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No nível sistêmico, analisamos como os elementos linguísticos se articulam no texto. Um princípio já estabelecido por Hjelmslev: a função nasce da articulação de dois elementos. Neste nível, focaremos a partícula ONDE, que na gramática é preestabelecido como advérbio ou pronome relativo. Contudo, pela gramática funcional, um elemento linguístico ganha funções e é classificado de acordo com seu uso, sua posição (o chamado aspecto tático (Táctico, ca: do gr. τακτικός, der. de τάσσειν, por em ordem.) Observe que o onde é o primeiro elemento apresentado no texto, direcionando-nos a dizer Brasil, cuja resposta não aparece em nenhum momento no texto. Inclusive o próprio nome “país” está antecedido por um denominado artigo indefinido “um”, ratificando a ideia de indefinição, de não apontar a algo específico no mundo. Mas nosso conhecimento de mundo e inferências de leitura fazem-nos deduzir qual o lugar a que a charge faz referência. Não é à toa que é o primeiro termo a ser empregado no texto e que encabeça a oração retirada de sua estrutura canônica, fazendo surgir em sua posição o “assim” – que retoma a tudo o que foi dito anteriormente, até aquilo que as reticências indicam que foi suspenso da fala do locutor. Note que o próprio vocativo “Kadafi”, que, comumente vem no início de oração, é o último elemento a ser utilizado. Isso por que: o autor quis focar as características do dito país. O tema de sua fala é o dito país em que tudo é possível, não o ditador, que é apenas uma informação compartilhada para contextualizar o texto. Uma análise funcional da língua entende que cada escolha do usuário estabelece uma função para a constituição textual – eis o exemplo da eleição do nome de Kadafi, como exemplo, e não outro político. KADAFI Aqui poderíamos usar um substantivo que mais convém a nossa visão de mundo: ditador, presidente, chefe de estado, premier etc. – embora sinônimas cada um deles tem um sentido diferenciado. Veja: aqui utilizamos dois níveis sistêmico e funcional para exemplificar a relação entre a escolha de determinados elementos linguísticos (onde, assim, Kadafi) e sua função argumentativa na charge em estudo. Essa é uma das diferenças entre o Funcionalismo e o Estruturalismo: para este, a noção de função linguística surge pela oposição de elementos linguísticos, para aquele, surge da articulação. De tudo o que comentamos, perguntamos: é o advérbio um termo acessório como afirma a Gramática Tradicional? Está ele ligado apenas ao verbo (ad para/verbio verbo)? Neste caso, não. Seu campo de abrangência é todo o texto – considerando que, no Funcionalismo, as análises são colocadas em um continuum entre mais ou menos – podendo, em outros casos, o advérbio estar ligado mais ao verbo. FONTES DAS IMAGENS 41