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Autor: Prof. Vanderlei Carinhas Cardoso Colaboradores: Profa. Sandra Castilho Prof. Mauro Kiehn Profa. Christiane Mazur Doi Empreendedorismo e Plano de Negócios Professor conteudista: Vanderlei Carinhas Cardoso Pós-graduado em Gestão Empresarial pela FGV Management e bacharel em Administração de Empresas pela Universidade Lusíadas (Unilus). Trabalhou por mais de vinte anos em cargos de gestão em instituições financeiras nas áreas de câmbio e comércio exterior, e também em gestão de qualidade, sendo responsável pela implantação e manutenção de certificações da qualidade ISO 9000 e ISO 14000. Exerce ainda a função de consultor na área de gestão e qualidade em pequenas e médias empresas, principalmente em companhias exportadoras e importadoras. Além disso, possui vasta experiência atuando como professor na Universidade Paulista (UNIP). © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) C268e Cardoso, Vanderlei Carinhas. Empreendedorismo e Plano de Negócios / Vanderlei Carinhas Cardoso. – São Paulo: Editora Sol, 2021. 192 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Empreendimento. 2. Negócios. 3. Planos. I. Título. CDU 658.02.001.63 U511.14 – 21 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcello Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Kleber Souza Vitor Andrade Sumário Empreendedorismo e Plano de Negócios APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 EMPREENDEDORISMO: CONCEITOS E HISTÓRICO ............................................................................. 11 1.1 Conceitos e histórico .......................................................................................................................... 11 2 EMPREENDEDORISMO NO SÉCULO XXI ................................................................................................. 13 2.1 Conceitos do empreendedorismo do século XXI ..................................................................... 15 2.2 Empreendedorismo no Brasil ........................................................................................................... 19 2.2.1 Ambiente para empreendedor no Brasil ........................................................................................ 24 2.2.2 Exigências legais para empreender no Brasil .............................................................................. 26 2.2.3 Condições para o empreendedor no Brasil .................................................................................. 28 3 O PROCESSO EMPREENDEDOR ................................................................................................................. 30 3.1 Caraterísticas do empreendedor .................................................................................................... 30 3.1.1 O empreendedor administrador ........................................................................................................ 34 3.1.2 Intraempreendedorismo ...................................................................................................................... 36 3.2 Processo de empreender ................................................................................................................... 40 3.2.1 As quatro fases do processo empreendedor ................................................................................ 41 3.2.2 Identificando oportunidades ............................................................................................................. 42 4 SUCESSO E MORTALIDADE DE NOVOS EMPREENDIMENTOS ........................................................ 44 4.1 Importância do empreendedor para o sucesso ........................................................................ 50 4.1.1 Sucesso das empresas: motivações para o empreendedor .................................................... 51 4.1.2 Fracasso das empresas: sentimentos do empreendedor ......................................................... 53 Unidade II 5 MODELO DE NEGÓCIOS – CANVAS .......................................................................................................... 63 5.1 Canvas: modelo de negócios (Business Model Generation) ............................................... 64 5.1.1 Proposta de valor .................................................................................................................................... 66 5.1.2 Segmentos de clientes .......................................................................................................................... 71 5.1.3 Canais .......................................................................................................................................................... 75 5.1.4 Relacionamento com clientes ........................................................................................................... 79 5.1.5 Fontes de receita ..................................................................................................................................... 83 5.1.6 Recursos principais................................................................................................................................. 86 5.1.7 Atividades principais ............................................................................................................................. 89 5.1.8 Parcerias principais................................................................................................................................. 91 5.1.9 Estrutura de custos ................................................................................................................................ 93 6 CANVAS: PADRÕES DE MODELOS DE NEGÓCIOS .............................................................................. 95 6.1 Negócios desagregados ..................................................................................................................... 96 6.1.1 Cauda longa .............................................................................................................................................. 97 6.1.2 Plataformas multilaterais .................................................................................................................... 99 6.1.3 Negócios abertos ..................................................................................................................................100 6.2 Canvas: estratégias para elaboração ..........................................................................................101 6.2.1 Epicentros de inovação ......................................................................................................................1016.2.2 Estratégias do modelo de negócios ...............................................................................................104 6.2.3 Processo de construção do modelo de negócios .....................................................................106 6.3 Canvas: um exemplo para estudo ...............................................................................................108 6.4 Integração do modelo de negócios Canvas com o plano de negócios ........................111 Unidade III 7 PLANO DE NEGÓCIOS ..................................................................................................................................117 7.1 Os principais pontos e a estrutura do plano de negócios .................................................118 7.2 Análise de oportunidade e de mercado ....................................................................................123 7.2.1 Análise de clientes ............................................................................................................................... 127 7.2.2 Análise de fornecedores .................................................................................................................... 129 7.2.3 Análise de concorrentes .................................................................................................................... 130 7.2.4 Análise de mercado ..............................................................................................................................131 7.3 Plano de marketing ...........................................................................................................................135 7.3.1 Produto .................................................................................................................................................... 135 7.3.2 Preço ......................................................................................................................................................... 140 7.3.3 Praça ......................................................................................................................................................... 142 7.3.4 Promoção ................................................................................................................................................ 144 7.3.5 Projeção de vendas ............................................................................................................................. 146 8 PLANO OPERACIONAL .................................................................................................................................146 8.1 Pessoal: recursos humanos .............................................................................................................147 8.1.1 Infraestrutura e layout ...................................................................................................................... 148 8.1.2 Capacidade produtiva ........................................................................................................................ 150 8.1.3 Processo operacional ...........................................................................................................................151 8.2 Plano financeiro ..................................................................................................................................154 8.2.1 Investimento inicial ............................................................................................................................ 155 8.2.2 Composição dos custos e despesas .............................................................................................. 158 8.2.3 Evolução do faturamento da empresa ........................................................................................ 164 8.2.4 Resultado financeiro e econômico: balanço patrimonial ................................................... 164 8.2.5 Resultado financeiro e econômico: demonstrativo de resultados .................................. 165 8.2.6 Resultado financeiro e econômico: fluxo de caixa ................................................................ 166 8.2.7 Indicadores financeiros de rentabilidade e viabilidade ........................................................ 167 8.3 Sumário executivo .............................................................................................................................170 8.4 Concluindo o plano de negócios .................................................................................................172 7 APRESENTAÇÃO Esta disciplina trata do que é o empreendedorismo a respeito de como elaborar um modelo e um plano de negócios para a abertura de um novo empreendimento. Lida também com os fatores que têm contribuído para a sobrevivência e a mortalidade dos novos negócios. Estudaremos sobre empreendedorismo e o processo empreendedor, as principais características do ser empreendedor, a importância do empreendedorismo na sociedade, tanto econômica quanto socialmente, e analisaremos os resultados de uma avaliação do perfil do profissional da área. Apresentaremos os principais motivos que levam ao sucesso dos empreendimentos, assim como as causas dos fracassos, principalmente nos primeiros anos de vida do negócio. Também aprenderemos sobre a elaboração do modelo e do plano de negócios do novo empreendimento, tendo a oportunidade de acompanhar os passos dessas etapas importantes para o sucesso do empreendedorismo, podendo, inclusive, aplicá-los em uma futura atividade ou ser o orientador na elaboração de um novo negócio. INTRODUÇÃO Todos nós já ouvimos na televisão ou no rádio, bem como vimos em jornais, revistas e em sites sobre o empreendedorismo. Devemos ressaltar que tal prática não é um fato recente na história da humanidade, porém tem ganhado maior importância no mundo atual, uma vez que as diversas transformações que estão ocorrendo na sociedade (globalização, informatização, automação etc.) tornam o ato de empreender uma atividade mais comum e abrangente do que tínhamos. Segundo Dornelas (2014, p. 13), “o empreendedorismo é o combustível para o crescimento econômico, criando emprego e prosperidade”. Portanto, empreendedorismo é, atualmente, uma das maiores forças para a geração de valor econômico da sociedade moderna, não importando se ele se manifesta com a formação de uma startup ou como uma força regeneradora no ambiente de uma empresa já estabelecida. Ainda, conforme o dicionário Priberam, uma das possíveis acepções do termo empreendedorismo é “a atitude de quem, por iniciativa própria realiza ações ou idealiza novos métodos com o objetivo de desenvolver e dinamizar serviços, produtos ou quaisquer atividades de organização e administração”. Esse alguém é o empreendedor. Joseph Alois Schumpeter (2017, p. 166), famoso economista e cientista político austríaco, escreveu em seu livro Capitalismo, Socialismo e Democracia que “a função do empreendedor é reformar ou revolucionar o padrão de produção”. Portanto, vemos a importância do empreendedor para a sociedade, uma vez que é através de suas ações e funções que ocorrem as revoluções nos produtos e serviços ofertados para a população, assim como seus métodos levam a um desenvolvimento crescente para a melhoria da qualidade de vida e, sem dúvida, para o aprimoramento dos processos de administração das organizações. 8 Contudo apenas empreender, por si só, não é receita simples para o sucesso de um novo negócio. Da mesma forma que somos capazes de citar diversos exemplos de sucesso nos empreendimentos, a ponto de termos empresas que possuem um crescimento virtuoso e exponencial em curto prazo de tempo (como startups e unicórnios), também temos um número expressivo de mortalidade dos negócios em um curto prazo. Conforme o relatório do Sebrae de São Paulo (2018), no estado de São Paulo, “aproximadamente 1 em cada 4 empresas registradas com CNPJ fecha antes de completar 2 anos de mercado”: Figura1 – Panorama dos pequenos negócios em 2018 As causas para o fechamento desses negócios podem ser diversas, porém alguns fatores são mais relevantes e estatisticamente mais encontrados. Analisaremos minuciosamente alguns desses motivos no decorrer do presente livro-texto. Porém, já podemos adiantar que parte das causas tem relação direta com a abertura de um novo empreendimento sem o devido estudo sobre o mercado, o modelo de negócios a ser efetuado e, por fim, sem a elaboração de um plano de negócio que possa servir como balizador e indicador do sucesso ou não do empreendimento. Vamos pensar, por exemplo, na montagem de uma loja de roupas. Sabemos que existem vários formatos de loja e inúmeras opções nesse mercado. Como sabemos? Ao andar em um shopping center ou até mesmo pelas ruas nos bairros comerciais de uma cidade, observamos que o segmento de vestuário é extenso. 9 Verificamos que existem pequenas lojas que trabalham com produtos específicos, tais como: roupas infantis, íntimas, femininas etc., e outras que são grandes magazines, que vendem os mais variados modelos de roupa (entre outros produtos), tais como: Riachuelo, Renner etc. Há também diversos outros modelos no segmento, por exemplo: lojas de moda tradicional ou social, de vestidos de noiva, de moda fitness, de moda surfe. Por fim, ainda temos que pensar onde nossa loja será instalada. Se bem que podemos chegar à conclusão de que ela será virtual – e-commerce – e, portanto, não haverá um local físico, sendo as vendas efetuadas diretamente pela internet. Todos esses questionamentos e dúvidas devem ser feitos e verificados antes da abertura do negócio para que as chances de sucesso do empreendimento sejam maiores. É nesse momento que surgem o modelo de negócios e o plano de negócios. Trata-se de passos importantes que necessitam de estudo para que possamos compreender a complexidade de um empreendimento, bem como tenhamos todas as informações trabalhadas e alinhadas a fim de que o novo negócio alcance suas metas e seus objetivos. Este livro-texto foi concebido para gerar uma melhor compreensão não somente acerca das definições de empreendedor e empreendedorismo, mas para reflexão dos sucessos e fracassos dos empreendimentos no mercado, tendo como bússola orientadora o modelo e o plano de negócios, que são práticas já utilizadas no mercado. Não podemos nos esquecer de que um novo negócio é uma empresa, e, portanto, necessita de administração e das suas quatro funções: planejamento, organização, direção e controle. Com isso, é possível afirmar que o presente material aborda diversas informações que irão contribuir para aumentar seu conhecimento no assunto, bem como possibilita a elaboração e/ou acompanhamento de um empreendimento. Bons estudos! 11 EMPREENDEDORISMO E PLANO DE NEGÓCIOS Unidade I 1 EMPREENDEDORISMO: CONCEITOS E HISTÓRICO Vamos compreender melhor os conceitos de empreendedorismo e tratar de dados históricos importantes relacionados ao tema. 1.1 Conceitos e histórico O termo empreendedorismo tem origem na palavra francesa entrepreuner, que designava as pessoas que assumiam algo novo, correndo riscos. Ainda, segundo o Global Entrepreneurship Monitor (GEM) (2018), empreendedorismo é “qualquer tentativa de criação de um novo negócio ou empreendimento, como, por exemplo, uma atividade autônoma, uma nova empresa ou a expansão de um empreendimento existente”. Então, sempre que se descobrem novas oportunidades, o empreendedorismo surge como força fundamental de geração de valor, liberando a criatividade para transformar setores existentes da economia ou para a criação de novos setores. Essa função existe em todas as partes do mundo e é conhecida há muito tempo. Nos Estados Unidos, o termo entrepreneurship é antigo, sendo assimilado por toda a sociedade americana há décadas. Porém, antes mesmo de o termo ser amplamente utilizado pelo mundo, podemos afirmar que o ser humano sempre teve o espírito empreendedor e de inovação para assumir riscos e fazer algo novo para melhoria das condições de vida e para o desenvolvimento do mercado e da economia. Conforme descrito por Harari (2015), quando o ser humano deixou de ser um caçador-coletor nômade, que vivia viajando pelos cantos do velho mundo para sua alimentação, para se tornar um agricultor e pecuarista mais sedentário, escolhendo uma parte do globo para colher suas plantações e criar seus rebanhos, ele correu mais riscos (de enchentes, de seca, de guerras e de violência pela concentração cada vez maior de pessoas) a fim de que houvesse melhorias de condições para ele e as pessoas de seu relacionamento, apesar do aumento de trabalho e dos novos desafios que esse estilo de vida oferecia. Segundo Hisrich, Peters e Shepherd (2009), o primeiro exemplo de empreendedor é Marco Polo. Como a tradução literal da palavra francesa entrepreuner é intermediário, Marco Polo trabalhou como o intermediário que “tentou estabelecer rotas comerciais para o Extremo Oriente”. Também durante a Idade Média, podemos perceber o conceito de empreendedorismo quando havia a criação de grandes projetos de produção, tais como: castelos, catedrais e fortificações, financiados pela nobreza ou pelo clero. 12 Unidade I Ainda no período medieval, podemos afirmar, com convicção, que as Cruzadas (movimentos militares ocorridos para expandir o território cristão) também impulsionaram o comércio e os negócios entre os cidadãos, fato que resultou nos mercadores, no surgimento das cidades (burgos) e na economia das regiões envolvidas. Segundo Dornelas (2014, p. 19), no século XVII, o empreendedorismo se desenvolveu com o empreendedor estabelecendo “um acordo contratual com o governo para realizar algum serviço ou fornecer produtos”. Já no século XVIII, começa um processo de industrialização por meio das diversas invenções que dariam início a uma série de alterações no estilo de vida das pessoas. Nesse século, vemos a transformação do trabalho artesanal para o processo industrial: a Revolução Industrial. A Revolução Industrial tem início por volta do ano 1760, na Inglaterra, com o aparecimento das primeiras indústrias impulsionadas pela invenção da máquina a vapor. Esse fato altera completamente o processo produtivo, bem como cria o trabalho assalariado. É evidente que para surgirem as primeiras empresas seria necessário um espírito de empreendedorismo em algumas pessoas para assumir os riscos e iniciar o processo industrial. Nesse período, também tem origem o trabalho assalariado com a contratação de funcionários para as mais diversas atividades operacionais que surgiam com as novas empresas. Tal revolução continuou por vários anos e, no século XIX, atingiu outros países europeus, como: a França, a Alemanha e a Itália. Mais tarde, na segunda metade do século XIX, a industrialização atravessa o oceano Atlântico e chega aos Estados Unidos da América. Já para o fim do século, temos o que foi denominado como a Segunda Revolução Industrial, com mais empresas surgindo e novas tecnologias ampliando o crescimento produtivo e econômico das organizações e das nações, como a eletricidade e a indústria do petróleo. Como diz Chiavenato (2005) em seu livro Introdução à teoria geral da administração, apesar de a Revolução Industrial não influenciar diretamente a administração de empresas no início de seu processo, ela provocou profundas modificações na estrutura empresarial e econômica da época. A participação dos patrões como empreendedores, ainda que sem toda a complexidade que vemos atualmente, foi fundamental para essa fase. Quando se inicia o século XX e durante todo o seu período de cem anos, ocorre o a revolução do empreendedorismo, pois o mundo passou por uma gama enorme de transformações que alterou de forma permanente as estruturas das empresas e o modo como as pessoas enxergam os conceitos de consumo e necessidade. Segundo Dornelas (2014, p. 5), “os empreendedores estão revolucionando o mundo, seu comportamento e o próprio processoempreendedor”. A grande maioria das invenções que percebemos no século XX surgem da mente de pessoas visionárias, transformadoras, inovadoras e que arriscavam para atingir seus objetivos – essas são algumas das características que vemos até os dias atuais nos empreendedores. A seguir constam algumas das invenções que surgiram no século XX e influenciam nossa vida até hoje: 13 EMPREENDEDORISMO E PLANO DE NEGÓCIOS Quadro 1 – Invenções e conquistas do século XX Ano Invenção/Conquistas 1903 Avião motorizado 1923 Aparelho televisor 1943 Computador 1957 Satélite – Sputnik 1970 Microprocessador 1989 World Wide Web – Internet 1997 Primeiro animal clonado Adaptado de: Dornelas (2014, p. 8). Portanto, foi um século que trouxe crescimento e desenvolvimento jamais vistos pelo homem anteriormente. Como dissemos, foram esses empreendedores que também impulsionaram as empresas com seus novos produtos e serviços. Exemplo de aplicação A maior parte dessas invenções e conquistas influenciaram o mundo e trouxeram maior crescimento e desenvolvimento para as empresas, pessoas e países. Faça uma busca na internet e veja as enormes contribuições que elas fizeram e continuam a fazer em nossas vidas. 2 EMPREENDEDORISMO NO SÉCULO XXI Com a chegada do novo século e a amplitude das tecnologias em uma escala exponencial, o empreendedorismo assume um papel fundamental para a economia de qualquer nação – vivemos a “era do empreendedorismo”. Nunca antes o homem verificou tantas alterações tecnológicas, econômicas e de comunicação como temos visto nos últimos anos: • Internet e sua propagação: seu avanço e sua capilaridade trazem alterações significativas no modo de as pessoas se comunicarem e, com isso, de as empresas também entrarem em contato com o seu cliente. • Globalização: com a ampliação da internet para todos os lugares do planeta, vemos que a globalização, que já existia anteriormente com as exportações e importações entre as nações, se amplia de tal forma que, nos dias atuas, as empresas têm a concorrência se expandido para todo o globo, mas também têm o benefício de ampliar sua gama de clientes para qualquer parte do mundo. 14 Unidade I • Nova economia: com a queda do muro de Berlim e o avanço do capitalismo pelos quatro cantos do mundo, o empreendedorismo também ganha espaço no novo contexto socioeconômico global. Portanto, vemos que o contexto atual é muito propício para a abertura de novos negócios e a ampliação cada vez maior do empreendedorismo nos mais variados setores da economia. Mesmo com todas as conquistas do século anterior, se analisássemos tanto o lado econômico quanto social e educacional de alguns poucos anos, não teríamos a visualização da importância do fato empreendedor para a economia local e global. Dornelas (2014, p. 7) nos informa que “o empreendedorismo tem sido o centro das políticas públicas na maioria dos países”. Tal afirmação ratifica a importância fundamental do profissional da área para novas conquistas do mercado e para o crescimento e desenvolvimento econômico das nações. Temos como exemplo de política pública voltada para o tema as questões relacionadas à educação empreendedora, com alguns modelos de ensino e de apoio ao empreendedor sendo adotados e/ou ampliados em diversos países na busca de levar o empreendedorismo para um maior número de pessoas: • O programa Cap’tem, na Bélgica. • O NFTE (Network For Teaching Entrepreneurship), nos Estados Unidos. • O Sebrae, no Brasil. Portanto, percebemos que o empreendedorismo faz parte da economia de forma incisiva e amplia-se em todos os continentes. Em um mundo repleto de transformações com novas tecnologias, formas de produção e de entrega ao cliente, o interesse pelo tema torna-se peça-chave para o sucesso da economia. Em todo o mundo, o interesse pelo empreendedorismo se estende além das ações de governos nacionais, atraindo também a atenção de muitas organizações e entidades multinacionais, como ocorre na Europa, nos Estados Unidos e na Ásia. Há uma convicção de que o poder econômico dos países depende de seus futuros empresários e da competitividade de seus empreendimentos. Outro exemplo é o interesse do Fórum Econômico Mundial, que patrocina a conferência anual de Davos, no qual o tema empreendedorismo tem sido discutido de forma recorrente, já que é de interesse global (DORNELAS, 2014, p. 11-12). Devemos ressaltar que essa visão já era sentida no final do século XX, tanto que fez surgir o Global Entrepreneurship Monitor (GEM) em 1997, mas sua importância foi ampliada neste século, uma vez que possuía trinta países associados no ano 2000 e cresceu para mais de setenta países em 2019, ou seja, em menos de vinte anos mais que dobrou o número de participantes desse consórcio internacional com foco no empreendedorismo. 15 EMPREENDEDORISMO E PLANO DE NEGÓCIOS Saiba mais Conheça as publicações sobre empreendedorismo brasileiro do Global Entrepreneurship Monitor (GEM) que são conduzidas pelo IBQP em: INSTITUTO BRASILEIRO DE QUALIDADE E PRODUTIVIDADE (IBQP). Global Entrepreneurship Monitor (GEM). Curitiba, [s.d.]. Disponível em: http://www.ibqp.org.br/gem/download/. Acesso em: 5 jan. 2021. 2.1 Conceitos do empreendedorismo do século XXI Se pensarmos no enorme crescimento que o empreendedorismo deu nos últimos anos, a ponto de transformar a economia e ampliar inclusive as políticas públicas de quase todas as nações do mundo, visto que há uma certeza da importância e da abrangência do processo empreendedor para o momento atual e para o futuro, temos que entender que esse avanço é importante para qualquer organização. Como dito por Vieira et al. (2019, p. 9), “o mundo globalizado, repleto de informações e totalmente disruptivo é, atualmente, um grande desafio para qualquer empresa, mesmo aquelas que conseguem ter escala e eficiência produtiva”. O empreendedorismo torna-se mola propulsora da economia de todas as nações e fez revelar de forma rápida e eficiente novos modelos de processos, produtos e serviços, bem como conceitos de produtividade, qualidade e atendimento aos desejos e às necessidades dos clientes. Assim, a teoria do empreendedorismo e suas formas de empreender sofrem alterações significativas. Por exemplo: Uma teoria abrangente de empreendedorismo deve abordar todas as funções de um empreendimento na fase inicial: visão e conceito, desenvolvimento de produto, marketing e vendas, aumento de escala, parceiras e distribuição, e estrutura e desenho organizacional. Tem de proporcionar um método de medir o progresso num contexto de extrema incerteza (RIES, 2012, p. 21). Podemos perceber que esses desafios também são verificados nos empreendimentos de todos os tipos, formas, estruturas e tamanhos. Diante desse fato, os conceitos do setor foram se ampliando para que o mercado pudesse verificar e analisar com maior detalhamento aspectos, características e situações dos novos empreendimentos. Para isso, foi sendo criada uma nomenclatura específica para conceituar alguns empreendimentos. Vamos listar a seguir alguns desses conceitos para seu estudo: 16 Unidade I • Gazelas: segundo consta no Eurostat-OECD Manual on Business Demography Statistics, publicado em 2007, gazela são “todas as empresas de até 5 anos de idade com crescimento médio anualizado superior a 20% ao ano, durante o período de três anos”. Portanto, podemos dizer que são empresas jovens que possuem um ritmo de crescimento acelerado e sustentável por um longo período. Também é sabido que essas companhias são, em sua grande maioria, microempresas e/ou pequenas empresas que encontraram um nicho de mercado ou uma oportunidade entre os diversos setores da economia. Elas são importantes para a grande maioria das nações porque apresentam um número elevado de transações que auxiliam muito na movimentação da economia de uma nação, tendo uma participação ativa no PIB, bem como registram um aumento significativo na contratação de funcionários, trazendo benefícioscom a redução do nível de desempregados e a melhoria das condições socioeconômicas. Para se ter ideia da relevância dessas empresas no panorama econômico, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou em 2015 uma estatística apontando um total de 3.560 empresas denominadas gazelas em todo o Brasil, empregando um total de mais de 310 mil pessoas nos mais diversos segmentos, desde indústrias de transformação (fabricação de máquinas, equipamentos e diversos produtos) até a área de saúde humana e serviços sociais. Esse número teve uma redução sensível nos últimos anos, por conta da crise financeira brasileira, porém continua representando parte importante da economia nacional. Tal importância também pode ser verificada em diversos países, tais como: Portugal, Estados Unidos, Reino Unido, entre outros. • Startup: Ries (2012, p. 24) define startup como “uma instituição humana projetada para criar novos produtos e serviços sob condições de extrema incerteza”. Com isso, podemos afirmar que uma startup surge com o intuito direto de atender as necessidades e desejos dos clientes, resolver os problemas dos consumidores antes mesmo que eles saibam a respeito deles. Porém, se queremos uma definição mais técnica, o Sebrae ([s.d.]d, p. 2) nos fornece: Uma startup é uma empresa nova, até mesmo embrionária ou ainda em fase de constituição, que conta com projetos promissores, ligados à pesquisa, investigação e desenvolvimento de ideias inovadoras. Por ser jovem e estar implantando uma ideia no mercado, outra característica das startups é possuir risco envolvido no negócio. Mas, apesar disso, são empreendimentos com baixos custos iniciais e são altamente escaláveis, ou seja, possuem uma expectativa de crescimento muito grande quando dão certo. Com as duas definições, podemos resumir que uma startup surge através de uma atividade empreendedora inovadora que tem a capacidade de ser: 17 EMPREENDEDORISMO E PLANO DE NEGÓCIOS • Repetível: porque pode-se fazer com que o produto e/ou serviço se repita em outros mercados, tanto internos quanto externos. • Escalável: condição essencial para o crescimento porque o empreendedor pode ampliar a sua clientela sem a necessidade de elevar seus custos e despesas na mesma proporção. Essas características levam as pessoas a acreditar que todo empreendimento startup está vinculado à internet, porém isso não é uma afirmação totalmente correta, apesar de serem “mais frequentes na internet porque é bem mais barato criar uma empresa de software do que uma indústria” (SEBRAE, [s.d.]d., p. 1). Os empreendedores de startups também possuem características que são encontradas em qualquer empreendimento, tais como: autonomia, dedicação e disposição para riscos calculados. Algumas outras características das startups são auxiliar no entendimento da amplitude desses empreendimentos. Podemos citar, por exemplo, que a criação de uma startup tem, na sua maioria, vínculo direto com o atual cenário de incertezas que vivemos nesse novo mundo disruptivo. Atualmente, verificamos o aumento da tecnologia e de processos sendo efetuados com maior agilidade e automatização; percebemos que a “startup é uma instituição, não um produto, assim requer um novo tipo de gestão” (RIES, 2012, p. 13). De toda forma, trata-se de empreendimentos que surgem a todo instante e cujos números são cada vez maiores, possuindo, inclusive, estratégias de investimento diferenciadas das demais empresas. Figura 2 – Investimento para startups Consta a seguir uma tabela apresentada pela Abstartups, que demonstra claramente o aumento vertiginoso do número de startups no Brasil: 18 Unidade I Tabela 1 – Crescimento de startups no Brasil Top 4 Estados Total de startups cadastradas Ano São Paulo Minas Gerais Rio Grande do Sul Rio de Janeiro Brasil 2015 1.320 365 183 343 4.451 2016 1.327 591 184 343 4.273 2017 1.668 714 223 446 5.147 2018 3.060 720 885 843 10.000 2019 3.780 1.094 918 839 12.727 Adaptada de: Abstartups (2020). Em resumo, com o novo mercado de consumo e uma nova realidade das organizações – a 4ª Revolução Industrial ou Indústria 4.0 –, os empreendimentos com as características de startup vêm ampliando sua participação em todas as economias e se adaptando mais facilmente às disrupções constantes, tais como: carro autônomo, impressora 3D, automação, robótica, inteligência artificial etc. • Unicórnio: vocábulo criado, em 2013, para expressar os empreendimentos startup que atingem um valor de mercado superior a U$ 1 bilhão de dólares americanos. Quando o termo surgiu, havia poucas empresas que conseguiam atingir essa marca, porém com o crescimento da participação de startups no mercado e a sua vinculação direta com o novo cenário que se apresenta globalmente, esse número não para de crescer. Conforme reportagem da revista Época Negócios, em setembro de 2019 existiam 393 startups unicórnios no mundo, mas esse número já aumentou consideravelmente. Vamos conhecer algumas delas: • Bytedance: uma das empresas mais valiosas do mundo, esse unicórnio chinês opera plataformas como a rede social TikTok. • Airbnb: unicórnio americano que presta serviço on-line de hospedagem. Na verdade, a empresa é um marketplace de sucesso que aproxima as pessoas que desejam alugar seus imóveis daqueles que necessitam de moradia para suas viagens a passeio ou a negócios. • Uber: unicórnio americano já bem conhecido que efetua prestação de serviços no setor de transporte privado urbano. • SpaceX: a empresa de foguetes criada por Elon Musk, criador da também famosa e valiosa Tesla. 19 EMPREENDEDORISMO E PLANO DE NEGÓCIOS Observação Marketplace é uma plataforma na qual compradores e vendedores podem efetuar suas negociações de compra e venda, sendo, portanto, um lugar de encontro com segurança e credibilidade para as operações. Também podemos citar alguns unicórnios brasileiros bem conhecidos: • 99: a concorrente nacional do Uber. • Nubank: fintech brasileira avaliada em mais de 4 bilhões de dólares. • iFood: entrega de comida após pedido feito no aplicativo. • PagSeguro: empresa de pagamento eletrônico vinculada ao grupo UOL. Em 2019, o Brasil era o terceiro país no mundo em número de startups unicórnios, ficando atrás somente da China e dos Estados Unidos da América. 2.2 Empreendedorismo no Brasil Já vimos diversos exemplos de empresas empreendedoras no Brasil, porém é importante ampliar nosso conhecimento histórico e econômico do empreendedorismo em nosso país, principalmente neste século. Sabemos que o século XXI é a era do empreendedorismo e que será cada vez maior sua participação e importância na economia das nações. No Brasil, o empreendedorismo começa a crescer com maior ênfase e importância a partir dos anos 1990, principalmente devido à estabilidade da moeda com a implantação do Plano Real em 1994. Nessa época surgem o Sebrae e o Softex (Sociedade Brasileira para a Exportação de Software), que auxiliam na consolidação do empreendedorismo no país. Dornelas (2014) nos apresenta uma série de ações históricas e algumas mais recentes desenvolvidas que são exemplos práticos de ações para o crescimento do fator empreendedor: • Programa Genesis, que foi criado na década de 1990 para estimular o ensino e a geração de novas empresas de software. • Programa Brasil Empreendedor do Governo Federal, que vigorou até o ano de 2002. • Programas Empretec e Jovem Empreendedor do Sebrae. • Crescimento do movimento de incubadoras de empresas no Brasil. 20 Unidade I • Instituição de sistemas de tributação simplificada para microempreendores e microempresas como o Simples Nacional e o MEI (Microempreendedor Individual). • Universidades brasileiras que iniciaram ou atualizaram seus conteúdos programáticos para o ensino do empreendedorismo e a criação de negócios. • Aumento de entidades de apoio ao empreendedorismo, tais como: Sebrae, Anprotec, Endeavor e várias ONGs (organização não governamentais), além de institutos voltados paraesse fim. • Interesse dos fundos de capital de risco e private equity (investimento efetuado por instituições – fundos – em empresas para o desenvolvimento do negócio). • Crescimento significativo de franquias no Brasil. • Maior interesse dos brasileiros em aplicações financeiras de renda variável como a Bolsa de Valores (B3). Essas ações e movimentos levaram o Brasil a uma marca significativa de empreendedorismo, alterando, ainda que lentamente, a percepção que a cultura nacional tinha em relação ao fato de ser empreendedor ou funcionário em uma empresa. Figura 3 – Dados gerais das MPE brasileiras em 2012 21 EMPREENDEDORISMO E PLANO DE NEGÓCIOS Os dados da figura anterior nos mostram a importância para o Brasil do movimento empreendedor: 20% do PIB do país em 2012 vinham das micro e pequenas empresas, que empregavam mais de 56 milhões de pessoas. Ao final de 2012, já era possível observar um cenário de crescimento com a quantidade total de empreendedorismos atingindo a marca de mais de 9 milhões de micro e pequenas empresas espalhadas pelo país. Empreender já é o terceiro maior sonho do brasileiro, tornando-o um dos países com alto índice de empreendedorismo no mundo, com uma taxa de quase 45% de empreendedorismo total em 2014. Podemos também apontar a importância do crescimento do MEI nos últimos anos. No Brasil, são mais de 6 milhões de MEI espalhados. Somente no estado de São Paulo, podemos encontrar mais de 1,5 milhão de pessoas registradas em tal categoria. Observação O MEI foi criado no Brasil em dezembro de 2008 para que as pessoas que quisessem montar um negócio ou trabalhar por conta própria pudessem sair da informalidade e abrissem sua empresa com pagamentos reduzidos de impostos e simplificação da formalização do empreendedorismo. Segundo dados do Sebrae-SP, o estado de São Paulo em 2018 possuía entre as cinco principais atividades de MEI: • Cabeleireiros. • Comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios. • Obras de alvenaria. • Lanchonetes, casas de chá, de sucos e similares. • Outras atividades de tratamento de beleza. Essas alavancagens em relação a atividades empreendedoras podem ser percebidas melhor no Relatório Executivo sobre o Empreendedorismo no Brasil elaborado em 2018 pelo GEM, com parceria do IBQP (Instituto Brasileiro e Qualidade e Produtividade), Sebrae e UFPR (Universidade Federal do Paraná). Consta na sequência uma tabela baseada nesse relatório, considerando as taxas percentuais (%) e o número estimado de unidades de empreendedorismo no Brasil em 2018: 22 Unidade I Tabela 2 – Empreendedorismo no Brasil – 2018 Estágio Taxas % Estimativa Empreendedorismo inicial 17,9 24.456.016 Empreendedorismo estabelecido 20,2 27.697.118 Adaptada de: GEM (2018, p. 10). Com isso, temos que 38% da população brasileira entre 18 e 64 anos (aproximadamente dois em cada cinco brasileiros) estavam com alguma atividade empreendedora em 2018. Também é possível perceber que o número de empreendedorismos iniciais (períodos inferiores a 42 meses) era quase idêntico àquele de empreendedorismos estabelecidos (negócios já consolidados com mais de três anos e meio). Ainda, o relatório nos traz um dado interessante que tem relacionamento com a motivação para o empreendedorismo. Dois aspectos importantes são o fato gerador da abertura de novos negócios: • Oportunidade: aqueles que iniciaram o negócio por terem percebido uma oportunidade viável no mercado. • Necessidade: aqueles que iniciaram pela falta de outras possibilidades para geração de renda e de ocupação no âmbito profissional. Ambos devem ser muito bem compreendidos, uma vez que dois fatos geradores tão distintos levam a resultados muitas vezes bem diferentes. As questões referentes à oportunidade propiciam maiores resultados positivos porque levam desde a sua criação uma carga maior de administração, planejamento e estratégia em sua composição. Por sua vez, o empreendedorismo de necessidade pode levar ao fracasso com maior velocidade e mais frequência, visto que há falta de planejamento inicial, sendo alavancado pela rapidez em que o empreendedor tende a iniciar o processo por não encontrar outras aberturas no mercado de trabalho. Nesse aspecto, também percebemos, ainda que lentamente devido a problemas econômicos enfrentados pelo país, uma maior participação dos empreendimentos por oportunidade, conforme podemos ver a seguir: Tabela 3 – Motivação do empreendedorismo inicial – Brasil em 2018 Motivação Taxas % Estimativa Oportunidade 11,0 15.107.684 Necessidade 6,7 9.176.644 Adaptada de: GEM (2018, p. 12). 23 EMPREENDEDORISMO E PLANO DE NEGÓCIOS Outro dado interessante envolve as atividades empreendedoras por estratos da população (sexo, idade, escolaridade, faixa de renda, entre outros) comparando os empreendimentos iniciais com os já estabelecidos. Observemos na sequência: Quadro 2 – Empreendedorismo por estratos da população considerando o estágio do empreendedorismo – Brasil em 2018 Estágio inicial Estágio estabelecido Mínima diferença entre homens e mulheres Homens mais ativos que mulheres Maior atividade entre 18 e 44 anos Maior atividade entre 45 e 54 anos Maior atividade para os que possuem ensino fundamental e médio completos Maior atividade para os que possuem Ensino Fundamental incompleto Não há diferença significativa para faixa de renda Maior atividade para faixa de renda superior a seis salários mínimos Adaptado de: GEM (2018, p. 16). Com esses dados, podemos perceber um aumento da participação dos jovens, das mulheres e de pessoas em todas as faixas de renda, fato que amplia a gama de indivíduos, trazendo benefícios e maior garantia de continuidade para os novos negócios, uma vez que é de extrema importância para a economia de uma nação que todos os estratos da sociedade possam participar ativamente dos fatores geradores de renda. Por fim, nesse relatório verifica-se a expansão do setor de serviços nos empreendimentos iniciais com aproximadamente 70%, ratificando todos os dados econômicos levantados em diversos países nos últimos anos: a expansão e o domínio do setor de serviços na composição do PIB e da geração de empregos. Assim, podemos afirmar que o Brasil está no caminho do crescimento do empreendedorismo, com cenário bem otimista para os próximos anos. Porém, como exposto por Dornelas (2014, p. 19): Um último fator, que dependerá apenas dos brasileiros para ser desmistificado, é a quebra de paradigma cultural da não valorização de homens e mulheres de sucesso que têm construído esse país e gerado riquezas, sendo eles grandes empreendedores, dificilmente reconhecidos e admirados. Pelo contrário, muitas vezes são vistos como pessoas de sorte ou que venceram por outros meios alheios à sua competência. Esse reconhecimento deverá levar ainda alguns anos, mas a semente inicial foi plantada. É necessário agora regá-la com zelo, visando à obtenção de um pomar com muitos frutos no futuro. 24 Unidade I 2.2.1 Ambiente para empreendedor no Brasil Após a reflexão que Dornelas nos traz sobre o aspecto cultural, veremos quais as condições do ambiente para empreender no Brasil, considerando as formas possíveis de financiamento para abertura do novo negócio e as empresas e organizações que fornecem assessoria para os empreendedores. No GEM (2018), podemos verificar que 33% da população brasileira tinha o sonho de ter um negócio próprio, porém mais da metade dos entrevistados informam que possuem medo de fracassar por diversos motivos. Vários são os fatores que levam à percepção de um ambiente ainda não auxiliador para as novas empresas. Alguns deles podem ser classificados como falta de informação ou de conceito histórico e cultural. O Endeavor (2018a), organização sem fins lucrativos que está presente há mais de vinte anos no Brasil, apresenta uma série de mitos que ainda existem em relação ao ambiente empreendedor: • Falta de dinheiro para as empresas: o Brasil está entre os trinta melhores paísespara o acesso ao capital pelas novas empresas. Como veremos mais adiante, temos diversas formas de efetuar a captação de recursos para a abertura da companhia. • Abertura de empresas é ainda demorada: boa parte das cidades no Brasil já possuem instrumentos de facilitação de abertura, com prazos inferiores a uma semana. Saiba mais O portal empreendedor na internet para registro do MEI é uma das ações que demonstram a redução das exigências formais para as empresas, acesse-o em: GOV.BR. Empresas & Negócios. Brasília, [s.d.]. Disponível em: https://www.gov.br/empresas-e-negocios/pt-br. Acesso em: 5 jan. 2021. • Falta de conhecimento: o empreendedor brasileiro tem muitas opções para ampliar seus conhecimentos, podendo se utilizar de incubadoras, aceleradoras e entidades de apoio. É sabido do trabalho que é efetuado por diversos órgãos e instituições, como o Sebrae, por exemplo; esses órgãos disponibilizam consultorias, cursos, palestras e uma série de informativos e relatórios para auxílio aos empreendedores. Com isso, já podemos analisar cada uma dessas afirmações, ampliando nossa visão sobre o ambiente empreendedor. 25 EMPREENDEDORISMO E PLANO DE NEGÓCIOS Em relação à captação de recursos para a abertura de novos empreendimentos, vamos citar diversas oportunidades no mercado, que estão de acordo com as dificuldades impostas pelas diversas exigências dos bancos e de outros agentes do mercado financeiro, abrindo novas frentes para os empreendedores: • Investidor-anjo: como explicado por Dornelas (2014, p. 165), ele é um “capitalista de risco que possui dinheiro e busca alternativa para obter melhor rentabilidade”. Com isso, haverá por parte desse investidor uma análise minuciosa do plano de negócios para que ele entre com o capital necessário para o desenvolvimento do empreendimento, tornando-se sócio na empresa que está sendo formada. • Capital de risco: também conhecido como venture capital, funciona como um fundo de investimento que aplica recursos nas empresas em troca de participação acionária. Mais comum em instituições já estabelecidas, ampliou-se muito nos últimos anos com os investimentos em startups e fintechs. Segundo reportagem da revista Pequenas Empresas, Grandes Negócios, nos seis primeiros meses de 2019, foram aportados R$ 3,4 bilhões em aproximadamente cem empresas brasileiras. • Programas governamentais: há no Brasil uma série de programas governamentais de fomento para novos negócios, tais como: Programa Inova da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos do Governo Federal), Programa Criatec do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social), entre outros. • Microcrédito: forma de apoio aos empreendedores com crédito de pequenas quantias a juros abaixo do mercado. Como exemplo, temos o Microcrédito do BNDES para o MEI com taxa de juros inferiores a 4% ao ano. • Sócios: uma alternativa muito comum utilizada pelos empreendedores é a busca de sócios no empreendimento. Assim, o profissional dividirá os custos, as responsabilidades e, naturalmente, o faturamento e o lucro com uma ou mais pessoas que entrarem com capital na empresa, constituindo, portanto, uma sociedade. É importante que o empreendedor tome essa decisão ciente de que sua escolha para o negócio prospere em uma sociedade em que: prevaleçam as mesmas ambições e objetivos; tarefas sejam divididas de forma igualitária (ou que cada sócio se responsabilize por funções que possuem maior afinidade ou conhecimento); a autonomia de cada sócio esteja devidamente alinhada; e a distribuição dos lucros seja definida previamente. Em relação à falta de apoio e de conhecimento sobre o processo empreendedor, vemos que a rede de contatos com organismos, entidades e associações para ampliação e auxílio vêm crescendo consideravelmente. Podemos citar: • Incubadoras: conforme Dornelas (2014, p. 184), elas “são entidades sem fins lucrativos, destinadas a amparar o estágio inicial de empresas nascentes”. Essas entidades têm um crescimento exponencial em todas as partes do mundo, inclusive no Brasil. Temos que destacar que elas apoiam empresas dos mais variados setores, como: eletrônica, vestuário, agroindustriais etc. 26 Unidade I • Aceleradoras: são entidades voltadas exclusivamente para as empresas “pontocom” privadas, porém buscam o lucro oferecendo todo o suporte e auxílio necessário para o crescimento, atuando na gestão, infraestrutura e estratégia do empreendimento. Observação Pontocom é uma forma de denominação de empresas que estão com sua estrutura baseada na internet, principalmente na comercialização de produtos por meio de sites e aplicativos. • Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas): entidade mais importante de apoio que está presente em todos os estados brasileiros com agências espalhadas em várias cidades. Efetua uma série de ações de apoio, tais como: consultoria, cursos, feiras e eventos nacionais e internacionais. • Instituto Endeavor: entidade internacional e sem fins lucrativos que efetua o suporte ao empreendedorismo no Brasil e demais países em desenvolvimento. • Universidades: tanto as universidades públicas quanto as privadas possuem diversas iniciativas, projetos e organizações sem fins lucrativos que apoiam, transferem tecnologias e prestam consultoria aos empreendedores. A UNIP possui a JUNIP – Consultoria Junior UNIP, que presta consultoria para empresas de pequeno porte e outras em desenvolvimento. 2.2.2 Exigências legais para empreender no Brasil Todos sabemos que para empreender no Brasil de modo formal, há a necessidade do cumprimento de exigências legais por parte do empreendedor. Há vários modelos de regime de tributação para a abertura de empresa no Brasil, desde a escolha de MEI, (que possui uma série de benefícios fiscais para o empreendedor com o intuito de retirar uma parte dessas pessoas do ambiente informal) até a possiblidade de companhias de sociedade limitada (as LTDA) ou sociedade anônima (as S/A). Como exemplo, podemos apontar a abertura de um salão de beleza por parte do empreendedor, conforme informações fornecidas pelo Sebrae ([s.d.]a., p. 27-28): Salões de beleza podem optar por outros regimes de tributação, mas normalmente estão enquadradas no chamado “Simples Nacional”, que é um regime compartilhado de arrecadação, cobrança e fiscalização de tributos aplicável às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, previsto na Lei Complementar n. 123, de 14 de dezembro de 2006. Segundo o portal da Receita Federal, para o ingresso no Simples Nacional é necessário o cumprimento das seguintes condições: 27 EMPREENDEDORISMO E PLANO DE NEGÓCIOS - enquadrar-se na definição de microempresa ou de empresa de pequeno porte; - cumprir os requisitos previstos na legislação; e - formalizar a opção pelo Simples Nacional. Após a escolha do tipo de modelo de regime tributário da empresa, o empreendedor deve realizar uma série de procedimentos legais para que seu negócio possa começar a operacionalizar, tais como: • A inscrição do CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica) na Secretaria da Receita Federal. • O alvará de funcionamento na Prefeitura Municipal, bem como o registro da inscrição municipal. • O registro no INSS da empresa e de seus funcionários. • O registro do Contrato Social em um Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas (para alguns modelos de empresa). • A observação das regras estabelecidas no Código de Defesa do Consumidor (CDC). • A autorização do Corpo de Bombeiros para funcionamento – o AVCB (Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros). • Demais alvarás e certificações necessárias dependendo do tipo de empreendimento a ser aberto, por exemplo, o alvará de licença da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para empreendimentos vinculados à alimentação, saúde, pet shops etc. Na maioria dos casos, é importante que o empreendedor procure auxílio profissional para a abertura de seu negócio, contratando um contador, que é o responsávellegalmente habilitado para esses atos. Todos os custos devem ser verificados pelo empreendedor anteriormente à abertura do empreendimento e farão parte dos custos de investimento inicial, evitando problemas futuros após o início das operações da empresa, tais como: multas, impedimento das atividades, cumprimento de exigências com urgência etc. Lembrete Há vários modelos de regime de tributação para a abertura de empresa no Brasil. 28 Unidade I 2.2.3 Condições para o empreendedor no Brasil Veremos agora alguns fatores e principais recomendações para que o país tenha condição de ampliar e apoiar o processo empreendedor. É conhecida a preocupação das pessoas em relação aos problemas burocráticos, fiscais e vinculados à economia da nação, porém devemos avaliar que esses aspectos podem ser medidos durante o processo de planejamento do novo negócio. As condições para empreender no Brasil estão cada vez mais vinculadas aos desejos de empreendedorismo da população devido à verificação de oportunidades com a abertura maior de mercado, trazendo maior otimismo para o novo negócio. Para fazer uma avaliação mais precisa acerca dessas condições, podemos analisar as informações contidas no Relatório do GEM de 2018 para entender as condições do empreendimento no Brasil considerando os fatores detalhados a seguir: Tabela 4 – Principais fatores favoráveis para a abertura e manutenção de novos negócios no Brasil em 2018 Fatores % dos especialistas (41 pessoas do setor público e privado que afetam o empreendedorismo) Capacidade empreendedora 51,3 Abertura de mercado 38,5 Programas governamentais 18 Adaptada de: GEM (2018, p. 21). Com isso, podemos verificar que mais da metade dos especialistas entrevistados para a pesquisa do GEM acreditam que o espírito empreendedor do brasileiro é o principal fator que impulsiona a abertura de novas empresas e amplia a participação dos microempreendimentos no país. Após esse dado, surge a abertura de mercado que contribui de forma significativa com o número de novas empresas, embora ainda tímida para os conceitos de diversos países. Como já vimos, algumas burocracias e exigências estão sendo revistas, reduzidas ou extintas, facilitando o empreendedor a montar seu negócio, como exemplificamos no caso no prazo de abertura da empresa nos órgãos. Por fim, vemos que os programas governamentais também contribuem para que as condições sejam cada vez mais favoráveis. Há uma tendência nos governos municipais, estaduais e federal de auxiliar a capacidade empreendedora da população, seja por meio de incentivos fiscais, seja pelo auxílio com reduções de burocracia e exigências para a abertura do novo negócio. Apesar das condições que o Brasil traz ao empreendedorismo, não podemos deixar de citar fatores que possam ser melhorados para uma expansão e um dinamismo muito maior. No relatório efetuado 29 EMPREENDEDORISMO E PLANO DE NEGÓCIOS pelo GEM (2018), faz-se um detalhamento de recomendações para a melhoria das condições de empreendedorismo, considerando temas como: as políticas governamentais que trarão maior dinamismo e facilitação ao empreendedor; as ações referentes à educação e a capacitação para que seja possível o despertar de um espírito empreendedor no brasileiro desde o início dos seus estudos; e os itens de apoio financeiro para os profissionais tão importantes a fim de que as ideias se tornem negócios. Vejamos agora as principais recomendações no quadro a seguir: Quadro 3 – Recomendações para melhoria das condições do empreendedorismo no Brasil Recomendações Tó pi co s Políticas governamentais Incentivos fiscais Impostos diretos menores Revisão de estrutura de impostos Desenvolvimento de políticas públicas de incentivo ao empreendedorismo Educação e capacitação Maior difusão da educação empreendedora Elevação da qualidade da educação Inclusão da temática do empreendedorismo nas escolas Valorização dos professores Apoio financeiro Criação e expansão de linhas de crédito de fácil captação Incentivos financeiros e operacionais aos investidores-anjo Aumento da oferta de capital para os empreendedores Melhores condições para a tomada de financiamentos Adaptado de: GEM (2018, p. 23). Portanto, podemos perceber que apesar de termos caminhado de forma consistente nos últimos anos, principalmente no século XXI, impulsionados pelas necessidades do mercado e constantes transformações socioculturais e econômicas ocorridas, ainda há muito que trilhar para que possamos apresentar uma nação que não somente incentive e estimule o novo empreendimento, mas que crie um ambiente com condições de aprimorar a inovação e o desejo das pessoas em gerar e conduzir o seu próprio negócio. Saiba mais Leia todo o relatório executivo do empreendedorismo efetuado pelo GEM no Brasil em 2018 em: GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR (GEM). Empreendedorismo no Brasil: relatório executivo 2018. Curitiba: IBQP, 2018. Disponível em: https://bit.ly/2NM7uK3. Acesso em: 5 jan. 2021. 30 Unidade I 3 O PROCESSO EMPREENDEDOR O empreendedor é um ser que percebe as necessidades do mercado, verificando os desejos e anseios de um público consumidor, e, dessa forma, decide agir, criando ou reformulando as estruturas de negócio para o atendimento da demanda. Portanto, como citado por Dornelas (2014, p. 1), “o empreendedor é aquele que faz as coisas acontecerem, se antecipa aos fatos e tem uma visão futura da organização”. Portanto, antes de verificarmos os passos do processo empreendedor, vamos estudar com mais detalhes as características de um empreendedor. 3.1 Caraterísticas do empreendedor Todos já vimos ou lemos em vários vídeos, livros e reportagens sobre as características fundamentais de um empreendedor. Vamos verificar os dez aspectos essenciais para o comportamento do profissional: • Busca por oportunidades e iniciativa. • Persistência. • Comprometimento. • Exigência de qualidade e eficiência nos trabalhos. • Corrida de riscos calculados. • Busca de informações. • Estabelecimento de metas. • Planejamento e monitoramento estratégico. • Rede de contatos. • Autoconfiança e independência. Essas características foram elaboradas através do estudo efetuado pelo psicólogo americano David McClelland (1972), que as inseriu em três grandes conjuntos: realização, planejamento e poder. No conjunto realização, são avaliadas as características relacionadas aos itens diretamente ligados às características individuais de cada pessoa, considerando o fator empreendedorismo. Por sua vez, no conjunto planejamento, são verificadas as características vinculadas à capacidade de planejar em relação aos quesitos de estratégia, informações, metas e objetivos. E, por fim, o conjunto poder tem vínculo direto com a capacidade do empreendedor em manter vínculos e aspectos sociais. 31 EMPREENDEDORISMO E PLANO DE NEGÓCIOS Assim, com esses três conjuntos, as propriedades apontadas foram divididas da seguinte forma: Quadro 4 Conjuntos Características Realização Busca por oportunidades e iniciativa Persistência Comprometimento Exigência de qualidade e eficiência nos trabalhos Corrida de riscos calculados Planejamento Busca de informações Estabelecimento de metas Planejamento e monitoramento estratégico Poder Rede de contatos Autoconfiança e independência Agora veremos detalhadamente cada uma delas: • Busca por oportunidades e iniciativa: todo o empreendedor precisa ter a iniciativa de transformar suas ideais em realidade, buscando oportunidades que surgem diariamente no mercado. Conforme Rafael José Pôncio (2016), “ser empreendedor é ter visão, e criar alternativas emergenciais para solucionar possíveis problemas de futuro”. Assim, nessa característica, o empreendedor deve ser capaz de ser proativo, buscando as possibilidades de melhorar ou expandir seu empreendimento. Alguns questionamentos possíveis para verificação ou validação do item são: — o empreendedor tem atividades realizadas antes do solicitado pelos clientesou pelo mercado? — o empreendedor aproveita oportunidades consideradas incomuns? • Persistência: todo o empreendedor deve possuir uma persistência em relação aos obstáculos que todo empreendimento traz, não desistindo sem antes fazer uma reavaliação de seu planejamento, para encontrar possíveis ajustes. Essa é uma das principais características dos empreendedores de sucesso, pois ela está vinculada à necessidade de um esforço acima do normal para conseguir atingir os objetivos do empreendimento. Um dos principais questionamentos efetuados ao empreendedor dessa categoria é a insistência em buscar soluções para obstáculos que parecem ser instransponíveis. 32 Unidade I • Comprometimento: tal característica é complementar à anterior e está vinculada ao fato de assumir responsabilidades para resolver problemas, e “esmerar-se para manter os clientes satisfeitos e colocar a boa vontade a longo prazo acima do lucro a curto prazo” (PÔNCIO, 2016). O profissional comprometido alcançará o sucesso porque terá ao seu lado uma equipe de colaboradores determinados, o que fará com que aumentem as possibilidades de encantamento dos clientes pelo empreendimento, pois o relacionamento é um dos fatores determinantes para o sucesso da empresa. • Exigência de qualidade e eficiência nos trabalhos: a busca por melhoria contínua é característica importante para o empreendedor, visto que com tal atitude a qualidade do seu produto e serviço não deverá jamais ser deixada e isto será observado pelos clientes, que perceberão o compromisso com a qualidade. Os padrões de qualidade e eficiência podem estar relacionados a diversos quesitos (individualmente ou em conjunto): preço, disponibilidade do produto, prazo de entrega, atendimento, pós-venda etc. • Corrida de riscos calculados: vimos que o empreendedor é o ser que assumirá riscos, porém de forma calculada estrategicamente, assim, conforme (PÔNCIO, 2016), “ser capaz de enfrentar desafios sem colocar tudo a perder, evitando agir de forma impensada”. — O profissional deve responder a questionamentos como: - O empreendedor sempre avalia todas as alternativas e os riscos envolvidos em cada uma delas? - O empreendedor efetua todas as análises necessárias para obter o máximo de informações e, com isso, reduzir seus riscos e/ou controlar seus resultados finais? • Busca de informações: é a primeira característica do conjunto planejamento e está vinculada à obtenção do máximo de informações necessárias para reduzir os riscos do negócio. Veremos posteriormente a importância de um estudo eficiente com a busca das informações de mercado, clientes, concorrentes, fornecedores e demais partes interessadas, assim como a economia, tecnologia, entre outras influências externas. — Vale ao empreendedor buscar informações com especialistas que poderão efetuar assistência a ele (como o Sebrae, por exemplo). — O profissional no quesito poderá responder questionamentos vinculados à pesquisa e obtenção de dados e informações. • Estabelecimento de metas: esta característica está vinculada às metas e aos objetivos que devem ser traçados pelo empreendedor para que possa ser utilizada como indicador e base de monitoramento do planejamento efetuado. 33 EMPREENDEDORISMO E PLANO DE NEGÓCIOS Portanto, o estabelecimento de metas é motor do empreendedorismo, pois auxilia no que deve ser efetuado, e o empreendedor deve responder aos seguintes questionamentos para avaliar esse aspecto: — As metas estabelecidas são claras, mensuráveis e desafiantes? — As metas estão estabelecidas em visões de curto, médio e longo prazo? • Planejamento estratégico e monitoramento: característica vinculada às metas e aos objetivos que devem ser traçados pelo empreendedor para que possa ser utilizada como indicador e base de monitoramento do planejamento efetuado. Neste item, o empreendedor deve saber verificar se consegue dividir suas tarefas em etapas para melhor acompanhamento, bem como se faz a revisão sistemática de seus planos para encontrar problemas e efetuar possíveis melhorias, mantendo todos os registros necessários para a tomada de decisões • Rede de contatos: o primeiro item do conjunto poder tem como principal observância a capacidade que o empreendedor tem de influenciar ou persuadir outras pessoas, aproveitando sua rede de contatos para atingir os objetivos do seu empreendimento. Trata-se da ratificação do fato de que o empreendedor não é um lobo solitário que tentará conseguir transformar suas ideais em negócios, agindo de forma isolada. A boa relação com os mais diversos tipos de pessoas auxiliará de modo significativo para o sucesso do empreendimento. • Independência e autoconfiança: o segundo item que completa o conjunto poder e as dez características estudadas está diretamente ligado à confiança depositada em si mesmo para a realização das tarefas e dos serviços que o novo empreendimento trará, bem como para o enfrentamento direto dos obstáculos que sempre surgem no caminho. Todo o empreendedor deve aprimorar esta característica para que possa buscar resultados futuros, até em situações atípicas, desanimadoras e desafiantes que aparecem, principalmente nos estágios iniciais do processo empreendedor. Contudo, diante de uma nova realidade que se apresenta com diversos fatores disruptivos e uma dinâmica e velocidade de transformação jamais verificada, outras características tão importantes quanto as já citadas acabam se somando. Vamos verificar alguns aspectos importantes para o sucesso do empreendedor e do seu negócio: • Criam seus empreendimentos para resolver problemas do dia a dia das pessoas: a percepção de problemas que os indivíduos têm durante seu dia e que as empresas não conseguiram verificar até o momento. Muitas vezes, ela ocorre porque o empreendedor passou pelo problema e verificou a oportunidade de criar algo novo no mercado. 34 Unidade I • Verificam tendências: as mudanças tecnológicas, as comunicações entre cliente e empresa e o aumento da concorrência com a globalização trazem oportunidades, pois os empreendedores estão atentos às transformações e às novas tendências que surgem como oportunidades para novas companhias. Para isso, há a necessidade de estudo contínuo e de acompanhamento de relatórios que são produzidos mundialmente por empresas, governos e instituições. • Melhoram ou aprimoram negócios que já existem: o empreendedor deve verificar algo que já existe, porém precisa de uma melhoria nos seus conceitos e na sua estratégia para que possa atingir um maior número de clientes e/ou suprir com maior eficiência e eficácia os novos desejos desses consumidores. Como exemplo, temos a Netflix, uma vez que alugar filmes é um negócio que existe há um bom tempo, bastando um aperfeiçoamento e uma escala maior com a certeza da internet já estabelecida como meio de comunicação. • Criam produtos e serviços de algo que era raro ou complicado: quando o mercado já está estabelecido com seus usos e costumes, por vezes alguns segmentos de clientes podem possuir dificuldade de ter acesso por diversos fatores. Nesse momento, os novos empreendedores encontram formas mais rápidas, práticas, baratas e eficientes de disponibilizar esse produto ou serviço, antes raro ou complicado, para uma parcela maior da população. Dornelas apresenta o conceito de “empreendedor revolucionário” para exemplificar essas novas características, sem deixar de destacar o empreendedor que já conhecemos e cujas características também já apontamos: O empreendedor revolucionário é aquele que cria novos mercados, ou seja, o indivíduo que cria algo único, como foi o caso de Bill Gates, criador da Microsoft, que revolucionou o mundo com o seu sistema operacional Windows. No entanto, a maioria cria negócios em mercados já existentes, não deixando de ser bem-sucedidos por isso (DORNELAS, 2014, p. 29). Por fim, como afirmou Reed Hastings, CEO e fundador da Netflix, em uma entrevista a uma revista internacional: “a maioria das ideias empreendedorasparecem loucas, estúpidas e antieconômicas, e, mesmo assim, elas funcionam” (TOLEDO, 2020). 3.1.1 O empreendedor administrador Sabemos que existem diferenças fundamentais entre empreendedores e administradores, principalmente quando verificamos que esses últimos possuem alguns aspectos que, segundo Hampton (1991), definem de forma categórica essa diferenciação: • Nível de hierarquia. • Conhecimentos funcionais ou gerais. 35 EMPREENDEDORISMO E PLANO DE NEGÓCIOS Portanto, os administradores têm como funções básicas o planejamento, a execução, a direção e o controle das organizações. Para se entender o trabalho do profissional ao longo dos anos, temos as principais abordagens existentes: • Abordagem clássica: conceitos iniciais de administração elaborados por Taylor e Fayol nos quais o administrador tinha um foco na impessoalidade, na organização e na hierarquia. • Abordagem de Kotter (1982): tem início a verificação das características dos gerentes gerais, com ampliação dos conceitos de gerenciamento, incluindo metas e planos para sua organização. • Abordagem de Mintzberg (1986): a atividade do trabalho gerencial, focando os papéis dos gerentes em interpessoais, informacionais e decisórios. Por sua vez, os empreendedores possuem outras características que estão vinculadas a oportunidades do mercado, visões de novos produtos, serviços ou processos, bem como à definição de contextos que estão relacionados ao seu empreendimento. Lembrete Os administradores têm como funções básicas: o planejamento, a execução, a direção e o controle das organizações. No quadro a seguir podemos perceber as diferenciações conceituais: Quadro 5 – Comparativo entre empreendedor e administrador Alta Habilidades gerenciais Criatividade e inovação Inventor Empreendedor Administrador Baixa Alta Adaptado de: Dornelas (2014). Apesar das diferenças de conceito e de perspectivas entre administradores e empreendedores, com o passar do tempo e a maior complexidade dos mercados e das economias, foram verificadas similaridades entre ambos e, mais do que isso, a necessidade de uma união fundamental do empreendedor com a administração, uma vez que essa última também sofreu suas transformações. Drucker (2002) foi um dos primeiros a afirmar que os conceitos administrativos também devem ser aplicados a novos empreendimentos, sejam eles grandes, médios, pequenos ou microempresas. 36 Unidade I Essa visão também auxiliou o estudo do empreendedorismo nas escolas e universidades, uma vez que se percebeu que a administração era importante para o empreendedor, da mesma forma que o empreendedorismo trazia novas lições das formas de administrar empresas. Verificando o quadro comparativo e tendo conhecimento das transformações constantes que afetam as empresas, podemos afirmar que, via de regra, o empreendedor sem um conhecimento dos conceitos básicos de administração poderá ter uma ideia brilhante – ser um “inventor” –, porém poderá não conseguir dar continuidade aos seus projetos e a suas invenções e inovações. Como dito, alguns autores nos mostram as muitas similaridades entre o empreendedor e o administrador, sendo que cada vez mais se ratifica a importância dos conhecimentos administrativos para a manutenção e o crescimento do empreendimento ao longo do tempo. A administração é uma ciência praticada diariamente em todas as empresas de qualquer tamanho e mercado, para que essas possam atingir seus objetivos e metas. Chiavenato (2005) diz que a tarefa básica do setor é fazer as coisas por meio de pessoas de modo eficiente e eficaz. Uma vez que administrar é parte de qualquer empresa, não há o que se discutir da importância que ela exerce sobre os empreendedorismos, sejam eles de aspectos comuns e mercados maduros, sejam eles as startups e unicórnios atuais. Como informado por Ries (2012, p. 152): O empreendedorismo é um tipo de administração. Não, você não leu errado. Fazemos associações muito divergentes com essas duas palavras: empreendedorismo e administração. Ultimamente, parece que uma é cool, inovadora e estimulante, e a outra é desinteressante, chata e insípida. Chegou o momento de deixar para trás essas ideias preconcebidas. Com isso, podemos concluir que o empreendedorismo e a administração andam de mãos dadas para que as organizações possam crescer e prosperar. Tal junção é vista no mercado como algo não somente proveitoso, mas como um objetivo a ser alcançado, que muitas empresas trabalham suas equipes no intuito de gerar ideias e inovações dentro do ambiente empresarial – o chamado intraempreendedorismo, que veremos a seguir. 3.1.2 Intraempreendedorismo Como já vimos, o empreendedorismo se tornou uma das principais molas propulsoras da economia. Também verificou quais as principias características de empreendedores de sucesso, incluindo algumas novas características que surgiram com as mudanças ocorridas no mundo nesse século XXI. Assim, as grandes empresas também perceberam essa importância e a necessidade de possuírem em seus quadros de colaboradores pessoas que tivessem essas características e que pudessem com 37 EMPREENDEDORISMO E PLANO DE NEGÓCIOS suas ideias, inovações e desejos ampliar as possibilidades dessas organizações em relação a produtos e serviços prestados aos seus clientes. Muitas vezes, esses novos empreendedores eram ex-funcionários dessas empresas que não tiveram a oportunidade de apresentar e colocar em prática suas ideias enquanto estavam dentro das organizações, surgindo, mais tarde, como empreendedores de seus próprios negócios: Então, as empresas finalmente perceberam que a soma dos negócios realizados pelos ex-empregados, dez anos depois, tornaram-se maiores do que elas próprias. Muitos dos empreendimentos inovadores que abocanharam uma fatia de seus mercados vieram de seus próprios quadros. Ou seja, os que não foram trabalhar para os competidores tornaram-se, eles mesmos, competidores. Percebe-se, cada vez mais, que esses empreendedores começaram nas médias e grandes empresas. Eles são ex-intraempreendedores que, ao verem suas iniciativas frustradas e natimortas pelo peso da própria estrutura corporativa, saem da empresa para iniciar sua aventura. Empreendedores dessa natureza continuam existindo e seu número vem crescendo a cada ano. E se toda essa energia pudesse ser canalizada para dentro da própria empresa? (HASHIMOTO, 2010, p. 9-10). As empresas, enfim, percebendo essa situação, iniciaram processos internos de aproveitamento e implantação de novidades e melhorias apontadas pelos seus próprios funcionários. Como informado por Hashimoto (2010, p. 11), surgem “os primeiros trabalhos com o objetivo de tornar a empresa atrativa para os talentos empreendedores”. Foi mais uma forma de atrair e reter os talentos dentro das organizações. Diante disso, surgem os empreendimentos corporativos e organizacionais, e, principalmente, o que denominamos de intraempreendedorismo. É a ação empreendedora efetuada dentro das empresas pelos próprios funcionários – o intraempreendedor. Serafim (2017) define de forma simples o intraempreendedor: “funcionários que se comportem como verdadeiros donos do negócio”. Porém, devemos verificar que algumas competências nesses funcionários devem ser verificadas para que as empresas sejam beneficiadas e para que os próprios funcionários entendam seu papel de empreendedor dentro da corporação em que trabalham: • Conhecimento do produto e/ou serviço oferecido pela empresa. • Conhecimento do negócio e do setor de mercado da empresa. • Aspectos de liderança entre suas equipes e parceiros. 38 Unidade I As grandes empresas, entendendo essas características e competências, passaram a criar estruturas e efetuar estratégias e processos que não somente incentivassem o empreendedorismo em seu próprio meio, mas que realmente valorizassem e colocassem em prática aquilo que estava sendo proposto. A principal função das companhias que incentivam o intraempreendedorismo é criar uma