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Terceirização do trabalho no Brasil e na França 
 
Paula Regina Pereira Marcelino (Doutoranda Ciências Sociais/Unicamp) 
paula280874@yahoo.com.br 
 
A terceirização do trabalho é considerada por muitos como a principal estratégia da 
reestruturação produtiva, pois, ao mesmo tempo em que ela permite uma recomposição 
das taxas de lucro pelas empresas, oferece também aos capitalistas um maior controle 
sobre a força de trabalho. 
Embora já existisse tanto na indústria como no setor de serviços, a terceirização 
ganha o patamar de estratégia fundamental do capital a partir da década de 1970, quando 
da expansão dos princípios toyotistas de gestão e organização do trabalho e da produção. 
Gestado no pós Segunda Guerra no Japão, o toyotismo se amplia no ocidente em 
resposta à crise nas taxas de lucro e no domínio sobre os trabalhadores, marcados, 
respectivamente, pelo choque do petróleo de 1973 e as manifestações de maio de 1968. 
Para além de uma simples introdução de novas tecnologias, o toyotismo reorganiza a 
produção e implementa uma nova forma de relação entre capital e trabalho. Seu sucesso 
depende, em grande medida, de um consentimento ativo dos trabalhadores com a 
empresa e a produção; além de não questionar, eles também participam, sugerem, e 
buscam a otimização da qualidade e da produtividade. Uma das conseqüências imediatas 
para a organização dos trabalhadores é que o toyotismo combate o sindicalismo classista 
ou qualquer forma de organização e mobilização que coloque em oposição trabalhadores 
e patrões. 
Nesse sentido podemos compreender o alcance da terceirização no processo de 
reestruturação produtiva: ao mesmo tempo em que ela diminui os gastos com a força de 
trabalho, também promove a divisão entre os trabalhadores. Amparada por uma 
legislação ambígua (baseada nos vagos conceitos de atividade-fim e atividade-meio), a 
terceirização se amplia continuamente no Brasil desde a década de 1980. Em 
praticamente todos os ramos de trabalho (na indústria, no comércio e nos serviços) 
existem atividades que são realizadas por trabalhadores subcontratados. 
A terceirização não é, contudo, uma estratégia importante somente para os 
capitalistas de países de economia dependente. De acordo com a posição de cada país 
na divisão internacional do trabalho, define-se o nível de sua inserção na reestruturação 
produtiva. No Brasil, o tripé neoliberal desregulamentação financeira e do mercado de 
trabalho, privatização e abertura comercial é seu alicerce. 
Por compreender a importância da terceirização como um elemento estruturador de 
uma nova configuração do trabalho e, conseqüentemente, por entender que ela exerce 
uma influência considerável na organização dos trabalhadores, é que propomos o 
seguinte objetivo: analisar as similitudes e diferenças nos processos de terceirização no 
Brasil e na França como forma de compreensão ampliada da reestruturação produtiva 
como um todo e do papel das políticas neoliberais nas transformações do trabalho. 
Este trabalho faz parte de uma pesquisa mais ampla, o doutorado em Ciências 
Sociais. Ele tem por base a leitura de bibliografia pertinente em português e francês, a 
realização de entrevistas com sindicalistas franceses e brasileiros e os resultados das 
pesquisas realizadas no mestrado – cujo tema foi a terceirização na Honda do Brasil. A 
escolha da França se deve à oportunidade que tivemos de recolher o material necessário 
durante um estágio de doutorado no exterior, financiado pela CAPES. 
 
Terceirização do trabalho no Brasil e na França 
 
Paula Regina Pereira Marcelino∗ 
GT 5: Neoliberalismo e relações de trabalho 
 
 
Resumo: 
O objetivo principal desse texto é analisar as similitudes e diferenças nos processos de 
terceirização no Brasil e na França. Embora não haja diferenças essências nas análises que se 
faz do fenômeno nos dois países (em todas as áreas), uma primeira comparação nos leva a 
conclusão que a subcontratação da força-de-trabalho é um processo bem mais intenso e 
importante Brasil. Na França ele é visto apenas como mais uma entre outras formas de 
precarização. Portanto, nesse país, ele não tem o caráter de elemento estruturador de uma nova 
configuração do mercado de trabalho, tal como identificamos no brasileiro. 
1. A terceirização no Brasil: o debate nas diversas áreas1 
Uma parcela da bibliografia – em especial aquela que adota uma postura 
mais crítica diante do fenômeno – trata a terceirização como uma das principais formas de 
precarização do trabalho. Dada a amplitude da inserção desse novo tipo de relação de 
trabalho, tanto no espaço produtivo industrial quanto no setor de serviços, diversas áreas 
do conhecimento têm na terceirização um objeto de estudos; entre elas o direito, a 
administração de empresas e a própria sociologia. Quando não adepta incondicional, 
parte dessa bibliografia restringe suas críticas aos aspectos considerados degenerados 
da chamada “terceirização à brasileira”, normalmente abordando a questão do ponto de 
vista do desrespeito à legislação e da forma predatória e imediatista com que os 
empresários estão implantando as terceirizações no Brasil. Vejamos os aspectos 
principais desse debate. 
Segundo Queiroz (1995), o início da terceirização tal como ela se configura 
na produção hoje, deu-se nos Estados Unidos da América por volta de 1940, quando esse 
país estabeleceu alianças industriais com países europeus para a produção de 
armamentos, com o objetivo de combater o nazismo. No Brasil, a terceirização começou a 
ser implantada com a vinda das empresas multinacionais, principalmente do setor 
 
∗ Doutoranda em Ciências Sociais pela UNICAMP. Autora do livro: “A Logística da Precarização: 
terceirização do trabalho na Honda do Brasil”. São Paulo: Expressão Popular, 2004. E-mail: 
paula280874@yahoo.com.br. 
1 Trata-se de uma pesquisa em andamento e, portanto, de um texto ainda bastante lacunar, com várias 
questões que serão aprofundadas na tese de doutorado. O primeiro item que segue é parte reduzida do já 
publicado “A Logística da Precarização”. Essa primeira síntese sobre a terceirização no Brasil servirá de 
base para as reflexões sobre o caso francês e para a conclusão, onde apontarei o futuro da pesquisa. 
 
 
2 
2 
automobilístico. Para esse autor, os processos de terceirização ganharam impulso porque 
representam a postura do “ganha-ganha”, ou seja, todas as partes envolvidas tendem a 
ter vantagens. Para a empresa que contrata o serviço de uma terceira, a vantagem é ela 
poder focalizar sua produção de modo a concentrar seus investimentos, atenção e 
desenvolvimento tecnológico naquilo que é sua atividade-fim. Para os trabalhadores e 
para a economia em geral, o processo de terceirização significa um aumento no número 
de empregos decorrente do surgimento de várias pequenas empresas. Perfeitamente de 
acordo com a lógica de produtividade e competitividade do capital, o autor afirma que 
duas das principais vantagens da terceirização são a redução dos custos administrativos 
de pessoal e a criação de condições de desmobilização para movimentos grevistas. E de 
fato, do ponto de vista do capital, esse é um ganho em termos de recomposição do 
domínio sobre a classe trabalhadora. 
Embora Queiroz faça um breve apanhado do que venha a ser terceirização, 
seu objetivo fundamental não é fazer uma análise dos impactos desse fenômeno na 
economia geral ou na vida dos trabalhadores. Assim como outros autores da área de 
administração de empresas – tais como Fontanella et. al. (1995) e Leiria (1992) – seu 
principal alvo são as considerações que podem ser úteis para a otimização dos lucros da 
produção dentro das empresas. 
Nesses estudos, a terceirização é vista como uma estratégia de otimização 
da produção e da lucratividade que pode e deve ser adotada em diversas áreas; portanto, 
eles constituem-se, basicamente, em manuais de como terceirizar minimizando os efeitosnegativos – como a necessidade de demissões – como preparar o público interno das 
empresas, como ver quando é necessário terceirizar, como estabelecer contratos que 
beneficiem a ambos. Faz-se necessário ressaltar aqui que todos esses autores não 
consideram uma maneira correta de terceirizar, quando o único objetivo é repassar custos 
para a subcontratada. Para essa parte da bibliografia, esse tipo de terceirização é uma 
degeneração da estratégia, encontrada de maneira muito localizada e pouco difundida. 
A degeneração do conceito e da aplicação da terceirização é vista, por uma 
outra parte dos autores que estudam o assunto, muito mais como uma tendência da 
terceirização no Brasil, da forma geral como o mecanismo é implantado no país, do que 
como caso específico de algumas empresas. Faria (1994), por exemplo, afirma que existe 
um uma forma de terceirização bastante difundida no Brasil, o “outsourcing 2 tupiniquim”, 
 
2 Palavra em inglês que equivale ao termo terceirização. Ao pé da letra, outsourcing significa “fornecimento 
vindo de fora”. No entanto, a aplicação do termo foi ampliada e se refere tanto aos serviços terceirizados 
dentro da empresa contratante como fora dela. 
 
 
3 
3 
ou o estilo “empresário fazendeiro” (oposto ao moderno, com visão de futuro), cujo único 
objetivo é a redução de custos. 
Questionar a forma brasileira de terceirizar é não considerar o processo 
como um todo, ou seja, a própria lógica capitalista que move a utilização da terceirização. 
Embora em países como o Brasil esse tipo de estratégia do capital assuma dimensões 
mais perversas, por sua própria história de exploração colonial e imperialista, entendemos 
que fazer a crítica da terceirização apenas na sua forma de ser brasileira é estar preso 
aos limites mesmos do capital; assim, é uma crítica restrita. 
Em uma outra linha de análise temos Druck (1999). Para essa autora, a 
terceirização ou a subcontratação é um dos componentes da via japonesa referentes à 
forma como se estruturam as relações interempresas no Japão. Trata-se de uma 
dinâmica de dependência mútua entre as empresas principais e as secundárias, 
fundamental para o sucesso do toyotismo. As empresas menores, no caso as 
subcontratadas, fornecem todo tipo de produtos às empresas contratantes, tais como: 
insumos, intermediários, embalagens, força de trabalho. Para atender às demandas das 
grandes empresas, as subcontratadas são obrigadas a fazer entregas em pouco tempo, 
aumentando a carga de trabalho dos seus funcionários. Também são forçadas 
constantemente a reduzir custos. Como resultado disso, é bastante nítida nessas 
empresas a intensificação do trabalho e a dificuldade de reação dos trabalhadores (Druck, 
1999: 125) Além disso, a terceirização também promove a segregação entre os 
trabalhadores, cria disputas, divisões e dificulta a construção conjunta de ações. 
Ao longo de sua história, a terceirização assumiu formas diferenciadas. Uma 
das mais antigas é o trabalho doméstico ou domiciliar, isto é, as tarefas são realizadas 
nas casas dos trabalhadores, com ferramentas e máquinas próprias ou alugadas. Esse 
tipo de trabalho data do período da Revolução Industrial, em fins do século XVIII, e 
permanece presente até os nossos dias, ganhando força principalmente nas indústrias de 
microeletrônica e calçados. De maneira geral, esses trabalhadores são pagos por peças 
ou por encomenda realizada. 
Outra forma bastante difundida de terceirização é a rede de fábricas 
fornecedoras, principalmente na indústria automobilística. A terceirização dos chamados 
serviços de apoio ou periféricos (limpeza, manutenção, alimentação, etc.) é uma terceira 
forma. Há também a terceirização da atividade-fim, das próprias áreas produtivas, tanto 
fora quanto dentro da planta fabril principal – externalização e internalização, 
respectivamente. Por último, ainda temos a quarteirização, ou seja, quando uma empresa 
 
 
4 
4 
subcontratada ainda subcontrata outras empresas (terceirização em cascata). 
A prática da terceirização é vista por Druck (1999) e por Alves (2000) – visão 
com a qual concordamos – como a dimensão central da via japonesa, sendo 
indispensável para sua plenitude. Para esses autores, a terceirização tem sido 
fundamental para garantir os níveis de produtividade e lucratividade alcançados pela 
produção toyotista, pois consegue otimizar as escalas produtivas; reduz significativamente 
os custos administrativos e com a força de trabalho; abre maiores possibilidades de 
determinação de custos e preços (em virtude da diminuição do número de processos e 
atividades); permite uma maior concentração em atividades consideradas pelas empresas 
como estratégicas; abre um novo leque de possibilidades de controle da gestão da 
produção, inclusive e, principalmente, sobre a força de trabalho, de forma a reduzir os 
potenciais de luta do trabalho assalariado em razão da menor concentração dos 
trabalhadores. 
Para o capital produtivo, o que justifica a terceirização é a busca por 
competitividade, a necessidade de inserção na ordem econômica mundial globalizada e, 
para que isso ocorra, é fundamental que a empresa fixe seus esforços apenas na 
atividade principal da sua produção, por isso também o nome de focalização utilizado 
como sinônimo de terceirização. Do ponto de vista do capital, trata-se de uma 
necessidade para a superação das crises nacionais e para a sua própria sobrevivência. 
Tais objetivos só serão atingidos caso haja a “modernização organizacional” e sejam 
adotados os padrões de gestão e organização do trabalho e da produção cujos pilares 
estão assentados na qualidade total e na terceirização. 
Seguindo o princípio de que “tudo o que não é vocação da empresa deve ser 
entregue aos especialistas”, chega-se a afirmar que a terceirização pode abrir novas 
portas da economia e de empregos, fazendo com que cresçam as pequenas e médias 
empresas, bem como oferecendo a oportunidade aos trabalhadores de tornarem-se 
empresários. Na verdade, esse discurso também presume um controle impossível de se 
estabelecer no capitalismo: um sistema de parcerias no qual um não busque tirar 
vantagens sobre o outro. 
Outro pilar do discurso toyotista, que também dá sustentação à 
terceirização, é a necessidade de cooperação e a livre iniciativa de organização dos 
trabalhadores. Na prática, há um impedimento concreto para que isto ocorra, não há 
mesa de negociação tal como promete a administração participativa e cooperativa. A 
ameaça constante de desemprego funciona quase que como uma camisa de força para 
 
 
5 
5 
os trabalhadores subcontratados, no sentido deles terem muitas dificuldades de 
reivindicar o que consideram direitos. Assim como lembra Martins (1994: 19), a 
terceirização tem duas conseqüências fundamentais: provoca a diminuição do número de 
empregos sem, entretanto, afetar a produtividade e faz com que uma parcela dos 
trabalhadores tenha seu salário achatado, pois eles são sempre menores do que os 
daqueles das empresas que terceirizam.3 Ao contrário do que diz o discurso empresarial, 
a terceirização não afeta simplesmente a transferência de postos, mas aumenta o 
desemprego, pois o trabalho é organizado de forma a não necessitar do mesmo número 
de trabalhadores. 
As experiências de terceirização e as próprias condições a que são 
submetidos as subcontratadas e seus trabalhadores mostram que o objetivo central desse 
procedimento, num balanço final de seus resultados, é a redução de custos. É ela que 
torna a contratação do trabalho de terceiros uma estratégia fundamental do padrão 
produtivo toyotista. O aumento no ritmo de trabalho, a concentração de tarefas e 
responsabilidades, a precarização das condições de trabalho e emprego, são as 
principais conseqüências desse novo projeto capitalista. 
A lógica da terceirização não escapa, assim, da lógica que move ocapitalismo como um todo: as empresas principais buscam superar a crise transferindo o 
ônus para os “parceiros”; o que, em última instância, recai sobre os ombros da classe 
trabalhadora. Nos países periféricos, a adoção da terceirização vem acentuar o caráter 
excludente do padrão de acumulação, tornando mais visíveis a precarização do trabalho e 
o desemprego, diminuindo o núcleo de trabalhadores com vínculo empregatício e todos 
os direitos trabalhistas garantidos. 
A terceirização no Brasil tem sido bastante favorecida por alguns fatores, em 
especial: pelo Mercosul, pois ele elimina, progressivamente, as restrições às importações, 
o que permite que haja um intercâmbio de peças e componentes; pela recessão, tendo 
em vista que ela força as empresas a uma redução de custos e que favorece uma 
desmobilização do movimento sindical, deixando a resistência dos trabalhadores 
debilitada; por um conjunto de políticas de cunho neoliberal que permitem, entre outras 
coisas, a desregulamentação do mercado de trabalho e tornam a legislação um tanto 
quanto permissiva. Vejamos como isso se dá do ponto de vista jurídico. 
Através dos textos que se produz nessa área, é possível observar que existe 
 
3 Pesquisa do DIEESE aponta que em aproximadamente 68% dos casos de terceirização registrados em 
40 empresas houve degradação salarial. No setor automotivo, por exemplo, o salário pago pelas autopeças 
costuma ser 2/3 do salário pago nas montadoras (DIEESE, 1993: 15). 
 
 
6 
6 
uma tendência forte entre os juristas brasileiros em considerar a nossa legislação 
atrasada em relação ao fenômeno. Mesmo a legislação trabalhista como um todo é 
caracterizada por alguns deles como conservadora e não adequada à realidade brasileira. 
Isto, não porque lhe faltam considerações sobre direitos trabalhistas e ampliação dos 
benefícios sociais, mas, pelo contrário, porque é exageradamente protetora; porque tem 
formulações muito rígidas herdadas do positivismo (Cavalcante Jr., 1996: 20 e Barros 
Jr.,1999: 85) 
As modificações das normas laborais surgem, segundo essa visão, para 
acompanhar as modificações ocorridas na realidade econômica e social. Assim, seria um 
passo importante dotar a legislação trabalhista de flexibilidade para que esta não seja um 
empecilho ao desenvolvimento. Cavalcante Jr (1996) até reconhece que os atuais direitos 
do trabalho são uma conquista da luta de classes; no entanto, não vê as modificações 
que estão sendo introduzidas na legislação como mais uma etapa dessa luta, como uma 
ofensiva do capital sobre o trabalho. 
Para esse conjunto de autores – Barros Jr. (1999), Nascimento (1993), Vidal 
Neto (1992), Robortella (1994), Leiria (1992) – os custos com a força de trabalho são 
excessivos no Brasil. Tal hipertrofia, ao invés de proteger o trabalhador, acaba 
dificultando a administração dos contratos de trabalho no mercado formal e mesmo 
impedindo que as condições sejam negociadas livremente. A terceirização seria, dessa 
forma, um mecanismo das empresas para transferir atividades a outras subcontratadas e, 
com isso, reduzir seus custos fixos com força de trabalho. Contudo, para esses autores, 
ela também tem suas restrições legais. 
O artigo 455 da CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) é a lei máxima 
que regula as decisões quanto às questões referentes à terceirização. Ele estabelece a 
responsabilidade do empreiteiro principal pelas obrigações trabalhistas do subempreiteiro 
que não as cumpra. Esse dispositivo, no entanto, não é muito claro sobre a extensão 
dessas responsabilidades. Assim, várias brechas ficam abertas para que enunciados, 
incisos, instruções normativas, casos de jurisprudência e outros instrumentos jurídicos, 
regulem essas relações de subcontratação. 
A Lei 6.019, de 3 de janeiro de 1974, sobre a locação de mão-de-obra, foi a 
primeira lei criada no sentido de regulamentar esse tipo de uso da força de trabalho numa 
compreensão mais contemporânea.4 Essa lei prevê que a locação de força de trabalho 
 
4 Dizemos aqui “mais contemporânea” tendo em vista que o Código civil previa a legalidade de contratos 
de prestação de serviços desde 1917, considerada, de maneira genérica, também como uma forma de 
terceirização (Blanco, 1994: 84). 
 
 
7 
7 
deve ser restrita apenas ao preenchimento de cargos vagos quando, por exemplo, um 
funcionário está de férias ou quando há um aumento na demanda de serviços em certas 
épocas do ano. O texto é claro no sentido de permitir tal tipo de contrato somente para 
atender necessidades transitórias do empregador. Segundo essa lei, é ilegal a 
contratação de trabalhadores por empresa interposta, pois isso torna o vínculo 
empregatício dependente diretamente da empresa contratante. Segundo Vidal Neto 
(1992: 27), no entanto, “a autêntica terceirização implica a existência de empresas de 
prestação de serviços e não, simplesmente, de fornecimento de mão-de-obra”. 
Esta não é, entretanto, uma compreensão comum entre os autores aqui 
abordados. Nascimento (1993: 21), por exemplo, acredita que a terceirização é um tipo de 
locação permanente de força de trabalho, que consiste na contratação de empresas 
prestadoras de serviços por prazos longos, superiores a três meses. Assim, as empresas 
contratantes devem tomar certos cuidados para não serem responsabilizadas pelos 
trabalhadores da subcontratada, sendo o mais importante deles a não subordinação direta 
dos trabalhadores da subcontratada, pois isso as torna responsável legal por eles. 
Para Barros Jr. (1999: 91), o Enunciado 331 do TST iniciou uma nova etapa 
no desenvolvimento da jurisprudência sobre o assunto, pois seu conteúdo expressa 
claramente a possibilidade de terceirização das atividades-meio da empresa. Assim como 
Barros, Vidal Neto acredita que o que ele chama de verdadeira terceirização não pode ser 
restrita e nem pode ser alcançada pelo Enunciado 256 do TST, pois ela não visa fraudar 
ou abusar do direito. Para Vidal Neto, 
[...] Pode-se concluir que a terceirização real: a) é uma forma moderna e aperfeiçoada 
de organização empresarial, permitindo maior eficiência administrativa e maior 
aprimoramento qualitativo; b) não é uma espécie de marchandage ou de contratação de 
mão-de-obra por meio de interposta pessoa; c) não logra aviltar a remuneração ou 
deteriorar as condições de trabalho e não tem esse objetivo. Trata-se, portanto, de uma 
atividade econômica normal, que pode ser desenvolvida livremente, com respaldo nas 
disposições do parágrafo único do art. 170 da CF [Constituição Federal]: “É assegurado 
a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de 
autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei.” (Vidal Neto, 1992: 
28). 
Mesmo que o Enunciado 331 tenha deixado clara a possibilidade de 
terceirização das atividades-meio das empresas, a questão não está completamente 
resolvida do ponto de vista jurídico. Isto porque, como os autores consultados apontam, 
não há uma definição clara entre atividades-meio, aquelas que apresentam um grau de 
autonomia e especialização suficientes para justificar a sua terceirização, e atividades-fim 
dentro das empresas. Para Vidal Neto (1992: 29), inclusive, não parece ser possível tal 
distinção; não há como discriminar quais são as atividades que comportam terceirização e 
 
 
8 
8 
aquelas que devem ser desenvolvidas pela própria empresa. Assim, segundo Robortella 
(1994: 259): “a proibição da subcontratação na atividade-fim, admitindo-a só na atividade-
meio, não se afigura aceitável [...]”.5 
Embora esse seja um ponto de disputa entre sindicatos e empresas e a 
justiça emita pareceres diversos sobre o assunto, todas essas incertezas sobre o tema 
contribuem, na verdade, para que cada vez mais sejam repassadas atividades para as 
empresas terceiras. Com um enquadramento profissionaldistinto dos trabalhadores da 
empresa contratante, com a não caracterização de serviços prestados como sendo para a 
mesma empresa, estão abertas as portas para o rebaixamento salarial. A justiça oferece, 
dessa forma, uma contribuição importante para a precarização do trabalho. 
2. Terceirização na França: um dentre vários mecanismos de precarização do 
trabalho 
O subtítulo desse item parece sintetizar com precisão a forma como a 
terceirização do trabalho é vista pela parcela crítica dos estudiosos do trabalho e pelo 
conjunto do movimento sindical francês: trata-se de uma dentre várias outras formas de 
contrato que precariza as condições de trabalho. Até onde nosso esforço de compreensão 
pôde alcançar, a terceirização não possui nesse país o mesmo peso que possui no nosso; 
ou seja, não é estruturadora de uma nova configuração do mercado de trabalho; não é o 
seu espectro que dá o norte para as relações entre trabalhadores, sindicatos, Estado e 
patrões6. Tal como no Brasil, a terceirização (sous-traitance) do trabalho é tema de 
estudos em diversas áreas. Também como no nosso país, a avaliação mais crítica dessa 
forma de forma de contratação e gestão do trabalho pode ser encontrada nas formulações 
sindicais ou nos estudos de sociologia e política. Mas, ao contrário daqui, o tema é pouco 
presente no debate público, bastante exíguo como objeto de pesquisa e de atenção 
 
5 Pesemos no caso das indústrias automobilísticas: hoje elas se configuram mais como empresas 
montadoras de veículos a partir de peças fabricadas por outras, do que como produtoras diretas. Portanto, 
essa distinção entre atividade-fim e atividade-meio torna-se mais nebulosa. Qual parte do carro a ser 
montada deve ser considerada como atividade-fim? A montagem dos pneus, caixas de transmissão e de 
direção – atividades que estão progressivamente sendo integradas ao leque de funções dos operadores 
logísticos subcontratados – podem ser consideradas atividades-meio de uma indústria cuja atividade 
fundamental é montar veículos? Ou mesmo o trabalho, tradicionalmente, considerado como sendo 
logístico, o de fazer toda a movimentação de peças, não é parte dessa montagem dos carros? 
6 Essa forma de pensar a terceirização será mais explorada na tese de doutorado. 
 
 
9 
9 
menor no discurso sindical7. A ameaça que ronda os trabalhadores franceses é, antes, o 
conjunto de formas de trabalho consideradas atípicas. 
Segundo Frisulli e Demarcq (2006), é considerado um contrato normal de 
trabalho aquele que é com duração indeterminada (CDI), em tempo integral, com horários 
regulares durante a semana e a jornada legal de trabalho de 35h semanais. Assim, o 
trabalho atípico é toda forma de contrato que viola essa definição, ou seja, em contrato 
com duração determinada (CDD) menor que 18 meses, contratos sazonais, tempo parcial 
e/ou meio período (à revelia), trabalho interino (com CDD, mas exterior aos efetivos da 
empresa – ou seja, subcontratado), teletrabalho, trabalho a domicílio, tempo repartido 
(mesma atividade em várias empresas), contratos ajudados (em que as empresas 
recebem algum tipo de incentivo estatal), estágios em alternância com formação, falsos 
independentes (onde a subcontratação escamoteia a relação de subordinação e 
dependência da subcontratada em relação à contratante), contratos a missão, etc. 
Vejamos como a terceirização se encaixa nesse quadro. 
Segundo Remoinville (2003: 1), a terceirização é uma modo de organização 
do trabalho que tem por base um diferencial econômico e social entre as empresas, que 
se reflete numa relação desigual entre as contratantes e as subcontratadas. Tais ligações 
interempresas consolidam a precarização dos empregos, geram uma fragmentação das 
relações sociais como um todo e proletárias em particular. Isto porque, a maioria das 
empresas que apelam para a subcontratação buscam, principalmente, transformar custos 
fixos em custos variáveis. 
A princípio, as empresas buscam a terceirização quando se deparam com 
dois tipos de problemas: um de ordem conjuntural, quando a empresa não dispõe dos 
meios materiais e/ou de recursos humanos adequados para responder às necessidades 
da demanda; outro de ordem estrutural: dificuldade de reunir na sua estrutura as múltiplas 
competências necessárias ao seu funcionamento. Disso têm origem as três principais 
formas de terceirização: 1- a de capacidade ou concorrencial, ou seja, aquela onde, 
exposta a um aumento repentino da demanda, a empresa contratante recorre de maneira 
temporária a uma subcontratada do mesmo ramo de atividade; 2- a comunitária, onde são 
responsáveis várias subcontratadas, cada uma na sua especialidade, para a entrega de 
um único trabalho (caso mais comum na construção civil); 3- a de especialidade, na qual 
 
7 Embora centrais como a CGT (Confédération Général du Travail) tenha bandeiras de luta razoavelmente 
formuladas no que diz respeito à terceirização, em nenhuma das manifestações sindicais das quais 
participei ao longo do ano de 2005 pude ver ou ouvir tais bandeiras anunciadas. 
 
 
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se recorre de maneira mais ou menos permanente às subcontratadas que realizam 
tarefas para as quais a contratante não quer se equipar nem se especializar. A tendência 
desse processo é que as relações de terceirização tomem cada vez mais a forma de 
parceirização, ou seja, de uma integração permanente das subcontratadas nas diversas 
etapas do processo de produção. 
Em geral, na França, são dois os tipos de atividades terceirizadas: os 
serviços gerais, tais como limpeza, restaurante, segurança, atendimento, informática, e os 
serviços que compõe mesmo o produto final. Nesse segundo caso, a fronteira que 
distingue uma empresa fornecedora e uma subcontratada pode ser bastante tênue; tal é o 
caso, por exemplo, das indústrias automobilísticas. Quando a subcontratação é externa à 
planta da contratante, usa-se antes a designação “externalização”8 do que “terceirização”. 
Assim, nos deparamos com uma primeira explicação para a pouca presença do termo 
terceirização no debate público francês: a palavra sous-traitance nomeia apenas as 
subcontratações internas às plantas produtivas. Há, portanto, uma diluição do termo 
terceirização em outras formas de gestão dos contratos de trabalho e da organização 
produtiva. 
Tal acontece também, por exemplo, com empresas de contrato temporário. 
O que no Brasil seria rapidamente caracterizada como empresa de terceirização, na 
França é identificada apenas como empresa de trabalho temporário (intérimaire). Embora 
a maioria dos trabalhos temporários sejam feitos em regime de subcontratação entre 
empresas, o destaque da designação é dado para o tipo de contrato que o trabalhador 
assina: temporário. O que diferencia o contrato de trabalho temporário do contrato com 
duração determinada é, justamente, o fato de que no segundo não existe outra empresa 
interposta entre o trabalhador e a empresa contratante. 
Segundo Rachid (2000), as empresas especializadas em trabalho 
temporário, ou seja, em subcontratar força-de-trabalho, assumem importância crescente 
na França; entre 1982 e 1998 seu número se multiplicou por 3. Como afirma Faure-
Guichard (20001), nas suas estratégias de expansão, elas não mais esperam que as 
possíveis contratantes venham até elas; elas oferecem seus serviços. Reflexo das 
diferenças entre os mercados de trabalhos de um país de capitalismo dominante, como a 
França, e um país de economia dependente, como o Brasil, é que essas empresas 
disputam força-de-trabalho, buscando fidelizar os trabalhadores temporários. De qualquer 
 
8 Em correspondência direta à literalidade do termo inglês outsourcing. 
 
 
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forma, de acordo com Faure-Guichard, as empresas de trabalho temporário se 
aproveitam da discriminaçãocontra trabalhadores mais velhos, menos qualificados e de 
origem estrangeira para abaixar o preço da força-de-trabalho e para perenizar sua 
disponibilidade. Sensível ao panorama do trabalho temporário, Richard (2000: 139) 
levanta a hipótese de que assistimos à emergência de novas relações salariais que 
convivem e se chocam com as fordistas, com o contrato de trabalho típico. 
Bem mais que o trabalho temporário, um outro fenômeno que tem chamado 
bastante a atenção dos franceses e que pode ser uma das razões para a aparente pouca 
importância que se dá à terceirização nesse país, são os deslocamentos das empresas 
(délocalisations). Para Chanteau (2001: 88), o deslocamento pode ser “[...] definido como 
uma decisão microeconômica que conduz uma empresa a transferir uma atividade 
produtiva para outro país e importar para o país de saída toda ou parte da produção 
dessa atividade.” Assim, nos parece que os capitalistas franceses (e também os de 
alguns outros países europeus) dispõem de uma ferramenta bastante eficiente na 
redução de custos fixos que, por vezes, pode substituir a terceirização da força-de-
trabalho. Tendo em vista os custos que decorrem da contratação de um trabalhador 
francês, mesmo que em regime de subcontratação, talvez seja mais econômico deslocar 
parte da produção para países como a China, os do leste europeu ou a Índia, 
normalmente os países de destino dessas empresas. (Numa primeira análise, a diferença 
que podemos notar entre os deslocamentos franceses e a guerra fiscal para atração das 
indústrias no Brasil, é a presença de força-de-trabalho qualificada e barata fora da França 
(como os milhares de técnicos e engenheiros de computação da Índia). Ademais, com a 
ampla utilização da terceirização em qualquer estado brasileiro, garante-se tanto a 
redução de custos quanto a manutenção da proximidade da produção e dos mercados 
consumidores). 
Inclusive pelo impacto desse tipo de iniciativa industrial junto à opinião 
pública francesa, Chanteau acredita que é necessário desmistificar o alcance dos 
deslocamentos. Em primeiro lugar, o autor levanta que eles são menos comuns do que se 
imagina e não tendem a se banalizar. Por conseqüência, seu impacto sobre o emprego é 
insignificante, mesmo quando compreendidos num quadro mais geral de 
multinacionalização das trocas comerciais e financeiras internacionais. Em crítica direta 
ao senador Jean Arthuis que, em 1993, publicou um relatório alarmante (ou alarmista) 
sobre o assunto, Chanteau afirma que os deslocamentos foram instrumentalizados no 
decorrer dos anos 1990 – inclusive com dados que podem ser questionados – para 
 
 
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justificar políticas neoliberais de austeridade salarial e desregulamentação do trabalho por 
parte dos governos e das empresas. Além disso, na sua opinião, foram negligenciados os 
processo de terceirização internacional, também usados em substituição da produção 
interna9. 
Essa crítica nos parece procedente tendo em vista que Arthuis (2003) afirma 
que a solução para esse problema passa pela amenização dos custos sociais do trabalho, 
por uma melhor coordenação econômica européia, pelo desenvolvimento de políticas de 
atração fiscal por parte do governo francês e por uma reforma desse Estado. 
Questionados sobre o teor desse debate, os sindicalistas do SUD-PTT, Frisulli e 
Demarcq, afirmaram tratar-se de um fenômeno que não pode ser negligenciado, 
principalmente porque os deslocamentos têm alcançado setores fora dos tradicionalmente 
atingidos por ele (eletrônico, vestuário e calçados); em especial, os serviços.10 De 
qualquer forma, os deslocamentos se prestam à instrumentalização e estruturam o debate 
social por alguns motivos pontuais: 1- mesmo se pouco utilizados, são sempre uma 
estratégia possível nos meios patronais; 2- eles têm um forte apelo midiático, pois se 
associam ao medo da internacionalização da economia e à idéia de empobrecimento 
ligada à mundialização presentes no imaginário francês; 3- existe uma dificuldade 
concreta em delimitá-lo empiricamente, pois, além de não ser um dado óbvio da 
realidade, há muitas forças sociais com projetos distintos envolvidas neles (Chanteau, 
2001). 
No que tange à legislação sobre a terceirização, as diferenças em 
comparação ao Brasil são pequenas. A mais importante delas é que não há limites quanto 
à utilização desse recurso no que é considerada atividade-fim da empresa. Nesse país, é 
considerada válida a terceirização desde que o poder de direção seja efetivamente do 
terceirizado. De maneira geral, a terceirização ocorre em forma de empreitada, onde uma 
empresa subcontrata realiza, em geral, parte da produção e dentro da empresa 
contratante. O ponto mais forte da legislação francesa é a delimitação dos casos em que 
os vários contratos de trabalho podem ser usados. Os contratos temporários (legalizados 
na França desde 1972), por exemplo, que formam uma parcela importante da força-de-
trabalho subcontratada, a princípio, só são permitidos em casos de substituição por 
doença, acidentes de trabalho, maternidade, formação profissional ou sindical e demais 
 
9 A exportação de produtos semiprontos e a importação dos produtos finais depois do trabalho nos países 
estrangeiros são beneficiados por regimes aduaneiros específicos desde 1976 em vários países europeus, 
de forma a evitar a dupla taxação (Chanteau, 2001: 91). 
10 Segundo Arthuis (2003), entre março de 2002 e março de 2003, 89 mil postos de trabalho desaparecem 
na França por conta de deslocamentos. 
 
 
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licenças do gênero – nunca para substituir grevistas. 
Como no Brasil, a legislação francesa responsabiliza economicamente as 
contratantes em caso de falência das subcontratas. Na França é interditada a 
subcontratação em atividades que envolvem riscos industriais. No entanto, na opinião da 
CGT, falta controle sobre as práticas da terceirização; e a principal conseqüência disso é 
a terceirização em cascata e a ocorrência de um número maior de acidentes entre os 
trabalhadores subcontratados. O acidente em 2001 na AZF, em Toulouse, é um exemplo 
disso: numa empresa onde havia nessa data cerca de 25 empresas subcontratadas, a 
contratante perdeu o controle da manutenção de suas instalações; numa explosão 
provocada por depósito em condições irregulares de nitrato de amônia, morreram 30 
pessoas, dos quais 13 eram trabalhadores subcontratados. Numa dura crítica à 
terceirização, Jean (2003: 18) afirma: 
O desengajamento da contratante, o desconhecimento da realidade que ela induz, a 
opacidade das atividades recíprocas, as dificuldades de cooperação e comunicação, a 
falha de interesse comum geradora do conflito que se pode constatar nesse caso não 
são fenômenos específicos da empresa em questão, ele são, na verdade, inerentes a 
esta forma específica de divisão do trabalho que é a relação de terceirização. 
Segundo Nanteiul (2002), embora haja casos em que a terceirização não 
significa precarização do trabalho, essa é a sua tônica. Há um sentimento claro de 
insegurança dos terceirizados devido à situação da empresa que os emprega. Para o 
autor, a terceirização coloca às claras a porosidade das relações de trabalho. Nos 
documentos sindicais da Força Ouvrière (FO) é possível identificar que essa central 
classifica a terceirização como uma das formas de precarização do trabalho porque, em 
comum com as outras, ela coloca o trabalhador à disposição do mercado sem garantias 
para o futuro, mais vulnerável frente às mudanças e não dá a ele as condições para suprir 
suas necessidades. Os franceses vêem surgir com essas formas de trabalho precarizado 
um tipo de trabalhador que há muito conhecemos no Brasil: o trabalhador pobre. 
Como dito em nota no início desse texto, trata-se de uma primeira 
comparação entre a terceirização no Brasil e na França. Visivelmente privilegiamos aqui o 
fenômeno no Brasil pelopróprio caráter do seminário. A intenção agora é avançar a 
pesquisa na seguinte direção: 1- discutir as várias definições de terceirização dadas nas 
áreas do direito, da administração e das ciências sociais de modo a propor uma definição 
que seja abrangente; 3- estudar mais a fundo o papel das políticas neoliberais nos dois 
países e sua relação com a terceirização; 3- ampliar a análise do caso francês a partir de 
materiais que já foram colhidos e que não puderam ser incorporados nesse texto por 
questões de espaço e tempo. Isso significa: falar da representação sindical de 
 
 
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terceirizados nesse país, discutir mais detalhadamente as várias formas de contrato de 
trabalho, analisar exemplos de terceirização e levantar as bandeiras de luta do 
sindicalismo nesse campo. 
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