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LLPT_TopicosdeLiteraturaPortuguesa_impresso-48

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sido dedicado pelo autor ao rei D. Sebastião (de quem Camões inclusive 
esperava alguma recompensa futura — que obviamente não veio!).
A parte II do livro de Pessoa, como vimos, termina com o poema “A 
última nau”, em que D. Sebastião parte, ainda representando o grande 
império português, e não retorna mais; e uma outra composição chamada 
“Prece”, em que é feito uma súplica a Deus pedindo que a “chama do esforço” 
lusíada, quase apagada pelas cinzas da história, seja reavivada e novamente a 
“Distância — do mar ou outra” — conquistada. Os dois poemas configuram 
assim a decadência do país após a partida de D. Sebastião e a necessidade de 
Portugal se superar para retomar sua grandeza. Nesse sentido, a parte III, “O 
Encoberto”, se concentrará nos sinais e profecias que estariam indicando o 
momento do renascimento.
A seção 1, “Os símbolos”, nos oferece os vários sinais que, lidos 
adequadamente, indicam a lógica da história e, dessa forma, descortinam o 
futuro. Além da esperança no retorno miraculoso do Encoberto, o rei morto 
em Alcácer-Quibir, há ainda a profecia de Daniel que afirma que um Quinto 
Império irá surgir no mundo, governado por um líder messiânico que trará a 
paz e a prosperidade universais. Conforme antecipamos acima, essa profecia 
bíblica foi apropriada pelo padre António Vieira durante o século XVII e 
incorporada à crença sebastianista. Para o jesuíta, o Messias do Quinto 
Império seria D. Sebastião ressurreto, que voltaria para o trono de Lisboa a 
fim de comandar um império mundial e realizar a redenção final da 
humanidade:
[...] 
E assim, passados os quatro 
Tempos do ser que sonhou, 
A terra será teatro 
Do dia claro, que no atro 
Da erma noite começou. 
Grécia, Roma, Cristandade, 
Europa — os quatro se vão 
Para onde vai toda idade. 
Quem vem viver a verdade 
Que morreu D. Sebastião? (Ibid., p. 18-9.)
Observe-se que nessas duas últimas estrofes do poema “O Quinto 
Império”, Pessoa altera a composição dos quatro primeiros impérios (ver a 
seção 1.3 acima), aproximando dessa forma o futuro império lusitano da 
realidade europeia. 
Mas os sinais, “Os símbolos”, não estão apenas dispersos na própria 
história. Há os profetas e os poetas (um dos bons sinônimos de poeta é 
“vate”, cuja etimologia se liga a “vaticínio”, profecia) que ao longo dos 
séculos os foram reunindo e de forma oracular revelaram o futuro. São eles: 
“O Bandarra”, nome do primeiro poema da seção 2, “Os avisos”; “António 
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