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REGÊNCIA DE BANDA, CORO E ORQUESTRA AULA 5 Prof. José Luis Manrique 2 CONVERSA INICIAL Continuando com a diversidade de gêneros musicais e formações instrumentais que encontram na prática da regência uma ferramenta interpretativa importante, encontram-se as peças vocais corais. Dentro deste grande gênero existem muitos subgêneros e estilos enraizados nas diferentes culturas, interagindo dinamicamente umas com as outras. Nesta aula, optaremos por trabalhar algumas composições da música coral europeia, pelo seu significativo protagonismo na história da regência e sua influência nas outras culturas irmãs. Os fragmentos escolhidos terão uma poética comum que os une ao longo da história na proposta da religiosidade cristã, presente na música ocidental. Essa poética será a letra litúrgica do cântico do Gloria, que tem seus inícios nos primeiros séculos da nossa era e tem inspirado inúmeras composições ao longo dos séculos. Essa lírica será recolhida como exemplo concreto nas obras de dois compositores: Giovanni Pierluigi da Palestrina e Arvo Pärt. Nestas obras musicais do Gloria, suscitadas pelos compositores mencionados, estudaremos a análise e a preparação de uma obra vocal, o aquecimento e preparação do grupo, a execução de alguns trechos, o planejamento de emissão e recepção do capital artístico e, por último, avaliaremos e criticaremos os resultados. TEMA 1 – ANÁLISE E PREPARAÇÃO DE UMA OBRA VOCAL Seguindo o método já adotado, primeiro investigaremos sobre as obras e a poética que as une, depois escolheremos as partituras e estudaremos apenas os trechos iniciais por atenderem bem aos objetivos pedagógicos desta aula, e por último verificaremos as referências interpretativas. 1.1 Investigar sobre as obras O cântico do Glória faz parte da liturgia cristã até nossos dias, ingressando ao rito da missa romana no século VI para a festa de Natal (Gelineau, 2013, p. 85). De caráter cristológico festivo e de inspiração bíblica, o canto começa com a aclamação inicial dos anjos que aparece no Evangelho de Lucas 1,14: Gloria in excelsis Deo, et in terra pax hominibus bonae voluntatis. O liturgista J.A. Jungmann S.J. comenta sobre este trecho: 3 podemos dizer que o canto dos anjos contém não apenas um desejo, mas a afirmação de um fato: agora é dada a glória de Deus e paz aos seres humanos. [...] não é errado ver comemorado no canto dos anjos não aquilo que efetivamente aconteceu, mas o plano de salvação, o desígnio, aquilo que deve ser realizado apenas passo a passo: Glória seja a Deus nas alturas e paz às pessoas de sua graça. (Jungmann, 2008, p. 348) Jungmann (2008) explica claramente a emoção da letra que pode ser interpretada como alegria e esperança, junto com a intencionalidade que este canto pretende comunicar. O autor finaliza o comentário com a tradução do trecho em questão. Tal sensibilidade foi capturada pelos compositores em épocas e contextos distintos, e cada um chegou a resultados sonoros diferenciados que marcaram e continuam marcando o desenvolvimento da música coral polifônica. Para Pierluigi da Palestrina, um dos maiores representantes do contraponto do século XVI, a poética da letra levou-o para uma mistura entre a escrita homofônica necessária nos textos mais prolixos da missa e a escrita contrapontística com clareza em texturas imitativas (Naxus, S.d.). É importante mencionar que Pierluigi foi o mestre da Capela de São Pedro no Vaticano, onde a prática da época excluía vozes femininas para a execução de obras litúrgicas. Segundo as rubricas, a formação vocal com a qual o compositor contava estava constituída como segue: “doze cantores: quatro baixos, quatro tenores e quatro contraltos (falsetistas), adicionalmente, para a voz chamada soprano, quatro eunucos, se for possível encontrar com as devidas habilidades, caso contrário, seis meninos” (Sisto V, citado por Milner, 1973, p. 250). Os eunucos são os celebres cantores castrati que dominaram a cena musical europeia, principalmente italiana, do século subsequente. Saiba mais Segundo o Dicionário da Academia Francesa, em 1778, um castrato é: “aquele que se castrou para que permanecesse com uma voz semelhante à das crianças ou das mulheres” (DAF, citado por Barbier, 1989, p. 9). Mais recentemente, a mesma poética inspirou ao compositor Arvo Pärt a escrever uma nova experiência estética do Gloria. Pärt, nascido na Estônia em 1935, é um dos maiores compositores de vanguarda do século XX. As obras deste compositor vêm sendo marcadas desde 1971 pelas influências da música antiga, principalmente canto gregoriano. Em 1976, ele começa a destacar-se 4 pela sua técnica composicional chamada tintinnabuli, que consiste em imitar as ressonâncias dos sinos em uma tríade tonal contrastada por uma outra voz melódica que se move em grau conjunto ao redor de um tom central (Naxos, S.d.). São estes dois traços, o canto gregoriano e o tintinnabuli, que caracterizam fortemente o Gloria de Pärt. 1.2 Escolha da partitura Quanto mais antiga uma peça, maior a possibilidade de esta sofrer alterações pelos editores de partitura, adicionando ou modificando elementos segundo os gostos ou tendências de cada época. Assim, para a escolha de edição do Gloria de Pierluigi da Palestrina, será preferível aquela que demonstre preocupação em conservar as caraterísticas originais dos manuscritos ou das primeiras publicações. Uma edição que cumpre com este requisito é a de Rudolf Ewerhart, que não possui marcações de dinâmica comumente adicionadas posteriormente pelos editores, mostra as claves antigas de DO no início da partitura e utiliza organização de compassos apenas como referência e não como regra, como se verifica na Figura 1. Figura 1 – Início da partitura de Pierluigi da Palestrina, na edição de Ewerhart. Fonte: Pierluigi da Palestrina, 1958. Para a escolha da edição da obra de Arvo Pärt, a decisão é mais simples. O compositor comercializa as partituras oficiais por meio da sua editora conveniada Universal Edition. Existem duas versões, uma para coro e órgão e 5 outra para coro e orquestra de cordas. Para o nosso estudo será adequada a primeira mencionada. 1.3 Estudo da partitura Como foi verificado na investigação da obra de Pierluigi da Palestrina, a música já desde o início apresenta uma primeira parte polifônica até a palavra voluntatis para logo em seguida comportar-se de maneira mais homofônica, como aparece na Figura 2. Esta segunda parte vem de um costume de canto orante do século IV, incentivada no ocidente por Ambrósio de Milan, chamada de antifonal, que consiste na separação dos cantores em dois grupos para interpretar por turnos um mesmo canto (Dunkle, 2016, p. 1.099). Conscientes disso, será oportuno adotar uma distribuição de palco que valorize tal tradição antifonal. Figura 2 – Início do Gloria de Pierluigi da Palestrina Fonte: Pierluigi da Palestrina, 1958. A prática litúrgica da época pede que a primeira parte do canto seja interpretada pelo sacerdote no estilo gregoriano, definindo assim o modo musical com a letra: Gloria in excelsis Deo. Um exemplo interpretativo desta parte 6 aparece na Figura 3. Por esse motivo é que a partitura contempla o texto só a partir do et in terra pax hominibus. A parte do coro é executada a 4 vozes, onde a voz soprano poderia ser interpretada por vozes brancas de meninos, enquanto a parte de contralto poderia ser cantada por tenores em falseto, caso for desejada uma interpretação histórica. Figura 3 – Gloria – Missa de Angelis – canto gregoriano no 5º modo Fonte: Solesmes, 1979. Por ser uma obra polifônica, será conveniente construir uma linha de regência com base nas linhas melódicas dos cantores. Também será necessário identificar os arcos de frase contidas na trama contrapontística, as quais organizarãoas respirações dos cantores naturalmente. Como toda obra vocal, é preciso respeitar sua prosódia, a musicalidade própria que cada língua imprime na sua fala natural. Na Figura 4, mostra-se esta análise identificando as sílabas tônicas. Figura 4 – Análise de prosódia do início do Gloria Fonte: Solesmes, 1979. O ápice de cada arco estará na sílaba tônica da palavra mais importante da frase. A Figura 5 mostra uma possibilidade de interpretação desses elementos mencionados, apenas como exemplo e sem descartar outras abordagens do mesmo material sonoro. Anotações na partitura serão de suma 7 importância para que o regente oriente aos cantores de forma clara e precisa no momento do ensaio. Figura 5 – Início do Gloria de Pierluigi da Palestrina com anotações de regência Fonte: Pierluigi da Palestrina, 1958. Referente ao estudo da partitura de Arvo Pärt, mostrada na Figura 6, veremos que esta apresenta constantes mudanças de fórmula de compasso. Isso faz justiça à tradição gregoriana da qual é devedora e que também está presente na obra de Pierluigi da Palestrina, que consiste em utilizar a prosódia natural da palavra como elemento rítmico organizador do pulso, ao contrário da música métrica que busca encaixar a prosódia das palavras dentro da fórmula métrica. 8 Figura 6 – Início do Gloria de Arvo Pärt Fonte: Pärt, 2021. Diferentemente do primeiro compositor, Arvo Pärt traduz a poética do Gloria numa textura puramente homofônica, mas enriquecida com constantes dissonâncias provenientes da técnica composicional utilizada. Observa-se que as linhas de contralto e baixo têm uma tendência de movimento em graus conjuntos, enquanto soprano e tenor apresentam constantes saltos com base em tríades tonais. Assim, nesta primeira parte, desenha-se uma única frase, sem necessidade de respirações. 1.4 Referências interpretativas Como referência interpretativa da obra de Pierluigi da Palestrina, podemos mencionar a execução da Oxford Camerata por ser um grupo que ganhou seu espaço internacionalmente principalmente como representantes da música antiga vocal. (Oxford Camerata, 2021). A interpretação deste grupo encontra-se no álbum Palestrina: Missa Papae Marcelli/Missa Aeterna Christi Munera1. Um elemento que chama a atenção e que não aparece na nossa 1 Esta interpretação está disponível aqui: <https://open.spotify.com/album/6tu14dYvtoshR8cOlT2JOZ>. 9 partitura é a sustentação do final da frase bonae voluntatis com uma leve suspenção do tempo, antes de atacar a próxima frase. No caso da obra de Arvo Pärt, encontramos uma interpretação importante na gravação de The Elora Singers, que é um coro profissional de música de câmara com nominações para os prêmios Grammy e Juno (Elora Singers, 2021). O registro encontra-se no álbum Part: Berliner Messe/Magnificat/Summa2. TEMA 2 – AQUECIMENTO E PREPARAÇÃO DO GRUPO O aquecimento e a preparação vocal dos cantores são orientados normalmente por um treinador vocal dedicado ao grupo, que, em sintonia com o regente, prepara uma rotina de acordo com o repertório proposto. Na ausência desse profissional, o regente deve estar preparado para assumir a tarefa. Por esse motivo, é recomendável que o regente de coro tenha uma experiência própria como cantor e consiga auxiliar ao grupo em assuntos de técnica vocal. A obra de Pierluigi da Palestrina não apresenta grandes desafios de extensão vocal. Nesse sentido, um aquecimento que conte com os elementos básicos será suficiente, abrangendo algumas notas a mais da tessitura requerida pela composição. Saiba mais AQUECIMENTO básico - soprano e tenor. Jose Luis Manrique, 11 maio 2020. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=kSuj8bttWhg>. Acesso em: 22 jul. 2021. Não existe nenhum problema em que as vozes agudas sejam de mulheres, a questão histórica de interpretação apenas por homens e meninos é um dado que pode ser explorado, ou não, como parte do capital artístico que a obra carrega. Por outro lado, o dado histórico que parece ser mais acessível cotidianamente é a questão do canto antifonal. A partitura mostra claramente as linhas de soprano e contralto num grupo e as linhas de tenor e baixo em outro, onde a voz de tenor é a mais independente de todas. Na Figura 7, apresenta-se uma possibilidade de distribuição vocal, colocando o tenor na ponta direita e 2 Esta interpretação está disponível aqui: <https://open.spotify.com/album/6fuPR4cMoebcxOoIs3EiQt>. 10 assim permitindo ao baixo por momentos pertencer ao grupo antifonal de soprano e contralto. Saiba mais AQUECIMENTO básico – soprano e tenor. José Luis Manrique, 11 maio 2020. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=kSuj8bttWhg>. Acesso em: 22 jul. 2021. Figura 7 – Possibilidade de distribuição vocal para a obra de Pierluigi da Palestrina Por sua parte, nesta etapa, a obra de Arvo Pärt apresenta condições mais complexas mesmo sendo de estilo homofônico. As dissonâncias e relações intervalares contidas na peça não fazem parte do repertório coral cotidiano, o que pode causar estranhamento numa primeira leitura. Para introduzir aos cantores nesta linguagem contemporânea, recomenda-se exercícios que contenham intervalos harmônicos de segundas maiores e menores ou inclusive a construção progressiva de clusters vocais. Essas práticas exercitarão o ouvido dos cantores para treinar a capacidade de afinar nas dissonâncias. Se bem é verdade que o trecho inicial não apresenta problemas na extensão vocal, a obra possui passagens bastante agudas em diversas vozes, o que demandará um aquecimento e direcionamento vocal apropriado que permita atingir tais notas preservando a saúde vocal dos cantores. É recomendável para as duas obras corais aqui estudadas propiciar ensaios de naipe antes de juntar as partes. Nestes ensaios de naipe, assistidos por um líder em cada grupo, busca-se afirmar as linhas melódicas, trabalhar timbragem de voz, homologar articulações e respirações, entre outras coisas, 11 com base em orientações interpretativas do regente previamente repassadas. O organista poderá auxiliar na correpetição das linhas vocais que sejam necessárias tanto nos ensaios de naipe como na execução em conjunto a pedido do regente. Outro ponto importante no caso de preparação de repertório coral são as caraterísticas acústicas do espaço de ensaio e apresentação. Por tratar-se de música sacra cristã, será conveniente executar as obras nos templos cristãos para os quais as composições foram pensadas ou em outros espaços que compartilhem algumas similaridades acústicas. Espaços onde a acústica seja muito seca serão contraproducentes para esse gênero musical, além de dificultar a audição e a afinação entre as vozes. TEMA 3 – EXECUÇÃO DE ALGUNS TRECHOS O primeiro elemento a ser contemplado antes de uma execução polifônica, como é o caso do Gloria de Pierluigi da Palestrina, é termos um entendimento da trama contrapontística. Nesse sentido, a construção da linha de regência deve destacar os pontos-chave melódicos/rítmicos de forma relacional com as outras linhas de voz. O regente deve ser capaz de cantar todas as linhas, a de regência e as originais, numa altura conveniente para sua voz, mas sem trocar a afinação absoluta. Isso ocasionará que algumas linhas sejam oitavadas para cima ou para abaixo, cuidando da saúde vocal dentro dos limites do regente. A necessidade de o regente ser capaz de cantar essas linhas não tem o intuito de emitir sons musicais junto com o grupo. Essa consciência melódica do regente é desejada para poder demonstrar as ideias de interpretação durante o ensaio e para utilizá-la como padrão mental com o qual o resultado sonoro do grupo será comparado a todo momento. Por outro lado, mesmo não emitindo sons, é positivo que o regente reproduza a gestualidade labialem fonomímica conforme seja oportuno durante a execução da obra. A fórmula de compasso “C” cortado informa uma organização rítmica binária, o que encaixa muito bem com a intenção rítmica do tecido vocal, mas sem ficarmos presos às barras de compasso. Nesse sentido, a marcação gestual em um será bastante adequada, dando maior liberdade, inclusive, para, quando for oportuno, trazer algumas caraterísticas do gesto quironômico do canto gregoriano que ainda era muito forte na época. 12 Com base no estilo interpretativo do canto gregoriano mais aceito universalmente, cada frase melódica individual, analisada previamente na Figura 5, precisa ter um direcionamento em dinâmica e intenção. Essa forma de interpretação consiste em atacar levemente a nota inicial e ir intensificando a dinâmica até o ápice para depois decrescer levemente até o final da frase. Tentar mostrar todas essas nuanças com o gesto da regência será impossível devido à superposição das frases, mas nos ensaios de naipe e gerais podem-se trabalhar essas intencionalidades de cada linha de voz separadamente, criando uma coesão interpretativa entre os cantores do mesmo naipe. Seguindo a tradição, com um gesto sutil podemos indicar o começo da frase inicial em gregoriano: Gloria in excelsis Deo, previamente definida para um solista que, fazendo o papel histórico do sacerdote, definirá a altura musical da interpretação sendo conferida previamente em silêncio com um diapasão. A modo de resposta, sem muita espera e com uma preparação gentil, podemos marcar na continuação o primeiro tempo da partitura. A contagem em um da estrutura binária, dosada com gestos quironômicos leves e traços das intencionalidades das frases, será adequada para a textura contrapontística do primeiro sistema, ganhando maior unidade e ênfase no laudamus te homofônico e desconsiderando a suspensão do tempo presente na gravação de referência. Nesse ponto, a periodicidade do pulso convém ser quebrada para marcar a entrada do benedicimus te, causando um deslocamento de uma semínima, mas que voltará ao curso original no adoramus te. Para a interpretação do Gloria de Arvo Pärt, assim como em Pierluigi, é também desejado que o regente possa cantar todas as linhas vocais. Nesse caso, não será necessário criar uma linha de regência específica por ser uma textura homofônica. O gesto deve ser preparado robustamente para atacar em forte o início da música. Para a marcação de tempos, será preciso achar um equilíbrio entre as convenções gestuais estudadas anteriormente e a prosódia das palavras que ocasionam as constantes trocas da fórmula de compasso. O primeiro compasso pode ser organizado internamente de forma assimétrica em 4-2, que, traduzido na marcação gestual, significa: um primeiro tempo no meio marcando a cabeça, 3 tempos para dentro do corpo, penúltimo para fora e último para dentro. O segundo compasso mantém seu pulso unitário. O terceiro compasso sugere um gesto ternário contemplando uma leve acentuação no segundo tempo devido à prosódia da palavra. Finalmente, o quarto compasso 13 pode ser organizado em 3-2, com o primeiro tempo no centro, os dois seguintes para dentro do corpo, o quarto tempo para fora e no quinto tempo realizar o corte de forma orgânica. TEMA 4 – PLANEJAMENTO DE EMISSÃO E RECEPÇÃO DO CAPITAL ARTÍSTICO O presente estudo evidenciou que as duas obras estão intrinsecamente interligadas, fazendo parte da mesma tradição musical em épocas diferentes. A letra vem do ritual cristão enraizada estilisticamente no canto gregoriano dos séculos IV e VI, passando pela polifonia do século XVI e chegando até a música coral contemporânea do século XX. O programa desse concerto poderia girar em torno dos Gloria de diferentes épocas, iniciando com uma interpretação em canto gregoriano e adicionando obras de outras épocas com a mesma letra, executadas em ordem cronológica. Não estando restritas aos espaços religiosos cristãos, as obras mantêm seu valor artístico próprio ocupando um espaço dentro da diversidade de expressões culturais da sociedade atual. TEMA 5 – AVALIAÇÃO E CRÍTICA DOS RESULTADOS Todos os dados que surgiram da investigação histórica influenciaram, em maior ou menor grau, as nossas decisões interpretativas. Quanto mais fundo formos na investigação de uma peça, maior será o grau de fruição da arte atingido e aproveitado no fluxo de capital artístico, mesmo que em alguns casos isto não seja tão evidente. Quanto mais afastada esteja uma obra musical da nossa realidade cultural e temporal, maior terá que ser o esforço da etapa de investigação. Prova disso é a volumosa bibliografia desta aula. Tal esforço implicará entrar nas discussões estilísticas, tomando uma posição crítica e optando por soluções apropriadas para a execução em nosso entorno. Sobre a sustentação de nota da interpretação da Oxford Camerata no Gloria de Pierluigi da Palestrina, que não foi acolhida na interpretação desta aula, pode ter sido aplicada pelo grupo devido ao costume fraseológico gregoriano de finalizar os arcos de frase com figura pontuada. Mas isto, dentro dos alcances da presente pesquisa, não implica uma caraterística substancial da interpretação 14 nesse autor. Pelo contrário, a opção de manter o pulso estável nesta parte contribui com intensificar, dentro da poética cristã, a emoção pelo desejo de louvar a Deus na irrupção antecipada do Laudamus te. No território interpretativo, o regente pode ter uma apreciação pessoal, mas devidamente informada e sustentada em função da própria poética da obra. NA PRÁTICA Da mesma forma que anteriormente, o grande valor destas aulas está em fornecer ferramentas e possibilidades gestuais para que o estudante de regência inicie uma prática musical adequada e concreta no seu próprio entorno musical. No caso de termos um grupo de pessoas interessadas no estudo da regência coral, uma prática salutar será dividir a responsabilidade da regência entre os membros, assim, enquanto uma pessoa rege, as outras cantam. FINALIZANDO A regência coral, por estar intrinsecamente ligada à voz e à respiração, mantém uma relação diferenciada com as emoções humanas. Por outro lado, a gesticulação labial e as expressões faciais resultantes da interpretação também contribuem com a comunicação de tais emoções e modificam a sonoridade resultante por causa das suas implicações tímbricas. Esta observação precisa estar presente tanto nos ensaios como nas apresentações, somando-se a toda a preparação técnica abordada durante esta aula. 15 REFERÊNCIAS ANDERSON, K. About this recording: Palestrina's Missa Aeterna Christi Munera. Naxos, S.d. Disponível em: <https://www.naxos.com/mainsite/blurbs_reviews.asp?item_code=8.550573&ca tNum=550573&filetype=About%20this%20Recording&language=English#>. 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