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LLPT_Introducao_a_Linguistica_impresso-44


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No nível sistêmico, analisamos como os elementos linguísticos se 
articulam no texto. Um princípio já estabelecido por Hjelmslev: a função 
nasce da articulação de dois elementos. 
Neste nível, focaremos a partícula ONDE, que na gramática é 
preestabelecido como advérbio ou pronome relativo. Contudo, pela 
gramática funcional, um elemento linguístico ganha funções e é classificado 
de acordo com seu uso, sua posição (o chamado aspecto tático (Táctico, ca: 
do gr. τακτικός, der. de τάσσειν, por em ordem.) 
Observe que o onde é o primeiro elemento apresentado no texto, 
direcionando-nos a dizer Brasil, cuja resposta não aparece em nenhum 
momento no texto. Inclusive o próprio nome “país” está antecedido por um 
denominado artigo indefinido “um”, ratificando a ideia de indefinição, de 
não apontar a algo específico no mundo. Mas nosso conhecimento de mundo 
e inferências de leitura fazem-nos deduzir qual o lugar a que a charge faz 
referência. Não é à toa que é o primeiro termo a ser empregado no texto e 
que encabeça a oração retirada de sua estrutura canônica, fazendo surgir em 
sua posição o “assim” – que retoma a tudo o que foi dito anteriormente, até 
aquilo que as reticências indicam que foi suspenso da fala do locutor. Note 
que o próprio vocativo “Kadafi”, que, comumente vem no início de oração, é 
o último elemento a ser utilizado. Isso por que: o autor quis focar as 
características do dito país. O tema de sua fala é o dito país em que tudo é 
possível, não o ditador, que é apenas uma informação compartilhada para 
contextualizar o texto.
Uma análise funcional da língua entende que cada escolha do usuário 
estabelece uma função para a constituição textual – eis o exemplo da eleição 
do nome de Kadafi, como exemplo, e não outro político.
KADAFI
Aqui poderíamos usar um substantivo que mais convém a nossa 
visão de mundo: ditador, presidente, chefe de estado, premier etc. – 
embora sinônimas cada um deles tem um sentido diferenciado.
Veja: aqui utilizamos dois níveis sistêmico e funcional para exemplificar 
a relação entre a escolha de determinados elementos linguísticos (onde, 
assim, Kadafi) e sua função argumentativa na charge em estudo. 
Essa é uma das diferenças entre o Funcionalismo e o Estruturalismo: 
para este, a noção de função linguística surge pela oposição de elementos 
linguísticos, para aquele, surge da articulação. 
De tudo o que comentamos, perguntamos: é o advérbio um termo 
acessório como afirma a Gramática Tradicional? Está ele ligado apenas ao 
verbo (ad para/verbio verbo)? Neste caso, não. Seu campo de 
abrangência é todo o texto – considerando que, no Funcionalismo, as 
análises são colocadas em um continuum entre mais ou menos – podendo, 
em outros casos, o advérbio estar ligado mais ao verbo.
FONTES DAS IMAGENS
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