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Atenção Primária e Redes de Saúde

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NOME DA UNIVERSIDADE
NOME DO CURSO
NOME DO DISCENTE
REFERENCIAL TEÓRICO - ENFERMAGEM
Trabalho de pesquisa no formato de Referencial teórico apresentado para o Curso de XXXXXXX, na Nome da Universidade.
Docente: XXXXXXX
Cidade
2022
SUMÁRIO
1. ATENÇÃO PRIMÁRIA	3
1.1 Surgimento da Atenção Primária	3
1.2 Saúde Pública e Atenção Primária no cenário brasileiro	5
1.3 Atributos da Atenção Primária	6
2. REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE	7
2.1 História da RAS	8
2.2 Fundamentos e conceitos da fragmentação a organização	9
2.3 Modelos de atenção e redes temáticas	10
3. AVALIAÇÃO EM SAÚDE	12
REFERÊNCIAS	13
1. ATENÇÃO PRIMÁRIA 
	A Atenção Primária à Saúde (APS) é definida pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS, 2004) como:
[...] um conjunto de intervenções de saúde no âmbito individual e coletivo que envolve: promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação. É desenvolvida por meio do exercício de práticas gerenciais e sanitárias, democráticas e participativas, sob a forma de trabalho em equipe, dirigidas a populações de territórios (território processo) bem delimitadas, das quais assumem responsabilidade. [...] A Atenção primária deve considerar o sujeito em sua singularidade, complexidade, integralidade e inserção sociocultural, e buscar a promoção de sua saúde, a prevenção e tratamento das doenças e a redução dos danos ou sofrimentos que possam estar comprometendo suas possibilidades de viver de modo saudável (CONASS, 2004, p. 7).
Fausto e Matta (2007) dizem que a APS é como uma estratégia de atenção à saúde seletiva, em um modelo mais amplo e sistêmico, possibilitando articulações intersetoriais em prol do desenvolvimento humano, social e econômico das populações. Possui foco na população mais pobre com acesso a uma tecnologia simples e limitada, visando proporcionar um maior e mais efetivo acesso ao sistema de saúde de forma preventiva, coletiva, territorial e democrática (FAUSTO; MATTA, 2007). “Utiliza tecnologias de elevada complexidade e baixa densidade, que devem resolver os problemas de saúde de maior frequência e relevância das populações” (CONASS, 2004, p. 7).
	Starfield (2002) relata que a APS é o primeiro nível de atenção de um sistema de serviço de saúde, oferecendo a entrada de problemas e necessidades no sistema fornecendo atenção no decorrer do tempo a todas as condições, exceto as muito raras e incomuns. A APS possui uma abordagem que forma a base e determina o trabalho de todos os outros níveis do sistema de saúde, responsável por organizar e racionalizar os recursos básicos e especializados, em direção a promoção, melhora e manutenção da saúde (STARFIELD, 2002).
1.1 Surgimento da Atenção Primária
Diante das preocupações dos países desenvolvidos em relação aos altos custos dos sistemas de saúde, o uso indiscriminado de tecnologia médica e a baixa resolutividade, originou-se a busca por novas formas de organizar a atenção com menores custos e maior eficiência (FAUSTO; MATTA, 2007).
O termo Atenção Primária foi utilizado para a organização dos sistemas de saúde pela primeira vez em 1920, no Relatório Dawson (FAUSTO; MATTA, 2007). Tal relatório é um documento do governo inglês que buscou constituir-se em uma referência para a organização do modelo de atenção (FAUSTO; MATTA, 2007). O relatório Dawnson concebeu o modelo de atenção em centros de saúde primários e secundários, serviços domiciliares, serviços suplementares e hospitais de ensino, estabelecendo uma hierarquização dos níveis de atenção à saúde (FAUSTO; MATTA, 2007). 
De acordo com Fausto e Matta (2007), 
Os centros de saúde primários e os serviços domiciliares deveriam estar organizados de forma regionalizada, onde a maior parte dos problemas de saúde deveriam ser resolvidos por médicos com formação generalista. Os casos que o médico não tivesse condições de solucionar com os recursos disponíveis nesse âmbito da atenção deveriam ser encaminhados para os centros de atenção secundária, onde haveria especialistas das mais diversas áreas, ou então para os hospitais, quando existisse indicação de internação ou cirurgia (FAUSTO; MATTA, 2007, p. 44).
Está hierarquização inglesa, influenciou a organização dos sistemas de saúde de todo o mundo, definindo as características básicas da APS, sendo elas: i) a regionalização, onde os serviços de saúde devem estar organizados e distribuídos de forma a atender as diversas regiões, bem como a identificação das necessidades de saúde de cada região; ii) A integralidade, que fortalece a associação entre ações curativas e preventivas saúde (FAUSTO; MATTA, 2007).
Visando as ações preventivas, uma serie de ideias e propostas relativas à APS foram amplamente disseminadas em vários países, obtendo grande repercussão em países mais pobres, visto o fortalecimento das políticas de desenvolvimento econômico e social (DONNANGELO, 1976). Mas, foi nos anos 70 que a Atenção Primária ganhou destaque nas agendas das políticas de saúde, tendo a Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma das principais agencias difusoras desta proposta (FAUSTO; MATTA, 2007). 
Em virtude aos resultados dos programas de atenção primária, a OMS, em 1978, organizou a I Conferência Internacional Sobre Cuidados Primários em Saúde, que, por sua vez, propunha a APS como uma estratégia para ampliar os sistemas nacionais de saúde (SPT, 2000). Foi somente a partir desta conferência que se buscou uma definição para APS. 
Ainda de acordo com a conferência, foi estabelecido as ações mínimas para o desenvolvimento da APS: educação em saúde voltada para a prevenção e proteção; distribuição de alimentos e nutrição apropriada; tratamento da água e saneamento; saúde materno-infantil; planejamento familiar; imunização; prevenção e controle de doenças endêmicas; tratamento de doenças e lesões comuns; e fornecimento de medicamentos essenciais (SPT, 2000).
A compreensão a respeito de APS tem sido ampliada ao longo do tempo, levando em consideração os aspectos econômicos, políticos e ideológicos que permeiam as práticas no campo da saúde e produzem diferentes interpretações e abordagens em APS nos sistemas de saúde (FAUSTO; MATTA, 2007).
A Conferência de Alma-Ata, foi uma das mais expressivas em torno da Atenção Primária, pois na declaração de Alma-Ata, a APS foi interpretada como estratégia central de organização do sistema de saúde, sendo eficaz para responder as necessidades apresentadas pelos usuários dos serviços de saúde. Em seguida, a Conferência de Bellagio defendeu a APS no enfoque nos problemas da população em situação de pobreza (MAGNUSSEN; JOLLY, 2004). 
Com a crise econômica mundial de 80, houve uma racionalização dos recursos de saúde, adotando medidas com ênfase em ações de promoção e prevenção em saúde (ALMEIDA, 1999), o que colaborou com a disseminação de programas de Atenção Primária (FAUSTO; MATTA, 2007).
Visto o viés econômico, entrou em cena o Banco Mundial, principal difusor das ideias de focalização e seletividade das ações do governo no campo das políticas sociais, em especifico, na saúde. Tal fato levou a OMS, em 90, abandonar a proposta da APS integral e acompanhar a proposta seletiva do Banco Mundial (FAUSTO; MATTA, 2007). Entretanto, as medidas tomadas não resultaram na redução da pobreza, nem no melhor acesso aos serviços públicos de saúde, assim, a OMS vem sugerindo o reavivamento dos princípios da APS (OMS/OPAS, 2003)
1.2 Saúde Pública e Atenção Primária no cenário brasileiro 
No Brasil, a Atenção Primária se tornou visível no final da década de 70, com a formulação de novas abordagens e formas de organizar a atenção em saúde em uma perspectiva de serviços de APS integrados ao sistema de saúde no nível local (FAUSTO; MATTA, 2007). Neste cenário, o governo federal iniciou em 1978 o programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento (Piass) voltado as regiões mais pobres do país. Tal programa tinha o propósito de criar uma infraestrutura de saúde pública para uma rápida expansão na cobertura de ações de alcance coletivo, utilizando tecnologias mais simplese pessoal auxiliar e agentes de saúde residentes nas comunidades (FAUSTO; MATTA, 2007).
Após o Piass, em 1981, foi formulado o Programa Nacional de Serviços Básicos de Saúde (Prev-Saúde), voltado a cobertura dos serviços de saúde em todo o território brasileiro, com a expansão por intermédio dos municípios e estados, o que se tornou formal na VII Conferencia Nacional de Saúde em 1980. O Prev-Saúde não avançou, entretanto, ao longo da década de 80 entrou em prática, pelo Ministério da Saúde e Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social (Inamps), as Ações Integradas de Saúde (AIS) e o Sistema Único e Descentralizado de Saúde (SUDS), dando origem ao projeto Sistema Único de Saúde (SUS) (FAUSTO; MATTA, 2007).
[...] as primeiras iniciativas do Ministério da Saúde dedicadas à alteração na organização da atenção à saúde com ênfase na atenção primária surgiram no momento em que foram estabelecidos o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (Pacs), em 1991, e o Programa Saúde da Família (PSF), em 1994 (FAUSTO; MATTA, 2007, p. 58). 
Em suma, no Brasil a APS se direciona ao Sistema Único de Saúde (SUS), que por sua vez adota a designação Atenção Básica à Saúde (ABS), refletindo os princípios da Reforma Sanitária (FAUSTO; MATTA, 2007). Desta forma, enfatiza a reorientação do modelo assistencial, baseado em um sistema universal e integrado de atenção à saúde.
No cenário brasileiro, no âmbito da política de saúde, a APS compreende como o primeiro nível ou momento em que se inicia o processo da atenção em um sistema de saúde. Em relação a saúde pública, a APS é compreendida como uma estratégia fundamental para a reorientação do modelo de atenção do SUS (FAUSTO; MATTA, 2007).
1.3 Atributos da Atenção Primária 
	Os atributos da Atenção Primária, também chamados de princípios por Starfield (2002), visam avaliar as ações primárias de saúde, sendo reconhecidos como elementos que organizam a APS nos serviços de saúde, ou fazem parte do processo da atenção.
Os atributos são: 
· Primeiro contato: compreende a acessibilidade e o uso do serviço diante de uma novo problema ou episódio de um problema pelo qual as pessoas buscam atenção à saúde (STARFIELD, 2002). A acessibilidade é analisada através da disponibilidade (obtenção da atenção necessária), comodidade (o tempo de espera, o contato com profissionais e conforto no atendimento) e aceitabilidade (aceitação dos usuários quanto os profissionais do atendimento) (SHIMAZAKI, 2009).
· Longitudinalidade ou Continuidade: compreende a existência de uma fonte regular de atenção e seu uso ao longo do tempo (STARFIELD, 2002). Shimazaki (2009, p. 4) diz que, “é uma relação pessoal de longa duração entre profissionais de saúde e usuários em suas unidades de saúde, independente do problema de saúde ou mesmo da existência de algum problema.” O que proporciona mais benefícios como melhor atenção preventiva; menos hospitalizações; entre outros. 
· Integralidade: compreende ao reconhecimento das necessidades de saúde da população e os recursos para aborda-las, assegurando o ajuste dos serviços de acordo com as necessidades (STARFIELD, 2002).
· Coordenação: compreende a disponibilidade de informação a respeito dos problemas de saúde e dos serviços prestados (SHIMAZAKI, 2009). Tais informações viabilizam a continuidade do cuidado nos diferentes níveis de atenção mantendo o usuário vinculado ao serviço de APS, ainda que ele esteja temporariamente sob os cuidados de um outro serviço (STARFIELD, 2002).
· Abordagem familiar: compreende ao conhecimento e acompanhamento, pela equipe de saúde, dos membros da família e dos seus problemas de saúde. Permite o estabelecimento de um vínculo entre a equipe de saúde com o usuário e sua família, o que facilita a aceitação da investigação e da intervenção, quando necessária (SHIMAZAKI, 2009).
· Enfoque comunitário: compreende a uma forma complementar de ajustar os programas para que atendam as necessidades específicas de uma população, mas também diz respeito a participação da comunidade na toda de decisão em todos os níveis de atenção (SHIMAZAKI, 2009).
2. REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE 
	As Redes de Atenção à Saúde (RAS) é definida como organizações poliárquicas de conjuntos de serviços de saúde, vinculados por objetivos comuns e ação coletiva interdependente, que permite ofertar uma atenção continua a população, coordenada peça APS, contribuindo com as responsabilidades sanitária e economia, e agregando valor a sociedade (MENDES, 2009; 2011). Em outras palavras, é uma forma de organização do sistema de atenção à saúde em sistemas integrados que permitem responder com efetividade, eficiência, segurança, qualidade e equidade, às condições de saúde da população brasileira.
	A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS/OMS, 2011), por sua vez, conceitua a RAS como uma rede de organizações que provê arranjos para a prestação de serviços de saúde integrais e equitativos a uma população, se dispondo a prestar contas pelos resultados clínicos e econômicos, e pelo estado de saúde da população definida.
2.1 História da RAS 
	A RAS teve sua origem na década de 1920, no Reino Unido, durante o Relatório Dawson, como resultado dos debates acerca das mudanças no sistema de proteção social da união politica após a 1º Guerra Mundial (UNA-SUS/UFMA, 2016). Neste relatório, a proposta consistia na organização de sistemas regionalizados de saúde, com o oferecimento de serviços por meio de uma organização ampliada, os tornando acessíveis a toda população (OPS/OMS, 2011).
	Entretanto, foi somente após a Conferência de Alma-Ata em 1978, que as discussões sobre a reestruturação dos sistemas de saúde segundo a lógica de RAS obtiveram marcos fundamentais (OPS/OMS, 2011). Na década de 90, nos Estados Unidos, houve uma retomada na discussão demostrando o esforço em superar os problemas da fragmentação do sistema de saúde. Por conseguinte, houve o investimento mundial na oferta de serviços a uma população delimitada territorialmente, focada APS (MENDES, 2001; KUCHNIR; CHORNY; LIRA, 2010). 
	De acordo com a literatura, os sistemas de saúde organizados em RAS com modelos embasados na APS apresentam resultados efetivos, com menores custos e maior satisfação da população, mesmo diante de adversidades sociais (STARFIELD, 2004; ALMEIDA; BARROS, 2005; MACINKO; GUANAIS; SOUZA, 2006; MENDES, 2009). 
2.2 Fundamentos e conceitos da fragmentação a organização 
	De acordo com Frenk (2006), os sistemas de atenção à saúde são respostas sociais às necessidades de saúde da população, portanto, devem acontecer em coerência com a situação de saúde individual do usuário. Para tal, é preciso considerar situações de infecções, desnutrição, doenças crônicas, fatores de riscos (obesidade, tabagismo, ...) entre outros (FRENK, 2006). Consequentemente, um sistema de atenção a saúde fragmentado, reativo, episódico e voltado a perspectiva curativa, ausente da visão preventiva, não pode responder adequadamente a situação de saúde de cada usuário considerando suas particularidades (MENDES, 2011).
Por meio de um consenso gradativo, foi se estabelecendo que a organização dos sistemas de saúde garante atenção integral, universal, justa, efetiva e eficaz, quando está sob a forma de redes integradas, pois possibilita a construção de vínculos de cooperação e solidariedade entre as os níveis de gestão dos sistemas de saúde, as equipes de saúde e os usuários (WHO, 2008; OPS, 2005).
La Forgia (2006) relata que, no que se trata da temática das RAS, no Brasil, a predominância da fragmentação é um grande problema, pois resulta em duplicação de serviços; atenção descontínua; altos custos devido à má gestão das doenças crônicas, falta de articulação entre recursos e equipe etc. Um sistema fragmentado não consegue funcionar como um todo.
As diferenças mais evidentes entre os sistemas de atenção à saúde compreendem a organização, fragmentação/integração com foco na atenção para condições agudas/graves. Entretanto, existem características que são bastante impactadas nas diferenças entre os sistemas fragmentadose as RAS: forma de organização; coordenação; comunicação; foco; objetivos; população; usuário; ação; intervenção; modelo de atenção; modelo de gestão; planejamento; tecnologia; território; financiamento; participação social (MENDES, 2011).
É importante destacar que as RAS possuem fundamentos que funcionam como alicerce de sustentação a sua base teórica, garantindo sua efetivação de forma eficiente e com qualidade, sendo eles (MENDES, 2011):
· Economia de escala: racionalização de custos e otimização dos resultados.
· Suficiência e qualidade: quantidade de recursos financeiros, humanos e tecnológicos suficientes para atender a demanda.
· Acesso: ausência de barreiras para entrar no sistema e dar continuidade da atenção.
· Disponibilidade de recurso: alocação mais custo-efetiva dos recursos físicos, financeiros, humanos e tecnológicos.
· Integração vertical: articulação e coordenação de diferentes organizações de saúde por ações de natureza primária, secundária ou terciária, afim de agregar valor aos serviços.
· Integração horizontal: junção de unidades e serviços de saúde da mesma natureza, agregando serviços em uma mesma cadeia produtiva.
· Processos de substituição/reorganização/aprimoramento: reagrupamento contínuo de recursos entre e dentro dos serviços de saúde, considerando aspectos relativos aos processos de Atenção à Saúde e às equipes
· Região de saúde ou abrangência: área geográfica de abrangência para a cobertura de uma determinada RAS.
· Níveis de atenção: arranjos produtivos de acordo com as densidades tecnológicas, variando do nível de densidade. 
2.3 Modelos de atenção e redes temáticas
	Uma RAS possui três elementos fundamentais: a população, a estrutura operacional e o modelo de atenção â saúde (MENDES, 2011). 
	Um modelo de atenção à saúde é um sistema lógico que organiza o funcionamento das RAS, articulando as relações entre a população, os focos de intervenções e os diferentes tipos de intervenções sanitárias, definido em função da situação de saúde, demografia e epidemiologia e os determinantes sociais de saúde vigentes (MENDES, 2009; 2011).
	Visto a necessidade de uma resposta efetiva, eficiente e segura, dos sistemas de atenção à saúde, a situações de saúde denominadas condições crônicas, foi desenvolvido os modelos de atenção à saúde: modelos de atenção às condições agudas e modelos de atenção às condições crônicas (MENDES, 2011).
	Os modelos de atenção às condições agudas são utilizados para responder às necessidades colocadas pelas condições agudas e pelos eventos agudos (agudizações) das condições crônicas. Possuem o objetivo de identificar com base nos sinais de alerta, o mais rápido possível, a gravidade de uma pessoa em situação de urgência ou emergência, definindo o ponto de atenção adequado para a situação, considerando o tempo de atenção requerido pelo risco classificado como variável crítica (CORDEIRO JÚNIOR, 2008; MENDES, 2011). 
	Os modelos de atenção às condições crônicas são construídos de um modelo seminal: Modelo de Atenção Crônica, do qual derivam adaptações constituindo se de modelos derivados (MENDES, 2011). De acordo com Mendes (2009), o Modelo de Atenção Crônica inicial foi desenvolvido nos Estados Unidos, por meio de uma revisão da literatura sobre a gestão das condições crônicas. Tal modelo foi sendo aperfeiçoado e testado de acordo com novas revisões e experiências práticas em variadas situações. Posteriormente, foram incorporados ao modelo, os temas: segurança das pessoas usuárias, a competência cultural, a coordenação da atenção,
os recursos da comunidade e a gestão de caso (MENDES, 2011).	
Ambos os modelos devem ser aplicados a mesma estrutura operacional das RAS (MENDES, 2011). Assim, no Brasil, a implantação das RAS é realizada na forma de redes temáticas, priorizando as linhas de cuidados, estabelecidas por portarias que nasceram da Portaria nº 1473 de 24 de julho de 2011 (OLIVEIRA, 2015).
· Portaria GM/MS nº 1459, de 24 de junho de 2011, institui, no âmbito do SUS, a Rede Cegonha. Tem como objetivo fomentar o modelo de atenção à saúde da mulher e da criança, reduzir a mortalidade materna e infantil com ênfase no neonatal. Consiste em uma rede de cuidados que assegura à mulher o direito ao planejamento reprodutivo e atenção humanizada à gravide, ao parto e ao puerpério, bem como a criança o direito ao nascimento seguro, crescimento e desenvolvimento saudáveis (BRASIL, 2011a). 
· Portaria GM/MS nº 1600, de 7 de junho de 2011, reformula a Política Nacional de Atenção às Urgências e institui a Rede de Atenção às Urgências no SUS. Esta rede prioriza as linhas de cuidados cardiovasculares, cerebrovasculares e traumatológicos (BRASIL, 2011b). 
· Portaria GM/MS nº 3088, de 23 de dezembro de 2011, institui a Rede de Atenção Psicossocial para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do SUS. Com finalidade de criação, ampliação e articulação de pontos de atenção à saúde para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas (BRASIL, 2011c). 
· Portaria GM/MS nº 793, de24 de abril de 2012, institui a Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência no âmbito do SUS. Possui como objetivo a ampliação do acesso e qualificação do atendimento às pessoas com deficiência temporária ou permanente, progressiva, regressiva ou estável, intermitente ou contínua (BRASIL, 2012).
· Portaria GM/MS nº 483, de 1º de abril de 2014, redefine a Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas no âmbito do SUS e estabelece diretrizes para a organização das suas linhas de cuidado. Com o objetivo de ralizar a atenção integral à saúde das pessoas com doenças/condições crônicas, por meio da realização de ações e serviços de promoção e proteção da saúde, prevenção de agravos, diagnostico, tratamento, reabilitação, redução de danos e manutenção da saúde. Vale ressaltar que tal rede aborda a questão das condições crônicas, e não apenas de doenças, visto que estas questões vão além de doenças (BRASIL, 2014).
3. AVALIAÇÃO EM SAÚDE 
	O termo avaliação é inerente ao processo de aprendizagem e possui inúmeras definições. Para Silva (2005), a avaliação de programas e serviços pode ser compreendida como a abordagem sistemática de determinadas práticas sociais, incluindo a saúde, visando realizar um julgamento em torno das práticas e ações. 
No campo da saúde, as definições de avaliação se direcionam ao âmbito das políticas e programas sociais, consistindo no julgamento de valor a uma intervenção (GUBA; LINCOLN, 1990; CONTANDRIOPOULOS, 1997; 2006). Assim, a avaliação é realizada como um processo de negociação entre os atores envolvidos na intervenção avaliada, permitindo o desenvolvimento de conceitos e a acumulação dos conhecimentos (GUBA; LINCOLN, 1990).
Após a Segunda Guerra Mundial o conceito de avaliação adentrou nos programas públicos, concomitante ao papel do Estado nas áreas de educação, saúde etc. No decorrer dos anos 70 surgiu a necessidade de se obter informação sobre o funcionamento e a eficácia do sistema de saúde, ocorrendo assim a imposição da necessidade de avaliar as ações sanitárias, como melhor opção, visto que se tornou indispensável o controle dos custos do sistema de saúde, mas sem que se a acessibilidade e qualidade dos serviços seja afetada (CONTANDRIOPOULOS, 1997).
Portanto, a avaliação surge na saúde, vinculada aos avanços da epidemiologia e da estatística, testando a utilidade de diversas intervenções, particularmente direcionadas ao controle das doenças infecciosas e ao desenvolvimento dos primeiros sistemas de informação que orientassem as políticas sanitárias nos países desenvolvidos (Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, França, Grã Bretanha, Suíça etc) (HARTZ, [s.d.]). No Brasil, a avaliação em saúde ocorreu no interior do campo da Saúde Coletiva, beneficiando de diversas influências (FURTADO; SILVA, 2014; AKERMAN; FURDADO, 2016; SILVA, 2018).
A constituição do espaço da avaliação em saúde no Brasil ocorreucomo produto do encontro de agentes (com trajetórias diferenciadas nos campos burocrático, político e científico) estimulados e financiados por instituições internacionais ligadas ao campo econômico, mas vinculadas à organização do Sistema Único de Saúde. Esse movimento se deu no interior do espaço da Saúde Coletiva, por sua vez um universo de saberes e práticas composto por subespaços científico, burocrático e político por onde os agentes, em boa parte, transitam (AKERMAN, FURTADO, 2016, p. 49).
É por meio da avaliação e a partir dos julgamentos inerentes a ela, que se torna possível construir o subsidio para as tomadas de decisões no campo da saúde (AKERMAN; FURTADO, 2016). 
Em suma, a avaliação em saúde é mais que apenas avaliar os programas e serviços, mas sim, um processo que favorece a participação e as discussões afim de resultar em melhorias na eficácia e eficiência, no sentido geral, contribuindo para a universalização e democratização.
REFERÊNCIAS 
AKERMAN, M.; FURTADO, J. P. Práticas de avaliação em saúde no Brasil: diálogos. Porto Alegre: Rede Unida, 2016.
ALMEIDA, C. M. Reforma do Estado e reforma de sistemas de saúde: experiências internacionais e tendência de mudança. Ciência e Saúde Coletiva, v. 4, n. 2, p. 263-289, 1999.
ALMEIDA, S. D. M.; BARROS, M. B. A. Equidade e atenção à saúde das gestantes em Campinas (SP), Brasil. Rev. Panam. Salud. Publica, v. 17, n. 1, p. 15-25, 2005.
BRASIL. Fundação Nacional de Saúde. Portaria nº 483, de 1º de abril de 2014. Redefine a Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) e estabelece diretrizes para a organização das suas linhas de cuidado. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 2014. Seção 1, p. 50-52. Disponível em: <http://sintse.tse.jus.br/documentos/2014/Abr/2/portarianb0-483-de-1b0-de-abril-de-2014-redefine>. Acesso em: 22 dez. 2022.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 1.459, de 24 de junho de 2011. Institui, no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS - a Rede Cegonha. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 2011a. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt1459_24_06_2011_
comp.html>. Acesso em: 22 dez. 2022.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 1.600, de 7 de julho de 2011. Reformula a Política Nacional de Atenção às Urgências e institui a Rede de Atenção às Urgências no Sistema Único de Saúde (SUS). Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 2011b. Seção 1, p. 1-9. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt1600_07_07_2011.html>. Acesso em: 22 dez. 2022.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 3088, de 23 de dezembro de 2011. Institui a Rede de Atenção Psicossocial para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 2011c. Seção 1, p. 50-60. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt3088_23_12_2011_
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BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 793, de 24 de abril de 2012. Institui a Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência no âmbito do Sistema Único de Saúde. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 2012. Disponível
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