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Autoras: Profa. Giane Elis de Carvalho Sanino Profa. Maria Luiza Mazzieri Colaboradoras: Profa. Renata Guzzo Souza Profa. Laura Cristina da Cruz Dominciano Prática Gerencial em Saúde Coletiva Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Professoras conteudistas: Giane Elis de Carvalho Sanino / Maria Luiza Mazzieri Giane Elis de Carvalho Sanino Doutora em Educação pela Universidade Nove de Julho (2013). Mestre em Educação pela Universidade Cidade de São Paulo (2003). Graduada em Enfermagem pela Universidade Mogi das Cruzes (1996). Profissional com experiência na área clínica e educacional, com atividade clínica voltada para a nefrologia e atuação em clínicas e hospitais (particulares e públicos). Possui vivência acadêmica em escolas técnicas e universidades, atuando tanto na parte administrativa quanto na pedagógica. Professora adjunta da UNIP nos cursos de Enfermagem, Educação Física, Fisioterapia e Nutrição. Atualmente, estuda as temáticas juventude e formação, políticas públicas de educação e saúde e mediação pedagógica na formação em EaD. Maria Luiza Mazzieri Mestre em Ciências da Saúde na área de Concentração em Enfermagem pela Universidade de Guarulhos (2003). Especialista em Administração Hospitalar pela Universidade de Ribeirão Preto (1995); em Enfermagem em Cardiologia pelo InCor, da Universidade de São Paulo (1996); e em Docência no Ensino Superior pela Universidade Cidade de São Paulo (2009). Graduada em Enfermagem pela Universidade de Guarulhos (1994). Profissional com experiência na área clínica e educacional, com atividade clínica na terapia intensiva de adultos em hospitais públicos. Possui vivência em escolas técnicas e universidades, atuando na coordenação e na área pedagógica. Professora adjunta da UNIP no curso de Enfermagem. Atualmente, estuda as temáticas de instrumentos básicos de enfermagem e educação em saúde. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) S227p Sanino, Giane Elis de Carvalho. Prática Gerencial em Saúde Coletiva / Giane Elis de Carvalho Sanino, Maria Luiza Mazzieri. – São Paulo: Editora Sol, 2019. 240 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXV, n. 2-088/19, ISSN 1517-9230. 1. Sistema Único de Saúde. 2. Políticas de atenção à mulher. 3. Política nacional de humanização. I. Mazzieri, Maria Luiza. II. Título. CDU 614 W501.69 – 19 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Jacinara Albuquerque de Paula Elaine Pires Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Sumário Prática Gerencial em Saúde Coletiva APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 ORGANIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE NO BRASIL ......................................................................9 1.1 Sistema Único de Saúde (SUS)........................................................................................................ 14 1.2 Lei Orgânica da Saúde (LOS) ............................................................................................................ 21 1.3 Determinação social do processo saúde-doença .................................................................... 24 1.4 Modelos tecnoassistenciais para operacionalização do SUS .............................................. 31 2 SAÚDE DA FAMÍLIA E PROGRAMAS PÚBLICOS DE CONTROLE DAS DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS ............................................................................................................... 46 2.1 Territorialização e adstrição da clientela .................................................................................... 52 2.2 Responsabilização e clínica ampliada .......................................................................................... 59 2.3 Programas públicos de controle das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) ................................................................................................................................. 66 2.4 Diabetes mellitus (DM) ....................................................................................................................... 77 2.5 Hipertensão arterial (HA) .................................................................................................................. 95 3 ENFERMAGEM EM SAÚDE MENTAL E PSIQUIÁTRICA .....................................................................108 4 CONSTRUÇÃO DAS POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DA MULHER NO BRASIL: A ATUAL POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHER (PNAISM) ...........................................................................................................................................121 4.1 Câncer de mama .................................................................................................................................123 4.2 Câncer de colo do útero ..................................................................................................................128 Unidade II 5 DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS ......................................................................................................................152 5.1 Hanseníase ............................................................................................................................................154 5.2 Tuberculose ...........................................................................................................................................161 6 HUMANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA: O HUMANIZASUS ....................................................................175 7 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA), CONSELHO TUTELAR E CONSULTA DE ENFERMAGEM EM PUERICULTURA/ADOLESCENTE ...............................................178 7.1 Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e Conselho Tutelar ...................................178 7.2 Consulta de enfermagem em puericultura .............................................................................183 7.3 Consulta de enfermagem para o adolescente ........................................................................186 7.4 Criança e adolescente na escola: o Programa Saúde na Escola .....................................190 8 PROGRAMA NACIONAL DE IMUNIZAÇÃO (PNI) ...............................................................................198 7 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : Nom e do d ia gr am ad or - d at a APRESENTAÇÃO Esta disciplina trabalha de forma integrada às outras disciplinas do curso de Enfermagem relacionadas às políticas de saúde e objetiva capacitar o aluno na construção de sistemas conceituais interligados e aptos ao desenvolvimento de respostas eficazes, integrando as dimensões epistemológicas e metodológicas das práticas em enfermagem e saúde; práticas de enfermagem em saúde coletiva e práticas em saúde e enfermagem, caracterizando os diferentes elementos que estruturam as práticas de saúde nas dimensões individual e coletiva. INTRODUÇÃO Quando pensamos na atuação profissional da enfermagem, em muitas situações pensamos sobretudo no caráter do primeiro acolhimento e na triagem dos atendimentos realizados nos serviços de saúde, avançando para as práticas específicas de atendimentos de média e alta complexidade. Contudo, não podemos deixar de perceber as demais variáveis importantes dessa atuação profissional, que são encontradas não apenas na assistência, mas também nos campos da pesquisa científica, da prática educativa e da prática gerencial. Os profissionais da enfermagem têm avançado cada vez mais na articulação multidisciplinar das equipes de saúde, viabilizando a gestão administrativa das unidades de serviços de saúde em que atuam. Para melhor compreender a historicidade dessa profissão, Spagnol (2005) aponta que desde a Idade Média a enfermagem é atribuída à caridade, em que apenas o conforto aos doentes poderia ser ofertado. Contudo, no século XIX, na Inglaterra, a profissionalização desse trabalho começa a ser desenvolvida pela enfermeira Florence Nightingale, que se dedicava a institucionalizar a profissão e, através de seus esforços, começou a estabelecer a prática da enfermagem também na administração hospitalar para além das práticas assistenciais. Sendo pioneira nessa abordagem sobre práticas gerenciais na enfermagem, Nightingale escreveu livros importantes, como o chamado Notas para a Enfermagem, em que ressaltou que todos os benefícios de uma boa enfermagem, apresentados no livro, poderiam ser completamente anulados por deficiência na administração básica, ou melhor, por se ignorar como proceder para que o que é feito quando se está presente seja também feito quando se está ausente. Seus ensinamentos influenciaram práticas administrativas em enfermagem por todo o mundo, inclusive no Brasil. Em 1921, o dr. Carlos Chagas criou o Serviço de Enfermeiros de Saúde Pública. Após visitar serviços de saúde norte-americanos que utilizavam os preceitos nightingaleanos, Chagas se inspirou a aplicá-los por aqui também (SPAGNOL, 2005). Das ações de cunho sanitarista que eminentemente foram praticadas desde o início desse Serviço de Enfermeiros de Saúde Pública à atualidade, muitas alterações foram realizadas. Hoje a enfermagem já é considerada uma ciência com todo o seu corpo conceitual de conhecimentos, e a Saúde Coletiva, principalmente com a criação do SUS, ampliou seu escopo de ações, passando de medidas sanitaristas emergenciais para desenvolver a epidemiologia social; a enfermagem, dentro dessa nova perspectiva de atendimento, aparece em destaque, pois os enfermeiros são considerados gestores do caso, para coordenar e articular toda a ação multiprofissional. Além disso, a própria saúde coletiva, com o advento das Redes de Atenção à Saúde (RAS), passa a ser a porta de entrada e encaminhamento do usuário a todos 8 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a os serviços ofertados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Sua ação não visa apenas o encaminhamento, e sim toda a gestão do caso desse usuário dentro do SUS. Dessa forma, cabe ao enfermeiro atender de forma resolutiva os usuários dos serviços de saúde em todos os ciclos vitais e de acordo com as especificidades de saúde, determinadas pelo perfil epidemiológico da população. 9 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PRÁTICA GERENCIAL EM SAÚDE COLETIVA Unidade I 1 ORGANIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE NO BRASIL Antes do estabelecimento do Sistema Único de Saúde (SUS), viabilizado pela promulgação da Constituição Cidadã de 1988, o Brasil não possuía um sistema universalizante de atenção à saúde. Nos anos que antecedem a Constituição de 1988, vivíamos sob uma assistência à saúde dividida entre a medicina previdenciária e a saúde pública. A medicina previdenciária oferecia assistência aos trabalhadores que estavam na economia formal, com carteira de trabalho assinada e, majoritariamente, concentrados nos centros urbanos, com caráter essencialmente curativo. Por sua vez, a saúde pública, com ações paliativas e pontuais, se ocupava das zonas rurais e das populações em grande situação de vulnerabilidade social. A saúde pública era gerida pelo Ministério da Saúde, ao passo que a medicina previdenciária era administrada pelos Institutos de Pensão e Aposentadorias. Vivíamos o contexto social e político da ditadura militar, em que os militares se esforçavam para que se estabelecesse e se expandisse a assistência privada (PAIVA; TEIXEIRA, 2014). No quadro a seguir podemos ver os principais pontos da trajetória da saúde pública no Brasil: Quadro 1 Ano Evento Até 1808 Médicos vindos de Portugal e Europa para cuidar das classes socialmente privilegiadas Prática de medicina popular empírica com a soma da cultura dos portugueses mais índios e escravos africanos Até 1889 Fundadas as primeiras faculdades de Medicina no Brasil Principais preocupações: grandes epidemias, doenças mentais e hanseníases Criadas as primeiras instâncias de saúde no Brasil 1923 Criação das Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAP) – Lei Eloy Chaves 1932 Criação dos Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs) 1953 Criação do Ministério da Saúde 1963 Realização da 3ª Conferência Nacional de Saúde 1965 Criação do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) 1974 Criação do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps) 1977 Criação do Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social (Sinpas) junto ao Inamps 1986 Realização da 8ª Conferência Nacional de Saúde 1987 Criação do Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (Suds) 1988 Promulgação da nova Constituição do Brasil – Constituição Cidadã 1990 Promulgação das Leis Orgânicas da Saúde – Loas – Leis do SUS nos 8.080 e 8.142 1991 Aprovação da Norma Operacional Básica (NOB) – SUS 91 10 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade I 1991 Criação da Comissão Intergestores Tripartite (CIT) 1991 Criação da Comissão Intergestores Bipartite (CIB) 1993 Aprovação da NOB SUS 93 – Lei no 8.689 – extinguiu o Inamps 1996 Aprovação da NOB SUS 96 2000 Regulamentação da Emenda Constitucional nº 29 2001 Aprovação da Norma Operacional da Assistência à Saúde (Noas) – SUS – 01 2002 Aprovação da Noas – SUS – 02 2006 Aprovação do Pacto pela Saúde 2010 Aprovação da Portaria nº 4.279 – Redes de Atenção à Saúde (RAS) 2011 Aprovação do Decreto nº 7.508 – Contrato Organizativo da Ação Pública da Saúde (Coap) 2012 Lei Complementar no 141 – dispõe sobre o financiamento nas três esferas governamentais Saiba mais Para ampliar a visão sobre a história das políticas de saúde no país, assista ao filme: HISTÓRIA da saúde pública no Brasil: um século de luta pelo direito à saúde. Dir. Roberto Tapajós. Brasil. 2006. 60 minutos. Contudo, para avançarmos nessas transformações, foram necessárias profundas mudanças políticas e sociais, e um dos períodos mais marcantes dessa trajetória foi vivido nos anos de 1960, período em que vivíamos no Brasil o golpe militar. Paiva e Teixeira (2014, p. 18) destacam quais eram os aspectos que constituíam a saúde pública nos anos 1960. Referente a esta, o período foi marcado pela instauração de uma crise de recursos e pelo enfraquecimentoda capacidade de ação do governo federal. Podemos ilustrar esse processo com a crescente queda do financiamento da saúde no orçamento total da União de 2,21% para 1,40%, entre 1968 e 1972. Enquanto nesse mesmo período outras áreas, como transportes e forças armadas, recebiam entre 12% e 18% do orçamento, respectivamente. Entre o final dos anos 1960 e o primeiro triênio da década seguinte, o país passou de fato a assumir uma agenda neoliberal, ao seguir uma diretriz econômica internacional, com a consequente redução de gastos com políticas públicas sociais, como educação, moradia e lazer. A área da saúde não ficou afastada dessa agenda neoliberal, o que possibilitou a entrada de uma grande quantidade de capital estrangeiro no país. Contudo, esse capital não se traduziu em melhorias nas condições de vida da população e não trouxe incrementos na área da saúde, principalmente na pública. O que ocorreu foi um grande crescimento da saúde medicalizada, hospitalocêntrica, com enfoque curativo em detrimento de ações de promoção da saúde. A figura a seguir mostra a evolução dos leitos privados no país: 11 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PRÁTICA GERENCIAL EM SAÚDE COLETIVA 2.121 1.996 1.744 1.708 1.596 1.476 1.425 1.423 944 1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1973 1974 Figura 1 Desse modo, o Brasil viveu um momento ilusório de grande pujança econômica, com índices de crescimento em torno de 11% ao ano. No entanto, tal crescimento não se traduzia na melhoria das condições de vida de grande parte da população, na medida em que a concentração de renda, a perda do poder aquisitivo do salário mínimo, o aumento dos preços e a crise nos serviços públicos de transporte e de saúde eram o preço pago por um modelo econômico que privilegiava o desenvolvimento a partir da concentração da riqueza (PAIVA; TEIXEIRA, 2014). As charges a seguir evidenciam os impactos dessa política neoliberal instaurada no período da ditadura na saúde da população: Figura 2 12 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade I Figura 3 Lembrete Políticas públicas são as ações realizadas pelo Estado frente aos problemas sociais. O Estado é o local de reconhecimento, debate, planejamento e resolução dos problemas existentes na sociedade. De acordo com Paiva e Teixeira (2014), a partir do final da década de 1970, a crise econômica internacional proveniente do aumento do preço do petróleo, iniciado em 1974, atingiu fortemente o país. Embora o governo continuasse, por alguns anos, sustentando diversas iniciativas de investimento, chegava ao fim o ciclo e forte crescimento econômico, aspecto que favoreceria a ampliação das tensões sociais e o surgimento de diversas formas de mobilização popular por transformações políticas e mudanças nas condições sociais. Esse caldo de cultura daria origem aos primeiros movimentos pelas reformas no campo da saúde. Esses movimentos sociais ficaram conhecidos posteriormente como Reforma Sanitária e Reforma Psiquiátrica ou Luta Antimanicomial, e foram extremamente importantes como os precursores de uma agenda de saúde mais inclusiva para todos os segmentos sociais da população, com destaque aos grupos com maior vulnerabilidade social. Já na década de 1970, o Brasil ainda enfrentava uma grande repressão social através da ditadura militar, mas já apresentava sinais de organização social para o que resultaria na abertura política dos anos 1980. Faz-se essencial remontarmos os acontecimentos políticos para compreender como o Brasil avançou em uma constituição que se pautasse pelo Estado de Bem-Estar Social e pela universalização de direitos, que por muitos anos não fizeram parte da agenda do Estado. Foi durante os anos 1970 que muitas transformações ocorreram para que os avanços da saúde pública fossem viabilizados e para que o Sistema Único de Saúde fosse concretizado. 13 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PRÁTICA GERENCIAL EM SAÚDE COLETIVA Foram muitas as etapas e convenções realizadas em diversos setores da sociedade civil, e da representação política, para que fosse possível estabelecer um Sistema de Saúde Único com caráter universalizante. As múltiplas frentes que se envolveram nessa luta foram essenciais para garantir esse direito. Os profissionais de saúde também se organizaram para requerer melhores condições de trabalho e acesso a direitos trabalhistas. A existência de lutas organizadas, tanto as populares como as dos profissionais de saúde, foram essenciais para exercer a pressão necessária e ampliar o debate sobre a saúde pública no Brasil, instituindo dessa forma o movimento conhecido como Reforma Sanitária. No quadro a seguir, podemos visualizar como se deram esses avanços até a criação do SUS, na evolução dos temas que foram discutidos nas Conferências Nacionais de Saúde: Quadro 2 – Distribuição das Conferências Nacionais de Saúde Ano Nome Tema central 1941 1950 1963 1967 1975 1977 1980 1986 1992 1996 2000 2003 2008 2011 2015 I Conferência Nacional de Saúde II Conferência Nacional de Saúde III Conferência Nacional de Saúde IV Conferência Nacional de Saúde V Conferência Nacional de Saúde VI Conferência Nacional de Saúde VII Conferência Nacional de Saúde VIII Conferência Nacional de Saúde IX Conferência Nacional de Saúde X Conferência Nacional de Saúde XI Conferência Nacional de Saúde XII Conferência Nacional de Saúde XIII Conferência Nacional de Saúde XIV Conferência Nacional de Saúde XV Conferência Nacional de Saúde Situação sanitária e assistencial dos Estados Legislação referente a higiene e segurança do trabalho Descentralização na área de saúde Recursos humanos para as atividades em saúde Constituição do Sistema Nacional de Saúde e sua institucionalização Controle das grandes endemias e interiorização dos serviços de saúde Extensão das ações de saúde através dos serviços básicos Saúde como direito; reformulação do Sistema Nacional de Saúde e financiamento setorial Municipalização é o caminho Construção de modelo de atenção à saúde Efetivando o SUS: acesso, qualidade e humanização na atenção à saúde com controle social Saúde: um direito de todos e um dever do Estado. A saúde que temos, o SUS que queremos Políticas de Estado e desenvolvimento Todos usam o SUS. SUS na seguridade social. Política pública, patrimônio do povo brasileiro Saúde pública de qualidade para cuidar bem das pessoas Todos usam o SUS: SUS na seguridade social! Política pública, patrimônio do povo brasileiro Saúde pública de qualidade para cuidar bem das pessoas: direito do povo brasileiro TOTAL 15 Adaptado de: Sanino (2013). 14 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade I Saiba mais O Conselho Nacional de Saúde realizou uma síntese interessante sobre a história do SUS. Para saber mais sobre o assunto, acesse: BRASIL. Ministério da Saúde. SUS: a saúde do Brasil. Rio de Janeiro: Centro Cultural do Ministério da Saúde, 2008. Disponível em: <http://www.ccms.saude. gov.br/sus20anos/mostra/linhadotempo.html>. Acesso em: 23 ago. 2018. 1.1 Sistema Único de Saúde (SUS) O SUS é a maior e mais abrangente política de saúde à disposição de todos os cidadãos e cidadãs brasileiros, sendo reconhecido como uma das melhores políticas públicas que dialogam com o Estado de bem-estar social. Para entendermos como ele pode ser viabilizado, é essencial entender os contextos históricos e sociais que o circundam. Mas quais são as diretrizes que fundamentam o SUS e o fazem tão importante? Carvalho (1993, p. 13) apresenta algumas: — Saúde como direito de todos e dever do estado, ainda que se conte com a cooperação dos indivíduos, das famílias, da sociedade e das empresas. — Universalidade eequidade do acesso. — Fim da dicotomia entre promoção, prevenção, assistência e reabilitação, com ênfase na prevenção. — Integralidade na assistência ao indivíduo. — Gratuidade. — Descentralização com gestor único em cada esfera de governo. — Participação complementar do privado, com preferência para os filantrópicos e os sem fins lucrativos, ainda que a atividade privada seja livre, sob controle do estado. — Ênfase em algumas áreas como saúde do trabalhador, vigilância epidemiológica, sanitária, alimentação e nutrição, portadores de deficiência. — Participação comunitária efetiva através dos conselhos de saúde e das conferências de saúde. — Financiamento tripartite entre a união, estados e municípios e através dos recursos da seguridade Social. 15 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PRÁTICA GERENCIAL EM SAÚDE COLETIVA Vale destacar que os pontos levantados são fruto de grandes mobilizações, principalmente no tocante às questões apontadas pelos atores da Reforma Sanitária. Lembrete Esse movimento é considerado um divisor histórico entre as ações de saúde que ficavam na esfera do sanitarismo de emergência e as ações de saúde pública baseadas na epidemiologia social. Carvalho (2013) destaca que alguns atores tiveram relevância para o desenvolvimento de uma política de saúde inclusiva no país, veja-os no quadro a seguir: Quadro 3 Protagonistas Características Movimentos populares O cidadão politizado de bairros periféricos, principalmente de São Paulo, sem acesso à saúde, com destaque os movimentos populares, as associações de bairro e a Igreja Católica (comunidades eclesiais de base voltadas para o combate às iniquidades sociais). Universidades Surgiu de dentro das faculdades de Medicina com a necessidade de colocar os estudantes em contato com a realidade local, saindo do ambiente hospitalar, e também pela transformação dos departamentos de higiene em departamentos de medicina social, mais engajados com a realidade, o que culminou com uma nova geração de profissionais com uma nova visão do Brasil e seu momento, comprometidos com o social. Partidos políticos progressistas Na década de 1970, o MDB, que representava a resistência à ditadura, abrigava todos os militantes da esquerda que eram impossibilitados de se constituírem como partido. Esse partido buscava o trabalho junto com a comunidade na periferia dos grandes centros urbanos e em algumas prefeituras. Sua grande bandeira era: “não seremos prefeituras apenas tocadoras de obras, mas prefeituras voltadas para o social”. Nesse social estava a saúde do cidadão, que nenhuma cobertura tinha além dos planos de saúde para as empresas de maior porte e o Inamps para cuidar da saúde do trabalhador registrado e de empresas menores que não aderiam a planos de saúde. Depois do MDB, foi a vez dos partidos progressistas se libertarem da sigla emprestada. Além de grupos que aproveitaram siglas anteriores, houve grupos novos que fundaram partidos, como o PT. Todos esses partidos tinham em comum a defesa da saúde, juntando população e técnicos da saúde. Prefeituras com bandeiras progressistas Os municípios, por estarem mais perto das necessidades da população, carregavam o problema e a angústia do que não se fazia em saúde. Nesse cenário, em 1976, surgiram várias administrações municipais com a proposta de se comprometer com o social e não serem apenas prefeituras tocadoras de obras, o que foi denominado como movimento municipalista de saúde. Essas prefeituras sem financiamento da União, com o apoio de algumas universidades, junto a sanitaristas e simpatizantes, assumiram a proposta de fazer saúde para toda a população, em especial às camadas sociais mais desfavorecidas. Essa ação coincidiu com o movimento mundial de luta por melhora nas condições de saúde, que culminou na reunião de Alma-Ata e sua declaração com ênfase na Atenção Primária à saúde. Dessa forma, esses municípios estavam atrelados a um movimento mundial, com as equipes de Atenção Primária construídas por três profissionais: o médico, o enfermeiro e a nova categoria, denominada agentes de saúde. Adaptado de: Carvalho (2013). 16 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade I Saiba mais Para se aprofundar nas conferências internacionais de saúde, acesse: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Projeto Promoção da Saúde. As cartas da promoção da saúde. Ministério da Saúde, Secretaria de Políticas de Saúde. Projeto Promoção da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2002. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/ publicacoes/cartas_promocao.pdf>. Acesso em: 4 set. 2018. É em meio a esse efervescente ambiente político que nossa redemocratização estava sendo concebida, e a Assembleia Constituinte sendo providenciada. Foram essas ações sociopolíticas que possibilitaram a implantação do Sistema Único de Saúde, concebido como um sistema que oferece e promove a universalização do acesso à saúde de forma descentralizada, o que permite que os investimentos se capilarizem por toda a malha nacional e que as decisões de poder sobre esse sistema não estejam reunidas em uma única esfera. Cada gestor tem a possibilidade de elencar as destinações prioritárias dos investimentos. Esse caráter descentralizado foi pensado para também estimular a participação popular, através dos conselhos de saúde regionais: municipais, estaduais e federais, sempre em caráter misto, ou seja, com representantes das esferas gestoras, profissionais e também das populações. A figura a seguir ilustra a composição dos conselhos de saúde: Conselheiros Representando o Governo/prestadores de serviço de saúde 25% Representando os profissionais de saúde 25% Representando o usuário 50% Figura 4 17 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PRÁTICA GERENCIAL EM SAÚDE COLETIVA Na criação do SUS, um dos princípios norteadores é o da integralidade, em que se propõe a atenção integral à saúde, na prevenção, no cuidado e na recuperação. Teixeira e Solla (2006, p. 139) ressaltam que: No contexto de restauração do Estado de Direito, propósito central da luta pela democratização do país na época, colocou-se na agenda política o debate em torno da Saúde como direito de cidadania, um dos temas da 8a Conferência Nacional de Saúde, em 1986, evento que marca a incorporação da proposta de constituição do SUS como política de Estado, formalizada posteriormente na legislação orgânica do setor. Nesse momento culminante do processo de luta pela RSB, os princípios e diretrizes do SUS foram apresentados e obtiveram o consenso entre os atores participantes do evento, assumindo-se, a partir daí, a imagem – objetivo de um sistema universal, integral e equitativo, construído a partir do desencadeamento de processos de descentralização e democratização da gestão, condições consideradas necessárias para a reorganização dos serviços. Essa reorganização foi objeto, inclusive, do debate travado no âmbito da Comissão Nacional de Reforma Sanitária, que produziu um documento no qual se revela a preocupação central com a garantia das condições político-institucionais e financeiras para a implementação dessa proposta, o que se desdobrou no espaço jurídico-parlamentar constituído pela Assembleia Nacional Constituinte e no Congresso Nacional, no final da década, onde as tensões em torno do debate das propostas com relação ao financiamento e institucionalização da participação popular na gestão do sistema de saúde geraram, inclusive, vetos à versão original da Lei no 8.080, superados em parte com a aprovação da Lei no 8.142, em 1990. O SUS se estabeleceu através da Constituição Federal de 1988, sendo regulamentado na Lei Federal nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, que dispõe sobre a organização eregulação das ações de saúde, e na Lei Federal nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que trata do financiamento da saúde e da participação popular. A promulgação da Lei Orgânica da Saúde (LOS)– Lei Federal nº 8.080, de 19 de setembro de 1990 - dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Após sua implementação, o SUS continuou avançando em sua atuação, principalmente através dos programas Saúde da Família, Farmácia Popular e Samu, serviços implantados através do SUS. Embora o SUS seja um instrumento importantíssimo para a promoção de saúde na perspectiva do Estado do bem-estar social, há ainda grandes melhorias a serem realizadas, conforme aponta o estudo de Almeida (2013, p. 6-7): A curto, médio e longo prazo, o SUS tem diversos desafios, sobretudo por precisar de mais recursos e da otimização do uso do dinheiro público. Atualmente é investido o dobro de recursos na doença (internações, cirurgias, transplantes) do que nas ações básicas de saúde (vacinas e consultas) que 18 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade I previnem a doença. Segundo ainda o Ipea, os problemas mais frequentes são a falta de médicos (58,1%), a demora para atendimento em postos, centros de saúde ou hospitais (35,4%) e a demora para conseguir uma consulta com especialistas (33,8%). De fato, trata-se de problemas crônicos de saúde pública no Brasil, devidos, em grande parte, a uma lógica que especialistas definem como imediatista e “hospitalocêntrica”. A ela deve substituir-se um sistema que priorize a Atenção Primária, o diagnóstico precoce e o trabalho de prevenção. Uma solução recomendada pela ONU desde 1978 (Declaração de Alma-Ata, da OMS, 1978) e já delineada na Lei Orgânica da Saúde nº 8.080, de 1990 (Brasil, 1990), que propunha uma rede de saúde descentralizada e hierarquizada, cujo polo coordenador deveria ser as Unidades Básicas de Saúde. Isso porque, afirma o documento da OMS, 80% dos problemas de saúde da população poderiam ser resolvidos por meio de uma atenção básica de qualidade. As figuras a seguir evidenciam as demandas de atendimento na atenção básica e os desafios no atendimento: Acolhimento, lista de problemas e diagnósticos População com demandas População com necessidades Barreiras ao acesso Cobertura populacional Carteira de serviços Custos de oportunidade Barreiras financeiras Barreiras culturais Barreiras geográficas Demanda por condições gerais e inespecíficas Demanda por pessoas hipertilizadoras Demanda por atenção domiciliar Demanda por autocuidado apoiado Demanda por condições crônicas agudizadas Demanda por enfermidades Demanda por atenção preventiva Demanda por condições agudas Demanda por condições crônicas não agudizadas Demanda administrativa Figura 5 – Demandas na APS na estruturação das respostas sociais 19 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PRÁTICA GERENCIAL EM SAÚDE COLETIVA Quadro 4 – Desequilíbrio entre as estruturas da oferta e da demanda na APS Estrutura da demanda Estrutura da oferta Por condições agudas Consultas médicas Por condições crônicas agudizadas Consultas de enfermagem Por condições gerais e inespecíficas Trabalhos em grupo Por condições crônicas não agudizadas Vacinação Por enfermidades Rastreamento de câncer de colo do útero Por pessoas hiperutilizadoras Visitas domiciliares Demandas administrativas Dispensação de medicamentos Por atenção preventiva Solicitação, coleta ou realização de exames Por atenção domiciliar Fornecimento de atestados médicos Por autocuidado apoiado Fonte: Conass (2015, p. 36). Como se dá a hierarquização do SUS? De acordo com Finkelman (2002), o principal órgão que sistematiza o SUS é o Ministério da Saúde (MS), que atua como interlocutor técnico das esferas estaduais e municipais, é de sua competência realizar o planejamento, o controle, a avaliação e a auditoria à estratégia nacional que viabiliza o SUS. É função do MS promover em específico a descentralização do SUS junto às demais autarquias, realizar a coordenação de serviços assistenciais de alta complexidade, redes nacionais de laboratórios, de sangue e hemoderivados em nível nacional. É também responsabilidade do MS regular as práticas do setor privado, prestador de serviços em saúde. A figura a seguir ilustra a organização hierárquica do SUS: Conselho Nacional Ministério da Saúde Comissão Tripartite Estados: Conass Conselho Estadual Secretarias estaduais Comissão Bipartite Municípios: Conasems Conselho Municipal Secretarias municipais Colegiado de gestão regional Municípios: Cosems Colegiado participativo Nacional Estadual Municipal Regional Gestor Comissões de intergestores Representações de gestores Figura 6 20 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade I O quadro a seguir apresenta as principais atribuições de cada esfera de gestão: Quadro 5 – Atribuições de cada esfera de gestão Esfera Atribuições União Coordenar os sistemas de saúde de alta complexidade e laboratórios públicos. O MS planeja e fiscaliza o SUS em todo o país e responde pela metade dos recursos da área; a verba é prevista anualmente no Orçamento Geral da União. Estados Criar suas próprias políticas de saúde e ajudar na execução das políticas nacionais aplicando recursos próprios (mínimo de 12% de sua receita), além dos repassados pela União. Coordenar sua rede de laboratórios e hemocentros, definir os hospitais de referência e gerenciar os locais de atendimentos complexos da região. Repassar verbas aos municípios. Municípios Garantir os serviços de atenção básica à saúde e prestar serviços em sua localidade, com a parceria dos governos estadual e federal. Criar políticas de saúde e colaborar com a aplicação das políticas nacionais e estaduais, aplicando recursos próprios (mínimo de 15% de sua receita) e os repassados pela União e pelo Estado. Devem organizar e controlar os laboratórios e hemocentros. Administrar os serviços de saúde da cidade, mesmo os mais complexos. Distrito Federal Acumulam-se as competências estaduais e municipais, aplicando o mínimo de 12% de sua receita, além dos repasses feitos pela União. Adaptado de: Portal Brasil (2014). Confira no quadro a seguir as principais legislações e regulamentações do SUS: Quadro 6 Instrumentos legais Teor Constituição Federal Arts. 196 a 200. Lei no 8.080, de 19/9/90 Lei Orgânica da Saúde, que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes, e outras providências. Lei nº 8.142, de 28/12/90 Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde, e outras providências. Portaria no 2.203, de 5/11/96 Aprova a Norma Operacional Básica (NOB 01/96), que redefine o modelo de gestão do SUS. Lei no 9.836, de 23/9/99 Acrescenta dispositivos à Lei no 8.080. Emenda Constitucional nº 29, de 13/9/2000 Altera os arts. 34, 35, 156, 160, 167 e 198 da Constituição Federal e acrescenta artigo ao Ato das Disposições Constitucionais Transitórias para assegurar os recursos mínimos para o financiamento das ações e serviços públicos de saúde. Portaria no 373, de 27/2/2002 Aprovar, na forma do Anexo dessa Portaria, a Norma Operacional da Assistência à Saúde – Noas-SUS 01/2002. Lei no 10.424, de 15/4/2002 Acrescenta capítulo e artigo à Lei nº 8.080. Lei no 11.108, de 7/4/2005 Altera a Lei no 8.080. Resolução no 399, de 22/2/2006 Divulga o Pacto pela Saúde 2006 – Consolidação do SUS – e aprova as diretrizes operacionais do referido pacto. Decreto nº 7.508/2011 – ContratoOrganizativo da Ação Pública da Saúde (Coap) Regulamenta a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, para dispor sobre a organização do SUS, o planejamento da saúde, a assistência à saúde e à articulação interfederativa, e dá outras providências. 21 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PRÁTICA GERENCIAL EM SAÚDE COLETIVA Saiba mais O Ministério da Saúde tem uma publicação intitulada o SUS de A a Z, que esclarece com detalhes o sistema de saúde. Acesse: BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde. O SUS de A a Z: garantindo saúde nos municípios. Brasília: Ministério da Saúde, 2009c. Disponível em: <http://bvsms.saude. gov.br/bvs/publicacoes/sus_az_garantindo_saude_municipios_3ed_ p1.pdf>. Acesso em: 27 ago. 2018. 1.2 Lei Orgânica da Saúde (LOS) Promulgada em 19 de setembro de 1990, a Lei no 8.080, conhecida como LOS, dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes, e dá outras providências, a saber (BRASIL,1990a): Art. 1º Esta lei regula, em todo o território nacional, as ações e serviços de saúde, executados isolada ou conjuntamente, em caráter permanente ou eventual, por pessoas naturais ou jurídicas de direito Público ou privado. § 2º O dever do Estado não exclui o das pessoas, da família, das empresas e da sociedade. Art. 3o Os níveis de saúde expressam a organização social e econômica do País, tendo a saúde como determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a atividade física, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais. Parágrafo único. Dizem respeito também à saúde as ações que, por força do disposto no artigo anterior, se destinam a garantir às pessoas e à coletividade condições de bem-estar físico, mental e social. DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE: Art. 4º O conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da Administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público, constitui o Sistema Único de Saúde (SUS). 22 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade I § 1º Estão incluídas no disposto neste artigo as instituições públicas federais, estaduais e municipais de controle de qualidade, pesquisa e produção de insumos, medicamentos, inclusive de sangue e hemoderivados, e de equipamentos para saúde. § 2º A iniciativa privada poderá participar do Sistema Único de Saúde (SUS), em caráter complementar. A LOS foi o principal marco jurídico sobre a regulamentação da saúde no Brasil, é através dela que todas as ações de implementação são realizadas. Ela é bem abrangente e determina o caráter inclusivo da política de bem-estar social do SUS. Contudo, como podemos constatar no art. 4º, parágrafo 2º, esse dispositivo legal permite a participação da iniciativa privada no país, em caráter complementar, e também que os serviços públicos possam fazer acordos para o atendimento da população comprando os serviços da iniciativa privada. Essa ação pode ser considerada uma forma de sucateamento do SUS ao não melhorar as condições de atendimento nas instituições de saúde pública, que vão poder servir de forma indefinida à população e fazer acordos temporários, por meio das parcerias público-privadas, que podem ser muito lucrativas à iniciativa privada, como ocorreu principalmente na época da ditadura militar, em que as ações oferecidas pela iniciativa pública eram bem limitadas à população, mas com um aporte de recursos e benefícios amplos à iniciativa particular, que resultou no seu crescimento exponencial no país, enquanto os dados epidemiológicos da saúde da população eram precários, sem melhoras significativas nas condições sanitárias. Saiba mais Para se aprofundar relação da iniciativa privada com o financiamento público e compreender melhor o cenário atual, acesse: SARRETA, F. de O. As políticas públicas de saúde. São Paulo: Editora Unesp, 2009. Outro aspecto importante que foi determinado na LOS foram os princípios do SUS, que retratam de forma clara o conceito de saúde pública que se pretende, como resultado do intenso processo que foi a Reforma Sanitária. Os princípios do SUS se dividem em doutrinários (universalidade; integralidade; equidade e solidariedade) e, organizacionais (controle social; descentralização; regionalização/hierarquização; racionalização e resolutividade). Eles revelam uma proposta de saúde ampla, voltada para a epidemiologia social. Os doutrinários atendem toda a população (universalidade), independentemente de os usuários dos serviços de saúde estarem na economia formal; as ações de saúde são realizadas desde os níveis considerados simples até o atendimento em casos mais complexos (integralidade). Levam também 23 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PRÁTICA GERENCIAL EM SAÚDE COLETIVA em consideração atender as pessoas de formas diferentes, pois os ciclos de vida não são iguais, e, consequentemente, os agravos na saúde também não serão. A equidade é um princípio de justiça social, pois propõe que seja atendido o diferente de forma diferente, para que todas as pessoas possam ser atendidas de forma melhor, por isso temos implantadas políticas de saúde voltadas a grupos diversificados - mulher, homem, criança, idoso, população indígena, população negra - como forma de atender esse princípio. O Contrato Organanizativo da Ação Pública da Saúde (Coap) trouxe o princípio da solidariedade, que é expresso pelo compartilhamento das responsabilidades de saúde e pelos três entes federados: união, estados e municípios. Quanto aos princípios organizacionais, temos garantido o controle social (ou participação popular) como forma de integrar as ações de saúde com a comunidade na qual as instituições se inserem. Além da instalação de ouvidorias, esse princípio é extremamente importante, pois se bem desenvolvido poderá levar ao empoderamento dos usuários sobre as condições de sua saúde. Essa ação, de fato, poderá trazer impactos significativos na promoção, prevenção, tratamento, cura e reabilitação em saúde. A descentralização e a regionalização/hierarquização são princípios que estão interligados, que levam a saúde para perto da comunidade, nos bairros, onde as ações de saúde devem ser planejadas de acordo com os dados epidemiológicos locais. Além de ser mais cômodo ao usuário o atendimento próximo a sua residência, esse princípio otimiza o planejamento das ações de saúde para o gestor, organizando os fluxos de atendimento e os encaminhamentos para outros serviços de acordo com o grau de complexidade, quando se fizerem necessários. A racionalização e a resolutividade deixam clara a proposta de ter uma saúde que seja eficiente, eficaz e efetiva. Independentemente de ser a saúde pública, o agravo e/ou a situação de saúde devem de fato ser resolvidos pelo serviço de saúde, e, para tal, deve haver uma racionalização nos custos, pois o País tem uma população enorme e com uma cobertura abrangente determinada pelos princípios da universalidade e integralidade. Saiba mais Para conhecer melhor o Decreto Presidencial nº 7.508 para regulamentar a LOS (Lei no 8.080/90), acesse: BRASIL. Ministério da Saúde. O Contrato Organizativo da Ação Pública da Saúde (Coap). Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Departamento de Articulação Interfederativa. Coordenação-Geral de Contratualização Interfederativa. Brasília: Ministério da Saúde, 2013d. Disponível em: <http:// portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2014/novembro/13/COAP.pdf>. Acesso em: 30 ago. 2018. 24 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e dod ia gr am ad or - d at a Unidade I Observação Cidadania é o direito de ter direitos, como o direito à vida, à liberdade, à igualdade e à saúde. O cidadão participa da vida em comunidade e segue os deveres para o bem comum. 1.3 Determinação social do processo saúde-doença Para compreendermos o que é saúde, muitas vezes pensamos em identificar o seu antagonista: a doença. Mas será que a saúde é apenas a ausência da doença? Para a OMS, desde 1947 essa compreensão não se limita à ausência da doença, pois o que determina a saúde é um estado completo de bem-estar físico, mental e social, não se restringindo à ausência de doenças ou enfermidades. Esse conceito de saúde não é tão simples de ser alcançado, na atualidade pode ser até considerado utópico, por isso os estudiosos do tema têm trabalhado com a questão da qualidade de vida, que é um conceito mais amplo e subjetivo, englobando várias concepções do processo saúde-doença. De acordo com Sanino (2013), definições mais práticas de saúde e doença tornam-se necessárias, e o desenvolvimento de critérios para determinar a presença de uma doença requer a definição de “normalidade” e “anormalidade”. Nesse sentido, pode ser difícil definir o que é normal e, frequentemente, não há uma clara distinção entre normal e anormal, especialmente quando são consideradas as variáveis contínuas com distribuição normal que podem estar associadas a diversas doenças. O conceito de saúde adotado no país foi expresso na Constituição Federal de 1988, no art. 196: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação” (BRASIL, 1988). Sanino (2013) enfatiza que essa definição de saúde não aborda qual, de fato, seria o conceito de saúde. Contudo, a concepção avança no sentido de enfatizar os mecanismos para consegui-la, por meio da adoção de medidas nas esferas dos cuidados primários de saúde, que vão diretamente ao encontro das aplicações da epidemiologia na saúde da população. Diversos estudiosos evidenciaram que não existe um pensamento de saúde separada da doença, e sim um complexo processo saúde-doença, que envolve várias manifestações da população, sendo um campo propício para a atuação da saúde pública. Dessa forma, o que surge é um conceito ampliado de saúde, que engloba todas as manifestações sociais. Dessa forma, a saúde não é a mera ausência da doença, e sim a garantia de acesso a serviços de saúde e condições dignas de vida, saúde é ter qualidade de vida, significa ter uma vida digna e saudável. Para compreender o processo saúde-doença é imprescindível que sejam considerados os aspectos sociais que envolvem o indivíduo e que a população seja olhada de maneira analítica, pois o meio 25 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PRÁTICA GERENCIAL EM SAÚDE COLETIVA ambiente é também condicionante importante do processo saúde-doença. Em um estudo sobre a evolução da enfermagem e o processo saúde-doença no Brasil, Ruben (2008) se debruçou sobre a participação da enfermagem, visto que são esses profissionais que possuem uma imensa flexibilidade de atuação nas diversas áreas hospitalares, da admissão de pacientes à gestão hospitalar. Nesse estudo, a pesquisadora se atém à dinâmica da enfermagem em desenvolver suas atividades ora na atuação hospitalar, ora na saúde coletiva, e conclui: O que se desvelou nesse estudo é que hoje os rumos que a Enfermagem vem tomando em sua história se relacionam diretamente com as políticas de saúde que vêm sendo adotadas ao longo dos anos no país. Com este estudo passei a perceber que a situação atual da Enfermagem se vincula diretamente com o seu passado histórico. Muitos acontecimentos relacionados às políticas de saúde ocorrem no país e influenciaram a profissão e a classe de enfermeiros, que ora estiveram voltados para a atuação hospitalocêntrica, curativista, ora estiveram voltados para a saúde preventiva, ou seja, de saúde coletiva. Essa flexibilidade da Enfermagem de se voltar mais fortemente para uma área e depois para outra acaba influenciando também a formação dos enfermeiros, e o que se percebe, até então, é que as universidades não vêm contrabalançando o tipo de ensino, ora elas se voltam muito para o ensino curativista, dentro dos hospitais, ora elas se voltam para a atenção preventiva (RUBEN, 2008, p. 61). No sentido de compreender melhor os aspectos que estão envolvidos no processo saúde-doença, apresentamos a figura a seguir: Fatores socieconômico, cultural, político e ambiental Incluindo: – Globalização – Urbanização – Envelhecimento populacional Fatores de risco intermediários Elevação da pressão sanguínea Elevação da glicemia Sobrepeso/obesidade Principais doenças crônicas Doença cardíaca Acidene vascular cerebral Câncer Diabetes Doença respiratória crônica Fatores de risco comuns modificáveis Tabagismo Consumo abusivo de álcool Dieta não saudável Fatores de risco comuns não modificáveis Idade Sexo Dieta não saudável Hereditariedade Figura 7 Para se aprofundar nessas questões, que são também uma preocupação internacional, em março de 2005, a OMS criou a Comissão sobre Determinantes Sociais da Saúde (Commission on Social Determinants of Health – CSDH). Após um ano, por meio de um decreto presidencial, foi criada no Brasil a Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS) com um mandato de dois anos (CNDSS, 2008). 26 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade I Diversos estudiosos sobre o tema e principalmente sobre os impactos das iniquidades trouxeram modelos explicativos sobre as relações entre os vários níveis de determinantes sociais e a situação de saúde. Entre esses modelos, a CNDSS resolveu adotar o de Dahlgren e Whitehead (1991), que serve de base para orientar a organização de suas atividades (CNDSS, 2008). A figura a seguir é o modelo de determinação social da saúde proposto por Dahlgren e Whitehead (1991). Co nd içõ es s ocio econô micas, culturais e ambientais gerais Es tilo de v ida dos indivíduos Re des socia is e comunitárias Produção agrícola e de alimentos Educação Ambiente de trabalho Desemprego Habitação Água e esgoto Serviços sociais de saúde Condições de vida e de trabalho Idade, sexo e fatores hereditários Figura 8 Saiba mais Para conhecer os outros modelos determinantes, recomendamos a leitura do texto A conceptual framework for action on the social determinants of health. COMMISSION ON SOCIAL DETERMINANTS OF HEALTH. A conceptual framework for action on the social determinants of health. 2007. Disponível em: <http://www.who.int/social_determinants/resources/csdh_ framework_action_05_07.pdf>. Acesso em: 27 ago. 2018. O modelo de Dahlgren e Whitehead inclui os Determinantes Sociais da Saúde (DSS) dispostos em diferentes camadas, segundo seu nível de abrangência e importância. Na camada mais próxima ao centro do modelo estão os determinantes individuais, até chegar a camada distal, em que se encontram os macrodeterminantes, que estão relacionados às decisões políticas. Os indivíduos estão na base do modelo, com suas características individuais de idade, sexo e fatores genéticos, que exercem influência sobre seu potencial e suas condições de saúde (CNDSS, 2008). 27 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PRÁTICA GERENCIAL EM SAÚDE COLETIVA Na camada imediatamente externa, aparecem o comportamento e os estilos de vida individuais, essa camada está situada no limiar entre os fatores individuais e os DSS, já que os comportamentos dependem não apenas de opções feitas pelo livre-arbítrio das pessoas, mas também de DSS,como, por exemplo, acesso a informações, propaganda, influência dos pares, alimentos saudáveis e espaços de lazer (CNDSS, 2008). A camada seguinte destaca a influência das redes comunitárias e de apoio, que são de fundamental importância para a saúde da sociedade como um todo. No próximo nível estão representados os fatores relacionados a condições de vida e de trabalho, a disponibilidade de alimentos e o acesso a ambientes e serviços essenciais, como saúde e educação, indicando que as pessoas em desvantagem social apresentam diferenciais de exposição e de vulnerabilidade aos riscos à saúde como consequência de condições habitacionais inadequadas, exposição a condições mais perigosas ou estressantes de trabalho e acesso menor aos serviços públicos. E no último nível, estão situados os macrodeterminantes, que possuem grande influência sobre as demais camadas e estão relacionados às condições econômicas, culturais e ambientais da sociedade, incluindo também determinantes supranacionais, como o processo de globalização (CNDSS, 2008). A CNDSS, em abril de 2008, apresentou seu relatório final com uma síntese da situação de saúde no país compreendida nos itens apresentados no quadro a seguir: Quadro 7 – Elementos de análise da situação de saúde no país pela CNDSS Áreas Aspectos Tendências da evolução demográfica, social e econômica Traça panorama geral da situação de saúde, descrevendo a evolução desses macrodeterminantes, particularmente nas últimas quatro décadas. Inclui dados sobre crescimento populacional, fecundidade, mortalidade, migrações, urbanização, estrutura do mercado de trabalho, distribuição de renda e educação. Estratificação socioeconômica e a saúde Apresenta a situação atual e tendências da situação de saúde no país, destacando as desigualdades de saúde segundo variáveis de estratificação socioeconômica, como renda, escolaridade, gênero e local de moradia. Condições de vida, ambiente e trabalho Apresenta as relações entre situação de saúde e condições de vida, ambiente e trabalho, com ênfase nas relações entre saneamento, alimentação, habitação, ambiente de trabalho, poluição, acesso à informação e serviços de saúde e seu impacto nas condições de saúde dos diversos grupos da população. Redes sociais, comunitárias e saúde Inclui evidências sobre a organização comunitária e redes de solidariedade e apoio para a melhoria da situação de saúde, destacando particularmente o grau de desenvolvimento dessas redes nos grupos sociais mais desfavorecidos. Comportamentos, estilos de vida e saúde Inclui evidências existentes sobre condutas de risco, como hábito de fumar, alcoolismo, sedentarismo, dieta inadequada etc., segundo os diferentes estratos socioeconômicos da população. Saúde materno-infantil e saúde indígena Por sua importância social e por apresentarem necessidades específicas de políticas públicas, são dedicadas seções especiais sobre saúde materno-infantil e saúde indígena. Adaptado de: CNDSS (2008). A seguir serão apresentados alguns gráficos com informações relevantes sobre os DSS, fruto do trabalho minucioso de análise da CNDSS: 28 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade I 9,00 8,00 7,00 6,00 5,00 4,00 3,00 2,00 1,00 0,00 19 00 19 40 19 80 20 20 19 10 19 50 19 90 20 30 19 20 19 60 20 00 20 40 19 30 19 70 20 10 20 50 Itália Brasil França Figura 9 – Taxa de fecundidade total: Brasil, França e Itália (1900 a 2050) 1940 0 50.000.000 100.000.000 150.000.000 Po pu la çã o 200.000.000 250.000.000 300.000.000 1960 1980 2000 2020 20401950 1970 Anos 1990 2010 2030 2050 Grupos etários 0-14 15-64 65+ Total Figura 10 – População total, segundo grandes grupos etários: Brasil (1940 a 2050) 29 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PRÁTICA GERENCIAL EM SAÚDE COLETIVA 12 4, 0 180 160 120 80 40 0 140 100 % 60 20 Brasil Norte 1960 1990 2000 2006 Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste 48 ,3 35 ,3 25 ,1 25 ,83 4, 7 44 ,6 12 2, 9 16 4,1 74 ,3 56 ,1 36 ,9 18 ,324 ,13 3, 6 11 0, 0 96 ,0 27 ,4 22 ,2 16 ,7 11 5, 0 31 ,2 24 ,7 19 ,5 Figura 11 – Evolução da mortalidade infantil: Brasil e Regiões (1960-2006) 80 50 20 70 40% 10 60 30 24,3 Sem instrução e menos de 1 ano 1 a 3 anos 4 a 7 anos 8 a 10 anos 11 a 14 anos 15 ou mais 34,4 42,0 45,9 51,5 68,1 0 Figura 12 – Proporção (%) de mulheres de 25 anos ou mais de idade que já realizaram alguma vez exame de mamografia, por anos de estudo: Brasil (2003) 30 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade I 56,8 72,6 81,5 87,0 87,9 93,1 Sem instrução e menos de 1 ano 1 a 3 anos 4 a 7 anos 8 a 10 anos 11 a 14 anos 15 ou mais 100 90 80 70 60 50% 40 30 20 10 0 Figura 13 – Proporção (%) de mulheres de 25 anos ou mais de idade que realizaram alguma vez exame preventivo para câncer de colo uterino, por anos de estudo: Brasil (2003) Com a análise das informações apresentadas, podemos concluir que nas últimas três décadas o Brasil experimentou sucessivas transformações nos determinantes sociais das doenças, o que levou a uma melhora significativa dos indicadores de saúde, porém essa melhora foi constatada de forma divergente entre as classes sociais, ampliando a desigualdade já acentuada pelas diferenças regionais e sociais. Essa divergência pode ser observada da seguinte forma: nas regiões onde os grupos sociais são privilegiados economicamente, a melhoria dos indicadores de saúde foi acompanhada (SANINO, 2013). Nessa perspectiva, na atualidade, compreende-se que a promoção da saúde é um dos pilares do SUS, e nesse sentido a formação do profissional enfermeiro deve estar também voltada a uma forte ênfase na compreensão dos determinantes sociais da saúde, para que, de fato, dentro de sua área de formação possa atuar de forma a auxiliar os usuários dos serviços de saúde a manter um padrão elevado de saúde. Figura 14 31 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PRÁTICA GERENCIAL EM SAÚDE COLETIVA 1.4 Modelos tecnoassistenciais para operacionalização do SUS O modelo tecnoassistencial para o gerenciamento da saúde se refere ao conjunto de iniciativas que uma sociedade elege para cuidar dos processos de saúde e doença de sua população, interligando os recursos humanos, tecnológicos e estruturais disponíveis para a aplicação do modelo escolhido. Para além das escolhas técnicas que conduzirão o processo de atenção à saúde, estes modelos tecnoassistenciais estão marcados por processos políticos e sociais em seu desenvolvimento, pois trata-se de uma convenção política com impactos sociais à condução da saúde pública (SILVA JÚNIOR; ALVES, 2007). No Brasil, percebemos que esse processo é bastante marcado em nossa historicidade, sendo possível perceber quais os modelos tecnoassistenciais foram aplicados em determinada época. A figura a seguir esquematiza os diversos fatores que estão envolvidos na escolha de um modelo tecnoassistencial em saúde. Visões/valores sobre direitos humanos e de cidadania Modelo assistencial em saúde Modelos de gestão e organização dos serviços Modos de gestão do trabalho e das equipes Diferentes necessidades de saúde face ao perfil epidemiológico e de morbimortalidade Grau de organização e valores orientadores de trabalhadores de saúde e usuários Corporativismo e diferente valorização social dos grupos profissionais Financiamento Conhecimentos acumulados e tecnologias disponíveis para o cuidado em saúde Cultura e subjetividade dos sujeitos: trabalhadores e usuários Paradigma de ciência e influência na produção de conhecimentos e organização dos serviços de saúde Arcabouço legislativo relativoao papel do Estado no setor saúde Macrocenário histórico-social Figura 15 Durante muitos anos foi instituído um modelo tecnoassistencial que privilegiava o corpo como um organismo, totalmente embasado em uma racionalidade científica cartesiana, que unido às forças do capital, passou a dominar e subjugar o corpo, baseado no modelo flexneriano. Este é amparado no 32 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade I controle de riscos, o que pressupôs a mudança de um modelo clínico que opera por procedimentos médicos de base flexneriana, considerado responsável pelo padrão de incorporação tecnológica de alto custo. Esse modelo também é chamado de biomédico hegemônico (SANINO, 2013). Nessa perspectiva, é comum o uso do termo medicalização, conceito que foi publicitado em 1975 pelo filósofo e teólogo austríaco Ivan Illich diz respeito à superutilização de dispositivos da medicina institucionalizada no âmbito da sociedade industrial, que resultaria em iatrogênese clínica, iatrogênese social e em iatrogênese estrutural (SANINO, 2013). É notável que o advento do SUS é um marco relevante para a criação do modelo tecnoassistencial que o Brasil aplica hoje em suas políticas de saúde, como tentativa de superar o reducionismo do modelo flexineriano e, também, atender aos seus princípios e diretrizes. Silva Júnior e Alves (2007) destacam que na década de 1990, após muitas relutâncias e até mesmo entraves governamentais ao processo de implantação do SUS, a alternativa para mudança do modelo hegemônico veio com a Estratégia de Saúde da Família (ESF). A disseminação dessa estratégia e os investimentos na chamada rede básica de saúde ampliaram o debate em nível nacional e trouxeram questões para a reflexão, como, por exemplo, a forma de organização e hierarquização das redes assistenciais, em que a ideia predominante envolve uma “imagem em pirâmide” para a atenção à saúde, bem como a ideia da “complexidade crescente” em direção ao topo. Nessa estrutura, o hospital está no topo, a rede básica de saúde age como a porta de entrada ao sistema de saúde. No planejamento espera-se que a pirâmide organize a assistência em graus crescentes de complexidade, com a população fluindo de forma organizada entre os vários níveis por meio de mecanismos formais de referência e contrarreferência. A figura a seguir apresenta essa proposta piramidal em níveis de complexidade da assistência: Nível terciário: atenção hospitalar (resolve cerca de 5% dos problemas de saúde) Nível secundário: centros de especialidades e serviço de apoio diagnóstico terapêutico (SADT) (resolve cerca de 15% dos problemas de saúde) Atenção básica: Unidades Básicas de Saúde e estratégia de saúde da família (resolve mais de 80% dos problemas de saúde) Figura 16 – Modelo da pirâmide: hierarquização e regionalização do SUS Observação No sistema de referência e contrarreferência, os problemas de saúde que não forem resolvidos no nível da atenção básica deverão ser referenciados para os serviços de maior complexidade tecnológica. 33 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PRÁTICA GERENCIAL EM SAÚDE COLETIVA Para melhor compreendermos como a ESF e o programa de atenção básica à saúde compõem o modelo tecnoassistencial, Fertonani et al. (2015) destacaram que a ESF está incorporada na Política Nacional da Atenção Básica (Pnab) e resgata referências internacionais, como o desenvolvimento conceitual dos cuidados primários de saúde e os ideais e experiências de medicina de família acumulados em países como o Canadá, Cuba, Suécia e Inglaterra, que consistem em um conjunto de estratégias formuladas na Conferência de Alma-Ata. Os cuidados primários de saúde foram assumidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como estratégia para atingir a meta de “saúde para todos no ano 2000”, como reconhecimento da importância de práticas culturais em saúde e, sobretudo, da utilização de modos de atenção resolutivos e a custos suportáveis pelos diversos países. Dessa forma, a ESF reafirma os princípios e diretrizes do SUS, prescrevendo uma assistência que seja integral e contínua às famílias e comunidades, em seu espaço social, entendidas e atendidas a partir do local onde vivem, trabalham e se relacionam. Por meio do desenvolvimento de ações multiprofissionais em uma perspectiva interdisciplinar, a construção de relações acolhedoras e de vínculo de compromisso e de corresponsabilidade entre os profissionais de saúde e a população da região de abrangência da unidade de saúde, intervindo sobre os fatores de risco, com ênfase nos aspectos epidemiológicos locais e na promoção da saúde (FERTONANI et al., 2015). O quadro a seguir evidencia as principais características da ESF como forma de trazer um novo modelo tecnoassistencial em saúde, rompendo com o reducionismo do modelo biomédico flexneriano para trazer uma assistência em saúde resolutiva e integral para a população em que as equipes da atenção básica se inserem. Quadro 8 – Principais características da Estratégia da Saúde da Família Modelo biomédico Saúde da Família Hegemônico nos serviços de saúde. Organização das práticas de saúde com foco nas queixas dos indivíduos que procuram os serviços na identificação de sinais e sintomas e no tratamento das doenças. A promoção da saúde não é prioridade. Surge em 1994 e passa a constituir-se em estratégia privilegiada para superação dos problemas decorrentes do modelo biomédico e efetivação dos princípios do SUS. Desenha um “novo modelo assistencial e saúde”, inspirado na Atenção Primária à Saúde (APS) ampliando a abordagem aos problemas de saúde. Articula ações de promoção da saúde, prevenção e tratamento de doenças, e reabilitação. Prioriza a assistência individual, com ênfase na especialização e no uso de tecnologias do tipo material. Organiza a assistência a partir da demanda espontânea. Propõe a atenção à saúde com foco na família, grupos e comunidades. O indivíduo é entendido como um ser histórico e social, que faz parte de uma família e de determinada cultura. Considera os determinantes de saúde – doença para o planejamento em saúde – e propõe promoção da autonomia e da qualidade de vida. O trabalho é desenvolvido de forma fragmentada, com predomínio de práticas hierarquizadas e de desigualdade entre as diferentes categorias profissionais. Prevê o trabalho em equipe multiprofissional, que deve atuar na perspectiva interdisciplinar. Apresenta dificuldade na implantação da integralidade, tanto no entendimento da multidimensionalidade do ser humano, quanto na integração entre níveis de atenção. Falta de comunicação e integração entre os serviços que compõem as redes. Resgata o conceito de integralidade, indicando a atenção básica como porta privilegiada de acesso, articulada aos demais níveis de atenção. Prevê a construção de uma rede integrada de serviços de saúde que atenda o conjunto das necessidades de assistência de indivíduos e populações. A relação entre os níveis de complexidade inclui referência e contrarreferência. 34 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade I Formação profissional e produção de conhecimento fundamentado no modelo flexneriano de 1910. Profissionais de saúde formados por currículos que pouco valorizam o SUS e o modelo da Saúde da Família. Reconhece a importância de formar recursos humanos para o SUS. O planejamento em saúde é pouco utilizado como ferramenta de gestão, e temas como vínculo e acolhimento não são priorizados. Assume como um dos eixos centrais das práticas a construção de relações acolhedoras e de vínculo de compromisso e de corresponsabilidade entre os profissionais de saúde, gestores e população. Fonte: Fertonani et al. (2015, p. 1874). Embora a ESF tenha alcançado impactos positivos emalguns municípios, ainda por vários motivos, principalmente pela questão do subfinanciamento atrelada a mudanças significativas no perfil epidemiológico da população, a estratégia ainda não conseguiu transformar a lógica de atendimento à atenção aguda, mesmo estando diante de uma condição crônica. O que temos ainda instaurado é um modelo assistencial baseado no hospital, o que acaba realizando uma superlotação nos setores especializados. O quadro a seguir apresenta as principais diferenças entre as condições agudas e crônicas: Quadro 9 Variável Condição aguda Condição crônica Início Rápido Gradual Causa Usualmente única Usualmente múltiplas Duração Curta Indefinida Diagnóstico e prognóstico Comumente acurados Usualmente incertos Testes diagnósticos Frequentemente decisivos Frequentemente de valor limitado Resultado Em geral, cura Em geral, cuidado sem cura Papel dos profissionais Selecionar e prescrever o tratamento Educar e fazer parceria com as pessoas usuárias Natureza das intervenções Centrada no cuidado profissional Centrada no cuidado multiprofissional e no autocuidado Conhecimento e ação clínica Concentrados no profissional médico Compartilhados pelos profissionais e pessoas usuárias Papel da pessoa usuária Seguir as prescrições Corresponsabilizar-se por sua saúde em parceria com a equipe de saúde Sistema de atenção à saúde Resposta reativa e episódica Resposta proativa e contínua Fonte: Oliveira (2016, p. 27). Mendes coloca que esse atendimento das condições crônicas, se fossem agudas, poderia levar a uma crise de atendimento nos sistemas de saúde. A figura descreve essa situação: 35 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PRÁTICA GERENCIAL EM SAÚDE COLETIVA UH UPA APS X Y B A TempoAPS: Atenção Primária à Saúde UPA: Unidade de Pronto-atendimento Ambulatorial UH: Unidade Hospitalar Figura 17 – Lógica da atenção às condições agudas aplicada às condições crônicas De acordo com Mendes (2012, p. 40-41): Esse gráfico mostra o curso hipotético da severidade de uma doença, em uma pessoa portadora de uma condição crônica. A região inferior, da base do gráfico até a linha A, representa, num determinado tempo, o grau de severidade da condição crônica que pode ser gerido rotineiramente pelas equipes de APS; o espaço entre a linha A e B representa, em determinado tempo, o grau de severidade da condição crônica que pode ser respondido por uma unidade de pronto-atendimento ambulatorial (UPA); e, finalmente, o espaço superior à linha B representa, em determinado tempo, o grau de severidade da condição crônica que necessita de pronto-atendimento numa unidade hospitalar (UH). Suponha-se que se represente a atenção a um portador de diabetes do tipo 2. Pela lógica da atenção às condições agudas, essa pessoa quando se sente mal, ou quando agudiza sua doença, busca o sistema e é atendida, na UPA (ponto X); num segundo momento, apresenta uma descompensação metabólica e é internada numa unidade hospitalar (ponto Y). Contudo, nos intervalos entre esses momentos de agudização de sua condição crônica não recebe uma atenção contínua, proativa e integral, sob a coordenação da equipe da APS. Esse sistema de atenção à saúde que atende às condições crônicas na lógica da atenção às condições agudas, ao final de um período longo de tempo, determinará resultados sanitários e econômicos desastrosos. O portador de diabetes caminhará, com o passar dos anos, inexoravelmente, para uma retinopatia, para uma nefropatia, para a amputação de membros inferiores, etc. A razão disso é que esse sistema só atua sobre as condições de saúde já estabelecidas, em momentos de manifestações clínicas exuberantes, autopercebidas pelos portadores, desconhecendo os determinantes sociais intermediários, os fatores de riscos biopsicológicos ou ligados aos comportamentos e aos estilos de vida e o 36 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade I gerenciamento da condição de saúde estabelecida, com base numa APS de qualidade. Essa forma de atenção voltada para as condições agudas, concentrada em unidades de pronto-atendimento ambulatorial e hospitalar, não permite intervir adequadamente nos portadores de diabetes para promover o controle glicêmico, reduzir o tabagismo, diminuir o sedentarismo, controlar o peso e a pressão arterial, promover o controle regular dos pés e ofertar exames oftalmológicos regulares. Sem esse monitoramento contínuo das intervenções sanitárias não há como controlar o diabetes e melhorar os resultados sanitários e econômicos dessas subpopulações portadoras de diabetes. Dessa forma, a ESF parece funcionar mais como um programa em razão do alto grau de normatização operado pelo MS. Nos municípios de pequeno e médio porte, a rede tende a cobrir o conjunto da população – dependendo das forças políticas –, contribui para a reorganização do sistema e funciona como porta de entrada. Nos municípios de grande porte ou nas metrópoles, a tendência predominante é focalizar suas ações na população de baixa renda, residente em comunidades carentes e áreas periféricas, o que parece ter se estruturado ao longo do tempo como um modelo de Atenção Primária à saúde, atendendo na lógica das condições agudas (SANINO, 2013). Em vista desse cenário de crise de atendimento no SUS, como forma de promover uma atenção em saúde resolutiva, surge a proposta das RAS. A figura a seguir apresenta essa nova proposta de estruturação de atendimento no SUS: Figura 18 – Mudança dos sistemas piramidais e hierárquicos para Redes de Atenção à Saúde De acordo com Alencar et al. (2012), o conceito das Redes não é novo e vem sendo discutido desde a década de 1920 na Inglaterra, passando a ser ponto de intensa discussão na agenda dos programas de saúde brasileiros a partir de 2006, com a aprovação do Pacto pela Saúde. O quadro a seguir sintetiza os principais conceitos sobre as RAS: 37 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PRÁTICA GERENCIAL EM SAÚDE COLETIVA Quadro 10 Box 2. Diferentes conceitos de Redes de Atenção à Saúde Organização Panamericana de Saúde: “Redes integradas de serviços de saúde, ou sistemas organizados de serviços de saúde, ou sistemas clinicamente integrados ou organizações sanitárias integradas podem ser definidas como uma rede de organizações que presta ou provê os arranjos para a prestação de serviços de saúde equitativos e integrais a uma população definida, e que se dispõe a prestar contas pelos seus resultados clínicos e econômicos, e pelo estado de saúde da população à qual ela serve”. Shortell et al.: “redes de organizações que prestam um contínuo de serviços a uma população definida e que se responsabilizam pelos resultados clínicos, financeiros e sanitários relativos a essa população”. Castells: “são novas formas de organização social, do Estado ou da sociedade, intensivas em tecnologia de informação e baseadas na cooperação entre unidades dotadas de autonomia”. WHO: é “a gestão e a oferta de serviços de saúde de forma a que as pessoas recebam um contínuo de serviços preventivos e curativos, de acordo com as suas necessidades, ao longo do tempo e por meio de diferentes níveis de atenção à saúde”. Mendes: “organizações poliárquicas de conjuntos de serviços de saúde, vinculados entre si por uma missão única, por objetivos comuns e por uma ação cooperativa e interdependente, que permitem ofertar uma atenção contínua e integral a determinada população, coordenada pela atenção primária à saúde – prestada no tempo certo, no lugar certo, com o custo certo, com a qualidade certa, de forma humanizada e com equidade – com responsabilidades sanitária e econômica e gerando valor para a população”. Fonte: Alencar et al. (2012, p.12). Desde 1920 até a atualidade, adotou-se oficialmente o conceito de que
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