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ATENÇÃO BÁSICA Prof.ª M.ª Quevellin Alves dos Santos Francisco Prof. Guilherme Bernardes Filho Diretor Presidente Prof. Aderbal Alfredo Calderari Bernardes Diretor Tesoureiro Prof. Frederico Ribeiro Simões Reitor UNISEPE – EaD Prof. Me. Anderson Martins da Silva Prof.ª M.ª Caroline das Neves Mendes Nunes Prof. Me. Fernando Henrique Ignácio Dos Santos Prof.ª M.ª Deise Aparecida. Carminatte Coordenador EaD de área Prof. Dr. Renato de Araújo Cruz Coordenador Núcleo de Ensino a distância (NEAD) Material Didático – EaD Equipe editorial: Fernanda Pereira de Castro - CRB-8/10395 Isis Gabriel Alves Laura Lemmi Di Natale Pedro Ken-Iti Torres Omuro Prof. Dr. Renato de Araújo Cruz – Editor Responsável Apoio técnico: Alexandre Meanda Neves Anderson Francisco de Oliveira Douglas Panta dos Santos Galdino Fabiano de Oliveira Albers Gustavo Batista Bardusco Kelvin Komatsu de Andrade Matheus Eduardo Souza Pedroso Vinícius Capela de Souza Revisão: Vinícius Guimarães Rodrigues Diagramação: Nikolas Fellipe de Morais SOBRE A AUTORA: Mestre em Enfermagem na Linha de Pesquisa "Gestão em Serviços de Saúde" na Universidade Federal de Alfenas - UNIFAL/MG. Especialista em Gestão Pública em Saúde pela Unicamp. Graduada em Enfermagem pela Universidade São Francisco - USF. SOBRE A DISCIPLINA: Estudo sobre o Sistema Único de Saúde (SUS) e as redes de atenção à saúde, com enfoque nos princípios e diretrizes do SUS e nos programas de saúde vigentes no Brasil. Os ÍCONES são elementos gráficos utilizados para ampliar as formas de linguagem e facilitar a organização e a leitura hipertextual. SUMÁRIO UNIDADE I .............................................................................................. 05 1º Contexto histórico do sistema único de saúde...................................... 05 2º Níveis de atenção em saúde............................................................ 14 3º Territorialização e redes de atenção à saúde....................................... 25 4º Ferramentas para organização da atenção em saúde............................ 37 UNIDADE II ........................................................................................... 49 5º Política nacional da atenção básica I................................................ 49 6º Política nacional da atenção básica II............................................... 62 7º Programa nacional de imunizações.................................................. 75 8º Programa de melhoria do acesso e qualidade na atenção básica........................................................................................... 90 UNIDADE III ........................................................................................ 102 9º Doenças Crônicas: fatores de risco e ações estratégicas.................. 102 10º Pré-natal de baixo risco e saúde da criança................................... 121 11º Cânceres do colo do útero e da mama; HIV-AIDS, Hepatites e outras DSTs; Saúde sexual e reprodutiva............................ 135 12º Práticas Integrativas e Complementares, determinação social do processo saúde-doença e grupos populacionais vulneráveis.................................................................................... 147 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................... 158 5 UNIDADE I CAPÍTULO 1 - CONTEXTO HISTÓRICO DO SUS No término deste capítulo, você deverá saber: ✓ Políticas de saúde; ✓ Sistema Único de Saúde (SUS); ✓ Princípios do SUS; ✓ Universalidade; ✓ Equidade; ✓ Integralidade; ✓ Princípios organizativos: descentralização, participação social, regionalização e hierarquização; ✓ Normas Operacionais Básicas (NOBs) e Norma Operacional de Assistência à Saúde (NOAS). Introdução No período de 1900 a 1964 basicamente é possível observar o interesse privado e do Estado em manter a saúde do trabalhador com o principal objetivo de não contrapor o desenvolvimento capitalista que vinha se fortalecendo no Brasil. Ninguém se comprometia em oferecer à população condições de manutenção da saúde. Bastava "curar" e reabilitar a pessoa para que seu estado de saúde não resultasse em ônus ao desenvolvimento econômico. Fica claro que aqueles que não integravam a parte "importante" do sistema eram excluídos e não tinham direito a saúde. Para manter a mão de obra, o Estado criou formas de evitar conflitos entre os trabalhadores, mas apenas para manter os trabalhadores operantes. O Estado fornecia assistência médica à população mediante a compra de serviços de corporações médicas privadas. O setor privado produzia medicamentos, aparelhos de ponta e os fornecia ao governo. Observa-se neste período grande interesse desses “manipuladores de saúde” no sistema previdenciário brasileiro, que crescia em arrecadação. O movimento em prol da saúde ocorreu tardiamente, quando já chegara o limite da supressão imposta à população da época. Quando se garante na Constituição o direito à saúde, a responsabilidade de oferta dos serviços de assistência à saúde passa para o Estado. O SUS é uma política social presente na vida de todos os brasileiros, direta ou indiretamente. Mais de 150 milhões de usuários são atendidos por ele. 1.1 Políticas de saúde Para se compreender melhor uma sociedade é preciso estudar as políticas de saúde. A forma como se dá a relação do Estado com os indivíduos no tocante ao bem-estar maior de todos, que é a vida, reflete o modelo de política social adotada – mesmo que nem sempre assumida – por esse Estado. 6 De acordo com Merhy (2014), é necessário o estudo da natureza das relações sociais estabelecidas no local e no tempo, bem como das opções políticas que se desenham pelas forças sociais. No Quadro 1 estão listados os marcos teóricos da Política de saúde no Brasil: Quadro 1: Marcos teóricos da Política de saúde no Brasil MARCOS TEÓRICOS DA POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL De 1500 1889 República Velha (1889) Início do Século XX Nenhum modelo de Atenção à Saúde Período marcado pelo Coronelismo e economia exportadora de café Com Oswaldo Cruz, combate à febre amarela Com a chegada da família real ao Brasil, houve uma primeira indução à Políticas Sanitárias mínimas: controle de navios e portos Necessidade crescente de melhorias sanitárias para preservação da “massa trabalhadora” Lei da vacinação compulsória Em 1789, existiam no Brasil apenas 4 médicos Primeiras ações de controle focal das enfermidades: febre amarela, peste, varíola Articulação do Conhecimento científico à Competência técnica e organização do processo de trabalho em saúde Forte vinculação religiosa para concepção da doença Empreendimentos ameaçados pelas doenças transmissíveis Pela compulsoriedade, estoura a Revolta da vacina Carlos Chagas sucede a Oswaldo Cruz e inova com o modelo Campanhista A preocupação do governo com o trabalhador no início do século XX se deu na perspectiva capitalista da produção, ou seja, o prejuízo causado pela ausência do doente nas lavouras e na incipiente atividade industrial colocava em risco o projeto capitalista nascente e, consequentemente, o projeto de poder das oligarquias. Da mesma forma, os portos, que representavam as vias de “drenagem” dessa produção necessitavam ser saneados. A construção das ferrovias – vias de distribuição – também representavam a preocupação, dado o grande número de mortes e epidemias que se deram nesses canteiros de obras. Em outras palavras, as ações de saúde, nessa época, não estavam focadas na seguridade dos indivíduos nem em direitos humanos, mas na missão de proteger a produção e as aspirações oligárquicas. 1.2 Sistema Único de Saúde (SUS) Com uma proposta universalista,resultante do Movimento da Reforma Sanitária, nasceu o SUS. Em agosto de 1990, o Congresso Nacional aprovou a Lei Orgânica de Saúde (LOS) (Lei 8.080) e em dezembro de 1990, a Lei 8.142 foi aprovada no Congresso Nacional, instituindo as Conferências e os Conselhos de Saúde como instâncias de Controle Social. O conjunto das leis 8.080 e 8.142 constitui a atual LOS. 7 O documentário "POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL: Um século de luta pelo direito à saúde" conta a história das políticas de saúde em nosso país, mostrando como ela se articulou com a história política brasileira, destacando os mecanismos que foram criados para sua implementação, desde as Caixas de Aposentadorias e Pensões até a implantação do SUS. Sua narrativa central mostra como a saúde era considerada, no início do século XX, um dever da população, com as práticas sanitárias implantadas autoritariamente pelo Estado, de modo articulado aos interesses do capital, e como, no decorrer do século, através da luta popular, essa relação se inverteu, passando a ser considerada, a partir da Constituição de 1988, um direito do cidadão e um dever do Estado. Toda essa trajetória é contada através de uma narrativa ficcional vivida por atores, com reconstrução de época, apoiada por material de arquivo. Para tornar a narrativa mais leve e atraente, o filme se vale da linguagem dos meios de comunicação dominantes em cada época, como o jornal, o rádio, a TV Preto e branco, a TV colorida e, por fim, a internet. O filme foi realizado por iniciativa da Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa, do Ministério da Saúde, em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde-OPAS e a Universidade Federal Fluminense/UFF. Clique o link https://www.youtube.com/watch?v=EOACL0yhxBU para abrir o vídeo. 1.3 Princípios do SUS O SUS tem princípios doutrinários e organizativos. Os doutrinários estão relacionados à filosofia do Sistema, personificam o conceito ampliado de saúde e o princípio do direito à saúde, enquanto os organizativos relacionam-se com sua operacionalização. Os princípios doutrinários devem nortear os organizativos e estes, por sua vez, orientar o funcionamento do Sistema. Princípios doutrinários Universalidade Integralidade Equidade Princípios organizativos Participação popular Regionalização Descentralização Hieraquização https://www.youtube.com/watch?v=EOACL0yhxBU 8 Artigo 198 define: “As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I. descentralização, com direção única em cada esfera do governo; II. Atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços essenciais; III. participação da comunidade. Parágrafo único. O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes” (BRASIL, 1988). 1.4 Universalidade Princípio doutrinário que traduz a saúde como um direito de cidadania. Através da universalidade, todos os cidadãos, independentemente de contribuição ou distinção de qualquer natureza, têm direito de acesso ao sistema. 1.5 Equidade Princípio que assegura a justiça no acesso dos cidadãos aos serviços. Significa entender que diante das diferenças, são necessárias ações e intervenções também diferentes a fim de que se possa atingir de forma positiva os que mais necessitam. Por definição seu objetivo é “assegurar ações e serviços de todos os níveis de acordo com a complexidade que cada caso requeira, more o cidadão onde morar, sem privilégios e sem barreiras” (BRASIL, 1990). É um princípio de justiça social. Se a estratificação social ocorre em função das desigualdades sociais, então há que se intervir de forma diferente entre os diferentes a fim de se buscar atenuar tais desigualdades. A equidade não significa, portanto, igualdade; mas ao contrário, traduz-se por intervenções diferenciadas que buscam compensar desigualdades. O acesso igualitário às ações e serviços de saúde é fundamental; no entanto, isso não é suficiente para atenuar as desigualdades nos modos de adoecer e morrer entre distintos grupos sociais. 1.6 Integralidade A integralidade é o princípio doutrinário mais intimamente ligado às práticas em saúde. Está embutido nos anseios da Reforma Sanitária uma vez que aborda a mudança paradigmática da saúde, propondo a substituição de práticas. Segundo esse princípio, a atenção ao indivíduo é um todo indissociável, em que as partes se integram. Também faz referência à organicidade do sistema. 9 Do ponto de vista conceitual, a integralidade foi assim detalhada: • cada pessoa é um todo indivisível e integrante de uma comunidade; • as ações de promoção, proteção e recuperação da saúde formam também um todo indivisível e não podem ser compartimentalizadas; • as unidades prestadoras de serviços, com seus diversos graus de complexidade, formam também um todo indivisível, configurando um sistema capaz de prestar assistência integral. 1.7 Princípios organizativos: descentralização, participação social, regionalização e hierarquização Em um país de dimensões continentais como o Brasil – onde quanto mais perto do fato (pessoa doente, agravo, epidemia, problemas, pessoas etc.) a decisão for tomada, mais chance haverá de acerto. Trata-se do princípio da descentralização. Por isso, redistribuíram-se as responsabilidades entre os entes federativos, redefinindo atribuições dos vários níveis de governo com um nítido reforço do poder municipal sobre a saúde, cabendo, inclusive, aos municípios a maior responsabilidade na promoção das ações de saúde diretamente voltadas aos seus cidadãos. Mas, se estamos tratando de um Sistema cujo berço é o da cidadania plena, então é necessário garantir a participação da sociedade na sua operacionalização. Dessa forma, instituiu-se como princípio organizativo a participação social, que deve se expressar tanto na elaboração, quanto no controle da execução das políticas de saúde. Essa participação deve se dar através dos Conselhos de Saúde, que devem ter representação paritária de usuários, governo, profissionais de saúde e prestadores de serviço. Além disso, são importantes fóruns de participação popular as Conferências de saúde. Sobretudo, faz parte desse princípio o dever de as instituições oferecerem as informações e conhecimentos necessários para que se estabeleça o posicionamento da população em relação aos assuntos que dizem respeito à sua saúde. Para que os princípios doutrinários possam ser cumpridos, é necessário ainda, que se conheça – o melhor possível – os problemas de saúde de cada população. Isso favorece ações de atenção ambulatorial e hospitalar em todos os níveis de complexidade. Consequentemente, tende a aumentar a resolutividade das ações e do sistema. Também em função da almejada resolutividade, é preciso oferecer a cada população todas as modalidades de assistência, bem como o acesso a todo tipo de tecnologia disponível. Para tanto, os serviços devem ser organizados em níveis de complexidade tecnológica crescente, dispostos numa área geográfica delimitada e com a definição da população a ser atendida. Trata-se da regionalização e hierarquização do sistema. 1.8 Normas Operacionais Básicas (NOBs) e Norma Operacional de Assistência à Saúde (NOAS) Diante dos princípios descritos, fica clara a vocação do SUS em ser um instrumento de cidadania, além de um poderoso sistema de inclusão social e de combate à desigualdade. Entretanto, a LOS por si só não poderia dar conta de todo o detalhamento necessário à operacionalização desse Sistema. Dessa forma, foi necessário criar as Normas Operacionais, elaboradas para dar conta dos inúmeros desafios operacionais quese revelavam, a maior parte relacionada ao financiamento do 10 Sistema. Assim surgiram as NOBs (Normas Operacionais Básicas) e NOAS (Norma Operacional de Assistência à Saúde). Investigue o que é o Pacto pela Saúde. Considerações Finais Antes do SUS, o Estado não ofertava saúde, apenas buscava formas de evitar prejuízos financeiros ao crescimento econômico do Brasil e não estava em momento nenhum pensando na saúde como um direito "humanitário" das pessoas. Na perspectiva histórica de evolução, descentralizar o atendimento é importante, porém, a julgar pelos exemplos que temos de saúde coletiva, percebe-se que um resultado mais satisfatório seria alcançado se o sujeito fosse responsável por manter sua saúde e se o atendimento estivesse focado na prevenção e promoção de bons hábitos de saúde. De acordo com Merhy (2014) ao tratarmos de saúde pública, é necessário o estudo da natureza das relações sociais estabelecidas no local e no tempo, bem como das opções políticas que se desenham pelas forças sociais. Os SUS surgiu como uma proposta universalista, resultante do Movimento da Reforma Sanitária. Em agosto de 1990, o Congresso Nacional aprovou a Lei Orgânica de Saúde (LOS) (Lei 8.080) e em dezembro de 1990 a Lei 8.142 foi aprovada no Congresso Nacional, instituindo as Conferências e os Conselhos de Saúde como instâncias de Controle Social. O conjunto das leis 8.080 e 8.142 constitui a atual LOS. O SUS tem princípios doutrinários e organizativos. Os doutrinários estão relacionados à filosofia do Sistema, personificam o conceito ampliado de saúde e o princípio do direito à saúde, enquanto os organizativos relacionam-se com sua operacionalização. Os princípios doutrinários devem nortear os organizativos, que, por sua vez, devem orientar o funcionamento do Sistema. A universalidade é o princípio doutrinário que traduz a saúde como um direito de cidadania. Pela universalidade, todos os cidadãos, independentemente de contribuição ou distinção de qualquer natureza, têm direito de acesso ao sistema. A equidade é princípio que assegura a justiça no acesso dos cidadãos aos serviços. A integralidade é o princípio doutrinário mais intimamente ligado às práticas em saúde e está embutida nos anseios da Reforma Sanitária quando esta trata da mudança paradigmática da saúde, propondo a substituição de práticas. Remete à atenção ao indivíduo como um todo indissociável, em que as partes se integram. Mas também remete à organicidade do sistema. Em um país de dimensões continentais como o Brasil – onde quanto mais perto do fato (da pessoa doente, do agravo, da epidemia, dos problemas, das pessoas, enfim) a decisão for tomada, mais chance haverá de acerto. Trata-se do princípio da descentralização. No entanto, se estamos tratando de um Sistema cujo berço é o da cidadania plena, então é necessário garantir a participação da sociedade na sua operacionalização. Assim, instituiu-se como princípio organizativo a participação social, que deve se expressar tanto na elaboração, quanto no controle da execução das políticas de saúde. Para que os princípios doutrinários possam ser cumpridos, é necessário ainda que se conheça – o melhor possível – os problemas de saúde de cada população. Isso favorece ações de atenção ambulatorial e hospitalar em todos os níveis de complexidade. Consequentemente, tende a aumentar a resolutividade das ações e do sistema. Também em função da almejada resolutividade, é preciso oferecer a cada população todas as modalidades de assistência, bem como o acesso a todo tipo de tecnologia disponível. Para tanto, os serviços devem ser organizados em níveis de complexidade tecnológica crescente, dispostos 11 numa área geográfica delimitada e com a definição da população a ser atendida. Trata-se da regionalização e da hierarquização do sistema. Livro: São Paulo de 1920 a 1940 - A Saúde Pública como Política. Os movimentos sanitários, os modelos tecnoassistenciais e a formação das políticas governamentais. Autor: Emerson Elias Merhy. Ano: 1ª edição 1990 e 2ª edição 2014. A primeira edição do livro foi publicada em 1990, quando o setor saúde, conforme o autor, (…) “está sendo contemplado por uma das maiores barbaridades que já se realizou neste país, com o seu campo de atuação, no âmbito governamental (…). O veto do Presidente, no fundo, teve como meta impedir o futuro, e procurou manter “presentificado” o nosso passado conservador, elitizado, mesmo que, com isso, mutile a imensa maioria dos brasileiros.” O principal objeto do estudo foi a busca da compreensão desse “mundo”, das decisões e formulações no campo das ações governamentais em saúde e revelar como a realidade do passado se faz ainda presente. (INEP – 2016) O Pacto pela Saúde, divulgado pelo Ministério da Saúde em 2006, teve como intuito consolidar o Sistema Único de Saúde (SUS) no país e apresenta três componentes: Pacto pela Vida, Pacto em Defesa do SUS e Pacto de Gestão. O Pacto de Gestão contribuiu para o fortalecimento da gestão compartilhada e solidária do SUS e é um compromisso público dos gestores com as necessidades de saúde da população e com os princípios do SUS. Considerando os princípios do Pacto de Gestão, avalie as afirmações a seguir, a respeito da gestão dos serviços de saúde do SUS. I. Os recursos devem ser alocados equitativamente conforme critérios determinados. II. O sistema de financiamento público deve ser tripartite: União, estados e municípios. III. Os sistemas devem ser organizados com base na territorialização da saúde. IV. A participação e o controle social devem ser estimulados. É correto o que se afirmar em a) I, apenas. b) I e IV, apenas. c) II e III, apenas. d) II, III e IV, apenas. e) I, II, III e IV. Resposta - As afirmativas corretas são I, II, III e IV. Letra E. 12 Questão Objetiva Os Princípios e Diretrizes do SUS garantem o acesso aos serviços de saúde a toda a população em condições de igualdade. Em algumas situações especiais, por exemplo em populações de risco, é fundamental estabelecer uma discriminação positiva nesses casos, com uma prioridade para quem tem mais necessidades. Essa condição caracteriza a: a) Equidade. b) Integralidade. c) Universalidade. d) Hierarquização. e) Regionalização. Resposta - a) Equidade. Questão Discursiva Quais são os Princípios do SUS? Explique. Resposta - O SUS tem princípios doutrinários e organizativos. Os doutrinários estão relacionados a filosofia do Sistema, personificam o conceito ampliado de saúde e o princípio do direito à saúde, ao passo que os organizativos relacionam –se com sua operacionalização. Os princípios doutrinários devem nortear os organizativos e estes, por sua vez, orientar o funcionamento do Sistema. Compulsoriedade: qualidade de compulsório, do que tem a capacidade de compelir, de obrigar; em que há obrigação ou de caráter obrigatório; obrigatoriedade. O Pacto pela Saúde teve o objetivo de promover inovações nos processos e instrumentos de gestão, visando alcançar maior eficiência e qualidade das respostas do Sistema Único de Saúde. Seus objetivos foram elencados e responsabilidades sanitárias e de gestão definidas por meio de três componentes: o pacto pela vida (PV), o pacto em defesa do SUS (PDSUS) e o pacto de gestão (PG) (BRASIL, 2006). 13 Brasil. Lei 8.080/90. Diário Oficial da União, Brasília, 19 de setembro de 1990. Brasil. Lei 8.142/90. Diário Oficial da União, Brasília, 28 de dezembro de 1990. Brasil. Presidência da República. Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília. 1988. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria no 399. Divulga o Pacto pela Saúde 2006 – Consolidação do SUS e aprova as Diretrizes Operacionais do Referido Pacto. Diário Oficial da União, 22 fev. 2006. Merhy EL. São Paulo de 1920 – 1940 – A Saúde Pública como Política. Os movimentossanitários, os modelos tecnoassistenciais e a formação das políticas governamentais. Editora Rede Unida. Coleção Clássicos da Saúde Coletiva. 2ªed. – Porto Alegre: Rede UNIDA, 2014. 14 UNIDADE I CAPÍTULO 2 - NÍVEIS DE ATENÇÃO EM SAÚDE No término deste capítulo, você deverá saber: ✓ Modelo de Atenção; ✓ Proposta de atendimento; ✓ Atenção Básica à saúde; ✓ Atributos da Atenção Primária à Saúde ✓ Média Complexidade no SUS; ✓ Alta Complexidade no SUS; ✓ Financiamento da saúde; ✓ Tecnologias em saúde. Introdução O SUS é visto por especialistas como um projeto inconcluso. Como é um dos maiores projetos públicos de inclusão social, ainda precisa avançar muito para realizar seu intento. Desde seu fundamento enfrenta problemas com financiamento, modelo organizacional, métodos de gestão. Para a reestruturação do sistema e a proximidade do que seria o ideal, um novo padrão de gestão seria necessário com ações de gestão de pessoas envolvendo o Estado. É preciso desmistificar a ideia de que o SUS foi feito para os “pobres”, enquanto aqueles com mais condição financeira são atendidos pelos planos de saúde. Uma das maneiras de alcançar o modelo de atenção ideal seria o investimento em gente, na força de trabalho, na descentralização da gestão com empoderamento da equipe, planejamento baseado em modelo de atenção, padronização da rotina dos serviços e investimento em informação em saúde. Um modelo contemporâneo de gestão de serviços de saúde deve ser implementado e, consequentemente, afastar o modelo atrasado médico-hospitalar, baseado em tratamento, guiado unicamente pelo poder econômico do complexo industrial na saúde. A tecnologia em saúde se refere à aplicação de conhecimentos com objetivo de promover a saúde, prevenir e tratar as doenças e reabilitar as pessoas. São exemplos de tecnologias em saúde: medicamentos, produtos para a saúde, procedimentos, sistemas organizacionais, educacionais, de informação e de suporte e os programas e protocolos assistenciais por meio dos quais a atenção e os cuidados com a saúde são prestados à população. As tecnologias em saúde estão presentes desde a prevenção de doenças até o tratamento e recuperação da saúde das pessoas. A utilização correta das tecnologias em saúde e a atualização constante das informações sobre elas são imprescindíveis para um maior benefício para os pacientes e também para os seus cuidadores e familiares. Brasil. Ministério da Saúde. Entendendo a Incorporação de Tecnologias em Saúde no SUS: como se envolver, Brasília: Ministério da Saúde, 2016. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/entendendo_incorporacao_tecnologias_sus_envolver.pdf. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/entendendo_incorporacao_tecnologias_sus_envolver.pdf 15 2.1 Modelos de Atenção Com a finalidade de aproximar-se dos problemas de saúde da população, o SUS é organizado por redes de serviços de maneira regionalizada e hierarquizada. Essa lógica de organização favorece as ações de vigilância sanitária, epidemiológica e direciona o acesso aos demais níveis de complexidade (SOLLA; CHIORO, 2008). Tal forma de organização pode ser entendida como um modelo de atenção que está relacionado com a forma de organizar as unidades de prestação de serviços de saúde, incluindo os estabelecimentos, redes e sistemas. Paim (2008) descreve outra forma de organização do processo de prestação de serviços: • atenção à demanda espontânea; • oferta organizada/ações programáticas; • vigilância da saúde, contemplando território, condições e modos de vida; • integralidade. Os modelos de atenção refletem combinações tecnológicas dispostas nos meios de trabalho. São a lógica que orienta e organiza os meios de trabalho (saberes e instrumentos) utilizados nas práticas de saúde (PAIM, 2008). Em sua obra, Mendes (2010, p. 2.302) define modelos de atenção como: Sistemas lógicos que organizam o funcionamento das redes de atenção à saúde, articulando, de forma singular, as relações entre a população e suas subpopulações estratificadas por riscos, os focos das intervenções do sistema de atenção à saúde e os diferentes tipos de intervenções sanitárias, definidos em função da visão prevalecente da saúde, das situações demográfica e epidemiológica e dos determinantes sociais da saúde, vigentes em determinado tempo e em determinada sociedade. Portanto, basicamente os modelos de atenção à saúde (Quando 2) podem ser voltados ao atendimento de condições agudas de saúde ou ao atendimento de condições crônicas de saúde. Quadro 2: Modelos Assistências e Vigilância em Saúde Modelo Sujeito Objeto Meios de trabalho Formas de organização Modelo médico- assistencial- privatista Médico com especialização complementariedade (paramédicos) Doença (patologia e outras) Doentes (clínica e cirurgia) Tecnologia médica (indivíduo) Rede de serviços de saúde Hospital Modelo Sanitarista Sanitaristas Auxiliares Modos de transmissão Fatores de risco Tecnologia sanitária Campanhas sanitárias Programas especiais Sistemas de vigilância epidemiológica e sanitária 16 Vigilância da saúde Equipe de saúde População (cidadãos) Danos, riscos, necessidades e determinantes dos modos de vida e saúde (condições de vida e trabalho) Tecnologias de comunicação social, de planejamento e programação local situacional e tecnologias médico – sanitárias Políticas públicas saudáveis Ações intersetoriais Intervenções específicas (promoção, prevenção e recuperação) Operações sobre problemas e grupos populacionais Fonte: TEIXEIRA, PAIM, VILAS BOAS; 1998. Estabelecimentos – unidades de produção de serviços. Redes – conjunto de estabelecimentos voltados à prestação de serviços comuns ou interligados mediante sistemas de referência e contrarreferência. Sistema – conjunto de instituições de saúde submetidas a leis e normas que regulam o financiamento, a gestão e a provisão dos serviços. 2.2 Proposta de atendimento Existe uma interação entre os níveis de atenção, mesmo com o modelo hierarquizado sendo o mais difundido e o cuidado à saúde está organizado em atenção básica, atenção de média complexidade e de alta complexidade. Nem sempre todos os níveis de atenção estão presentes em um território. Em pequenos municípios, por exemplo, existem acordos em que as prefeituras, por meio de consórcios, podem fornecer serviços e exames, atendendo uma microrregião e desta forma otimizar recursos e garantir o atendimento às necessidades da população. Entretanto, a atenção básica é prioritária, e deve operar em condição plena e com eficácia. Para ilustrar melhor, a Figura 1 apresenta o modelo de pirâmide hierarquizado e regionalizado do SUS. Figura 1: Modelo de pirâmide hierarquizado e regionalizado do SUS. Fonte: Adaptado de Mendes, 2011. Alta complexidade resolve 5% dos problemas de saúde Média complexidade resolve 15% dos problemas de saúde Atenção básica resolve mais de 80% dos problemas de saúde 17 Entendiam-se os níveis de atenção a partir da incorporação de tecnologias de saúde. Desta forma, a atenção básica, por não utilizar equipamentos de alta tecnologia, como tomógrafos, por exemplo, estaria apresentada como de baixa complexidade e teria procedimentos definidos na tabela de faturamento do SUS também de baixa complexidade. Já o atendimento hospitalar, pela necessidade de equipamentos e tecnologias complexas, é definido como de alta complexidade ou de atenção terciária. Para Mendes (2011), a atenção ambulatorial primária pode ser considerada complexa apesar de não utilizar equipamentos de alta tecnologia, por trabalhar diretamente com mudanças de hábitos dos pacientes, como no caso do tratamento de obesidade e hipertensão, que é bastante complexo, por exemplo. 2.3Atenção básica à saúde A porta de entrada no SUS. A atenção básica à saúde é também denominada de atenção primária à saúde. Neste nível de atenção, são empregadas tecnologias de baixa densidade capazes de atender à maioria dos problemas comuns de saúde da comunidade, porém sua organização, desenvolvimento e aplicação nem sempre são tão simples e exigem conhecimento profundo da realidade da população da sua região. Estruturalmente, o atendimento acontece em unidades básicas de saúde e pode ou não agregar o Programa Saúde da Família. Na atenção básica é feito o encaminhamento dos usuários para os atendimentos de média e alta complexidade. Seu papel é tão primordial ao sistema que é capaz de suprir 80% das necessidades da população de um município. Estratégia Saúde da Família: estratégia adotada pelo Ministério da Saúde como prioritária para a organização da atenção básica; é formada por equipe multiprofissional composta de médico, enfermeiro, cirurgião-dentista, auxiliar de consultório dentário ou técnico em higiene dental, auxiliar de enfermagem ou técnico de enfermagem e agente comunitário de saúde, entre outros. Acesse: https://aps.saude.gov.br/ape/esf/ A atenção primária inclui um rol de procedimentos menos complexos caracterizados por apresentarem tecnologia de baixa densidade. 2.4 Atributos da atenção primária à saúde De acordo com Starfield (2002), os atributos dividem-se em essenciais e derivados. Os essenciais são primeiro contato, longitudinalidade, integralidade e coordenação; e os derivados são foco na família, orientação comunitária e competência cultural. https://aps.saude.gov.br/ape/esf/ 18 2.5 Média Complexidade no SUS No âmbito do SUS, a média complexidade caracteriza-se por aquela que transcende a atenção básica e que não se configura como alta complexidade. É entendida como serviço de apoio ao diagnóstico e terapêutico de atenção especializada de menor complexidade tecnológica. Por funcionar sob demanda, muitas vezes estes serviços são desregulados. Um exemplo é o que acontece com as consultas médicas especializadas e procedimentos de patologia clínica e diagnóstico por imagem. Em muitos municípios existe uma articulação regional que não observa a necessidade de economia de escala, com serviços mal dimensionados para as necessidades da população que se tornam ociosos, custosos e inviáveis técnica e financeiramente. Primeiro contato •Acessibilidade •Uso de serviços para cada novo problema ou novo episódio de um problema para o qual se procura atenção à saúde Longitudinalidade •Existência de uma fonte continuada de cuidados pela equipe de saúde ao longo do tempo, em um ambiente de relação mútua de confiança e humanizada entre equipe, indivíduos e famílias Integralidade •Prestação, realizada pela equipe, de um conjunto de serviços que atendem às necessidades da populção adstrita nos campos da promoção, da prevenção, da cura, do cuidado, da reabilitação e dos cuidados paliativos, bem como a responsabilização pela oferta de serviços em outros pontos de atenção e o reconhecimento adequado dos problemas biológicos, psicológicos e sociais que causam doenças Coordenação •Capacidade de garantir a continuidade do cuidado e se articula com a função de centro de comunicação dos outros pontos de atenção Orientação familiar •Focaliza na família e se considera como o sujeito da atenção, e o conhecimento integral de seus problemas de saúde, utilizando as ferramentas de abordagem familiar Orientação comunitária •Reconhecimento das necessidades de saúde da comunidade em função do contexto físico, econômico e social, o que exige uma análise situacional das necessidades de saúde e a sua competência cultural; estabelecimento de uma relação horizontal entre a equipe e a população que respeite as singularidades culturais da população atendida, facilitando, assim, essa relação. 19 2.6 Alta Complexidade no SUS A alta complexidade no SUS é representada pelos procedimentos que abrangem alta tecnologia e alto custo. O objetivo é garantir que a população tenha acesso a serviços qualificados e integrados à atenção básica e de médica complexidade. Os procedimentos deste nível em sua maioria são aqueles ofertados pelos hospitais. Ainda no Brasil, perdura-se o modelo hospitalocêntrico. Os dados que representam a assistência hospitalar no contexto do setor de saúde impressionam tanto pelo volume de recursos despendidos quanto pela complexidade e extensão de seu atendimento, principalmente com hospitais prestadores de serviços ao SUS. O SUS financia a maior parte do atendimento hospitalar para a população pobre. 2.7 Financiamento da saúde Para a implantação do SUS, a maior dificuldade sempre foi a de um financiamento definido e suficiente para os investimentos na rede de serviços, à cobertura assistencial ambulatorial e hospitalar e às demais ações de saúde. A Constituição Federal de 1988 preocupou-se com a necessidade de criar fontes de financiamento capazes de garantir o atendimento das ações e serviços de saúde e impôs essa responsabilidade às três esferas de governo, devendo, cada qual, assegurar o aporte regular de recursos. No tocante ao financiamento do SUS, a Constituição definiu que: "O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes" (art. 198, § 1Q). O art. 195 da Constituição estabelece ainda que o financiamento da Seguridade Social é um dever imposto à toda a sociedade, de forma direta e indireta, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de contribuições sociais. De acordo com o princípio da diferenciação, previsto no § 1 Q do art. 195 da Constituição, "as receitas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios destinadas à seguridade social constarão dos respectivos orçamentos, não integrando o orçamento da União" (BRASIL, 1988). Vale salientar que sempre houve a necessidade de um detalhamento para operacionalizar o sistema, então o Ministério da Saúde editou a primeira NOB 01/91 (Norma Operacional Básica) e outras três foram publicadas posteriormente (NOB 92, 93, e 96) (Quadro 3). Quadro 3: Normas Operacionais Básicas e Norma Operação de Assistência à Saúde NOB 01/91 NOB 93 NOB 96 NOAS 2001 Institui o pagamento por produção Ativou as Comissões Intergestores Reeditou as modalidades: Plena de Atenção básica e Plena do sistema de Saúde Regionalização Há críticas por considerar o munícipio como mero prestador Criou modalidades de gestão Municipal: incipiente, parcial e semiplena Ativação do repasse fundo a fundo Responsabilização dos munícipios com ações estratégicas para a Atenção Básica 20 Em maio de 1993 houve suspensão de todos os repasses do SUS Considerada um salto na Municipalização Criação do APB fixo e variável Houve um Edição de uma Medida Provisória com empréstimo ao FAT para financiar a saúde 2.8 Tecnologias em saúde A expressão tecnologia pode ser definida como conhecimento aplicado. No caso da saúde, ela é o conhecimento aplicado que permite a prevenção, o diagnóstico e o tratamento das doenças, e a reabilitação de suas consequências, devendo ser compreendida como um conjunto de ferramentas, entre elas as ações de trabalho, que põem em movimento uma ação transformadora da natureza, ou seja, a tecnologia engloba não somente os instrumentos envolvidos na produção, mas também o saber tecnológico e o modus operandi, que dão sentido à razão instrumental do equipamento (MERHY; FEUERWERKER, 2009). No campo da saúde, o objeto é a produção do cuidado, por meio do qual se espera alcançar a cura e a saúde, que são, de fato, os objetivos que se quer atingir. Sendo assim, além das ferramentas, devemser considerados os conhecimentos e ações necessárias para operá-los: o saber e seus procedimentos. O sentido contemporâneo de tecnologia, portanto, diz respeito aos recursos materiais e imateriais dos atos técnicos e dos processos de trabalho sem, contudo, fundir estas duas dimensões. As tecnologias em saúde podem ser descritas ou classificadas de diversas maneiras. No Brasil, Merhy (1997) classificou as tecnologias envolvidas no trabalho em saúde como: tecnologia dura, leve-dura e leve. A leve refere-se às tecnologias de relações do tipo produção de vínculo, autonomização, acolhimento, gestão como forma de governar processos de trabalho. A leve-dura diz respeitos aos saberes bem estruturados, que operam no processo de trabalho em saúde, como a clínica médica, a clínica psicanalítica e a epidemiológica. A dura é referente ao uso de equipamentos tecnológicos do tipo máquinas, normas e estruturas organizacionais. •Das relaçõesTecnologias Leves •Conhecimentos bem estruturados Tecnologias Leve-Duras •Equipamentos tecnológicos do tipo máquinas •Normas •Estrutuas organizacionais Tecnologias Duras 21 Considerações Finais Os sistemas de saúde devem acompanhar a evolução acelerada do mundo contemporâneo. Os profissionais atuantes no SUS devem acompanhá-las. Mais do que questão de sobrevivência, é também uma maneira de inserção social. Adaptar-se as novas realidades impostas por esse desenvolvimento dinâmico faz-se necessário em uma sociedade que exige cada vez mais que estejamos inseridos em seu contexto. O modelo de atenção precisa atender às mudanças na sociedade. Os sistemas de saúde que são orientados às necessidades da população têm melhores resultados. A população vivendo mais, e com menos utilização dos espaços da ‘rua’, faz com que a rede de serviços (de saúde e dos outros setores da determinação social da saúde) se prepare para apoiar as pessoas a lidar com condições crônicas. Essa é função primordial e inerente da Atenção Básica. Com a finalidade de aproximar-se dos problemas de saúde da população, o SUS é organizado por redes de serviços de maneira regionalizada e hierarquizada. Essa lógica de organização favorece as ações de vigilância sanitária, epidemiológica e direciona o acesso aos demais níveis de complexidade. Existe uma interação entre os níveis de atenção, mesmo com o modelo hierarquizado sendo o mais difundido e o cuidado à saúde está organizado em atenção básica, atenção de média complexidade e de alta complexidade. Nem sempre todos os níveis de atenção estão presentes em um território. Em pequenos municípios, por exemplo, existem pactos onde as prefeituras, por meio de consórcios, podem fornecer serviços e exames, atendendo uma microrregião e desta forma otimizar recursos e garantir o atendimento as necessidades da população. Entretanto, a atenção básica é prioritária e deve operar em condição plena e com eficácia. A atenção básica à saúde é também denominada de atenção primária à saúde. Nesse nível de atenção, são empregadas tecnologias de baixa densidade capazes de atender à maioria dos problemas comuns de saúde da comunidade, porém sua organização, desenvolvimento e aplicação nem sempre são tão simples e exigem conhecimento profundo da realidade da população da sua região. Estruturalmente, o atendimento acontece em unidades básicas de saúde e pode ou não agregar o Programa Saúde da Família. Na atenção básica é feito o encaminhamento dos usuários para os atendimentos de média e alta complexidade. Seu papel é tão primordial ao sistema que é capaz de suprir 80% das necessidades da população de um município. Os atributos da atenção primária dividem-se em essenciais e derivados. Os essenciais são primeiro contato, longitudinalidade, integralidade e coordenação; e os derivados são foco na família, orientação comunitária e competência cultural. No âmbito do SUS, a média complexidade caracteriza-se por aquela que transcende a atenção básica e que não se configura alta complexidade. É entendida como serviço de apoio ao diagnóstico e terapêutico de atenção especializada de menor complexidade tecnológica. A alta complexidade no SUS é representada pelos procedimentos que abrangem alta tecnologia e alto custo. O objetivo é garantir que a população tenha acesso a serviços qualificados e integrados à atenção básica e de médica complexidade. Os procedimentos deste nível em sua maioria são aqueles ofertados pelos hospitais. Para a implantação do SUS a maior dificuldade sempre foi a de um financiamento definido e suficiente para os investimentos na rede de serviços, à cobertura assistencial ambulatorial e hospitalar e às demais ações de saúde. A expressão tecnologia pode ser definida como conhecimento aplicado. No caso da saúde, ele é o conhecimento aplicado que permite a prevenção, o diagnóstico e o tratamento das doenças, e a reabilitação de suas consequências, devendo ser compreendida como um conjunto de ferramentas, entre elas as ações de trabalho, que põem em movimento uma ação transformadora da natureza, ou seja, a tecnologia engloba não somente os instrumentos envolvidos na produção, mas também o saber tecnológico e o modus operandi, que dão sentido ao que será ou não à razão instrumental do equipamento. 22 Portaria nº 648, de 28 de março de 2006, do Ministério da Saúde. (ENADE – 2010) O acúmulo técnico-político dos três níveis de gestão do SUS, na implantação do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e da Estratégia de Saúde da Família (ESF), elementos essenciais para a reorientação do modelo de atenção, tem possibilitado a identificação de um conjunto de questões relativas às bases conceituais e operacionais do que se tem denominado atenção básica à saúde no Brasil, e de suas relações com os demais níveis do sistema. Essa discussão fundamenta-se nos eixos transversais da universalidade, da integralidade e da equidade, em um contexto de descentralização e controle social da gestão, princípios assistenciais e organizativos do SUS, consignados na legislação constitucional e infraconstitucional. Considerando o texto como referência inicial, assinale a opção correta acerca da atenção básica em saúde. a) O Programa Saúde da Família é a estratégia prioritária para a reorganização da atenção básica, por ser um atendimento prestado por equipes especialistas que se responsabilizam pelas famílias cadastradas em sua área. b) A equipe mínima para a ESF é composta por um médico de família, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem, um dentista, agentes comunitários de saúde, um auxiliar e um técnico de saúde bucal. c) A atenção básica em saúde é considerada a porta de entrada para o SUS por cuidar apenas da promoção da saúde e da prevenção primária. d) Cada equipe da ESF é responsável pelo acompanhamento de 3 mil pessoas ou 500 famílias de terminada área. e) O PACS substitui a ESF em municípios com menos 50 mil habitantes. Resposta – O PACS substitui a ESF em municípios com menos 50 mil habitantes. Questão Objetiva Sobre o financiamento do SUS, assinale a alternativa incorreta: a) Estados e municípios devem investir em Saúde, pelo menos 15% de sua receita. b) A participação da iniciativa privada no SUS é permitida, mas apenas de modo complementar. c) Gastos com saneamento básico e aposentadoria de servidores da saúde não podem ser incluídos pelos municípios como despesas em saúde. d) Recursos da Previdência e Seguridade Social não são atualmente uma das fontes de financiamento do SUS. Resposta - a) Estados e municípios devem investir em Saúde, pelo menos 15% de sua receita. Questão Discursiva Disserte sobre o financiamento do SUS. 23 STARFIELD, B. Atenção primária: equilíbrio entre a necessidade de saúde, serviços e tecnologias. Brasília: UNESCO; Ministério da Saúde, 2002. A publicação do livro de Barbara Starfield (2002), uma referência na Atenção Primária, como tambéma edição de seu livro no Brasil, “Atenção Primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologias”, que é uma publicação institucional do Ministério da Saúde em parceria com a OPAS, tem exercido grande influência entre aqueles envolvidos com o SUS. Nesse livro, a autora cita um estudo, coordenado por ela mesma e publicado em 1994, em que compara 12 países industrializados. É interessante destacar que a comparação é feita entre países considerados ricos. Ou seja, mesmo em situação de abundância, alguns países, entre eles os EUA, com baixa orientação para a atenção primária, têm indicadores piores que países menos ricos. Modelo hospitalocêntrico: Modelo que tem como características, a atuação centrada no hospital como locus de atuação nas ações centradas no médico, no corpo dividido em partes, nas especialidades médicas, na doença e na cura desta. Se tomarmos a saúde como um sistema complexo e pensarmos que a crise da saúde pública nos convoca a superar a simples atenção das demandas, procurando a eliminação de problemas que se encontram tanto na esfera dos determinantes sociais da saúde quanto no âmbito da resolutividade das práticas médicas, então estaremos, de fato, nos posicionando em defesa de uma ética que valorize a vida humana, buscando colaborar efetivamente para a construção de ambientes e de uma sociedade mais justa e saudável. A proposição de diagnósticos participativos e interdisciplinares das condições de vida e da situação de saúde de territórios específicos apresenta-se como importante ferramenta para a organização de práticas que favoreçam o ‘encontro de horizontes’ entre a população e os serviços de saúde. Diante da vida e das circunstâncias, elaboramos e executamos nossas práticas de saúde. Os profissionais de saúde precisam desenvolver a percepção de como a população compreende suas práticas de saúde. É nesse encontro de sujeitos que se faz a construção conjunta – da qual os conceitos são formas mediadoras. Não devemos nos apressar em construir o objeto da intervenção: é o encontro que diz quais são os objetos (AYRES, 2003, 2004). Ayres JRCM, França Júnior I, Calazans GJ, Saletti Filho HC. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. In: Czeresnia D, Freitas CM, organizadores. Promoção da saúde – conceitos, desafios, tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2003. p. 117-38. 24 Ayres, José Ricardo. (2004). Norma e formação: horizontes filosóficos para as práticas de avaliação no contexto da promoção da saúde. Ciência & Saúde Coletiva, 9(3), 583-592. https://dx.doi.org/10.1590/S1413- 81232004000300011 Brasil. Presidência da República. Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília. 1988. Mendes, Eugênio V. As redes de atenção à saúde. Brasília, DF: Organização Pan-Americana da Saúde; Organização Mundial da Saúde; Conselho Nacional de Secretários de Saúde, 2011. Merhy EE. O SUS e um dos seus dilemas: mudar a gestão e a lógica do processo de trabalho em saúde (um ensaio sobre a micropolítica do trabalho vivo). In: Fleury S, organizadora. Saúde e democracia, a luta do CEBES. São Paulo: Lemos; 1997. p.125- 42. Merhy, E. E.; Feuerwerker, L.C.M. (2009); Novo olhar sobre as tecnologias de saúde: uma necessidade contemporânea, in: Leituras de novas tecnologias e saúde; Mandarino, A. C. S.; Gomberg, E. (org.); Bahia, Editora UFS, 29-56. Paim, Jairnilson Silva. (2008). A reforma sanitária brasileira e o Sistema Único de Saúde: dialogando com hipóteses concorrentes. Physis: Revista de Saúde Coletiva, 18(4), 625-644. https://doi.org/10.1590/S0103- 73312008000400003 Sabroza PC. Concepções de Saúde e Doença. Rio de Janeiro: EAD, Ensp, 2001. (Texto de Apoio ao módulo I do Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde). Solla J, Chioro A. Atenção ambulatorial especializada. In: GIOVANELLA, Lígia et al. (Org.). Políticas e sistemas de saúde no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2008. cap. 17, p. 627-663. Starfield B. Atenção primária: equilíbrio entre a necessidade de saúde, serviços e tecnologias. Brasília: UNESCO; Ministério da Saúde, 2002. Teixeira CF, Paim JS, Vilasboas AL. SUS, Modelos Assistenciais e Vigilância da Saúde. IESUS 1998; 7(2):7- 28. http://scielo.iec.gov.br/pdf/iesus/v7n2/v7n2a02.pdf. https://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232004000300011 https://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232004000300011 https://doi.org/10.1590/S0103-73312008000400003 https://doi.org/10.1590/S0103-73312008000400003 http://scielo.iec.gov.br/pdf/iesus/v7n2/v7n2a02.pdf 25 UNIDADE I CAPÍTULO 3 – TERRITORIALIZAÇÃO E REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE No término deste capítulo, você deverá saber: ✓ Sistemas de Atenção à Saúde; ✓ Sistema fragmentado (Modelo hierárquico de Atenção à Saúde; ✓ Redes de Atenção à Saúde (RAS); ✓ Atenção Primária à Saúde (APS) nas RAS; ✓ Determinantes sociais da saúde; ✓ Epidemiologia em saúde; ✓ Planejamento em saúde; ✓ Organização da demanda. Introdução O livro “COLAPSO – Como as sociedades escolhem o fracasso ou sucesso”, de Jared Diamond (2005), o autor descreve, como sociedades antigas e bem organizadas, como os Maias, Polinésios e povos da Ilha de Páscoa e Groenlândia Nórdica entraram em colapso após exaurirem seus recursos naturais. Este colapso também foi estimulado por mudanças climáticas e a reação da população frente à escassez desses recursos, causando nos casos mais extremos a emigração e a morte de toda a população, antecedidos pela desestruturação política e perda de identidade cultural. Atualmente, em meio às rápidas mudanças ambientais, percebemos que as sociedades contemporâneas pouco aprenderam com o valioso banco de dados do passado. Continuamos esgotando nossos recursos e estamos pouco dispostos a alterar nossos padrões de consumo frente a escassez. Transferindo o conceito de esgotamento de recursos para a área da saúde, onde as necessidades são crescentes e ilimitadas e a incorporação de novas tecnologias tem caráter cumulativo e não substitutivo, é preciso uma reflexão crítica sobre a eficiência, efetividade e resolutividade dos serviços de atenção frente aos principais problemas de saúde da população. A escassez de recursos na saúde não poderá ser respondida, adequadamente, por um sistema de atenção à saúde totalmente fragmentado, reativo, episódico e voltado, prioritariamente, para o enfrentamento das condições agudas e das agudizações das condições crônicas. Isso não deu certo em outros países, isso não está dando certo aqui. Por isso, há que se restabelecer a coerência entre a situação de saúde e o SUS, o que envolverá a implantação das redes de atenção à saúde (RAS) para definir uma nova forma de organizar o sistema de atenção à saúde em sistemas integrados que permitam responder, com efetividade e eficiência. 3.1 Sistema de atenção à saúde Os sistemas de atenção à saúde são definidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um conjunto de atividades cujo propósito é promover, reestruturar e manter a saúde da população. Eles 26 não são estáticos e estão em constante processo de construção e desenvolvimento, acompanhando as mudanças sociais e culturais das sociedades, com objetivo de garantir o bom estado de saúde de suas populações. De acordo com Mendes (2011), os sistemas de saúde operam em conformidade com a situação de saúde das pessoas que o utilizam, sendo respostas sociais deliberadas às necessidades de saúde dos cidadãos. Atualmente, no Brasil, a situação de saúde passa por mudanças decorrentes de uma transição demográfica acelerada e tripla carga de doenças: Como resposta a esta situação, é necessário um sistema de atenção à saúde que tenha coerência entre a situação de saúde e o SUS, envolvendo a implantação de redes de atenção à saúde (RAS). Mas antes vamos conhecer os Modelos de Sistema de Saúde. A definição de AtençãoPrimária à saúde (APS) ou Atenção Básica à Saúde (ABS), segundo a Organização Mundial da Saúde abrange: “A atenção essencial à saúde, baseada em métodos práticos, cientificamente evidentes e socialmente aceitos e em tecnologias tornadas acessíveis a indivíduos e famílias na comunidade por meios aceitáveis e a um custo que as comunidades e os países possam suportar, independentemente de seu estágio de desenvolvimento, em um espírito de autoconfiança e autodeterminação. Ela forma parte integral do sistema de serviços de saúde do qual representa sua função central e o principal foco de desenvolvimento econômico e social da comunidade. Constitui o primeiro contato de indivíduos, famílias e comunidades com o sistema nacional de saúde, trazendo os serviços de saúde o mais próximo possível dos lugares de vida e trabalho das pessoas, bem como o primeiro elemento de um processo contínuo de atenção (WHO, 1978). Doenças crônicas Doenças infecciosas e carenciais Caus as exter nas 27 Condições agudas: apresentam um curso curto, inferior a três meses de duração, e tendem a se autolimitar; são manifestações de doenças transmissíveis de curso curto, como dengue e gripe, ou de doenças infecciosas, também de curso curto, como apendicite ou amigdalites, ou de causas externas, como os traumas. Condições crônicas: têm um período de duração mais ou menos longo e nos casos de algumas doenças crônicas, tendem a apresentar-se de forma definitiva e permanente. As doenças infecciosas de curso longo são consideradas condições crônicas. Tripla carga de doenças: 1. Agenda não concluída de infecções, desnutrição e saúde reprodutiva; 2. Crescimento das causas externas; 3. Predomínio de doenças crônicas e fatores de risco (tabagismo e álcool). 3.2 Sistema fragmentado (modelo hierárquico de atenção à saúde) Os sistemas de saúde fragmentados são aqueles que se organizam através de um conjunto de pontos de atenção à saúde isolados em que não há comunicação entre os níveis de atenção sendo, portanto, incapazes de prestar uma atenção contínua à população. Em geral, não há uma população adscrita de responsabilização, o que impossibilita a gestão baseada na população. Nesses sistemas, a atenção primária à saúde não é a coordenadora dos cuidados e os profissionais não conseguem exercer a linha de cuidado integral com o paciente. As unidades de pronto atendimento, ambulatorial e hospitalar têm por objetivo atender a demanda espontânea e realizar intervenções curativas e reabilitadoras. O modelo é médico assistencial privatista e o usuário é passivo no tratamento (MENDES, 2011). No sistema fragmentado existe uma forma de organização hierárquica com níveis de complexidade de atenção crescentes, fazendo a atenção básica parecer menos complexa do que os outros níveis de atenção, que utilizam maiores densidades tecnológicas. 28 3.3 Redes de atenção As redes de atenção à saúde são organizações poliárquicas de conjuntos de serviços de saúde, vinculados entre si por objetivos comuns e por uma ação cooperativa e interdependente, que permitem ofertar uma atenção contínua, integral e humanizada a população. Nas redes de atenção à saúde os níveis de atenção se relacionam horizontalmente e implicam um contínuo de atenção nos níveis primário, secundário e terciário, gerando uma atenção integral com intervenções promocionais, preventivas, curativas, cuidadoras, reabilitadoras e paliativas, sendo a atenção primária à saúde a coordenadora do cuidado (MENDES, 2011). As redes de atenção à saúde podem ser organizadas de forma a concentrar alguns tipos de serviços e dispersar outros. Desta forma, os serviços de atenção primária à saúde podem ser dispersos (bairros e municípios) e os serviços de densidade tecnológica maior podem ser concentrados (maiores centros urbanos), facilitando assim a organização e distribuição de acordo com as necessidades epidemiológicas e demográficas de cada localidade (OMS, 2010). Uma proposta de solução para o problema fundamental do SUS consiste em restabelecer a coerência entre a situação de saúde atual, com predominância das condições crônicas, e o sistema de atenção à saúde através da mudança do sistema fragmentado vigente para as redes de atenção à saúde (MENDES, 2012). 3.4 Atenção Primária à Saúde (APS) A Atenção Primária em Saúde (APS) ou Atenção Básica à Saúde (ABS) pode ser denominada como o eixo estruturante da atenção à saúde, sendo uma estratégia de organização e de reorganização dos sistemas de saúde, nos quais representa o primeiro nível de atenção e também um modelo de mudança da prática clínico-assistencial dos profissionais de saúde (STARFIELD, 2002). Atualmente é evidente seu impacto na saúde e no desenvolvimento da população nos países que a adotaram como base para seus sistemas de saúde, tenho o Brasil alcançado reconhecimento internacional pela implantação bem-sucedida da Estratégia Saúde da Família (GONDIM et al., 2011). Para Starfield (2002), a Atenção Primária em Saúde, apesar de ser o primeiro nível de atenção, tem como função a organização e integração das ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde nas redes de atenção à saúde. Deve garantir a coordenação e a continuidade do cuidado, tendo como atribuições: a garantia de acesso e porta de entrada, a longitudinalidade, o elenco integral de serviços, a coordenação de serviços e o enfoque familiar e a orientação da comunidade. Contudo, essa forma de organização, ainda que disponha de uma oferta de serviços hierarquizada em três níveis de atenção (primário, secundário e terciário), não consegue abranger as necessidades da atenção integral à saúde, por ser focada em recortes populacionais de acordo com seus agravos. Percebe-se então, a fragmentação da atenção e descontinuidade da assistência, gerando baixa resolutividade dos primeiros níveis de atenção e dificuldade de acesso aos níveis de maior complexidade. A estruturação da assistência à saúde em especialidades, efetivada por meio de procedimentos de média e de alta complexidade, possibilita a ocorrência de estrangulamentos na rede de serviços de saúde. 29 Essa fragmentação da atenção e a responsabilização clínica insuficiente são reflexos do modo de organizar o trabalho e os processos de decisão nos serviços de saúde, sendo que os serviços somente se responsabilizam pelos usuários enquanto estão dentro de seu espaço físico. Diante do exposto observa-se a necessidade de ampliação da visão sobre os determinantes dos problemas de saúde e discussões sobre a prática de uma clínica ampliada para a construção de novos modelos de promoção de saúde, sendo que a Atenção Primária à Saúde (APS) pode ser um local privilegiado para a construção de estratégias de enfrentamento dos problemas de saúde da população. 3.5 Determinantes sociais da saúde (DSS) Os DSS são os fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população. Os determinantes sociais da saúde, articulados com o Modelo de Atenção às Condições Crônicas, são definidos como as condições sociais em que as pessoas vivem e trabalham ou como as características sociais dentro das quais a vida transcorre; ou seja, como a causa das causas. Assim, a distribuição desigual das experiências prejudiciais é uma questão de justiça social e um imperativo ético para o qual devem ser estruturadas três grandes linhas de ação: melhorar as condições de vida da população; lutar contra a distribuição desigual do poder e dos recursos; e medir a magnitude do problema, avaliar as intervenções, ampliar a base de conhecimentos, dotar-se de pessoal capacitado em determinantes sociais da saúde e sensibilizar a opinião pública a esse respeito. Os determinantes sociais influenciam diretamente os indicadores de saúde; devido a isso,qualquer modelo de atenção à saúde deve estar atento a esses elementos. Figura 2: Determinantes sociais: modelo de DAHLGREN e WHITEHEAD Disponível em: https://scielosp.org/article/sausoc/2017.v26n3/676-689/ https://scielosp.org/article/sausoc/2017.v26n3/676-689/ 30 Observando-se os determinantes sociais, percebe-se que há a necessidade de estratificar a população em grupos de risco, permitindo identificar pessoas e grupos com necessidades de saúde semelhantes que devem ser atendidos por tecnologias e recursos específicos. Esta lógica se apoia em um manejo diferenciado pelas RAS, de pessoas e de grupos que apresentam riscos similares. Atualmente, no Brasil, com a implantação da Estratégia Saúde da Família, que veio como uma nova maneira de se organizar a assistência, tem-se conseguido, através do controle de risco familiar, direcionar ações em saúde para famílias e grupos de risco semelhantes. Pesquisa sobre Modelo de Atenção às Condições Crônicas (MACC). 3.6 Epidemiologia em saúde A Epidemiologia é a ciência que estuda os padrões da ocorrência de doenças em populações humanas e os fatores determinantes destes padrões (LILIENFELD, 1980). Enquanto a clínica aborda a doença em nível individual a epidemiologia aborda o processo saúde- doença em grupos de pessoas que podem variar de pequenos grupos até populações inteiras. O fato de a epidemiologia, por muitas vezes, estudar morbidade, mortalidade ou agravos à saúde, deve-se, simplesmente, às limitações metodológicas da definição de saúde. A análise epidemiológica de indicadores demográficos e de morbimortalidade com o objetivo de elaborar os chamados "diagnósticos de saúde" é uma prática antiga em nosso meio. Por vários motivos, nas últimas décadas essa atividade foi sendo abandonada ou expressivamente reduzida no país, com evidentes prejuízos ao adequado desempenho dos serviços de saúde. Mais recentemente, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) tem buscado a retomada dessa prática, incentivando a utilização mais ampla da epidemiologia por meio do acompanhamento e análise sistemática da evolução de indicadores demográficos, sociais, econômicos e de saúde para melhor compreensão dos determinantes das condições de saúde da população. Essa atividade tem recebido a denominação "análise da situação de saúde". A evolução desse cenário deve ser acompanhada com atenção por todos os profissionais que assessoram ou decidem a respeito de políticas de saúde (ALMEIDA, 1990). Para Barreto (2009), da mesma forma que as causas das doenças e agravos à saúde têm suas raízes na sociedade, as ações que buscam efetivamente melhorar os padrões de saúde da população e, assim, reduzir a ocorrência das doenças, devem ultrapassar os limites tipicamente definidos pelo setor e passam a exigir ações coordenadas, articulando as diferentes esferas e níveis do governo e da sociedade. O desenvolvimento de novos modelos de atenção à saúde tem, para o SUS, em todos os seus níveis, entre outras implicações, buscar maneiras de pôr em prática o direito constitucional à equidade, não só em relação ao acesso ao cuidado, mas também às exposições e aos riscos, ou seja, às chances de ficar doente. 31 3.7 Planejamento em saúde O planejamento estratégico situacional identifica os fatos atuais e projeta os passos a serem dados por uma organização, de acordo com esse diagnóstico, buscando antecipar-se aos possíveis problemas que possam surgir, aperfeiçoar seus aspectos positivos e adaptar-se às mudanças necessárias. Esse planejamento traduz a identidade de uma organização, podendo, a partir disso, traçar seus objetivos e metas com base em uma missão a ser constantemente perseguida. Deve apontar seus objetivos, listar as atividades a serem desenvolvidas e ter uma visão crítica do processo. Já o planejamento normativo está ancorado no paradigma positivista, que valoriza a produção em detrimento da subjetividade humana. É mais pontual e responde à ideia de fragmentação do serviço em diferentes departamentos. Leva em conta o cientificamente comprovável e quantificável, atuando na lógica da razão. É um tipo de planejamento de curto prazo ou ao acaso, voltado para a ação imediata, no sentido de manter o funcionamento dos serviços. Não considera os movimentos sociais, o que lhe confere um caráter histórico. O planejador detém o poder e impõe as normas ao grupo, o que lhe confere poder e a falsa ideia de total controle da situação. É importante para problemas que exigem solução imediata e urgente, visto que seu enfoque é de imposição e tomada de atitude rápida. Optar pelo planejamento significa assumir uma alternativa à improvisação. É decidir aonde se quer chegar, é acreditar que o futuro pode ser construído. Isso, porque planejar implica transformar ideias em ação. Segundo Paim e colaboradores (2006) planejamento também é “um modo de explicitação do que vai ser feito, quando, onde, como, com quem, e para quê”. O documento que registra essas escolhas é o Plano. Plano é um produto momentâneo de um processo de planejamento. É um instrumento de negociação, nunca está acabado, mas sempre em construção. Assim, no contexto de saúde pública, o principal objetivo do Plano deve ser o de orientar a ação da equipe de saúde do município, apontar para correções de rumos e avaliação dos resultados obtidos em relação aos objetivos propostos. Existem muitos métodos de planejamento, cada um com suas vantagens e desvantagens conforme a situação que se apresenta, no entanto, as maiores influências no planejamento em saúde são as do pensamento normativo e estratégico. No âmbito do SUS, resgatar ou construir a cultura de planejamento é ao mesmo tempo um avanço e um desafio. Um avanço porque cada dia mais o planejamento é reconhecido no SUS como importante ferramenta de gestão, e um desafio porque planejamento envolve a consolidação de uma cultura que exige mobilização, engajamento e decisão de gestores e profissionais. A implementação de planos estratégicos representa um esforço para contribuir com o aperfeiçoamento permanente da gestão e, portanto, para a qualidade de vida das pessoas, mediante a prestação de serviços de saúde oportunos, resolutivos e humanizados. 3.8 Organização da demanda A organização da demanda dos serviços de saúde é um desafio constante para profissionais e gestores. Atender por livre demanda ou agendamento? Direcionar o atendimento do público ou dividir o atendimento? Organizar o acolhimento em saúde não engloba apenas a demanda espontânea, mas um conjunto de ações de resposta às necessidades da comunidade. Partindo do diagnóstico de problemas e do 32 planejamento em saúde, rompendo a ideia do mesmo como uma ação pontual, visando apenas a doença e os procedimentos e não o paciente e aquilo que é necessário para garantir o acesso a saúde como um bem completo e amplo. Para os prestadores de serviço, o acolhimento também pode significar fazer o atendimento ao paciente que procura atendimento sem ter agendado esse encontro previamente. Mas acolher ultrapassa essa visão de demanda espontânea e não programada. Dentre as atribuições do enfermeiro no contexto da atenção básico, garantir o acesso da população a um atendimento de qualidade, por profissionais competentes e que leve à satisfação do usuário, passa a ser considerado ponto fundamental e que deve ser levado em conta durante o processo de organização do serviço. O diagnóstico das demandas e necessidades dos usuários devem promover reflexão, subsidiando a análise e as mudanças da prática e dos resultados do trabalho e, consequentemente, o planejamento em saúde. Portanto, é preciso identificar os problemas e as potencialidades relacionadas às diferentes questões envolvidas com o acolhimento, como aquelas relativas à própria organização dos serviços, à satisfação dos usuários e ao desenvolvimento e crescimento profissionale pessoal dos trabalhadores/equipes nesse processo. A equipe deve estar preparada para abordar diferentes aspectos e perspectivas de uma avaliação participativa e formativa, juntamente com os usuários e gestão municipal, buscando provocar movimentos diversos, como a capacitação, o levantamento, a construção e a pactuação de ações que orientem a renovação do trabalho/serviços e propiciem aprendizagens coletivas. Como resultado, a organização do atendimento às demandas espontâneas e programadas, ambas integrantes do processo de acolhimento em saúde, deve basear-se nas necessidades observadas e se dar como um processo contínuo que permite modificações à medida que novas demandas surgem. O levantamento epidemiológico deve ser utilizado para organizar o serviço, porém é importante ter em mente que não é a única forma de caracterizar essas necessidades. Para isso, pode-se realizar um diagnóstico das principais queixas decorrentes das demandas espontâneas e também das necessidades observadas e relatadas durantes visitas domiciliares ou nos grupos. Após esse levantamento, a equipe deve reunir-se, debater as fragilidades e traçar um plano de ação. Esse plano deve incluir quantas consultas de demanda espontânea e programada serão disponibilizadas, quantas consultas serão destinadas aos retornos de rotina dos pacientes programados, como organizar os setores da Unidade de Saúde. Organizar o acolhimento a partir das necessidades dos usuários exige, portanto, que a equipe reflita sobre o conjunto de ofertas que tem disponível, pois todas as práticas de saúde da Unidade precisam estar à disposição para serem utilizadas quando necessário. Para isso as equipes precisam de espaço para reflexão e discussão do seu processo de trabalho para planejarem as ações e definirem o modo como os diferentes profissionais participarão do acolhimento, isto é, quem vai receber o usuário que chega; como avaliar o risco e a vulnerabilidade desse usuário; o que fazer de imediato; quando encaminhar/agendar uma consulta médica; como organizar a agenda dos profissionais; que outras ofertas de cuidado (além da consulta) podem ser necessárias etc. O planejamento deve gerar, dessa forma, uma atitude de mudança no fazer o acolhimento em saúde que implique no protagonismo dos sujeitos envolvidos no processo de produção de saúde. 33 Considerações Finais Se os serviços criam barreiras de acesso ou não conseguem dar as respostas aos problemas que levam as pessoas a procurarem os serviços de saúde, abre-se uma brecha para que a população busque respostas inadequadas às suas doenças em serviços de pronto-atendimentos ou especializados, sem longitudinalidade, sem estabelecer relação de confiança com os profissionais do cuidado, submetendo-se a intervenções e tratamentos mais invasivos e que podem causar mais danos que benefícios. Dentro do ideário do que é ser ‘cuidado’, isso atende ao senso comum de acesso ao médico, aos exames e ao tratamento medicamentoso. Esse é o modelo que está em falência no mundo. Na contextualização do sistema contemporâneo de assistência à saúde é necessária a criação de redes integradas e dinâmicas. A aplicabilidade de um modelo de gestão só é possível quando ele atende as duas partes integrantes do sistema: os gestores e a população. A abordagem de saúde deve estar interligada com o tempo. Reflete a economia e mais que tudo o perfil da sociedade. O conceito de saúde é impreciso, dinâmico e abrangente e isso não impede que seja possível tomá-lo como eixo para a reorientação das práticas de saúde. Pelo contrário: sua importância é fundamental para a superação de um modelo de atenção focado no modelo médico assistencial. Os sistemas de atenção à saúde são definidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um conjunto de atividades cujo propósito é promover, reestruturar e manter a saúde da população. Eles não são estáticos e estão em constante processo de construção e desenvolvimento, acompanhando as mudanças sociais e culturais das sociedades, com o objetivo de garantir o bom estado de saúde de suas populações. Os sistemas de saúde operam em conformidade com a situação de saúde das pessoas que o utilizam e são respostas sociais deliberadas às necessidades de saúde dos cidadãos. Atualmente, no Brasil, a situação de saúde passa por mudanças decorrentes de uma transição demográfica acelerada e tripla carga de doenças. Como resposta a essa situação, é necessário um sistema de atenção à saúde que tenha coerência entre a situação de saúde e o SUS, envolvendo a implantação de redes de atenção à saúde (RAS). Os sistemas de saúde fragmentados são aqueles que se organizam através de um conjunto de pontos de atenção à saúde isolados em que não há comunicação entre os níveis de atenção, sendo, portanto, incapazes de prestar uma atenção contínua à população No sistema fragmentado existe uma forma de organização hierárquica, com níveis de complexidade de atenção crescentes, fazendo a atenção básica parecer menos complexa do que os outros níveis de atenção, que utilizam maiores densidades tecnológicas. As redes de atenção à saúde são organizações poliárquicas de conjuntos de serviços de saúde, vinculados entre si por objetivos comuns e por uma ação cooperativa e interdependente, que permitem ofertar uma atenção contínua, integral e humanizada a população. A Atenção Primária em Saúde (APS) ou Atenção Básica à Saúde (ABS) pode ser denominada como o eixo estruturante da atenção à saúde, sendo uma estratégia de organização e de reorganização dos sistemas de saúde, nos quais representa o primeiro nível de atenção e um modelo de mudança da prática clínico- assistencial dos profissionais de saúde. Os DSS são os fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população. 34 A Epidemiologia é a ciência que estuda os padrões da ocorrência de doenças em populações humanas e os fatores determinantes destes padrões. O planejamento estratégico situacional identifica os fatos atuais e projeta os passos a serem dados por uma organização em acordo a esse diagnóstico, buscando antecipar-se aos possíveis problemas que possam surgir, buscando aperfeiçoar seus aspectos positivos e adaptar-se às mudanças necessárias. Já o planejamento normativo está ancorado no paradigma positivista, que valoriza a produção em detrimento da subjetividade humana. É mais pontual e responde à ideia de fragmentação do serviço em diferentes departamentos. A organização da demanda dos serviços de saúde é um desafio constante para profissionais e gestores. Atender por livre demanda ou agendamento? Direcionar o atendimento do público ou dividir o atendimento? Organizar o acolhimento em saúde não engloba apenas a demanda espontânea, mas um conjunto de ações de resposta às necessidades da comunidade. Partindo do diagnóstico de problemas e do planejamento em saúde, rompendo a ideia do mesmo como uma ação pontual, visando apenas a doença e os procedimentos e não o paciente e aquilo que é necessário para garantir o acesso à saúde como um bem completo e amplo. https://www.youtube.com/watch?v=0N_9KKu15oM Vídeo realizado pela aluna GIGLI TESTONI do Mestrado Profissional - FOP UNICAMP. Edição de vídeo por Talita Testoni. E-mail: giglitestoni@terra.com.br (ENADE – 2013) A transição demográfica e epidemiológica tem produzido alteração no perfil de morbidade e de necessidades em saúde da população brasileira, o que implica a instrumentalização e a utilização de tecnologias que respondam a essas necessidades. Na estratégia de saúde da família, uma das ferramentas utilizadas é a visita domiciliar (VD), planejada e desenvolvida conforme o perfil dos grupos de interesse e objetivos da ação em saúde. A partir do texto apresentado e considerando, no contexto da transição demográfica
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