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Atenção Básica - Completo

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ATENÇÃO BÁSICA 
 
Prof.ª M.ª Quevellin Alves dos Santos Francisco 
 
 
Prof. Guilherme Bernardes Filho 
Diretor Presidente 
Prof. Aderbal Alfredo Calderari Bernardes 
Diretor Tesoureiro 
Prof. Frederico Ribeiro Simões 
Reitor 
 
UNISEPE – EaD 
Prof. Me. Anderson Martins da Silva 
Prof.ª M.ª Caroline das Neves Mendes Nunes 
Prof. Me. Fernando Henrique Ignácio Dos Santos 
Prof.ª M.ª Deise Aparecida. Carminatte 
Coordenador EaD de área 
Prof. Dr. Renato de Araújo Cruz 
Coordenador Núcleo de Ensino a distância (NEAD) 
 
Material Didático – EaD 
Equipe editorial: 
Fernanda Pereira de Castro - CRB-8/10395 
Isis Gabriel Alves 
Laura Lemmi Di Natale 
Pedro Ken-Iti Torres Omuro 
Prof. Dr. Renato de Araújo Cruz – Editor Responsável 
Apoio técnico: 
Alexandre Meanda Neves 
Anderson Francisco de Oliveira 
Douglas Panta dos Santos Galdino 
Fabiano de Oliveira Albers 
Gustavo Batista Bardusco 
Kelvin Komatsu de Andrade 
Matheus Eduardo Souza Pedroso 
Vinícius Capela de Souza 
 
Revisão: Vinícius Guimarães Rodrigues 
 
Diagramação: Nikolas Fellipe de Morais 
 
 
 
 
SOBRE A AUTORA: 
Mestre em Enfermagem na Linha de Pesquisa "Gestão em Serviços de Saúde" na Universidade 
Federal de Alfenas - UNIFAL/MG. Especialista em Gestão Pública em Saúde pela Unicamp. 
Graduada em Enfermagem pela Universidade São Francisco - USF. 
SOBRE A DISCIPLINA: 
Estudo sobre o Sistema Único de Saúde (SUS) e as redes de atenção à saúde, com enfoque nos 
princípios e diretrizes do SUS e nos programas de saúde vigentes no Brasil. 
 
 
 
 
 
 
Os ÍCONES são elementos gráficos utilizados para ampliar as formas de linguagem 
e facilitar a organização e a leitura hipertextual. 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
UNIDADE I .............................................................................................. 05 
1º Contexto histórico do sistema único de saúde...................................... 05 
2º Níveis de atenção em saúde............................................................ 14 
3º Territorialização e redes de atenção à saúde....................................... 25 
4º Ferramentas para organização da atenção em saúde............................ 37 
 
UNIDADE II ........................................................................................... 49 
5º Política nacional da atenção básica I................................................ 49 
6º Política nacional da atenção básica II............................................... 62 
7º Programa nacional de imunizações.................................................. 75 
8º Programa de melhoria do acesso e qualidade na atenção 
básica........................................................................................... 90 
 
UNIDADE III ........................................................................................ 102 
9º Doenças Crônicas: fatores de risco e ações estratégicas.................. 102 
10º Pré-natal de baixo risco e saúde da criança................................... 121 
11º Cânceres do colo do útero e da mama; HIV-AIDS, 
Hepatites e outras DSTs; Saúde sexual e reprodutiva............................ 135 
12º Práticas Integrativas e Complementares, determinação 
social do processo saúde-doença e grupos populacionais 
vulneráveis.................................................................................... 147 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................... 158 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
UNIDADE I 
CAPÍTULO 1 - CONTEXTO HISTÓRICO DO SUS 
 
No término deste capítulo, você deverá saber: 
✓ Políticas de saúde; 
✓ Sistema Único de Saúde (SUS); 
✓ Princípios do SUS; 
✓ Universalidade; 
✓ Equidade; 
✓ Integralidade; 
✓ Princípios organizativos: descentralização, participação social, regionalização e 
hierarquização; 
✓ Normas Operacionais Básicas (NOBs) e Norma Operacional de Assistência à Saúde (NOAS). 
 
Introdução 
No período de 1900 a 1964 basicamente é possível observar o interesse privado e do Estado em 
manter a saúde do trabalhador com o principal objetivo de não contrapor o desenvolvimento 
capitalista que vinha se fortalecendo no Brasil. Ninguém se comprometia em oferecer à população 
condições de manutenção da saúde. Bastava "curar" e reabilitar a pessoa para que seu estado de 
saúde não resultasse em ônus ao desenvolvimento econômico. 
Fica claro que aqueles que não integravam a parte "importante" do sistema eram excluídos e não 
tinham direito a saúde. Para manter a mão de obra, o Estado criou formas de evitar conflitos entre 
os trabalhadores, mas apenas para manter os trabalhadores operantes. 
O Estado fornecia assistência médica à população mediante a compra de serviços de corporações 
médicas privadas. O setor privado produzia medicamentos, aparelhos de ponta e os fornecia ao 
governo. Observa-se neste período grande interesse desses “manipuladores de saúde” no sistema 
previdenciário brasileiro, que crescia em arrecadação. 
O movimento em prol da saúde ocorreu tardiamente, quando já chegara o limite da supressão 
imposta à população da época. Quando se garante na Constituição o direito à saúde, a 
responsabilidade de oferta dos serviços de assistência à saúde passa para o Estado. 
 
O SUS é uma política social presente na vida de todos os brasileiros, direta ou indiretamente. Mais de 150 
milhões de usuários são atendidos por ele. 
 
1.1 Políticas de saúde 
Para se compreender melhor uma sociedade é preciso estudar as políticas de saúde. A forma como 
se dá a relação do Estado com os indivíduos no tocante ao bem-estar maior de todos, que é a vida, 
reflete o modelo de política social adotada – mesmo que nem sempre assumida – por esse Estado. 
 
6 
 
De acordo com Merhy (2014), é necessário o estudo da natureza das relações sociais estabelecidas 
no local e no tempo, bem como das opções políticas que se desenham pelas forças sociais. 
No Quadro 1 estão listados os marcos teóricos da Política de saúde no Brasil: 
Quadro 1: Marcos teóricos da Política de saúde no Brasil 
MARCOS TEÓRICOS DA POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL 
De 1500 1889 República Velha (1889) Início do Século XX 
Nenhum modelo de Atenção à 
Saúde 
Período marcado pelo 
Coronelismo e economia 
exportadora de café 
Com Oswaldo Cruz, combate à 
febre amarela 
Com a chegada da família real ao 
Brasil, houve uma primeira 
indução à Políticas Sanitárias 
mínimas: controle de navios e 
portos 
Necessidade crescente de 
melhorias sanitárias para 
preservação da “massa 
trabalhadora” 
Lei da vacinação compulsória 
Em 1789, existiam no Brasil 
apenas 4 médicos 
Primeiras ações de controle focal 
das enfermidades: febre amarela, 
peste, varíola 
Articulação do Conhecimento 
científico à Competência técnica 
e organização do processo de 
trabalho em saúde 
Forte vinculação religiosa para 
concepção da doença 
Empreendimentos ameaçados 
pelas doenças transmissíveis 
Pela compulsoriedade, estoura a 
Revolta da vacina 
 
Carlos Chagas sucede a Oswaldo 
Cruz e inova com o modelo 
Campanhista 
 
 
A preocupação do governo com o trabalhador no início do século XX se deu na perspectiva capitalista da 
produção, ou seja, o prejuízo causado pela ausência do doente nas lavouras e na incipiente atividade industrial 
colocava em risco o projeto capitalista nascente e, consequentemente, o projeto de poder das oligarquias. Da 
mesma forma, os portos, que representavam as vias de “drenagem” dessa produção necessitavam ser 
saneados. A construção das ferrovias – vias de distribuição – também representavam a preocupação, dado o 
grande número de mortes e epidemias que se deram nesses canteiros de obras. Em outras palavras, as ações 
de saúde, nessa época, não estavam focadas na seguridade dos indivíduos nem em direitos humanos, mas 
na missão de proteger a produção e as aspirações oligárquicas. 
 
1.2 Sistema Único de Saúde (SUS) 
Com uma proposta universalista,resultante do Movimento da Reforma Sanitária, nasceu o SUS. 
Em agosto de 1990, o Congresso Nacional aprovou a Lei Orgânica de Saúde (LOS) (Lei 8.080) e em 
dezembro de 1990, a Lei 8.142 foi aprovada no Congresso Nacional, instituindo as Conferências e 
os Conselhos de Saúde como instâncias de Controle Social. O conjunto das leis 8.080 e 8.142 
constitui a atual LOS. 
 
7 
 
 
O documentário "POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL: Um século de luta pelo direito à saúde" conta a história 
das políticas de saúde em nosso país, mostrando como ela se articulou com a história política brasileira, 
destacando os mecanismos que foram criados para sua implementação, desde as Caixas de Aposentadorias 
e Pensões até a implantação do SUS. 
Sua narrativa central mostra como a saúde era considerada, no início do século XX, um dever da população, 
com as práticas sanitárias implantadas autoritariamente pelo Estado, de modo articulado aos interesses do 
capital, e como, no decorrer do século, através da luta popular, essa relação se inverteu, passando a ser 
considerada, a partir da Constituição de 1988, um direito do cidadão e um dever do Estado. 
Toda essa trajetória é contada através de uma narrativa ficcional vivida por atores, com reconstrução de época, 
apoiada por material de arquivo. Para tornar a narrativa mais leve e atraente, o filme se vale da linguagem dos 
meios de comunicação dominantes em cada época, como o jornal, o rádio, a TV Preto e branco, a TV colorida 
e, por fim, a internet. 
O filme foi realizado por iniciativa da Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa, do Ministério da Saúde, 
em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde-OPAS e a Universidade Federal Fluminense/UFF. 
Clique o link https://www.youtube.com/watch?v=EOACL0yhxBU para abrir o vídeo. 
 
 
1.3 Princípios do SUS 
O SUS tem princípios doutrinários e organizativos. Os doutrinários estão relacionados à filosofia do 
Sistema, personificam o conceito ampliado de saúde e o princípio do direito à saúde, enquanto os 
organizativos relacionam-se com sua operacionalização. Os princípios doutrinários devem nortear 
os organizativos e estes, por sua vez, orientar o funcionamento do Sistema. 
 
Princípios doutrinários
Universalidade
Integralidade
Equidade
Princípios organizativos 
Participação popular
Regionalização 
Descentralização
Hieraquização 
https://www.youtube.com/watch?v=EOACL0yhxBU
 
8 
 
 
Artigo 198 define: 
“As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um 
sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I. descentralização, com direção única em 
cada esfera do governo; II. Atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo 
dos serviços essenciais; 
III. participação da comunidade. Parágrafo único. O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 
195, com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos 
Municípios, além de outras fontes” (BRASIL, 1988). 
 
1.4 Universalidade 
Princípio doutrinário que traduz a saúde como um direito de cidadania. Através da universalidade, 
todos os cidadãos, independentemente de contribuição ou distinção de qualquer natureza, têm direito 
de acesso ao sistema. 
 
1.5 Equidade 
Princípio que assegura a justiça no acesso dos cidadãos aos serviços. Significa entender que diante 
das diferenças, são necessárias ações e intervenções também diferentes a fim de que se possa 
atingir de forma positiva os que mais necessitam. 
Por definição seu objetivo é “assegurar ações e serviços de todos os níveis de acordo com a 
complexidade que cada caso requeira, more o cidadão onde morar, sem privilégios e sem barreiras” 
(BRASIL, 1990). 
É um princípio de justiça social. Se a estratificação social ocorre em função das desigualdades 
sociais, então há que se intervir de forma diferente entre os diferentes a fim de se buscar atenuar 
tais desigualdades. A equidade não significa, portanto, igualdade; mas ao contrário, traduz-se por 
intervenções diferenciadas que buscam compensar desigualdades. 
 
O acesso igualitário às ações e serviços de saúde é fundamental; no entanto, isso não é suficiente para atenuar 
as desigualdades nos modos de adoecer e morrer entre distintos grupos sociais. 
 
1.6 Integralidade 
A integralidade é o princípio doutrinário mais intimamente ligado às práticas em saúde. Está embutido 
nos anseios da Reforma Sanitária uma vez que aborda a mudança paradigmática da saúde, 
propondo a substituição de práticas. Segundo esse princípio, a atenção ao indivíduo é um todo 
indissociável, em que as partes se integram. Também faz referência à organicidade do sistema. 
 
9 
 
 
Do ponto de vista conceitual, a integralidade foi assim detalhada: 
• cada pessoa é um todo indivisível e integrante de uma comunidade; 
• as ações de promoção, proteção e recuperação da saúde formam também um todo indivisível 
e não podem ser compartimentalizadas; 
• as unidades prestadoras de serviços, com seus diversos graus de complexidade, formam 
também um todo indivisível, configurando um sistema capaz de prestar assistência integral. 
 
1.7 Princípios organizativos: descentralização, participação social, regionalização e 
hierarquização 
Em um país de dimensões continentais como o Brasil – onde quanto mais perto do fato (pessoa 
doente, agravo, epidemia, problemas, pessoas etc.) a decisão for tomada, mais chance haverá de 
acerto. Trata-se do princípio da descentralização. Por isso, redistribuíram-se as responsabilidades 
entre os entes federativos, redefinindo atribuições dos vários níveis de governo com um nítido reforço 
do poder municipal sobre a saúde, cabendo, inclusive, aos municípios a maior responsabilidade na 
promoção das ações de saúde diretamente voltadas aos seus cidadãos. 
Mas, se estamos tratando de um Sistema cujo berço é o da cidadania plena, então é necessário 
garantir a participação da sociedade na sua operacionalização. Dessa forma, instituiu-se como 
princípio organizativo a participação social, que deve se expressar tanto na elaboração, quanto no 
controle da execução das políticas de saúde. 
Essa participação deve se dar através dos Conselhos de Saúde, que devem ter representação 
paritária de usuários, governo, profissionais de saúde e prestadores de serviço. Além disso, são 
importantes fóruns de participação popular as Conferências de saúde. Sobretudo, faz parte desse 
princípio o dever de as instituições oferecerem as informações e conhecimentos necessários para 
que se estabeleça o posicionamento da população em relação aos assuntos que dizem respeito à 
sua saúde. 
Para que os princípios doutrinários possam ser cumpridos, é necessário ainda, que se conheça – o 
melhor possível – os problemas de saúde de cada população. Isso favorece ações de atenção 
ambulatorial e hospitalar em todos os níveis de complexidade. Consequentemente, tende a aumentar 
a resolutividade das ações e do sistema. Também em função da almejada resolutividade, é preciso 
oferecer a cada população todas as modalidades de assistência, bem como o acesso a todo tipo de 
tecnologia disponível. Para tanto, os serviços devem ser organizados em níveis de complexidade 
tecnológica crescente, dispostos numa área geográfica delimitada e com a definição da população a 
ser atendida. Trata-se da regionalização e hierarquização do sistema. 
 
1.8 Normas Operacionais Básicas (NOBs) e Norma Operacional de Assistência à 
Saúde (NOAS) 
Diante dos princípios descritos, fica clara a vocação do SUS em ser um instrumento de cidadania, 
além de um poderoso sistema de inclusão social e de combate à desigualdade. Entretanto, a LOS 
por si só não poderia dar conta de todo o detalhamento necessário à operacionalização desse 
Sistema. Dessa forma, foi necessário criar as Normas Operacionais, elaboradas para dar conta dos 
inúmeros desafios operacionais quese revelavam, a maior parte relacionada ao financiamento do 
 
10 
 
Sistema. Assim surgiram as NOBs (Normas Operacionais Básicas) e NOAS (Norma Operacional de 
Assistência à Saúde). 
 
Investigue o que é o Pacto pela Saúde. 
 
Considerações Finais 
Antes do SUS, o Estado não ofertava saúde, apenas buscava formas de evitar prejuízos financeiros 
ao crescimento econômico do Brasil e não estava em momento nenhum pensando na saúde como 
um direito "humanitário" das pessoas. Na perspectiva histórica de evolução, descentralizar o 
atendimento é importante, porém, a julgar pelos exemplos que temos de saúde coletiva, percebe-se 
que um resultado mais satisfatório seria alcançado se o sujeito fosse responsável por manter sua 
saúde e se o atendimento estivesse focado na prevenção e promoção de bons hábitos de saúde. 
 
De acordo com Merhy (2014) ao tratarmos de saúde pública, é necessário o estudo da natureza das relações 
sociais estabelecidas no local e no tempo, bem como das opções políticas que se desenham pelas forças 
sociais. 
Os SUS surgiu como uma proposta universalista, resultante do Movimento da Reforma Sanitária. Em agosto 
de 1990, o Congresso Nacional aprovou a Lei Orgânica de Saúde (LOS) (Lei 8.080) e em dezembro de 1990 
a Lei 8.142 foi aprovada no Congresso Nacional, instituindo as Conferências e os Conselhos de Saúde como 
instâncias de Controle Social. O conjunto das leis 8.080 e 8.142 constitui a atual LOS. 
O SUS tem princípios doutrinários e organizativos. Os doutrinários estão relacionados à filosofia do Sistema, 
personificam o conceito ampliado de saúde e o princípio do direito à saúde, enquanto os organizativos 
relacionam-se com sua operacionalização. Os princípios doutrinários devem nortear os organizativos, que, por 
sua vez, devem orientar o funcionamento do Sistema. 
A universalidade é o princípio doutrinário que traduz a saúde como um direito de cidadania. Pela 
universalidade, todos os cidadãos, independentemente de contribuição ou distinção de qualquer natureza, têm 
direito de acesso ao sistema. A equidade é princípio que assegura a justiça no acesso dos cidadãos aos 
serviços. A integralidade é o princípio doutrinário mais intimamente ligado às práticas em saúde e está 
embutida nos anseios da Reforma Sanitária quando esta trata da mudança paradigmática da saúde, propondo 
a substituição de práticas. Remete à atenção ao indivíduo como um todo indissociável, em que as partes se 
integram. Mas também remete à organicidade do sistema. Em um país de dimensões continentais como o 
Brasil – onde quanto mais perto do fato (da pessoa doente, do agravo, da epidemia, dos problemas, das 
pessoas, enfim) a decisão for tomada, mais chance haverá de acerto. Trata-se do princípio da 
descentralização. No entanto, se estamos tratando de um Sistema cujo berço é o da cidadania plena, então é 
necessário garantir a participação da sociedade na sua operacionalização. Assim, instituiu-se como princípio 
organizativo a participação social, que deve se expressar tanto na elaboração, quanto no controle da execução 
das políticas de saúde. Para que os princípios doutrinários possam ser cumpridos, é necessário ainda que se 
conheça – o melhor possível – os problemas de saúde de cada população. Isso favorece ações de atenção 
ambulatorial e hospitalar em todos os níveis de complexidade. Consequentemente, tende a aumentar a 
resolutividade das ações e do sistema. Também em função da almejada resolutividade, é preciso oferecer a 
cada população todas as modalidades de assistência, bem como o acesso a todo tipo de tecnologia disponível. 
Para tanto, os serviços devem ser organizados em níveis de complexidade tecnológica crescente, dispostos 
 
11 
 
numa área geográfica delimitada e com a definição da população a ser atendida. Trata-se da regionalização e 
da hierarquização do sistema. 
 
 
Livro: São Paulo de 1920 a 1940 - A Saúde Pública como Política. Os movimentos sanitários, os modelos 
tecnoassistenciais e a formação das políticas governamentais. Autor: Emerson Elias Merhy. Ano: 1ª edição 
1990 e 2ª edição 2014. 
A primeira edição do livro foi publicada em 1990, quando o setor saúde, conforme o autor, (…) “está sendo 
contemplado por uma das maiores barbaridades que já se realizou neste país, com o seu campo de atuação, 
no âmbito governamental (…). O veto do Presidente, no fundo, teve como meta impedir o futuro, e procurou 
manter “presentificado” o nosso passado conservador, elitizado, mesmo que, com isso, mutile a imensa maioria 
dos brasileiros.” O principal objeto do estudo foi a busca da compreensão desse “mundo”, das decisões e 
formulações no campo das ações governamentais em saúde e revelar como a realidade do passado se faz 
ainda presente. 
 
 
 
(INEP – 2016) O Pacto pela Saúde, divulgado pelo Ministério da Saúde em 2006, teve como intuito consolidar 
o Sistema Único de Saúde (SUS) no país e apresenta três componentes: Pacto pela Vida, Pacto em Defesa 
do SUS e Pacto de Gestão. O Pacto de Gestão contribuiu para o fortalecimento da gestão compartilhada e 
solidária do SUS e é um compromisso público dos gestores com as necessidades de saúde da população e 
com os princípios do SUS. 
Considerando os princípios do Pacto de Gestão, avalie as afirmações a seguir, a respeito da gestão dos 
serviços de saúde do SUS. 
I. Os recursos devem ser alocados equitativamente conforme critérios determinados. 
II. O sistema de financiamento público deve ser tripartite: União, estados e municípios. 
III. Os sistemas devem ser organizados com base na territorialização da saúde. 
IV. A participação e o controle social devem ser estimulados. 
É correto o que se afirmar em 
a) I, apenas. 
b) I e IV, apenas. 
c) II e III, apenas. 
d) II, III e IV, apenas. 
e) I, II, III e IV. 
Resposta - As afirmativas corretas são I, II, III e IV. Letra E. 
 
 
 
12 
 
 
Questão Objetiva 
Os Princípios e Diretrizes do SUS garantem o acesso aos serviços de saúde a toda a população em condições 
de igualdade. Em algumas situações especiais, por exemplo em populações de risco, é fundamental 
estabelecer uma discriminação positiva nesses casos, com uma prioridade para quem tem mais necessidades. 
Essa condição caracteriza a: 
a) Equidade. 
b) Integralidade. 
c) Universalidade. 
d) Hierarquização. 
e) Regionalização. 
Resposta - a) Equidade. 
 
Questão Discursiva 
Quais são os Princípios do SUS? Explique. 
Resposta - O SUS tem princípios doutrinários e organizativos. Os doutrinários estão relacionados a filosofia do 
Sistema, personificam o conceito ampliado de saúde e o princípio do direito à saúde, ao passo que os 
organizativos relacionam –se com sua operacionalização. Os princípios doutrinários devem nortear os 
organizativos e estes, por sua vez, orientar o funcionamento do Sistema. 
 
 
Compulsoriedade: qualidade de compulsório, do que tem a capacidade de compelir, de obrigar; em que há 
obrigação ou de caráter obrigatório; obrigatoriedade. 
 
O Pacto pela Saúde teve o objetivo de promover inovações nos processos e instrumentos de gestão, visando 
alcançar maior eficiência e qualidade das respostas do Sistema Único de Saúde. Seus objetivos foram 
elencados e responsabilidades sanitárias e de gestão definidas por meio de três componentes: o pacto pela 
vida (PV), o pacto em defesa do SUS (PDSUS) e o pacto de gestão (PG) (BRASIL, 2006). 
 
 
 
13 
 
 
Brasil. Lei 8.080/90. Diário Oficial da União, Brasília, 19 de setembro de 1990. 
Brasil. Lei 8.142/90. Diário Oficial da União, Brasília, 28 de dezembro de 1990. 
Brasil. Presidência da República. Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos. Constituição da República 
Federativa do Brasil de 1988. Brasília. 1988. 
Brasil. Ministério da Saúde. Portaria no 399. Divulga o Pacto pela Saúde 2006 – Consolidação do SUS e aprova 
as Diretrizes Operacionais do Referido Pacto. Diário Oficial da União, 22 fev. 2006. 
Merhy EL. São Paulo de 1920 – 1940 – A Saúde Pública como Política. Os movimentossanitários, os modelos 
tecnoassistenciais e a formação das políticas governamentais. Editora Rede Unida. Coleção Clássicos da 
Saúde Coletiva. 2ªed. – Porto Alegre: Rede UNIDA, 2014. 
 
 
14 
 
UNIDADE I 
CAPÍTULO 2 - NÍVEIS DE ATENÇÃO EM SAÚDE 
 
No término deste capítulo, você deverá saber: 
✓ Modelo de Atenção; 
✓ Proposta de atendimento; 
✓ Atenção Básica à saúde; 
✓ Atributos da Atenção Primária à Saúde 
✓ Média Complexidade no SUS; 
✓ Alta Complexidade no SUS; 
✓ Financiamento da saúde; 
✓ Tecnologias em saúde. 
 
Introdução 
O SUS é visto por especialistas como um projeto inconcluso. Como é um dos maiores projetos 
públicos de inclusão social, ainda precisa avançar muito para realizar seu intento. Desde seu 
fundamento enfrenta problemas com financiamento, modelo organizacional, métodos de gestão. 
Para a reestruturação do sistema e a proximidade do que seria o ideal, um novo padrão de gestão 
seria necessário com ações de gestão de pessoas envolvendo o Estado. É preciso desmistificar a 
ideia de que o SUS foi feito para os “pobres”, enquanto aqueles com mais condição financeira são 
atendidos pelos planos de saúde. Uma das maneiras de alcançar o modelo de atenção ideal seria o 
investimento em gente, na força de trabalho, na descentralização da gestão com empoderamento da 
equipe, planejamento baseado em modelo de atenção, padronização da rotina dos serviços e 
investimento em informação em saúde. 
Um modelo contemporâneo de gestão de serviços de saúde deve ser implementado e, 
consequentemente, afastar o modelo atrasado médico-hospitalar, baseado em tratamento, guiado 
unicamente pelo poder econômico do complexo industrial na saúde. 
 
A tecnologia em saúde se refere à aplicação de conhecimentos com objetivo de promover a saúde, prevenir e 
tratar as doenças e reabilitar as pessoas. São exemplos de tecnologias em saúde: medicamentos, produtos 
para a saúde, procedimentos, sistemas organizacionais, educacionais, de informação e de suporte e os 
programas e protocolos assistenciais por meio dos quais a atenção e os cuidados com a saúde são prestados 
à população. As tecnologias em saúde estão presentes desde a prevenção de doenças até o tratamento e 
recuperação da saúde das pessoas. A utilização correta das tecnologias em saúde e a atualização constante 
das informações sobre elas são imprescindíveis para um maior benefício para os pacientes e também para os 
seus cuidadores e familiares. 
Brasil. Ministério da Saúde. Entendendo a Incorporação de Tecnologias em Saúde no SUS: como se 
envolver, Brasília: Ministério da Saúde, 2016. Disponível em: 
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/entendendo_incorporacao_tecnologias_sus_envolver.pdf. 
 
 
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/entendendo_incorporacao_tecnologias_sus_envolver.pdf
 
15 
 
2.1 Modelos de Atenção 
Com a finalidade de aproximar-se dos problemas de saúde da população, o SUS é organizado por 
redes de serviços de maneira regionalizada e hierarquizada. Essa lógica de organização favorece as 
ações de vigilância sanitária, epidemiológica e direciona o acesso aos demais níveis de 
complexidade (SOLLA; CHIORO, 2008). 
Tal forma de organização pode ser entendida como um modelo de atenção que está relacionado 
com a forma de organizar as unidades de prestação de serviços de saúde, incluindo os 
estabelecimentos, redes e sistemas. 
Paim (2008) descreve outra forma de organização do processo de prestação de serviços: 
• atenção à demanda espontânea; 
• oferta organizada/ações programáticas; 
• vigilância da saúde, contemplando território, condições e modos de vida; 
• integralidade. 
Os modelos de atenção refletem combinações tecnológicas dispostas nos meios de trabalho. São a 
lógica que orienta e organiza os meios de trabalho (saberes e instrumentos) utilizados nas práticas 
de saúde (PAIM, 2008). 
Em sua obra, Mendes (2010, p. 2.302) define modelos de atenção como: 
Sistemas lógicos que organizam o funcionamento das redes de atenção à saúde, 
articulando, de forma singular, as relações entre a população e suas subpopulações 
estratificadas por riscos, os focos das intervenções do sistema de atenção à saúde e 
os diferentes tipos de intervenções sanitárias, definidos em função da visão 
prevalecente da saúde, das situações demográfica e epidemiológica e dos 
determinantes sociais da saúde, vigentes em determinado tempo e em determinada 
sociedade. 
Portanto, basicamente os modelos de atenção à saúde (Quando 2) podem ser voltados ao 
atendimento de condições agudas de saúde ou ao atendimento de condições crônicas de saúde. 
Quadro 2: Modelos Assistências e Vigilância em Saúde 
Modelo Sujeito Objeto 
Meios de 
trabalho 
Formas de 
organização 
Modelo médico-
assistencial-
privatista 
Médico com 
especialização 
complementariedade 
(paramédicos) 
Doença (patologia 
e outras) 
Doentes (clínica e 
cirurgia) 
Tecnologia 
médica (indivíduo) 
Rede de serviços 
de saúde 
Hospital 
Modelo 
Sanitarista 
Sanitaristas 
Auxiliares 
Modos de 
transmissão 
Fatores de risco 
Tecnologia 
sanitária 
Campanhas 
sanitárias 
Programas 
especiais 
Sistemas de 
vigilância 
epidemiológica e 
sanitária 
 
16 
 
Vigilância da 
saúde 
Equipe de saúde 
População (cidadãos) 
Danos, riscos, 
necessidades e 
determinantes dos 
modos de vida e 
saúde (condições 
de vida e trabalho) 
Tecnologias de 
comunicação 
social, de 
planejamento e 
programação local 
situacional e 
tecnologias 
médico – 
sanitárias 
Políticas públicas 
saudáveis 
Ações 
intersetoriais 
Intervenções 
específicas 
(promoção, 
prevenção e 
recuperação) 
Operações sobre 
problemas e 
grupos 
populacionais 
Fonte: TEIXEIRA, PAIM, VILAS BOAS; 1998. 
 
Estabelecimentos – unidades de produção de serviços. Redes – conjunto de estabelecimentos voltados à 
prestação de serviços comuns ou interligados mediante sistemas de referência e contrarreferência. Sistema – 
conjunto de instituições de saúde submetidas a leis e normas que regulam o financiamento, a gestão e a 
provisão dos serviços. 
 
2.2 Proposta de atendimento 
Existe uma interação entre os níveis de atenção, mesmo com o modelo hierarquizado sendo o mais 
difundido e o cuidado à saúde está organizado em atenção básica, atenção de média complexidade 
e de alta complexidade. 
Nem sempre todos os níveis de atenção estão presentes em um território. Em pequenos municípios, 
por exemplo, existem acordos em que as prefeituras, por meio de consórcios, podem fornecer 
serviços e exames, atendendo uma microrregião e desta forma otimizar recursos e garantir o 
atendimento às necessidades da população. Entretanto, a atenção básica é prioritária, e deve operar 
em condição plena e com eficácia. 
Para ilustrar melhor, a Figura 1 apresenta o modelo de pirâmide hierarquizado e regionalizado do 
SUS. 
Figura 1: Modelo de pirâmide hierarquizado e regionalizado do SUS. 
 
Fonte: Adaptado de Mendes, 2011. 
Alta complexidade
resolve 5% dos problemas 
de saúde 
Média complexidade
resolve 15% dos 
problemas de saúde
Atenção básica
resolve mais de 80% dos 
problemas de saúde
 
17 
 
 
Entendiam-se os níveis de atenção a partir da incorporação de tecnologias de saúde. Desta forma, a atenção 
básica, por não utilizar equipamentos de alta tecnologia, como tomógrafos, por exemplo, estaria apresentada 
como de baixa complexidade e teria procedimentos definidos na tabela de faturamento do SUS também de 
baixa complexidade. Já o atendimento hospitalar, pela necessidade de equipamentos e tecnologias complexas, 
é definido como de alta complexidade ou de atenção terciária. Para Mendes (2011), a atenção ambulatorial 
primária pode ser considerada complexa apesar de não utilizar equipamentos de alta tecnologia, por trabalhar 
diretamente com mudanças de hábitos dos pacientes, como no caso do tratamento de obesidade e 
hipertensão, que é bastante complexo, por exemplo. 
 
2.3Atenção básica à saúde 
A porta de entrada no SUS. A atenção básica à saúde é também denominada de atenção primária à 
saúde. Neste nível de atenção, são empregadas tecnologias de baixa densidade capazes de atender 
à maioria dos problemas comuns de saúde da comunidade, porém sua organização, 
desenvolvimento e aplicação nem sempre são tão simples e exigem conhecimento profundo da 
realidade da população da sua região. Estruturalmente, o atendimento acontece em unidades 
básicas de saúde e pode ou não agregar o Programa Saúde da Família. Na atenção básica é feito o 
encaminhamento dos usuários para os atendimentos de média e alta complexidade. Seu papel é tão 
primordial ao sistema que é capaz de suprir 80% das necessidades da população de um município. 
 
Estratégia Saúde da Família: estratégia adotada pelo Ministério da Saúde como prioritária para a organização 
da atenção básica; é formada por equipe multiprofissional composta de médico, enfermeiro, cirurgião-dentista, 
auxiliar de consultório dentário ou técnico em higiene dental, auxiliar de enfermagem ou técnico de enfermagem 
e agente comunitário de saúde, entre outros. 
Acesse: https://aps.saude.gov.br/ape/esf/ 
 
A atenção primária inclui um rol de procedimentos menos complexos caracterizados por apresentarem 
tecnologia de baixa densidade. 
 
2.4 Atributos da atenção primária à saúde 
De acordo com Starfield (2002), os atributos dividem-se em essenciais e derivados. Os essenciais 
são primeiro contato, longitudinalidade, integralidade e coordenação; e os derivados são foco na 
família, orientação comunitária e competência cultural. 
https://aps.saude.gov.br/ape/esf/
 
18 
 
 
 
2.5 Média Complexidade no SUS 
No âmbito do SUS, a média complexidade caracteriza-se por aquela que transcende a atenção 
básica e que não se configura como alta complexidade. 
É entendida como serviço de apoio ao diagnóstico e terapêutico de atenção especializada de menor 
complexidade tecnológica. 
Por funcionar sob demanda, muitas vezes estes serviços são desregulados. Um exemplo é o que 
acontece com as consultas médicas especializadas e procedimentos de patologia clínica e 
diagnóstico por imagem. Em muitos municípios existe uma articulação regional que não observa a 
necessidade de economia de escala, com serviços mal dimensionados para as necessidades da 
população que se tornam ociosos, custosos e inviáveis técnica e financeiramente. 
 
 
Primeiro contato
•Acessibilidade
•Uso de serviços para cada novo problema ou novo episódio de um problema para o qual se
procura atenção à saúde
Longitudinalidade
•Existência de uma fonte continuada de cuidados pela equipe de saúde ao longo do tempo, em um
ambiente de relação mútua de confiança e humanizada entre equipe, indivíduos e famílias
Integralidade
•Prestação, realizada pela equipe, de um conjunto de serviços que atendem às necessidades da
populção adstrita nos campos da promoção, da prevenção, da cura, do cuidado, da reabilitação e
dos cuidados paliativos, bem como a responsabilização pela oferta de serviços em outros pontos
de atenção e o reconhecimento adequado dos problemas biológicos, psicológicos e sociais que
causam doenças
Coordenação
•Capacidade de garantir a continuidade do cuidado e se articula com a função de centro de
comunicação dos outros pontos de atenção
Orientação familiar
•Focaliza na família e se considera como o sujeito da atenção, e o conhecimento integral de seus
problemas de saúde, utilizando as ferramentas de abordagem familiar
Orientação comunitária
•Reconhecimento das necessidades de saúde da comunidade em função do contexto físico,
econômico e social, o que exige uma análise situacional das necessidades de saúde e a sua
competência cultural; estabelecimento de uma relação horizontal entre a equipe e a população que
respeite as singularidades culturais da população atendida, facilitando, assim, essa relação.
 
19 
 
2.6 Alta Complexidade no SUS 
A alta complexidade no SUS é representada pelos procedimentos que abrangem alta tecnologia e 
alto custo. 
O objetivo é garantir que a população tenha acesso a serviços qualificados e integrados à atenção 
básica e de médica complexidade. Os procedimentos deste nível em sua maioria são aqueles 
ofertados pelos hospitais. Ainda no Brasil, perdura-se o modelo hospitalocêntrico. 
Os dados que representam a assistência hospitalar no contexto do setor de saúde impressionam 
tanto pelo volume de recursos despendidos quanto pela complexidade e extensão de seu 
atendimento, principalmente com hospitais prestadores de serviços ao SUS. O SUS financia a maior 
parte do atendimento hospitalar para a população pobre. 
 
2.7 Financiamento da saúde 
Para a implantação do SUS, a maior dificuldade sempre foi a de um financiamento definido e 
suficiente para os investimentos na rede de serviços, à cobertura assistencial ambulatorial e 
hospitalar e às demais ações de saúde. 
A Constituição Federal de 1988 preocupou-se com a necessidade de criar fontes de financiamento 
capazes de garantir o atendimento das ações e serviços de saúde e impôs essa responsabilidade às 
três esferas de governo, devendo, cada qual, assegurar o aporte regular de recursos. No tocante ao 
financiamento do SUS, a Constituição definiu que: "O sistema único de saúde será financiado, nos 
termos do art. 195, com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do 
Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes" (art. 198, § 1Q). O art. 195 da Constituição 
estabelece ainda que o financiamento da Seguridade Social é um dever imposto à toda a sociedade, 
de forma direta e indireta, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, 
do Distrito Federal, dos Municípios e de contribuições sociais. De acordo com o princípio da 
diferenciação, previsto no § 1 Q do art. 195 da Constituição, "as receitas dos Estados, do Distrito 
Federal e dos Municípios destinadas à seguridade social constarão dos respectivos orçamentos, não 
integrando o orçamento da União" (BRASIL, 1988). 
Vale salientar que sempre houve a necessidade de um detalhamento para operacionalizar o sistema, 
então o Ministério da Saúde editou a primeira NOB 01/91 (Norma Operacional Básica) e outras três 
foram publicadas posteriormente (NOB 92, 93, e 96) (Quadro 3). 
Quadro 3: Normas Operacionais Básicas e Norma Operação de Assistência à Saúde 
NOB 01/91 NOB 93 NOB 96 NOAS 2001 
Institui o pagamento 
por produção 
Ativou as Comissões 
Intergestores 
Reeditou as 
modalidades: Plena de 
Atenção básica e Plena 
do sistema de Saúde 
Regionalização 
Há críticas por 
considerar o munícipio 
como mero prestador 
Criou modalidades de 
gestão Municipal: 
incipiente, parcial e 
semiplena 
Ativação do repasse 
fundo a fundo 
Responsabilização dos 
munícipios com ações 
estratégicas para a 
Atenção Básica 
 
20 
 
Em maio de 1993 
houve suspensão de 
todos os repasses do 
SUS 
Considerada um salto 
na Municipalização 
Criação do APB fixo e 
variável 
 
Houve um Edição de 
uma Medida Provisória 
com empréstimo ao 
FAT para financiar a 
saúde 
 
 
2.8 Tecnologias em saúde 
A expressão tecnologia pode ser definida como conhecimento aplicado. No caso da saúde, ela é o 
conhecimento aplicado que permite a prevenção, o diagnóstico e o tratamento das doenças, e a 
reabilitação de suas consequências, devendo ser compreendida como um conjunto de ferramentas, 
entre elas as ações de trabalho, que põem em movimento uma ação transformadora da natureza, ou 
seja, a tecnologia engloba não somente os instrumentos envolvidos na produção, mas também o 
saber tecnológico e o modus operandi, que dão sentido à razão instrumental do equipamento 
(MERHY; FEUERWERKER, 2009). 
No campo da saúde, o objeto é a produção do cuidado, por meio do qual se espera alcançar a cura 
e a saúde, que são, de fato, os objetivos que se quer atingir. Sendo assim, além das ferramentas, 
devemser considerados os conhecimentos e ações necessárias para operá-los: o saber e seus 
procedimentos. O sentido contemporâneo de tecnologia, portanto, diz respeito aos recursos 
materiais e imateriais dos atos técnicos e dos processos de trabalho sem, contudo, fundir estas duas 
dimensões. 
As tecnologias em saúde podem ser descritas ou classificadas de diversas maneiras. No Brasil, 
Merhy (1997) classificou as tecnologias envolvidas no trabalho em saúde como: tecnologia dura, 
leve-dura e leve. A leve refere-se às tecnologias de relações do tipo produção de vínculo, 
autonomização, acolhimento, gestão como forma de governar processos de trabalho. A leve-dura diz 
respeitos aos saberes bem estruturados, que operam no processo de trabalho em saúde, como a 
clínica médica, a clínica psicanalítica e a epidemiológica. A dura é referente ao uso de equipamentos 
tecnológicos do tipo máquinas, normas e estruturas organizacionais. 
 
 
•Das relaçõesTecnologias Leves
•Conhecimentos bem estruturados Tecnologias Leve-Duras
•Equipamentos tecnológicos do tipo máquinas
•Normas
•Estrutuas organizacionais
Tecnologias Duras
 
21 
 
Considerações Finais 
Os sistemas de saúde devem acompanhar a evolução acelerada do mundo contemporâneo. Os 
profissionais atuantes no SUS devem acompanhá-las. Mais do que questão de sobrevivência, é 
também uma maneira de inserção social. Adaptar-se as novas realidades impostas por esse 
desenvolvimento dinâmico faz-se necessário em uma sociedade que exige cada vez mais que 
estejamos inseridos em seu contexto. 
O modelo de atenção precisa atender às mudanças na sociedade. Os sistemas de saúde que são 
orientados às necessidades da população têm melhores resultados. A população vivendo mais, e 
com menos utilização dos espaços da ‘rua’, faz com que a rede de serviços (de saúde e dos outros 
setores da determinação social da saúde) se prepare para apoiar as pessoas a lidar com condições 
crônicas. Essa é função primordial e inerente da Atenção Básica. 
 
Com a finalidade de aproximar-se dos problemas de saúde da população, o SUS é organizado por redes de 
serviços de maneira regionalizada e hierarquizada. Essa lógica de organização favorece as ações de vigilância 
sanitária, epidemiológica e direciona o acesso aos demais níveis de complexidade. Existe uma interação entre 
os níveis de atenção, mesmo com o modelo hierarquizado sendo o mais difundido e o cuidado à saúde está 
organizado em atenção básica, atenção de média complexidade e de alta complexidade. 
Nem sempre todos os níveis de atenção estão presentes em um território. Em pequenos municípios, por 
exemplo, existem pactos onde as prefeituras, por meio de consórcios, podem fornecer serviços e exames, 
atendendo uma microrregião e desta forma otimizar recursos e garantir o atendimento as necessidades da 
população. Entretanto, a atenção básica é prioritária e deve operar em condição plena e com eficácia. 
A atenção básica à saúde é também denominada de atenção primária à saúde. Nesse nível de atenção, são 
empregadas tecnologias de baixa densidade capazes de atender à maioria dos problemas comuns de saúde 
da comunidade, porém sua organização, desenvolvimento e aplicação nem sempre são tão simples e exigem 
conhecimento profundo da realidade da população da sua região. Estruturalmente, o atendimento acontece 
em unidades básicas de saúde e pode ou não agregar o Programa Saúde da Família. Na atenção básica é 
feito o encaminhamento dos usuários para os atendimentos de média e alta complexidade. Seu papel é tão 
primordial ao sistema que é capaz de suprir 80% das necessidades da população de um município. 
Os atributos da atenção primária dividem-se em essenciais e derivados. Os essenciais são primeiro contato, 
longitudinalidade, integralidade e coordenação; e os derivados são foco na família, orientação comunitária e 
competência cultural. 
No âmbito do SUS, a média complexidade caracteriza-se por aquela que transcende a atenção básica e que 
não se configura alta complexidade. É entendida como serviço de apoio ao diagnóstico e terapêutico de 
atenção especializada de menor complexidade tecnológica. 
A alta complexidade no SUS é representada pelos procedimentos que abrangem alta tecnologia e alto custo. 
O objetivo é garantir que a população tenha acesso a serviços qualificados e integrados à atenção básica e de 
médica complexidade. Os procedimentos deste nível em sua maioria são aqueles ofertados pelos hospitais. 
Para a implantação do SUS a maior dificuldade sempre foi a de um financiamento definido e suficiente para os 
investimentos na rede de serviços, à cobertura assistencial ambulatorial e hospitalar e às demais ações de 
saúde. 
A expressão tecnologia pode ser definida como conhecimento aplicado. No caso da saúde, ele é o 
conhecimento aplicado que permite a prevenção, o diagnóstico e o tratamento das doenças, e a reabilitação 
de suas consequências, devendo ser compreendida como um conjunto de ferramentas, entre elas as ações de 
trabalho, que põem em movimento uma ação transformadora da natureza, ou seja, a tecnologia engloba não 
somente os instrumentos envolvidos na produção, mas também o saber tecnológico e o modus operandi, que 
dão sentido ao que será ou não à razão instrumental do equipamento. 
 
 
22 
 
 
Portaria nº 648, de 28 de março de 2006, do Ministério da Saúde. 
 
(ENADE – 2010) O acúmulo técnico-político dos três níveis de gestão do SUS, na implantação do Programa 
de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e da Estratégia de Saúde da Família (ESF), elementos essenciais 
para a reorientação do modelo de atenção, tem possibilitado a identificação de um conjunto de questões 
relativas às bases conceituais e operacionais do que se tem denominado atenção básica à saúde no Brasil, e 
de suas relações com os demais níveis do sistema. Essa discussão fundamenta-se nos eixos transversais da 
universalidade, da integralidade e da equidade, em um contexto de descentralização e controle social da 
gestão, princípios assistenciais e organizativos do SUS, consignados na legislação constitucional e 
infraconstitucional. 
Considerando o texto como referência inicial, assinale a opção correta acerca da atenção básica em saúde. 
a) O Programa Saúde da Família é a estratégia prioritária para a reorganização da atenção básica, por ser 
um atendimento prestado por equipes especialistas que se responsabilizam pelas famílias cadastradas em 
sua área. 
b) A equipe mínima para a ESF é composta por um médico de família, um enfermeiro, um auxiliar de 
enfermagem, um dentista, agentes comunitários de saúde, um auxiliar e um técnico de saúde bucal. 
c) A atenção básica em saúde é considerada a porta de entrada para o SUS por cuidar apenas da promoção 
da saúde e da prevenção primária. 
d) Cada equipe da ESF é responsável pelo acompanhamento de 3 mil pessoas ou 500 famílias de terminada 
área. 
e) O PACS substitui a ESF em municípios com menos 50 mil habitantes. 
Resposta – O PACS substitui a ESF em municípios com menos 50 mil habitantes. 
 
Questão Objetiva 
Sobre o financiamento do SUS, assinale a alternativa incorreta: 
a) Estados e municípios devem investir em Saúde, pelo menos 15% de sua receita. 
b) A participação da iniciativa privada no SUS é permitida, mas apenas de modo complementar. 
c) Gastos com saneamento básico e aposentadoria de servidores da saúde não podem ser incluídos 
pelos municípios como despesas em saúde. 
d) Recursos da Previdência e Seguridade Social não são atualmente uma das fontes de financiamento 
do SUS. 
Resposta - a) Estados e municípios devem investir em Saúde, pelo menos 15% de sua receita. 
 
Questão Discursiva 
Disserte sobre o financiamento do SUS. 
 
 
23 
 
 
STARFIELD, B. Atenção primária: equilíbrio entre a necessidade de saúde, serviços e tecnologias. Brasília: 
UNESCO; Ministério da Saúde, 2002. 
A publicação do livro de Barbara Starfield (2002), uma referência na Atenção Primária, como tambéma edição 
de seu livro no Brasil, “Atenção Primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologias”, que 
é uma publicação institucional do Ministério da Saúde em parceria com a OPAS, tem exercido grande influência 
entre aqueles envolvidos com o SUS. Nesse livro, a autora cita um estudo, coordenado por ela mesma e 
publicado em 1994, em que compara 12 países industrializados. É interessante destacar que a comparação é 
feita entre países considerados ricos. Ou seja, mesmo em situação de abundância, alguns países, entre eles 
os EUA, com baixa orientação para a atenção primária, têm indicadores piores que países menos ricos. 
 
Modelo hospitalocêntrico: Modelo que tem como características, a atuação centrada no hospital como locus de 
atuação nas ações centradas no médico, no corpo dividido em partes, nas especialidades médicas, na doença 
e na cura desta. 
 
Se tomarmos a saúde como um sistema complexo e pensarmos que a crise da saúde pública nos convoca a 
superar a simples atenção das demandas, procurando a eliminação de problemas que se encontram tanto na 
esfera dos determinantes sociais da saúde quanto no âmbito da resolutividade das práticas médicas, então 
estaremos, de fato, nos posicionando em defesa de uma ética que valorize a vida humana, buscando colaborar 
efetivamente para a construção de ambientes e de uma sociedade mais justa e saudável. A proposição de 
diagnósticos participativos e interdisciplinares das condições de vida e da situação de saúde de territórios 
específicos apresenta-se como importante ferramenta para a organização de práticas que favoreçam o 
‘encontro de horizontes’ entre a população e os serviços de saúde. Diante da vida e das circunstâncias, 
elaboramos e executamos nossas práticas de saúde. Os profissionais de saúde precisam desenvolver a 
percepção de como a população compreende suas práticas de saúde. É nesse encontro de sujeitos que se faz 
a construção conjunta – da qual os conceitos são formas mediadoras. Não devemos nos apressar em construir 
o objeto da intervenção: é o encontro que diz quais são os objetos (AYRES, 2003, 2004). 
 
Ayres JRCM, França Júnior I, Calazans GJ, Saletti Filho HC. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de 
saúde: novas perspectivas e desafios. In: Czeresnia D, Freitas CM, organizadores. Promoção da saúde – 
conceitos, desafios, tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2003. p. 117-38. 
 
24 
 
Ayres, José Ricardo. (2004). Norma e formação: horizontes filosóficos para as práticas de avaliação no 
contexto da promoção da saúde. Ciência & Saúde Coletiva, 9(3), 583-592. https://dx.doi.org/10.1590/S1413-
81232004000300011 
Brasil. Presidência da República. Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos. Constituição da República 
Federativa do Brasil de 1988. Brasília. 1988. 
Mendes, Eugênio V. As redes de atenção à saúde. Brasília, DF: Organização Pan-Americana da Saúde; 
Organização Mundial da Saúde; Conselho Nacional de Secretários de Saúde, 2011. 
Merhy EE. O SUS e um dos seus dilemas: mudar a gestão e a lógica do processo de trabalho em saúde (um 
ensaio sobre a micropolítica do trabalho vivo). In: Fleury S, organizadora. Saúde e democracia, a luta do 
CEBES. São Paulo: Lemos; 1997. p.125- 42. 
Merhy, E. E.; Feuerwerker, L.C.M. (2009); Novo olhar sobre as tecnologias de saúde: uma necessidade 
contemporânea, in: Leituras de novas tecnologias e saúde; Mandarino, A. C. S.; Gomberg, E. (org.); Bahia, 
Editora UFS, 29-56. 
Paim, Jairnilson Silva. (2008). A reforma sanitária brasileira e o Sistema Único de Saúde: dialogando com 
hipóteses concorrentes. Physis: Revista de Saúde Coletiva, 18(4), 625-644. https://doi.org/10.1590/S0103-
73312008000400003 
Sabroza PC. Concepções de Saúde e Doença. Rio de Janeiro: EAD, Ensp, 2001. (Texto de Apoio ao módulo 
I do Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde). 
Solla J, Chioro A. Atenção ambulatorial especializada. In: GIOVANELLA, Lígia et al. (Org.). Políticas e sistemas 
de saúde no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2008. cap. 17, p. 627-663. 
Starfield B. Atenção primária: equilíbrio entre a necessidade de saúde, serviços e tecnologias. Brasília: 
UNESCO; Ministério da Saúde, 2002. 
 Teixeira CF, Paim JS, Vilasboas AL. SUS, Modelos Assistenciais e Vigilância da Saúde. IESUS 1998; 7(2):7-
28. http://scielo.iec.gov.br/pdf/iesus/v7n2/v7n2a02.pdf. 
 
https://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232004000300011
https://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232004000300011
https://doi.org/10.1590/S0103-73312008000400003
https://doi.org/10.1590/S0103-73312008000400003
http://scielo.iec.gov.br/pdf/iesus/v7n2/v7n2a02.pdf
 
25 
 
UNIDADE I 
CAPÍTULO 3 – TERRITORIALIZAÇÃO E REDES DE ATENÇÃO À 
SAÚDE 
 
No término deste capítulo, você deverá saber: 
✓ Sistemas de Atenção à Saúde; 
✓ Sistema fragmentado (Modelo hierárquico de Atenção à Saúde; 
✓ Redes de Atenção à Saúde (RAS); 
✓ Atenção Primária à Saúde (APS) nas RAS; 
✓ Determinantes sociais da saúde; 
✓ Epidemiologia em saúde; 
✓ Planejamento em saúde; 
✓ Organização da demanda. 
 
Introdução 
O livro “COLAPSO – Como as sociedades escolhem o fracasso ou sucesso”, de Jared Diamond 
(2005), o autor descreve, como sociedades antigas e bem organizadas, como os Maias, Polinésios 
e povos da Ilha de Páscoa e Groenlândia Nórdica entraram em colapso após exaurirem seus 
recursos naturais. Este colapso também foi estimulado por mudanças climáticas e a reação da 
população frente à escassez desses recursos, causando nos casos mais extremos a emigração e a 
morte de toda a população, antecedidos pela desestruturação política e perda de identidade cultural. 
Atualmente, em meio às rápidas mudanças ambientais, percebemos que as sociedades 
contemporâneas pouco aprenderam com o valioso banco de dados do passado. Continuamos 
esgotando nossos recursos e estamos pouco dispostos a alterar nossos padrões de consumo frente 
a escassez. Transferindo o conceito de esgotamento de recursos para a área da saúde, onde as 
necessidades são crescentes e ilimitadas e a incorporação de novas tecnologias tem caráter 
cumulativo e não substitutivo, é preciso uma reflexão crítica sobre a eficiência, efetividade e 
resolutividade dos serviços de atenção frente aos principais problemas de saúde da população. 
 
A escassez de recursos na saúde não poderá ser respondida, adequadamente, por um sistema de atenção à 
saúde totalmente fragmentado, reativo, episódico e voltado, prioritariamente, para o enfrentamento das 
condições agudas e das agudizações das condições crônicas. Isso não deu certo em outros países, isso não 
está dando certo aqui. Por isso, há que se restabelecer a coerência entre a situação de saúde e o SUS, o que 
envolverá a implantação das redes de atenção à saúde (RAS) para definir uma nova forma de organizar o 
sistema de atenção à saúde em sistemas integrados que permitam responder, com efetividade e eficiência. 
 
3.1 Sistema de atenção à saúde 
Os sistemas de atenção à saúde são definidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um 
conjunto de atividades cujo propósito é promover, reestruturar e manter a saúde da população. Eles 
 
26 
 
não são estáticos e estão em constante processo de construção e desenvolvimento, acompanhando 
as mudanças sociais e culturais das sociedades, com objetivo de garantir o bom estado de saúde de 
suas populações. 
De acordo com Mendes (2011), os sistemas de saúde operam em conformidade com a situação de 
saúde das pessoas que o utilizam, sendo respostas sociais deliberadas às necessidades de saúde 
dos cidadãos. 
Atualmente, no Brasil, a situação de saúde passa por mudanças decorrentes de uma transição 
demográfica acelerada e tripla carga de doenças: 
 
Como resposta a esta situação, é necessário um sistema de atenção à saúde que tenha coerência 
entre a situação de saúde e o SUS, envolvendo a implantação de redes de atenção à saúde (RAS). 
Mas antes vamos conhecer os Modelos de Sistema de Saúde. 
 
A definição de AtençãoPrimária à saúde (APS) ou Atenção Básica à Saúde (ABS), segundo a Organização 
Mundial da Saúde abrange: “A atenção essencial à saúde, baseada em métodos práticos, cientificamente 
evidentes e socialmente aceitos e em tecnologias tornadas acessíveis a indivíduos e famílias na comunidade 
por meios aceitáveis e a um custo que as comunidades e os países possam suportar, independentemente de 
seu estágio de desenvolvimento, em um espírito de autoconfiança e autodeterminação. Ela forma parte integral 
do sistema de serviços de saúde do qual representa sua função central e o principal foco de desenvolvimento 
econômico e social da comunidade. Constitui o primeiro contato de indivíduos, famílias e comunidades com o 
sistema nacional de saúde, trazendo os serviços de saúde o mais próximo possível dos lugares de vida e 
trabalho das pessoas, bem como o primeiro elemento de um processo contínuo de atenção (WHO, 1978). 
 
Doenças crônicas
Doenças 
infecciosas 
e carenciais 
Caus
as 
exter
nas
 
27 
 
 
Condições agudas: apresentam um curso curto, inferior a três meses de duração, e tendem a se autolimitar; 
são manifestações de doenças transmissíveis de curso curto, como dengue e gripe, ou de doenças infecciosas, 
também de curso curto, como apendicite ou amigdalites, ou de causas externas, como os traumas. 
Condições crônicas: têm um período de duração mais ou menos longo e nos casos de algumas doenças 
crônicas, tendem a apresentar-se de forma definitiva e permanente. As doenças infecciosas de curso longo 
são consideradas condições crônicas. 
 
Tripla carga de doenças: 
1. Agenda não concluída de infecções, desnutrição e saúde reprodutiva; 
2. Crescimento das causas externas; 
3. Predomínio de doenças crônicas e fatores de risco (tabagismo e álcool). 
 
3.2 Sistema fragmentado (modelo hierárquico de atenção à saúde) 
Os sistemas de saúde fragmentados são aqueles que se organizam através de um conjunto de 
pontos de atenção à saúde isolados em que não há comunicação entre os níveis de atenção sendo, 
portanto, incapazes de prestar uma atenção contínua à população. Em geral, não há uma população 
adscrita de responsabilização, o que impossibilita a gestão baseada na população. Nesses sistemas, 
a atenção primária à saúde não é a coordenadora dos cuidados e os profissionais não conseguem 
exercer a linha de cuidado integral com o paciente. As unidades de pronto atendimento, ambulatorial 
e hospitalar têm por objetivo atender a demanda espontânea e realizar intervenções curativas e 
reabilitadoras. O modelo é médico assistencial privatista e o usuário é passivo no tratamento 
(MENDES, 2011). 
No sistema fragmentado existe uma forma de organização hierárquica com níveis de complexidade 
de atenção crescentes, fazendo a atenção básica parecer menos complexa do que os outros níveis 
de atenção, que utilizam maiores densidades tecnológicas. 
 
 
28 
 
3.3 Redes de atenção 
As redes de atenção à saúde são organizações poliárquicas de conjuntos de serviços de saúde, 
vinculados entre si por objetivos comuns e por uma ação cooperativa e interdependente, que 
permitem ofertar uma atenção contínua, integral e humanizada a população. 
Nas redes de atenção à saúde os níveis de atenção se relacionam horizontalmente e implicam um 
contínuo de atenção nos níveis primário, secundário e terciário, gerando uma atenção integral com 
intervenções promocionais, preventivas, curativas, cuidadoras, reabilitadoras e paliativas, sendo a 
atenção primária à saúde a coordenadora do cuidado (MENDES, 2011). 
As redes de atenção à saúde podem ser organizadas de forma a concentrar alguns tipos de serviços 
e dispersar outros. Desta forma, os serviços de atenção primária à saúde podem ser dispersos 
(bairros e municípios) e os serviços de densidade tecnológica maior podem ser concentrados 
(maiores centros urbanos), facilitando assim a organização e distribuição de acordo com as 
necessidades epidemiológicas e demográficas de cada localidade (OMS, 2010). 
Uma proposta de solução para o problema fundamental do SUS consiste em restabelecer a 
coerência entre a situação de saúde atual, com predominância das condições crônicas, e o sistema 
de atenção à saúde através da mudança do sistema fragmentado vigente para as redes de atenção 
à saúde (MENDES, 2012). 
 
3.4 Atenção Primária à Saúde (APS) 
A Atenção Primária em Saúde (APS) ou Atenção Básica à Saúde (ABS) pode ser denominada como 
o eixo estruturante da atenção à saúde, sendo uma estratégia de organização e de reorganização 
dos sistemas de saúde, nos quais representa o primeiro nível de atenção e também um modelo de 
mudança da prática clínico-assistencial dos profissionais de saúde (STARFIELD, 2002). 
Atualmente é evidente seu impacto na saúde e no desenvolvimento da população nos países que a 
adotaram como base para seus sistemas de saúde, tenho o Brasil alcançado reconhecimento 
internacional pela implantação bem-sucedida da Estratégia Saúde da Família (GONDIM et al., 2011). 
Para Starfield (2002), a Atenção Primária em Saúde, apesar de ser o primeiro nível de atenção, tem 
como função a organização e integração das ações de promoção, prevenção e recuperação da 
saúde nas redes de atenção à saúde. Deve garantir a coordenação e a continuidade do cuidado, 
tendo como atribuições: a garantia de acesso e porta de entrada, a longitudinalidade, o elenco 
integral de serviços, a coordenação de serviços e o enfoque familiar e a orientação da comunidade. 
Contudo, essa forma de organização, ainda que disponha de uma oferta de serviços hierarquizada 
em três níveis de atenção (primário, secundário e terciário), não consegue abranger as necessidades 
da atenção integral à saúde, por ser focada em recortes populacionais de acordo com seus agravos. 
Percebe-se então, a fragmentação da atenção e descontinuidade da assistência, gerando baixa 
resolutividade dos primeiros níveis de atenção e dificuldade de acesso aos níveis de maior 
complexidade. A estruturação da assistência à saúde em especialidades, efetivada por meio de 
procedimentos de média e de alta complexidade, possibilita a ocorrência de estrangulamentos na 
rede de serviços de saúde. 
 
29 
 
Essa fragmentação da atenção e a responsabilização clínica insuficiente são reflexos do modo de 
organizar o trabalho e os processos de decisão nos serviços de saúde, sendo que os serviços 
somente se responsabilizam pelos usuários enquanto estão dentro de seu espaço físico. 
Diante do exposto observa-se a necessidade de ampliação da visão sobre os determinantes dos 
problemas de saúde e discussões sobre a prática de uma clínica ampliada para a construção de 
novos modelos de promoção de saúde, sendo que a Atenção Primária à Saúde (APS) pode ser um 
local privilegiado para a construção de estratégias de enfrentamento dos problemas de saúde da 
população. 
 
3.5 Determinantes sociais da saúde (DSS) 
Os DSS são os fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e 
comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na 
população. 
Os determinantes sociais da saúde, articulados com o Modelo de Atenção às Condições Crônicas, 
são definidos como as condições sociais em que as pessoas vivem e trabalham ou como as 
características sociais dentro das quais a vida transcorre; ou seja, como a causa das causas. Assim, 
a distribuição desigual das experiências prejudiciais é uma questão de justiça social e um imperativo 
ético para o qual devem ser estruturadas três grandes linhas de ação: melhorar as condições de vida 
da população; lutar contra a distribuição desigual do poder e dos recursos; e medir a magnitude do 
problema, avaliar as intervenções, ampliar a base de conhecimentos, dotar-se de pessoal capacitado 
em determinantes sociais da saúde e sensibilizar a opinião pública a esse respeito. Os determinantes 
sociais influenciam diretamente os indicadores de saúde; devido a isso,qualquer modelo de atenção 
à saúde deve estar atento a esses elementos. 
Figura 2: Determinantes sociais: modelo de DAHLGREN e WHITEHEAD 
 
Disponível em: https://scielosp.org/article/sausoc/2017.v26n3/676-689/ 
https://scielosp.org/article/sausoc/2017.v26n3/676-689/
 
30 
 
Observando-se os determinantes sociais, percebe-se que há a necessidade de estratificar a 
população em grupos de risco, permitindo identificar pessoas e grupos com necessidades de saúde 
semelhantes que devem ser atendidos por tecnologias e recursos específicos. Esta lógica se apoia 
em um manejo diferenciado pelas RAS, de pessoas e de grupos que apresentam riscos similares. 
Atualmente, no Brasil, com a implantação da Estratégia Saúde da Família, que veio como uma nova 
maneira de se organizar a assistência, tem-se conseguido, através do controle de risco familiar, 
direcionar ações em saúde para famílias e grupos de risco semelhantes. 
 
Pesquisa sobre Modelo de Atenção às Condições Crônicas (MACC). 
 
3.6 Epidemiologia em saúde 
A Epidemiologia é a ciência que estuda os padrões da ocorrência de doenças em populações 
humanas e os fatores determinantes destes padrões (LILIENFELD, 1980). 
Enquanto a clínica aborda a doença em nível individual a epidemiologia aborda o processo saúde-
doença em grupos de pessoas que podem variar de pequenos grupos até populações inteiras. O fato 
de a epidemiologia, por muitas vezes, estudar morbidade, mortalidade ou agravos à saúde, deve-se, 
simplesmente, às limitações metodológicas da definição de saúde. 
A análise epidemiológica de indicadores demográficos e de morbimortalidade com o objetivo de 
elaborar os chamados "diagnósticos de saúde" é uma prática antiga em nosso meio. Por vários 
motivos, nas últimas décadas essa atividade foi sendo abandonada ou expressivamente reduzida no 
país, com evidentes prejuízos ao adequado desempenho dos serviços de saúde. Mais recentemente, 
a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) tem buscado a retomada dessa prática, 
incentivando a utilização mais ampla da epidemiologia por meio do acompanhamento e análise 
sistemática da evolução de indicadores demográficos, sociais, econômicos e de saúde para melhor 
compreensão dos determinantes das condições de saúde da população. Essa atividade tem recebido 
a denominação "análise da situação de saúde". A evolução desse cenário deve ser acompanhada 
com atenção por todos os profissionais que assessoram ou decidem a respeito de políticas de saúde 
(ALMEIDA, 1990). 
Para Barreto (2009), da mesma forma que as causas das doenças e agravos à saúde têm suas 
raízes na sociedade, as ações que buscam efetivamente melhorar os padrões de saúde da 
população e, assim, reduzir a ocorrência das doenças, devem ultrapassar os limites tipicamente 
definidos pelo setor e passam a exigir ações coordenadas, articulando as diferentes esferas e níveis 
do governo e da sociedade. O desenvolvimento de novos modelos de atenção à saúde tem, para o 
SUS, em todos os seus níveis, entre outras implicações, buscar maneiras de pôr em prática o direito 
constitucional à equidade, não só em relação ao acesso ao cuidado, mas também às exposições e 
aos riscos, ou seja, às chances de ficar doente. 
 
 
31 
 
3.7 Planejamento em saúde 
O planejamento estratégico situacional identifica os fatos atuais e projeta os passos a serem dados 
por uma organização, de acordo com esse diagnóstico, buscando antecipar-se aos possíveis 
problemas que possam surgir, aperfeiçoar seus aspectos positivos e adaptar-se às mudanças 
necessárias. Esse planejamento traduz a identidade de uma organização, podendo, a partir disso, 
traçar seus objetivos e metas com base em uma missão a ser constantemente perseguida. Deve 
apontar seus objetivos, listar as atividades a serem desenvolvidas e ter uma visão crítica do 
processo. 
Já o planejamento normativo está ancorado no paradigma positivista, que valoriza a produção em 
detrimento da subjetividade humana. É mais pontual e responde à ideia de fragmentação do serviço 
em diferentes departamentos. Leva em conta o cientificamente comprovável e quantificável, atuando 
na lógica da razão. É um tipo de planejamento de curto prazo ou ao acaso, voltado para a ação 
imediata, no sentido de manter o funcionamento dos serviços. Não considera os movimentos sociais, 
o que lhe confere um caráter histórico. O planejador detém o poder e impõe as normas ao grupo, o 
que lhe confere poder e a falsa ideia de total controle da situação. É importante para problemas que 
exigem solução imediata e urgente, visto que seu enfoque é de imposição e tomada de atitude rápida. 
Optar pelo planejamento significa assumir uma alternativa à improvisação. É decidir aonde se quer 
chegar, é acreditar que o futuro pode ser construído. Isso, porque planejar implica transformar ideias 
em ação. Segundo Paim e colaboradores (2006) planejamento também é “um modo de explicitação 
do que vai ser feito, quando, onde, como, com quem, e para quê”. O documento que registra essas 
escolhas é o Plano. Plano é um produto momentâneo de um processo de planejamento. É um 
instrumento de negociação, nunca está acabado, mas sempre em construção. Assim, no contexto 
de saúde pública, o principal objetivo do Plano deve ser o de orientar a ação da equipe de saúde do 
município, apontar para correções de rumos e avaliação dos resultados obtidos em relação aos 
objetivos propostos. 
Existem muitos métodos de planejamento, cada um com suas vantagens e desvantagens conforme 
a situação que se apresenta, no entanto, as maiores influências no planejamento em saúde são as 
do pensamento normativo e estratégico. 
No âmbito do SUS, resgatar ou construir a cultura de planejamento é ao mesmo tempo um avanço 
e um desafio. Um avanço porque cada dia mais o planejamento é reconhecido no SUS como 
importante ferramenta de gestão, e um desafio porque planejamento envolve a consolidação de uma 
cultura que exige mobilização, engajamento e decisão de gestores e profissionais. A implementação 
de planos estratégicos representa um esforço para contribuir com o aperfeiçoamento permanente da 
gestão e, portanto, para a qualidade de vida das pessoas, mediante a prestação de serviços de 
saúde oportunos, resolutivos e humanizados. 
 
3.8 Organização da demanda 
A organização da demanda dos serviços de saúde é um desafio constante para profissionais e 
gestores. Atender por livre demanda ou agendamento? Direcionar o atendimento do público ou dividir 
o atendimento? 
Organizar o acolhimento em saúde não engloba apenas a demanda espontânea, mas um conjunto 
de ações de resposta às necessidades da comunidade. Partindo do diagnóstico de problemas e do 
 
32 
 
planejamento em saúde, rompendo a ideia do mesmo como uma ação pontual, visando apenas a 
doença e os procedimentos e não o paciente e aquilo que é necessário para garantir o acesso a 
saúde como um bem completo e amplo. 
Para os prestadores de serviço, o acolhimento também pode significar fazer o atendimento ao 
paciente que procura atendimento sem ter agendado esse encontro previamente. Mas acolher 
ultrapassa essa visão de demanda espontânea e não programada. 
Dentre as atribuições do enfermeiro no contexto da atenção básico, garantir o acesso da população 
a um atendimento de qualidade, por profissionais competentes e que leve à satisfação do usuário, 
passa a ser considerado ponto fundamental e que deve ser levado em conta durante o processo de 
organização do serviço. 
O diagnóstico das demandas e necessidades dos usuários devem promover reflexão, subsidiando a 
análise e as mudanças da prática e dos resultados do trabalho e, consequentemente, o planejamento 
em saúde. Portanto, é preciso identificar os problemas e as potencialidades relacionadas às 
diferentes questões envolvidas com o acolhimento, como aquelas relativas à própria organização 
dos serviços, à satisfação dos usuários e ao desenvolvimento e crescimento profissionale pessoal 
dos trabalhadores/equipes nesse processo. 
A equipe deve estar preparada para abordar diferentes aspectos e perspectivas de uma avaliação 
participativa e formativa, juntamente com os usuários e gestão municipal, buscando provocar 
movimentos diversos, como a capacitação, o levantamento, a construção e a pactuação de ações 
que orientem a renovação do trabalho/serviços e propiciem aprendizagens coletivas. Como 
resultado, a organização do atendimento às demandas espontâneas e programadas, ambas 
integrantes do processo de acolhimento em saúde, deve basear-se nas necessidades observadas e 
se dar como um processo contínuo que permite modificações à medida que novas demandas 
surgem. O levantamento epidemiológico deve ser utilizado para organizar o serviço, porém é 
importante ter em mente que não é a única forma de caracterizar essas necessidades. Para isso, 
pode-se realizar um diagnóstico das principais queixas decorrentes das demandas espontâneas e 
também das necessidades observadas e relatadas durantes visitas domiciliares ou nos grupos. Após 
esse levantamento, a equipe deve reunir-se, debater as fragilidades e traçar um plano de ação. Esse 
plano deve incluir quantas consultas de demanda espontânea e programada serão disponibilizadas, 
quantas consultas serão destinadas aos retornos de rotina dos pacientes programados, como 
organizar os setores da Unidade de Saúde. 
Organizar o acolhimento a partir das necessidades dos usuários exige, portanto, que a equipe reflita 
sobre o conjunto de ofertas que tem disponível, pois todas as práticas de saúde da Unidade precisam 
estar à disposição para serem utilizadas quando necessário. Para isso as equipes precisam de 
espaço para reflexão e discussão do seu processo de trabalho para planejarem as ações e definirem 
o modo como os diferentes profissionais participarão do acolhimento, isto é, quem vai receber o 
usuário que chega; como avaliar o risco e a vulnerabilidade desse usuário; o que fazer de imediato; 
quando encaminhar/agendar uma consulta médica; como organizar a agenda dos profissionais; que 
outras ofertas de cuidado (além da consulta) podem ser necessárias etc. O planejamento deve gerar, 
dessa forma, uma atitude de mudança no fazer o acolhimento em saúde que implique no 
protagonismo dos sujeitos envolvidos no processo de produção de saúde. 
 
 
33 
 
Considerações Finais 
Se os serviços criam barreiras de acesso ou não conseguem dar as respostas aos problemas que 
levam as pessoas a procurarem os serviços de saúde, abre-se uma brecha para que a população 
busque respostas inadequadas às suas doenças em serviços de pronto-atendimentos ou 
especializados, sem longitudinalidade, sem estabelecer relação de confiança com os profissionais 
do cuidado, submetendo-se a intervenções e tratamentos mais invasivos e que podem causar mais 
danos que benefícios. 
Dentro do ideário do que é ser ‘cuidado’, isso atende ao senso comum de acesso ao médico, aos 
exames e ao tratamento medicamentoso. Esse é o modelo que está em falência no mundo. 
Na contextualização do sistema contemporâneo de assistência à saúde é necessária a criação de 
redes integradas e dinâmicas. A aplicabilidade de um modelo de gestão só é possível quando ele 
atende as duas partes integrantes do sistema: os gestores e a população. 
A abordagem de saúde deve estar interligada com o tempo. Reflete a economia e mais que tudo o 
perfil da sociedade. O conceito de saúde é impreciso, dinâmico e abrangente e isso não impede que 
seja possível tomá-lo como eixo para a reorientação das práticas de saúde. Pelo contrário: sua 
importância é fundamental para a superação de um modelo de atenção focado no modelo médico 
assistencial. 
 
Os sistemas de atenção à saúde são definidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um conjunto 
de atividades cujo propósito é promover, reestruturar e manter a saúde da população. Eles não são estáticos 
e estão em constante processo de construção e desenvolvimento, acompanhando as mudanças sociais e 
culturais das sociedades, com o objetivo de garantir o bom estado de saúde de suas populações. Os sistemas 
de saúde operam em conformidade com a situação de saúde das pessoas que o utilizam e são respostas 
sociais deliberadas às necessidades de saúde dos cidadãos. 
Atualmente, no Brasil, a situação de saúde passa por mudanças decorrentes de uma transição demográfica 
acelerada e tripla carga de doenças. Como resposta a essa situação, é necessário um sistema de atenção à 
saúde que tenha coerência entre a situação de saúde e o SUS, envolvendo a implantação de redes de atenção 
à saúde (RAS). 
Os sistemas de saúde fragmentados são aqueles que se organizam através de um conjunto de pontos de 
atenção à saúde isolados em que não há comunicação entre os níveis de atenção, sendo, portanto, incapazes 
de prestar uma atenção contínua à população 
No sistema fragmentado existe uma forma de organização hierárquica, com níveis de complexidade de atenção 
crescentes, fazendo a atenção básica parecer menos complexa do que os outros níveis de atenção, que 
utilizam maiores densidades tecnológicas. 
As redes de atenção à saúde são organizações poliárquicas de conjuntos de serviços de saúde, vinculados 
entre si por objetivos comuns e por uma ação cooperativa e interdependente, que permitem ofertar uma 
atenção contínua, integral e humanizada a população. 
A Atenção Primária em Saúde (APS) ou Atenção Básica à Saúde (ABS) pode ser denominada como o eixo 
estruturante da atenção à saúde, sendo uma estratégia de organização e de reorganização dos sistemas de 
saúde, nos quais representa o primeiro nível de atenção e um modelo de mudança da prática clínico-
assistencial dos profissionais de saúde. 
Os DSS são os fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que 
influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população. 
 
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A Epidemiologia é a ciência que estuda os padrões da ocorrência de doenças em populações humanas e os 
fatores determinantes destes padrões. 
O planejamento estratégico situacional identifica os fatos atuais e projeta os passos a serem dados por uma 
organização em acordo a esse diagnóstico, buscando antecipar-se aos possíveis problemas que possam 
surgir, buscando aperfeiçoar seus aspectos positivos e adaptar-se às mudanças necessárias. 
Já o planejamento normativo está ancorado no paradigma positivista, que valoriza a produção em detrimento 
da subjetividade humana. É mais pontual e responde à ideia de fragmentação do serviço em diferentes 
departamentos. 
A organização da demanda dos serviços de saúde é um desafio constante para profissionais e gestores. 
Atender por livre demanda ou agendamento? Direcionar o atendimento do público ou dividir o atendimento? 
Organizar o acolhimento em saúde não engloba apenas a demanda espontânea, mas um conjunto de ações 
de resposta às necessidades da comunidade. Partindo do diagnóstico de problemas e do planejamento em 
saúde, rompendo a ideia do mesmo como uma ação pontual, visando apenas a doença e os procedimentos e 
não o paciente e aquilo que é necessário para garantir o acesso à saúde como um bem completo e amplo. 
 
https://www.youtube.com/watch?v=0N_9KKu15oM 
Vídeo realizado pela aluna GIGLI TESTONI do Mestrado Profissional - FOP UNICAMP. 
Edição de vídeo por Talita Testoni. 
E-mail: giglitestoni@terra.com.br 
 
(ENADE – 2013) A transição demográfica e epidemiológica tem produzido alteração no perfil de morbidade e 
de necessidades em saúde da população brasileira, o que implica a instrumentalização e a utilização de 
tecnologias que respondam a essas necessidades. Na estratégia de saúde da família, uma das ferramentas 
utilizadas é a visita domiciliar (VD), planejada e desenvolvida conforme o perfil dos grupos de interesse e 
objetivos da ação em saúde. 
A partir do texto apresentado e considerando, no contexto da transição demográfica

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