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Erma, e entre choros de ânsia e de presago Mistério. Não voltou mais. A que ilha indescoberta Aportou? Voltará da sorte incerta Que teve? Deus guarda o corpo e a forma do futuro, Mas Sua luz projecta-o, sonho escuro E breve. Ah, quanto mais ao povo a alma falta, Mais a minha alma atlântica se exalta E entorna, E em mim, num mar que não tem tempo ou 'spaço, Vejo entre a cerração teu vulto baço Que torna. Não sei a hora, mas sei que há a hora, Demore-a Deus, chame-lhe a alma embora Mistério. Surges ao sol em mim, e a névoa finda: A mesma, e trazes o pendão ainda Do Império. (Ibid., p. 16) O título do poema se refere ao fim da expansão marítima portuguesa e consequente término do apogeu imperial. Apesar disso, a mesma nave que levou a glória portuguesa será a mesma que a trará de volta. O problema é quando isso haverá de acontecer, pois dia e hora competem somente a Deus. Mas uma possível chave pode estar na seguinte dicotomia: “Ah, quanto mais ao povo a alma falta, / Mais a minha alma atlântica se exalta / E entorna” — talvez, no momento em que não houver mais alma no povo, então seja o momento da volta do Encoberto. Com certeza o poeta avaliava que em seu tempo se descortinava tal absoluta falta de espírito em sua sociedade... O ENCOBERTO A terceira parte se intitula “O encoberto” que, como se poderia esperar, vai abordar em particular os atos de D. Sebastião e o sebastianismo. Ela se subdivide em: 1) Os símbolos; 2) Os avisos; 3) Os tempos, com treze poemas ao todo, onde ainda aparecem figuras históricas, mas predominam os temas abstratos. Trataremos desses últimos poemas na seção seguinte. Até a segunda parte, Mensagem mantém até certo ponto um paralelo com o enredo histórico de Os lusíadas, mas, na terceira parte, Pessoa continua do ponto em que Camões havia parado. Lembremos que o épico camoniano foi publicado em 1572, portanto antes de Alcácer-Quibir, e havia 44