Prévia do material em texto
ATENÇÃO BÁSICA Prof.ª M.ª Quevellin Alves dos Santos Francisco Prof. Guilherme Bernardes Filho Diretor Presidente Prof. Aderbal Alfredo Calderari Bernardes Diretor Tesoureiro Prof. Frederico Ribeiro Simões Reitor UNISEPE – EaD Prof. Me. Anderson Martins da Silva Prof.ª M.ª Caroline das Neves Mendes Nunes Prof. Me. Fernando Henrique Ignácio Dos Santos Prof.ª M.ª Deise Aparecida. Carminatte Coordenador EaD de área Prof. Dr. Renato de Araújo Cruz Coordenador Núcleo de Ensino a distância (NEAD) Material Didático – EaD Equipe editorial: Fernanda Pereira de Castro - CRB-8/10395 Isis Gabriel Alves Laura Lemmi Di Natale Pedro Ken-Iti Torres Omuro Prof. Dr. Renato de Araújo Cruz – Editor Responsável Apoio técnico: Alexandre Meanda Neves Anderson Francisco de Oliveira Douglas Panta dos Santos Galdino Fabiano de Oliveira Albers Gustavo Batista Bardusco Kelvin Komatsu de Andrade Matheus Eduardo Souza Pedroso Vinícius Capela de Souza Revisão: Vinícius Guimarães Rodrigues Diagramação: Nikolas Fellipe de Morais SOBRE A AUTORA: Mestre em Enfermagem na Linha de Pesquisa "Gestão em Serviços de Saúde" na Universidade Federal de Alfenas - UNIFAL/MG. Especialista em Gestão Pública em Saúde pela Unicamp. Graduada em Enfermagem pela Universidade São Francisco - USF. SOBRE A DISCIPLINA: Estudo sobre o Sistema Único de Saúde (SUS) e as redes de atenção à saúde, com enfoque nos princípios e diretrizes do SUS e nos programas de saúde vigentes no Brasil. Os ÍCONES são elementos gráficos utilizados para ampliar as formas de linguagem e facilitar a organização e a leitura hipertextual. SUMÁRIO UNIDADE I .............................................................................................. 05 1º Contexto histórico do sistema único de saúde...................................... 05 2º Níveis de atenção em saúde............................................................ 14 3º Territorialização e redes de atenção à saúde....................................... 25 4º Ferramentas para organização da atenção em saúde............................ 37 UNIDADE II ........................................................................................... 49 5º Política nacional da atenção básica I................................................ 49 6º Política nacional da atenção básica II............................................... 62 7º Programa nacional de imunizações.................................................. 75 8º Programa de melhoria do acesso e qualidade na atenção básica........................................................................................... 90 UNIDADE III ........................................................................................ 102 9º Doenças Crônicas: fatores de risco e ações estratégicas.................. 102 10º Pré-natal de baixo risco e saúde da criança................................... 121 11º Cânceres do colo do útero e da mama; HIV-AIDS, Hepatites e outras DSTs; Saúde sexual e reprodutiva............................ 135 12º Práticas Integrativas e Complementares, determinação social do processo saúde-doença e grupos populacionais vulneráveis.................................................................................... 147 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................... 158 5 UNIDADE I CAPÍTULO 1 - CONTEXTO HISTÓRICO DO SUS No término deste capítulo, você deverá saber: ✓ Políticas de saúde; ✓ Sistema Único de Saúde (SUS); ✓ Princípios do SUS; ✓ Universalidade; ✓ Equidade; ✓ Integralidade; ✓ Princípios organizativos: descentralização, participação social, regionalização e hierarquização; ✓ Normas Operacionais Básicas (NOBs) e Norma Operacional de Assistência à Saúde (NOAS). Introdução No período de 1900 a 1964 basicamente é possível observar o interesse privado e do Estado em manter a saúde do trabalhador com o principal objetivo de não contrapor o desenvolvimento capitalista que vinha se fortalecendo no Brasil. Ninguém se comprometia em oferecer à população condições de manutenção da saúde. Bastava "curar" e reabilitar a pessoa para que seu estado de saúde não resultasse em ônus ao desenvolvimento econômico. Fica claro que aqueles que não integravam a parte "importante" do sistema eram excluídos e não tinham direito a saúde. Para manter a mão de obra, o Estado criou formas de evitar conflitos entre os trabalhadores, mas apenas para manter os trabalhadores operantes. O Estado fornecia assistência médica à população mediante a compra de serviços de corporações médicas privadas. O setor privado produzia medicamentos, aparelhos de ponta e os fornecia ao governo. Observa-se neste período grande interesse desses “manipuladores de saúde” no sistema previdenciário brasileiro, que crescia em arrecadação. O movimento em prol da saúde ocorreu tardiamente, quando já chegara o limite da supressão imposta à população da época. Quando se garante na Constituição o direito à saúde, a responsabilidade de oferta dos serviços de assistência à saúde passa para o Estado. O SUS é uma política social presente na vida de todos os brasileiros, direta ou indiretamente. Mais de 150 milhões de usuários são atendidos por ele. 1.1 Políticas de saúde Para se compreender melhor uma sociedade é preciso estudar as políticas de saúde. A forma como se dá a relação do Estado com os indivíduos no tocante ao bem-estar maior de todos, que é a vida, reflete o modelo de política social adotada – mesmo que nem sempre assumida – por esse Estado. 6 De acordo com Merhy (2014), é necessário o estudo da natureza das relações sociais estabelecidas no local e no tempo, bem como das opções políticas que se desenham pelas forças sociais. No Quadro 1 estão listados os marcos teóricos da Política de saúde no Brasil: Quadro 1: Marcos teóricos da Política de saúde no Brasil MARCOS TEÓRICOS DA POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL De 1500 1889 República Velha (1889) Início do Século XX Nenhum modelo de Atenção à Saúde Período marcado pelo Coronelismo e economia exportadora de café Com Oswaldo Cruz, combate à febre amarela Com a chegada da família real ao Brasil, houve uma primeira indução à Políticas Sanitárias mínimas: controle de navios e portos Necessidade crescente de melhorias sanitárias para preservação da “massa trabalhadora” Lei da vacinação compulsória Em 1789, existiam no Brasil apenas 4 médicos Primeiras ações de controle focal das enfermidades: febre amarela, peste, varíola Articulação do Conhecimento científico à Competência técnica e organização do processo de trabalho em saúde Forte vinculação religiosa para concepção da doença Empreendimentos ameaçados pelas doenças transmissíveis Pela compulsoriedade, estoura a Revolta da vacina Carlos Chagas sucede a Oswaldo Cruz e inova com o modelo Campanhista A preocupação do governo com o trabalhador no início do século XX se deu na perspectiva capitalista da produção, ou seja, o prejuízo causado pela ausência do doente nas lavouras e na incipiente atividade industrial colocava em risco o projeto capitalista nascente e, consequentemente, o projeto de poder das oligarquias. Da mesma forma, os portos, que representavam as vias de “drenagem” dessa produção necessitavam ser saneados. A construção das ferrovias – vias de distribuição – também representavam a preocupação, dado o grande número de mortes e epidemias que se deram nesses canteiros de obras. Em outras palavras, as ações de saúde, nessa época, não estavam focadas na seguridade dos indivíduos nem em direitos humanos, mas na missão de proteger a produção e as aspirações oligárquicas. 1.2 Sistema Único de Saúde (SUS) Com uma proposta universalista,resultante do Movimento da Reforma Sanitária, nasceu o SUS. Em agosto de 1990, o Congresso Nacional aprovou a Lei Orgânica de Saúde (LOS) (Lei 8.080) e em dezembro de 1990, a Lei 8.142 foi aprovada no Congresso Nacional, instituindo as Conferências e os Conselhos de Saúde como instâncias de Controle Social. O conjunto das leis 8.080 e 8.142 constitui a atual LOS. 7 O documentário "POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL: Um século de luta pelo direito à saúde" conta a história das políticas de saúde em nosso país, mostrando como ela se articulou com a história política brasileira, destacando os mecanismos que foram criados para sua implementação, desde as Caixas de Aposentadorias e Pensões até a implantação do SUS. Sua narrativa central mostra como a saúde era considerada, no início do século XX, um dever da população, com as práticas sanitárias implantadas autoritariamente pelo Estado, de modo articulado aos interesses do capital, e como, no decorrer do século, através da luta popular, essa relação se inverteu, passando a ser considerada, a partir da Constituição de 1988, um direito do cidadão e um dever do Estado. Toda essa trajetória é contada através de uma narrativa ficcional vivida por atores, com reconstrução de época, apoiada por material de arquivo. Para tornar a narrativa mais leve e atraente, o filme se vale da linguagem dos meios de comunicação dominantes em cada época, como o jornal, o rádio, a TV Preto e branco, a TV colorida e, por fim, a internet. O filme foi realizado por iniciativa da Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa, do Ministério da Saúde, em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde-OPAS e a Universidade Federal Fluminense/UFF. Clique o link https://www.youtube.com/watch?v=EOACL0yhxBU para abrir o vídeo. 1.3 Princípios do SUS O SUS tem princípios doutrinários e organizativos. Os doutrinários estão relacionados à filosofia do Sistema, personificam o conceito ampliado de saúde e o princípio do direito à saúde, enquanto os organizativos relacionam-se com sua operacionalização. Os princípios doutrinários devem nortear os organizativos e estes, por sua vez, orientar o funcionamento do Sistema. Princípios doutrinários Universalidade Integralidade Equidade Princípios organizativos Participação popular Regionalização Descentralização Hieraquização https://www.youtube.com/watch?v=EOACL0yhxBU 8 Artigo 198 define: “As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I. descentralização, com direção única em cada esfera do governo; II. Atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços essenciais; III. participação da comunidade. Parágrafo único. O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes” (BRASIL, 1988). 1.4 Universalidade Princípio doutrinário que traduz a saúde como um direito de cidadania. Através da universalidade, todos os cidadãos, independentemente de contribuição ou distinção de qualquer natureza, têm direito de acesso ao sistema. 1.5 Equidade Princípio que assegura a justiça no acesso dos cidadãos aos serviços. Significa entender que diante das diferenças, são necessárias ações e intervenções também diferentes a fim de que se possa atingir de forma positiva os que mais necessitam. Por definição seu objetivo é “assegurar ações e serviços de todos os níveis de acordo com a complexidade que cada caso requeira, more o cidadão onde morar, sem privilégios e sem barreiras” (BRASIL, 1990). É um princípio de justiça social. Se a estratificação social ocorre em função das desigualdades sociais, então há que se intervir de forma diferente entre os diferentes a fim de se buscar atenuar tais desigualdades. A equidade não significa, portanto, igualdade; mas ao contrário, traduz-se por intervenções diferenciadas que buscam compensar desigualdades. O acesso igualitário às ações e serviços de saúde é fundamental; no entanto, isso não é suficiente para atenuar as desigualdades nos modos de adoecer e morrer entre distintos grupos sociais. 1.6 Integralidade A integralidade é o princípio doutrinário mais intimamente ligado às práticas em saúde. Está embutido nos anseios da Reforma Sanitária uma vez que aborda a mudança paradigmática da saúde, propondo a substituição de práticas. Segundo esse princípio, a atenção ao indivíduo é um todo indissociável, em que as partes se integram. Também faz referência à organicidade do sistema. 9 Do ponto de vista conceitual, a integralidade foi assim detalhada: • cada pessoa é um todo indivisível e integrante de uma comunidade; • as ações de promoção, proteção e recuperação da saúde formam também um todo indivisível e não podem ser compartimentalizadas; • as unidades prestadoras de serviços, com seus diversos graus de complexidade, formam também um todo indivisível, configurando um sistema capaz de prestar assistência integral. 1.7 Princípios organizativos: descentralização, participação social, regionalização e hierarquização Em um país de dimensões continentais como o Brasil – onde quanto mais perto do fato (pessoa doente, agravo, epidemia, problemas, pessoas etc.) a decisão for tomada, mais chance haverá de acerto. Trata-se do princípio da descentralização. Por isso, redistribuíram-se as responsabilidades entre os entes federativos, redefinindo atribuições dos vários níveis de governo com um nítido reforço do poder municipal sobre a saúde, cabendo, inclusive, aos municípios a maior responsabilidade na promoção das ações de saúde diretamente voltadas aos seus cidadãos. Mas, se estamos tratando de um Sistema cujo berço é o da cidadania plena, então é necessário garantir a participação da sociedade na sua operacionalização. Dessa forma, instituiu-se como princípio organizativo a participação social, que deve se expressar tanto na elaboração, quanto no controle da execução das políticas de saúde. Essa participação deve se dar através dos Conselhos de Saúde, que devem ter representação paritária de usuários, governo, profissionais de saúde e prestadores de serviço. Além disso, são importantes fóruns de participação popular as Conferências de saúde. Sobretudo, faz parte desse princípio o dever de as instituições oferecerem as informações e conhecimentos necessários para que se estabeleça o posicionamento da população em relação aos assuntos que dizem respeito à sua saúde. Para que os princípios doutrinários possam ser cumpridos, é necessário ainda, que se conheça – o melhor possível – os problemas de saúde de cada população. Isso favorece ações de atenção ambulatorial e hospitalar em todos os níveis de complexidade. Consequentemente, tende a aumentar a resolutividade das ações e do sistema. Também em função da almejada resolutividade, é preciso oferecer a cada população todas as modalidades de assistência, bem como o acesso a todo tipo de tecnologia disponível. Para tanto, os serviços devem ser organizados em níveis de complexidade tecnológica crescente, dispostos numa área geográfica delimitada e com a definição da população a ser atendida. Trata-se da regionalização e hierarquização do sistema. 1.8 Normas Operacionais Básicas (NOBs) e Norma Operacional de Assistência à Saúde (NOAS) Diante dos princípios descritos, fica clara a vocação do SUS em ser um instrumento de cidadania, além de um poderoso sistema de inclusão social e de combate à desigualdade. Entretanto, a LOS por si só não poderia dar conta de todo o detalhamento necessário à operacionalização desse Sistema. Dessa forma, foi necessário criar as Normas Operacionais, elaboradas para dar conta dos inúmeros desafios operacionais quese revelavam, a maior parte relacionada ao financiamento do 10 Sistema. Assim surgiram as NOBs (Normas Operacionais Básicas) e NOAS (Norma Operacional de Assistência à Saúde). Investigue o que é o Pacto pela Saúde. Considerações Finais Antes do SUS, o Estado não ofertava saúde, apenas buscava formas de evitar prejuízos financeiros ao crescimento econômico do Brasil e não estava em momento nenhum pensando na saúde como um direito "humanitário" das pessoas. Na perspectiva histórica de evolução, descentralizar o atendimento é importante, porém, a julgar pelos exemplos que temos de saúde coletiva, percebe-se que um resultado mais satisfatório seria alcançado se o sujeito fosse responsável por manter sua saúde e se o atendimento estivesse focado na prevenção e promoção de bons hábitos de saúde. De acordo com Merhy (2014) ao tratarmos de saúde pública, é necessário o estudo da natureza das relações sociais estabelecidas no local e no tempo, bem como das opções políticas que se desenham pelas forças sociais. Os SUS surgiu como uma proposta universalista, resultante do Movimento da Reforma Sanitária. Em agosto de 1990, o Congresso Nacional aprovou a Lei Orgânica de Saúde (LOS) (Lei 8.080) e em dezembro de 1990 a Lei 8.142 foi aprovada no Congresso Nacional, instituindo as Conferências e os Conselhos de Saúde como instâncias de Controle Social. O conjunto das leis 8.080 e 8.142 constitui a atual LOS. O SUS tem princípios doutrinários e organizativos. Os doutrinários estão relacionados à filosofia do Sistema, personificam o conceito ampliado de saúde e o princípio do direito à saúde, enquanto os organizativos relacionam-se com sua operacionalização. Os princípios doutrinários devem nortear os organizativos, que, por sua vez, devem orientar o funcionamento do Sistema. A universalidade é o princípio doutrinário que traduz a saúde como um direito de cidadania. Pela universalidade, todos os cidadãos, independentemente de contribuição ou distinção de qualquer natureza, têm direito de acesso ao sistema. A equidade é princípio que assegura a justiça no acesso dos cidadãos aos serviços. A integralidade é o princípio doutrinário mais intimamente ligado às práticas em saúde e está embutida nos anseios da Reforma Sanitária quando esta trata da mudança paradigmática da saúde, propondo a substituição de práticas. Remete à atenção ao indivíduo como um todo indissociável, em que as partes se integram. Mas também remete à organicidade do sistema. Em um país de dimensões continentais como o Brasil – onde quanto mais perto do fato (da pessoa doente, do agravo, da epidemia, dos problemas, das pessoas, enfim) a decisão for tomada, mais chance haverá de acerto. Trata-se do princípio da descentralização. No entanto, se estamos tratando de um Sistema cujo berço é o da cidadania plena, então é necessário garantir a participação da sociedade na sua operacionalização. Assim, instituiu-se como princípio organizativo a participação social, que deve se expressar tanto na elaboração, quanto no controle da execução das políticas de saúde. Para que os princípios doutrinários possam ser cumpridos, é necessário ainda que se conheça – o melhor possível – os problemas de saúde de cada população. Isso favorece ações de atenção ambulatorial e hospitalar em todos os níveis de complexidade. Consequentemente, tende a aumentar a resolutividade das ações e do sistema. Também em função da almejada resolutividade, é preciso oferecer a cada população todas as modalidades de assistência, bem como o acesso a todo tipo de tecnologia disponível. Para tanto, os serviços devem ser organizados em níveis de complexidade tecnológica crescente, dispostos 11 numa área geográfica delimitada e com a definição da população a ser atendida. Trata-se da regionalização e da hierarquização do sistema. Livro: São Paulo de 1920 a 1940 - A Saúde Pública como Política. Os movimentos sanitários, os modelos tecnoassistenciais e a formação das políticas governamentais. Autor: Emerson Elias Merhy. Ano: 1ª edição 1990 e 2ª edição 2014. A primeira edição do livro foi publicada em 1990, quando o setor saúde, conforme o autor, (…) “está sendo contemplado por uma das maiores barbaridades que já se realizou neste país, com o seu campo de atuação, no âmbito governamental (…). O veto do Presidente, no fundo, teve como meta impedir o futuro, e procurou manter “presentificado” o nosso passado conservador, elitizado, mesmo que, com isso, mutile a imensa maioria dos brasileiros.” O principal objeto do estudo foi a busca da compreensão desse “mundo”, das decisões e formulações no campo das ações governamentais em saúde e revelar como a realidade do passado se faz ainda presente. (INEP – 2016) O Pacto pela Saúde, divulgado pelo Ministério da Saúde em 2006, teve como intuito consolidar o Sistema Único de Saúde (SUS) no país e apresenta três componentes: Pacto pela Vida, Pacto em Defesa do SUS e Pacto de Gestão. O Pacto de Gestão contribuiu para o fortalecimento da gestão compartilhada e solidária do SUS e é um compromisso público dos gestores com as necessidades de saúde da população e com os princípios do SUS. Considerando os princípios do Pacto de Gestão, avalie as afirmações a seguir, a respeito da gestão dos serviços de saúde do SUS. I. Os recursos devem ser alocados equitativamente conforme critérios determinados. II. O sistema de financiamento público deve ser tripartite: União, estados e municípios. III. Os sistemas devem ser organizados com base na territorialização da saúde. IV. A participação e o controle social devem ser estimulados. É correto o que se afirmar em a) I, apenas. b) I e IV, apenas. c) II e III, apenas. d) II, III e IV, apenas. e) I, II, III e IV. Resposta - As afirmativas corretas são I, II, III e IV. Letra E. 12 Questão Objetiva Os Princípios e Diretrizes do SUS garantem o acesso aos serviços de saúde a toda a população em condições de igualdade. Em algumas situações especiais, por exemplo em populações de risco, é fundamental estabelecer uma discriminação positiva nesses casos, com uma prioridade para quem tem mais necessidades. Essa condição caracteriza a: a) Equidade. b) Integralidade. c) Universalidade. d) Hierarquização. e) Regionalização. Resposta - a) Equidade. Questão Discursiva Quais são os Princípios do SUS? Explique. Resposta - O SUS tem princípios doutrinários e organizativos. Os doutrinários estão relacionados a filosofia do Sistema, personificam o conceito ampliado de saúde e o princípio do direito à saúde, ao passo que os organizativos relacionam –se com sua operacionalização. Os princípios doutrinários devem nortear os organizativos e estes, por sua vez, orientar o funcionamento do Sistema. Compulsoriedade: qualidade de compulsório, do que tem a capacidade de compelir, de obrigar; em que há obrigação ou de caráter obrigatório; obrigatoriedade. O Pacto pela Saúde teve o objetivo de promover inovações nos processos e instrumentos de gestão, visando alcançar maior eficiência e qualidade das respostas do Sistema Único de Saúde. Seus objetivos foram elencados e responsabilidades sanitárias e de gestão definidas por meio de três componentes: o pacto pela vida (PV), o pacto em defesa do SUS (PDSUS) e o pacto de gestão (PG) (BRASIL, 2006). 13 Brasil. Lei 8.080/90. Diário Oficial da União, Brasília, 19 de setembro de 1990. Brasil. Lei 8.142/90. Diário Oficial da União, Brasília, 28 de dezembro de 1990. Brasil. Presidência da República. Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília. 1988. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria no 399. Divulga o Pacto pela Saúde 2006 – Consolidação do SUS e aprova as Diretrizes Operacionais do Referido Pacto. Diário Oficial da União, 22 fev. 2006. Merhy EL. São Paulo de 1920 – 1940 – A Saúde Pública como Política. Os movimentossanitários, os modelos tecnoassistenciais e a formação das políticas governamentais. Editora Rede Unida. Coleção Clássicos da Saúde Coletiva. 2ªed. – Porto Alegre: Rede UNIDA, 2014. 14 UNIDADE I CAPÍTULO 2 - NÍVEIS DE ATENÇÃO EM SAÚDE No término deste capítulo, você deverá saber: ✓ Modelo de Atenção; ✓ Proposta de atendimento; ✓ Atenção Básica à saúde; ✓ Atributos da Atenção Primária à Saúde ✓ Média Complexidade no SUS; ✓ Alta Complexidade no SUS; ✓ Financiamento da saúde; ✓ Tecnologias em saúde. Introdução O SUS é visto por especialistas como um projeto inconcluso. Como é um dos maiores projetos públicos de inclusão social, ainda precisa avançar muito para realizar seu intento. Desde seu fundamento enfrenta problemas com financiamento, modelo organizacional, métodos de gestão. Para a reestruturação do sistema e a proximidade do que seria o ideal, um novo padrão de gestão seria necessário com ações de gestão de pessoas envolvendo o Estado. É preciso desmistificar a ideia de que o SUS foi feito para os “pobres”, enquanto aqueles com mais condição financeira são atendidos pelos planos de saúde. Uma das maneiras de alcançar o modelo de atenção ideal seria o investimento em gente, na força de trabalho, na descentralização da gestão com empoderamento da equipe, planejamento baseado em modelo de atenção, padronização da rotina dos serviços e investimento em informação em saúde. Um modelo contemporâneo de gestão de serviços de saúde deve ser implementado e, consequentemente, afastar o modelo atrasado médico-hospitalar, baseado em tratamento, guiado unicamente pelo poder econômico do complexo industrial na saúde. A tecnologia em saúde se refere à aplicação de conhecimentos com objetivo de promover a saúde, prevenir e tratar as doenças e reabilitar as pessoas. São exemplos de tecnologias em saúde: medicamentos, produtos para a saúde, procedimentos, sistemas organizacionais, educacionais, de informação e de suporte e os programas e protocolos assistenciais por meio dos quais a atenção e os cuidados com a saúde são prestados à população. As tecnologias em saúde estão presentes desde a prevenção de doenças até o tratamento e recuperação da saúde das pessoas. A utilização correta das tecnologias em saúde e a atualização constante das informações sobre elas são imprescindíveis para um maior benefício para os pacientes e também para os seus cuidadores e familiares. Brasil. Ministério da Saúde. Entendendo a Incorporação de Tecnologias em Saúde no SUS: como se envolver, Brasília: Ministério da Saúde, 2016. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/entendendo_incorporacao_tecnologias_sus_envolver.pdf. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/entendendo_incorporacao_tecnologias_sus_envolver.pdf 15 2.1 Modelos de Atenção Com a finalidade de aproximar-se dos problemas de saúde da população, o SUS é organizado por redes de serviços de maneira regionalizada e hierarquizada. Essa lógica de organização favorece as ações de vigilância sanitária, epidemiológica e direciona o acesso aos demais níveis de complexidade (SOLLA; CHIORO, 2008). Tal forma de organização pode ser entendida como um modelo de atenção que está relacionado com a forma de organizar as unidades de prestação de serviços de saúde, incluindo os estabelecimentos, redes e sistemas. Paim (2008) descreve outra forma de organização do processo de prestação de serviços: • atenção à demanda espontânea; • oferta organizada/ações programáticas; • vigilância da saúde, contemplando território, condições e modos de vida; • integralidade. Os modelos de atenção refletem combinações tecnológicas dispostas nos meios de trabalho. São a lógica que orienta e organiza os meios de trabalho (saberes e instrumentos) utilizados nas práticas de saúde (PAIM, 2008). Em sua obra, Mendes (2010, p. 2.302) define modelos de atenção como: Sistemas lógicos que organizam o funcionamento das redes de atenção à saúde, articulando, de forma singular, as relações entre a população e suas subpopulações estratificadas por riscos, os focos das intervenções do sistema de atenção à saúde e os diferentes tipos de intervenções sanitárias, definidos em função da visão prevalecente da saúde, das situações demográfica e epidemiológica e dos determinantes sociais da saúde, vigentes em determinado tempo e em determinada sociedade. Portanto, basicamente os modelos de atenção à saúde (Quando 2) podem ser voltados ao atendimento de condições agudas de saúde ou ao atendimento de condições crônicas de saúde. Quadro 2: Modelos Assistências e Vigilância em Saúde Modelo Sujeito Objeto Meios de trabalho Formas de organização Modelo médico- assistencial- privatista Médico com especialização complementariedade (paramédicos) Doença (patologia e outras) Doentes (clínica e cirurgia) Tecnologia médica (indivíduo) Rede de serviços de saúde Hospital Modelo Sanitarista Sanitaristas Auxiliares Modos de transmissão Fatores de risco Tecnologia sanitária Campanhas sanitárias Programas especiais Sistemas de vigilância epidemiológica e sanitária 16 Vigilância da saúde Equipe de saúde População (cidadãos) Danos, riscos, necessidades e determinantes dos modos de vida e saúde (condições de vida e trabalho) Tecnologias de comunicação social, de planejamento e programação local situacional e tecnologias médico – sanitárias Políticas públicas saudáveis Ações intersetoriais Intervenções específicas (promoção, prevenção e recuperação) Operações sobre problemas e grupos populacionais Fonte: TEIXEIRA, PAIM, VILAS BOAS; 1998. Estabelecimentos – unidades de produção de serviços. Redes – conjunto de estabelecimentos voltados à prestação de serviços comuns ou interligados mediante sistemas de referência e contrarreferência. Sistema – conjunto de instituições de saúde submetidas a leis e normas que regulam o financiamento, a gestão e a provisão dos serviços. 2.2 Proposta de atendimento Existe uma interação entre os níveis de atenção, mesmo com o modelo hierarquizado sendo o mais difundido e o cuidado à saúde está organizado em atenção básica, atenção de média complexidade e de alta complexidade. Nem sempre todos os níveis de atenção estão presentes em um território. Em pequenos municípios, por exemplo, existem acordos em que as prefeituras, por meio de consórcios, podem fornecer serviços e exames, atendendo uma microrregião e desta forma otimizar recursos e garantir o atendimento às necessidades da população. Entretanto, a atenção básica é prioritária, e deve operar em condição plena e com eficácia. Para ilustrar melhor, a Figura 1 apresenta o modelo de pirâmide hierarquizado e regionalizado do SUS. Figura 1: Modelo de pirâmide hierarquizado e regionalizado do SUS. Fonte: Adaptado de Mendes, 2011. Alta complexidade resolve 5% dos problemas de saúde Média complexidade resolve 15% dos problemas de saúde Atenção básica resolve mais de 80% dos problemas de saúde 17 Entendiam-se os níveis de atenção a partir da incorporação de tecnologias de saúde. Desta forma, a atenção básica, por não utilizar equipamentos de alta tecnologia, como tomógrafos, por exemplo, estaria apresentada como de baixa complexidade e teria procedimentos definidos na tabela de faturamento do SUS também de baixa complexidade. Já o atendimento hospitalar, pela necessidade de equipamentos e tecnologias complexas, é definido como de alta complexidade ou de atenção terciária. Para Mendes (2011), a atenção ambulatorial primária pode ser considerada complexa apesar de não utilizar equipamentos de alta tecnologia, por trabalhar diretamente com mudanças de hábitos dos pacientes, como no caso do tratamento de obesidade e hipertensão, que é bastante complexo, por exemplo. 2.3Atenção básica à saúde A porta de entrada no SUS. A atenção básica à saúde é também denominada de atenção primária à saúde. Neste nível de atenção, são empregadas tecnologias de baixa densidade capazes de atender à maioria dos problemas comuns de saúde da comunidade, porém sua organização, desenvolvimento e aplicação nem sempre são tão simples e exigem conhecimento profundo da realidade da população da sua região. Estruturalmente, o atendimento acontece em unidades básicas de saúde e pode ou não agregar o Programa Saúde da Família. Na atenção básica é feito o encaminhamento dos usuários para os atendimentos de média e alta complexidade. Seu papel é tão primordial ao sistema que é capaz de suprir 80% das necessidades da população de um município. Estratégia Saúde da Família: estratégia adotada pelo Ministério da Saúde como prioritária para a organização da atenção básica; é formada por equipe multiprofissional composta de médico, enfermeiro, cirurgião-dentista, auxiliar de consultório dentário ou técnico em higiene dental, auxiliar de enfermagem ou técnico de enfermagem e agente comunitário de saúde, entre outros. Acesse: https://aps.saude.gov.br/ape/esf/ A atenção primária inclui um rol de procedimentos menos complexos caracterizados por apresentarem tecnologia de baixa densidade. 2.4 Atributos da atenção primária à saúde De acordo com Starfield (2002), os atributos dividem-se em essenciais e derivados. Os essenciais são primeiro contato, longitudinalidade, integralidade e coordenação; e os derivados são foco na família, orientação comunitária e competência cultural. https://aps.saude.gov.br/ape/esf/ 18 2.5 Média Complexidade no SUS No âmbito do SUS, a média complexidade caracteriza-se por aquela que transcende a atenção básica e que não se configura como alta complexidade. É entendida como serviço de apoio ao diagnóstico e terapêutico de atenção especializada de menor complexidade tecnológica. Por funcionar sob demanda, muitas vezes estes serviços são desregulados. Um exemplo é o que acontece com as consultas médicas especializadas e procedimentos de patologia clínica e diagnóstico por imagem. Em muitos municípios existe uma articulação regional que não observa a necessidade de economia de escala, com serviços mal dimensionados para as necessidades da população que se tornam ociosos, custosos e inviáveis técnica e financeiramente. Primeiro contato •Acessibilidade •Uso de serviços para cada novo problema ou novo episódio de um problema para o qual se procura atenção à saúde Longitudinalidade •Existência de uma fonte continuada de cuidados pela equipe de saúde ao longo do tempo, em um ambiente de relação mútua de confiança e humanizada entre equipe, indivíduos e famílias Integralidade •Prestação, realizada pela equipe, de um conjunto de serviços que atendem às necessidades da populção adstrita nos campos da promoção, da prevenção, da cura, do cuidado, da reabilitação e dos cuidados paliativos, bem como a responsabilização pela oferta de serviços em outros pontos de atenção e o reconhecimento adequado dos problemas biológicos, psicológicos e sociais que causam doenças Coordenação •Capacidade de garantir a continuidade do cuidado e se articula com a função de centro de comunicação dos outros pontos de atenção Orientação familiar •Focaliza na família e se considera como o sujeito da atenção, e o conhecimento integral de seus problemas de saúde, utilizando as ferramentas de abordagem familiar Orientação comunitária •Reconhecimento das necessidades de saúde da comunidade em função do contexto físico, econômico e social, o que exige uma análise situacional das necessidades de saúde e a sua competência cultural; estabelecimento de uma relação horizontal entre a equipe e a população que respeite as singularidades culturais da população atendida, facilitando, assim, essa relação. 19 2.6 Alta Complexidade no SUS A alta complexidade no SUS é representada pelos procedimentos que abrangem alta tecnologia e alto custo. O objetivo é garantir que a população tenha acesso a serviços qualificados e integrados à atenção básica e de médica complexidade. Os procedimentos deste nível em sua maioria são aqueles ofertados pelos hospitais. Ainda no Brasil, perdura-se o modelo hospitalocêntrico. Os dados que representam a assistência hospitalar no contexto do setor de saúde impressionam tanto pelo volume de recursos despendidos quanto pela complexidade e extensão de seu atendimento, principalmente com hospitais prestadores de serviços ao SUS. O SUS financia a maior parte do atendimento hospitalar para a população pobre. 2.7 Financiamento da saúde Para a implantação do SUS, a maior dificuldade sempre foi a de um financiamento definido e suficiente para os investimentos na rede de serviços, à cobertura assistencial ambulatorial e hospitalar e às demais ações de saúde. A Constituição Federal de 1988 preocupou-se com a necessidade de criar fontes de financiamento capazes de garantir o atendimento das ações e serviços de saúde e impôs essa responsabilidade às três esferas de governo, devendo, cada qual, assegurar o aporte regular de recursos. No tocante ao financiamento do SUS, a Constituição definiu que: "O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes" (art. 198, § 1Q). O art. 195 da Constituição estabelece ainda que o financiamento da Seguridade Social é um dever imposto à toda a sociedade, de forma direta e indireta, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de contribuições sociais. De acordo com o princípio da diferenciação, previsto no § 1 Q do art. 195 da Constituição, "as receitas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios destinadas à seguridade social constarão dos respectivos orçamentos, não integrando o orçamento da União" (BRASIL, 1988). Vale salientar que sempre houve a necessidade de um detalhamento para operacionalizar o sistema, então o Ministério da Saúde editou a primeira NOB 01/91 (Norma Operacional Básica) e outras três foram publicadas posteriormente (NOB 92, 93, e 96) (Quadro 3). Quadro 3: Normas Operacionais Básicas e Norma Operação de Assistência à Saúde NOB 01/91 NOB 93 NOB 96 NOAS 2001 Institui o pagamento por produção Ativou as Comissões Intergestores Reeditou as modalidades: Plena de Atenção básica e Plena do sistema de Saúde Regionalização Há críticas por considerar o munícipio como mero prestador Criou modalidades de gestão Municipal: incipiente, parcial e semiplena Ativação do repasse fundo a fundo Responsabilização dos munícipios com ações estratégicas para a Atenção Básica 20 Em maio de 1993 houve suspensão de todos os repasses do SUS Considerada um salto na Municipalização Criação do APB fixo e variável Houve um Edição de uma Medida Provisória com empréstimo ao FAT para financiar a saúde 2.8 Tecnologias em saúde A expressão tecnologia pode ser definida como conhecimento aplicado. No caso da saúde, ela é o conhecimento aplicado que permite a prevenção, o diagnóstico e o tratamento das doenças, e a reabilitação de suas consequências, devendo ser compreendida como um conjunto de ferramentas, entre elas as ações de trabalho, que põem em movimento uma ação transformadora da natureza, ou seja, a tecnologia engloba não somente os instrumentos envolvidos na produção, mas também o saber tecnológico e o modus operandi, que dão sentido à razão instrumental do equipamento (MERHY; FEUERWERKER, 2009). No campo da saúde, o objeto é a produção do cuidado, por meio do qual se espera alcançar a cura e a saúde, que são, de fato, os objetivos que se quer atingir. Sendo assim, além das ferramentas, devemser considerados os conhecimentos e ações necessárias para operá-los: o saber e seus procedimentos. O sentido contemporâneo de tecnologia, portanto, diz respeito aos recursos materiais e imateriais dos atos técnicos e dos processos de trabalho sem, contudo, fundir estas duas dimensões. As tecnologias em saúde podem ser descritas ou classificadas de diversas maneiras. No Brasil, Merhy (1997) classificou as tecnologias envolvidas no trabalho em saúde como: tecnologia dura, leve-dura e leve. A leve refere-se às tecnologias de relações do tipo produção de vínculo, autonomização, acolhimento, gestão como forma de governar processos de trabalho. A leve-dura diz respeitos aos saberes bem estruturados, que operam no processo de trabalho em saúde, como a clínica médica, a clínica psicanalítica e a epidemiológica. A dura é referente ao uso de equipamentos tecnológicos do tipo máquinas, normas e estruturas organizacionais. •Das relaçõesTecnologias Leves •Conhecimentos bem estruturados Tecnologias Leve-Duras •Equipamentos tecnológicos do tipo máquinas •Normas •Estrutuas organizacionais Tecnologias Duras 21 Considerações Finais Os sistemas de saúde devem acompanhar a evolução acelerada do mundo contemporâneo. Os profissionais atuantes no SUS devem acompanhá-las. Mais do que questão de sobrevivência, é também uma maneira de inserção social. Adaptar-se as novas realidades impostas por esse desenvolvimento dinâmico faz-se necessário em uma sociedade que exige cada vez mais que estejamos inseridos em seu contexto. O modelo de atenção precisa atender às mudanças na sociedade. Os sistemas de saúde que são orientados às necessidades da população têm melhores resultados. A população vivendo mais, e com menos utilização dos espaços da ‘rua’, faz com que a rede de serviços (de saúde e dos outros setores da determinação social da saúde) se prepare para apoiar as pessoas a lidar com condições crônicas. Essa é função primordial e inerente da Atenção Básica. Com a finalidade de aproximar-se dos problemas de saúde da população, o SUS é organizado por redes de serviços de maneira regionalizada e hierarquizada. Essa lógica de organização favorece as ações de vigilância sanitária, epidemiológica e direciona o acesso aos demais níveis de complexidade. Existe uma interação entre os níveis de atenção, mesmo com o modelo hierarquizado sendo o mais difundido e o cuidado à saúde está organizado em atenção básica, atenção de média complexidade e de alta complexidade. Nem sempre todos os níveis de atenção estão presentes em um território. Em pequenos municípios, por exemplo, existem pactos onde as prefeituras, por meio de consórcios, podem fornecer serviços e exames, atendendo uma microrregião e desta forma otimizar recursos e garantir o atendimento as necessidades da população. Entretanto, a atenção básica é prioritária e deve operar em condição plena e com eficácia. A atenção básica à saúde é também denominada de atenção primária à saúde. Nesse nível de atenção, são empregadas tecnologias de baixa densidade capazes de atender à maioria dos problemas comuns de saúde da comunidade, porém sua organização, desenvolvimento e aplicação nem sempre são tão simples e exigem conhecimento profundo da realidade da população da sua região. Estruturalmente, o atendimento acontece em unidades básicas de saúde e pode ou não agregar o Programa Saúde da Família. Na atenção básica é feito o encaminhamento dos usuários para os atendimentos de média e alta complexidade. Seu papel é tão primordial ao sistema que é capaz de suprir 80% das necessidades da população de um município. Os atributos da atenção primária dividem-se em essenciais e derivados. Os essenciais são primeiro contato, longitudinalidade, integralidade e coordenação; e os derivados são foco na família, orientação comunitária e competência cultural. No âmbito do SUS, a média complexidade caracteriza-se por aquela que transcende a atenção básica e que não se configura alta complexidade. É entendida como serviço de apoio ao diagnóstico e terapêutico de atenção especializada de menor complexidade tecnológica. A alta complexidade no SUS é representada pelos procedimentos que abrangem alta tecnologia e alto custo. O objetivo é garantir que a população tenha acesso a serviços qualificados e integrados à atenção básica e de médica complexidade. Os procedimentos deste nível em sua maioria são aqueles ofertados pelos hospitais. Para a implantação do SUS a maior dificuldade sempre foi a de um financiamento definido e suficiente para os investimentos na rede de serviços, à cobertura assistencial ambulatorial e hospitalar e às demais ações de saúde. A expressão tecnologia pode ser definida como conhecimento aplicado. No caso da saúde, ele é o conhecimento aplicado que permite a prevenção, o diagnóstico e o tratamento das doenças, e a reabilitação de suas consequências, devendo ser compreendida como um conjunto de ferramentas, entre elas as ações de trabalho, que põem em movimento uma ação transformadora da natureza, ou seja, a tecnologia engloba não somente os instrumentos envolvidos na produção, mas também o saber tecnológico e o modus operandi, que dão sentido ao que será ou não à razão instrumental do equipamento. 22 Portaria nº 648, de 28 de março de 2006, do Ministério da Saúde. (ENADE – 2010) O acúmulo técnico-político dos três níveis de gestão do SUS, na implantação do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e da Estratégia de Saúde da Família (ESF), elementos essenciais para a reorientação do modelo de atenção, tem possibilitado a identificação de um conjunto de questões relativas às bases conceituais e operacionais do que se tem denominado atenção básica à saúde no Brasil, e de suas relações com os demais níveis do sistema. Essa discussão fundamenta-se nos eixos transversais da universalidade, da integralidade e da equidade, em um contexto de descentralização e controle social da gestão, princípios assistenciais e organizativos do SUS, consignados na legislação constitucional e infraconstitucional. Considerando o texto como referência inicial, assinale a opção correta acerca da atenção básica em saúde. a) O Programa Saúde da Família é a estratégia prioritária para a reorganização da atenção básica, por ser um atendimento prestado por equipes especialistas que se responsabilizam pelas famílias cadastradas em sua área. b) A equipe mínima para a ESF é composta por um médico de família, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem, um dentista, agentes comunitários de saúde, um auxiliar e um técnico de saúde bucal. c) A atenção básica em saúde é considerada a porta de entrada para o SUS por cuidar apenas da promoção da saúde e da prevenção primária. d) Cada equipe da ESF é responsável pelo acompanhamento de 3 mil pessoas ou 500 famílias de terminada área. e) O PACS substitui a ESF em municípios com menos 50 mil habitantes. Resposta – O PACS substitui a ESF em municípios com menos 50 mil habitantes. Questão Objetiva Sobre o financiamento do SUS, assinale a alternativa incorreta: a) Estados e municípios devem investir em Saúde, pelo menos 15% de sua receita. b) A participação da iniciativa privada no SUS é permitida, mas apenas de modo complementar. c) Gastos com saneamento básico e aposentadoria de servidores da saúde não podem ser incluídos pelos municípios como despesas em saúde. d) Recursos da Previdência e Seguridade Social não são atualmente uma das fontes de financiamento do SUS. Resposta - a) Estados e municípios devem investir em Saúde, pelo menos 15% de sua receita. Questão Discursiva Disserte sobre o financiamento do SUS. 23 STARFIELD, B. Atenção primária: equilíbrio entre a necessidade de saúde, serviços e tecnologias. Brasília: UNESCO; Ministério da Saúde, 2002. A publicação do livro de Barbara Starfield (2002), uma referência na Atenção Primária, como tambéma edição de seu livro no Brasil, “Atenção Primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologias”, que é uma publicação institucional do Ministério da Saúde em parceria com a OPAS, tem exercido grande influência entre aqueles envolvidos com o SUS. Nesse livro, a autora cita um estudo, coordenado por ela mesma e publicado em 1994, em que compara 12 países industrializados. É interessante destacar que a comparação é feita entre países considerados ricos. Ou seja, mesmo em situação de abundância, alguns países, entre eles os EUA, com baixa orientação para a atenção primária, têm indicadores piores que países menos ricos. Modelo hospitalocêntrico: Modelo que tem como características, a atuação centrada no hospital como locus de atuação nas ações centradas no médico, no corpo dividido em partes, nas especialidades médicas, na doença e na cura desta. Se tomarmos a saúde como um sistema complexo e pensarmos que a crise da saúde pública nos convoca a superar a simples atenção das demandas, procurando a eliminação de problemas que se encontram tanto na esfera dos determinantes sociais da saúde quanto no âmbito da resolutividade das práticas médicas, então estaremos, de fato, nos posicionando em defesa de uma ética que valorize a vida humana, buscando colaborar efetivamente para a construção de ambientes e de uma sociedade mais justa e saudável. A proposição de diagnósticos participativos e interdisciplinares das condições de vida e da situação de saúde de territórios específicos apresenta-se como importante ferramenta para a organização de práticas que favoreçam o ‘encontro de horizontes’ entre a população e os serviços de saúde. Diante da vida e das circunstâncias, elaboramos e executamos nossas práticas de saúde. Os profissionais de saúde precisam desenvolver a percepção de como a população compreende suas práticas de saúde. É nesse encontro de sujeitos que se faz a construção conjunta – da qual os conceitos são formas mediadoras. Não devemos nos apressar em construir o objeto da intervenção: é o encontro que diz quais são os objetos (AYRES, 2003, 2004). Ayres JRCM, França Júnior I, Calazans GJ, Saletti Filho HC. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. In: Czeresnia D, Freitas CM, organizadores. Promoção da saúde – conceitos, desafios, tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2003. p. 117-38. 24 Ayres, José Ricardo. (2004). Norma e formação: horizontes filosóficos para as práticas de avaliação no contexto da promoção da saúde. Ciência & Saúde Coletiva, 9(3), 583-592. https://dx.doi.org/10.1590/S1413- 81232004000300011 Brasil. Presidência da República. Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília. 1988. Mendes, Eugênio V. As redes de atenção à saúde. Brasília, DF: Organização Pan-Americana da Saúde; Organização Mundial da Saúde; Conselho Nacional de Secretários de Saúde, 2011. Merhy EE. O SUS e um dos seus dilemas: mudar a gestão e a lógica do processo de trabalho em saúde (um ensaio sobre a micropolítica do trabalho vivo). In: Fleury S, organizadora. Saúde e democracia, a luta do CEBES. São Paulo: Lemos; 1997. p.125- 42. Merhy, E. E.; Feuerwerker, L.C.M. (2009); Novo olhar sobre as tecnologias de saúde: uma necessidade contemporânea, in: Leituras de novas tecnologias e saúde; Mandarino, A. C. S.; Gomberg, E. (org.); Bahia, Editora UFS, 29-56. Paim, Jairnilson Silva. (2008). A reforma sanitária brasileira e o Sistema Único de Saúde: dialogando com hipóteses concorrentes. Physis: Revista de Saúde Coletiva, 18(4), 625-644. https://doi.org/10.1590/S0103- 73312008000400003 Sabroza PC. Concepções de Saúde e Doença. Rio de Janeiro: EAD, Ensp, 2001. (Texto de Apoio ao módulo I do Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde). Solla J, Chioro A. Atenção ambulatorial especializada. In: GIOVANELLA, Lígia et al. (Org.). Políticas e sistemas de saúde no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2008. cap. 17, p. 627-663. Starfield B. Atenção primária: equilíbrio entre a necessidade de saúde, serviços e tecnologias. Brasília: UNESCO; Ministério da Saúde, 2002. Teixeira CF, Paim JS, Vilasboas AL. SUS, Modelos Assistenciais e Vigilância da Saúde. IESUS 1998; 7(2):7- 28. http://scielo.iec.gov.br/pdf/iesus/v7n2/v7n2a02.pdf. https://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232004000300011 https://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232004000300011 https://doi.org/10.1590/S0103-73312008000400003 https://doi.org/10.1590/S0103-73312008000400003 http://scielo.iec.gov.br/pdf/iesus/v7n2/v7n2a02.pdf 25 UNIDADE I CAPÍTULO 3 – TERRITORIALIZAÇÃO E REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE No término deste capítulo, você deverá saber: ✓ Sistemas de Atenção à Saúde; ✓ Sistema fragmentado (Modelo hierárquico de Atenção à Saúde; ✓ Redes de Atenção à Saúde (RAS); ✓ Atenção Primária à Saúde (APS) nas RAS; ✓ Determinantes sociais da saúde; ✓ Epidemiologia em saúde; ✓ Planejamento em saúde; ✓ Organização da demanda. Introdução O livro “COLAPSO – Como as sociedades escolhem o fracasso ou sucesso”, de Jared Diamond (2005), o autor descreve, como sociedades antigas e bem organizadas, como os Maias, Polinésios e povos da Ilha de Páscoa e Groenlândia Nórdica entraram em colapso após exaurirem seus recursos naturais. Este colapso também foi estimulado por mudanças climáticas e a reação da população frente à escassez desses recursos, causando nos casos mais extremos a emigração e a morte de toda a população, antecedidos pela desestruturação política e perda de identidade cultural. Atualmente, em meio às rápidas mudanças ambientais, percebemos que as sociedades contemporâneas pouco aprenderam com o valioso banco de dados do passado. Continuamos esgotando nossos recursos e estamos pouco dispostos a alterar nossos padrões de consumo frente a escassez. Transferindo o conceito de esgotamento de recursos para a área da saúde, onde as necessidades são crescentes e ilimitadas e a incorporação de novas tecnologias tem caráter cumulativo e não substitutivo, é preciso uma reflexão crítica sobre a eficiência, efetividade e resolutividade dos serviços de atenção frente aos principais problemas de saúde da população. A escassez de recursos na saúde não poderá ser respondida, adequadamente, por um sistema de atenção à saúde totalmente fragmentado, reativo, episódico e voltado, prioritariamente, para o enfrentamento das condições agudas e das agudizações das condições crônicas. Isso não deu certo em outros países, isso não está dando certo aqui. Por isso, há que se restabelecer a coerência entre a situação de saúde e o SUS, o que envolverá a implantação das redes de atenção à saúde (RAS) para definir uma nova forma de organizar o sistema de atenção à saúde em sistemas integrados que permitam responder, com efetividade e eficiência. 3.1 Sistema de atenção à saúde Os sistemas de atenção à saúde são definidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um conjunto de atividades cujo propósito é promover, reestruturar e manter a saúde da população. Eles 26 não são estáticos e estão em constante processo de construção e desenvolvimento, acompanhando as mudanças sociais e culturais das sociedades, com objetivo de garantir o bom estado de saúde de suas populações. De acordo com Mendes (2011), os sistemas de saúde operam em conformidade com a situação de saúde das pessoas que o utilizam, sendo respostas sociais deliberadas às necessidades de saúde dos cidadãos. Atualmente, no Brasil, a situação de saúde passa por mudanças decorrentes de uma transição demográfica acelerada e tripla carga de doenças: Como resposta a esta situação, é necessário um sistema de atenção à saúde que tenha coerência entre a situação de saúde e o SUS, envolvendo a implantação de redes de atenção à saúde (RAS). Mas antes vamos conhecer os Modelos de Sistema de Saúde. A definição de AtençãoPrimária à saúde (APS) ou Atenção Básica à Saúde (ABS), segundo a Organização Mundial da Saúde abrange: “A atenção essencial à saúde, baseada em métodos práticos, cientificamente evidentes e socialmente aceitos e em tecnologias tornadas acessíveis a indivíduos e famílias na comunidade por meios aceitáveis e a um custo que as comunidades e os países possam suportar, independentemente de seu estágio de desenvolvimento, em um espírito de autoconfiança e autodeterminação. Ela forma parte integral do sistema de serviços de saúde do qual representa sua função central e o principal foco de desenvolvimento econômico e social da comunidade. Constitui o primeiro contato de indivíduos, famílias e comunidades com o sistema nacional de saúde, trazendo os serviços de saúde o mais próximo possível dos lugares de vida e trabalho das pessoas, bem como o primeiro elemento de um processo contínuo de atenção (WHO, 1978). Doenças crônicas Doenças infecciosas e carenciais Caus as exter nas 27 Condições agudas: apresentam um curso curto, inferior a três meses de duração, e tendem a se autolimitar; são manifestações de doenças transmissíveis de curso curto, como dengue e gripe, ou de doenças infecciosas, também de curso curto, como apendicite ou amigdalites, ou de causas externas, como os traumas. Condições crônicas: têm um período de duração mais ou menos longo e nos casos de algumas doenças crônicas, tendem a apresentar-se de forma definitiva e permanente. As doenças infecciosas de curso longo são consideradas condições crônicas. Tripla carga de doenças: 1. Agenda não concluída de infecções, desnutrição e saúde reprodutiva; 2. Crescimento das causas externas; 3. Predomínio de doenças crônicas e fatores de risco (tabagismo e álcool). 3.2 Sistema fragmentado (modelo hierárquico de atenção à saúde) Os sistemas de saúde fragmentados são aqueles que se organizam através de um conjunto de pontos de atenção à saúde isolados em que não há comunicação entre os níveis de atenção sendo, portanto, incapazes de prestar uma atenção contínua à população. Em geral, não há uma população adscrita de responsabilização, o que impossibilita a gestão baseada na população. Nesses sistemas, a atenção primária à saúde não é a coordenadora dos cuidados e os profissionais não conseguem exercer a linha de cuidado integral com o paciente. As unidades de pronto atendimento, ambulatorial e hospitalar têm por objetivo atender a demanda espontânea e realizar intervenções curativas e reabilitadoras. O modelo é médico assistencial privatista e o usuário é passivo no tratamento (MENDES, 2011). No sistema fragmentado existe uma forma de organização hierárquica com níveis de complexidade de atenção crescentes, fazendo a atenção básica parecer menos complexa do que os outros níveis de atenção, que utilizam maiores densidades tecnológicas. 28 3.3 Redes de atenção As redes de atenção à saúde são organizações poliárquicas de conjuntos de serviços de saúde, vinculados entre si por objetivos comuns e por uma ação cooperativa e interdependente, que permitem ofertar uma atenção contínua, integral e humanizada a população. Nas redes de atenção à saúde os níveis de atenção se relacionam horizontalmente e implicam um contínuo de atenção nos níveis primário, secundário e terciário, gerando uma atenção integral com intervenções promocionais, preventivas, curativas, cuidadoras, reabilitadoras e paliativas, sendo a atenção primária à saúde a coordenadora do cuidado (MENDES, 2011). As redes de atenção à saúde podem ser organizadas de forma a concentrar alguns tipos de serviços e dispersar outros. Desta forma, os serviços de atenção primária à saúde podem ser dispersos (bairros e municípios) e os serviços de densidade tecnológica maior podem ser concentrados (maiores centros urbanos), facilitando assim a organização e distribuição de acordo com as necessidades epidemiológicas e demográficas de cada localidade (OMS, 2010). Uma proposta de solução para o problema fundamental do SUS consiste em restabelecer a coerência entre a situação de saúde atual, com predominância das condições crônicas, e o sistema de atenção à saúde através da mudança do sistema fragmentado vigente para as redes de atenção à saúde (MENDES, 2012). 3.4 Atenção Primária à Saúde (APS) A Atenção Primária em Saúde (APS) ou Atenção Básica à Saúde (ABS) pode ser denominada como o eixo estruturante da atenção à saúde, sendo uma estratégia de organização e de reorganização dos sistemas de saúde, nos quais representa o primeiro nível de atenção e também um modelo de mudança da prática clínico-assistencial dos profissionais de saúde (STARFIELD, 2002). Atualmente é evidente seu impacto na saúde e no desenvolvimento da população nos países que a adotaram como base para seus sistemas de saúde, tenho o Brasil alcançado reconhecimento internacional pela implantação bem-sucedida da Estratégia Saúde da Família (GONDIM et al., 2011). Para Starfield (2002), a Atenção Primária em Saúde, apesar de ser o primeiro nível de atenção, tem como função a organização e integração das ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde nas redes de atenção à saúde. Deve garantir a coordenação e a continuidade do cuidado, tendo como atribuições: a garantia de acesso e porta de entrada, a longitudinalidade, o elenco integral de serviços, a coordenação de serviços e o enfoque familiar e a orientação da comunidade. Contudo, essa forma de organização, ainda que disponha de uma oferta de serviços hierarquizada em três níveis de atenção (primário, secundário e terciário), não consegue abranger as necessidades da atenção integral à saúde, por ser focada em recortes populacionais de acordo com seus agravos. Percebe-se então, a fragmentação da atenção e descontinuidade da assistência, gerando baixa resolutividade dos primeiros níveis de atenção e dificuldade de acesso aos níveis de maior complexidade. A estruturação da assistência à saúde em especialidades, efetivada por meio de procedimentos de média e de alta complexidade, possibilita a ocorrência de estrangulamentos na rede de serviços de saúde. 29 Essa fragmentação da atenção e a responsabilização clínica insuficiente são reflexos do modo de organizar o trabalho e os processos de decisão nos serviços de saúde, sendo que os serviços somente se responsabilizam pelos usuários enquanto estão dentro de seu espaço físico. Diante do exposto observa-se a necessidade de ampliação da visão sobre os determinantes dos problemas de saúde e discussões sobre a prática de uma clínica ampliada para a construção de novos modelos de promoção de saúde, sendo que a Atenção Primária à Saúde (APS) pode ser um local privilegiado para a construção de estratégias de enfrentamento dos problemas de saúde da população. 3.5 Determinantes sociais da saúde (DSS) Os DSS são os fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população. Os determinantes sociais da saúde, articulados com o Modelo de Atenção às Condições Crônicas, são definidos como as condições sociais em que as pessoas vivem e trabalham ou como as características sociais dentro das quais a vida transcorre; ou seja, como a causa das causas. Assim, a distribuição desigual das experiências prejudiciais é uma questão de justiça social e um imperativo ético para o qual devem ser estruturadas três grandes linhas de ação: melhorar as condições de vida da população; lutar contra a distribuição desigual do poder e dos recursos; e medir a magnitude do problema, avaliar as intervenções, ampliar a base de conhecimentos, dotar-se de pessoal capacitado em determinantes sociais da saúde e sensibilizar a opinião pública a esse respeito. Os determinantes sociais influenciam diretamente os indicadores de saúde; devido a isso,qualquer modelo de atenção à saúde deve estar atento a esses elementos. Figura 2: Determinantes sociais: modelo de DAHLGREN e WHITEHEAD Disponível em: https://scielosp.org/article/sausoc/2017.v26n3/676-689/ https://scielosp.org/article/sausoc/2017.v26n3/676-689/ 30 Observando-se os determinantes sociais, percebe-se que há a necessidade de estratificar a população em grupos de risco, permitindo identificar pessoas e grupos com necessidades de saúde semelhantes que devem ser atendidos por tecnologias e recursos específicos. Esta lógica se apoia em um manejo diferenciado pelas RAS, de pessoas e de grupos que apresentam riscos similares. Atualmente, no Brasil, com a implantação da Estratégia Saúde da Família, que veio como uma nova maneira de se organizar a assistência, tem-se conseguido, através do controle de risco familiar, direcionar ações em saúde para famílias e grupos de risco semelhantes. Pesquisa sobre Modelo de Atenção às Condições Crônicas (MACC). 3.6 Epidemiologia em saúde A Epidemiologia é a ciência que estuda os padrões da ocorrência de doenças em populações humanas e os fatores determinantes destes padrões (LILIENFELD, 1980). Enquanto a clínica aborda a doença em nível individual a epidemiologia aborda o processo saúde- doença em grupos de pessoas que podem variar de pequenos grupos até populações inteiras. O fato de a epidemiologia, por muitas vezes, estudar morbidade, mortalidade ou agravos à saúde, deve-se, simplesmente, às limitações metodológicas da definição de saúde. A análise epidemiológica de indicadores demográficos e de morbimortalidade com o objetivo de elaborar os chamados "diagnósticos de saúde" é uma prática antiga em nosso meio. Por vários motivos, nas últimas décadas essa atividade foi sendo abandonada ou expressivamente reduzida no país, com evidentes prejuízos ao adequado desempenho dos serviços de saúde. Mais recentemente, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) tem buscado a retomada dessa prática, incentivando a utilização mais ampla da epidemiologia por meio do acompanhamento e análise sistemática da evolução de indicadores demográficos, sociais, econômicos e de saúde para melhor compreensão dos determinantes das condições de saúde da população. Essa atividade tem recebido a denominação "análise da situação de saúde". A evolução desse cenário deve ser acompanhada com atenção por todos os profissionais que assessoram ou decidem a respeito de políticas de saúde (ALMEIDA, 1990). Para Barreto (2009), da mesma forma que as causas das doenças e agravos à saúde têm suas raízes na sociedade, as ações que buscam efetivamente melhorar os padrões de saúde da população e, assim, reduzir a ocorrência das doenças, devem ultrapassar os limites tipicamente definidos pelo setor e passam a exigir ações coordenadas, articulando as diferentes esferas e níveis do governo e da sociedade. O desenvolvimento de novos modelos de atenção à saúde tem, para o SUS, em todos os seus níveis, entre outras implicações, buscar maneiras de pôr em prática o direito constitucional à equidade, não só em relação ao acesso ao cuidado, mas também às exposições e aos riscos, ou seja, às chances de ficar doente. 31 3.7 Planejamento em saúde O planejamento estratégico situacional identifica os fatos atuais e projeta os passos a serem dados por uma organização, de acordo com esse diagnóstico, buscando antecipar-se aos possíveis problemas que possam surgir, aperfeiçoar seus aspectos positivos e adaptar-se às mudanças necessárias. Esse planejamento traduz a identidade de uma organização, podendo, a partir disso, traçar seus objetivos e metas com base em uma missão a ser constantemente perseguida. Deve apontar seus objetivos, listar as atividades a serem desenvolvidas e ter uma visão crítica do processo. Já o planejamento normativo está ancorado no paradigma positivista, que valoriza a produção em detrimento da subjetividade humana. É mais pontual e responde à ideia de fragmentação do serviço em diferentes departamentos. Leva em conta o cientificamente comprovável e quantificável, atuando na lógica da razão. É um tipo de planejamento de curto prazo ou ao acaso, voltado para a ação imediata, no sentido de manter o funcionamento dos serviços. Não considera os movimentos sociais, o que lhe confere um caráter histórico. O planejador detém o poder e impõe as normas ao grupo, o que lhe confere poder e a falsa ideia de total controle da situação. É importante para problemas que exigem solução imediata e urgente, visto que seu enfoque é de imposição e tomada de atitude rápida. Optar pelo planejamento significa assumir uma alternativa à improvisação. É decidir aonde se quer chegar, é acreditar que o futuro pode ser construído. Isso, porque planejar implica transformar ideias em ação. Segundo Paim e colaboradores (2006) planejamento também é “um modo de explicitação do que vai ser feito, quando, onde, como, com quem, e para quê”. O documento que registra essas escolhas é o Plano. Plano é um produto momentâneo de um processo de planejamento. É um instrumento de negociação, nunca está acabado, mas sempre em construção. Assim, no contexto de saúde pública, o principal objetivo do Plano deve ser o de orientar a ação da equipe de saúde do município, apontar para correções de rumos e avaliação dos resultados obtidos em relação aos objetivos propostos. Existem muitos métodos de planejamento, cada um com suas vantagens e desvantagens conforme a situação que se apresenta, no entanto, as maiores influências no planejamento em saúde são as do pensamento normativo e estratégico. No âmbito do SUS, resgatar ou construir a cultura de planejamento é ao mesmo tempo um avanço e um desafio. Um avanço porque cada dia mais o planejamento é reconhecido no SUS como importante ferramenta de gestão, e um desafio porque planejamento envolve a consolidação de uma cultura que exige mobilização, engajamento e decisão de gestores e profissionais. A implementação de planos estratégicos representa um esforço para contribuir com o aperfeiçoamento permanente da gestão e, portanto, para a qualidade de vida das pessoas, mediante a prestação de serviços de saúde oportunos, resolutivos e humanizados. 3.8 Organização da demanda A organização da demanda dos serviços de saúde é um desafio constante para profissionais e gestores. Atender por livre demanda ou agendamento? Direcionar o atendimento do público ou dividir o atendimento? Organizar o acolhimento em saúde não engloba apenas a demanda espontânea, mas um conjunto de ações de resposta às necessidades da comunidade. Partindo do diagnóstico de problemas e do 32 planejamento em saúde, rompendo a ideia do mesmo como uma ação pontual, visando apenas a doença e os procedimentos e não o paciente e aquilo que é necessário para garantir o acesso a saúde como um bem completo e amplo. Para os prestadores de serviço, o acolhimento também pode significar fazer o atendimento ao paciente que procura atendimento sem ter agendado esse encontro previamente. Mas acolher ultrapassa essa visão de demanda espontânea e não programada. Dentre as atribuições do enfermeiro no contexto da atenção básico, garantir o acesso da população a um atendimento de qualidade, por profissionais competentes e que leve à satisfação do usuário, passa a ser considerado ponto fundamental e que deve ser levado em conta durante o processo de organização do serviço. O diagnóstico das demandas e necessidades dos usuários devem promover reflexão, subsidiando a análise e as mudanças da prática e dos resultados do trabalho e, consequentemente, o planejamento em saúde. Portanto, é preciso identificar os problemas e as potencialidades relacionadas às diferentes questões envolvidas com o acolhimento, como aquelas relativas à própria organização dos serviços, à satisfação dos usuários e ao desenvolvimento e crescimento profissionale pessoal dos trabalhadores/equipes nesse processo. A equipe deve estar preparada para abordar diferentes aspectos e perspectivas de uma avaliação participativa e formativa, juntamente com os usuários e gestão municipal, buscando provocar movimentos diversos, como a capacitação, o levantamento, a construção e a pactuação de ações que orientem a renovação do trabalho/serviços e propiciem aprendizagens coletivas. Como resultado, a organização do atendimento às demandas espontâneas e programadas, ambas integrantes do processo de acolhimento em saúde, deve basear-se nas necessidades observadas e se dar como um processo contínuo que permite modificações à medida que novas demandas surgem. O levantamento epidemiológico deve ser utilizado para organizar o serviço, porém é importante ter em mente que não é a única forma de caracterizar essas necessidades. Para isso, pode-se realizar um diagnóstico das principais queixas decorrentes das demandas espontâneas e também das necessidades observadas e relatadas durantes visitas domiciliares ou nos grupos. Após esse levantamento, a equipe deve reunir-se, debater as fragilidades e traçar um plano de ação. Esse plano deve incluir quantas consultas de demanda espontânea e programada serão disponibilizadas, quantas consultas serão destinadas aos retornos de rotina dos pacientes programados, como organizar os setores da Unidade de Saúde. Organizar o acolhimento a partir das necessidades dos usuários exige, portanto, que a equipe reflita sobre o conjunto de ofertas que tem disponível, pois todas as práticas de saúde da Unidade precisam estar à disposição para serem utilizadas quando necessário. Para isso as equipes precisam de espaço para reflexão e discussão do seu processo de trabalho para planejarem as ações e definirem o modo como os diferentes profissionais participarão do acolhimento, isto é, quem vai receber o usuário que chega; como avaliar o risco e a vulnerabilidade desse usuário; o que fazer de imediato; quando encaminhar/agendar uma consulta médica; como organizar a agenda dos profissionais; que outras ofertas de cuidado (além da consulta) podem ser necessárias etc. O planejamento deve gerar, dessa forma, uma atitude de mudança no fazer o acolhimento em saúde que implique no protagonismo dos sujeitos envolvidos no processo de produção de saúde. 33 Considerações Finais Se os serviços criam barreiras de acesso ou não conseguem dar as respostas aos problemas que levam as pessoas a procurarem os serviços de saúde, abre-se uma brecha para que a população busque respostas inadequadas às suas doenças em serviços de pronto-atendimentos ou especializados, sem longitudinalidade, sem estabelecer relação de confiança com os profissionais do cuidado, submetendo-se a intervenções e tratamentos mais invasivos e que podem causar mais danos que benefícios. Dentro do ideário do que é ser ‘cuidado’, isso atende ao senso comum de acesso ao médico, aos exames e ao tratamento medicamentoso. Esse é o modelo que está em falência no mundo. Na contextualização do sistema contemporâneo de assistência à saúde é necessária a criação de redes integradas e dinâmicas. A aplicabilidade de um modelo de gestão só é possível quando ele atende as duas partes integrantes do sistema: os gestores e a população. A abordagem de saúde deve estar interligada com o tempo. Reflete a economia e mais que tudo o perfil da sociedade. O conceito de saúde é impreciso, dinâmico e abrangente e isso não impede que seja possível tomá-lo como eixo para a reorientação das práticas de saúde. Pelo contrário: sua importância é fundamental para a superação de um modelo de atenção focado no modelo médico assistencial. Os sistemas de atenção à saúde são definidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um conjunto de atividades cujo propósito é promover, reestruturar e manter a saúde da população. Eles não são estáticos e estão em constante processo de construção e desenvolvimento, acompanhando as mudanças sociais e culturais das sociedades, com o objetivo de garantir o bom estado de saúde de suas populações. Os sistemas de saúde operam em conformidade com a situação de saúde das pessoas que o utilizam e são respostas sociais deliberadas às necessidades de saúde dos cidadãos. Atualmente, no Brasil, a situação de saúde passa por mudanças decorrentes de uma transição demográfica acelerada e tripla carga de doenças. Como resposta a essa situação, é necessário um sistema de atenção à saúde que tenha coerência entre a situação de saúde e o SUS, envolvendo a implantação de redes de atenção à saúde (RAS). Os sistemas de saúde fragmentados são aqueles que se organizam através de um conjunto de pontos de atenção à saúde isolados em que não há comunicação entre os níveis de atenção, sendo, portanto, incapazes de prestar uma atenção contínua à população No sistema fragmentado existe uma forma de organização hierárquica, com níveis de complexidade de atenção crescentes, fazendo a atenção básica parecer menos complexa do que os outros níveis de atenção, que utilizam maiores densidades tecnológicas. As redes de atenção à saúde são organizações poliárquicas de conjuntos de serviços de saúde, vinculados entre si por objetivos comuns e por uma ação cooperativa e interdependente, que permitem ofertar uma atenção contínua, integral e humanizada a população. A Atenção Primária em Saúde (APS) ou Atenção Básica à Saúde (ABS) pode ser denominada como o eixo estruturante da atenção à saúde, sendo uma estratégia de organização e de reorganização dos sistemas de saúde, nos quais representa o primeiro nível de atenção e um modelo de mudança da prática clínico- assistencial dos profissionais de saúde. Os DSS são os fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população. 34 A Epidemiologia é a ciência que estuda os padrões da ocorrência de doenças em populações humanas e os fatores determinantes destes padrões. O planejamento estratégico situacional identifica os fatos atuais e projeta os passos a serem dados por uma organização em acordo a esse diagnóstico, buscando antecipar-se aos possíveis problemas que possam surgir, buscando aperfeiçoar seus aspectos positivos e adaptar-se às mudanças necessárias. Já o planejamento normativo está ancorado no paradigma positivista, que valoriza a produção em detrimento da subjetividade humana. É mais pontual e responde à ideia de fragmentação do serviço em diferentes departamentos. A organização da demanda dos serviços de saúde é um desafio constante para profissionais e gestores. Atender por livre demanda ou agendamento? Direcionar o atendimento do público ou dividir o atendimento? Organizar o acolhimento em saúde não engloba apenas a demanda espontânea, mas um conjunto de ações de resposta às necessidades da comunidade. Partindo do diagnóstico de problemas e do planejamento em saúde, rompendo a ideia do mesmo como uma ação pontual, visando apenas a doença e os procedimentos e não o paciente e aquilo que é necessário para garantir o acesso à saúde como um bem completo e amplo. https://www.youtube.com/watch?v=0N_9KKu15oM Vídeo realizado pela aluna GIGLI TESTONI do Mestrado Profissional - FOP UNICAMP. Edição de vídeo por Talita Testoni. E-mail: giglitestoni@terra.com.br (ENADE – 2013) A transição demográfica e epidemiológica tem produzido alteração no perfil de morbidade e de necessidades em saúde da população brasileira, o que implica a instrumentalização e a utilização de tecnologias que respondam a essas necessidades. Na estratégia de saúde da família, uma das ferramentas utilizadas é a visita domiciliar (VD), planejada e desenvolvida conforme o perfil dos grupos de interesse e objetivos da ação em saúde. A partir do texto apresentado e considerando, no contexto da transição demográficae epidemiológica, a visita domiciliar realizada pelo enfermeiro no território da estratégia de saúde da família, avalie as afirmações a seguir. I. A visita domiciliar tem como objetivo prestar assistência ao indivíduo, à família e à comunidade, o que dispensa planejamento prévio. II. A visita domiciliar tem como objetivo conhecer in loco a realidade do usuário do serviço e de sua família e tem como característica principal a utilização de tecnologias leves. III. A visita domiciliar pode ser classificada em VD de acompanhamento ou VD de busca ativa, sendo essa última utilizada especialmente nos casos de grupos prioritários na transição demográfica em curso por meio da utilização de tecnologias duras. IV. Nas visitas domiciliares, as tecnologias duras vêm sendo substituídas por tecnologias leves, em razão da transição demográfica e epidemiológica. V. A visita domiciliar pressupõe a utilização de técnicas de entrevista e observação sistematizada. https://www.youtube.com/watch?v=0N_9KKu15oM mailto:giglitestoni@terra.com.br 35 É correto apenas o que se afirma em a) I e II. b) I e III. c) II e V. d) III e IV. e) IV e V. Resposta - c) II e V. Questão Objetiva (INSTITUTO LEGATUS – 2015) A Portaria 2.488, de 21 de outubro de 2011, aprova a Política Nacional de Atenção Básica e estabelece a revisão de diretrizes e normas para a organização da atenção básica. A Portaria define a organização de Redes de Atenção à Saúde (RAS) como estratégia para um cuidado integral e direcionado às necessidades de saúde da população. Que funções a atenção básica deve cumprir para contribuir com o funcionamento das RAS? a) Ser base, realizando visitas domiciliares e procedimentos básicos na unidade básica de saúde. b) Realizar o primeiro atendimento e encaminhar os usuários para os outros pontos de atenção das RAS. c) Coordenar o cuidado, priorizando as ações de educação em saúde, voltadas à ampliação dos graus de autonomia dos indivíduos e grupos sociais. d) Ser a modalidade de atenção com o mais elevado grau de descentralização e capilaridade, buscando resolutividade através da identificação dos riscos, necessidades e demandas da população, e articulando diferentes tecnologias aos projetos terapêuticos de cuidado. e) Ordenar as redes, por meio do reconhecimento das necessidades de saúde da população e direcionar as problemáticas encontradas para os outros pontos de atenção. Resposta – d) Ser a modalidade de atenção com o mais elevado grau de descentralização e capilaridade, buscando resolutividade através da identificação dos riscos, necessidades e demandas da população, e articulando diferentes tecnologias aos projetos terapêuticos de cuidado. Questão Discursiva Qual a função da Atenção Básica nas RAS? Mendes, Eugênio Vilaça. As redes de atenção à saúde. / Eugênio Vilaça Mendes. Brasília: Organização Pan- Americana da Saúde, 2011.549 p.: il. Neste livro, o autor apresenta subsídios e evidencias de que as Redes de Atenção são o melhor arranjo para superar os desafios e integrar os sistemas de saúde. 36 A construção de redes é uma estratégia para qualificar a atenção para que sejam oportunizadas múltiplas respostas às necessidades de saúde de acordo com grupos específicos (mulher, criança, idoso). Mais importante do que ofertar serviços em rede em um determinado território, é a forma como esses serviços se relacionam, qual o padrão de comunicação entre as diferentes equipes e os diferentes serviços, quais modelos de atenção e gestão são produzidos nesses serviços. Não bastam mais serviços, mais equipes e mais equipamentos. É necessário que haja comunicação entre os serviços para que a atenção seja, de fato, integral. Almeida Filho N.; Rouquayrol MZ. Introdução à Epidemiologia Moderna. Salvador - Rio de Janeiro, Apce Produtos do Conhecimento e ABRASCO, coedição, 1990. Barreto, ML. Papel da epidemiologia no desenvolvimento do Sistema Único de Saúde no Brasil: histórico, fundamentos e perspectivas. Rev. bras. epidemiol., São Paulo, v. 5, supl. 1, p. 4-17, Nov.2002. Lilienfeld AM. Foundations of Epidemiology. 2nd ed. Chapter 1: The Epidemiologic Approach to Disease. London/New York: Oxford University Press, 1980, pp 3–22. Mendes EV. As redes de atenção à saúde. Brasília, DF: Organização Pan-Americana da Saúde; Organização Mundial da Saúde; Conselho Nacional de Secretários de Saúde, 2011. Mendes EV. O cuidado das condições crônicas na atenção primária à saúde: o imperativo da consolidação da estratégia da saúde da família. Brasília, Organização Pan-Americana da Saúde, 2012. ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE – Inovação nos sistemas logísticos: resultados do laboratório de inovação sobre redes integradas de atenção à saúde baseadas na APS. Brasília, OPAS/OMS, 2010. Paim, Jairnilson Silva, & Teixeira, Carmen Fontes. (2006). Política, planejamento e gestão em saúde: balanço do estado da arte. Revista de Saúde Pública, 40 (spe), 73-78. https://doi.org/10.1590/S0034- 89102006000400011 Starfield B. Atenção primária: equilíbrio entre a necessidade de saúde, serviços e tecnologias. Brasília: UNESCO; Ministério da Saúde, 2002. https://doi.org/10.1590/S0034-89102006000400011 https://doi.org/10.1590/S0034-89102006000400011 37 UNIDADE I CAPÍTULO 4 – FERRAMENTAS PARA ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO EM SAÚDE No término deste capítulo, você deverá saber: ✓ Clínica ampliada; ✓ O autocuidado apoiado; ✓ Gestão da clínica; ✓ Gestão da condição de saúde ✓ Gestão de caso; ✓ Acolhimento e vínculo no contexto prático diário ✓ Humanização nos diferentes níveis de atenção à saúde ✓ Educação em saúde. Introdução Uma Atenção Primária à Saúde fortalecida é capaz de coordenar uma resposta integral às demandas de saúde por meio da articulação e sincronização da rede de serviços, de forma que as intervenções sejam adequadas às necessidades do usuário e compatíveis com suas expectativas. A Atenção Primária forte significa um primeiro nível de assistência capaz de resolver a maioria dos problemas, em tempo oportuno, com acessibilidade e garantia de continuidade. Para isso, ela deve ser capaz de mobilizar apoios financeiros e humanos para poder coordenar os cuidados. Uma forma de ampliar o acesso da população aos serviços é expandir as Estratégias de Saúde da Família, oferecendo unidades próximas ao usuário que sejam de fácil acesso, com amplo horário de funcionamento e um bom manejo e acolhimento da demanda espontânea. A Atenção Primária pode ser vista como uma estratégia para organizar o sistema de saúde, com capacidade de coordenar os cuidados entre os vários níveis, facilitando a integração entre os serviços de saúde a fim de evitar a fragmentação e alcançar uma atenção integral. Para que a APS se fortaleça é preciso que seus serviços tenham procura regular pelo usuário. E, para isso, deve haver equilíbrio na organização da oferta de ações preventivas e curativas, com apoio matricial e acolhimento. Há um consenso de que a APS forte é fundamental para o SUS e para a sociedade. Entretanto, quando se olha para a maneira como vem sendo organizada, gerida, financiada, ofertada e acessada fica claro que não é prioridade de governos e gestores. Afinal, por que uma APS forte é desejável? Leia a resposta em: https://www.resbr.net.br/por-que-a-atencao-primaria-e-desejavel/#.YKpgP6hKi01 https://www.resbr.net.br/por-que-a-atencao-primaria-e-desejavel/#.YKpgP6hKi01 https://www.resbr.net.br/por-que-a-atencao-primaria-e-desejavel/#.YKpgP6hKi01 38 4.1 Gestão ampliada Novas concepções sobre o processo saúde/doença, em função da ampliação dos determinantes de saúde para as relações naturais e sociais, remetem-nos ao desafio de repensarmos a prática clínica hegemônica, reconhecendo suas limitações, porém não negando sua contribuição na melhoria da qualidade de vida das pessoas (CARVALHO; CUNHA, 2009). A Clínica Ampliada é um trabalhoclínico que visa o sujeito e a doença, a família e seu contexto, tendo como objetivo produzir saúde e aumentar a autonomia do sujeito, de sua família e de sua comunidade. Utiliza como meios de trabalho a integração da equipe multiprofissional, a adscrição da clientela e a construção de vínculo, a elaboração de projeto terapêutico conforme a vulnerabilidade de cada caso, e a ampliação dos recursos de intervenção sobre o processo saúde-doença. Nesse sentido, a clínica ampliada propõe uma mudança das práticas atuais de saúde, que traduzem a excessiva ênfase no componente orgânico do processo saúde/doença, fazendo com os profissionais foquem seu objeto de trabalho nas doenças e não nas pessoas doentes o que gera um tipo de desresponsabilização para tudo que não seja a doença. A baixa adesão aos tratamentos, a existência de pacientes poliqueixosos e a dependência dos usuários em relação aos serviços evidenciam os limites da prática clínica centrada na doença (CARVALHO; CUNHA, 2009). 4.2 O autocuidado apoiado O autocuidado apoiado pode ser explicado como o empoderamento das pessoas para assumirem responsabilidade por sua saúde e o autogerenciamento da atenção à saúde prestada, por meio de ações preventivo-educativas e de intervenções de apoio para aumentar a confiança e as habilidades das pessoas usuárias dos sistemas de atenção à saúde no gerenciamento de metas a serem alcançadas e o suporte para a solução desses problemas. Seu foco está em apoiar as pessoas para que se tornem agentes produtores de sua saúde. Os principais objetivos do autocuidado apoiado são estimular as habilidades dos portadores de condições crônicas para conhecerem os seus problemas e escolherem seus tratamentos; para adotarem, mudarem e manterem comportamentos Modelo tradicional Baixa capacidade resolutiva e poucos instrumentos para compreender e agir sobre os determinantes que interferem no processo saúde-doença Redução da complexidade dos problemas ambulatório de consultas; Processo automatizado no cumprimento de tarefas; Práticas centralizadas no profissional médico. Clínica Ampliada Formação de equipes territoriais (visão territorial); formação de equipes multiprofissionais (olhar transdisciplinar); Compreensão do sujeito em seu contexto e compromisso com o sujeito e não com a sua doença; Constituição de redes de cuidado, articulação entre diferentes níveis do sistema; Criação de vínculo entre profissionais e usuário. 39 que contribuam para a sua saúde; para utilizarem os recursos necessários para o suporte às mudanças. Nas condições crônicas, opera-se com uma combinação entre cuidados profissionais e autocuidado apoiado que varia segundo a estratificação de risco da condição de saúde. Há evidencias de que 70 a 80% dos portadores de condições crônicas, os de menores riscos, podem ter sua atenção à saúde centrada no autocuidado apoiado, prescindindo de uma atenção constante, focada na atenção profissional. Em geral, essas pessoas interagem com as equipes multidisciplinares da Estratégia Saúde da Família, com forte ênfase em apoiar as pessoas a se auto cuidarem. O autocuidado apoiado sustenta-se no princípio de que as pessoas portadoras de condições crônicas conhecem tanto quanto, ou mais, de sua condição e de suas necessidades de atenção que os profissionais de saúde. 4.3 Gestão da clínica A gestão da clínica pode ser conceituada como um conjunto de tecnologias de microgestão da clínica, construído com base em evidências científicas e destinado a prover uma atenção à saúde de qualidade: centrada nas pessoas, efetiva, estruturada com base em evidências científicas; segura, que não cause danos às pessoas usuárias e aos profissionais de saúde; eficiente, provida com os custos ótimos; oportuna, prestada no tempo certo; equitativa, de forma a reduzir as desigualdades injustas; e ofertada de forma humanizada (MENDES, 2011). Incorpora a educação permanente dos profissionais de saúde, a gestão dos riscos da atenção e uma visão contemporânea de auditoria clínica, intimamente vinculada a uma cultura de qualidade dos serviços de saúde. A gestão da clínica constitui-se das tecnologias sanitárias que parte das diretrizes clínicas, para, a partir delas, desenvolver as tecnologias de gestão da condição de saúde e da gestão de caso. O processo de desenvolvimento das diretrizes clínicas deve ser encarado, não como um processo linear, mas como um ciclo de atividades interdependentes que envolve a elaboração, a implantação, a avaliação e a revisão das diretrizes clínicas, a educação permanente, a acreditação dos serviços de saúde, a avaliação tecnológica em saúde e a auditoria clínica (MENDES, 2011). As diretrizes clínicas são imprescindíveis para a gestão da clínica e devem ser vistas não como trilhos, mas como trilhas para uma atenção à saúde efetiva e de qualidade. Seus objetivos são: melhorar a comunicação entre os profissionais de saúde; melhorar a comunicação entre os profissionais de saúde e as pessoas usuárias; padronizar as condutas clínicas reduzindo a complexidade da atenção à saúde; melhorar a qualidade da atenção à saúde provendo serviços efetivos, eficientes e seguros, segundo as evidências científicas; diminuir as variações não desejadas na prestação de serviços de saúde; aumentar a satisfação das pessoas usuárias; definir parâmetros de programação de base populacional; servir de base para a definição das tecnologias de gestão da clínica; facilitar o desenho de processos de educação permanente; e identificar áreas de investigação e de desenvolvimento. OBJETIVOS DO AUTOCUIDADO APOIADO •Empoderamento das pessoas para assumirem responsabilidades por sua saúde. •Autogerenciamento da atenção à saúde prestada. •Monitoramento regular das condições de saúde e suporte para a solução desses problemas. •Estabelecimento de metas a serem alcançadas. •Suporte para a solução dos problemas de saúde. 40 Todo o processo de cuidado das condições crônicas na ESF deve ser sustentado por diretrizes clínicas baseadas em evidências científicas. Fonte: MENDES, 2011. 4.4 Gestão da condição de saúde A gestão da condição de saúde pode ser definida como o processo de gerenciamento de fatores de risco biopsicológicos (dislipidemia, hipertensão arterial, depressão, diabetes e outros) e das condições crônicas (diabetes, asma, doença coronariana e outras). Este gerenciamento é estabelecido por meio de um conjunto de intervenções gerenciais, educacionais e do cuidado, com o objetivo de alcançar bons resultados clínicos e de reduzir os riscos para os profissionais e para as pessoas usuárias, contribuindo para a melhoria da eficiência e da qualidade da atenção à saúde. A gestão da condição de saúde estrutura-se em quatro grandes componentes: o plano de cuidado a gestão dos riscos da atenção à saúde, as mudanças de comportamento de profissionais de saúde e de pessoas usuárias e a programação da atenção à saúde (MENDES, 2012). A gestão da condição de saúde tem sido considerada uma mudança radical na abordagem clínica porque ela se parte de um modelo de um profissional de saúde individual que responde a um doente por meio de procedimentos curativos e reabilitadores para uma abordagem direcionada para uma população adscrita, cujos fatores de risco são enfrentados por meio de estratégias focadas na estratificação de riscos e na atenção baseada na população. 4.5 A gestão de caso A gestão de caso (case management) é o processo cooperativo que se desenvolve entre um profissional gestor de caso e uma pessoa portadora de uma condição de saúde muito complexa e a sua rede de suporte social para planejar, monitorar e avaliar opções de cuidados e de coordenação da atenção à saúde, de acordo com as necessidades da pessoa e com o objetivo de propiciar uma atenção de qualidade humanizada capaz de aumentar a capacidade funcional e de preservar autonomia individualidadefamiliar. A gestão de caso persegue vários objetivos: advogar as necessidades das pessoas usuárias e de suas famílias, aumentar a satisfação das pessoas usuárias e de suas famílias; estimular a adesão aos cuidados prescritos nas diretrizes clinicas; ajustar as necessidades de saúde aos serviços providos; assegurar a continuidade do cuidado na RAS; reduzir os efeitos adversos das intervenções médicas; melhorar a comunicação entre os profissionais de saúde, as pessoas usuárias dos serviços e suas famílias; melhorar a comunicação e a colaboração na equipe de profissionais de saúde; incrementar a qualidade de vida, autonomia e independência das pessoas; estimular o autocuidado; Tecnologias de Gestão da Clínica •Diretrizes clínicas baseadas em evidências científicas •Gestão das condições de saúde •Gestão do caso •Gestão do risco 41 monitorar os planos de tratamento, a reabilitação e as ações paliativas; e avaliar as altas de serviços e prevenir as internações sociais. As pessoas que necessitam da gestão de caso, em geral, são aquelas que apresentam condições crônicas muito complexas, como as portadoras de comorbidades; as que utilizam polifarmácia; as que apresentam problemas de alta dos serviços; as que apresentam baixa adesão ao tratamento prescrito; as que são atingidas por danos catastróficos; as que são desprovidas de condições para o autocuidado; as que apresentam graves problemas familiares e vulnerabilidade social; e as que são desprovidas de redes de suporte social. Algumas indicações adicionais podem ser feitas as pessoas que vivem só; os idosos frágeis; as pessoas com readmissões hospitalares sucessivas; as pessoas portadoras de distúrbios mentais graves, as pessoas que apresentam evidências de algum tipo de abuso, os moradores em situação de rua e pessoas em estágio de pobreza extrema. 4.6 Acolhimento e vínculo no contexto prático diário O usuário se conecta ao serviço de saúde por meio de fluxos comunicantes por onde transitam ofertas, demandas, desejos, realizações de expectativas, satisfação de necessidades. É nessa comunicação que se realiza a relação de cuidado ou descuidado. Obter acesso aos serviços é uma primeira etapa a ser vencida pelo usuário-paciente quando parte em busca da satisfação de uma necessidade de saúde. Em qualquer abordagem de um trabalhador de saúde junto a um usuário-paciente há um encontro entre duas pessoas que atuam uma sobre a outra, e no qual opera um jogo de expectativas e produções, criando-se intersubjetivamente alguns momentos interessantes como momentos de falas, escutas e interpretações em que há a ocorre a acolhida ou não das intenções que estas pessoas colocam neste encontro. Nesse encontro do usuário com a equipe de saúde deveria prevalecer o compromisso e a preocupação de se fazer a melhor escuta possível das necessidades de saúde trazidas por aquela pessoa que busca o serviço (CECILIO, 2006). Deveriam ser momentos de possíveis cumplicidades, em que poderia haver a responsabilização pelo problema que será enfrentado, ou mesmo de momentos de confiabilidade e esperança nos quais se produzem relações de vinculo e aceitação. O aumento do grau de comunicação em cada grupo e entre os grupos (princípio da transversalidade), assim como o aumento do grau de democracia institucional por meio de processos congestionados da produção de saúde e do grau de corresponsabilidade no cuidado são decisivos para a mudança que se pretende. 4.7 A humanização nos diferentes níveis de atenção à saúde As práticas de humanização nos serviços de saúde podem variar de acordo com a complexidade da assistência prestada, uma vez que os arranjos organizacionais são feitos, em cada nível, segundo as suas densidades tecnológicas singulares, variando do nível de menor densidade (atenção primária à saúde) ao de densidade tecnológica intermediária (atenção secundária à saúde), até o de maior densidade tecnológica (atenção terciária à saúde). Assim, antes de descrever as práticas de humanização seriam necessários alguns conceitos dos diferentes níveis de atenção à saúde, bem como uma breve reflexão de como isso interfere na implementação de práticas humanizadas. 42 A atenção primária à saúde, para sua efetividade, deve considerar o sujeito em sua singularidade, complexidade e inserção cultural. Portanto, orienta-se pelos princípios da universalidade, da acessibilidade, da coordenação de cuidado, do vínculo, da continuidade, da integralidade, da responsabilização, da humanização da equidade e da participação social. Para organizar o acolhimento, a partir das necessidades dos usuários, as equipes precisam de espaço para reflexão e discussão do seu processo de trabalho para planejarem as ações e definirem o modo como os diferentes profissionais participarão do acolhimento, isto é, quem vai receber o usuário que chega; como avaliar o risco e a vulnerabilidade desse usuário; o que fazer de imediato; quando encaminhar/agendar uma consulta médica, como organizar a agenda dos profissionais; que outras ofertas de cuidado (além da consulta) podem ser necessárias. Todos esses cuidados são importantes para promover um ambiente acolhedor para o paciente confortável para o trabalho da equipe de saúde. Todavia, o cuidado com o ambiente físico não é o único ponto a ser observado. Tão, ou até mais importante, é o acolhimento realizado por um profissional da equipe de saúde, independentemente setor a que ele pertença. Portanto, torna-se importante não somente a redefinição física, incorporação de insumos tecnológicos e quantitativos de recursos humanos, mas a reconfiguração do processo de trabalho em saúde, de modo a articular serviços usuários centrados. Na perspectiva de promover um ambiente acolhedor, o treinamento dos trabalhadores no sentido de humanizar a atenção é de vital importância para a execução de atividades de acolhimento, pautadas nas tecnologias das relações, tendo em vista a satisfação dos usuários. 4.8 Educação em saúde na atenção básica A Educação continuada em saúde pode ser conceituada como: treinamento em serviço, educação no trabalho, educação em serviço, sinônimos estes que podem ser atribuídos tanto aos programas pontuais de capacitação inicial para o trabalho ou atualização científica e tecnológica, logo transitórios, como para serviços incluídos nos organogramas oficiais das instituições de saúde. A Educação Permanente é um conceito de enriquecimento da essência humana e suas subjetividades em qualquer etapa da vida. A Educação Permanente em Saúde é importante pelo fato de que este processo passou a ser uma política pública formulada para alcançar o desenvolvimento dos sistemas de saúde, reconhecendo que só será possível encontrar trabalhadores que se ajustem às constantes mudanças ocorridas nos complexos sistemas de saúde por meio da aprendizagem significativa, que prevê que o conhecimento deve ser construído, considerando as novidades e o que já se tem como consolidado. É proposta como uma nova forma de transformar os serviços, trabalhando com todos os indivíduos envolvidos com a saúde, oferecendo subsídios para que consigam resolver seus problemas e estabeleçam estratégias que amenizem as necessidades de sua comunidade. Considerações Finais Existem obstáculos estruturais e conjunturais que dificultam a efetivação plena dos princípios do SUS, tais como o baixo financiamento público, as contradições entre as políticas de formação e educação em saúde, o descompasso entre oferta e demanda e os problemas não resolvidos de gestão e regulação públicas na saúde, constituem desafios importantes que devem ser considerados 43 na reformulação dos serviços em saúde. A implementação de modelos de gestão e de atenção à saúde deve trazer à APS a função de coordenar e ordenar as redes de atenção. Para isso, iniciativas de reorientação do cuidado, por meio da gestão da clínicae gerenciamento dos agravos em saúde, objetivando o manejo das condições crônicas, são ferramentas imprescindíveis no enfrentamento dos problemas provenientes da nova e futura conjuntura política, social e epidemiológica. Na prática, há necessidade da Educação em Saúde em busca de adesão de tratamentos, baseados na escuta do paciente e ações de profissionais capacitados e motivados para conduzir a situação com base científica e humanista. Apenas formar grupos e deixar a situação ser verticalizada e/ou monocrática não contribui para uma educação efetiva e resolutiva. A educação em saúde pode e deve ser um instrumento para integrar equipes, seja unidisciplinar ou multidisciplinares. A troca de saberes, experiências, inovação científicas e humildade de juntos alcançarem uma só meta nas questões e resoluções da saúde. A Clínica Ampliada é um trabalho clínico que visa o sujeito e a doença, a família e seu contexto, tendo como objetivo produzir saúde e aumentar a autonomia do sujeito, de sua família e de sua comunidade. O autocuidado apoiado pode ser explicado como o empoderamento das pessoas para assumirem responsabilidade por sua saúde e o autogerenciamento da atenção à saúde prestada, por meio de ações preventivo-educativas e de intervenções de apoio para aumentar a confiança e as habilidades das pessoas usuárias dos sistemas de atenção à saúde em gerenciamento de metas a serem alcançadas e o suporte para a solução desses problemas. A gestão da clínica pode ser conceituada como um conjunto de tecnologias de microgestão da clínica, construído com base em evidências científicas e destinado a prover uma atenção à saúde de qualidade: centrada nas pessoas, efetiva, estruturada com base em evidências científicas; segura, que não cause danos às pessoas usuárias e aos profissionais de saúde; eficiente, provida com os custos ótimos; oportuna, prestada no tempo certo; equitativa, de forma a reduzir as desigualdades injustas; e ofertada de forma humanizada. Incorpora a educação permanente dos profissionais de saúde, a gestão dos riscos da atenção e uma visão contemporânea de auditoria clínica, intimamente vinculada a uma cultura de qualidade dos serviços de saúde. A gestão da condição de saúde pode ser definida como o processo de gerenciamento de fatores de risco biopsicológicos (dislipidemia, hipertensão arterial, depressão, diabetes e outros) em relação às condições crônicas puericultura, diabetes, asma, doença coronariana e outras), estabelecidas por meio de um conjunto de intervenções gerenciais, educacionais e no cuidado, com o objetivo de alcançar bons resultados clínicos e de reduzir os riscos para os profissionais e para as pessoas usuárias, contribuindo para a melhoria da eficiência e da qualidade da atenção à saúde. A gestão de caso (case management) é o processo cooperativo que se desenvolve entre um profissional gestor de caso e uma pessoa portadora de uma condição de saúde muito complexa e a sua rede de suporte social para planejar, monitorar e avaliar opções de cuidados e de coordenação da atenção à saúde de acordo com as necessidades da pessoa e com o objetivo de propiciar uma atenção de qualidade humanizada, capaz de aumentar a capacidade funcional e de preservar autonomia individualidade familiar. As práticas de humanização nos serviços de saúde podem variar de acordo com a complexidade da assistência prestada, uma vez que os arranjos organizacionais são feitos, em cada nível segundo as suas densidades tecnológicas singulares. Há três níveis: o de menor densidade (atenção primária à saúde), o de densidade tecnológica intermediária (atenção secundária à saúde), e o de maior densidade tecnológica (atenção terciária à saúde). 44 A Educação continuada em saúde pode ser conceituada como: treinamento em serviço, educação no trabalho, educação em serviço, sinônimos estes que podem ser atribuídos tanto aos programas pontuais de capacitação inicial para o trabalho ou atualização científica e tecnológica, logo transitórios, como para serviços incluídos nos organogramas oficiais das instituições de saúde. A Educação Permanente é um conceito de enriquecimento da essência humana e suas subjetividades em qualquer etapa da vida. A ênfase da gestão, organização da atenção e capacitação dos trabalhadores deveria ser no sentido de uma maior capacidade de escutar e atender às necessidades de saúde, mais do que a adesão a qualquer modelo de atenção dado aprioristicamente. As necessidades de saúde são o objeto do processo de trabalho da enfermagem; é sobre as necessidades de saúde que incidem os instrumentos (as ações) do processo de trabalho da enfermagem. CECÍLIO, L. C. O.; MATSUMOTO, N. F. uma taxonomia operacional de necessidades de saúde. In: PINHEIRO, R.; FERLA, A. F.; MATTOS, R. A (orgs.). Gestão em Redes: tecendo os fios da integralidade em saúde. Rio Grande do Sul: Rio de Janeiro: EdUCS/UFRS: IMS/UERJ: CEPESC, 2006. 112 p. A Clínica Ampliada tem o propósito de ser um instrumento para que os trabalhadores e gestores de saúde possam enxergar e atuar na clínica para além dos pedaços fragmentados, ao mesmo tempo reconhecendo e utilizando seu potencial terapêutico. Ela é um compromisso ético e radical com o sujeito doente, visto de modo singular em suas diferenças. A proposta então é a do trabalho em equipe para lidar com a complexidade dos sujeitos e a multiplicidade de fatores envolvidos no processo do adoecer. Gestão do cuidado em saúde como o provimento ou a disponibilização das tecnologias de saúde, de acordo com as necessidades singulares de cada pessoa, em diferentes momentos de sua vida, visando seu bem- estar, segurança e autonomia para seguir com uma vida produtiva e feliz. Pesquisa sobre o tema: Diretrizes Clínicas e Evidências Científicas no contexto da Atenção Primária à Saúde. 45 Política Nacional de Humanização - HumanizaSUS Acesse o link: https://www.gov.br/saude/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/humanizasus (ENADE – 2007) Considere os fragmentos do discurso de um paciente: “...a caminho do centro cirúrgico, a maca atravessa corredores gelados, porém o frio dentro de mim não tem a ver com a temperatura do dia. Entre o apartamento e a mesa de operação tenho um longo caminho... Luto contra cada instante, tenho que chegar intacto à mesa. Preciso vencer alguns metros de corredores. Conto com a possibilidade de vida por metros. Não sinto dor, indisposição, náuseas, eu poderia ter caminhado, ir batendo um papo”. (Brandão apud Jouciais et al. 1998 p. 46) Essa narrativa revela a assistência em grande parte dos hospitais no país. Mas, existem iniciativas no âmbito da assistência humanizada que preconizam: I. Práticas mais flexíveis que atendam às necessidades dos pacientes, possibilitando, por exemplo, que caminhem até o centro cirúrgico. II. Valorização da dimensão subjetiva da assistência, como o conforto, o acolhimento e a escuta empática, possibilitando, por exemplo, várias opções de transporte. III. Priorização do cuidado interativo, da energia criativa, emocional e intuitiva, envolvendo, por exemplo, a inclusão da família no acompanhamento até a sala cirúrgica, desconsiderando aspectos técnicos e científicos. IV. Articulação do cuidado técnico e científico, constituído pela enfermagem, com o cuidado ético e relacional efetivo, explicando ao paciente os motivos da obrigatoriedade desse tipo de transporte. Considerando a assistência humanizada, está correto APENAS o que se afirma em a) I e II. b) I e III. c) II e III. d) II e IV. e) III e IV. Resposta - I e II. Questão Objetiva (IMA – 2019) São atribuições específicas dos enfermeiros que atuam na Atenção Básica, EXCETO: https://www.gov.br/saude/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/humanizasus 46 a) Realizar consulta de enfermagem, procedimentos, solicitar exames complementares, prescrever medicações conforme protocolos, diretrizesclínicas e terapêuticas, ou outras normativas técnicas estabelecidas pelo gestor federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal, observadas as disposições legais da profissão. b) Planejar, gerenciar e avaliar as ações desenvolvidas pelos técnicos/auxiliares de enfermagem, em conjunto com os outros membros da equipe. c) Implementar e manter atualizados rotinas, protocolos e fluxos relacionados à sua área de competência na Unidade Básica de Saúde. d) Realizar a atenção em saúde bucal, promoção e proteção da saúde, prevenção de agravos, diagnóstico, tratamento, acompanhamento, reabilitação e manutenção da saúde. Resposta – d) Realizar a atenção em saúde bucal, promoção e proteção da saúde, prevenção de agravos, diagnóstico, tratamento, acompanhamento, reabilitação e manutenção da saúde. Questão Discursiva 1) Que problemas você imagina as equipes de um ESF têm na prática, que suscitam necessidade de Educação em saúde? 2) A educação em saúde pode ser um instrumento para a integração das equipes? O filme The Wall (1982) retrata cenas em que os flagelos da guerra perturbam os sobreviventes. A todo instante pessoas tentam libertar-se das amarras das lembranças do passado, mas sem sucesso. Após um crescimento conturbado e superprotetor vivendo sob as escolhas da mãe, o próprio protagonista leva marcas intransponíveis de agressões, perdas e humilhações. A Pedagogia do Condicionamento é tratada nas cenas em que o professor, repreendido em casa pela sua esposa, descarrega toda sua ira nos alunos na escola, os trata desenfreadamente de forma desigual e acredita ser a autoridade máxima entre aquelas quatro paredes, resultando em grandes revoltas por parte dos alunos. Já em Sociedade dos poetas mortos (1989), um dos melhores exemplos da Pedagogia Humanista, é difícil não se emocionar com a abordagem do professor Keating a seus alunos. O professor tinha uma postura pedagógica, mais efetiva e flexível, que o levou a ser demitido. Sua postura modificou a vida dos alunos permanentemente, mostrando como o professor, e a educação como um todo, têm esse poder, não só nos ensinamentos básicos, mas também na maneira de ver a vida e o mundo ao redor. Para Fischman & Sales (2010), é preciso ir mais além na educação, A noção do professor como intelectual comprometido é exatamente o oposto do professor superagente de mudança educacional, em que é capaz de realizar tarefas heroicas e, portanto, tudo é possível (...), proponho que as realizações do intelectual comprometido sejam muito mais simples: A concepção de política que defendemos é muito diferente da ideia de que „tudo é possível”. Na verdade, é uma imensa tarefa tentar propor alguns possíveis; no plural – algumas possibilidades que não aquelas que nos dizem serem possíveis. É uma questão de mostrar como o espaço do possível é maior do que aquele que nos é destinado – que algo mais é possível, mas não que tudo seja possível. Fischman, Gustavo E., & Sales, Sandra Regina. (2010). Formação de professores e pedagogias críticas: é possível ir além das narrativas redentoras? Revista Brasileira de Educação, 15(43), 7- 20. https://doi.org/10.1590/S1413-24782010000100002 https://doi.org/10.1590/S1413-24782010000100002 47 Transversalidade é um dos princípios da Política Nacional de Humanização (PNH), que visa estar presente em todos os programas e políticas do SUS. Com isso, o resultado esperado é um grau de contato e comunicação entre pessoas e grupos ampliados sem hierarquia, reforçando a produção de saúde com qualidade. Escreva um pequeno texto sobre assunto complementar ao capítulo. Com o advento da internet, o conhecimento científico tem aumentado em ritmo exponencial, e o acesso a estudos, artigos, dados científicos vêm otimizando o trabalho em saúde. Basear-se em evidências cientificas na tomada de decisões leva a práticas assertivas. Podemos citar como objetivo de a pesquisa em saúde promover a saúde e o bem-estar do sujeito. Utilizando evidências você pode criar e avaliar modelos alternativos de cuidados a saúde, de modo que as equipes consigam equilibrar qualidade elevada e custos no atendimento as necessidades da população. Outro fator de impacto na busca por evidências cientificas e na tomada de decisões é a identificação e análise de fatores históricos e contemporâneos que influenciam o perfil do envolvimento dos profissionais da saúde e no desenvolvimento do SUS. Os estudos em seus níveis de evidências são instrumentos que devem ser utilizados pelos gestores, a importância dos resultados deve ser igualmente avaliada quanto a dimensão do efeito da prática estudada, precisão da estimativa do efeito desta prática e sua significância estatística e aplicação em saúde pública. Campos CMS, Soares CB. Necessidade de saúde e o cuidado de enfermagem em saúde coletiva. In: SOARES, C. B.; CAMPOS, C. M. S. Fundamentos de saúde coletiva e o cuidado de enfermagem. Barueri: Manole, 2013, p. 265-292. Carvalho SR, Cunha GT. A gestão da atenção na saúde: elementos para se pensar a mudança da organização na saúde. In: Campos GWS, Minayo MCS. Akerman M, Drummond Júnior M, Carvalho YM, organizadores. Tratado de saúde coletiva. São Paulo: Hucitec, 2009. Cecílio LCO. Apontamentos teórico-conceituais sobre processos avaliativos considerando as múltiplas dimensões da gestão do cuidado em saúde. Interface, v.15, n.37, p.589-99, abr./jun. 2011. Cecílio LCO, Matsumoto NF. uma taxonomia operacional de necessidades de saúde. In: PINHEIRO, R.; FERLA, A. F.; MATTOS, R. A (orgs.). Gestão em Redes: tecendo os fios da integralidade em saúde. Rio Grande do Sul: Rio de Janeiro: EdUCS/UFRS: IMS/UERJ: CEPESC, 2006. 112p. Fischman GE, Sales SR (2010). Formação de professores e pedagogias críticas: é possível ir além das narrativas redentoras? Revista Brasileira de Educação, 15(43), 7-20. https://doi.org/10.1590/S1413- 24782010000100002 Hoepfner C. Controle dos níveis pressóricos nos portadores de hipertensão arterial atendidos nas unidades básicas de saúde do município de Joinville. 2010. Dissertação (Mestrado de Saúde e Meio Ambiente) - Universidade da Região de Joinville, Joinville, 2010. https://doi.org/10.1590/S1413-24782010000100002 https://doi.org/10.1590/S1413-24782010000100002 48 Mendes EV. As redes de atenção à saúde. / Eugênio Vilaça Mendes. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2011. 49 UNIDADE II CAPÍTULO 5 - POLÍTICA NACIONAL DA ATENÇÃO BÁSICA I No término deste capítulo, você deverá saber: ✓ Princípios e diretrizes da Atenção Básica; ✓ Responsabilidades da Atenção Básica; ✓ Política Nacional de Atenção Básica; ✓ Infraestrutura e ambiência; ✓ Funcionamento; ✓ Estratégia de Saúde da Família (ESF); ✓ Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF – AB); ✓ Competências dos profissionais atuantes na Atenção Básica. Introdução A Declaração de Alma-Ata reforça a necessidade de ações de outros setores. Entretanto, as ações de cuidados de saúde englobam um conjunto mais definido, como ações educativas, tratamento das doenças mais comuns, medicamentos essenciais, nutrição e saneamento básico. A Declaração de Alma-Ata caracteriza saúde como: “A saúde – estado de completo bem-estar físico, mental e social, não simplesmente a ausência de doença ou enfermidade – é direito humano fundamental. O desenvolvimento econômico e social é de importância fundamental para a plena realização da meta de Saúde para Todos no Ano 2000. A atenção primária em saúde: • Envolve, além do setor saúde, todos os setores e aspectos correlatos do desenvolvimento nacional e comunitário, entre estes a agricultura, a pecuária, a produção de alimentos, a indústria, a educação, a habitação, as obras públicas, as comunicações e outros setores; • Engloba cuidados essenciais; é baseada em métodos e tecnologias apropriadas, cientificamente comprovadas e socialmente aceitáveis • Direciona-se aos principaisproblemas de saúde da comunidade, proporcionando serviços de proteção, cura e reabilitação, conforme as necessidades; • Seu acesso deve ser garantido a todas as pessoas e famílias da comunidade mediante sua plena participação, a um custo que a comunidade e o país possam suportar; • Representa o primeiro nível de contato de indivíduos, da família e da comunidade com o sistema de saúde, levando a atenção à saúde o mais próximo possível de onde as pessoas residem e trabalham; • Primeiro elemento de um processo permanente de assistência sanitária, “inclui pelo menos: educação, no tocante a problemas prevalecentes de saúde e aos métodos para sua prevenção e controle, promoção da distribuição de alimentos e da nutrição apropriada, previsão adequada de água de boa qualidade e saneamento básico, cuidados de saúde materno-infantil, inclusive planejamento familiar, imunização contra as principais doenças infecciosas, prevenção e 50 controle de doenças localmente endêmicas, tratamento apropriado de doenças e lesões comuns e fornecimento de medicamentos essenciais”; • deve ser apoiada por sistemas de referência integrados, levando à progressiva melhoria da atenção integral à saúde para todos, dando prioridade aos que têm mais necessidade.” DECLARAÇÃO DE ALMA-ATA. Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde. Alma-Ata, URSS, 6-12 set. 1978. Disponível em: https://www.who.int/publications/almaata_declaration_en.pdf. Tecnologias apropriadas são relevantes às necessidades de saúde da população, avaliadas de maneira correta, socialmente aceitáveis e com elevada relação custo-benefício. 5.1 Princípios e diretrizes da Atenção Básica Como já visto a Atenção Básica, constitui a principal porta de entrada e centro articulador do acesso dos usuários às Redes de Atenção à Saúde (RAS), no Sistema Único de Saúde (SUS). A AB orienta- se pelos princípios da acessibilidade, da coordenação do cuidado, do vínculo, da continuidade, da integralidade, da corresponsabilização e da humanização. Para atender esses princípios, a Atenção Básica desenvolve programas e ações, considerando a diversidade das necessidades de saúde dos usuários. Os princípios e diretrizes do SUS e da Rede de Atenção à Saúde a serem operacionalizados na Atenção Básica são: Princípios Universalidade: permitir o acesso universal e contínuo a serviços de saúde resolutivos e de qualidade, como porta de entrada aberta e preferencial da Rede de Atenção à Saúde (primeiro contato), acolhendo as pessoas e promovendo a corresponsabilização pela atenção às necessidades de saúde; Equidade: ofertar o cuidado, reconhecendo as diferenças nas condições de vida e de saúde e de acordo com as necessidades das pessoas, considerando que o direito à saúde passa pelas diferenciações sociais e deve atender à diversidade; Integralidade: o conjunto de serviços executados pela equipe que atendam às necessidades da população na promoção e manutenção da saúde, da prevenção de doenças e agravos, da cura, da reabilitação, redução de danos e dos cuidados paliativos e incluir a responsabilização pela oferta de serviços em outros pontos de atenção. 51 Diretrizes Regionalização e Hierarquização: são regiões de saúde como um recorte espacial estratégico para fins de planejamento, organização e gestão de redes de ações e serviços de saúde em determinada localidade e a hierarquização, a organização de pontos de atenção das redes, com fluxos e referências estabelecidos; Territorialização: permitir o planejamento, a programação descentralizada e o desenvolvimento de ações setoriais e intersetoriais com foco em um território específico; População Adscrita: a população que está presente no território da Unidade de Saúde e garantindo a continuidade das ações de saúde; Cuidado centrado na pessoa: desenvolvimento de ações de cuidado de forma singularizada; Resolutividade: reforça a importância de a APS ser resolutiva e capaz de resolver a maioria dos problemas de saúde da população, coordenando o cuidado do usuário em outros pontos da rede; Longitudinalidade do cuidado: relação com a continuidade do cuidado; Coordenação do cuidado: elaborar, acompanhar e organizar o fluxo dos usuários entre os pontos de atenção das redes; Ordenação da rede: reconhecer as necessidades de saúde da população sob sua responsabilidade, organizando as necessidades dessa população em relação aos outros pontos de atenção; Participação da comunidade: estimular a participação das pessoas na orientação comunitária das ações de saúde na APS. Quais as possíveis contribuições da Atenção Primária à Saúde para a população? 5.2 Responsabilidades das esferas de governo Para operacionalização da Atenção Básicas são atribuídas às esferas de governo as seguintes responsabilidades: 52 Contribuir para a reorientação do modelo de atenção e de gestão com base nos princípios e nas diretrizes contidas na Portaria 2436/2017; Apoiar e estimular a adoção da Estratégia Saúde da Família - ESF como estratégia prioritária de expansão, consolidação e qualificação da Atenção Básica; Garantir a infraestrutura adequada e com boas condições para o funcionamento das UBS, garantindo espaço, mobiliário e equipamentos, além de acessibilidade de pessoas com deficiência, de acordo com as normas vigentes; Contribuir com o financiamento tripartite para fortalecimento da Atenção Básica; Assegurar ao usuário o acesso universal, equânime e ordenado às ações e serviços de saúde do SUS, além de outras atribuições que venham a ser pactuadas pelas Comissões Intergestores; Estabelecer, nos respectivos Planos Municipais, Estaduais e Nacional de Saúde, prioridades, estratégias e metas para a organização da Atenção Básica; Desenvolver mecanismos técnicos e estratégias organizacionais de qualificação da força de trabalho para gestão e atenção à saúde, estimular e viabilizar a formação, educação permanente e continuada dos profissionais, garantir direitos trabalhistas e previdenciários, qualificar os vínculos de trabalho e implantar carreiras que associem o desenvolvimento do trabalhador à qualificação dos serviços ofertados às pessoas; Garantir provimento e estratégias de fixação de profissionais de saúde para a Atenção Básica com vistas a promover ofertas de cuidado e o vínculo; Desenvolver, disponibilizar e implantar os Sistemas de Informação da Atenção Básica vigentes, garantindo mecanismos que assegurem o uso qualificado dessas ferramentas nas UBS de acordo com suas responsabilidades; Garantir, de forma tripartite, dispositivos para transporte em saúde, compreendendo as equipes, pessoas para realização de procedimentos eletivos, exames, dentre outros, buscando assegurar a resolutividade e a integralidade do cuidado na RAS conforme necessidade do território e planejamento de saúde; Planejar, apoiar, monitorar e avaliar as ações da Atenção Básica nos territórios; Estabelecer mecanismos de autoavaliação, controle, regulação e acompanhamento sistemático dos resultados alcançados pelas ações da Atenção Básica, como parte do processo de planejamento e programação; Divulgar as informações e os resultados alcançados pelas equipes que atuam na Atenção Básica, estimulando a utilização dos dados para o planejamento das ações; 53 Promover o intercâmbio de experiências entre gestores e entre trabalhadores por meio de cooperação horizontal e estimular o desenvolvimento de estudos e pesquisas que busquem o aperfeiçoamento e a disseminação de tecnologias e conhecimentos voltados à Atenção Básica; Estimular a participação popular e o controle social; Garantir espaços físicos e ambientes adequados para a formação de estudantes e trabalhadores de saúde, para a formação em serviço e para a educação permanente e continuada nas Unidades Básicas de Saúde; Adotar estratégias para garantir um amplo escopo de açõese serviços a serem ofertados na Atenção Básica, compatíveis com as necessidades de saúde de cada localidade; Estabelecer mecanismos regulares de autoavaliação para as equipes que atuam na Atenção Básica, a fim de fomentar as práticas de monitoramento, avaliação e planejamento em saúde; Articulação com o subsistema Indígena nas ações de Educação Permanente e gestão da rede assistencial. Art. 2º A Atenção Básica é o conjunto de ações de saúde individuais, familiares e coletivas que envolvem promoção, prevenção, proteção, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos, cuidados paliativos e vigilância em saúde, desenvolvida por meio de práticas de cuidado integrado e gestão qualificada, realizada com equipe multiprofissional e dirigida à população em território definido, sobre as quais as equipes assumem responsabilidade sanitária. §1º A Atenção Básica será a principal porta de entrada e centro de comunicação da RAS, coordenadora do cuidado e ordenadora das ações e serviços disponibilizados na rede. § 2º A Atenção Básica será ofertada integralmente e gratuitamente a todas as pessoas, de acordo com suas necessidades e demandas do território, considerando os determinantes e condicionantes de saúde. § 3º É proibida qualquer exclusão baseada em idade, gênero, raça/cor, etnia, crença, nacionalidade, orientação sexual, identidade de gênero, estado de saúde, condição socioeconômica, escolaridade, limitação física, intelectual, funcional e outras. § 4º Para o cumprimento do previsto no § 3º, serão adotadas estratégias que permitam minimizar desigualdades/iniquidades, de modo a evitar exclusão social de grupos que possam vir a sofrer estigmatização ou discriminação, de maneira que impacte na autonomia e na situação de saúde. 54 5.3 Política nacional de atenção básica A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) é resultado da experiência acumulada por um conjunto de atores envolvidos historicamente com o desenvolvimento e a consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS), como: Esta Portaria, conforme normatização vigente no SUS, que define a organização em Redes de Atenção à Saúde (RAS) como estratégia para um cuidado integral e direcionado às necessidades de saúde da população, destaca a Atenção Básica como primeiro ponto de atenção e porta de entrada preferencial do sistema, que deve ordenar os fluxos e contrafluxos de pessoas, produtos e informações em todos os pontos de atenção à saúde. A definição de Atenção Básica no 2º artigo da Portaria 2.436/2017 é a seguinte: “É o conjunto de ações de saúde individuais, familiares e coletivas que envolvem promoção, prevenção, proteção, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos, cuidados paliativos e vigilância em saúde, desenvolvida por meio de práticas de cuidado integrado e gestão qualificada, realizada com equipe multiprofissional e dirigida à população em território definido, sobre as quais as equipes assumem responsabilidade sanitária”. 5.4 Infraestrutura e ambiência Infraestrutura e ambiência referem-se ao conjunto de procedimentos com o objetivo de adequar a unidade de saúde às necessidades de saúde da população de cada território. 55 Infraestrutura • Adequada ao quantitativo de população adscrita e suas especificidades, bem como aos processos de trabalho das equipes e à atenção à saúde dos usuários. • Considerar a densidade demográfica, a composição, atuação e os tipos de equipes, perfil da população, e as ações e serviços de saúde a serem realizados; • Espaços físicos adequados para a formação de estudantes e trabalhadores de saúde de níveis médio e superior para a formação em serviço e a educação permanente; • Construção de acordo com as normas sanitárias e tendo como referência as normativas de infraestrutura vigentes, bem como possuir identificação segundo os padrões visuais da Atenção Básica e do SUS; • Deve estar cadastrada no Sistema de Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde. Ambiência • Recepção sem grades (para dificultar a comunicação ou intimidar o usuário); • Identificação dos serviços existentes; • Escala dos profissionais; • Horários de funcionando e sinalização de fluxos; • Conforto térmico e acústico; • Espaços adaptados para as pessoas com deficiência em conformidade com as normas vigentes. Ademais, para a realização da prática profissional na Atenção Básica, é necessário disponibilizar equipamentos adequados, recursos humanos, materiais e insumos suficientes à atenção à saúde prestada nos municípios. A ambiência de uma unidade básica de saúde se refere ao espaço físico (arquitetônico) entendido como: lugar social, profissional e de relações interpessoais. 56 Quais ocupações poderão compor os NASF-AB. 5.5 Funcionamento É recomendado que as Unidades Básicas de Saúde tenham seu funcionamento com carga horária mínima de 40 horas semanais de forma a possibilitar o acesso facilitado à população no mínimo cinco dias da semana e nos 12 meses do ano. Se possível, atuar em horário alternativo de funcionamento, desde que atendam expressamente a necessidade da população, observando, sempre que possível, a carga horária mínima descrita acima. A população adscrita por equipe de Atenção Básica (eAB) e de Saúde da Família (Esf) de 2.000 a 3.500 pessoas, localizada dentro do seu território, garantindo os princípios e diretrizes da Atenção Básica. Existem outros arranjos de adstrição que devem ser observados: 5.6 Equipe de saúde da família (ESF) Trata-se da estratégia prioritária de atenção à saúde e visa reorganizar a Atenção Básica no país, de acordo com as diretrizes do SUS. Favorece uma reorientação do processo de trabalho com maior potencial de ampliar a resolutividade e impactar na situação de saúde das pessoas e coletividades, além de propiciar uma importante relação custo-efetividade. No próximo capítulo abordaremos mais sobre a Equipe de Saúde da Família (ESF). 57 Leia o artigo: Reflexões sobre o papel da Atenção Primária à Saúde na pandemia de COVID-19 Garcia Alves MT. Reflexões sobre o papel da Atenção Primária à Saúde na pandemia de COVID-19. Rev. Bras. Med. Fam. Comunidade [Internet]. 24º de julho de 2020 [citado 3º de junho de 2021];15(42):2496. Disponível em: https://www.rbmfc.org.br/rbmfc/article/view/2496. 5.7 Núcleo ampliado de saúde da família e atenção básica (NASF – AB) Equipe de saúde multiprofissional com composição variável, conforme definição do Ministério da Saúde, que tem por objetivo apoiar as equipes de saúde da família, aumentando sua resolutividade e abrangência, por meio de matricialmente, discussão de casos clínicos, atendimento compartilhado e construção conjunta de projetos terapêuticos. No próximo capítulo abordaremos mais sobre o Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF – AB). 5.8 Competências dos profissionais atuantes na atenção básica Os profissionais que atuam na Atenção Básica devem ter atribuições e desenvolver competências. Na PNAB consta que atribuições específicas podem constar na normatização de cada município de acordo com as prioridades definidas pela gestão. A equipe inteira se torna responsável pelo cuidado. Dentre as atribuições descritas na PNAB, destacam-se: • Participar do processo de territorialização e mapeamento da área de atuação da equipe identificando grupos, famílias e indivíduos expostos a riscos e vulnerabilidades; • Manter atualizado o cadastramento das famílias e dos indivíduos no sistema de informação indicado pelo gestor municipal e utilizar, de forma sistêmica, os dados para a análise da situação de saúde considerando as características sociais, econômicas, culturais, demográficas e epidemiológicas do território, priorizando as situações a serem acompanhadas no planejamento local; • Realizar o cuidado da saúde da população adscrita, prioritariamente noâmbito da unidade de saúde e quando necessário no domicílio e nos demais espaços comunitários (escolas, associações, entre outros); • Promover a integralidade por meio da realização de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde e prevenção de agravos; da realização das ações programáticas, coletivas e de vigilância à saúde; • Participar do acolhimento dos usuários que procuram a unidade por demanda espontânea realizando a escuta qualificada das necessidades de saúde, procedendo à primeira avaliação (classificação de risco, avaliação da vulnerabilidade, coleta de informações e sinais clínicos) e identificação das necessidades de intervenções de cuidado, proporcionando atendimento https://www.rbmfc.org.br/rbmfc/article/view/2496 58 humanizado, responsabilizando-se pela continuidade da atenção dentro ou fora da unidade saúde; • Realizar busca ativa e notificar doenças e agravos de notificação compulsória e de outros agravos e situações de importância local; • Praticar cuidado familiar e dirigido a coletividades e grupos sociais que visa propor intervenções que influenciem os processos de saúde e doença dos indivíduos, das famílias, coletividades e da própria comunidade; • Realizar reuniões de equipes a fim de discutir em conjunto o planejamento e avaliação das áreas da equipe; • Garantir a qualidade do registro das atividades nos sistemas de informação na Atenção Básica; • Realizar ações de educação em saúde a população adscrita; • Participar das atividades de educação permanente para aprimoramento das competências da equipe e (re)organização de seus processos; • Promover a mobilização e a participação da comunidade, buscando efetivar o controle social; • Identificar parceiros e recursos na comunidade que possam potencializar ações intersetoriais. 5.9 Considerações finais No próximo capítulo estudaremos mais profundamente a organização administrativa das equipes da Atenção Primária. Por enquanto, faça uma análise rápida de uma unidade de saúde que você conhece e reflita se essa unidade atua de fato como serviço de primeiro contato de procura regular e garante a continuidade dos cuidados, quando há necessidade de referência para serviços especializados. A Atenção Básica constitui a principal porta de entrada e centro articulador do acesso dos usuários às Redes de Atenção à Saúde (RAS), no Sistema Único de Saúde (SUS). Orienta-se pelos princípios da acessibilidade, da coordenação do cuidado, do vínculo, da continuidade, da integralidade, da corresponsabilização e da humanização. Para atender esses princípios, a Atenção Básica desenvolve programas e ações, considerando a diversidade das necessidades de saúde dos usuários. A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) é resultado da experiência acumulada por um conjunto de atores envolvidos historicamente com o desenvolvimento e a consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS), como movimentos sociais, população, trabalhadores, população e gestores das três esferas do governo. Conforme normatização vigente no SUS, que define a organização em Redes de Atenção à Saúde (RAS) como estratégia para um cuidado integral e direcionado às necessidades de saúde da população, destaca a Atenção Básica como primeiro ponto de atenção e porta de entrada preferencial do sistema, que deve ordenar os fluxos e contrafluxos de pessoas, produtos e informações em todos os pontos de atenção à saúde. Infraestrutura e ambiência referem-se ao conjunto de procedimentos com o objetivo de adequar a unidade de saúde às necessidades de saúde da população de cada território. Ademais, para a realização da prática profissional na Atenção Básica, é necessário disponibilizar equipamentos adequados, recursos humanos, materiais e insumos suficientes à atenção à saúde prestada nos municípios. 59 É recomendado que as Unidades Básicas de Saúde tenham seu funcionamento com carga horária mínima de 40 horas semanais, de forma a possibilitarem o acesso facilitado à população no mínimo cinco dias da semana e nos 12 meses do ano. Se possível, atuar em horário alternativo de funcionamento desde que atendam expressamente a necessidade da população, observando, sempre que possível, a carga horária mínima descrita acima. A população adscrita por equipe de Atenção Básica (eAB) e de Saúde da Família (Esf) de 2.000 a 3.500 pessoas, localizada dentro do seu território, garantindo os princípios e diretrizes da Atenção Básica. Existem outros arranjos de adstrição que devem ser observados: A equipe de Saúde da Família (ESF) tratada estratégia prioritária de atenção à saúde e visa reorganizar a Atenção Básica no país, de acordo com as diretrizes do SUS. Favorece uma reorientação do processo de trabalho com maior potencial de ampliar a resolutividade e impactar na situação de saúde das pessoas e coletividades, além de propiciar uma importante relação custo-efetividade. O Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF – AB), se refere a equipe de saúde multiprofissional com composição variável, conforme definição do Ministério da Saúde, que tem por objetivo apoiar as equipes de saúde da família, aumentando sua resolutividade e abrangência, por meio de matricialmente, discussão de casos clínicos, atendimento compartilhado e construção conjunta de projetos terapêuticos. Os profissionais que atuam na Atenção Básica precisam ter atribuições e desenvolver competências. Na PNAB consta que atribuições específicas podem constar na normatização de cada município, de acordo com as prioridades definida pela gestão. (IBADE – 2018) - Assinale a alternativa que corresponde as atribuições de todos os membros das equipes que atuam na atenção básica. a) Realizar estratificação de risco e elaborar plano de cuidados. b) Realizar consultas clínicas e atividades de grupos na UBS. c) Participar do processo de territorialização e mapeamento da área de atuação da equipe. d) Indicar a necessidade de internação hospitalar ou domiciliar. e) Desenvolver gestão participativa e estimular a participação dos usuários no controle social. Resposta - c) Participar do processo de territorialização e mapeamento da área de atuação da equipe. Discursiva: Descreva o que é promoção da saúde. 60 1. A alternativa que corresponde a uma porta de entrada aos serviços ambulatoriais especializados é: a) Serviço de hemodinâmica. b) Atenção psicossocial. c) Serviço de imagem. d) Atenção hospitalar. e) Serviço laboratorial. O Relatório Dawson tornou-se um marco na história da organização dos sistemas de saúde. Ele propõe a implantação de um sistema integrado de medicina preventiva e curativa por meio de ações primárias, secundárias e terciárias. O Relatório Dawson está na base do sistema de saúde britânico e inspirou a organização de sistemas de saúde em vários outros países. Os princípios da promoção da saúde, definidos pela OMS na Carta de Ottawa, de 1986, têm servido de guia para as ações de promoção da saúde mundo afora, sendo considerados por muitos como a nova saúde pública, na qual as práticas de saúde são cada vez mais desenvolvidas em outras agências e setores, para além dos serviços sanitários, como por exemplo, a escola, o local de trabalho, o comércio, a indústria e a mídia (DEMARZO, 2008). Resposta: 1. Alternativa “b” – Atenção Psicossocial. 61 DECLARAÇÃO DE ALMA-ATA. Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde. Alma-Ata, URSS, 6-12 set. 1978. Disponível em: https://www.who.int/publications/almaata_declaration_en.pdf. DEMARZO, M.M.P.; AQUILANTE, A.G. Saúde escolar e escolas promotoras de saúde. In: Programa de Atualização em Medicina de Família e Comunidade. Porto Alegre: Artmed, 2008. vol. 3, p. 49-76. STARFIELD, B. Atenção Primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia. Brasília: Unesco, Ministério da Saúde, 2002. BRASIL. Ministério da Saúde. Portarianº 2.436, de 21 de setembro de 2017, estabelece a revisão de diretrizes para a organização da Atenção Básica, no âmbito do SUS. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prt2436_22_09_2017.html https://www.who.int/publications/almaata_declaration_en.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prt2436_22_09_2017.html 62 UNIDADE II CAPÍTULO 6 - POLÍTICA NACIONAL DA ATENÇÃO BÁSICA II No término deste capítulo, você deverá saber: ✓ Atenção básica na rede de atenção à saúde; ✓ Tipos de unidades e equipamentos de saúde; ✓ Tipos de equipes: equipe de saúde da família (eSF); ✓ Tipos de equipes: equipe de atenção básica (eAB); ✓ Tipos de equipes: equipes de saúde bucal (eSB); ✓ Tipos de equipes: núcleo ampliado de saúde da família e atenção básica (NASF-AB); ✓ Tipos de equipes: estratégia de agentes comunitários de saúde (EACS); ✓ Equipes de atenção básica para populações específicas. Introdução Neste capítulo estudaremos um pouco mais sobre as Redes de Atenção à Saúde, agora enfatizando o papel da Atenção Básica. Abordaremos e a importância das Redes de Atenção, qual é seu papel na articulação do cuidado. e a necessidade de uma relação horizontal entre os diferentes pontos de atenção do sistema. 6.1 Atenção básica na rede de atenção à saúde Na Rede de Atenção à Saúde a atenção básica deve ser a modalidade de atenção e de serviço de saúde com o mais elevado grau de descentralização e capilaridade, cuja participação no cuidado se faz sempre necessária. Precisa identificar os riscos, necessidades e demandas de saúde, utilizando e articulando diferentes tecnologias de cuidado individual e coletivo, por meio de uma clínica ampliada capaz de construir vínculos positivos e intervenções clínica e sanitariamente efetivas, na perspectiva de ampliação dos graus de autonomia dos indivíduos e grupos sociais. O cuidado deve ser coordenado pela atenção básica, que deve reconhecer as necessidades de saúde da população sob sua responsabilidade, organizando as carências desta população em relação aos outros pontos de atenção à saúde, e com isso, contribuindo para que a programação dos serviços de saúde parta das necessidades de saúde dos usuários. A atenção básica é a porta de entrada, e se caracteriza por um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, a redução de danos e a manutenção da saúde com o objetivo de desenvolver uma atenção integral que impacte positivamente na situação de saúde das coletividades. 6.2 Tipos de unidades e equipamentos de Saúde No âmbito da Atenção Básica, são consideradas unidades e equipamentos de Saúde: 63 Unidade Ambientes Unidade Básica de Saúde Consultório médico e de enfermagem, consultório com sanitário, sala de procedimentos, sala de vacina, área para assistência farmacêutica, sala de inalação coletiva, sala de procedimentos, sala de coleta/exames, sala de curativos, sala de expurgo, sala de esterilização, sala de observações e sala de atividades coletivas para os profissionais da Atenção Básica. Se forem compostas por profissionais de saúde bucal, será necessário consultório odontológico com equipamento odontológico completo. Área de recepção, local par arquivos e registros, sala multiprofissional de acolhimento à demanda espontânea, sala de administração e gerência, banheiro público e para funcionários, entre outros ambientes conforme a necessidade. Unidade Básica de Saúde Fluvial Consultório médico e de enfermagem, área para assistência farmacêutica, laboratório, sala de vacina, sala de procedimentos; e, se forem compostas por profissional de saúde bucal, será necessário consultório odontológico completo. Área de recepção, banheiro público, banheiro exclusivo para os funcionários, expurgo, cabines com leitos em número suficiente para toda a equipe, cozinha e outros ambientes conforme a necessidade. Unidade Odontológica Móvel Recomenda-se veículo devidamente adaptado para a finalidade de atenção à saúde bucal, equipado com compressor para uso odontológico com sistema de filtragem, aparelho de raios-x para radiografias periapicais e Inter proximais, aventais de chumbo, conjunto de peças de mão contendo micromotor com peça reta e contra ângulo, e alta rotação, gabinete odontológico, cadeira odontológica,equipamento odontológico e refletor odontológico, unidade auxiliar odontológica, mocho odontológico, autoclave, amalgamador, fotopolimerizador e refrigerador. Os serviços e ações da Atenção Básica, devem seguir padrões ampliados e essenciais. Os padrões essenciais são ações e procedimentos básicos relacionados a condições básicas/essenciais de acesso e qualidade na Atenção Básica. Já os padrões ampliados são ações e procedimentos considerados estratégicos para se avançar e alcançar padrões elevados de acesso e qualidade na Atenção Básica, considerando especificidades locais, indicações e parâmetros estabelecidos pelas Regiões de Saúde. 64 Região de Saúde ou Abrangência: é a área geográfica de abrangência para a cobertura de uma determinada RAS. São normalmente denominados distritos, territórios ou regiões sanitárias. Dependendo da situação específica, uma rede pode abarcar bairros, regiões, cidades. Para delimitação desses territórios, pode ser considerado exclusivamente o critério geográfico, ou agregar a ele aspectos socioculturais ou epidemiológicos. Assim, os territórios são espaços de responsabilização sanitária de RAS uma determinada equipe e serviços de saúde. Podem ser territórios macrorregionais, microrregionais, municipais ou microárea. 6.3 Tipos de equipes: equipe de saúde da família (eSF) A Equipe de Saúde da Família é uma estratégia prioritária de atenção à saúde. Visa reorganizar a Atenção Básica no país, de acordo com os preceitos do SUS. Considerada como estratégia de expansão, qualificação e consolidação da Atenção Básica, por favorecer uma reorientação do processo de trabalho com maior potencial de ampliar a resolutividade e impactar na situação de saúde das pessoas e coletividades, além de propiciar uma importante relação custo-efetividade. Composição • Médico, preferencialmente, especialista em medicina da saúde e comunidade; • Enfermeiro, preferencialmente, especialista em saúde da família; • Auxiliar e/ou técnico de enfermagem; • Agente comunitário de saúde (ACS); • Opcionais: agente de combate às endemias (ACE), profissionais de saúde bucal (cirurgião-dentista, preferencialmente especialista em saúde da família e auxiliar ou técnico de saúde bucal. O número de ACS por equipe deverá ser definido de acordo com base populacional, critérios demográficos, epidemiológicos e socioeconômicos, de acordo com definição local. Em áreas de grande dispersão territorial, áreas de risco e vulnerabilidade social, recomenda-se a cobertura de 100% da população com número máximo de 750 pessoas por ACS. 65 6.4 Tipos de equipes: equipe de atenção básica (eAB) A modalidade Equipe de Atenção Básica deve atender aos princípios e diretrizes propostas para a Atenção Básica. Composição • Médico, preferencialmente, especialista em medicina da saúde e comunidade; • Enfermeiro, preferencialmente, especialista em saúde da família; • Auxiliar e/ou técnico de enfermagem; • Opcionais: agente comunitário de saúde (ACS), agente de combate às endemias (ACE), profissionais de saúde bucal (cirurgião-dentista, preferencialmente especialista em saúde da família e auxiliar ou técnico de saúde bucal. São características do processo de trabalho das equipes de atenção básica: • Definição do território de atuação e da população sob responsabilidade das UBS e das equipes; • Programação e implementação das atividades de atenção à saúde de acordo com as necessidadesde saúde da população, com a priorização de intervenções clínicas e sanitárias nos problemas de saúde segundo critérios de frequência, risco, vulnerabilidade e resiliência. Inclui-se aqui o planejamento e organização da agenda de trabalho compartilhado de todos os profissionais e se recomenda evitar a divisão de agenda segundo critérios de problemas de saúde, ciclos de vida, sexo e patologias, dificultando o acesso dos usuários; • Desenvolver ações que priorizem os grupos de risco e os fatores de risco clínico- comportamentais, alimentares e/ou ambientais, com a finalidade de prevenir o aparecimento ou a persistência de doenças e danos evitáveis; • Realizar o acolhimento com escuta qualificada, classificação de risco, avaliação de necessidade de saúde e análise de vulnerabilidade, tendo em vista a responsabilidade da assistência resolutiva à demanda espontânea e o primeiro atendimento às urgências; • Prover atenção integral, contínua e organizada à população adscrita; • Realizar atenção à saúde na Unidade Básica de Saúde, no domicílio, em locais do território (salões comunitários, escolas, creches, praças etc.) e em outros espaços que comportem a ação planejada; • Desenvolver ações educativas que possam interferir no processo de saúde-doença da população, no desenvolvimento de autonomia, individual e coletiva, e na busca por qualidade de vida pelos usuários; • Implementar diretrizes de qualificação dos modelos de atenção e gestão, tais como a participação coletiva nos processos de gestão, a valorização, o fomento à autonomia e ao protagonismo dos diferentes sujeitos implicados na produção de saúde; o compromisso com 66 a ambiência e com as condições de trabalho e cuidado; a constituição de vínculos solidários; a identificação das necessidades sociais; a organização do serviço em função delas, entre outras; • Participar do planejamento local de saúde, assim como do monitoramento e avaliação das ações na sua equipe, unidade e município, visando à readequação do processo de trabalho e do planejamento diante das necessidades, realidade, dificuldades e possibilidades analisadas; • Desenvolver ações intersetoriais, integrando projetos e redes de apoio social voltados para o desenvolvimento de uma atenção integral; • Apoiar as estratégias de fortalecimento da gestão local e do controle social; • Realizar atenção domiciliar destinada a usuários que possuam problemas de saúde controlados/compensados e com dificuldade ou impossibilidade física de locomoção até uma unidade de saúde, que necessitam de cuidados com menor frequência e menor necessidade de recursos de saúde, e realizar o cuidado compartilhado com as equipes de atenção domiciliar nos demais casos. 6.5 Tipos de equipes: equipes de saúde bucal (eSB) Modalidade que pode compor as equipes que atuam na atenção básica. A eSB deve ser composta pelos profissionais descritos abaixo, sendo que independente da modalidade adotada, os profissionais são vinculados a uma equipe de Atenção Básica (eAB) ou equipe de Saúde da Família (eSF), devendo compartilhar a gestão e o processo de trabalho da equipe, tendo responsabilidade sanitária pela mesma população e território adscrito que a equipe de Saúde da Família ou Atenção Básica que integra. Composição • Cirurgião-dentista • Técnico de saúde bucal e/ou auxiliar de saúde bucal. • Modalidade I: cirurgião-dentista e auxiliar de saúde bucal (ASB) ou técnico em saúde bucal (TSB); • Modalidade II: cirurgião-dentista, TSB e ASB, ou outro TSB. 6.6 Tipos de equipes: núcleo ampliado de saúde da família e atenção básica (NASF- AB) O Núcleo Ampliado de Saúde da Família (NASF) foi criado em 2008 e é responsável pela presença de fisioterapeutas, psicólogos, assistentes sociais, farmacêuticos, nutricionistas e outras profissões na atenção primária. Os usuários do SUS não procuram diretamente esses profissionais, mas são encaminhados até eles pelas equipes de Saúde da Família (eSF). O profissional do NASF atende 67 em conjunto com o profissional de saúde em consulta compartilhada, realiza atendimentos domiciliares quando a equipe de saúde vê a necessidade, participa de discussões de casos, realiza atividades de educação permanente, ações de promoção de modos de vida saudáveis, educação em saúde, apoio as ações do Programa Saúde na Escola, participa de reuniões intersetoriais e de equipes da saúde, participa de grupos de gestantes, fazemos parte das reuniões da equipe de saúde mental, entre outras. O NASF foi pensado para lidar com dois desafios históricos do SUS: integralidade e resolutividade na atenção. Partiu de experiências municipais que implantaram ações para além da agenda mínima da UBS. Especialmente nas áreas de reabilitação e saúde mental. Tem responsabilidade, junto com a eSF e eAB, pelo território e usuários, produzindo responsabilidade mútua pelo cuidado. Deve ampliar o escopo de ações de AB e contribuir para o aumento da resolubilidade da AB. Podem aumentar a capacidade de análise e de intervenção sobre problemas e necessidades de saúde, tanto em termos clínicos quanto sanitários, integrando os diferentes núcleos profissionais que compõem a AB. Utiliza como ferramentas de trabalho o apoio matricial, a clínica ampliada, o projeto terapêutico singular e trabalhos com grupos. A definição das categorias profissionais é de autonomia do gestor local, devendo ser escolhida de acordo com as necessidades do território. Composição Médico acupunturista, Assistente Social, Profissional/Professor de Educação Física, Farmacêutico, Fisioterapeuta, Fonoaudiólogo, Médico Ginecologista/Obstetra, Médico Homeopata, Nutricionista, Médico Pediatra, Psicólogo, Médico Psiquiatra, Terapeuta Ocupacional, Médico Geriatra, Médico Internista (clínica médica), Médico do Trabalho, Médico Veterinário, profissional com formação em arte e educação (arte educador) e profissional de saúde sanitarista, ou seja, profissional graduado na área de saúde com pós-graduação em saúde pública ou coletiva ou graduado diretamente em uma dessas áreas conforme normativa vigente. 6.7 Tipos de equipes: estratégia de agentes comunitários de saúde (EACS) É prevista a implantação da Estratégia de Agentes Comunitários de Saúde nas UBS como uma possibilidade para a reorganização inicial da Atenção Básica com vistas à implantação gradual da Estratégia de Saúde da Família ou como uma possibilidade para a reorganização inicial da Atenção Básica com vistas à implantação gradual da Estratégia de Saúde da Família ou como uma forma de agregar os agentes comunitários a outras maneiras de organização da Atenção Básica. O principal objetivo do trabalho do Agente Comunitário de Saúde (ACS) é a educação em saúde, ou seja, através das visitas domiciliares o ACS leva informações sobre os cuidados para a promoção da saúde e a prevenção das doenças, o funcionamento dos serviços de saúde no município, bem 68 como estimular a comunidade a exercer a sua cidadania. Dentre as atribuições do ACS está o acompanhamento mensal de doentes crônicos e de gestantes; as crianças menores de 2 anos são acompanhadas através da realização de pesagem e elaboração da curva de crescimento e desenvolvimento no cartão da criança, além de avaliação da situação vacinal. Todo este trabalho recebe orientação e supervisão de um enfermeiro. 6.8 Equipes de atenção básica para populações específicas Os profissionais atuantes no SUS e, em especial, na Atenção Básica são responsáveis pela atenção à saúde de populações em estado de vulnerabilidade social. Por atuar em determinado território, considerando suas singularidades, existe a possibilidade de internações mais oportunas nessas situações específicas, com o objetivo de ampliar o acesso as RAS e ofertar uma atenção integral à saúde. Portanto, toda equipe de Atenção Básica deve realizar atenção à saúde de populaçõesespecíficas. Em algumas regiões é necessária a implantação de equipes além das descritas anteriormente. São consideradas equipes da Atenção Básica para Populações Específicas: 6.9 Considerações finais Como visto, a Atenção Básica deve articular o cuidado a partir da avaliação dos profissionais atuantes, identificar as necessidades da população e traçar estratégias para o atendimento. Não se esqueça de que o NASF tem responsabilidade de produzir responsabilidade mútua pelo cuidado, compartilhando o cuidado com a eSF e eAB. Por fim, as práticas de saúde das equipes da AB devem ser reestruturadas para efetivamente conseguirem dar respostas às novas necessidades sanitárias da população. 69 Na Rede de Atenção à Saúde a atenção básica deve ser a modalidade de atenção e de serviço de saúde com o mais elevado grau de descentralização e capilaridade, cuja participação no cuidado se faz sempre necessária. A atenção básica é a porta de entrada e se caracteriza por um conjunto de ações de saúde no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, a redução de danos e a manutenção da saúde com o objetivo de desenvolver uma atenção integral que impacte positivamente na situação de saúde das coletividades. Os serviços e ações da Atenção Básica, devem seguir padrões ampliados e essenciais. Os padrões essenciais são ações e procedimentos básicos relacionados a condições básicas/essenciais de acesso e qualidade na Atenção Básica. Já os padrões ampliados são ações e procedimentos considerados estratégicos para se avançar e alcançar padrões elevados de acesso e qualidade na Atenção Básica, considerando especificidades locais, indicações e parâmetros estabelecidos pelas Regiões de Saúde. A Equipe de Saúde da Família é uma estratégia prioritária de atenção à saúde. Visa reorganizar a Atenção Básica no país, de acordo com os preceitos do SUS. Considerada como estratégia de expansão, qualificação e consolidação da Atenção Básica, por favorecer uma reorientação do processo de trabalho com maior potencial de ampliar a resolutividade e impactar na situação de saúde das pessoas e coletividades, além de propiciar uma importante relação custo-efetividade. A modalidade Equipe de Atenção Básica deve atender aos princípios e diretrizes propostas para a Atenção Básica. O Núcleo Ampliado de Saúde da Família (NASF) foi criado em 2008 e é responsável pela presença de fisioterapeutas, psicólogos, assistentes sociais, farmacêuticos, nutricionistas e outras profissões na atenção primária. O NASF foi pensado para lidar com dois desafios históricos do SUS: integralidade e resolutividade na atenção. Partiu de experiências municipais que implantaram ações para além da agenda mínima da UBS. Tem responsabilidade, junto com a eSF e eAB, pelo território e usuários, produzindo responsabilidade mútua pelo cuidado. Deve ampliar o escopo de ações de AB e contribuir para o aumento da resolubilidade da AB. Podem aumentar a capacidade de análise e de intervenção sobre problemas e necessidades de saúde, tanto em termos clínicos quanto sanitários, integrando os diferentes núcleos profissionais que compõem a AB. É prevista a implantação da Estratégia de Agentes Comunitários de Saúde nas UBS como uma possibilidade para a reorganização inicial da Atenção Básica com vistas à implantação gradual da Estratégia de Saúde da Família ou como uma possibilidade para a reorganização inicial da Atenção Básica com vistas à implantação gradual da Estratégia de Saúde da Família ou como uma forma de agregar os agentes comunitários a outras maneiras de organização da Atenção Básica. Os profissionais atuantes no SUS e, em especial, na Atenção Básica são responsáveis pela atenção à saúde de populações em estado de vulnerabilidade social. Por atuar em determinado território, considerando suas singularidades, existe a possibilidade de internações mais oportunas nessas situações específicas com o objetivo de ampliar o acesso as RAS e ofertas uma atenção integral à saúde. Portanto, toda equipe de Atenção Básica deve realizar atenção à saúde de populações específicas. Entretanto, em algumas regiões são necessárias a implantação de equipes além das descritas anteriormente. 70 Evidências do Impacto das Redes de Atenção nos Sistemas de Saúde • Redução da fragmentação da atenção; • Melhora da eficiência global do sistema; • Impedimento da multiplicação de infraestrutura e serviços de forma desordenada e desorganizada; • Melhor atendimento às necessidades e expectativas dos indivíduos; • Melhora no custo efetividade dos serviços de saúde; • Redução de hospitalizações desnecessárias; • Redução da utilização excessiva de serviços e exames; • Redução no tempo de permanência hospitalar; • Aumento de produtividade; • Melhora na qualidade da atenção; • Produção de uma oferta balanceada de atenção geral e especializada; • Continuidade da atenção, gerando uma maior efetividade clínica; • A utilização de diferentes níveis de atenção pelos indivíduos é facilitada; • Aumento na satisfação dos usuários; • Melhora no autocuidado. ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DE SAÚDE; ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. A atenção à saúde coordenada pela APS: construindo as redes de atenção no SUS: contribuições para o debate. Organização Panamericana de Saúde. Brasília, 2011. 113 p Investigue o que é linha de cuidado. Pesquise mais sobre clínica ampliada e projeto terapêutico singular no link: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/clinica_ampliada_2ed.pdf http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/clinica_ampliada_2ed.pdf 71 (GCAN/OPAS/OPSAN/UnB – 2012) As equipes de atenção primária à saúde exercem importante papel na coordenação do cuidado nas redes de atenção à saúde. Para tanto, há a necessidade da reorganização dos processos de trabalho de modo que habilitem os profissionais a adotarem renovadas práticas de saúde que fujam do modelo biomédico hegemônico. Diante disso, relacione abaixo os elementos necessários para a concretização do novo modo de se organizar e produzir atenção à saúde com seus respectivos significados: a) Trabalho em equipe b) Acolhimento c) Vínculo d) Integralidade da atenção e) Resolutividade f) Responsabilização ( ) Este foco do trabalho deve superar a assistência fragmentada, por meio da integração e articulação das ações, e propor uma abordagem integral do usuário a partir de sua compreensão como ser humano em suas mais diversas dimensões (biológicas, psicológicas, econômicas, sociais e culturais), em todos os níveis de atenção necessários para atender às suas necessidades. ( ) Presença de profissionais com diferentes formações, que se articulam, compartilham ações e desenvolvem processos interdisciplinares. Colabora para a ampliação da capacidade de cuidado de toda a equipe e facilita a coordenação das RAS e a gestão do cuidado integral do usuário. ( ) Capacidade das equipes da APS em simplificar e agilizar os processos de atenção à saúde e alcançar resultados de modo eficaz e eficiente, com o melhor custo-benefício possível. ( ) Importante prática para o momento da chegada e recepção do usuário na unidade de saúde, por meio da responsabilização integral e da operacionalização da assistência baseada na linha de cuidado. Isto significa atender bem o usuário, ouvi-lo de forma qualificada a compreender sua necessidade, assegurando uma atenção resolutiva e, quando necessário, oferecer encaminhamento seguro por meio da articulação com outros pontos e serviços de atenção à saúde. ( ) Compreensão por parte da equipe e de cada profissional envolvido sobre a importância de tornar-se responsável pelo cuidado integral do usuário e assumir esta responsabilidade durante todas as etapas da linha de cuidado e nos diversos níveis de atenção. ( ) Elemento essencial na criação das relações usuário-profissionalde saúde, e vice-versa, pois quando constituídas pela confiança e afeto, criam vínculos que possibilitam, no decorrer do tempo, uma percepção mais aprofundada da corresponsabilização pela saúde e do acompanhamento dos processos dentro da rede. Resposta: D – A – E – B – F – C. 72 1. (GCAN/OPAS/OPSAN/UnB – 2012) As ferramentas de microgestão dos serviços de saúde possibilitam a integração dos pontos de atenção, mas também a reestruturação dos processos e trabalhos em equipe multiprofissional. Considerando o trecho acima, vincule as ferramentas abaixo com sua definição: 1) Auditoria clínica 2) Lista de espera 3) Diretrizes clínicas 4) Gestão da condição de saúde 5) Gestão de caso 6) Linhas de Cuidado ( ) Recomendações desenvolvidas de modo sistemático, baseadas em evidências, que orientam decisões dos profissionais de saúde em um caso clínico. ( ) Processo que utiliza o modelo de atenção focado no indivíduo, utilizando procedimentos curativos e reabilitadores, para uma abordagem baseada na população local que identifica indivíduos em risco e tem foco na promoção da saúde e/ou na ação preventiva. ( ) Forma de articulação de recursos e práticas de saúde entre as unidades de atenção de uma região (primária, secundária ou terciária). ( ) Tecnologia que estabelece o ordenamento dos usuários dos serviços em determinados pontos de atenção à saúde, partindo de critérios claros de necessidades e riscos. ( ) Processo que se desenvolve entre o profissional de saúde e o usuário, visando ao planejamento, monitoramento e avaliação das ações e serviços de saúde, de acordo com as necessidades do indivíduo. ( ) Análise crítica e sistemática da qualidade da atenção à saúde, tem como foco os usuários dos serviços de saúde, em um contexto favorável à melhoria da eficácia clínica. Discursiva: Comente se as informações do parágrafo abaixo são verdadeiras ou falsas: A partir do diagnóstico de saúde e de vida da clientela adscrita, as ações são planejadas e executadas, e os indivíduos são assistidos. De acordo com suas necessidades, as pessoas podem ser atendidas em diferentes serviços e rotinas, e esse processo é comumente chamado de contrarreferência ou de apoio matricial. 73 Página: https://redeaps.org.br/ Rede de Pesquisa em Atenção Primária à Saúde Redes de pesquisa foram estabelecidas em alguns países no contexto da Atenção Primária à Saúde para desenvolver e subsidiar tomadas de decisão baseadas em evidências científicas. Essas redes podem produzir agendas estratégicas de investigação e qualificarem a experiência do cuidado. A Rede de Pesquisa em Atenção Primária à Saúde (REDE APS) da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO) busca, em 10 anos de atividades, proporcionar a pesquisadores, gestores e trabalhadores do SUS o acesso e o intercâmbio de conhecimento científico nacional e internacional sobre a APS. Acolhimento: deve ocorrer desde a chegada e recepção do usuário na Unidade de Saúde, cabendo à equipe atendê-lo bem, ouvi-lo de forma qualificada, compreendendo sua necessidade e assegurando uma atenção resolutiva. Vínculo: diz respeito à ligação entre usuário e o profissional/equipe de saúde, que deve ser construída desde o primeiro contato do indivíduo com o serviço de saúde, por meio de uma interação inicial que gere confiança e empatia. O vínculo, quando criado, possibilita uma melhor percepção da corresponsabilização pela saúde e do acompanhamento dos processos que ocorrem na rede de atenção, tanto por parte do usuário quanto por parte do profissional/equipe de saúde. Resolutividade: diz respeito à capacidade das equipes de simplificarem o serviço, ao mesmo tempo em que devem agilizar os processos de atenção a fim de alcançarem resultados de modo eficaz e eficiente com o melhor custo-benefício tanto para o usuário quanto para o próprio sistema, sem, contudo, renunciar à qualidade do serviço. Responsabilização pela saúde da população e/ ou indivíduo atendido: obrigação comum a todos os atores envolvidos. Os diferentes profissionais e a equipe na qual se inserem devem compreender a importância de sua responsabilidade pelo cuidado integral do usuário, assumindo-a durante as etapas da linha de cuidado e nos diversos pontos de atenção. Por outro lado, também se deve incentivar a autonomia e a corresponsabilização por parte da população e/ou do indivíduo cuidado, a fim de potencializar os resultados e ampliar a capacidade de autocuidado à saúde. https://redeaps.org.br/ 74 Respostas: 1. A ordem correta é: 3 - 4 - 6 -2 – 5 – 1. Discursiva: Afirmação falsa. O processo que envolve o encaminhamento de um usuário para uma equipe ou profissional mais especializado, a depender de sua necessidade de saúde, é chamado de referência. Quando essa atenção especializada à saúde do usuário termina, ou não se faz mais necessária, o usuário deve ser reencaminhado à equipe primária, que será responsável por dar continuidade ao cuidado desse usuário ao longo do tempo. Este processo inverso é chamado de contrarreferência. BRASIL. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria nº 4.279. Estabelece as diretrizes para organização da Rede de Atenção à Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, dezembro de 2010. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.436, de 21 de setembro de 2017, estabelece a revisão de diretrizes para a organização da Atenção Básica, no âmbito do SUS. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prt2436_22_09_2017.html ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DE SAÚDE, 1993. Apud: MENDES, E V. As redes de atenção à saúde. Organização Panamericana da Saúde, 2ª edição. Brasília: 2011. 549 p. ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DE SAÚDE; ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. A atenção à saúde coordenada pela APS: construindo as redes de atenção no SUS: contribuições para o debate. Organização Panamericana de Saúde. Brasília, 2011. 113 p. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prt2436_22_09_2017.html 75 UNIDADE II CAPÍTULO 7 - PROGRAMA NACIONAL DE IMUNIZAÇÕES No término deste capítulo, você deverá saber: ✓ Vacinação e Atenção Básica; ✓ Conceitos aplicados à vacinação; ✓ Organização da sala de vacinação; ✓ Calendário Nacional de Imunização; ✓ Procedimentos em sala de vacinação; ✓ Eventos adversos pós-vacinação; ✓ Conclusão das atividades na rotina de vacinação. Introdução Reconhecido mundialmente, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) é um sucesso do Brasil. Cerca de 300 milhões de doses anuais são distribuídas em vacinas, soros e imunoglobulinas, o que contribuiu, por exemplo, para a erradicação da varíola e da poliomielite, além da redução dos casos e mortes derivadas de sarampo, rubéola, tétano, difteria e coqueluche. Os calendários de vacinação são definidos no PNI considerando a situação epidemiológica, o risco, a vulnerabilidade e as especificidades sociais, com orientações específicas para crianças, adolescentes, adultos, gestantes, idosos e povos indígenas. “A Revolta da Vacina O Rio de Janeiro, na passagem do século XIX para o século XX, era ainda uma cidade de ruas estreitas e sujas, saneamento precário e foco de doenças como febre amarela, varíola, tuberculose e peste. Os navios estrangeiros faziam questão de anunciar que não parariam no porto carioca e os imigrantes recém-chegados da Europa morriam às dezenas de doenças infecciosas. Ao assumir a presidência da República, Francisco de Paula Rodrigues Alves instituiu como meta governamental o saneamento e reurbanização da capital da República. Para assumir a frente das reformas, nomeou Francisco Pereira Passos para o governo municipal. Este por sua vez chamou os engenheiros Francisco Bicalho para a reforma do porto e Paulo de Frontin para as reformas no Centro. Rodrigues Alves nomeou ainda o médico Oswaldo Cruz para o saneamento. O Rio de Janeiro passoua sofrer profundas mudanças, com a derrubada de casarões e cortiços e o consequente despejo de seus moradores. A população apelidou o movimento de o “bota-abaixo”. O objetivo era a abertura de grandes bulevares, largas e modernas avenidas com prédios de cinco ou seis andares. 76 Ao mesmo tempo, iniciava-se o programa de saneamento de Oswaldo Cruz. Para combater a peste, ele criou brigadas sanitárias que cruzavam a cidade espalhando raticidas, mandando remover o lixo e comprando ratos. Em seguida o alvo foram os mosquitos transmissores da febre amarela. Finalmente, restava o combate à varíola. Autoritariamente, foi instituída a lei de vacinação obrigatória. A população, humilhada pelo poder público autoritário e violento, não acreditava na eficácia da vacina. Os pais de família rejeitavam a exposição das partes do corpo a agentes sanitários do governo. A vacinação obrigatória foi o estopim para que o povo, já profundamente insatisfeito com o “bota-abaixo” e insuflado pela imprensa, se revoltasse. Durante uma semana, enfrentou as forças da polícia e do exército até ser reprimido com violência. O episódio transformou, no período de 10 a 16 de novembro de 1904, a recém reconstruída cidade do Rio de Janeiro numa praça de guerra, onde foram erguidas barricadas e ocorreram confrontos generalizados.” Ministério da Saúde. Centro Cultural da Saúde. A Revolta da Vacina. Revista da Vacina. Disponível em: http://www.ccs.saude.gov.br/revolta/revolta.html. Acesso em: 08 de jun. 2021. 7.1 Vacinação e atenção básica Como já visto anteriormente, a Política Nacional de Atenção Básica caracteriza a atenção básica como “um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde”. A Estratégia de Saúde da Família (ESF), implementada a partir de 1994, é a estratégia adotada na perspectiva de organizar e fortalecer esse primeiro nível de atenção, organizando os serviços e orientando a prática profissional de atenção à família. No contexto da vacinação, a equipe da ESF realiza a verificação da caderneta e a situação vacinal e encaminha a população à unidade de saúde para iniciar ou completar o esquema vacinal conforme os calendários de vacinação. É fundamental que haja integração entre a equipe da sala de vacinação e as demais equipes de saúde no sentido de evitar as oportunidades perdidas de vacinação, que se caracterizam pelo fato de o indivíduo ser atendido em outros setores da unidade de saúde sem que seja verificada sua situação vacinal ou haja encaminhamento à sala de vacinação. • Imunidade ativa: Natural (doença) / Artificial (vacinas) • Imunidade passiva: Natural (transplacentária) / Artificial (soros heterólogos e homólogos) 7.2 Conceitos aplicados à vacinação A imunização é uma das principais medidas de prevenção de doenças, o objetivo é conferir ao indivíduo vacinado a imunidade contra determinada doença. Portanto, o conceito de vacinação é “ato de vacinar” e imunização a “aquisição de proteção imunológica contra uma doença geralmente http://www.ccs.saude.gov.br/revolta/revolta.html 77 infecciosa”. Imunidade se refere ao estado de resistência, geralmente associado à presença de anticorpos, que possuem ação específica sobre o organismo responsável por uma doença infecciosa específica ou sobre suas toxinas. As vacinas e imunoglobulinas/soros são os imunobiológicos. As preparações contendo microrganismos atenuados ou inativados ou suas frações, possuidoras de propriedades antigênicas, são as vacinas. As vacinas induzem o sistema imunológico a produzirem anticorpos. As imunoglobulinas já contêm os anticorpos necessários para combater uma doença ou intoxicação e podem se apresentar na forma homóloga (origem humana) ou heteróloga (origem animal). Estão classificadas abaixo as vacinas segundo o tipo de antígeno e suas frações. Agente vivo atenuada • BCG; • Pólio (VOPb/SABIN); • Sarampo; • Caxumba; • Rubéola; • Febre Amarela; • Varicela; • Rotavírus; • Febre Tifoide (oral). Agente inativo • Pólio (VIP/SALK); • Pertussis (Células inteiras e acelular); • Hepatite A; • Raiva; • Covid-19. Fracionadas de base proteica (subunidade) • Hepatite B; • Toxoides tetânicos e diftéricos; • Influenza; • Pertussis (acelular); • HPV. Fracionadas de base polissacarídica • Haemophilus influenzae tipo B; • Pneumococo; • Meningococo. Vetor viral (recombinante) • Covid-19. 78 As diferenças entre as vacinas vivas atenuadas e vacinas não-vivas são apresentadas abaixo: Característica Vacina viva atenuada Vacina não viva Produção Seleção de microrganismo de baixa virulência: o patógeno é cultivado sob condições adversas em meios de cultura para atenuação. Os patógenos virulentos são inativados por tratamento químico, físico ou manipulação genética, ou utilizam componentes imunogênicos deles extraídos. Necessidade de reforços A repetição das doses visa cobrir falhas da vacinação anterior: a imunidade, uma vez induzida, é de longa duração. Vários reforços para indução de boa imunidade, exceto as vacinas polissacarídeas não conjugadas. Tipo de imunidade induzida Humoral e celular. Principalmente humoral. Administração por via oral ou pela mucosa respiratória Possível (exemplo: VOPb e VORH) Via parental Imunidade de mucosa Sim Pouca ou nenhuma Estabilidade Menos estável Mais estável Extensão da vacinação aos comunicantes ou não vacinados Possível Não Risco para imunodeprimidos Sim Não Tendência de reversão à virulência Pode reverter Não reverte Com exceção das vacinas atenuadas parenterais como a febre amarela com a tríplice viral/tetra viral em crianças menores de 2 anos primo vacinadas, todas as vacinas do Programa Nacional de Imunização podem ser realizadas simultaneamente. O intervalo de vacinação entre as vacinas varia de acordo com o tipo de antígeno: • Inativado/inativado: nenhum; • Atenuado/inativado: nenhum; • Atenuado/Atenuado via parenteral: o Intervalo de 30 dias, salvo em situações especiais com mínimo de 15 dias, para as vacinas Febre Amarela e Tríplice Viral/Tetra Viral em primo vacinados para ambas as vacinas e menores de 2 anos de idade; o Simultaneamente ou com intervalo de 30 dias, salvo situações especiais com mínimo de 15 dias, para pessoas maiores de 2 anos de idade. 7.3 Organização da sala de vacinação Conforme prerrogativa do Programa Nacional de Imunização, a sala de vacinação é destinada para atividades de imunização. Essa sala deve ser mantida organizada e em ordem nas práticas rotineiras de vacinação, visando a prevenção de infecções relacionadas a assistência à saúde. 79 A equipe envolvida nas ações executadas deve ser treinada e capacitada para os procedimentos de manuseio, conservação, preparo e administração dos imunobiológicos, como também na triagem, registro no Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações e descarte de resíduos. A equipe é formada pelo Enfermeiro e Técnico ou Auxiliar de Enfermagem, com as seguintes responsabilidades: Enfermeiro • Treinar e supervisionar a equipe do setor; • Prover e prever insumos, materiais e impressos necessários ao trabalho diário; • Conhecer, controlar e garantir a reposição semanal do estoque de vacinas do setor; • Fazer o gerenciamento da Rede de Frio; • Realizar notificação e investigação de casos de Eventos Adversos possivelmente relacionados à vacinação; • Verificar o prazo de validade dos imunobiológicos e identificação dos frascos; • Solicitar mudanças e adaptações para que o ambiente da sala de vacinas tenha adequadas condições de trabalho; • Conhecer, avaliar e acompanhar as coberturas vacinais de sua área de atuação; • Estar apto (a) a tomar decisões a nível local,na liderança da equipe de enfermagem; • Fazer a revisão no arquivo de cartões de controle (cartões- espelho) para convocação e busca de faltosos; • Somar as doses registradas no Mapa Diário de Vacinação e encaminhar Boletim Mensal de Doses Aplicadas ao Serviço de Vigilância em Saúde; • Avaliar e monitorar sistematicamente as atividades desenvolvidas e propor medidas para melhorar o trabalho na sala de vacinação. Funções da equipe que trabalha na sala de vacinação • Manter a ordem e a limpeza da sala; • Prover, periodicamente o estoque regular de material e de imunobiológicos; • Manter as condições ideais de conservação dos imunobiológicos; • Manter os equipamentos em boas condições de funcionamento; • Encaminhar adequadamente os imunobiológicos inutilizados e os resíduos da sala de vacinação; • Orientar e prestar assistência à clientela, com segurança, responsabilidade e respeito; • Registrar a assistência prestada nos impressos adequados; • Manter o arquivo em ordem; • Avaliar, sistematicamente, as atividades desenvolvidas. 80 7.4 Calendário nacional de imunização As vacinas ofertadas na rotina dos serviços de saúde são definidas nos calendários de vacinação, nos quais estão estabelecidos: • Os tipos de vacina; • O número de doses do esquema básico e dos reforços; • A idade para a administração de cada dose; • O intervalo entre uma dose e outra no caso do imunobiológico cuja proteção exija mais de uma dose. Considerando o risco, a vulnerabilidade e as especificidades sociais, o PNI define calendários de vacinação com orientações específicas para crianças, adolescentes, adultos, gestantes, idosos e indígenas. As vacinas recomendadas para as crianças têm por objetivo proteger esse grupo o mais precocemente possível, garantindo o esquema básico completo no primeiro ano de vida e os reforços e as demais vacinações nos anos seguintes. São regulamentados pela Portaria ministerial nº 1.498, de 19 de julho de 2013, no âmbito do Programa Nacional de Imunizações (PNI), em todo o território nacional, sendo atualizados sistematicamente por meio de informes e notas técnicas pela Coordenação Geral do Programa Nacional de Imunizações. Nas unidades de saúde, os calendários e os esquemas vacinais para cada grupo-alvo devem estar disponíveis para consulta e afixados em local visível. Consulte o calendário de vacinação no link: https://antigo.saude.gov.br/images/pdf/2020/marco/04/Instru----o-Normativa-Calend--rio-Vacinal-2020.pdf 7.5 Procedimentos em sala de vacinação (parte 1) Práticas seguras devem envolver o procedimento de vacinação, desde sua produção até a administração. Uma triagem minuciosa e completa do indivíduo é fundamental e o profissional da sala de vacinação deve conhecer a situação de saúde do indivíduo, a situação epidemiológica da região que atua, instrumentos básicos da prática da enfermagem e conhecimentos aplicáveis à imunização. O atendimento na sala de vacinação possui as seguintes etapas: https://antigo.saude.gov.br/images/pdf/2020/marco/04/Instru----o-Normativa-Calend--rio-Vacinal-2020.pdf 81 Durante o atendimento orientar sobre eventos adversos, cuidados com o local de aplicação e, na ocorrência de eventos adversos pós-vacinação orientar retornar à unidade de saúde. 7.6 Procedimentos em sala de vacinação (parte 2) Antes de administrar verifique o imunobiológico conforme indicado no cartão de vacinação e higienize as mãos antes e após o procedimento. É importante que as mãos estejam livres de adornos para evitar acúmulo de microrganismos. Examine o produto, observando a aparência da solução, estado da embalagem, número do lote e prazo de validade. Observe a via de administração e a dosagem, prepare e administre o imunobiológico conforme técnica específica. Após a administração, observe a ocorrência de eventos adversos pós-vacinação e despreze o material utilizado na caixa coletora de material perfurocortante. Fique atento no preparo e administração das vacinas. 7.7 Eventos adversos pós-vacinação No manual de eventos adversos pós-vacinação (BRASIL, 2014) estão descritos fatores e falhas da vacinação. As falhas são classificadas em primárias que são resultantes de soroconversão e soroproteção, e a falha secundária que é resultado da imunodepressão. 82 Os fatores que podem estar relacionados a falha na vacinação são: Quando um usuário apresenta evento adverso pós-vacinação, o enfermeiro deve realizar a notificação do caso na ficha de notificação e investigação dos eventos adversos pós-vacinação, orientar o cliente que o caso será investigado e acompanhado. Caso seja necessário encaminhar o usuário para atendimento médico, orientar o usuário que, após a investigação do evento adverso, será emitido parecer sobre a manutenção ou interrupção do esquema de vacinação. Quando há necessidade de completar o esquema de vacinação com imunobiológicos especiais, orientar o usuário a dirigir-se ao Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais munidos com a documentação necessária. 7.8 Conclusão das atividades na rotina de vacinação Ao final do trabalho diário, os responsáveis pela vacinação devem: • Conferir no boletim diário as doses de vacinas administradas no dia, retirar as vacinas da caixa térmica, identificar nos frascos multidose a quantidade de doses que podem ser utilizadas no dia seguinte; • Observar o prazo de validade após aberto e guardar no refrigerador; • Retirar as bobinas reutilizáveis da caixa térmica, proceder com a limpeza e acondicioná-las no evaporador do equipamento de refrigeração; • Desprezar os frascos de vacinas multidose que ultrapassaram o prazo de validade após aberto, bem como os rótulos danificados; • Registrar o número de doses desprezadas no formulário padronizado de registro para subsidiar a avaliação do movimento e das perdas dos imunobiológicos; • Verificar e anotar a temperatura do equipamento de refrigeração no mapa de temperatura; • Organizar os cartões controle de vacinação; • Verificar a lista de faltosos e separar os cartões controle para realizar busca ativa; 83 • Certificar-se de que os equipamentos de refrigeração estão em boas condições de funcionamento; • Desligar o ar-condicionado; • Deixar a sala limpa e em ordem. Ao final do mês deve-se: • Consolidar as doses registradas no boletim diário, transferindo-as para o boletim mensal de doses aplicadas; • Avaliar e calcular o percentual de utilização e perda (física e técnica) de imunobiológicos; - • Monitorar as atividades de vacinação (taxa de abandono, cobertura vacinal, eventos adversos, inconsistências ou erros nos registros de vacinação); • Revisar o arquivo com informação individual de vacinados para estabelecer busca ativa dos faltosos. 7.9 Considerações finais As vacinas constituem uma forma segura e eficaz de erradicar e controlar uma série de doenças infeccionas impactantes ou com risco iminente de morte. Durante o século XX, os programas de imunização reduziram a disseminação de doenças evitáveis por meio da vacinação nas América. Atualmente, os profissionais da área da saúde enfrentam movimentos antivacinas, que induzem a atitudes que colocam em risco não apenas a saúde do não vacinado, mas de toda a comunidade ao seu redor. A desinformação, informações insuficientes, mitos, informações pseudocientíficas, falta de credibilidade estão entre as causas deste movimento crescer ascender nos últimos anos. Como profissional da área saúde, é importante conhecer o processo que envolve a vacinação para ser capaz de esclarecer com clareza as dúvidas e rebater a desinformação. A vacinação é um ato coletivo de respeito ao próximo. No contexto da vacinação, a equipe da ESF realiza a verificação da caderneta e a situação vacinal e encaminha a população à unidade de saúde para iniciar ou completar o esquema vacinalconforme os calendários de vacinação. É fundamental que haja integração entre a equipe da sala de vacinação e as demais equipes de saúde no sentido de evitar as oportunidades perdidas de vacinação, que se caracterizam pelo fato de o indivíduo ser atendido em outros setores da unidade de saúde sem que seja verificada sua situação vacinal ou haja encaminhamento à sala de vacinação. A imunização é uma das principais medidas de prevenção de doenças, cujo objetivo é conferir ao indivíduo vacinado a imunidade contra determinada doença. Portanto, o conceito de vacinação é “ato de vacinar” e imunização a “aquisição de proteção imunológica contra uma doença geralmente infecciosa”. Imunidade se refere ao estado de resistência, geralmente associado à presença de anticorpos, que possuem ação específica sobre o organismo responsável por uma doença infecciosa específica ou sobre suas toxinas. As vacinas e imunoglobulinas/soros são os imunobiológicos. As preparações contendo microrganismos atenuados ou 84 inativados ou suas frações, possuidoras de propriedades antigênicas são as vacinas. As vacinas induzem o sistema imunológico a produzir anticorpos. As imunoglobulinas já contêm os anticorpos necessários para combater uma doença ou intoxicação e podem se apresentar na forma homóloga (origem humana) ou heteróloga (origem animal). Conforme prorrogativa do Programa Nacional de Imunização, a sala de vacinação é destinada para atividades de imunização. Essa sala deve ser mantida organizada e em ordem nas práticas rotineiras de vacinação, visando a prevenção de infecções relacionadas a assistência à saúde. A equipe envolvida nas ações executadas deve ser treinada e capacitada para os procedimentos de manuseio, conservação, preparo e administração dos imunobiológicos, como também na triagem, registro no Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações e descarte de resíduos. As vacinas ofertadas na rotina dos serviços de saúde são definidas nos calendários de vacinação, nos quais estão estabelecidos os tipos de vacina; o número de doses do esquema básico e dos reforços; a idade para a administração de cada dose e o intervalo entre uma dose e outra no caso do imunobiológico cuja proteção exija mais de uma dose. Considerando o risco, a vulnerabilidade e as especificidades sociais, o PNI define calendários de vacinação com orientações específicas para crianças, adolescentes, adultos, gestantes, idosos e indígenas. As vacinas recomendadas para as crianças têm por objetivo proteger esse grupo o mais precocemente possível, garantindo o esquema básico completo no primeiro ano de vida e os reforços e as demais vacinações nos anos seguintes. No manual de eventos adversos pós-vacinação (BRASIL, 2014), estão descritos fatores e falhas da vacinação. As falhas são classificadas em primárias que são resultantes de soroconversão e soroproteção, e a falha secundária que é resultado da imunodepressão. Quando um usuário apresenta evento adverso pós-vacinação, o enfermeiro deve realizar a notificação do caso na ficha de notificação e investigação dos eventos adversos pós-vacinação, orientar o cliente que o caso será investigado e acompanhado. Caso seja necessário, encaminhar o usuário para atendimento médico e orientá- lo o usuário que após a investigação do evento adverso, será emitido parecer sobre a manutenção ou interrupção do esquema de vacinação. Quando houver necessidade de completar o esquema de vacinação com imunobiológicos especiais, orientar o usuário a dirigir-se ao Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais munido da documentação necessária. Existe um esforço para uma imunização abrangente dos latino-americanos a fim de aliviar significativamente os encargos associados às doenças que podem ser evitadas por meio da vacinação. A Organização Pan- Americana de Saúde, os governos nacionais e as empresas farmacêuticas buscam manter e ampliar os avanços conquistados, apoiando esforços para alcançar uma cobertura de vacinação uniformemente elevada e desenvolvendo tecnologias de vacina mais eficazes e com proteção contra novas doenças. 85 Os imunobiológicos, para conferirem proteção, necessitam estar em condições adequadas de armazenamento e conservação. Para tanto, faz-se necessário que sejam conservados em equipamentos de refrigeração exclusivo com temperatura entre +2ºC e +8ºC, preferencialmente +5ºC. Estudos evidenciam que vacinas que tenham em sua composição hidróxido de alumínio; por isso, em hipótese alguma podem ser expostas a temperaturas negativas, pois terão prejuízos na imunogenicidade da mesma e perda de potência. A conservação dos imunobiológicos, conforme recomendações do PNI, é um cuidado imprescindível que os profissionais da sala de vacinação devem ter e, é um requisito importante para vacinação segura. Investigue sobre Gerenciamento dos Resíduos Serviços de Saúde. IF-ES (2019) O Programa Nacional de Imunizações (PNI) vem contribuindo para a redução da morbimortalidade causada pelas doenças imunopreveníveis. Quanto às Normas e Procedimentos para Vacinação, marque a resposta CORRETA: a) A Vacina DTP protege contra a hepatite B, tétano e coqueluche. b) Vacina meningocócica C é administrada via subcutânea. c) A vacina BCG é administrada por via intramuscular. d) A vacina tríplice viral protege contra o sarampo, a caxumba e a rubéola. e) A vacina tríplice viral deve ser administrada a 1ª dose aos 2 meses de vida. Resposta - d) A vacina tríplice viral protege contra o sarampo, a caxumba e a rubéola. 86 1. ENADE (2013) Um caminhoneiro de 35 anos de idade realizou, em outubro de 2013, os exames admissionais para trabalhar em uma empresa de transporte. Entregou a carteira de vacinação ao enfermeiro do trabalho, que analisou as seguintes informações vacinais: Vacina dupla adulto - tomou dose reforço no dia 30/08/12. Vacina febre amarela - não recebeu nenhuma dose. Vacina hepatite B - tomou uma dose no dia 02/01/13 e outra dose em 01/03/13. Vacina sarampo, caxumba e rubéola (SCR) - documentação de vacinação prévia. Vacina contra gripe - não recebeu nenhuma dose. Vacina contra pneumonia - não recebeu nenhuma dose. Considerando as informações apresentadas, que vacinas esse caminhoneiro deverá tomar, para completar o esquema de vacinação? a) Gripe e pneumonia. b) Febre amarela e hepatite B. c) SCR, febre amarela e gripe. d) Dupla adulto, SCR e pneumonia. e) Dupla adulto, febre amarela e hepatite. Discursiva: O que está definido nos calendários de vacinação? Visite o site https://portalarquivos.saude.gov.br/campanhas/pni/ e acompanhe as campanhas de vacinação ativas e o histórico das finalizadas. No site http://www.ccs.saude.gov.br/revolta/campanhas.html é possível apreciar o histórico das campanhas de vacinação: • Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite; • Campanha Nacional de Vacinação contra a Varíola; • Campanha Nacional de Vacinação contra o Sarampo; • Campanha Nacional de Vacinação para a Terceira Idade; • Campanha de Vacinação contra a Rubéola. https://portalarquivos.saude.gov.br/campanhas/pni/ http://www.ccs.saude.gov.br/revolta/campanhas.html 87 Administração das vacinas Via oral: as vacinas a exemplo da VORH e VOPb são absorvidas pelo trato gastrointestinal e são apresentadas na forma líquida. Via parenteral: a maioria dos imunobiológicos são administrados por esta via. As vias de administração parenterais diferem em relação ao tipo de tecido em que o imunobiológico será administrado. As vias são: intradérmica, subcutânea e intramuscular. Via intradérmica: • Higienize as mãos com água e sabão; • Cheque o imunobiológico a ser administrado, assim como o usuário que irá recebê-lo; • Prepare a vacina conforme a sua apresentação; • Escolha o local para a administração da vacina, evitando locais com cicatrizes, manchas, tatuagens e lesões; • Faça a limpezada pele com algodão seco; • Coloque o usuário em posição confortável e segura. Na vacinação de crianças, solicite ajuda do acompanhante na contenção para evitar movimentos bruscos; • Segure firmemente com a mão o local, distendendo a pele com o polegar e o indicador; • Segure a seringa com o bisel da agulha para cima, coincidindo com o lado da graduação da seringa. A agulha deve formar com o braço um ângulo de 15º; • Introduza a agulha paralelamente a pele, até que o bisel desapareça; • Injete a vacina lentamente, pressionando a extremidade do embolo com o polegar; • Retire a agulha da pele; • Não faça compressão no local de administração da vacina; • Despreze a seringa e a agulha utilizadas na caixa coletora de perfurocortante; • Higienize as mãos com água e sabão, conforme orientação. Via subcutânea • Higienize as mãos; • Cheque o imunobiológico a ser administrado e o usuário que irá recebê-lo; • Prepare a vacina conforme a sua apresentação; • Escolha o local para a administração da vacina, evitando locais com cicatrizes, manchas, tatuagens e lesões; • Faça a limpeza da pele com algodão seco; • Coloque o usuário em posição confortável e segura, evitando acidentes durante o procedimento. Na vacinação de crianças, solicite ajuda do acompanhante na contenção para evitar movimentos bruscos; • Pince o local da administração com o dedo indicador e o polegar, mantendo a região firme; • Introduza a agulha com bisel para baixo, com rapidez e firmeza, formando um ângulo de 90º; • Não aspire o local; • Injete a solução lentamente; • Retire a seringa com a agulha em movimento único e firme; • Faça leve compressão no local com algodão seco; • Despreze a seringa e agulha utilizadas na caixa coletora de material perfurocortante; • Higienize as mãos. 88 Via intramuscular • Higienize as mãos; • Confirmar o imunobiológico a ser administrado, bem como o usuário que irá recebê-lo; • Prepare a vacina conforme a sua apresentação; • Escolha o local para a administração do imunobiológico, evitando locais com cicatrizes, manchas, tatuagens e lesões; • Coloque o usuário sentado ou em posição de decúbito dorsal ou decúbito lateral. Na vacinação de crianças, solicite a ajuda do acompanhante na contenção para evitar movimentos bruscos; • Faça a limpeza da pele com algodão seco; • Introduza a agulha em ângulo reto (90º) e não aspire o local. Se houver retorno venoso espontâneo, despreze a dose (bem como a seringa e agulha utilizadas) e prepare uma nova dose. O ângulo de introdução da agulha pode ser ajustado conforme a massa muscular do usuário a ser vacinado; • Injete o imunobiológico lentamente; • Retire a agulha em movimento único e firme; • Faça leve compressão no local com algodão seco; • Observe a ocorrência de eventos adversos pós-vacinação; • Despreze a seringa e agulha utilizadas na caixa coletora de material perfurocortante; • Higienize as mãos. Respostas: 1. Alternativa “B”. Febre amarela e hepatite B. Discursiva: As vacinas ofertadas na rotina dos serviços de saúde são definidas nos calendários de vacinação, nos quais estão estabelecidos: • Os tipos de vacina; • O número de doses do esquema básico e dos reforços; • A idade para a administração de cada dose; • O intervalo entre uma dose e outra no caso do imunobiológico cuja proteção exija mais de uma dose. 89 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Manual de Normas e Procedimentos para Vacinação/Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Brasília: Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_procedimentos_vacinacao.pdf Acesso em: 08 de jun. 2021. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Imunizações e Doenças Transmissíveis. Manual de vigilância epidemiológica de eventos adversos pós-vacinação [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Imunizações e Doenças Transmissíveis. – 4. ed. – Brasília: Ministério da Saúde, 2020. Disponível em: https://sbim.org.br/images/files/manual-vigilancia-epidemiologica-eventos-vacinacao-4ed.pdf. Acesso em: 08 de jun. 2021. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_procedimentos_vacinacao.pdf https://sbim.org.br/images/files/manual-vigilancia-epidemiologica-eventos-vacinacao-4ed.pdf 90 UNIDADE II CAPÍTULO 8 - PROGRAMA DE MELHORIA DO ACESSO E QUALIDADE NA ATENÇÃO BÁSICA No término deste capítulo, você deverá saber: ✓ Avaliação e qualidade em saúde; ✓ Contexto histórico do Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade (PMAQ); ✓ Objetivos do PMAQ; ✓ Fases do PMAQ; ✓ Dimensões de avaliação da atenção básica; ✓ Instrumento de autoavaliação. Introdução O PMAQ foi instituído pela Portaria nº 1.654 de 19 de julho de 2011, fruto de um importante processo de negociação e pactuação das três esferas de gestão do SUS que contou com vários momentos nos quais, Ministério da Saúde e os gestores municipais e estaduais, representados pelo Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde e Conselho Nacional de Secretários de Saúde debateram e formularam soluções para viabilizar um desenho do Programa que possa permitir a ampliação do acesso e melhoria da qualidade da Atenção Básica em todo o Brasil. Propósitos do PMAQ: • Garantia da qualidade: significa garantir que todas as unidades de Atenção Básica atendam a padrões mínimos. • Melhoria da qualidade: significa que o sistema é criado para promover melhorias acima e além do padrão mínimo. 8.1 Avaliação e qualidade em saúde A Avaliação em Saúde origina informações quanto à adequação, efeitos e custos associados ao uso de tecnologias, programas ou serviços de saúde. E, desta forma, subsidiar a tomada de decisão em relação às práticas de saúde e ao estabelecimento de políticas concernentes ao setor. A Avaliação em Saúde pressupõe: • A seleção de problemas relevantes e sensíveis às medidas de ação viáveis nos níveis técnico, político e econômico; 91 • A medição de atributos pertinentes a tecnologias, programas ou serviços de saúde, que se constituem em alternativas para a solução, ou a minimização, de problemas, em uma população; • O julgamento e a comparação do comportamento desses atributos, como critérios de apreciação da adequação, dos benefícios, dos efeitos adversos e dos custos associados às alternativas, levando-se em conta a população de referência e o conhecimento, ou o arsenal tecnológico existente/disponível; e • A alimentação dos processos de análise e de formulação de condutas ou recomendações para ação gerencial ou governamental. 8.2 Contexto histórico do Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade (PMAQ) A atenção básica brasileira enfrenta diversos problemas e desafios. Dentre os desafios destacam-se • Incipiência dos processos de gestão centrados na indução e acompanhamento da qualidade; • Sobrecarga das equipes com número excessivo de pessoas sob sua responsabilidade; • Pouca integração das equipes de ab com a rede de apoio diagnóstico e terapêutico e com os outros pontos da rede de atenção à saúde (ras); • Baixa integralidade e resolutividade das práticas, com a persistência do modelo de queixa- conduta, de atenção prescritiva; • Procedimento-médico-centrado, focado na dimensão biomédica do processo saúde-doença- cuidado • Financiamento insuficiente e inadequado da ab, vinculado ao credenciamento de equipes, independentemente dos resultados e da melhoria da qualidade. Concebida para superar estes desafios e na lógica de institucionalização da avaliação para melhoria da qualidade da atenção básica, a Portaria 1.654 do Ministério da Saúde, publicadaem 19 de julho de 2011, deu início ao Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade (PMAQ) e vinculou pela primeira vez o repasse de recursos à implantação e alcance de padrões de acesso e de qualidade pelas equipes de atenção básica (EAB). 8.3 Objetivos do PMAQ O objetivo do PMAQ é induzir a ampliação do acesso e a melhoria da qualidade da atenção básica, com garantia de um padrão de qualidade comparável nacional, regional e localmente de maneira a permitir maior transparência e efetividade das ações governamentais direcionadas à Atenção Básica em Saúde. O desenvolvimento do PMAQ está alicerçado e organizado em quatro dimensões: autoavaliação, monitoramento, educação permanente e apoio Institucional. O ponto de partida do programa é autoavaliação, tendo em vista que os processos orientandos para a melhoria da qualidade devem ter por início o reconhecimento, pelas próprias equipes de saúde, dos pontos positivos e problemáticos do seu trabalho, produzindo sentidos e significados carregados de potencialidades para o desenvolvimento de atividades de mudança e aprimoramento. O processo de monitoramento do PMAQ para fins de classificação das equipes de atenção básica participantes se dá a partir da contratualização e acompanhamento de 24 indicadores de 92 desempenho relacionados ao processo de avaliação externa e utilizados para fins de classificação das equipes de atenção básica, além de 23 indicadores de monitoramento acompanhados de forma regular em complementaridade as informações de oferta, ações e resultados alcançados pelas equipes mas sem influência para a classificação das equipes. No total são 47 indicadores relacionados a alguns focos estratégicos de ação da atenção básica: Área Estratégica Natureza do uso Total Desempenho Monitoramento 1. Saúde da mulher 6 1 7 2. Saúde da criança 6 3 9 3. Controle de diabetes mellitus e hipertensão arterial sistêmica 4 2 6 4. Saúde bucal 4 3 7 5. Produção geral 4 8 12 6. Tuberculose e hanseníase 0 2 2 7. Saúde mental 0 4 4 8. Total 24 23 47 8.4 Desafios O PMAQ pode auxiliar a atenção básica a superar muitos desafios: I. Precariedade da rede física, com parte expressiva de UBS em situação inadequada; II. Ambiência pouco acolhedora das UBS, transmitindo aos usuários uma impressão de que os serviços ofertados são de baixa qualidade e negativamente direcionados à população pobre; III. Inadequadas condições de trabalho para os profissionais, comprometendo sua capacidade de intervenção e satisfação com o trabalho; 93 IV. Necessidade de qualificação dos processos de trabalho das equipes de AB, caracterizados de maneira geral pela sua baixa capacidade de realizar o acolhimento dos problemas agudos de saúde; pela insuficiente integração dos membros das equipes; e pela falta de orientação do trabalho em função de prioridades, metas e resultados, definidos em comum acordo pela equipe, gestão municipal e comunidade; V. Instabilidade das equipes e elevada rotatividade dos profissionais, comprometendo o vínculo, a continuidade do cuidado e a integração da equipe; VI. Incipiência dos processos de gestão centrados na indução e acompanhamento da qualidade; VII. Pouca integração das equipes de AB com a rede de apoio diagnóstico e terapêutico e com os outros pontos da Rede de Atenção à Saúde (RAS); VIII. Baixa integralidade e resolutividade das práticas, com a persistência do modelo de queixa- conduta, de atenção prescritiva, procedimento-médico-centrado, focada na dimensão biomédica do processo saúde-doença-cuidado; IX. Financiamento insuficiente e inadequado da AB, vinculado ao credenciamento de equipes independentemente dos resultados e da melhoria da qualidade. X. Baixo investimento em infraestrutura de informática e insuficiente uso das tecnologias da informação para a tomada de decisão. 8.5 Desafios Ao completar a etapa de contratualização no sistema de adesão ao PMAQ, os municípios e as equipes assumem compromissos voltados para a melhoria do acesso e da qualidade no âmbito da atenção básica. Os compromissos das equipes de Atenção Básica são: I. Organizar o processo de trabalho da equipe em conformidade com os princípios da atenção básica previstos no Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica e na Política Nacional de Atenção Básica (PNAB); II. Implementar processos de acolhimento à demanda espontânea para a ampliação, facilitação e qualificação do acesso; III. Alimentar o Sistema de Informação em Saúde para Atenção Básica/e-SUS-SISAB de forma regular e consistente, independentemente do modelo de organização da equipe e segundo os critérios do Manual Instrutivo; IV. Programar e implementar atividades com a priorização dos indivíduos, famílias e grupos com maior risco e vulnerabilidade; V. Instituir espaços regulares para a discussão do processo de trabalho da equipe e para a construção e acompanhamento de projetos terapêuticos singulares; VI. Instituir processos autoavaliativos como mecanismos disparadores da reflexão sobre a organização do trabalho da equipe, com participação de todos os profissionais que constituem a equipe; VII. Desenvolver ações intersetoriais voltadas para o cuidado e a promoção da saúde; VIII. Pactuar metas e compromissos para a qualificação da Atenção Básica com a gestão municipal. 8.6 Fases do PMAQ O PMAQ está organizado em quatro fases que conformam um ciclo contínuo de melhoria do acesso e da qualidade da atenção básica: 94 Fase 1 - Adesão e contratualização: etapa formal de adesão ao programa mediante a contratualização de compromissos e indicadores. Essa etapa pressupõe um processo inicial de pactuação entre as equipes de atenção básica e o gestor municipal, que deve anteceder a formalização de adesão do município com o Ministério da Saúde (MS). Uma vez homologada a adesão das equipes de atenção básica, o Ministério da Saúde transfere ao município, fundo a fundo, 20% do valor integral do Componente de Qualidade do Piso da Atenção Básica Variável (PAB Variável). O valor está vinculado ao número de equipes de atenção básica participantes, considerando a competência do mês em que a homologação foi publicada. O percentual restante será repassado de acordo com os resultados obtidos na avaliação do desempenho (Fase 3). Fase 2 - Desenvolvimento: etapa onde o gestor municipal e as equipes de atenção básica reconhecem as necessidades de melhoria e atuam para modificar e qualificar a atenção básica. Essa etapa inclui ações de autoavaliação, monitoramento dos indicadores contratualizados, apoio institucional às equipes de atenção básica e ações de educação permanente. Para a autoavaliação, o DAB disponibiliza o instrumento “Autoavaliação para a Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (AMAQ)”, resultado da revisão e adaptação de diferentes ferramentas utilizadas e validadas nacional e internacionalmente. Contudo, o gestor municipal e as equipes poderão optar por outras ferramentas associadas ou não ao AMAQ que facilitem o processo de autoavaliação e reconhecimento da realidade local. Fase 3 - Avaliação externa: etapa que inclui um conjunto de ações direcionadas para a certificação das condições de acesso e de qualidade da atenção prestadas pelas Equipes participantes do PMAQ. Busca reconhecer e valorizar os esforços e resultados das equipes de atenção básica e dos gestores municipais de saúde na qualificação da Atenção Básica. No seu desenvolvimento, o MS atua em conjunto com grupos de pesquisa de Instituições de Ensino Superior (IES) brasileiras. A elaboração dos instrumentos de coleta, a seleção e treinamento das equipes de entrevistadores, a organização e a execução do trabalho de campo, incluindo parte da análise das informações coletadas, são atividades realizadas pelo conjunto de Instituições. Cabe ao Ministério da Saúde, deposse dos dados coletados, proceder à avaliação de desempenho das equipes participantes, segundo metodologia definida pelo Programa. Fase 4 - Recontratualização: etapa posterior à certificação das equipes da atenção básica. Com base na avaliação de desempenho de cada equipe, uma nova contratualização de indicadores e compromissos deverá ser realizada, completando o ciclo de qualidade previsto pelo Programa. Nessa fase está prevista a pactuação das equipes e dos municípios com o incremento de novos padrões e indicadores de qualidade, estimulando a institucionalização de um processo cíclico e sistemático a partir dos resultados alcançados pelos participantes do PMAQ. 8.7 Dimensões de avaliação da atenção básica A avaliação da atenção básica está dividida em quatro dimensões que se desdobram em 14 subdimensões, e estas, em padrões que abrangem o que é esperado em termos de qualidade para a atenção básica. 95 Unidade de análise Dimensão Subdimensão Gestão Gestão Municipal Implantação e implementação da atenção básica no município; Organização e integração da rede de atenção à saúde Gestão do trabalho; Participação, controle social e satisfação do usuário. Gestão da Atenção Básica Apoio institucional; Educação permanente; Monitoramento e avaliação. Equipe de atenção básica Unidade básica de saúde Infraestrutura e equipamentos Insumos, imunobiológicos e medicamentos. Educação permanente, processo de trabalho e atenção integral à saúde Educação permanente e qualificação das equipes de atenção básica; Organização do processo de trabalho; Atenção integral à saúde; Participação, controle social e satisfação do usuário; Programa saúde na escola. 8.8 Instrumento de autoavaliação Para o processo de autoavaliação, o Ministério da Saúde disponibilizou, para uso da gestão e das equipes, o instrumento de Autoavaliação para Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (AMAQ) que foi baseado no AMQ e é constituído por padrões de qualidade esperados quanto à estrutura, aos processos e aos resultados das ações da atenção básica, sendo ferramenta de grande potencial pedagógico de caráter reflexivo e problematizador que possibilita a construção de soluções a partir da identificação do problema. 96 A equipe se autoavalia em um conjunto de padrões de qualidade, que revelam quais são os padrões com maiores problemas que devem ser enfrentados pela equipe com o intuito de qualificar o processo de trabalho e a atenção ofertada aos usuários. 8.9 Considerações finais A avaliação em saúde, embora seja preconizada e instituída em políticas públicas, representa uma dificuldade no cenário das instituições de saúde, sejam públicas ou privadas. De forma quantitativa ou qualitativa, sabemos a sua importância para que se tenha um panorama das condições de saúde da população, programas, indicadores de saúde e serviços, mas encontramos dificuldades e fatores limitantes para a sua execução, tais como: falta de recursos humanos ou financeiros para avaliar resultados, já que está prática exige pessoal calibrado e preparado, devido ao rigor metodológico exigido; dificuldades de enfrentamento, pois muitas vezes as avaliações comprometem ou expõem a ineficiência dos serviços ou programas; dificuldades com fontes financiadoras, por existirem interesses financeiros e políticos imbuídos no sistema. Com o objetivo de incentivar os gestores a melhorar a qualidade dos serviços prestados, o PMAQ busca garantir um padrão de qualidade por meio de um conjunto de estratégias de qualificação, acompanhamento e avaliação do trabalho das equipes de saúde. Esforços têm sido empreendidos para a implantação de inciativas que promovam saúde para a população brasileira. –Deve-se empoderar os trabalhadores para que possam participar como sujeitos ativos na construção de um modelo de gestão participativa e discutir os caminhos da gestão municipal de saúde e do seu próprio processo de trabalho. A Avaliação em Saúde origina informações quanto a adequação, efeitos e custos associados ao uso de tecnologias, programas ou serviços de saúde e deve subsidiar a tomada de decisão em relação às práticas de saúde e ao estabelecimento de políticas concernentes ao setor. A atenção básica brasileira enfrenta diversos problemas e desafios. Dentre os desafios destacam-se a incipiência dos processos de gestão centrados na indução e acompanhamento da qualidade, a sobrecarga das equipes com número excessivo de pessoas sob sua responsabilidade, pouca integração das equipes de AB com a rede de apoio diagnóstico e terapêutico e com os outros pontos da Rede de Atenção à Saúde (RAS), baixa integralidade resolutividade das práticas, com as persistência do modelo de queixa-conduta, de atenção prescritiva, procedimento-médico-centrado, focado na dimensão biomédica do processo saúde-doença- cuidado e financiamento insuficiente e inadequado da AB, vinculado ao credenciamento de equipes, independentemente dos resultados e da melhoria da qualidade. Concebida para superar estes desafios e na lógica de institucionalização da avaliação para melhoria da qualidade da atenção básica, a Portaria 1.654 do Ministério da Saúde, publicada em 19 de julho de 2011, deu início ao Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade (PMAQ) e vinculou pela primeira vez o repasse de recursos à implantação e alcance de padrões de acesso e de qualidade pelas equipes de atenção básica (EAB). 97 O objetivo do PMAQ é induzir a ampliação do acesso e a melhoria da qualidade da atenção básica, com garantia de um padrão de qualidade comparável nacional, regional e localmente de maneira a permitir maior transparência e efetividade das ações governamentais direcionadas à Atenção Básica em Saúde. O desenvolvimento do PMAQ está alicerçado e organizado em quatro dimensões: autoavaliação, monitoramento, educação permanente e apoio Institucional. O PMAQ está organizado em quatro fases que conformam um ciclo contínuo de melhoria do acesso e da qualidade da atenção básica: Fase 1- Adesão e contratualização; Fase 2 – Desenvolvimento; Fase 3 - Avaliação externa e Fase 4 – Recontratualização. A avaliação da atenção básica está dividida em quatro dimensões que se desdobram em 14 subdimensões, e estas, em padrões que abrangem o que é esperado em termos de qualidade para a atenção básica. Para o processo de autoavaliação, o Ministério da Saúde disponibilizou, para uso da gestão e das equipes, o instrumento de Autoavaliação para Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (AMAQ) que foi baseado no AMQ e é constituído por padrões de qualidade esperados quanto à estrutura, aos processos e aos resultados das ações da atenção básica, sendo ferramenta de grande potencial pedagógico de caráter reflexivo e problematizador que possibilita a construção de soluções a partir da identificação do problema. A participação no PMAQ é voluntária, assim, o município, com as suas equipes da AB, tem a autonomia para definir se irá aderir ou não ao programa; que tem um componente de incentivo à adesão, assegurando um repasse inicial de 20% do valor total previsto para os territórios que aderirem. A transferência restante dos recursos está vinculada ao desempenho de cada equipe, podendo atingir 100% do repasse ou a sua suspensão. Soares, César e Ramos, Marília. Uma avaliação dos efeitos do PMAQ-AB nas internações por condições sensíveis à Atenção Básica. Saúde em Debate [online]. 2020, v. 44, n. 126 [Acessado 9 Junho 2021] , pp. 708-724. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/0103- 1104202012609>. Epub 16 Nov 2020. ISSN 2358-2898. https://doi.org/10.1590/0103-1104202012609. O PCATool foi criado com base no modelo de avaliação da qualidade de serviços de saúde proposto por Donabedian, sendo este modelo baseado na mensuração de aspectos de estrutura, processo e resultados dos serviços de saúde.Cada atributo essencial identificado no instrumento PCATool-Brasil é formado por um componente relacionado à estrutura e outro ao processo de atenção. Isso pode ser exemplificado pelo atributo acesso de primeiro contato formado pelo componente acessibilidade (estrutura) e pelo componente utilização (processo). https://doi.org/10.1590/0103-1104202012609 98 O principal objetivo do PMAQ é induzir a ampliação do acesso e a melhoria da qualidade da atenção básica. Investigue sobre a Política de Educação Permanente. Acesse o link e conheça a ferramenta eletrônica de autoavaliação das equipes e da gestão municipal. https://amaq.lais.huol.ufrn.br/ IF – PB (2015) O Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ), instituído pela Portaria de nº 1.654 GM/MS, de 19 de julho de 2011, foi produto de um importante processo de negociação e pactuação das três esferas de gestão do SUS, em que o Ministério da Saúde contou com os gestores municipais e estaduais, representados pelo Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS) e Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS). Com base no enunciado, são considerados objetivos do PMAQ: a) Fornecer padrões de boas práticas e organização das Unidades Básicas de Saúde (UBS) que norteiem a melhoria da qualidade da Atenção Básica (AB), embora os profissionais não estejam aptos para essas ações. b) Promover maior conformidade das UBS com os princípios da AB, aumentando a efetividade na melhoria das condições de saúde, mesmo sem garantir a satisfação dos usuários, na qualidade das práticas de saúde e na eficiência e efetividade do sistema de saúde. c) Melhorar a qualidade da alimentação e uso dos sistemas de informação o que pode ser considerado um esforço inadequado. https://amaq.lais.huol.ufrn.br/ 99 d) Estimular o foco da AB no usuário, promovendo a transparência dos processos de gestão, sem haver necessariamente a participação e controle social. e) Ampliar o impacto da AB sobre as condições de saúde da população e sobre a satisfação dos seus usuários, por meio de estratégias de facilitação do acesso e melhoria da qualidade dos serviços e ações da AB. Resposta - Ampliar o impacto da AB sobre as condições de saúde da população e sobre a satisfação dos seus usuários por meio de estratégias de facilitação do acesso e melhoria da qualidade dos serviços e ações da AB. 1. SESAP-RN (2018) O Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ- AB) se apresenta como uma iniciativa do Ministério da Saúde, cujo objetivo principal é estimular a ampliação do acesso e a melhoria da qualidade da atenção básica, garantindo um padrão de qualidade comparável nacional, regional e localmente, possibilitando maior transparência e efetividade das ações governamentais direcionadas à atenção básica. Especificamente, o PMAQ-AB tem entre seus objetivos: a) Fornecer padrões de boas práticas e organização das unidades básicas de saúde que norteiem a melhoria da qualidade da atenção básica. b) Verificar a inserção dos estabelecimentos de assistência especializada como pontos de atenção da rede de saúde. c) Induzir a criação de novos sistemas de informação a partir do conhecimento dos determinantes, condicionantes e riscos à saúde identificados na avaliação externa. d) Incorporar indicadores que meçam o resultado da atenção/assistência prestada pelos serviços de saúde de média complexidade avaliados. e) Auxiliar o gestor ou enfermeiro a implantar ferramentas da qualidade. Discursiva: Descreva por meio de quais atividades a Fase 2 do PMAQ-AB deve ser implementada. Rotas da Atenção Básica no Brasil: experiência do trabalho de campo PMAQ – AB. Uma publicação resultado da cooperação entre a Fiocruz e o Ministério da Saúde, envolvendo pesquisadores, professores e alunos de três de suas unidades técnicas em parceria com outras instituições de ensino e pesquisa para a realização da avaliação externa das equipes de atenção básica em nove estados do país. Disponível em: http://www5.ensp.fiocruz.br/biblioteca/dados/txt_432317170.pdf http://www5.ensp.fiocruz.br/biblioteca/dados/txt_432317170.pdf 100 Os objetivos específicos e diretrizes do PMAQ são: I. Ampliar o impacto da AB sobre as condições de saúde da população e sobre a satisfação dos seus usuários, por meio de estratégias de facilitação do acesso e melhoria da qualidade dos serviços e ações da AB; II. Fornecer padrões de boas práticas e organização das UBS que norteiem a melhoria da qualidade da AB; III. Promover maior conformidade das UBS com os princípios da AB, aumentando a efetividade na melhoria das condições de saúde, na satisfação dos usuários, na qualidade das práticas de saúde e na eficiência e efetividade do sistema de saúde; IV. Promover a qualidade e inovação na gestão da AB, fortalecendo os processos de autoavaliação, Monitoramento e Avaliação, Apoio Institucional e Educação Permanente nas três esferas de governo; V. Melhorar a qualidade da alimentação e uso dos Sistemas de Informação como ferramenta de gestão da AB; VI. Institucionalizar uma cultura de avaliação da AB no SUS e de gestão com base na indução e acompanhamento de processos e resultados; VII. Estimular o foco da AB no usuário, promovendo a transparência dos processos de gestão, a participação e controle social e a responsabilidade sanitária dos profissionais e gestores de saúde com a melhoria das condições de saúde e satisfação dos usuários. Diretrizes I. Possuir parâmetro de comparação entre as Equipes considerando as diferentes realidades de saúde; II. Ser incremental, prevendo um processo contínuo e progressivo de melhoramento dos padrões e indicadores de acesso e de qualidade que envolva a gestão, o processo de trabalho e os resultados alcançados pelas equipes; III. Ser transparente em todas as suas etapas, permitindo o permanente acompanhamento de suas ações e resultados pela sociedade; IV. Envolver, mobilizar e responsabilizar o gestor federal, gestores estaduais, do Distrito Federal, municipais e locais, equipes e usuários em um processo de mudança de cultura de gestão e qualificação da atenção básica; V. Desenvolver uma cultura de negociação e contratualização, que implique na gestão dos recursos em função dos compromissos e resultados pactuados e alcançados. VI. Estimular a efetiva mudança do modelo de atenção, o desenvolvimento dos trabalhadores e a orientação dos serviços em função das necessidades e da satisfação dos usuários; VI. Ter caráter voluntário para a adesão tanto das equipes quanto dos gestores do SUS, partindo do pressuposto de que o seu êxito depende da motivação e proatividade dos atores envolvidos. Respostas: 1. Alternativa “A” - Fornecer padrões de boas práticas e organização das unidades básicas de saúde que norteiem a melhoria da qualidade da atenção básica. 101 Discursiva: I - Autoavaliação, a ser feita pela equipe de saúde da atenção básica a partir de instrumentos ofertados pelo PMAQ-AB ou outros definidos e pactuados pelo Município, Estado ou Região de Saúde; II - Monitoramento, a ser realizado pelas equipes de saúde da atenção básica, pela Secretaria Municipal de Saúde e pela Secretaria de Estado da Saúde do Distrito Federal, pela Secretaria de Estado da Saúde e pelo Ministério da Saúde em parceria com as Comissões Intergestores Regionais a partir dos indicadores de saúde contratualizados na Fase 1 do PMAQ-AB; III - Educação permanente, por meio de ações dos gestores municipais, do Distrito Federal, estaduais e federal, considerando-se as necessidades de educação permanente das equipes, pactuadas nas Comissões Intergestores Regionais e nas Comissões Intergestores Bipartite; e IV - Apoio institucional, a partir de estratégia de suporte às equipes de saúde da atenção básica pelos Municípios e à gestão municipal pelas Secretarias de Estadoda Saúde, Conselho de Secretarias Municipais de Saúde (COSEMS) e Comissões Intergestores Regionais, com auxílio do Ministério da Saúde. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria no 1.654, de 19 de julho de 2011. Institui, no âmbito do Sistema Único de Saúde, o Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ AB) e o Incentivo Financeiro do PMAQ AB, denominado Componente de Qualidade do Piso de Atenção Básica Variável - PAB Variável. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ): Documento síntese da Avaliação Externa do Programa de Melhoria do Acesso e da Qualidade na Atenção Básica. Brasília: DF, 2012. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ): manual instrutivo / Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. – Brasília: Ministério da Saúde, 2017. Giovanella et al. Saúde da família: limites e possibilidades para uma abordagem integral de atenção primária à saúde no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 14(3):783-794, 2009. Fausto et al. Rotas da Atenção Básica no Brasil: experiências do trabalho de campo PMAQ AB / organizadores: Márcia Cristina Rodrigues Fausto; Helena Maria Seidl Fonseca. – Rio de Janeiro, RJ: Saberes Editora, 2013. OMS - Organização Mundial de Saúde. Atenção Primária em Saúde. Agora mais do que nunca. Relatório Mundial de Saúde 2008. Genebra: OMS, 2008. Starfield B. Atenção Primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia. Brasília: Unesco/ Ministério da Saúde; 2002. Pereira AC; Guerra LC; Cavalcante DFB; Meneghim MC (organizadores). Gestão pública em saúde: fundamentos e práticas. Águas de São Pedro: Livronovo, 2015. 102 UNIDADE III CAPÍTULO 9 - DOENÇAS CRÔNICAS: FATORES DE RISCO E AÇÕES ESTRATÉGICAS No término deste capítulo, você deverá saber: ✓ Tabaco e Álcool; ✓ Alimentação adequada e saúde, práticas corporais e atividade física; ✓ Violência e Acidentes; ✓ Poluição ambiental; ✓ Doenças cardiovasculares; ✓ Diabetes Mellitus; ✓ Doenças respiratórias; ✓ Neoplasias. Introdução Responsáveis por elevado número de mortes prematuras, perda de qualidade de vida (com alto grau de limitação e incapacidade para as atividades de vida diária), além de impactos econômicos nas famílias, comunidades e na sociedade em geral, as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) estão entre os maiores problemas de saúde pública. DCNT são doenças multifatoriais, ou seja, causadas por múltiplos fatores que se desenvolvem no decorrer da vida e são de longa duração. Existem quatro principais DCNT: doenças cardiovasculares, doenças respiratórias crônicas, neoplasias e diabetes mellitus. Essas doenças possuem fatores de risco comuns e modificáveis: tabagismo, alimentação não saudável, sedentarismo e uso abusivo de tabaco e álcool. Estudaremos ações estratégias para a promoção da saúde, prevenção e cuidado das DCNT. O excesso de peso e a obesidade em adultos também estão aumentando em quase todas as regiões e países, com 1,9 bilhão de pessoas acima do peso em 2016, das quais 650 milhões (13% da população mundial) são obesos (WHO, 2020). 9.1 Tabaco e álcool As ações estratégicas de controle dos fatores de risco, que se relacionam com o uso de tabaco e álcool, são: 103 Promoção da saúde Apoiar e lançar campanhas pela proibição total da propaganda de cigarros, incluindo: exposição para venda, a adoção de embalagens padronizadas e a comercialização, importação e propaganda dos dispositivos eletrônicos para fumar, incluindo o tabaco aquecido; Apoiar e articular ações, no âmbito do Programa Nacional de Controle do Tabagismo, que englobam estratégias de comunicação, produção de materiais, capacitações presenciais ou à distância com ênfase nos fatores de proteção e dirigidas a populações em situação de iniquidade em saúde e em áreas remotas; Articular e promover subsídios técnico-científicos e políticos para iniciativas legais que visem aplicar proibições ou restrições abrangentes à publicidade, ao patrocínio e à promoção comercial de bebidas alcoólicas; Articular com o Ministério da Justiça e Segurança Pública proposta de Lei para regulação da disponibilidade e do consumo de álcool em eventos de massa, públicos ou privados; Apoiar a aplicação da Lei 13.106/2015 altera o artigo 243 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA – Lei 8.069/90) que criminaliza a venda, o fornecimento, a ação de servir, ministrar ou entregar bebidas alcoólicas, ainda que gratuitamente, a menores de 18 anos; Elaborar, mapear e divulgar estratégias de promoção da saúde e prevenção do uso nocivo do álcool na população indígena; Desenvolver campanhas de mídia nacional sobre uso de álcool e direção, uso de álcool no trabalho e emprego, medidas de proteção e divulgação dos serviços de saúde disponíveis para o apoio à prevenção e à cessação do consumo; Fortalecer a articulação entre as redes de atenção à saúde e as redes de proteção social, promovendo e qualificando ações voltadas para as pessoas e seus familiares que sofrem os impactos do uso abusivo do álcool, principalmente nas populações em situação de iniquidade; Desenvolver estudos para recomendar restrição da exposição e do horário de venda de bebidas alcoólicas em estabelecimentos comerciais. Atenção Integral à Saúde Desenvolver estratégias junto às Secretarias de Saúde estaduais, do Distrito Federal e dos municípios para inclusão de procedimentos e ações de prevenção do uso do tabaco nas respectivas carteiras de serviços da Atenção Primária em Saúde; Realizar ações integradas com a assistência farmacêutica no cuidado das pessoas tabagistas, com vistas a garantir e ampliar acesso a programas de cessação do tabagismo, insumos estratégicos e medicamentos; Disponibilizar materiais e estratégias para o fortalecimento do controle de tabagismo nas ações desenvolvidas pelos profissionais da APS e da vigilância no território, com enfoque no público escolar, especialmente em escolas com maioria dos estudantes beneficiários de programas de transferência de renda do Governo Federal, e grupos vulneráveis; Ampliar o número de habilitações das ações voltadas para a população indígena a serem desenvolvidas pelos CAPS nas Regiões de Saúde responsáveis pelo cuidado dessa população, garantindo acesso e referência dos povos indígenas à Rede de Atenção Psicossocial; Fortalecer a rede de saúde mental com envolvimento da sociedade civil organizada e a implantação de serviços de prevenção, detecção precoce, tratamento e atenção aos transtornos por consumo de álcool 104 (causas plenamente atribuíveis) com protocolo para medidas breves além de apoio e tratamento aos familiares afetados na APS; Coordenar ações de indução da política de atenção psicossocial focadas nas abordagens breves na Atenção Primária à Saúde, com ênfase nos transtornos mentais mais frequentes, eventos agudos, dependência e abuso de álcool e manejo apropriado da cronicidade; Desenvolver ações de advocacy junto às Secretarias de Saúde estaduais, do Distrito Federal e dos municípios para inclusão de procedimentos e ações de prevenção do uso do álcool nas respectivas carteiras de serviços da Atenção Primária em Saúde; Qualificar as equipes do Consultório na Rua no cuidado à saúde mental e prevenção do uso prejudicial de álcool para a população em situação de rua; Fortalecer por meio de educação permanente e aportes financeiros para desenvolvimento de iniciativas nas redes de saúde e nos Distritos Sanitários Indígenas a detecção, prevenção e cuidado dirigidos aos indígenas usuários e potenciais usuários de álcool e seus familiares visando a cessação, redução e fim da ingestão precoce em todo ciclode vida. Vigilância em Saúde Qualificar a disponibilidade de informações no SINAN sobre quesitos de equidade e renda em relação aos agravos decorrentes do consumo de álcool; Apoiar com estudos e iniciativas integradas e intersetoriais a aplicação da Lei Seca, especialmente na relação entre uso de álcool e direção; Estabelecer marcos eficazes para as atividades de vigilância e monitoramento do consumo de bebidas alcoólicas com inquéritos nacionais periódicos e sistemas nacionais com informações de morbimortalidade e um plano de troca de informação e divulgação de informações; Monitorar anualmente a prevalência de fumantes na população adulta; Desenvolver estudos para apoiar a implementação da proibição de aditivos de aroma e sabor em cigarros. Prevenção de Doenças e Agravos à Saúde Fortalecer a abordagem familiar na atenção primária à saúde, desenvolvendo linhas de cuidado e ações de prevenção que abordem riscos e consequências decorrentes do consumo abusivo de álcool; Articular com o Ministério da Educação, Conselho Nacional de Educação e representação das Instituições de Ensino Superior, públicas e privadas, a inclusão na grade curricular dos cursos de saúde de disciplinas que abordem conhecimentos sobre a prevenção e cuidado aos usuários de álcool e outras drogas, e, nos cursos de licenciatura, disciplinas que abordem os determinantes e condicionantes sociais do consumo do álcool e outras drogas, relação com violências, detecção precoce do consumo e suporte para medidas de apoio articuladas e complementares aos serviços de saúde; Estimular o desenvolvimento de ambientes saudáveis no trabalho, na escola, na comunidade e nos serviços de saúde no âmbito do SUS por meio do incentivo à implementação de "ambientes livres do tabaco". Fonte: Adaptado de https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/plano_acoes_enfrent_dcnt_2011.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/plano_acoes_enfrent_dcnt_2011.pdf 105 Além da relação do álcool com as DCNT, evidências indicam a importante contribuição negativa do álcool na ocorrência de lesões intencionais e não intencionais, como acidentes de trânsito, quedas, afogamentos, intoxicações, violência interpessoal e autoprovocada. Advocacy é utilizado como sinônimo de defesa e argumentação em favor de uma causa. É um processo de reivindicação de direitos que tem por objetivo influir na formulação e implementação de políticas públicas que atendam às necessidades da população (Disponível em: https://www.politize.com.br/advocacy-o-que-e/). 9.2 Alimentação adequada e saúde / práticas corporais e atividade física As ações estratégicas de controle dos fatores de risco, que se relacionam com a alimentação adequada e práticas corporais de atividade física, objetivam estimular o desenvolvimento de ambientes saudáveis no trabalho, na escola, na comunidade, e serviços de saúde no âmbito do SUS. Promoção da saúde Promoção de ações da alimentação saudável e adequada segundo o Guia Alimentar para a População Brasileira; Implementação de ambientes alimentares saudáveis, especialmente na escola, para contribuir com a redução do consumo de alimentos ultraprocessados e obesidade na primeira infância e adolescência; Articulação de estratégias para ampliação da produção e oferta de alimentos in natura e minimamente processados; Implementação de ambientes saudáveis, especialmente na escola, para contribuir com o aumento da atividade física e redução do comportamento sedentário; Implementar guias para promoção da alimentação saudável conforme condições de saúde e ciclos de vida; Fortalecer ações de apoio ao aleitamento materno e alimentação complementar adequada, sustentadas pela Política Nacional de Alimentação e Nutrição, Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança; Promover subsídios para apoiar a elaboração de medidas regulatórias e fiscais para reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados ricos em sódio, gorduras e ou açúcar; https://www.politize.com.br/advocacy-o-que-e/ 106 Incentivar e apoiar iniciativas estaduais e municipais de regulação de cantinas escolares e outras estratégias de promoção da alimentação adequada e saudável; Incentivar e apoiar iniciativas estaduais e municipais de amamentação exclusiva até os 6 (seis) meses; Desenvolver estratégias voltadas à redução do consumo de sal e açúcar adicionados; Incentivar e ofertar subsídios técnicos para a regulação de cantinas escolares volta à alimentação adequada e saudável dos estudantes; Subsidiar setores responsáveis com informações sobre a importância e ganhos para a saúde da população com implantação de espaços de lazer como praças, parques (áreas verdes urbanas) e áreas livres com estrutura para prática de atividade física com acesso à água potável; Promover articulação para o aumento da quilometragem de ciclovias nas capitais e nos grandes municípios brasileiros; Estimular o desenvolvimento de ambientes saudáveis no trabalho, na escola, na comunidade e serviços de saúde no âmbito do SUS por meio da oferta de serviços voltados à prática de atividade física e do lazer; Articular com a sociedade civil e terceiro setor projetos de baixo custo, fácil aplicação e alta efetividade voltadas à promoção da saúde, da saúde mental e da prevenção das Doenças Crônicas não Transmissíveis para os trabalhadores e empregadores, englobando mudanças de comportamento e do ambiente; Implementar guia para a promoção da atividade física conforme as condições de saúde e os ciclos de vida; Articular com o MEC a garantia da Educação Física escolar na educação básica da rede pública de ensino, a ampliação do número de escolas com estruturas e equipamentos para a prática de esporte, o fortalecimento de competições esportivas escolares locais, regionais e nacionais e a prática de esportes nas escolas em tempo integral. Atenção Integral à Saúde Expandir a implementação na APS e adaptar a Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil para populações indígenas e outras populações em situação de iniquidade em saúde; Elaborar subsídios, por meio de protocolos clínicos, para as intervenções não farmacológicas para controle da obesidade, no que se refere ao controle do ganho de peso, consumo alimentar, atividade física na APS; Implementar a linha de cuidado das pessoas com sobrepeso e obesidade e demais estratégias que induzam à organização do processo de trabalho na Rede de Saúde coordenado pela APS; Qualificar o cuidado voltado à criança com obesidade infantil por meio da elaboração de protocolos clínicos de manejo, qualificação profissional e implementação de medidas efetivas de prevenção e controle na APS e outras ações intersetoriais, com destaque para a parceria com a educação; Desenvolver e ofertar iniciativas de educação permanente para instrumentalizar os profissionais da APS para o aconselhamento dos usuários para a prática de Atividade Física e benefícios à saúde; Realizar iniciativas de educação permanente para os profissionais da APS para construir competências no desenvolvimento de atividades físicas adaptadas como componentes do cuidado para idosos, pessoas com deficiências e com transtornos psíquicos. 107 Vigilância em Saúde Aumentar cobertura de Vigilância Alimentar e Nutricional na APS; Elaborar indicadores para a obesidade propondo o monitoramento da redução em crianças de 0 a 10 anos e deter o aumento em adultos; Monitorar regularmente os indicadores de alimentação e nutrição por meio de sistemas de informação em saúde, estudos e inquéritos populacionais; Subsidiar gestores públicos, mercado e terceiro setor à tomada de decisão, desenho e implantação de iniciativas para a promoção da atividade física e práticas corporais na população; Monitorar anualmente a prevalência de atividade física na população adulta brasileira e propor ações de aumento gradativo. Prevenção de Doenças e Agravos à Saúde Desenvolver campanhas voltadas à redução doconsumo de sal e açúcar adicionados livremente; Implementar medidas para prevenção da obesidade infantil na Atenção Primária à Saúde e no âmbito escolar; Construir subsídios para a implementação de programas de incentivo à atividade Física e redução do comportamento sedentário no trabalho nos setores público e privado; Realizar campanhas nacionais sobre a prática de atividade física e a redução do comportamento sedentário, ambientes saudáveis e a relação com as mudanças climáticas. Fonte: Adaptado de https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/plano_acoes_enfrent_dcnt_2011.pdf Acesso o Plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no Brasil 2011-2022. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/plano_acoes_enfrent_dcnt_2011.pdf 9.3 Violência e acidentes É evidente o aumento na expectativa de vida da população brasileira. Esse aumento é resultado dos avanços da medicina e melhoria na qualidade de vida. Entretanto, as causas externas passaram a constituir um grave problema de saúde pública pela alta morbimortalidade, elevando os custos para a saúde, os anos potenciais de vida perdidos e os impactos para o indivíduo, sua família e sociedade. A violência urbana gera grande pressão sobre os sistemas de saúde, justiça e serviços sociais e se constitui em um desafio pelos efeitos físicos e emocionais que produz nas vítimas e familiares. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/plano_acoes_enfrent_dcnt_2011.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/plano_acoes_enfrent_dcnt_2011.pdf 108 As ações estratégicas de controle dos fatores de risco, que contribuem para a redução da violência e acidentes, são: Promoção da saúde Realizar ações de advocacy junto aos Conselhos de Saúde e Frente Nacional de Prefeitos para fortalecimento da pauta sobre violência urbana e promoção da cultura da paz na gestão pública. Qualificar e apoiar as equipes de APS em ações intersetoriais de enfrentamento à violência doméstica, com atenção às populações em situação de vulnerabilidade e/ou iniquidade e questões referentes à diversidade, determinantes sociais e contexto cultural. Fomentar a inclusão no processo de produção de cuidado desenvolvido pelos profissionais da APS abordagens para promoção da cultura de paz envolvendo os ciclos de vida. Elaborar, em conjunto com Secretarias de Saúde estaduais e do Distrito Federal, planejamento de publicações locais sobre temáticas de suicídio e automutilação contemplando os ciclos de vida. Fomentar e apoiar iniciativas intersetoriais entre governo, mercado e sociedade civil que priorizem a segurança viária, transporte e trânsito seguros, sinalização, proteção das rodovias, na perspectiva de sistemas seguros, incluindo a especificação de segurança na aquisição de veículos de passeio, transporte de carga e de passageiros. Implementar estratégias de formação dos profissionais de saúde, da educação e de pessoas da comunidade para a prevenção de acidentes de crianças e idosos considerando intervenções em comportamentos e em ambientes – abertos (ruas, parques, praças e afins) e fechados (casa, escola, unidades de saúde e afins) – e mobilidades (deslocamentos). Atenção Integral à Saúde Desenvolver ações de advocacy junto às Secretarias de Saúde estaduais, do Distrito Federal e dos municípios para inclusão de procedimentos e ações de prevenção de violências nas respectivas carteiras de serviços da Atenção Primária em Saúde. Revisar e fortalecer diretrizes clínicas e fomentar a implementação de linhas de cuidado para pessoas em situação de violência e ideação de suicídio contemplando os ciclos de vida. Implantar no SUS uma linha de cuidado para as vítimas de acidentes (escalpelamento, queimaduras, ingestão de substâncias tóxicas, afogamento e sufocamento por corpo estranho) com elaboração de protocolos e notificações obrigatória para agravos por escalpelamento. Vigilância em Saúde Subsidiar e apoiar a implantação de Núcleos de Prevenção de Violências como estratégia da saúde, incluindo os DSEI, para a construção de redes, organização de ações e serviços de prevenção e cuidado às vítimas e aos agressores. Qualificar a disponibilidade de informações no SINAN sobre quesitos de equidade (raça/cor, identidade de gênero e orientação sexual; comunidades tradicionais, população de rua e demais dados complementares) em relação aos agravos decorrentes de Violência Interpessoal e Autoprovocada. Monitorar os casos e óbitos por intoxicações exógenas por agrotóxicos, metais pesados, produtos de uso domiciliar, produtos químicos, raticidas e produtos veterinários com verificação de relações com as violências autoprovocadas. 109 Incluir os DSEI como unidade notificadora de violência interpessoal e autoprovocada no Sistema do SINAN. Destinar incentivos financeiros para o desenvolvimento de pesquisas sobre violência, vitimização, suicídio e vulnerabilidades relacionadas a estes agravos. Criar o Programa Vida no Trânsito (PVT) e promover sua expansão no país. Implantar o sistema de Vigilância do Trauma. Sistematizar e disponibilizar aos Estados, ao Distrito Federal e aos municípios estudos e recomendações com comprovada efetividade de medidas voltadas à prevenção e redução e acidentes de trânsito nas cidades, englobando zonas urbana e rural. Prevenção de Doenças e Agravos à Saúde Desenvolver e implantar programa de formação dos profissionais de saúde dos DSEI para abordagem, prevenção e cuidado dos indígenas em situação de violência. Elaborar e disponibilizar para a rede de ensino itinerário formativo para o Ensino Médio sobre violência e cultura de paz. Articular com o Ministério da Educação, Conselho Nacional de Educação e representação das Instituições de Ensino Superior públicas e privadas a inclusão na grade curricular dos cursos de saúde de disciplinas que abordem conhecimentos sobre a prevenção e cuidado às vítimas de violência e tentativas de suicídio, e, nos cursos de licenciatura, disciplinas que abordem os determinantes e condicionantes sociais das violências, incluindo as autoprovocadas, detecção de situações e procedimentos de proteção às vítimas. Fomentar na Vigilância em Saúde e Atenção Primária à Saúde ações intra- e intersetoriais de prevenção de violência contra as mulheres, crianças, adolescentes e idosos e demais populações vulneráveis, observando-se as diversidades, contextos socioeconômicos, culturais e determinantes sociais e promovendo habilidades sociais e comunitárias para lidar com conflitos, tais como resiliência, comunicação não-violenta e fortalecimento de vínculos. Desenvolver e implementar metodologias e estratégias para a população de educação e comunicação de risco sobre os agravos decorrentes da exposição humana aos contaminantes ambientais, em especial, os agrotóxicos e a poluição do ar. Desenvolver campanha nacional de mídia sobre a prevenção de acidentes com maior incidência na população incluindo todo o ciclo de vida e observando os tipos de acidentes mais frequentes nas regiões de saúde. Fonte: Adaptado de https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/plano_acoes_enfrent_dcnt_2011.pdf 9.4 Poluição ambiental O impacto da poluição do ar em faixas etárias menores é significativo. Embora não seja a única causa de internações, contribui para que elas ocorram em todo o país. As ações estratégicas de controle dos fatores de risco, que contribuem para a redução da poluição ambiental incluem: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/plano_acoes_enfrent_dcnt_2011.pdf 110 Promoção da saúde Subsidiar os ministérios do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Regional, setor privado e sociedade civil para o desenvolvimento de programas nacionais relacionados ao meio ambiente, energia limpa, cidades e sustentabilidade, acesso a água potável voltados à saúde das populações. Realizar advocacy junto às instâncias federais de consulta e decisão nas políticasrelacionadas ao meio ambiente, alimentação, esporte, cultura, educação e afins sobre a importância da qualidade do ar e a relação com a mortalidade precoce. Articular intersetorialmente para fortalecer iniciativas de mobilidade ativa, saudável e sustentável nos estados e municípios e promover a interlocução de modos de deslocamento para o deslocamento seguro e sustentável. Articular com setores dos governos federal, estadual, municipal e do Distrito Federal a inclusão de pontos voltados às calçadas saudáveis, mobilidades segura, saudável e sustentável, sinalização inteligente e espaços de lazer arborizados nas diretrizes de elaboração dos Planos Diretores das Cidades. Apoiar e subsidiar iniciativas de construção de áreas verdes e demais equipamentos de lazer longe de polos industriais, vias de tráfegos pesados e áreas de queimadas. Atenção Integral à Saúde Implementar estratégias de formação dos profissionais de saúde da APS para a detecção precoce de fatores de risco para as doenças respiratórias e desenho de iniciativas para a sua redução individual e coletiva no território, envolvendo o ciclo de vida. Vigilância em Saúde Fortalecer a implementação das normas nacionais e locais de controle da qualidade do ar nos estados, Distrito Federal e municípios, visando o estabelecimento de ambientes saudáveis e sustentáveis nas cidades e no campo. Monitorar a mortalidade por DCNT atribuída à poluição do ar, com ênfase em grupos vulneráveis, especialmente os idosos. Fortalecer o VIGIAR na perspectiva de prevenção de DCNT e promoção de territórios saudáveis. Promover articulação intersetorial para a implantação de mecanismos de informação sobre a qualidade do ar em locais estratégicos nas áreas urbanas. Promover articulação local para inserção de ações de vigilância em saúde e qualidade do ar nos instrumentos de planejamento e gestão do SUS. 111 Prevenção de Doenças e Agravos à Saúde Fomentar abordagens relacionadas aos riscos do uso doméstico de querosene, madeira e carvão em fogões e aquecedores, observando a cultura de comunidades rurais ou a condição de grupos em situação de vulnerabilidade pela APS e vigilância em saúde. Realizar campanha nacional sobre a qualidade do ar e sua importância para a saúde e prevenção das doenças crônicas. Fonte: Adaptado de https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/plano_acoes_enfrent_dcnt_2011.pdf Investigue sobre o Vigiar – A Vigilância em Saúde Ambiental relacionada a populações expostas ao ar contaminado. 9.5 Doenças cardiovasculares As doenças cardiovasculares são a principal causa de morbimortalidade no Brasil e no mundo, destacando-se: • Acidentes vasculares encefálicos; • Doenças coronarianas; • Hipertensão arterial sistêmica. No Plano de Enfrentamento das DCNT, são apresentadas diversas ações que visam à promoção da saúde, à prevenção e ao controle dessas doenças. O custo social do tratamento da hipertensão arterial é extremamente elevado e ela apresenta alta prevalência no Brasil e no mundo. É caracterizada como um importante fator de risco, sendo a causa mais frequente das demais doenças do aparelho circulatório. Além disso, a hipertensão está, ainda, associada às demais doenças e condições crônicas, tais como doença renal crônica, diabetes, entre outras. Essa associação com outras doenças resulta em perda da qualidade de vida, letalidade precoce, altos custos sociais e do sistema de saúde. É prioridade o manejo adequado da hipertensão arterial e requer ações articuladas nos três eixos em que está desenhado o presente Plano: a vigilância da hipertensão, das comorbidades e de seus determinantes; a integralidade do cuidado; e a promoção da saúde. O investimento em educação e a mobilização social potencializam e qualificam o autocuidado e a construção de hábitos saudáveis. As ações estratégias para a promoção da saúde, prevenção e cuidado relacionado às doenças cardiovasculares estão listadas abaixo: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/plano_acoes_enfrent_dcnt_2011.pdf 112 Promoção da Saúde Promover articulações intersetoriais para a implantação nacional de iniciativas articuladas com os serviços públicos de saúde, segurança pública, educação, meio ambiente e assistência social, mercado e o terceiro setor para aumento da prática de atividade física, consumo de alimentos saudáveis, redução do tabagismo e consumo de álcool na população. Atenção Integral à Saúde Fomentar a implantação da meditação pelas equipes de APS visando o controle da pressão arterial no grupo de hipertensos. Aumentar a cobertura na APS de serviços de identificação, manejo e acompanhamento da pessoa com Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) e com dificuldade de acuidade visual. Aumentar a cobertura da APS de serviços de detecção, acompanhamento e controle de HAS em adultos assintomáticos. Implantar protocolos para tratamentos e facilitação de transferência e transporte dos portadores de síndrome coronariana aguda e acidente vascular encefálico. Qualificar os profissionais do atendimento pré-hospitalar, de urgência e de emergência para identificação vascular encefálico (AVE) e infarto agudo do miocárdio (IAM). Divulgar para a população conhecimentos referentes à identificação precoce do IAM e AVE. Vigilância em Saúde Monitoramento da Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) nos diferentes níveis de atenção do SUS. Prevenção de Doenças e Agravos à Saúde Aumentar na APS a cobertura de serviços de rastreamento e identificação de risco cardiovascular global (RCVG) visando à realização de escore para estratificação de risco cardiovascular. Fonte: Adaptado de https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/plano_acoes_enfrent_dcnt_2011.pdf 9.6 Diabetes Mellitus Intervenções plausíveis e custo-efetivas para as pessoas com diabetes, o controle da glicemia, da pressão arterial e os cuidados com os pés, segundo a OMS contribui com a redução dos custos e melhora da saúde. A distribuição gratuita de medicamentos e o aperfeiçoamento do diagnóstico e do tratamento na Atenção Básica, por meio da implantação de normas orientando o cuidado ao portador de diabetes, são parte do Plano Nacional de Reorganização da Atenção à Hipertensão e ao Diabetes Mellitus. As ações estratégias para a promoção da saúde, prevenção e cuidado relacionado ao Diabetes Mellitus (DM), estão listadas abaixo: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/plano_acoes_enfrent_dcnt_2011.pdf 113 Promoção da Saúde Estimular e apoiar a implementação de medidas intersetoriais locais voltada a redução do consumo de alimentos ultraprocessados e do tabagismo e aumento da prática de atividade física relacionadas à promoção da saúde. Atenção Integral à Saúde Aumentar a cobertura na APS de serviços de identificação, manejo e acompanhamento da pessoa com diabetes mellitus (DM) e com dificuldade na acuidade visual. Aumentar a cobertura da APS de serviços de identificação, manejo e acompanhamento e controle de diabetes mellitus tipo 2 em adultos assintomáticos. Garantir cuidados preventivos com os pés para pessoas com diabetes, incluindo educação em saúde, autocuidado e acesso a calçados adequados. Garantir triagem de retinopatia diabética para todos os pacientes com diabetes e fotocoagulação a laser para prevenção da cegueira. Promover na APS o controle glicêmico eficaz para pessoas com diabetes em conjunto com monitoramento doméstico padrão de glicose para pessoas tratadas com insulina para reduzir as complicações do diabetes. Elaborar estratégias para implantação de serviços de tratamento para controle do Diabetes abrangendo controle do peso, padrão alimentar, promoção de atividade física, redução do consumo de açúcar livre e do açúcar contido nos alimentos e uso racional e adequado de medicamentos na APS e CAPS. Vigilância em Saúde Elaborar a proposta de monitoramento de Diabetes Mellitus (DM) nos diferentesníveis de atenção do SUS. Prevenção de Doenças e Agravos à Saúde Fortalecer projetos terapêuticos para pessoas com Diabetes Mellitus abrangendo iniciativas na APS sobre atividade física, alimentação saudável, cessação do uso de tabaco e derivados e autocuidado. Fonte: Adaptado de https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/plano_acoes_enfrent_dcnt_2011.pdf 9.7 Doenças respiratórias O controle do tabagismo é o maior sucesso na prevenção da doença respiratória crônica, o que inclui advertências com fotos ilustrativas nos maços de cigarro, restrição de propaganda, programa gratuito de apoio à cessão do tabagismo e legislação para ambientes livres de cigarro. Ainda assim, outros avanços se fazem necessários, como por exemplo, o aumento do preço dos cigarros. Em relação à assistência farmacêutica, esteroides inalatórios e outros medicamentos para o tratamento das doenças respiratórias crônicas constam da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME), entre eles salbutamol, ipratrópio, prednisolona, prednisona, entre outros, além de antibióticos, para o caso de infecção associada, que estão incluídos no componente básico da assistência farmacêutica, sendo disponibilizados nas unidades básicas de saúde do SUS. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/plano_acoes_enfrent_dcnt_2011.pdf 114 As principais doenças respiratórias crônicas incluídas neste arcabouço são asma e as doenças pulmonares obstrutivas crônicas (DPOC), que incluem bronquite crônica, bronquiolite obstrutiva e enfisema pulmonar. As ações estratégias para a promoção da saúde, prevenção e cuidado relacionado às doenças respiratórias crônicas estão listadas abaixo: Promoção da Saúde Promover articulações intersetoriais para a criação e viabilização de alternativas para o uso de combustíveis sólidos para energia doméstica. Promover iniciativas intersetoriais que impactem na redução da influência de agentes ambientais nas causas e agravamentos das Doenças Respiratórias Crônicas (DRC). Atenção Integral à Saúde Garantir nas Unidades Básicas de Saúde esteroides inalatórios e outros medicamentos que constam na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) para o tratamento das doenças respiratórias crônicas e de antibióticos no caso de infecção associadas, que estão incluídos no componente básico da assistência farmacêutica. Aumentar na ASP a cobertura de serviços de manejo de Asma e Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). Promover ações de educação permanente para a construção de habilidades e competências dos profissionais da APS na prevenção e no manejo de doenças crônicas respiratórias mais prevalentes: asma, DPOC, tosse crônica, apneia obstrutiva do sono, dispneia, nódulos pulmonares. Vigilância em Saúde Monitorar a mortalidade por DRC, com atenção à faixa etária de 50 a 69 anos. Realizar pesquisas sobre a prevalência das DRC na população acima de 18 anos e mais. Subsidiar a elaboração e aplicação e promover o monitoramento de padrões e medidas para diminuição da poluição do ar em ambientes internos (Qualidade Interna do Ar). Prevenção de Doenças e Agravos à Saúde Desenvolver ações de educação em saúde sobre problemas provocados pelo uso de combustíveis sólidos para energia doméstica, o tabagismo e o fumo passivo em relação às DRC. Fonte: Adaptado de https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/plano_acoes_enfrent_dcnt_2011.pdf 9.8 Neoplasias As intervenções relacionadas ao câncer envolvem prevenção primária, detecção precoce, tratamento e cuidados paliativos. O diagnóstico precoce é estimulado por políticas de alerta para os primeiros sinais e sintomas e pode resultar em melhora da sobrevida, para os cânceres de mama, do colo do útero, de pele, de cavidade https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/plano_acoes_enfrent_dcnt_2011.pdf 115 oral, colorretal, entre outros, especialmente em regiões onde a detecção do câncer costuma ser tardia. As ações estratégias para a promoção da saúde, prevenção e cuidado relacionado às neoplasias, estão listadas abaixo: Promoção da Saúde Promover articulações intersetoriais para a criação e viabilização de alternativas para o uso de combustíveis sólidos para energia doméstica. Promover iniciativas intersetoriais que impactem na redução da influência de agentes ambientais nas causas e agravamentos das Doenças Respiratórias Crônicas (DRC). Atenção Integral à Saúde Aperfeiçoar o rastreamento do câncer do colo do útero e evoluir do modelo oportunístico para o modelo organizado, com garantia de confirmação diagnóstica, tratamento de lesões precursoras e referência dos casos confirmados de câncer para o nível terciário. Desenvolver e/ou fortalecer a infraestrutura do sistema de saúde, particularmente relacionada à recursos para a saúde, a fim de criar capacidade adequada para a implementação eficaz de programas de prevenção e controle do câncer, incluindo os sistemas de Registro de Câncer de Base Populacional (RCBP) e Registros Hospitalares de Câncer (RHC). Implementar linhas de cuidado e demais estratégias que induzam a organização do processo de trabalho na APS para a detecção precoce dos cânceres de mama e de colo de útero. Vigilância em Saúde Realizar/incentivar a pesquisa baseada em evidências e/ou inquéritos populacionais, necessária para aumentar o conhecimento sobre o câncer e seus fatores de risco. Desenvolver e atualizar programas nacionais de controle do câncer, adaptados ao contexto socioeconômico e destinados a reduzir a incidência, prevalência e mortalidade por câncer. Implementação da vigilância do câncer por meio de um sistema nacional de notificação. Prevenção de Doenças e Agravos à Saúde Aumentar a cobertura vacinal de HPV em meninas com idade de 9 a 14 anos e para meninos com idade de 11 a 14 anos em articulação com as redes pública e particular de ensino. Fonte: Adaptado de https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/plano_acoes_enfrent_dcnt_2011.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/plano_acoes_enfrent_dcnt_2011.pdf 116 No território brasileiro é evidente o crescimento da preocupação com o excesso de peso e obesidade, em decorrência da proporção de adultos com excesso de peso que aumentou de forma progressiva em todos os inquéritos realizados. Refletindo na busca efetiva por ações que contribuam para a mudança deste cenário. Entre as ações pactuadas para promoção da saúde estão: 9.9 Considerações finais As ações que envolvem a promoção da saúde compreendem atividades voltadas a ajudarem pessoas a melhorarem os seus comportamentos não saudáveis ou de risco, geralmente por meio de atividades educativas tradicionais, e com pouca ênfase nos aspectos macros que determinam e condicionam os comportamentos e estilos de vida. Utilizam o conceito de promoção da saúde como o primeiro nível de aplicação de medidas preventivas para evitar-se o início e desenvolvimento das doenças em seu modelo de história natural. Por esse motivo, é o primeiro passo para fomentar 117 mudanças relacionadas às DCNT, a promoção da saúde representa um processo social e político abrangente, ela engloba não apenas ações voltadas a fortalecerem as habilidades e capacidades dos indivíduos, mas também as ações voltadas às mudanças nas condições sociais, ambientais e econômicas, de modo a aliviar a atenção integral à saúde. Percebe-se, portanto, que este importante pilar, juntamente com prevenção e cuidado, pode ser o fator primordial para adoção e conscientização da população em relação ao autocuidado e mudança no modo de vida. As ações estratégicas de controle dos fatores de risco, que se relacionam com o uso de tabaco e álcool envolvem apoio a campanhas pela proibição total da propaganda de cigarros; apoiar e articular ações, no âmbito do Programa Nacional de Controle do Tabagismo; elaborar, mapear e divulgar estratégias de promoção da saúde e prevençãodo uso nocivo do álcool na população indígena; desenvolver campanhas de mídia nacional sobre uso de álcool e direção, uso de álcool e trabalho e emprego, medidas de proteção e divulgação dos serviços de saúde disponíveis para o apoio à prevenção e cessação do consumo; fortalecer a articulação entre as redes de atenção à saúde e redes de proteção social; desenvolver estudos para recomendar a restrição da exposição e do horário de venda de bebidas alcoólicas em estabelecimentos comerciais. As ações estratégicas de controle dos fatores de risco, que se relacionam com a alimentação adequada e práticas corporais de atividade física, objetivam estimular o desenvolvimento de ambientes saudáveis no trabalho, na escola, na comunidade e nos serviços de saúde no âmbito do SUS. É evidente o aumento na expectativa de vida da população brasileira. Esse aumento é resultado dos avanços da medicina e melhoria na qualidade de vida. Entretanto, as causas externas passaram a constituir um grave problema de saúde pública pela alta morbimortalidade, elevando os custos para a saúde, os anos potenciais de vida perdidos e os impactos para o indivíduo, sua família e sociedade. A violência urbana gera grande pressão sobre os sistemas de saúde, justiça e serviços sociais e se constitui em um desafio pelos efeitos físicos e emocionais que produz nas vítimas e familiares. O impacto da poluição do ar em faixas etárias menores é significativo. Muito embora não seja a única causa de internações, contribui para que elas ocorram em todo o país. As doenças cardiovasculares são a principal causa de morbimortalidade no Brasil e no mundo, destacando-se os acidentes vasculares encefálicos, as doenças coronarianas e a hipertensão arterial sistêmica. No Plano de Enfrentamento das DCNT, são apresentadas diversas ações que visam à promoção da saúde, à prevenção e ao controle dessas doenças. O custo social do tratamento da hipertensão arterial é extremamente elevado e ela apresenta alta prevalência no Brasil e no mundo. É caracterizada como um importante fator de risco, sendo a causa mais frequente das demais doenças do aparelho circulatório. Além disso, a hipertensão está, ainda, associada às demais doenças e condições crônicas, tais como doença renal crônica, diabetes, entre outras. Essa associação com outras doenças resulta em perda da qualidade de vida, letalidade precoce e altos custos sociais e do sistema de saúde. É prioridade o manejo adequado da hipertensão arterial e requer ações articuladas nos três eixos em que está desenhado o presente Plano: a vigilância da hipertensão, das comorbidades e de seus determinantes; a integralidade do cuidado; e a promoção da saúde. O investimento em educação e a mobilização social potencializam e qualificam o autocuidado e a construção de hábitos saudáveis. Intervenções plausíveis e custo efetivas para as pessoas com diabetes, o controle da glicemia, da pressão arterial e os cuidados com os pés, segundo a OMS contribuem com a redução dos custos e melhora da saúde. 118 A distribuição gratuita de medicamentos e o aperfeiçoamento do diagnóstico e do tratamento na Atenção Básica por meio da implantação de normas orientando o cuidado ao portador de diabetes, são parte do Plano Nacional de Reorganização da Atenção à Hipertensão e ao Diabetes Mellitus. O controle do tabagismo é o maior sucesso na prevenção da doença respiratória crônica, o que inclui advertências com fotos ilustrativas nos maços de cigarro, restrição de propaganda, programa gratuito de apoio à cessão do tabagismo e legislação para ambientes livres de cigarro. Ainda assim, outros avanços se fazem necessários, como, por exemplo, o aumento do preço dos cigarros. As intervenções relacionadas ao câncer envolvem prevenção primária, detecção precoce, tratamento e cuidados paliativos. ENADE (2016) O Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT) no Brasil, 2011 a 2020, visa preparar o país para enfrentar e deter as DCNT, pois essas constituem problema de saúde pública. As ações do plano vêm resultando em melhora de parâmetros, exceto na contenção da obesidade, o que reforça a importância da manutenção do monitoramento do plano. Com base na leitura do texto acima e considerando as ações governamentais brasileiras para a promoção da saúde, avalie as afirmações a seguir. I. O Programa da Academia da Saúde visa promover práticas corporais e atividades físicas, alimentação saudável, modos saudáveis de vida, produção do cuidado, entre outros, por meio de ações culturalmente adaptadas aos locais em que está inserido. II. O Guia Alimentar para a Elaboração de Refeições Saudáveis em Eventos define recomendações gerais sobre a oferta, a composição de cardápio e a organização de serviços de alimentação no contexto dos eventos e reuniões promovidos por instituições públicas e privadas, garantindo a oferta de uma alimentação adequada e saudável. III. A publicação do Ministério da Saúde sobre os alimentos regionais brasileiros estimula a valorização da cultura alimentar brasileira e favorece o conhecimento, pela população, de vários alimentos, o que promove o desenvolvimento e a troca de habilidades culinárias. É correto o que se afirma em a) I, apenas. b) II, apenas. c) I e III, apenas. d) II e III, apenas. e) I, II e III. Resposta – Alternativa “e” - I, II e III. 119 1. O Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT) no Brasil 2011-2022 tem como objetivo prevenir e controlar seus fatores de risco e fortalecer os serviços de saúde voltados para a atenção aos portadores de doenças crônicas. Das alternativas apresentadas a seguir, qual apresenta um fator de risco para as DCNT? a) Doenças do aparelho circulatório. b) Câncer. c) Tabagismo. d) Doenças respiratórias crônicas. e) Diabetes Mellitus. Discursiva: A prevenção das doenças crônicas não transmissíveis engloba o combate aos fatores de risco. Qual é o fator considerado de maior risco para Hipertensão Arterial Sistêmica e Diabetes Mellitus? Plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no Brasil 2011-2022. O Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) no Brasil, 2011-2022, do Ministério da Saúde (MS), visa a preparar o Brasil para enfrentar e deter, nos próximos dez anos, as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), entre as quais: acidente vascular cerebral, infarto, hipertensão arterial, câncer, diabetes e doenças respiratórias crônicas. Vigitel é um sistema de monitoramento de fatores de risco e proteção de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) por meio de inquérito telefônico. Tem os objetivos de medir a prevalência de fatores de risco e proteção para doenças não transmissíveis na população brasileira e subsidiar ações de promoção da saúde e prevenção de doenças. 120 Respostas: 1. Alternativa “C” – Tabagismo Discursiva: O maior risco para Hipertensão Arterial Sistêmica e Diabetes Mellitus é o sedentarismo. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise de Situação de Saúde. Plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no Brasil 2011-2022 / Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise de Situação de Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2011. Ferreira, Arthur Pate de Souza, Szwarcwald, Célia Landmann e Damacena, Giseli Nogueira. Prevalência e fatores associados da obesidade na população brasileira: estudo com dados aferidos da Pesquisa Nacional de Saúde, 2013. Revista Brasileira de Epidemiologia [online]. 2019, v. 22 [Acessado 20 Junho 2021], e190024. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1980-549720190024>. Epub 01 Abr 2019. ISSN 1980-5497. https://doi.org/10.1590/1980-549720190024.WHO. Obesity and overweight. WHO. 2020. 121 UNIDADE III CAPÍTULO 10 - PRÉ-NATAL DE BAIXO RISCO E SAÚDE DA CRIANÇA No término deste capítulo, você deverá saber: ✓ Ciclo gravídico puerperal; ✓ Organização do processo assistencial; ✓ Rotinas de atenção pré-natal; ✓ Cuidado da gestante na Atenção Primária à Saúde; ✓ Atenção à mulher no puerpério; ✓ Recém-nascido; ✓ Monitorização do crescimento; ✓ Acompanhamento e Desenvolvimento. Introdução Um dos indicadores de qualidade da Atenção Primária à Saúde é o acesso ainda no primeiro trimestre gestacional ao cuidado de pré-natal e envolve toda a equipe de estratégia de saúde da família para a assistência integral à gestante. Esse início favorável ao cuidado pré-natal possibilita diagnóstico precoce de alterações e permite intervenção adequada sobre condições impactantes na saúde materna e da criança. Identificar o ambiente em que está inserida a mulher e a forma como a gravidez transforma este ambiente doméstico, familiar, de trabalho e as relações humanas pré- estabelecidas, possibilita abordar essa transformação de forma mais humanitária, pessoal e afetiva. Com isso, as estratégias de educação e cuidado em saúde terão maior adesão pela gestante e inclusão do pai e/ou parceiro, sendo este o desejo e consentimento da mulher. A abordagem da mulher grávida deverá ser feita de forma acolhedora, singular e integral. Orientando-a sobre a importância da realização do pré-natal e as questões de direitos sexuais, trabalhistas e sociais durante a gestação. Esse cuidado deve possibilitar o acompanhamento do desenvolvimento da criança, em todas as fases do crescimento. O vínculo e a captação de gestantes para início oportuno do pré-natal são essenciais para o diagnóstico precoce de alterações e para a realização de intervenções adequadas sobre condições que tornam vulneráveis a saúde da gestante e a da criança. 10.1 Ciclo gravídico puerperal Por ser considerado um fenômeno fisiológico, a evolução da gestação, ocorre geralmente, sem intercorrências. Parte da população adscrita de um território de saúde é constituído por mulheres em 122 idade fértil, com idade de 10 a 49 anos. Por tratar-se de um período amplo, inclui mulheres adolescentes e adultas, em diferentes situações de vida e em contextos culturais, familiares e sociais em constante mudança. O ciclo gravídico puerperal é uma circunstância na vida da mulher e ocorre após um período de fertilidade. Pode ser desejado e planejado ou surpreendendo de forma não prevista ou planejada. O cuidado na vida desta mulher deve ser contínuo e integral abrangendo o clico de vida: Outros aspectos importantes que contribuem para o conhecimento da mulher em idade fértil, com relação à gestação: • Contexto sociofamiliar e comunitário; • Vínculos afetivos e de apoio; • História reprodutiva, planejamento familiar, sexual e reprodutivo e expectativas com relação à maternidade; • Hábitos, comportamentos e estilos de vida, condições de trabalho e vacinação; • Capacidade de autocuidado, autonomia e decisão; • Situação de saúde, presença de condições crônicas e uso de medicamentos; • E vinculação com a equipe de saúde e acompanhamentos periódicos. O principal sintoma comumente identificado para a suspeita de gravidez é o atraso menstrual, sendo que outros também pode aparecer. Os sinais de certeza são: diagnóstico laboratorial, ausculta fetal, palpação de partes fetais no abdome materno e ultrassonografia. São responsabilidades do enfermeiro no atendimento à gestante: • Realizar consulta de pré-natal de baixo risco. • Solicitar exames de rotina e orienta tratamento conforme protocolo do serviço. • Registrar seu atendimento no prontuário e no cartão da gestante a cada consulta. • Encaminhar gestantes classificadas como de risco para consulta com o(a) médico(a). • Promover atividades educativas na unidade para as mulheres e seus familiares, reuniões de grupos de sala de espera etc. • Realizar coleta de exame colpocitológico. • Realizar visita domiciliar de acordo com a rotina da unidade. 123 10.2 Organização do processo assistencial Na Portaria da Rede Cegonha estão as principais diretrizes para organização do processo assistencial à gestante. A Rede de Atenção à Saúde deve fomentar a estrutura operacional entre os pontos de atenção, serviços de apoio e logísticos, com capacidade operacional para responder à necessidade de saúde da população-alvo. Além de dispor de uma equipe multiprofissional competente para o manejo dos usuários, em coerência com as evidências das diretrizes clínicas. Definir os fluxos e contrafluxos em tempos oportunos, com processos de vigilância e cuidado qualificados e um sistema de governança capaz de monitorar, avaliar e aprimorar continuamente a resposta oferecida à população. A unidade básica de saúde (UBS) deve ser a porta de entrada preferencial da gestante no sistema de saúde. É o ponto de atenção estratégico para melhor acolher suas necessidades, inclusive proporcionando um acompanhamento longitudinal e continuado, principalmente durante a gravidez. O Ministério da Saúde define dez passos para o Pré-Natal de Qualidade nas Redes de Atenção à Saúde: 124 Acesse o link para conhecer um modelo de protocolo assistencial à gestante. http://www.fmsc.rs.gov.br/wp-content/uploads/2019/10/PROTOCOLO-DE-PR%C3%89-NATAL-BAIXO- RISCO_APROVADO.pdf 10.3 Rotinas de atenção pré-natal Idealmente, a atenção pré-natal deve ser iniciada pelo profissional médico ou de enfermagem. A consulta é um contato que exige a prática de acolhimento para a gestante e seu acompanhante. Assim, deve haver disponibilidade para que sejam acolhidas e esclarecidas queixas, dúvidas e ansiedades, estimulando o “desejo de voltar” ou a adesão ao programa. A consulta completa é extremamente importante, representando uma oportunidade improrrogável de classificar riscos e adotar condutas efetivas. Deve ser composta de anamnese abrangente, com valorização do interrogatório complementar, seguida de exame físico geral e dos diversos aparelhos, incluindo exames ginecológico e mamário. Os retornos pré-natais devem ser adaptados às necessidades de cada caso. Assim que confirmada a gravidez o foco do acompanhamento na APS será o bem-estar da gestante, bebê e família, ações de promoção e prevenção de fatores de risco oportunistas e fortalecimento da capacidade do autocuidado. Paralelamente, a gestante precisa ser avaliada por uma equipe de saúde bucal. Um Plano de Autocuidado que contemple as etapas descritas abaixo deve ser elaborado de acordo com os seguintes requisitos: • Periodicidade: o Até a 28ª semana: mensal; o 28ª a 36ª semana: quinzenal; o 36ª a 40ª semana: semanal. • Alternar entre enfermeiro e médico da equipe; • Realização de atendimentos compartilhados em grupo e atividades educativas (grupos operativos, grupos de pares), envolvendo a equipe de SB e NASF; • Atuação interdisciplinar da equipe, com discussão de casos e elaboração de plano de cuidados integrado; • Avaliação clínica e sociofamiliar; • Identificação de intercorrências clínicas e obstétricas; • Exames laboratoriais de rotina; • Ultrassom obstétrico entre a 18ª e 22ª semanas; • Diagnóstico e tratamento das intercorrências clínicas; • Estratificação de risco evolutiva; • Vacinação; • Prescrição de ácido fólico e sulfato ferroso preventivos; http://www.fmsc.rs.gov.br/wp-content/uploads/2019/10/PROTOCOLO-DE-PR%C3%89-NATAL-BAIXO-RISCO_APROVADO.pdf http://www.fmsc.rs.gov.br/wp-content/uploads/2019/10/PROTOCOLO-DE-PR%C3%89-NATAL-BAIXO-RISCO_APROVADO.pdf 125 • Preenchimento e entrega do Cartão da Gestante; • Esclarecimento de dúvidas e orientações; • Visitar domiciliares regulares; • Vinculação e visita à Maternidade de referência para o parto e nascimento; • Registro regular do Cartão daGestante e comunicação adequada à gestante e família; • Elaboração do Plano de Parto; • Planejamento sexual reprodutivo; • Monitoramento do plano de cuidados; • Monitoramento do plano de autocuidado. 10.4 Cuidado da gestante na atenção primária à saúde Na APS o aconselhamento pré-concepcional é parte integrante e primordial dos cuidados pré-natais e tem o objetivo de conhecer de maneira precoce as expectativas em relação à gravidez, qual o momento da família e seus planos, identificar fatores de risco ou doenças que possam interferir na futura gestação. Todos os profissionais da equipe precisam estar aptos a realizar o acolhimento deve ser feito imediatamente após a confirmação da gravidez. O foco dos cuidados no pré-natal pode ser estratificado de acordo com o estrato de risco da gravidez. Estrato de risco Pré-natal Foco Habitual Pela equipe da APS • Bem-estar da gestante, e do bebê e de sua família; • Ações de promoção e prevenção de fatores de risco oportunistas; • Fortalecimento da capacidade de autocuidado. Intermediário Pela equipe da APS • Mitigação dos fatores de risco; • Ações de prevenção de agravos decorrentes dos fatores de risco; • Fortalecimento da capacidade de autocuidado; • Fortalecimento do apoio sociofamiliar. Alto risco Compartilhado entre as equipes da APS e da Atenção Ambulatorial Especializada • Estabilização clínica; • Vigilância para detecção precoce de agravos decorrentes dos fatores de risco e morbidades identificadas; • Fortalecimento do apoio sociofamiliar; • Suporte direto à gestante e à sua família. 10.5 Atenção à mulher no puerpério Para a saúde materna e neonatal, a atenção à mulher e ao recém-nascido (RN) no pós-parto imediato e nas primeiras semanas após o parto é fundamental. O atendimento deve ser criterioso no âmbito hospitalar e na unidade de saúde. É recomendável uma visita domiciliar na 1ª semana após a alta do bebê, porém se o RN foi classificado como de risco, essa visitar deverá acontecer nos primeiros 126 três dias após a alta. O retorno da mulher e do recém-nascido ao serviço de saúde, de 7 a 10 dias após o parto, deve ser incentivado desde o pré-natal, na maternidade e pelos agentes comunitários de saúde na visita domiciliar. Os objetivos da atenção à mulher no puerpério são: • Avaliar o estado de saúde da mulher e do recém-nascido; • Orientar e apoiar a família para a amamentação; • Orientar os cuidados básicos com o recém-nascido; • Avaliar a interação da mãe com o recém-nascido; • Identificar situações de risco ou intercorrências e conduzi-las; • Orientar o planejamento familiar. Um profissional habilitado deve realizar o acolhimento da mulher e do RN, de acordo com as seguintes condutas: • Apresentar-se, perguntar o nome da mulher e do recém-nascido e atendê-los com respeito e gentileza; • Escutar o que a mulher tem a dizer, incluindo possíveis queixas, e estimulá-la a fazer perguntas; • Informar sobre os passos da consulta e esclarecer dúvidas. • Verificar o cartão da gestante e o resumo de alta hospitalar e/ou perguntar à mulher sobre: o Condições da gestação; o Condições do atendimento ao parto e ao recém-nascido; o Dados do parto (data, tipo de parto e, se cesárea, qual a indicação); o Se houve alguma intercorrência na gestação, no parto ou no pós-parto (febre, hemorragia, hipertensão, diabetes, convulsões, sensibilização Rh); o Se recebeu aconselhamento e realizou testagem para sífilis ou HIV durante a gestação e/ou parto; o Uso de medicamentos (ferro, ácido fólico, outros). • Perguntar como se sente e indagar sobre: o Aleitamento – frequência das mamadas (dia e noite), dificuldades na amamentação, satisfação do RN com as mamadas, condições das mamas; o Alimentação, sono, atividades; o Dor, fluxo vaginal, sangramento, queixas urinárias, febre; o Planejamento familiar – desejo de ter mais filhos, desejo de usar método contraceptivo, métodos já utilizados, método de preferência, valorizando a consulta pré-concepcional e desestimulando intervalo intergestacional inferior a 6 meses; o Condições psicoemocionais – estado de humor, preocupações, desânimo, fadiga, entre outros, estando alerta para quadros de depressão ou de blues puerperal; o Condições sociais (pessoas de apoio, enxoval do bebê, condições para atendimento a necessidades básicas). • Avaliação clínico-ginecológica: o Verificar dados vitais; o Avaliar o estado psíquico da mulher; o Observar estado geral – pele, mucosas, presença de edema, cicatriz (parto normal com episiotomia ou laceração/cesárea) e membros inferiores; 127 o Examinar mamas, verificando a presença de ingurgitamento, sinais inflamatórios, infecciosos ou cicatrizes que dificultem a amamentação; o Examinar abdômen, verificando a condição do útero e se há dor à palpação; o Examinar períneo e genitais externos (verificar sinais de infecção, presença e características de lóquios); o Retirar os pontos da cicatriz cirúrgica, quando necessário, e orientar sobre os cuidados locais; o Verificar possíveis intercorrências – alterações emocionais, hipertensão, febre, dor em baixo-ventre ou nas mamas, presença de corrimento com odor fétido, sangramentos intensos. No caso de detecção de alguma dessas alterações, solicitar avaliação médica imediata se o atendimento estiver sendo feito por outro profissional da equipe. • Observar formação do vínculo entre mãe e filho; • Observar e avaliar a mamada para garantia do adequado posicionamento e pega da aréola. O posicionamento errado do bebê, além de dificultar a sucção, comprometendo a quantidade de leite ingerido, é uma das causas mais frequentes de problemas nos mamilos. Em caso de ingurgitamento mamário, mais comum entre o 3º e o 5º dia pós-parto, orientar quanto à ordenha manual, armazenamento e doação do leite excedente a um Banco de Leite Humano (caso haja na região); • Identificar problemas/necessidades da mulher e do recém-nascido, com base na avaliação realizada. • Condutas: o Orientar sobre higiene, alimentação, atividades físicas, atividade sexual, prevenção de DST/Aids, cuidado com as mamas e com o recém-nascido, aleitamento, direitos da mulher, planejamento familiar e ativação de método contraceptivo, se for o caso; o Aplicar vacinas, dupla tipo adulto e tríplice viral, se necessário; o Oferecer teste anti-HIV e VDRL, com aconselhamento pré e pós-teste, para as puérperas não aconselhadas e testadas durante a gravidez e o parto; o Prescrever suplementação de ferro – com sulfato ferroso 300 mg/dia, até 3 meses após o parto, para mulheres sem anemia diagnosticada; o Tratar possíveis intercorrências; o Registrar informações em prontuário; o Agendar consulta na qual deverá ser realizada avaliação no período puerperal, idealmente 42 dias após o parto, no máximo 60 dias, para mulheres que estão amamentando, e 30-42 dias para mulheres que não estiverem amamentando. A unidade básica de saúde (UBS) deve ser a porta de entrada preferencial da gestante no sistema de saúde. 128 10.6 Recém-nascido Na primeira consulta do recém-nascido, é importante verificar a existência da Caderneta de Saúde da Criança e, caso não haja, providenciar abertura imediata, observar se a caderneta está preenchida com os dados da maternidade. Caso não esteja, verificar se há alguma informação sobre o peso, comprimento, índice de Apgar, idade gestacional e condições de vitalidade. Verificar as condições de alta da mulher e do RN. Observar e orientar a mamada, reforçando as orientações dadas durante o pré-natal e na maternidade, com destaque para a necessidade de aleitamento materno exclusivo até o 6º mês de vida do bebê, não havendo necessidade de oferecer água, chá, ou qualquer outro alimento. O estado geral da criança deve ser avaliado: • Peso; • Postura; • Atividade espontânea; • Padrão respiratório;• Estado de hidratação; • Eliminações e aleitamento materno; • Características da pele (presença de palidez, icterícia e cianose); • Crânio, orelhas, olhos, nariz, boca, pescoço, tórax, abdômen (condições do coto umbilical), genitália, extremidades e coluna vertebral. Avaliar se foram aplicadas vacinas na maternidade; em caso contrário, aplicá-las na unidade. Agendar as próximas vacinas e consultas. O calendário revisto para seguimento da criança institui as seguintes consultas: 2º; 4º; 6º; 9º; 12º; 18º e 24º mês de vida. 10.7 Monitorização do crescimento O processo de crescimento pode ser definido como aumento do tamanho corporal e, portanto, ele cessa com o término do aumento em altura (crescimento linear). O crescimento é considerado um fator primordial para avaliação do estado de saúde da criança, ele independe de fatores ambientais, como alimentação, ocorrência de doenças, cuidados gerais e de higiene, condições de habitação e saneamento básico, acesso aos serviços de saúde, entre outros interferentes. O objetivo da vigilância nutricional e do monitoramento do crescimento é promover e proteger a saúde da criança e se necessário, por meio de diagnóstico e tratamento precoce para sub ou sobrealimentação. A curva de distância ou de crescimento longitudinal e a curva de velocidade de crescimento representam graficamente o crescimento da criança. 129 Investigue sobre as curvas de crescimento das crianças. 10.8 Acompanhamento e desenvolvimento O objetivo do acompanhamento do desenvolvimento da criança na atenção básica objetiva sua promoção, proteção e a detecção precoce de alterações passíveis de modificação que possam repercutir na vida adulta. De acordo com o Caderno de Atenção Básica: Saúde da criança: crescimento e desenvolvimento, os seguintes aspectos devem ser observados no desenvolvimento de crianças de 0 a 10 anos: Dias para a consulta após o nascimento Aspectos do desenvolvimento da criança de 0 a 10 anos 15 dias Entre 1 e 2 meses: predomínio do tônus flexor, assimetria postural e preensão reflexa. 1 mês Entre 1 e 2 meses: percepção melhor de um rosto, medida com base na distância entre o bebê e o seio materno. 2 meses Entre 2 e 3 meses: sorriso social. Entre 2 e 4 meses: bebê fica de bruços, levanta a cabeça e os ombros. Em torno de 2 meses: inicia-se a ampliação do seu campo de visão (o bebê visualiza e segue objetos com o olhar). 4 meses Aos 4 meses: preensão voluntária das mãos. Entre 4 e 6 meses: o bebê vira a cabeça na direção de uma voz ou de um objeto sonoro. Aos 3 meses: o bebê adquire noção de profundidade. 6 meses Em torno dos 6 meses: inicia-se a noção de “permanência do objeto”. A partir do 7º mês: o bebê senta-se sem apoio. Entre 6 e 9 meses: o bebê arrasta-se, engatinha. Entre 6 e 8 meses: o bebê apresenta reações a pessoas estranhas. 9 meses Entre 9 meses e 1 ano: o bebê engatinha ou anda com apoio. Em torno do 10º mês: o bebê fica em pé sem apoio. 130 Dias para a consulta após o nascimento Aspectos do desenvolvimento da criança de 0 a 10 anos 12 meses Entre 1 ano e 1 ano e 6 meses: o bebê anda sozinho. Em torno de 1 ano: o bebê possui a acuidade visual de um adulto. 15 meses Entre 1 ano e 6 meses a 2 anos: o bebê corre ou sobe degraus baixos. 2 anos Entre 2 e 3 anos: o bebê diz seu próprio nome e nomeia objetos como seus. Em torno dos 2 anos: o bebê reconhece-se no espelho e começa a brincar de faz de conta (atividade que deve ser estimulada, pois auxiliar no desenvolvimento cognitivo e emocional, ajudando a criança a lidar com ansiedades e conflitos e a elaborar regras sociais). Entre 2 e 3 anos: os pais devem começar aos poucos a retirar as fraldas do bebê e a ensiná-lo a usar o penico. De 4 a 6 anos Entre 3 e 4 anos: a criança veste-se com auxílio. Entre 4 e 5 anos: a criança conta ou inventa pequenas histórias. O comportamento da criança é predominantemente egocêntrico; porém, com o passar do tempo, outras crianças começam a se tornar importantes. A partir dos 6 anos: a criança passa a pensar com lógica, embora esta seja predominantemente concreta. Sua memória e habilidade com a linguagem aumentam. Seus ganhos cognitivos melhoram sua capacidade de tirar proveito da educação formal. A autoimagem se desenvolve, afetando sua autoestima. Os amigos assumem importância fundamental. A crianças começa a compreender a constância de gênero. A segregação entre os gêneros é muito frequente nesta idade (meninos “não se misturam” com meninas e vice-versa). De 7 a 9 anos A partir dos 7 anos: a criança começa a desenvolver o julgamento global de autovalor, integrando sua autopercepção, “fechando” algumas ideias sobre quem ela é e como deve ser etc. A influência dos pares (amigos, colegas da mesma idade) adquire grande importância nesta etapa da vida enquanto a influência dos pais diminui. 10 anos A partir dos 10 anos: ocorrem mudanças relacionadas à puberdade e há um estirão de crescimento (primeiro nas meninas, em torno dos 11 anos, depois os meninos, em torno dos 13 anos). Fonte: Adaptado de http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/cadernos_ab/caderno_33.pdf http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/cadernos_ab/caderno_33.pdf 131 No puerpério, a mulher precisa ser assistida, e a família, orientada em relação ao planejamento familiar. O contexto deve ser escolha livre e informada, com incentivo à dupla proteção (prevenção da gravidez, do HIV, da sífilis e das demais DST) nas consultas médicas e de enfermagem, nas visitas domiciliares, durante as consultas de puericultura, puerpério e nas atividades de vacinação, assim como parcerias com escolas e associações de moradores para a realização de atividades educativas. 10.9 Considerações finais No atendimento à gestante, todos os membros da equipe da APS devem estar envolvidos na assistência pré-natal, através de ações individuais ou coletivas. Os espaços para práticas educativas possibilitam que a mulher grávida seja acolhida e tenha espaço para o esclarecimento de dúvidas. A equipe da APS deve fomentar o vínculo com a família, acompanhando o crescimento da criança. Por ser considerado um fenômeno fisiológico, a evolução da gestação, ocorre geralmente sem intercorrências. Parte da população adscrita de um território de saúde é constituído por mulheres em idade fértil, com idade de 10 a 49 anos. Por tratar-se de um período amplo, inclui mulheres adolescentes e adultas, em diferentes situações de vida e em contextos culturais, familiares e sociais em constante mudança. O ciclo gravídico puerperal é uma circunstância na vida da mulher que se segue a um período de fertilidade, podendo ser algo desejado e planejado, ou surpreendendo de forma não prevista nem planejada. O principal sintoma comumente identificado para a suspeita de gravidez é o atraso menstrual, sendo que outros também podem aparecer. Os sinais de certeza são: diagnóstico laboratorial, ausculta fetal, palpação de partes fetais no abdome materno e ultrassonografia. Idealmente, a atenção pré-natal deve ser iniciada pelo profissional médico ou de enfermagem. A consulta é um contato que exige a prática de acolhimento para a gestante e seu acompanhante. Assim, deve haver disponibilidade para que sejam acolhidas e esclarecidas queixas, dúvidas e ansiedades, estimulando o “desejo de voltar” ou a adesão ao programa. A consulta completa é extremamente importante, representando uma oportunidade improrrogável de classificar riscos e adotar condutas efetivas. Na APS o aconselhamento pré-concepcional é parte integrante e primordial dos cuidados pré-natais e tem o objetivo de conhecer de maneira precoce as expectativas em relação à gravidez, qual o momento da família e seus planos, identificar fatores de risco ou doenças que possam interferir na futura gestação. Para a saúde materna e neonatal, a atenção à mulhere ao recém-nascido (RN) no pós-parto imediato e nas primeiras semanas após o parto é fundamental. O atendimento deve ser criterioso no âmbito hospitalar e na unidade de saúde. É recomendável uma visita domiciliar na 1ª semana após a alta do bebê, porém se o RN foi classificado como de risco, essa visita deverá acontecer nos primeiros 3 dias após a alta. O retorno da mulher e do recém-nascido ao serviço de saúde, de 7 a 10 dias após o parto, deve ser incentivado desde o pré-natal, na maternidade e pelos agentes comunitários de saúde na visita domiciliar. 132 Na primeira consulta do recém-nascido, é importante verificar a existência da Caderneta de Saúde da Criança e, caso não haja, providenciar abertura imediata, observar se a caderneta está preenchida com os dados da maternidade. Caso não esteja, verificar se há alguma informação sobre o peso, comprimento, índice de Apgar, idade gestacional e condições de vitalidade. Verificar as condições de alta da mulher e do RN. Observar e orientar a mamada, reforçando as orientações dadas durante o pré-natal e na maternidade, com destaque para a necessidade de aleitamento materno exclusivo até o 6º mês de vida do bebê, não havendo necessidade de oferecer água, chá, ou qualquer outro alimento. O processo de crescimento pode ser definido como aumento do tamanho corporal e, portanto, ele cessa com o término do aumento em altura (crescimento linear). O crescimento é considerado um fator primordial para avaliação do estado de saúde da criança e independe de fatores ambientais, como alimentação, ocorrência de doenças, cuidados gerais e de higiene, condições de habitação e saneamento básico, acesso aos serviços de saúde, entre outros interferentes. O objetivo do acompanhamento do desenvolvimento da criança na atenção básica busca sua promoção, proteção e detecção precoce de alterações passíveis de modificação que possam repercutir na vida adulta. UNIFESP (2016) - Em grupos educativos com gestantes, a enfermeira deve enfatizar que, entre outros fatores, o crescimento intrauterino restrito tem como causa: a) O ganho excessivo de peso na gestação. b) O trabalho em pé. c) A ingestão de dieta pobre verduras e legumes. d) A automedicação. e) O consumo de álcool, fumo e drogas. Resposta – Alternativa “a” - O ganho excessivo de peso na gestação. 1. Traga uma questão semelhante ao Façamos Juntos que será proposta para o estudante, em que ele deverá consultar o Fórum para confirmar a resposta. – Por isso, não se esqueça de fornecer o gabarito da resposta. (Esse tópico será apresentado no término do capítulo). AMEOSC (2018) - Com relação à história da gestante no pré-natal de baixo risco, o técnico em enfermagem deve atentar-se a dados socioeconômicos como: a) Procedência, endereço atual e unidade de referência. b) Naturalidade, número do cartão nacional de saúde e idade. c) Estado civil, condições de saneamento e pessoas com renda na família. d) Antecedentes familiares de gemelaridade, hipertensão arterial e anomalias congênitas. e) Escolaridade, cômodos da casa, número do prontuário. 133 Discursiva: Quais os objetivos da atenção à mulher no puerpério? O Manual Técnico de Atenção ao Pré-Natal de Baixo Risco é o caderno de nº 32, da série A, que pertence às Normas e Manuais Técnicos. Foi uma publicação do Ministério da Saúde – Secretaria de Atenção à Saúde e Departamento de Atenção Básica e essa é a primeira edição revisada e publicada em 2012, com 318 páginas e 35 mil exemplares. Encontra-se disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/c adernos_atencao_basica_32_prenatal.pdf Medicamentos utilizados no ciclo gravídico puerperal: Sulfato ferroso: a suplementação de ferro reduz em 70% o risco de anemia materna na gestação a termo; Ácido fólico: o fechamento do tubo neural se dá ao redor da 6ª semana de gestação e existem evidências de que o ácido fólico é essencial na prevenção dos defeitos de fechamento de tubo neural, como espinha bífida ou meningomielocele. Respostas: 1. Alternativa “c” - Estado civil, condições de saneamento e pessoas com renda na família. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/c%20adernos_atencao_basica_32_prenatal.pdf 134 Discursiva: Os objetivos da atenção à mulher no puerpério são: • Avaliar o estado de saúde da mulher e do recém-nascido; • Orientar e apoiar a família para a amamentação; • Orientar os cuidados básicos com o recém-nascido; • Avaliar a interação da mãe com o recém-nascido; • Identificar situações de risco ou intercorrências e conduzi-las; • Orientar o planejamento familiar. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Atenção ao pré-natal de baixo risco [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2012. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/c adernos_atencao_basica_32_prenatal.pdf Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: crescimento e desenvolvimento [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde, 2012. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/cadernos_ab/caderno_33.pdf São Paulo (Estado). Secretaria da Saúde. Coordenadoria de Planejamento em Saúde. Assessoria Técnica em Saúde da Mulher. Atenção à gestante e à puérpera no SUS – SP: manual técnico do pré-natal e puerpério. São Paulo: SES/SP, 2010. Disponível em: http://docs.bvsalud.org/biblioref/ses-sp/2010/ses-17209/ses-17209- 1606.pdf Nota Técnica Para Organização Da Rede De Atenção À Saúde Com Foco Na Atenção Primária À Saúde E Na Atenção Ambulatorial Especializada – Saúde Da Mulher Na Gestação, Parto E Puerpério. Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein. São Paulo: Hospital Israelita Albert Einstein, 2019. Disponível em: https://atencaobasica.saude.rs.gov.br/upload/arquivos/202001/03091259-nt-gestante-planificasus.pdf http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/c%20adernos_atencao_basica_32_prenatal.pdf http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/cadernos_ab/caderno_33.pdf http://docs.bvsalud.org/biblioref/ses-sp/2010/ses-17209/ses-17209-1606.pdf http://docs.bvsalud.org/biblioref/ses-sp/2010/ses-17209/ses-17209-1606.pdf https://atencaobasica.saude.rs.gov.br/upload/arquivos/202001/03091259-nt-gestante-planificasus.pdf 135 UNIDADE III CAPÍTULO 11 - CÂNCERES DO COLO DO ÚTERO E DA MAMA; HIV-AIDS, HEPATITES E OUTRAS IST; SAÚDE SEXUAL E REPRODUTIVA No término deste capítulo, você deverá saber: ✓ Linha do Cuidado do Câncer do Colo do Útero; ✓ Linha de Cuidado do Câncer de Mama; ✓ HIV – AIDS; ✓ Hepatites virais; ✓ Infecções sexualmente transmissíveis (IST); ✓ Saúde sexual e reprodutiva; ✓ Imunização HPV; ✓ Vacina Hepatite. Introdução Humanizar na saúde significa a valorização da qualidade técnica e ética do cuidado, aliada ao reconhecimento dos direitos dos usuários, de suas referências culturais e subjetividade, respeitando as questões de gênero, etnia, raça, situação econômica, orientação sexual, e grupos populacionais como indígenas, trabalhadores, quilombolas, ribeirinhos, assentados e população em situação de rua. O acolhimento se caracteriza como um modo de operar os processos de trabalho em saúde de forma a dar atenção a todos que procuram os serviços de saúde, ouvindo suas necessidades e assumindo no serviço uma postura capaz de acolher, escutar e pactuar respostas mais adequadas com os usuários. O acolhimento não é um espaço ou um local, mas uma postura ética, não pressupõe hora ou um profissional específico para fazê-lo, implica compartilhamento de saberes, necessidades, possibilidades, angústias e invenções. As Linhas de Cuidado dos Cânceres do Colo do Útero e da Mama necessitam da organização de um conjunto de ações e serviços de saúde estruturados com base em critérios epidemiológicos e de regionalização para dar conta dos desafios atuais onde os quadros relativosa esses cânceres são de alta relevância epidemiológica e social. A organização da Linha de Cuidado envolve intervenções na promoção da saúde, na prevenção, no tratamento, na reabilitação e nos cuidados paliativos, englobando diferentes pontos de atenção à saúde, com o objetivo de alcançar bons resultados clínicos, a custos compatíveis, com base na evidência disponível na literatura científica. 136 11.1 Linha do cuidado do câncer do colo do útero O Plano de Fortalecimento das Ações para Prevenção e Qualificação do Diagnóstico e Tratamento dos Cânceres do Colo do Útero e da Mama tem o objetivo de reduzir a incidência e a mortalidade desses cânceres. A Linha de Cuidado do Câncer do Colo do Útero tem como metas: • Garantir à mulher o acesso humanizado e integral às ações e aos serviços qualificados para promover a prevenção do câncer do colo do útero; • Acesso ao rastreamento das lesões precursoras, ao diagnóstico precoce e ao tratamento adequado, qualificado e em tempo oportuno. As diretrizes desta Linha são: 1. Prevenção e detecção precoce o Fortalecer e ampliar o acesso às informações sobre o câncer do colo do útero para todas as mulheres, ressaltando que o câncer do colo do útero é prevenível pela detecção e pelo tratamento das lesões precursoras que antecedem, em muitos anos, o câncer; o Estruturar os serviços de saúde para rastrear todas as mulheres de 25 a 64 anos a cada três anos, além de atender todas as mulheres que apresentam sinais de alerta; o Acompanhar e tratar todas as mulheres positivas, segundo as Diretrizes Brasileiras para o Rastreamento do Câncer do Colo do Útero. 2. Programa Nacional de Qualidade da Citologia o Garantia de citologias de alto padrão; o Garantir referência para cito e Histopatologia 3. Acesso à confirmação diagnóstica o Garantia do acesso ao tratamento adequado da lesão precursora em tempo oportuno; o Definir e pactuar que a unidade de referência deve realizar todos os procedimentos: colposcopia, biópsia, EZT e utilizar o método “ver e tratar”; o Implantar centros qualificadores de ginecologistas para atuarem na unidade de referência para diagnóstico e tratamento da lesão precursora. 4. Tratamento adequado e em tempo oportuno o Definir e pactuar serviços terciários para procedimentos especializados, como conização, quimioterapia e radioterapia; o Garantir que todas as mulheres iniciem seu tratamento o mais breve possível; o Permitir que as mulheres com câncer do colo de útero sejam acompanhadas por uma equipe multidisciplinar especializada; o Garantir que toda mulher com câncer do colo de útero receba cuidados em um ambiente hospitalar que acolha suas expectativas e respeite sua autonomia, dignidade e confidencialidade; o Garantir que todo hospital que trata câncer do colo do útero tenha Registro Hospitalar de Câncer em atividade; o Garantir que toda mulher com câncer do colo do útero tenha direito aos cuidados paliativos para o adequado controle dos sintomas e suporte social, espiritual e psicológico. 137 No mundo, o câncer de mama é o mais incidente entre as mulheres. Em 2018, ocorreram 2,1 milhões de casos novos, o equivalente a 11,6% de todos os cânceres estimados. 11.2 Linha de cuidado do câncer de mama A Linha de Cuidado do Câncer da Mama tem a finalidade de assegurar à mulher o acesso humanizado e integral às ações e serviços qualificados para promover a prevenção do câncer de mama, acesso ao diagnóstico precoce e ao tratamento adequado, qualificado e em tempo oportuno. Essa Linha de Cuidado é organizada segundo as diretrizes abaixo: 1. Prevenção e detecção precoce o Fortalecer e ampliar o acesso às informações relativas à prevenção do câncer da mama, enfatizando que o controle do peso e da ingestão de álcool, além da amamentação e da prática de atividades físicas, são formas de preveni-lo; o Alertar médicos e população sobre os riscos associados à terapia de reposição hormonal. o Fortalecer e ampliar o acesso às informações sobre a detecção precoce do câncer da mama para todas as mulheres, ressaltando o alerta para os primeiros sinais e sintomas do câncer da mama; o Realizar o diagnóstico precoce de lesões sugestivas de câncer de mama e encaminhá-las com prioridade para atenção especializada; o Organizar o rastreamento das mulheres de 50 a 69 anos em áreas cuja elevada ocorrência desse tipo de câncer justifique esta iniciativa. 2. Programa Nacional de Qualidade da Mamografia (PNQM) o Garantir imagens radiográficas de alto padrão com doses mínimas de radiação. o Incluir todos os serviços de mamografia no Programa Nacional de Qualidade em Mamografia. 3. Acesso à confirmação diagnóstica o Definir e pactuar serviços de referência para confirmação diagnóstica dos casos suspeitos; o Regular o acesso à confirmação diagnóstica, propiciando que casos referenciados pela atenção primária com lesão palpável, ou outros sinais e sintomas suspeitos tenham prioridade. 4. Tratamento adequado e em tempo oportuno o Definir e pactuar com unidade terciária de referência para tratamento dos casos confirmados; o Garantir que todas as mulheres, com diagnóstico de câncer de mama confirmado, iniciem seu tratamento o mais breve possível; o Garantir que toda mulher com câncer da mama tenha seu diagnóstico complementado com a avaliação do receptor de estrogênio e progesterona; 138 o Permitir que as mulheres com câncer da mama sejam acompanhadas por uma equipe multidisciplinar especializada que inclua médicos (cirurgião, oncologista clínico e radioterapeuta), enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, assistentes sociais e fisioterapeutas; o Garantir que toda mulher com câncer da mama receba cuidados em um ambiente hospitalar que acolha suas expectativas e respeite sua autonomia, dignidade e confidencialidade; o Garantir que todo hospital que trate câncer da mama tenha Registro Hospitalar de Câncer em atividade; o Garantir que toda mulher com câncer da mama tenha direito aos cuidados paliativos para o adequado controle dos sintomas e suporte social, espiritual e psicológico. 11.3 HIV-AIDS Entende-se por cuidado contínuo em HIV, o processo de atenção ao usuário que convive com o vírus. Estes cuidados se dividem em cinco momentos, denominados “Cascata de cuidado contínuo do HIV”, que têm sido reconhecidos mundialmente como forma de estabelecer metas e monitorar os avanços relativos ao cuidado das PVHIV. Os momentos que compõem esta cascata são: 139 Nos serviços brasileiros, são utilizadas as seguintes definições para o cuidado clínico: • Vinculação: processo que consiste em acolher, orientar, direcionar e encaminhar a pessoa recém-diagnosticada com HIV ao serviço de saúde para que ela realize as primeiras consultas e exames o mais rápido possível e desenvolva autonomia para o cuidado contínuo; • Retenção: processo que consiste em acompanhar regular e continuamente a pessoa que vive com HIV e que já possui vínculo no serviço de saúde, garantindo que ela compareça às consultas, faça os exames solicitados e o acompanhamento necessário; • Adesão ao tratamento: consiste em utilizar de forma ideal os medicamentos antirretrovirais da forma mais próxima possível àquela prescrita pela equipe de saúde, com respeito as doses, horários e outras indicações. Trata-se também de um processo colaborativo que facilita a aceitação e a integração de determinado esquema terapêutico no cotidiano das pessoas em tratamento, pressupondo sua participação nas decisões sobre a terapia. Acesse o link: https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files/media/document/estimativa-2020-incidencia- de-cancer-no-brasil.pdf 11.4 Hepatites virais A hepatite B trata-se de uma doença que necessita de compreensão do profissional de saúde para rápida identificação de situações que interfiram de forma significativa no sucesso do acompanhamentoe na adesão ao tratamento, além da disciplina do paciente. Portanto, o profissional de saúde precisa estabelecer uma sólida relação com o paciente. O cuidado ao paciente com hepatite envolve: • Anamnese e exame físico descritos corretamente em prontuário; • Notificação do agravo no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan); • Solicitação de exames; • Cuidadosa avaliação pré-tratamento das condições clínicas por HCV, HDV e HIV, com consultas, no mínimo, duas a quatros vezes ao ano; • Imunização para a hepatite A; • Disponibilização de insumos e orientações para praticar sexo seguro e evitar a ingestão de álcool; • Envolvimento de todos os profissionais; • Compartilhamento de informações com os contatos domiciliares e parceiros sexuais; • O profissional de saúde deve oferecer acolhimento e aconselhamento – estabelecendo uma relação de confiança com o paciente para a promoção da saúde e a atenção integral. https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files/media/document/estimativa-2020-incidencia-de-cancer-no-brasil.pdf https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files/media/document/estimativa-2020-incidencia-de-cancer-no-brasil.pdf 140 11.5 Infecções sexualmente transmissíveis (IST) A assistência por livre demanda espontânea, no caso das IST, auxilia na quebra da cadeia de transmissão, a unidade de saúde precisa garantir, o mais rápido possível, um acolhimento adequado e com privacidade. Com o objetivo de reduzir a morbimortalidade do agravo rastreado, o rastreamento é definido como a realização de teste diagnósticos em pessoas assintomáticas a fim de estabelecer o diagnóstico precoce. No caso das IST, o rastreamento não identifica apenas uma pessoa; ao contrário, estará sempre ligado a uma rede de transmissão. Os principais fatores de risco para IST são idade mais baixa e prática sexual sem uso de preservativos. Portanto, a APS deve promover estratégias de alcance a esta população. As atividades previstas na Atenção Básica para manejo operacional das IST estão descritas abaixo: • Garantir o acolhimento e realizar atividades de informação/educação em saúde; • Realizar consulta imediata no caso de úlceras genitais, corrimentos genitais masculinos e femininos e de verrugas anogenitais; • Realizar coleta de material cérvico-vaginal para exames laboratoriais; • Realizar testagem rápida e/ou coleta de sangue e/ou solicitação de exames para sífilis, HIV e hepatites B e C, nos casos de IST; • Realizar tratamento das pessoas com IST e suas parcerias sexuais; • Seguir o protocolo do MS para prevenção da transmissão vertical de HIV, sífilis e hepatites virais; • Notificar as IST, conforme a Portaria vigente. Os demais agravos são notificados de acordo com recomendações dos estados/municípios, quando existentes; • Comunicar as parcerias sexuais do caso-índice para tratamento, conforme protocolo; • Referir os casos suspeitos de IST com manifestações cutâneas extragenitais para unidades que disponham de dermatologista, caso necessário; • Referir os casos de IST complicadas e/ou não resolvidas para unidades que disponham de especialistas e mais recursos laboratoriais; • Referir os casos de dor pélvica com sangramento vaginal, casos com indicação de avaliação cirúrgica ou quadros mais graves para unidades com ginecologista e/ou que disponham de atendimento cirúrgico. 11.6 Saúde sexual e reprodutiva Após anos de discussão, a dimensão da sexualidade ainda surge como um tema polêmico e difícil de progredir, resultado de tabus e preconceitos que permeiam o tema. A organização das instituições de saúde e as práticas de saúde produzem este contexto quando oferecem uma atenção fragmentada e de baixa resolutividade. A Atenção Primária à Saúde exerce um importante papel neste assunto e a saúde sexual e reprodutiva deve ser tema constante de ações deste meio. 141 A APS deve propiciar o diálogo entre os sujeitos envolvidos com o cuidado através de uma proposta educativa, integrando todos aqueles que participam do cuidado. Esse cuidado deve ponderar questões relativas ao gênero, à sexualidade, à autonomia e à liberdade para a construção de práticas não discriminatórias que garantam a promoção, a proteção e o exercício da sexualidade e da reprodução como um direito pautadas na integralidade da atenção com a finalidade de nortearem as práticas assistências. Uma pessoa com IST nunca é só uma pessoa. É uma rede de parcerias sexuais que estão infectadas 11.7 Imunização HPV O papilomavírus humano (HPV) é um DNA que pode induzir uma grande variedade de lesões proliferativas anogenitais. Geralmente, as infecções não são aparentes ou sintomáticas. Porém, outras podem apresentar-se sob a forma de lesões exofíticas, chamados condilomas acuminados, verrugas genitais ou cristas de galo. Tal como nas outras IST, a prevenção baseia-se na prática sexual segura e atualmente. Já está disponível para a população a vacina quadrivalente, que imuniza para os tipos 6, 11, 16 e 18. Esses tipos de HPV estão relacionados à formação de lesões genitais pré-cancerosas do colo do útero, de vulva e de vagina em mulheres, e anal em ambos os sexos. A vacina é indicada para meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos. O esquema é composto de duas doses, com intervalo de seis meses. A anamnese, a identificação das diferentes vulnerabilidades e o exame físico são importantes elementos na abordagem das pessoas com IST. Durante o exame físico, quando indicado, procede-se à coleta de material biológico para exame laboratorial. Sempre que disponíveis, devem ser realizados exames para: gonorreia, clamídia, sífilis, HIV, hepatite B e hepatite C. 11.8 Vacina hepatite A principal medida de prevenção contra a hepatite B é a vacinação, sendo extremamente eficaz e segura. A vacina HBV, contra a hepatite B, desde 2016 está indicada para todas as faixas etárias. Três doses de vacina contra a hepatite B induzem títulos protetores de anticorpos (anti-HBs maior 142 ou igual a 10 UI/mL) em mais de 90% dos adultos e dos jovens sadios, e em mais de 95% dos lactentes, das crianças e dos adolescentes. A gestação e a lactação não representam contraindicações para imunização. Se possível, a primeira dose da vacina deve ser administrada no momento do primeiro atendimento. O principal mecanismo de transmissão do vírus da hepatite A (HAV) é o fecal-oral. A transmissão sexual desse vírus é infrequente. A vacinação se constitui como a principal medida de prevenção contra a hepatite A, sendo extremamente eficaz e segura. Caso seja possível, deve-se verificar a susceptibilidade do paciente exposto por meio da pesquisa de exame sorológico específico (anti- HAV IgM e anti-HAV IgG). A presença de anti-HAV IgM reagente sugere episódio agudo de infecção por esse vírus. Já a presença de anti-HAV IgG reagente demonstra imunidade definitiva da pessoa exposta e, portanto, nenhuma medida adicional se faz necessária. Caso a pesquisa dos anticorpos seja não reagente, deve-se observar a indicação de vacinação da pessoa exposta, obedecendo-se aos critérios de vacinação do Programa Nacional de Imunizações – PNI. A vacinação está disponível em Centros de Testagem e Aconselhamento – CTA e nos serviços que ofertam PEP, PrEP e/ou atendimento para IST, e que tenham sala de vacina. Além disso, atualmente, no SUS, a vacina para hepatite A está indicada para crianças de 15 meses a cinco anos incompletos (quatro anos, 11 meses e 29 dias), e nos CRIE, para pessoas de qualquer idade que apresentem as seguintes situações: hepatopatias crônicas de qualquer etiologia (incluindo os portadores do HCV e do HBV), coagulopatias, PVHIV, portadores de quaisquer doenças imunossupressoras ou doenças de depósito, fibrose cística, trissomias, candidatos a transplante de órgãos, doadores de órgãos cadastrados em programas de transplantes e pessoas comhemoglobinopatias. Por essas razões, toda a população HSH vivendo com HIV deve ser vacinada. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis. 11.9 Considerações finais As estratégias de cuidado na Atenção Básica apresentadas neste capítulo exigem conhecimento dos protocolos e linhas de cuidado do profissional envolvido no cuidado. O rastreamento e a busca ativa são ferramentas importantes e podem ser usadas para detectar precocemente estas injúrias. O acompanhamento adequado e multiprofissional deve ser o alvo da equipe, além de práticas educativas, criação de vínculo e atendimento humanizado. 143 O Plano de Fortalecimento das Ações para Prevenção e Qualificação do Diagnóstico e Tratamento dos Cânceres do Colo do Útero e da Mama tem o objetivo de reduzir a incidência e a mortalidade destes cânceres. A Linha de Cuidado do Câncer do Colo do Útero tem como metas garantir à mulher o acesso humanizado e integral às ações e aos serviços qualificados para promover a prevenção do câncer do colo do útero, bem como ao rastreamento das lesões precursoras, ao diagnóstico precoce e ao tratamento adequado, qualificado e em tempo oportuno. A Linha de Cuidado do Câncer da Mama tem a finalidade de assegurar à mulher o acesso humanizado e integral às ações e serviços qualificados para promover a prevenção do câncer de mama, acesso ao diagnóstico precoce e ao tratamento adequado, qualificado e em tempo oportuno. Entende-se por cuidado contínuo em HIV, o processo de atenção ao usuário que convive com o vírus. Esses cuidados se dividem em cinco momentos, denominados “Cascata de cuidado contínuo do HIV”, que têm sido reconhecidos mundialmente como forma de estabelecer metas e monitorar os avanços relativos ao cuidado das PVHIV. A hepatite B trata-se de uma doença que necessita de compreensão do profissional de saúde para rápida identificação de situações que interfiram de forma significativa no sucesso do acompanhamento e na adesão ao tratamento, além da disciplina do paciente. Portanto, o profissional de saúde precisa estabelecer uma sólida relação com o paciente. Após anos de discussão, a dimensão da sexualidade ainda surge como um tema polêmico e difícil de progredir, resultado de tabus e preconceitos que permeiam o tema. A organização das instituições de saúde e as práticas de saúde produzem esse contexto quando oferecem uma atenção fragmentada e de baixa resolutividade. A Atenção Primária à Saúde exerce um importante papel neste assunto e a saúde sexual e reprodutiva deve ser tema constante de ações deste meio. O papilomavírus humano (HPV) é um DNA que pode induzir uma grande variedade de lesões proliferativas anogenitais. Geralmente, as infecções não são aparentes ou sintomáticas. Porém, outras podem apresentar- se sob a forma de lesões exofíticas, chamados condilomas acuminados, verrugas genitais ou cristas de galo. A principal medida de prevenção contra a hepatite B é a vacinação, sendo extremamente eficaz e segura. A vacina HBV, contra a hepatite B, desde 2016 está indicada para todas as faixas etárias. Três doses de vacina contra a hepatite B induzem títulos protetores de anticorpos (anti-HBs maior ou igual a 10 UI/mL) em mais de 90% dos adultos e dos jovens sadios, e em mais de 95% dos lactentes, das crianças e dos adolescentes. A gestação e a lactação não representam contraindicações para imunização. Se possível, a primeira dose da vacina deve ser administrada no momento do primeiro atendimento. O principal mecanismo de transmissão do vírus da hepatite A (HAV) é o fecal-oral. A transmissão sexual desse vírus é infrequente. A vacinação se constitui como a principal medida de prevenção contra a hepatite A, sendo extremamente eficaz e segura. 144 FURB (2019) O câncer de mama é o segundo tipo de câncer que mais acomete brasileiras, representando em torno de 25% de todos os cânceres que afetam o sexo feminino. Para o Brasil, foram estimados 59.700 casos novos de câncer de mama em 2019, com risco estimado de 56 casos a cada 100 mil mulheres (INCA, 2019). A assistência de enfermagem à mulher inclui, entre outros, a prestação de informações sobre esse tipo de câncer tão comum. Sobre esse assunto, registre V, para as afirmativas verdadeiras, e F, para as falsas: ( ) Manter o peso corporal saudável, ser fisicamente ativa, evitar bebidas alcoólicas, não utilizar anticoncepcional e realizar pesquisa de mutação dos genes BRCA 1 e 2 são hábitos que devem ser incentivados para prevenção do câncer de mama. ( ) Menarca antes dos 12 anos, não ter tido filhos, primeira gravidez após os 30 anos, não ter amamentado e histórico familiar de câncer de ovário são alguns dos fatores de risco para o câncer de mama. ( ) Olhar, palpar e sentir as mamas no dia a dia para reconhecer suas variações naturais e identificar as alterações suspeitas são práticas que devem ser repassadas às mulheres. ( ) A maior parte dos cânceres de mama é descoberta pelas próprias mulheres. ( ) A mamografia não é recomendada antes dos 50 anos, porque, nessa idade, sua radiação provoca, a longo prazo, mais riscos do que benefícios. Assinale a alternativa com a sequência correta: a) V – V – V – V – V. b) F – F – V – V – V. c) V – F – F – F – F. d) F – V – V – V – F. e) V – F – F – F – V. Resposta: Alternativa “a” - V – V – V – V – V. 1. AMEOS (2019) O controle de câncer de mama deve priorizar a prevenção e a detecção precoce. A prevenção não deve focalizar apenas os fatores de risco associados ao câncer de mama, mas também os fatores de proteção. Sobre os fatores de risco para o câncer de mama, considere os itens a seguir: I - Obesidade na pós-menopausa, exposição à radiação ionizante em altas doses; II - Exposição a pesticidas/organoclorados, tabagismo; III - Avanço da idade, menarca precoce, menopausa tardia; IV - Primeira gestação tardia, história de doença mamária benigna, alta densidade mamária. São fatores de risco não modificáveis para o câncer de mama os apresentados nos itens: a) I e II, apenas. b) II e III, apenas. c) III e IV, apenas. d) I e IV, apenas. e) I, apenas. 145 Discursiva: O que é o HPV? Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas, IST, Assistência e Tratamento, Saúde da Pessoa Vivendo, Medicamentos, Profissionais de Saúde. O PCDT visa a melhorar a qualidade da atenção à saúde das pessoas com IST no país, sendo baseado em extensa revisão de evidências científicas e validado em discussões com especialistas. É um documento que orienta o papel dos gestores no manejo programático e operacional desses agravos, bem como as ações dos profissionais de saúde na triagem, diagnóstico, tratamento e ações de prevenção às populações-chave e/ou pessoas com IST e suas parcerias sexuais. A sífilis é uma infecção bacteriana sistêmica, crônica, curável e exclusiva do ser humano. Quando não tratada, evolui para estágios de gravidade variada, podendo acometer diversos órgãos e sistemas do corpo. Trata-se de uma doença conhecida há séculos; seu agente etiológico, descoberto em 1905, é o Treponema pallidum, subespécie pallidum. Sua transmissão se dá principalmente por contato sexual; contudo, pode ser transmitida verticalmente para o feto durante a gestação de uma mulher com sífilis não tratada ou tratada de forma não adequada (BRASIL, 2017). A maioria das pessoas com sífilis são assintomáticas; quando apresentam sinais e sintomas, muitas vezes não os percebem ou valorizam, e podem, sem saber, transmitir a infecção às suas parcerias sexuais. Quando não tratada, a sífilis pode evoluir para formas mais graves, comprometendo especialmente os sistemas nervoso e cardiovascular. Respostas: 1. Alternativa “a” – I e II, apenas 146 Discursiva: O papilomavírus humano (HPV) é um DNA que pode induzir uma grande variedade de lesões proliferativas anogenitais. Geralmente, as infecções nãosão aparentes ou sintomáticas. Porém, outras podem apresentar-se sob a forma de lesões exofíticas, chamados condilomas acuminados, verrugas genitais ou cristas de galo. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria MS/GM nº 1.473, de 24 de junho de 2011. Institui os Comitês Gestores, Grupos Executivos, Grupos Transversais e os Comitês de Mobilização Social e de Especialistas dos compromissos prioritários de governo organizados por meio de Redes Temáticas de Atenção à Saúde. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 27 jun. 2011. Seção 1. p. 119-120. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria MS/GM nº 2.488, de 21 de outubro de 2011. Aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica, para a Estratégia Saúde da Família (ESF) e o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 22 out. 2011. Seção 1. p. 48-55. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no Brasil: 2011-2022. Brasília, 2011. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. – Brasília: Ministério da Saúde, 2015. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Hepatite B e Coinfecções / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. – Brasília: Ministério da Saúde, 2017. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/Aids e das Hepatites Virais. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Manejo da Infecção pelo HIV em Adultos / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/Aids e das Hepatites Virais. – Brasília: Ministério da Saúde, 2018. Telo, Shana Vieira e Witt, Regina Rigatto. Saúde sexual e reprodutiva: competências da equipe na Atenção Primária à Saúde. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2018, v. 23, n. 11. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1413-812320182311.20962016 https://doi.org/10.1590/1413-812320182311.20962016 147 UNIDADE III CAPÍTULO 12 - PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES, DETERMINAÇÃO SOCIAL DO PROCESSO SAÚDE-DOENÇA E GRUPOS POPULACIONAIS VULNERÁVEIS No término deste capítulo, você deverá saber: ✓ Determinação social do processo saúde-doença; ✓ Grupos populacionais vulneráveis; ✓ Saúde Integral da População Negra; ✓ Atenção à Saúde dos Povos Indígenas; ✓ Atenção Integral a população em situação de rua; ✓ Práticas Integrativas e Complementares (PIC’s); ✓ Cuidados paliativos; ✓ Atendimento a vítimas de violência. Introdução Acolher só é possível na prática se gestores, profissionais de saúde e também usuários fizerem dela mais que uma política ou um discurso, mas a transformarem em um modelo de gestão, uma conquista diária na prática do serviço e um desafio a ser incansavelmente debatido nas instâncias pertinentes ao controle social. A atenção primária, por ser o eixo estruturante da rede de atenção à saúde apresenta especial relevância para o acolhimento de pessoas em situação de vulnerabilidade e necessitando de atendimentos especiais. Sendo assim, os gestores e profissionais precisam enxergar a necessidade da população adscrita, seja na oferta de práticas integrativas complementares, no cuidado paliativo ou na atenção a populações vulneráveis. A universalidade do SUS é caracterizada pelo pleno acesso aos serviços públicos de saúde e de qualidade, para toda a polução, porém na prática, o direito de acesso à saúde ainda precisa de muita discussão. A efetividade das ações apenas será possível quando os recursos humanos se apoderarem do conhecimento norteador das individualidades de cada parcela da população assistida. 148 12.1 Determinação social do processo saúde-doença Figura 1 - Determinantes sociais: modelo de Dahlgren e Whitehead De acordo com a Comissão Nacional sobre os Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS), estabelecida em 2006, os DSS são: “os fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população”. As conexões entre determinantes sociais e saúde consistem em estabelecer uma hierarquia de determinações entre fatores mais distais, sociais, econômicos e políticos e mais proximais relacionados diretamente ao modo de vida, sendo distintos os fatores que afetam a situação de saúde de grupos e de pessoas. A Figura 1, ilustra o modelo de Dahlgren e Whitehead que inclui os DSS dispostos em diferentes camadas, desde uma camada mais próxima dos determinantes individuais até uma camada distal, onde se situam os macrodeterminantes. Os indivíduos estão na base do modelo, com suas características individuais de idade, sexo e fatores genéticos. Na camada imediatamente externa aparecem o comportamento e os estilos de vida individuais. A camada seguinte destaca a influência das redes comunitárias e de apoio. No próximo nível estão representados os fatores relacionados a condições de vida e de trabalho, disponibilidade de alimentos e acesso a ambientes e serviços essenciais, como saúde e educação. Finalmente, no último nível estão situados os macrodeterminantes relacionados às condições econômicas, culturais e ambientais da sociedade e que possuem grande influência sobre as demais camadas. 149 Apesar de a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PNPIC) ter sido aprovada pelo Ministério da Saúde somente em 2006, o debate sobre legitimar o conjunto de saberes não englobados pelo modelo biomédico começou a ser discutido em meados dos anos 1980, na 8ª Conferência Nacional de Saúde. 12.2 Grupos populacionais vulneráveis A atenção à saúde dos grupos populacionais vulneráveis pretende contribuir com ações voltadas à proteção e promoção da saúde. Embora o acesso a recursos seja reduzido, essa população precisa ser acolhida e integrada às Redes de Atenção à Saúde. A situação de vulnerabilidade pode ser influenciada por acesso à informação, identificação das suscetibilidades pelo próprio indivíduo e acesso a mecanismos de prevenção, denominada condições cognitivas. Vulnerabilidade envolve fatores sociais, étnicos, culturais e econômicos que resultam em desigualdades sociais. Entre essas populações encontram-se os profissionais de sexo, usuários de drogas, homens que fazem sexo com homens, e indivíduos que vivam sob o estigma social de determinadas doenças infecciosas. Povos do campo, das florestas e das águas, população negra, população LGBT, quilombolas, indígenas, pessoas em situação de rua, ribeirinhos, moradores de periferia e favela, ciganos, aqueles que vivem com HIV/AIDS, trabalhadores informações e outros, têm em comum que estão à margem da sociedade, pois precisam lidar com as desigualdades no acesso aos direitos. Pesquisa mais sobre a atenção à saúde nas comunidades ribeirinhas. 150 Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais da Saúde Foi criada em 2006, com o objetivo de promover estudos sobre os determinantes sociais em saúde, recomendar políticas para a promoção da equidade em saúde, mobilizar setores da sociedade para o debate e posicionamento em torno desse tema e para o enfrentamento das iniquidades em saúde. 12.3 Saúde integral dapopulação negra O racismo ainda é um fenômeno presente nas estruturas estatais e da sociedade brasileira, e a percepção geral é de que esse fenômeno incide no tratamento dado às pessoas negras, relativamente ao acesso a oportunidades e direitos, como no caso dos serviços de saúde pública. Portanto, é imprescindível a atuação do Estado na promoção de ações que eliminem progressivamente esse obstáculo histórico. A Portaria Nº 992/09 do Ministério da Saúde, que instituiu a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, deixa bem claro esses problemas e a necessidade de uma atenção a esse grupo vulnerável. Os objetivos da Política são: • Promover a saúde integral da população negra, priorizando a redução das desigualdades étnico-raciais, o combate ao racismo e à discriminação nas instituições e serviços do SUS; • Garantir e ampliar o acesso da população negra residente em áreas urbanas, em particular nas regiões periféricas dos grandes centros, às ações e aos serviços de saúde; • Garantir e ampliar o acesso da população negra do campo e da floresta, em particular as populações quilombolas, às ações e aos serviços de saúde; • Incluir o tema Combate às Discriminações de Gênero e Orientação Sexual, com destaque para as interseções com a saúde da população negra, nos processos de formação e educação permanente dos trabalhadores da saúde e no exercício do controle social; • Identificar, combater e prevenir situações de abuso, exploração e violência, incluindo assédio moral, no ambiente de trabalho; • Aprimorar a qualidade dos sistemas de informação em saúde por meio da inclusão do quesito cor em todos os instrumentos de coleta de dados adotados pelos serviços públicos, os conveniados ou contratados pelo SUS; • Melhorar a qualidade dos sistemas de informação do SUS no que tange à coleta, processamento e análise dos dados desagregados por raça, cor e etnia; • Identificar as necessidades de saúde da população negra do campo e da floresta e das áreas urbanas e utilizá-las como critério de planejamento e definição de prioridades; • Definir e pactuar, com as três esferas de governo, indicadores e metas para a promoção da equidade étnico-racial na saúde; 151 • Monitorar e avaliar os indicadores e as metas pactuados para a promoção da saúde da população negra visando reduzir as iniquidades macrorregionais, regionais, estaduais e municipais; • Incluir as demandas específicas da população negra nos processos de regulação do sistema de saúde suplementar; • Monitorar e avaliar as mudanças na cultura institucional, visando à garantia dos princípios antirracistas e não discriminatórios; • Fomentar a realização de estudos e pesquisas sobre racismo e saúde da população negra. Em 2004, foi efetivada a política de inclusão da população quilombola, que criou um incentivo para a ampliação de equipes de estratégia da saúde para as comunidades quilombolas. 12.4 Atenção à saúde dos povos indígenas A Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas integra a Política Nacional de Saúde, compatibilizando as determinações das Leis Orgânicas da Saúde com as da Constituição Federal. A atuação na atenção ao indígena caminha por diferentes singularidades, onde desde a concepção da ideia de saúde até o modelo de atendimento devem ser planejados sob formas particulares no que diz respeito às relações da interculturalidade, envolvendo brancos e índios, e entre as diferenças culturais nas etnias que compõe estes povos. A fim de alcançar este propósito, algumas diretrizes foram estabelecidas para orientarem a definição de instrumentos de planejamento, implementação, avaliação e controle das ações de atenção à saúde dos povos indígenas: • Organização dos serviços de atenção à saúde dos povos indígenas na forma de Distritos Sanitários Especiais e Pólos-Base, no nível local, onde a atenção primária e os serviços de referência se situam; • Preparação de recursos humanos para atuação em contexto intercultural; • Monitoramento das ações de saúde dirigidas aos povos indígenas; • Articulação dos sistemas tradicionais indígenas de saúde; • Promoção do uso adequado e racional de medicamentos; • Promoção de ações específicas em situações especiais; • Promoção da ética na pesquisa e nas ações de atenção à saúde envolvendo comunidades indígenas; • Promoção de ambientes saudáveis e proteção da saúde indígena; • Controle social. 152 12.5 Atenção integral a população em situação de rua A Política Nacional da População em Situação de Rua, prevista no Decreto nº 7053/2009, tem o atributo de garantir a este público que vive nas ruas efetivas políticas de atenção e cuidado, e cabe ao Ministério Público monitorar e garantir o cumprimento dessa política necessária para dar dignidade e atendimento de qualidade a quem é marginalizado em nossa sociedade. São objetivos da Política: • Assegurar o acesso amplo, simplificado e seguro aos serviços e programas que integram as políticas públicas de saúde, educação, previdência, assistência social, moradia, segurança, cultura, esporte, lazer, trabalho e renda; • Garantir a formação e capacitação permanente de profissionais e gestores para atuação no desenvolvimento de políticas públicas intersetoriais, transversais e intergovernamentais direcionadas às pessoas em situação de rua; • Instituir a contagem oficial da população em situação de rua; • Produzir, sistematizar e disseminar dados e indicadores sociais, econômicos e culturais sobre a rede existente de cobertura de serviços públicos à população em situação de rua; • Desenvolver ações educativas permanentes que contribuam para a formação de cultura de respeito, ética e solidariedade entre a população em situação de rua e os demais grupos sociais de modo a resguardar a observância aos direitos humanos; • Incentivar a pesquisa, produção e divulgação de conhecimentos sobre a população em situação de rua, contemplando a diversidade humana em toda a sua amplitude étnico-racial, sexual, de gênero e geracional, nas diversas áreas do conhecimento; • Implantar centros de defesa dos direitos humanos para a população em situação de rua; • Incentivar a criação, divulgação e disponibilização de canais de comunicação para o recebimento de denúncias de violência contra a população em situação de rua, bem como de sugestões para o aperfeiçoamento e melhoria das políticas públicas voltadas para este segmento; • Proporcionar o acesso das pessoas em situação de rua aos benefícios previdenciários e assistenciais e aos programas de transferência de renda, na forma da legislação específica; • Criar meios de articulação entre o Sistema Único de Assistência Social e o Sistema Único de Saúde para qualificar a oferta de serviços; • Adotar padrão básico de qualidade, segurança e conforto na estruturação e reestruturação dos serviços de acolhimento temporários; • Implementar centros de referência especializados para atendimento da população em situação de rua no âmbito da proteção social especial do Sistema Único de Assistência Social; • Implementar ações de segurança alimentar e nutricional suficientes para proporcionarem acesso permanente à alimentação pela população em situação de rua à alimentação, com qualidade; • Disponibilizar programas de qualificação profissional para as pessoas em situação de rua, com o objetivo de propiciar o seu acesso ao mercado de trabalho. O Manual sobre o Cuidado à Saúde junto à População em Situação de Rua aborda sobre a vida na rua e a exposição aos problemas de saúde que ela traz e busca soluções par ao enfrentamento das vulnerabilidades. Alguns dos motivos citados são: a vulnerabilidade à violência, a alimentação incerta e sem condições de higiene, a pouca disponibilidade de água potável, a privação de sono e afeição 153 e a dificuldade de adesão a tratamento de saúde. Alguns dosproblemas de saúde mais recorrentes nessa população e citados no Manual são: problemas nos pés, infestações, DST/ HIV/AIDS, gravidez de alto risco, doenças crônicas, consumo de álcool e drogas, saúde bucal e tuberculose. 12.6 Práticas integrativas e complementares (PIC’s) Com base na escuta acolhedora, no desenvolvimento do vínculo terapêutico e na integração do ser humano com o meio ambiente e a sociedade, as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) são recursos terapêuticos que buscam a prevenção de doenças e a recuperação da saúde. Estas práticas foram institucionalizadas por meio da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS (PNPIC). Atualmente 29 PICS são contempladas no SUS, entre elas estão: • Medicina Tradicional Chinesa/Acupuntura; • Medicina Antroposófica; • Homeopatia; • Plantas Medicinais e Fitoterapia; • Termalismo Social/Crenoterapia; • Arteterapia; • Ayurveda; • Biodança; • Dança Circular Meditação; • Musicoterapia; • Naturopatia; • Osteopatia; • Quiropraxia; • Reflexoterapia; • Reiki; • Shantala; • Terapia Comunitária Integrativa; • Yoga; • Apiterapia; • Aromaterapia; • Bioenergética; • Constelação familiar; • Cromoterapia; • Geoterapia; • Hipnoterapia; • Imposição de mãos; • Ozonioterapia; • Terapia de Florais. Estas importantes práticas são transversais em suas ações no SUS e podem estar presentes em todos os pontos da Rede de Atenção à Saúde, prioritariamente na Atenção Primária com grande potencial de atuação. Uma das abordagens desse campo são a visão ampliada do processo saúde/doença e da promoção global do cuidado humano, especialmente do autocuidado. As 154 indicações são embasadas no indivíduo como um todo, considerando-o em seus vários aspectos: físico, psíquico, emocional e social. 12.7 Cuidados paliativos A abordagem propõe oferecer atenção integral às pessoas que sofrem com problemas crônicos ou estão próximas da morte. Paliar é aliviar o sofrimento do outro, não há interrupção do cuidado mesmo nos momentos em que as doenças ameaçam a continuidade da vida. A abordagem é baseada no cuidado baseado na pessoa. No Brasil, ainda há poucos serviços de cuidados paliativos e, talvez por este motivo, existe a confusão equivocada com a prática da eutanásia e da distanásia. O Programa de Cuidados Paliativos no SUS visa integrar a prática de cuidados paliativos em toda a rede de atenção à saúde (atenção básica, cuidados ambulatoriais, domiciliares e hospitalares) a pacientes e famílias do SUS de forma a propiciar cuidados continuados integrados. A abordagem é prevista nos serviços hospitalares, ambulatoriais e domiciliares voltados para pacientes oncológicos. Segundo informações do Ministério da Saúde, são ofertados atendimentos por meio da Atenção Básica e Especializada e do Programa Melhor em Casa. 12.8 Atendimento a vítimas de violência O atendimento a vítima de violência deve ser prioridade; a privacidade, garantida e fomentada no estabelecimento de relação de confiança e respeito. O acolhimento deve ser capaz de reduzir danos e sofrimentos, por isso é importante ouvir e estar atento às comunicações verbais e não verbais, para somente depois preencher formulários e prontuários. Uma atividade compreensiva, evitando críticas e julgamento deve ser adotada pelo profissional. É fundamental atenção aos sinais de alerta de violência (explicação inconsistente de traumatismo ou atraso na busca de atendimento médico, queixas como dor abdominal crônica, cefaleia, fadiga e falta de adesão ao tratamento) e realizar uma abordagem clínica centrada na pessoa de forma empática ética e sigilosa. As equipes multiprofissionais das unidades de APS devem ser capacitadas em atividades educativas para fortalecimento de ações de acolhimento, criação de vínculo, escuta qualificada e elaboração de projetos terapêuticos. 12.9 Considerações finais O atendimento humanizado e acolhedor é um ato de profissionalismo, solidariedade e repúdio ao sadismo nos ambientes de saúde. Trata-se de enxergar a vulnerabilidade para além da caridade. Qual que seja a necessidade da pessoa atendida, o atendimento deve ser livre de preconceitos, entretanto para liberta-se, é preciso conhecer as particularidades. Este capítulo, trouxe um pouco das políticas e estratégias, porém cabe ao futuro profissional da enfermagem, capacitar-se para os grandes desafios da prática diária. 155 De acordo com a Comissão Nacional sobre os Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS), estabelecida em 2006, os DSS são: “os fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população”. A atenção à saúde dos grupos populacionais vulneráveis pretende contribuir com ações voltadas à proteção e promoção da saúde. Embora o acesso a recursos seja reduzido, esta população precisa ser acolhida e integrada as Redes de Atenção à Saúde. O racismo ainda é um fenômeno presente nas estruturas estatais e da sociedade brasileira, e a percepção geral é de que esse fenômeno incide no tratamento dado às pessoas negras, relativamente ao acesso a oportunidades e direitos, como no caso dos serviços de saúde pública. Portanto, é imprescindível a atuação do Estado na promoção de ações que eliminem progressivamente esse obstáculo histórico. A Portaria nº 992/09 do Ministério da Saúde – que instituiu a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra – deixa bem claro esses problemas e a necessidade de uma atenção a esse grupo vulnerável. A atuação na atenção ao indígena caminha por diferentes singularidades, onde desde a concepção da ideia de saúde até o modelo de atendimento devem ser planejados sob formas particulares no que diz respeito às relações da interculturalidade, envolvendo brancos e índios, e entre as diferenças culturais nas etnias que compõe estes povos. A Política Nacional da População em Situação de Rua, prevista no Decreto nº 7053/2009, tem o atributo de garantir a este público que vive nas ruas efetivas políticas de atenção e cuidado, e cabe ao Ministério Público monitorar e garantir o cumprimento dessa política necessária para dar dignidade e atendimento de qualidade a quem é marginalizado em nossa sociedade. Com base na escuta acolhedora, no desenvolvimento do vínculo terapêutico e na integração do ser humano com o meio ambiente e a sociedade, as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) são recursos terapêuticos que buscam a prevenção de doenças e a recuperação da saúde. Estas práticas foram institucionalizadas por meio da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS (PNPIC). Cuidado paliativo é uma abordagem que propõe oferecer atenção integral às pessoas que sofrem com problemas crônicos ou estão próximas da morte. Paliar é aliviar o sofrimento do outro, não há interrupção do cuidado mesmo nos momentos em que as doenças ameaçam a continuidade da vida. O atendimento a vítima de violência deve ser prioridade, a privacidade garantida e fomentada no estabelecimento de relação de confiança e respeito. O acolhimento deve ser capaz de reduzir danos e sofrimentos, por isso é importante ouvir e estar atento às comunicações verbais e não-verbais, para somente depois preencher formulários e prontuários. Uma atividade compreensiva, evitando críticas e julgamento deve ser adotada pelo profissional. É fundamental a atenção aos sinais de alerta de violência (explicação inconsistente de traumatismo ou atraso na busca de atendimento médico, queixas como dor abdominal crônica, cefaleia, fadiga e falta de adesão ao tratamento) e realizar uma abordagem clínica centrada na pessoa de forma empática ética e sigilosa. 156 INEP (2016) - Um homem com 74 anos de idade chega ao Pronto Socorro de um hospital, acompanhado da esposa, com disfunção respiratória,consciente e relatando forte dor em tórax e abdome. Recebe, no acolhimento, classificação de risco e é levado à sala de emergência. Durante o atendimento, a esposa entrega os resultados de tomografia computadorizada que revelam diagnóstico de carcinoma brônquico em estágio avançado, com metástases ósseas e hepáticas. Tenta argumentar com a equipe de saúde, sem sucesso, a respeito da decisão do esposo de "não receber nenhuma medida invasiva", de não ficar sozinho e de ter ciência de sua terminalidade. Entretanto, não é permitida a sua presença durante o atendimento do marido, que é entubado e encaminhado à unidade de terapia intensiva (UTI). Três horas mais tarde, no horário de visitas, que dura 30 minutos, esposa e filhos não conseguem interação com o paciente, que se encontra em estado comatoso induzido por medicamentos. A esposa conversa com o médico e a enfermeira de plantão, relatando a vontade do esposo e recebe a orientação de voltar no dia seguinte para conversar com o médico responsável. Solicita permanecer junto ao esposo, pedido que lhe é negado em razão das rotinas da UTI. Mais tarde, no mesmo dia, a enfermeira e a equipe médica comunicam-lhe o óbito do paciente. Considerando a Política Nacional de Humanização, a Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde e os Princípios da Boa Morte, presentes no Caderno de Humanização na Atenção Hospitalar, avalie as afirmações a seguir, acerca da assistência a ser prestada a esse paciente e à sua família. I. Dado o quadro clínico do paciente, deve-se priorizar a realização dos procedimentos de suporte de vida, a despeito da vontade anteriormente expressa pelo paciente à família. II. Ao paciente deveria ter sido assegurado o direito à escolha de alternativa de tratamento e à recusa do tratamento proposto. III. Com base nos Princípios da Boa Morte, a equipe de saúde deveria ter assegurado ao paciente o controle sobre quem estaria com ele em seu final de vida para ter tempo de se despedir. IV. Na assistência ao paciente e à sua família deveriam ter sido respeitados os princípios da Política Nacional de Humanização, que tem como proposta, dentre outras, o reconhecimento dos limites dos saberes e a afirmação de que o sujeito é sempre maior que os diagnósticos propostos. V. No caso do atendimento ao paciente, não foi possível considerar seus desejos e os de sua família, pois ele não tinha condições de opinar, em razão do quadro clínico respiratório, sendo o estabelecimento de uma respiração efetiva e a sedação para alívio da dor prioridades na tomada de decisão dos profissionais da saúde. É correto apenas o que se afirma em a) II e V. b) I, II e V. c) I, III e IV. d) II, III e IV. e) I, III, IV e V. Resposta - d) II, III e IV. 157 1. INEP (2016) - A integração dos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD) com os demais serviços de saúde é fundamental para o diagnóstico de situações de risco e ações conjuntas para assistência a usuários de álcool e outras drogas. Considerando as estratégias para aproximação do serviço de atenção básica de saúde com o usuário de drogas, ao se identificar usuário de crack em situação de risco por doença hipertensiva informada por familiares, deve-se providenciar a) Notificação urgente ao serviço policial. b) Indicação do usuário a um grupo terapêutico. c) Imediata solicitação de consulta especializada. d) Visita domiciliar e agendamento de consulta. e) Encaminhamento do usuário ao hospital psiquiátrico de referência. Discursiva: Descreva o atendimento paliativo no âmbito da Atenção Primária à Saúde. Radis© é uma publicação impressa e online da Fundação Oswaldo Cruz, editada pelo Programa Radis de Comunicação e Saúde, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP). • Eutanásia: aceleração do processo natural da morte por meios artificiais; • Distanásia: prolongamento da vida por meios artificiais e procedimentos invasivos. 158 No Rio Grande do Sul, um projeto pioneiro chamado “Estar ao Seu Lado” aplica cuidados paliativos na atenção primária. Fundado em 2014, o projeto oferece suporte, conforto e proteção. Acesse a Resolução nº 41, de 31 de outubro de 2018, que dispõe sobre as diretrizes para a organização dos cuidados paliativos, à luz dos cuidados continuados integrados, no âmbito Sistema Único de Saúde (SUS). Link: https://www.in.gov.br/web/guest/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/51520746/do1-2018-11- 23-resolucao-n-41-de-31-de-outubro-de-2018-51520710 Respostas: 1. Alternativa “d” - visita domiciliar e agendamento de consulta. Discursiva: Segundo informações do Ministério da Saúde, são ofertados atendimentos por meio da Atenção Básica e Especializada e do Programa Melhor em Casa. Brasil. Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas. Portaria do Ministério de Saúde nº 354 de 32 de janeiro de 2002. Brasil. Portaria nº. 971, de 03 de maio de 2006. Aprova a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde. Brasília, DF. 2006 https://www.in.gov.br/web/guest/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/51520746/do1-2018-11-23-resolucao-n-41-de-31-de-outubro-de-2018-51520710 https://www.in.gov.br/web/guest/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/51520746/do1-2018-11-23-resolucao-n-41-de-31-de-outubro-de-2018-51520710 159 Brasil. Ministério da Saúde. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no SUS. Brasília, 2006. Brasil. Ministério da Saúde. Política Nacional de Saúde Integral da População Negra: uma política para o SUS. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2013. Brasil. Ministério da Saúde. Saúde da população em situação de rua: um direito humano. Brasília: Ministério da Saúde, 2014. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Sírio-Libanês de Ensino e Pesquisa. Protocolos da Atenção Básica: Saúde das Mulheres. Brasília: Ministério da Saúde, 2016. CNDSS. As causas sociais das iniquidades em saúde no Brasil. In: Relatório final da comissão nacional sobre determinantes sociais da saúde (CNDSS). 2008. Biblioteca Virtual em Saúde para as PICS. Disponível em: https://mtci.bvsalud.org/pt/biblioteca-virtual-em- saude-para-as-pics-2/ Maria Perez Soares D’Alessandro, Carina Tischler Pires, Daniel Neves Forte et al. Manual de Cuidados Paliativos. São Paulo: Hospital Sírio Libanês, 2020. Nogueira, R. P. (org.). Determinação social da saúde e reforma sanitária. Rio de Janeiro: Cebes, 2010. https://mtci.bvsalud.org/pt/biblioteca-virtual-em-saude-para-as-pics-2/ https://mtci.bvsalud.org/pt/biblioteca-virtual-em-saude-para-as-pics-2/