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mouro a ser batido pelos portugueses. Por tudo isso, o jovem rei não podia acreditar no conselho de seus generais: – Debandar? Fugir? Porventura os próprios que aqui estais, não sois aqueles que me dissestes em Portugal, que todas as dificuldades, que agora nos parecem grandes, estavam fáceis? Que diziam que os mouros não eram homens que ousassem a esperar meu campo, com o qual poderia sem risco algum apoderar-me de África? E agora que me vedes aqui dizeis o contrário, parece-vos que sentis bem de minha reputação em dizer que me retire e perca a artilharia, ou que aguarde a perder esta gente deixando-a morrer de fome, perdendo com seu valor honra e vida? (In Loureiro 1989:232 [atualizamos a ortografia e um pouco do texto para melhor compreensão].) É, mas as coisas haviam mudado radicalmente. Dizem alguns comentaristas da época, e mesmo historiadores contemporâneos, que um dos erros dessa expedição fora a demora em desembarcar na região do conflito. A grande frota saíra de Lisboa em 25 de junho, com cerca de 20.000 homens de guerra, mas fizera longas paradas em Lagos (Portugal), Cádis (Espanha) e Tânger (Marrocos), de onde o rei resolveu que seu exército deveria prosseguir a pé, por terra. Tais delongas e esta última decisão deram tempo para que Moluco conseguisse um enorme reforço para sua força militar, sem dizer que todo o percurso dos invasores europeus pelo Marrocos fora acompanhado de perto por guarnições inimigas. Conclusão: quando os portugueses e seus aliados chegaram a Alcácer-Quibir, exaustos, famintos e apreensivos, o atual sultão marroquino tinha disponíveis cerca de 100.000 soldados! Enfim, o dia da grande batalha era esse. O rei não aceitara os conselhos de seus estrategistas e, às oito horas da manhã, tiveram início os combates. Para se dizer a verdade, o comandante-maior não chegou propriamente a dar a ordem de batalha. Dizem os cronistas que o rei sofreu de “uma obnubilação” comum aos epiléticos, o que acabou desorganizando ainda mais as já combalidas forças luso-europeias. O resultado do grande empreendimento militar de D. Sebastião não poderia ser mais funesto: derrota completa nesse único dia, com um saldo de 9.000 mortos, a maioria portugueses. Poucos conseguiram fugir para a segurança do litoral e o grande restante dos sobreviventes europeus foi feito prisioneiro dos mouros. CURIOSIDADE Como terrível ironia da história, os três reis presentes à batalha foram mortos, sendo que o primeiro deles a cair foi o vitorioso, Muley Moluco. O rei português ao que tudo indica foi cercado pelos mouros e não aceitou se 35