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PEÇA- PLANO DE AULA 05

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PRÁTICA V - PLANO DE AULA 05
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL
DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
____, advogada(o) regularmente inscrita(o) na OAB, Seccional de ____, sob o n. ____,
com escritório no endereço, vem à presença de Vossa Excelência, com fundamento no
artigo 5º, LXVIII, da Constituição Federal, impetrar
HABEAS CORPUS PREVENTIVO COM PEDIDO LIMINAR
em favor de Matilde, nacionalidade, estado civil, desempregada, portadora da cédula de
identidade n. ____, inscrita no CPF/MF n. ____, residente e domiciliada no endereço,
contra ato abusivo praticado pelo Juiz de Direito da 10ª Vara de Família da Comarca da
Capital, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas:
I. DOS FATOS
Na execução de alimentos, que tramita perante o juízo da 10ª Vara de Família da
Capital, Matilde, ora paciente, foi citada para efetuar o pagamento da quantia de R$
5.000,00 (cinco mil reais), referentes aos últimos cinco meses não pagos dos alimentos
fixados por sentença pelo juízo da mesma Vara de Família.
Fruto da grave situação econômica no país, a paciente encontra dificuldades de
inserção no mercado de trabalho - restando desempregada há 1 ano -, o que passou a
acarretar sérias restrições financeiras a ela, impossibilitando o pagamento da dívida
alimentar.
Diante da real impossibilidade da executada em adimplir a sua dívida, o
magistrado decretou a prisão da mesma, pelo prazo de sessenta dias. Ato que
notadamente viola o direito à liberdade de locomoção e fundamenta a propositura do
presente Habeas Corpus.
II. DO CABIMENTO
Encontra amparo nos termos do artigo 5º, LXVIII da Constituição Federal, o
cabimento de habeas corpus para garantir direito fundamental, sempre que alguém
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sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação ao seu direito de liberdade de
locomoção por ato praticado com abuso de poder ou legalidade.
Na presente ação é almejada a concessão da garantia constitucional diante de ato
abusivo cometido pelo Juiz de Direito da 10ª Vara de Família da Comarca da Capital
contra a paciente - que visa constranger sua liberdade de ir e vir.
III. DIREITO
A execução da prestação alimentícia com a utilização do instrumento coercitivo
da ameaça de prisão civil, é possível somente nas hipóteses em que o débito executado
compreenda o inadimplemento dos três meses anteriores ao ajuizamento da ação. O ato
abusivo praticado pela autoridade coatora é fundamentado pela execução de cinco
meses de insolvência, incorrendo, portanto, em excesso de execução, uma vez que a
prisão civil, prevista no artigo 911, da Lei 13.105/2015, segundo entendimento da
Súmula 309 do STJ, refere-se aos 03 últimos meses já aludidos.
Traduz medida absolutamente excepcional a constrição de liberdade no Brasil,
devendo, quando cabível, ser justificada pelo magistrado mediante prolação de decisão
judicial revestida de necessária fundamentada (art. 93, IX, da Constituição Federal), que
leve em consideração as peculiaridades do caso concreto. Deste modo, a simples opção
pelo rito especificado no artigo 528, do Código de Processo Civil não pode desaguar na
decretação da prisão do devedor sem que antes, sejam analisadas as especificidades que
envolvem a inadimplência.
Até mesmo porque o próprio texto do artigo mencionado reconhece o caráter
excepcional da medida, ao prenunciar
Art. 528. No cumprimento de sentença que condene ao pagamento de
prestação alimentícia ou de decisão interlocutória que fixe alimentos,
o juiz, a requerimento do exequente, mandará intimar o executado
pessoalmente para, em 3 (três) dias, pagar o débito, provar que o fez
ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo. (grifado)
Autoriza a prisão a falta de pagamento ou a ausência de justificativa pelo
inadimplemento, possibilidade da qual foi cerceada a paciente, restando seu direito à
ampla defesa e ao contraditório violados.
Como narrado, a paciente não deixou de pagar os valores alimentícios por
negligência, mas pela crise que assola a nação, e acarreta na situação de desemprego da
paciente. O artigo 5º, LXVII, da CRFB/88 estabelece como requisito para o decreto de1
prisão por dívida o inadimplemento voluntário e inescusável da obrigação alimentícia,
hipótese que não está presente no caso concreto.
1 Art. 5º, LXVII, da CRFB - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo
inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel.
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Está esculpido o mesmo entendimento no artigo 528, § 2º do CPC, que entende
que “somente a comprovação de fato que gere a impossibilidade absoluta de pagar
justificará o inadimplemento”, tal fato motivador contempla a etapa vivenciada pela
paciente, que não vem adimplindo com a prestação alimentícia por sua total
impossibilidade financeira, devido a falta de emprego, mas sempre cumpriu com suas
obrigações maternas, até então.
Há violação de princípio basilar da Lei Maior, com previsão no artigo 1º, III,
CRFB/88, com a possibilidade levantada pelo magistrado de cerceamento da liberdade
de locomoção da paciente, sendo certo que a manutenção da decisão, ora guerreada,
culminará em prejuízos irreparáveis a paciente, que poderá ser presa em razão de débito
fulminado de excesso de execução. Outrossim, a prisão ou hipótese de prisão à paciente
impedirá a continuidade de sua busca incessante por emprego, e por consequência,
manterá a impossibilidade de pagar os alimentos devidos, restando o ato prejudicial
também aos exequentes.
IV. DA LIMINAR
Flagrante os fatos narrados, no item anterior, resta evidenciada a presença do
fumus boni iuris. Em que pese a existência de fundamentação na decisão do magistrado,
é pacífico o entendimento jurisprudencial, acima transcrito, quanto à prisão apenas por
dívida dos últimos três meses, bem como, a necessidade de haver o descumprimento
voluntário e inescusável, ausente no caso concreto em discussão, - neste ponto cabe
mencionar que a inobservância dos requisitos constitucionais destacados ressaltam a
fragilidade legal e factual do ato da autoridade coatora.
Ademais, à vista da decisão judicial que determinou a prisão da paciente, resta
manifesto o periculum in mora, considerando a ameaça ao direito de locomoção da
paciente que encontra-se assaz iminente. Notadamente imprescindível a concessão de
liminar para sanar a ilegalidade que está prestes a constranger o direito da paciente, que
intimada para pagar seu vultoso débito, não possui condições suficientes para fazê-lo de
uma só vez, tendo em vista sua condição hodierna de hipossuficiência.
V. DO PEDIDO
Ex positis requer:
a) seja deferida a liminar para determinar ao juízo a colocação da paciente
em liberdade;
b) a notificação da autoridade coatora; e
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c) seja concedida a ordem de habeas corpus preventivo, determinando-se a
expedição de salvo-conduto em favor da paciente, como medida de
verdadeira justiça.
Termos em que, espera deferimento.
Local, data.
Nome da(o) advogada(o)
OAB

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