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. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . (ASSIS, 1961, p. 376) O texto acima é um capítulo do romance Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Graficamente, ele apresenta um título e vários “pinguinhos” no lugar da narrativa propriamente dita. Apesar de não propiciarem uma leitura convencional, os pontinhos querem dizer algo, e esse sentido está em grande parte condicionado à leitura do próprio romance. O autor-defunto, ou autor fictício, que funciona como narrador, é Brás Cubas, um sujeito vaidoso que morreu solteirão. Conhecendo o autor- personagem, percebemos que o título já deixa entrever a frustração de Brás Cubas, para quem a honraria de ser ministro de estado é algo de suma importância na vida social. A ação, portanto, é a negação de uma ação, ou seja, ele “narra” o que não aconteceu, mas que ele gostaria de que tivesse acontecido, e evidentemente o que é negativo na vida do narrador não merece ser relatado com profusão de detalhes. O leitor, se quiser, que adivinhe o que não aconteceu. Quanto aos personagens, o único que aparece é o próprio Brás Cubas, representado pelo pronome “eu” implícito na forma verbal “fui”. O tempo é indefinido, obviamente porque a ação não aconteceu, e o espaço, sabe-se que é o Rio de Janeiro da época do império, cuja elite se caracterizava pela vaidade e pela busca de honras, títulos e muito dinheiro. VERSÃO TEXTUAL Os Elementos da Narrativa 1 - NARRADOR A voz que conta uma história é de importância fundamental no gênero épico, visto que ela é que vai dar o tom ao relato, isto é, ela é que vai determinar o foco narrativo, o ponto-de-vista sob o qual os acontecimentos são veiculados ao leitor. Nas primeiras narrativas da civilização ocidental, tínhamos a voz das musas, a voz dos deuses, nos mitos e epopéias. Atualmente, a voz no romance é a que exerce maior fascínio sobre o leitor, o narrador é hoje um ser que não fala; ele escreve sobre si mesmo (primeira pessoa) ou sobre outrem (terceira pessoa). Ele apresenta uma visão de perto ou de longe, observação externa ou interna, em que penetra na psicologia da personagem. Essa voz é aparentemente poderosa, já que ela é que vai conduzir a narrativa. Entretanto, nem sempre ela se apresenta como auto- suficiente e autônoma, como ocorre geralmente com o narrador alencariano. Em Memórias póstumas de Brás Cubas, por exemplo, temos o narrador que não sabe mas quer saber, e questiona os que acham que sabem, em Memorial de Aires, também de Machado de Assis, há o narrador sem feitos e sem ambições, em Dom Casmurro, ainda de Machado de Assis, há o narrador claudicante, atormentado, 42