outros aspectos importantes para o seu estado de saúde geral, seu diagnóstico e até mesmo para o tratamento podem ser observados nesta fase. Com relação às entidades patológicas de origem endodôntica, assimetrias faciais que acometam os ângulos mandibulares e a região geniana costumam ser notadas, além de edemas e alterações da textura da pele e de sua cor, como eritema, equimose ou hematoma, e devem ser levadas em conta. ➢ Deve-se examinar lábios, mucosa labial, mucosa bucal, palato, orofaringe, língua, assoalho de boca, gengivas, dentes e oclusão. Durante a inspeção bucal, deve-se observar a alteração de cor da coroa, estado das restaurações, exposição pulpar, presença ou ausência de cáries, Amanda Karynne - Odontologia UFPE - 2022 além de observar as demais estruturas bucais, sua cor e morfologia, buscando averiguar a presença de tumefação (edema), existência de fístula e sua parúlide (furúnculo gengival), demais aspectos dos tecidos moles e realizar o exame da língua. Se a história clínica e os aspectos semiológicos da dor são compatíveis com elemento dentário portador de polpa viva, a busca deve ser direcionada a cavidades de cárie, restaurações infiltradas e restaurações recentes, de modo a identificar o elemento dentário causador do processo patológico. Se os aspectos semiológicos apontam para um dente despolpado, a busca ainda permanece direcionada a lesões cariosas e/ou restaurações infiltradas, assumindo especial importância a busca por coroas naturais escurecidas, grandes restaurações metálicas ou coroas protéticas e, mais uma vez, por extensas restaurações em resina fotopolimerizável, frequentemente relacionadas com necrose pulpar, além de elementos endodonticamente tratados, nos quais possa ter havido o insucesso da terapia inicialmente instituída. Palpação Determina consistência e textura dos tecidos, além de aderência, mobilidade e lisura. ➔ Palpação da face ➔ Palpação ganglionar ➔ Palpação apical: tatear a região apical do elemento dentário examinado, fazendo-o delicadamente com a ponta do dedo indicador, verificando se há alguma resposta dolorosa ou, pelo tato, a presença de alterações patológicas de sua forma. Alguns exemplos: Edema periapical, mole à palpação - passagem de líquido para o interstício tecidual. Ocorre por exemplo em elementos portadores de polpa necrosada, infectada, com abscesso periapical. Aumento de volume apical endurecido, de sensibilidade leve, respondendo com crepitação óssea - processo apical de origem endodôntica com crescimento lento e expansivo (lesão cística). Perda de continuidade na integridade do osso, ligeira depressão preenchida por tecido mole à palpação - cistos e granulomas. Percussão Não constitui elemento preciso para a determinação de diagnóstico. ● Percussão horizontal (b): diz respeito a alterações periodontais. ● Percussão vertical (a): a tem sido associada à inflamação de origem endodôntica; inflamação periapical. Respostas sintomáticas - inflamação periapical. Respostas sonoras - traumatismo, anquilose. Exame radiográfico De preferência, radiografias periapicais ou bite-wing (interproximal), pela técnica do Paralelismo. A panorâmica também pode ser solicitada, principalmente em casos de cirurgia. Em alguns casos, podem ser solicitados também radiografia oclusal, PA de seio maxilar ou TC de feixe cônico (Prexion 3D) - dente do tamanho natural. Rastreamento triangular - diagnóstico e exata localização de curvaturas e perfurações radiculares. Deve-se analisar o trabeculado ósseo, alterações de radio-transparência, nível da crista óssea, câmara pulpar e canais radiculares. Futuro - Tomografia por Coerência Óptica. Testes clínicos pulpares Conhecidos classicamente como testes de vitalidade pulpar, apontam a sensibilidade positiva ou negativa da polpa dental. São eles: Amanda Karynne - Odontologia UFPE - 2022 ➔ Testes térmicos (teste pelo frio; teste pela aplicação de calor) ➔ Teste pulpar elétrico Além desses testes, são empregados, quando indicados, a anestesia seletiva, o teste de cavidade e a transiluminação. Teste pelo frio O profissional usa algum artifício para tomar calor do dente, empregando o bastão de gelo ou a neve carbônica (gelo seco) para esse fim. Contudo, o uso de spray de fluido refrigerante (popularmente conhecido como “gás refrigerante”) ganhou largo emprego nos últimos anos. Os fluidos refrigerantes mais utilizados são o butano, o diclorodifluormetano e o tetrafluoretano. No Brasil, encontram-se marcas comerciais que usam uma mistura de butano e propano (Endo Ice – Maquira®; Endo Frost e Endo Ice F − Coltene®). Temperatura: -50°C Técnica: 1. Isolamento do dente (relativo ou absoluto). 2. Aplicação do gás sobre cotonete ou pelota de algodão apreendida com pinça. O tempo de aplicação não deve exceder 5 segundos. obs: Em caso de necessidade de repetição, aguardar pelo menos 5 minutos. POLPA NORMAL X INFLAMADA Vasoconstricção … Baixa pressão interna … Dor (imediata) Alívio da dor Estimula a dor (às vezes) Teste pelo calor O calor é transferido ao dente através de substância ou instrumento previamente aquecido. Tem sido relatado o emprego de água morna, aquecimento da superfície dental com taça de borracha ou através de um bastão de guta-percha aquecida em chama de lamparina, sendo este último o mais usado. Técnica: 1. Isolamento do dente (relativo ou absoluto) 2. Aplicação de gel isolante na superfície do dente (vaselina), evitando que a guta-percha fique aderida ao dente 3. Aquecimento e plastificação da ponta do bastão de guta-percha na chama de uma lamparina 4. Aplicação da guta-percha sobre a superfície do dente enquanto esta ainda estiver brilhosa Identifica polpa necrosada. Teste da Anestesia Seletiva Deve ser empregado quando o paciente se refere uma dor difusa ou reflexa (dor referida), não sabendo dizer exatamente qual dente está sendo responsável por esta dor. Desta forma, quando for possível (e nem sempre será), deve-seanestesiar só o elemento dentário suspeito de ser o causador da dor, sem anestesiar o dente suspeito de ser aquele que está refletindo a dor. Se a dor cessar após a anestesia, sua hipótese diagnóstica será confirmada, identificando-se o elemento que provoca a dor (dente algógeno) e o elemento que somente está refletindo a dor (dente sinálgico). “Normalmente realizado na arcada superior, em dores paroxísticas. Anestesia-se de posterior para anterior.” Teste de Cavidade Teste invasivo, no qual se estimula o dente suspeito de ser portador de necrose pulpar, sem anestesiá-lo previamente, utilizando-se para isso uma broca de Amanda Karynne - Odontologia UFPE - 2022 alta rotação. Muitas vezes, apenas o jato de ar ou a água da seringa tríplice, ou mesmo o ar da turbina de alta rotação, são suficientes para que o paciente acuse a resposta dolorosa, mesmo antes de uma cavidade ser aberta. Ao persistir a resposta negativa, deve-se avançar com a cirurgia de acesso, até que a trepanação seja obtida. Apenas em uma minoria de casos, o paciente com necrose pulpar ainda acusará desconforto de origem pulpar, o que é atribuído às células nervosas do tipo C (amielínicas) remanescentes. “Trata-se de remover a restauração e iniciar a abertura sem anestesia”. Transiluminação O uso de um aparelho dotado de fibra óptica para transiluminação foi introduzido na Odontologia em 1970, objetivando inicialmente a detecção de cáries e sendo um método não invasivo e rápido. Consiste em aplicar um feixe luminoso intenso no elemento dentário, a fim de se poder diagnosticar, por translucidez do esmalte e da dentina, algumas alterações presentes, como: fraturas, perfurações, cáries interproximais, reabsorções coronárias e escurecimento da área correspondente à câmara pulpar nas necroses pulpares. Até há alguns anos, alguns equipamentos odontológicos ou fotopolimerizadores traziam o dispositivo transiluminador acoplado. Nos dias atuais, os aparelhos de luz halógena de fotopolimerização ou tipo LED podem ser empregados para esse fim, devendo-se, contudo, lembrar os malefícios aos olhos da visualização direta da luz do fotopolimerizador. Para melhorar a visualização, o ambiente do consultório deve possibilitar uma adequada penumbra, o que nem sempre é possível. Pulpalgia hiperreativa Fase inicial e reversível. Cavidade fechada. Dor provocada de curta duração e localizada, que responde positivamente ao teste de vitalidade pulpar. Apresentam respostas condizentes com hipersensibilidade dentária ou alterações pulpares potencialmente reversíveis (hiperemia). A dor é caracterizada por ser aguda e de curta duração. Está mais relacionada com as Fibras Aδ. Pulpite irreversível sintomática A polpa inflamada vital é incapaz de se recuperar e retornar à sua higidez após a remoção dos fatores que levaram a esta condição inflamatória, sendo indicado o tratamento endodôntico não conservador: pulpectomia ou pulpotomia. Pode incluir dor aguda após estímulo térmico (demorando a cessar após a remoção do estímulo, geralmente 30 segundos ou mais), dor espontânea (dor não provocada) e dor irradiada (também chamada dor referida ou dor reflexa). O paciente pode relatar aumento da dor com aplicação de frio e seu alívio quando entra em contato com uma substância quente, ou o contrário. A dor pode ser paroxística, ou seja, uma dor excruciante considerada a de maior intensidade no curso da inflamação pulpar. O paciente pode relatar dor em determinadas mudanças posturais, como dor em decúbito (quando se deita) ou ao curvar-se. O uso de analgésicos e/ou antiinflamatórios costuma não surtir o efeito desejado. As causas mais frequentemente observadas estão relacionadas com as cáries profundas, restaurações extensas ou ainda fraturas com exposição pulpar. A resposta à palpação apical e percussão vertical pode ser negativa ou positiva, e o aspecto radiográfico pode se apresentar normal ou com ligeiro espessamento do espaço periodontal. Está mais relacionada com as Fibras C. Ao realizar abertura, há sangramento abundante. Pulpite irreversível assintomática Cavidade aberta. Muitas vezes não há neste caso uma queixa clínica dolorosa importante descrita pelo paciente - costumam responder normalmente ou de forma bastante moderada aos testes térmicos. Quando existente, a dor costuma ser intermitente (não contínua), sobretudo por compressão. Pode estar associado com quadro clínico de surgimento de pólipo pulpar (quadro histológico da pulpite crônica hiperplásica). Quando empregados, analgésicos e anti-inflamatórios têm eficácia no alívio de algum Amanda Karynne - Odontologia UFPE - 2022 possível desconforto. Está mais relacionada com as Fibras C. Necrose pulpar Está fortemente associada à presença de microrganismos, mesmo nos casos em que a causa da necrose teve origem em fatores não microbianos. Em resposta à agressão e à necrose da polpa dental, o organismo desencadeia processos inflamatórios agudos ou crônicos de defesa na região perirradicular, podendo resultar na formação de cistos e granulomas perirradiculares e, eventualmente, no surgimento de coleções purulentas (abscessos). O aspecto radiográfico variará desde situações em que ainda existirão os padrões de normalidade, passando pelos quadros de espessamento do espaço do ligamento periodontal, podendo ser identificadas as chamadas lesões perirradiculares. Alguns dentes podem não responder aos testes pulpares, em decorrência de o canal estar calcificado, haver sofrido lesão traumática recente, ou simplesmente não ter uma resposta positiva. ● Há alteração na coloração da coroa dental. Necrose (marrom) x Calcificação (dourado) Necrose (marrom) x Reabsorção interna (rosa) Tratamento prévio (previamente tratado) Indica que ele recebeu tratamento endodôntico e os canais foram obturados com algum material definitivo, e não somente preenchidos com medicação intracanal. Elementos dentários não respondem aos testes térmicos ou elétricos. O exame radiográfico ajudará a elucidar este diagnóstico, pela presença do material radiopaco preenchendo os canais radiculares, mas deve-se assegurar de que não seja uma medicação intracanal à qual se tenha agregado material dotado de radiopacidade. Tratamento iniciado (terapia previamente iniciada) A polpa dental recebeu somente uma terapêutica endodôntica parcial, como uma pulpotomia ou uma pulpectomia. Dependendo do estágio em que se encontra o tratamento instituído, os dentes podem ou não responder aos testes pulpares. Dificuldades Função da polpa dental: 1. Nutrição (via vascularização) 2. Formação (odontoblastos >>> dentina) 3. Proteção (dentina reacional) 4. Sensibilidade (fibras Aδ e C) Agentes bacterianos - cárie dentária, doenças periodontais, anacorese (microrganismos circulantes e substâncias estranhas que circulam no sangue vão se fixando ao redor de uma área de inflamação). Agentes térmicos - preparo cavitário, polimerização, polimento. Agentes químicos - adesivos, condicionamento ácido, restauração de resina. Agentes físicos - elevadores cirúrgicos, manobras ortodônticas. Fibras As fibras nervosas Aδ são mielinizadas, com rápida velocidade de condução e baixo limiar de excitabilidade. Mediam a dor aguda e transitória característica da sensibilidade dentinária. As fibras do tipo C são amielínicas, com velocidade de condução lenta e alto limiar de excitabilidade. A estimulação das fibras C produz uma dor que se caracteriza por ser lenta, excruciante e, algumas vezes, difusa, típica de pulpite irreversível sintomática. “Dor lenta, localizada, queimadura, ardência”. A inflamação pulpar severa pode causar aumento da pressão tecidual e redução nos níveis de oxigênio, podendo comprometer a função condutora das fibras Aδ, mas praticamente não afeta as fibras C. As fibras Aδ são as primeiras a morrer. Observação ● JAMAIS usar anestesia intra-pulpar