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Técnicas de Tratamento de Resíduos Material Teórico Caracterização dos Resíduos Sólidos Responsável pelo Conteúdo: Prof. Me. Marcus Vinicius Carvalho Arantes Revisão Técnica: Prof.a Dr.a Eloá Cristina Figueirinha Pelegrino Revisão Textual: Prof.ª Me. Fátima Furlan • Introdução; • Surgimento de Novos Resíduos Sólidos na Sociedade Moderna; • Composição dos Resíduos Sólidos Gerados no Brasil; • Resíduos Sólidos e Impactos Ambientais Associados; • Gestão dos Resíduos Sólidos no Brasil. · A primeira unidade ilustrará, sucintamente, as definições dos resíduos sólidos gerados pelas atividades antrópicas, buscando adotar uma abordagem abrangente acerca das mudanças de configurações e composições dos resíduos sólidos gerados ao longo da história do ser humano. OBJETIVO DE APRENDIZADO Caracterização dos Resíduos Sólidos Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. UNIDADE Caracterização dos Resíduos Sólidos Contextualização Para iniciarmos esta unidade indico-lhe uma breve leitura da matéria “A riqueza que vem do lixo”, cujo link está descrito logo abaixo. Esta matéria lhe oferecerá informações sobre os resíduos no Brasil e como a correta gestão, destinação e reutilização podem se transformar em um mercado produtivo e altamente rentável. https://goo.gl/k1jTh7 Ex pl or 8 9 Introdução O manejo da matéria e a produção de resíduos e rejeitos são processos inerentes à vida e às diversas atividades desenvolvidas pela humanidade. Ao longo do processo de civilização e povoamento do planeta Terra observou-se que os resíduos e rejeitos antropogênicos (originado pelas atividades humanas) possuíram uma grande diversificação em sua composição físico química. Nos capítulos a seguir são abordadas as composições físico-químicas dos resíduos sólidos gerados pelas atividades antrópicas, desde a época do ser humano primitivo, também denominado como Caçadores-Coletores, até os dias atuais (sociedade contemporânea). Para fins de padronização da nomenclatura, a presente disciplina, assim como todas suas unidades, utilizar-se-á apenas os termos rejeitos e resíduos sólidos para caracterizar toda a matéria remanescente (resto e sobras) ou escória produzidas pelas atividades antrópicas. Sendo importante salientar que o termo “lixo” é uma nomenclatura obsoleta, ou seja, uma palavra que se encontra em desuso pela comunidade acadêmica e por todas aquelas relativas à temática gerenciamento de resíduos. Os resíduos sólidos são definidos pela NBR 10.004/04 como: “Resíduos nos estados sólido e semissólido, que resultam de atividades antrópicas de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta defi nição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnicas e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível”. Ex pl or Os rejeitos são definidos pela Lei Federal nº 12.305/10 (Política Nacional de Resíduos Sólidos) como: “Resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição fi nal ambientalmente adequada”. Ex pl or 9 UNIDADE Caracterização dos Resíduos Sólidos Contextualização: Características dos Resíduos e Rejeitos Gerados na Época Pré-Industrial Na época que antecedeu as grandes revoluções industriais o ser humano gerava resíduos sólidos e rejeitos que continham uma composição físico- química bem características. Em um primeiro momento na história da humanidade esses materiais (resíduos e rejeitos), em geral, eram gerados por povos mais primitivos nômades denominados pelos antropólogos como “Caçadores-Coletores”. Enquanto em um segundo momento, com o advento das atividades de manejo agrícola e produção de alimentos e diversos artefatos, os povos denominados como “ Produtores de Alimentos”, passam a gerar um maior volume e variedade de resíduos sólidos. Embora houvesse um aumento no volume e diversidade de resíduos sólidos, esse fenômeno não chegou a representar um problema ambiental de expressiva escala e complexidade. Livro de antropologia que dispõe sobre a origem da humanidade e os primeiros materiais e tipos de resíduos produzidos pelos seres humanos primitivos presente no material complementar. Ex pl or Segundo os antropólogos e cientistas, os povos denominados como “Caçadores- Coletores” e “Produtores de Alimentos” geravam, predominantemente, resíduos sólidos oriundos de remanescentes de alimentos, excrementos e dejetos (EIGENHEER, 2009; DIAMOND, 2013). Os resíduos sólidos gerados por esses povos mais primitivos possuíam as seguintes características qualitativas (físico-químicas) e quantitativas (volume): 10 11 · Composição físico-química simples de origem natural; · Rico em matéria orgânica; · Restos e sobras de alimentos e matérias de origem vegetal, tais como: Casca de frutas, restos de legumes e hortaliças, algodão, fibra de coco etc.; · Remanescentes de material de origem animal, tais como: Chifres, ossos, dentes, cascos, pele, couro, conchas, escamas, artefatos de caça etc.; · Alta capacidade de biodegradabilidade; · Geração de pequenos volumes de resíduos sólidos orgânicos. Importante! A Biodegradabilidade é defi nida como um processo no qual todos os fragmentos de materiais são consumidos por micro-organismos presentes no meio ambiente como fonte de alimento e energia, podendo gerar água e biomassa (IBAMA). Você Sabia? Podemos dizer, apoiados em evidências históricas e científicas da arqueologia, que os resíduos sólidos gerados na era pré-industrial eram, predominantemente, de origem natural e animal. Logo, podemos classificar os resíduos sólidos gerados pelos seres humanos daquela época como resíduos orgânicos. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, os resíduos orgânicos podem ser denominados como: “Os resíduos orgânicos são constituídos basicamente por restos de animais ou vegetais. Podem ter diversas origens, como doméstica ou urbana (restos de alimentos e podas), agrícolaou industrial (resíduos de agroindústria alimentícia, indústria madeireira, frigorífi cos, etc), de saneamento básico (lodos de estações de tratamento de esgotos), entre outras”. Ex pl or Os resíduos sólidos orgânicos dessa época eram gerados em pequenos volumes e escalas, sendo reciclados ou biodegradados, naturalmente no ambiente. Importante! As Revoluções Industriais protagonizadas pelo ser humano podem ser divididas em três etapas: I-) De 1780 a 1830: Originada na Inglaterra com as principais atividades industriais oriundas da indústria têxtil de algodão; II-) De 1870 até metade do Sec. XX: Difusão das indústrias metalúrgica, eletromecânica e petroquímica; III-) De 1970 até os dias atuais. Diversifi cação e evolução dos processos industriais e o surgimento do fenômeno da Globalização. Você Sabia? 11 UNIDADE Caracterização dos Resíduos Sólidos Características dos Resíduos e Rejeitos Gerados na Época Pós-Industrial Observamos que até a era industrial os resíduos sólidos antropogênicos (oriundo de atividades antrópicas) eram, predominantemente, orgânicos. No entanto, com o advento das Revoluções Industriais*, os resíduos sólidos passaram a apresentar maior complexidade em suas características físico químicas. As características dos resíduos sólidos, a partir da época pós-industrial, sofreram uma significativa mudança, tanto nos aspectos quantitativo quanto qualitativo, apresentando as seguintes características gerais: · Composição físico-química complexa: Origem natural e origem sintética; · Geração de grandes volumes de resíduos e rejeitos: Fenômeno desencadea- do pelo crescimento abrupto da população global; · Menor capacidade de biodegradabilidade; · Recalcitrantes; · Xenobióticos; · Carcinogênico; O termo Recalcitrantes é uma denominação que busca descrever a resistência a transformação ou decomposição de uma determinada molécula ou resíduo orgânico . O termo Xenobiótico refere-se aos compostos orgânicos artificialmente produzidos e que podem constituir uma fração do resíduo orgânico presente em um ambiente. O termo Carcinogênico refere-se à propriedade de um composto provocar ou estimular a deflagração de uma neoplasia (câncer) no organismo humano. Ex pl or Observa-se que após a era pós-industrial os resíduos sólidos gerados pelas atividades antrópicas passaram a apresentar uma composição físico-química mais complexa e perigosa, oferecendo significativos riscos à saúde humana e à qualidade ambiental. Os resíduos perigosos são definidos pela NBR 10.004/04 como aqueles pertencentes à “Classe I”, sendo detentores das seguintes características: “São aqueles que oferecem grande periculosidade à saúde humana e am- biental, devido às suas propriedades físicas, químicas ou infectocontagiosas. Eles possuem as seguintes características físico-químicas: Inflamabilidade, Corrosividade, Reatividade, Toxicidade e Patogenicidade”. Além das revoluções industriais, outro fenômeno antrópico contribuiu para o aumento da geração de resíduos, o crescimento da população mundial. A seguir, serão descritas as características gerais desse último fenômeno citado, sobretudo a sua influência decisiva na problemática de geração e gestão de resíduos sólidos. 12 13 Aumento da População Mundial: Impactos na Geração de Resíduos Sólidos Um aspecto importante que está diretamente ligado à geração de resíduos na sociedade moderna é o aumento vertiginoso da população mundial. Esse fenômeno foi intensificado a partir das revoluções industriais, culminando, consequentemente, na elevação de geração de resíduos sólidos no mundo. O aumento da população mundial, aliada à crescente migração da população rural para os ambientes urbanos (êxodo rural), foram processos que acarretaram grandes impactos no que tange à geração e gestão de resíduos. Ou seja, no início do século passado a população urbana aumentou consideravelmente, enquanto a população rural diminuía. Os autores (HOORNWEG; BHADA-TATA; KENNEDY, 2013) trouxeram em seus trabalhos as seguintes estimativas e estudos que comprovam a relação direta entre o aumento da população urbana e a geração de resíduos sólidos: · Em 1900, o mundo tinha 220 milhões de residentes urbanos (13% da população mundial). A população urbana mundial gerava em torno de 300 mil toneladas de lixo per capita; · Em 2000, o mundo já possuía 2,9 bilhões de pessoas que residiam em cidades (49% da população mundial), gerando mais de 3 milhões de toneladas de resíduos sólidos per capita. O gráfico a seguir ilustra esse fenômeno do aumento da população mundial, sobretudo a partir da Primeira Revolução Industrial. Gráfi co 1 – aumento da população mundial a partir da primeira Revolução Industrial Observamos, por meio do último gráfico, que a população mundial, no período de 1800 até 2013, aumentou sete vezes. A conjugação desses dois fenômenos, aumento da população mundial e o êxodo rural, acentuaram a problemática relacionada à geração e gestão de resíduos sólidos nos ambientes urbanos. 13 UNIDADE Caracterização dos Resíduos Sólidos Além dos fenômenos supracitados, outro fenômeno que agravou os impactos socioambientais desencadeados pelos resíduos sólidos, foi o surgimento de novos tipos de resíduos sólidos. Esse fenômeno será descrito no próximo tópico. Surgimento de Novos Resíduos Sólidos na Sociedade Moderna Com o advento das revoluções industriais o ser humano passou a produzir uma infinidade de produtos e equipamentos, culminando, consequentemente, também na geração de novos tipos de resíduos sólidos. Esses novos resíduos sólidos são gerados ao longo de todo o “Ciclo de Vida dos Produtos” oriundos das atividades industriais. Ou seja, desde a produção até a sua disposição final. Importante! De acordo com a Lei 12.350/10, o “Ciclo de Vida do Produto” consiste em uma “série de etapas que envolvem o desenvolvimento do produto, a obtenção de matérias-primas e insumos, o processo produtivo, o consumo e a disposição final”. Você Sabia? Os resíduos sólidos oriundos das atividades industriais apresentam uma composi- ção físico-química complexa. A composição complexa dos resíduos não foi abordado no capítulo anterior, dessa forma retirar esta afirmação. As principais características dos resíduos sólidos gerados na sociedade moderna são: · Baixa capacidade de biodegradabilidade; · Alta toxicidade e inflamabilidade; · Grande potencial de geração de impactos ambientais (contaminação e poluição). A seguir, serão elencados alguns dos novos tipos de resíduos sólidos gerados a partir das revoluções industriais. Borracha Os primeiros processos de fabricação da borracha foram desenvolvidos pelos povos pré-colombianos da América Central, em 300 A.C. a 600 D.C. Esses povos desenvolveram uma espécie de bolas de caucho compostas por um tipo de borracha rudimentar (SOUZA, 1993). O caucho é árvore da família das moráceas, que possui látex que produz uma borracha de qualidade inferior. Somente depois de um longo período na história, com o desenvolvimento de di- versas experiências, a borracha passou a ser utilizada em escala industrial. Mais preci- samente a partir de 1839, com o desenvolvimento da técnica de “Vulcanização”, que a borracha passou a apresentar as características físico-químicas que conhecemos 14 15 atualmente, sendo também conhecida como borracha sintética (produzida a partir de processos industriais). Logo após esse período, a borracha passou a ser utilizada em larga escala nos mais diversos segmentos industriais, resultando na geração acentuada desse tipo de resíduo. A tabela abaixo apresenta as principais características gerais da borracha: Características Gerais da Borracha Fabricação em escala industrial 1839 Tipo de material Polímero derivado do látex Processo de fabricação Vulcanização Propriedades gerais do material Material reciclável, resistente à tração, abrasão, compressão, oxidação (oxigênio) e ao envelhecimento térmico. Tempo aproximado de decomposição IndeterminadoPara saber mais sobre o histórico de fabricação da borracha acesse o seguinte link: https://goo.gl/LTzxGAEx pl or Vidro Segundo historiadores, o vidro foi descoberto, acidentalmente, por mercadores da antiga Mesopotâmia, por volta de 7.000 A.C. Esses mercadores verificaram que a junção dos elementos fogo, areia e nitrato de sódio originavam um líquido transparente, que viria a ser o vidro. No entanto, o vidro somente passou a ser utilizado em escala industrial a partir da segunda (1870 até metade do Séc. XX) e terceira (De 1970 até os dias atuais) revoluções industriais. Configurando-se, desde então, como um material muito utilizado pela sociedade moderna. A tabela abaixo apresenta as principais características gerais do vidro: Características Gerais do Vidro Fabricação em escala industrial Segunda metade do século XIX Tipo de material Areia e Nitrato de Sódio Processo de fabricação Flutuação e Folha Estirada Propriedades gerais do material Transparente, material reciclável, não absorvência de líquidos e baixa condutividade térmica. Tempo aproximado de decomposição De 4 mil a 1 milhão de anos Fonte: ANAVIDRO, 2016 Para saber mais sobre o histórico de fabricação do vidro acesse os seguintes links: https://goo.gl/eCAZSH | https://goo.gl/ucCWvf | https://goo.gl/l2o4hFEx pl or 15 UNIDADE Caracterização dos Resíduos Sólidos Alumínio Os primeiros vestígios históricos que comprovam a utilização do alumínio são datados em aproximadamente 7mil anos atrás, onde a civilização Persa fabricava potes e recipientes de argila compostos com óxido de alumínio, hoje caracterizado como alumina. Depois desse período outras civilizações antigas, como a egípcia e a babilônica, também produziram produtos (cosméticos, medicamentos e corantes de tecidos) à base de alumina (ABAL, 2016). Entretanto, somente na metade do Século XIX que o alumínio passou a ser isolado da bauxita por meio de um processo químico (reação termoquímica) denominado como “Hall-Heróult”. Esse processo permitiu a implementação e difusão da indústria global do alumínio. Para saber mais sobre o histórico de fabricação do alumínio acesse o seguinte link: https://goo.gl/lpmUsdEx pl or A tabela abaixo apresenta as principais características gerais do alumínio: Características Gerais do Alumínio Fabricação em escala industrial Metade do século XIX Tipo de material Metal oriundo da bauxita Processo de fabricação Reações termoquímicas Propriedades gerais do material Material reciclável, resistente à corrosão, condutor térmico e elétrico e detém propriedade antimagnéticas. Tempo aproximado de decomposição De 100 a 500 anos Fonte: ABAL, 2016 Plástico O primeiro composto plástico rudimentar foi desenvolvido em 1860, quando o inglês Alexandre Pakers desenvolveu estudos com o nitrato de celulosa. Esses estudos foram aperfeiçoados, em 1870, pelo americano John Hyatt, cujo resultado culminaria na fabricação da primeira matéria plástica artificial. Desde esses experimentos iniciais o plástico vem sendo submetido a uma série de processos de aperfeiçoamento em sua fórmula de fabricação. No início do século passado foi criado o poliestireno, material primário que veio dar origem aos demais tipos de plástico produzidos em escala industrial, tais como: Polietileno, PVC, Poliamidas, Poliéster etc. Na segunda metade do Século passado, o plástico passa a ser introduzido em larga escala na indústria (automotiva, têxtil e eletroeletrônicos) e nos mercados do mundo, gerando com isso diversos produtos descartáveis e, consequentemente, 16 17 um número gigantesco de resíduos sólidos compostos por esse tipo de material. A tabela abaixo apresenta as principais características gerais do plástico: Características Gerais do Plástico Fabricação em escala industrial 1936 Tipo de material Polímero derivado do petróleo Processo de fabricação Síntese de polímeros Propriedades gerais do material Material reciclável, baixo peso, resistência mecânica e química e resistência a impactos. Tempo aproximado de decomposição De 100 a 450 anos Fonte: ABIPLAST, 2016 Resíduos Eletroeletrônicos Os avanços tecnológicos protagonizados pela sociedade moderna também são responsáveis pela geração de “Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos (REEE)”. Os resíduos eletroeletrônicos também podem ser denominados como “Electronic Waste ou E-Waste” (Resíduos Eletrônicos). Segundo (Santos, 2010) os resíduos eletroeletrônicos podem ser classificados como: “Todo o rejeito oriundo do descarte de aparelhos eletrônicos, tais como: televisores, computadores pessoais; incluindo os seus componentes, como discos rígidos, placas-mãe etc.; aparelhos celulares, entre outros”. Os REEEs são resíduos constituídos por uma grande diversidade de materiais, sobretudo por metais pesados, plástico e demais metais. Essas propriedades físico- químicas caracterizam os resíduos eletroeletrônicos como um tipo de resíduo perigoso, que por sua vez pode gerar severos impactos ao meio ambiente, sobretudo quando estes não são corretamente gerenciados. As formas de tratamento dos REEEs serão abordadas na próxima unidade didática específica. Demais Resíduos Sólidos Perigosos A fim de complementar a lista de resíduos sólidos gerados pela sociedade mo- derna, elencaremos a seguir alguns tipos de resíduos sólidos perigosos antro- pogênicos. Ou seja, esses resíduos sólidos, quando não gerenciados de manei- ra adequada, também poderão acarretar severos impactos à saúde pública e à qualidade ambiental. A seguir, serão elencados, na tabela abaixo, alguns tipos de resíduos sólidos perigosos gerados pelas atividades antrópicas: Exemplos de resíduos sólidos perigosos Classe do resíduo Composição Origem da geração Resíduos de Serviços de Saúde Resíduos biológicos, químicos, perfurocortantes e comuns e rejeitos radioativos Hospitais, laboratórios analíticos, drogarias, farmácias, serviços de tatuagem etc 17 UNIDADE Caracterização dos Resíduos Sólidos Resíduos de Mineração Metais pesados Mineração e atividades de pesquisa Resíduos de Saneamento Básico Lodo Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) e Estação de Tratamento de Água (ETA) Resíduos Químicos de Laboratórios de Ensino e Pesquisa Produtos químicos, hormonais, saneantes e demais produtos perigosos Estabelecimentos de Ensino e Laboratórios de pesquisa Resíduos de Atividades Agrícolas Embalagens de agrotóxicos e fertilizantes Agricultura e Pecuária Pilhas e Baterias Metais pesados, zinco e manganês Residências, indústrias, comércios, hospitais, instituições de ensino etc. Fonte: PNRS, 2010; RDC nº 306/04; Resolução CONAMA nº 358/05; Os resíduos sólidos elencados acima apresentam uma complexa composição físico-química (perigosos), fator que exige a adoção de um programa de gerencia- mento de resíduos sólidos, ambientalmente correto, sobretudo no que tange os processos de tratamento de disposição final. As formas de tratamento e disposição final para esses tipos de resíduos serão abordados na próxima unidade didática específica. Composição dos Resíduos Sólidos Gerados no Brasil Vimos que a sociedade moderna gera uma gama enorme de resíduos sólidos por meio das mais diversas atividades antrópicas do cotidiano. Nesse tópico efetuaremos uma rápida abordagem sobre a composição dos resíduos sólidos gerados no Brasil. A composição dos resíduos sólidos também é conhecida como “Composição Gravimétrica”, sendo denominada pela NBR 10.007/04 como a “determinação dos constituintes e de suas respectivas percentagens em peso e volume, em uma amostra de resíduos sólidos, podendo ser físico, químico e biológico”. Em linhas gerais, a composição gravimétrica expressa o percentual de cada componente do resíduo sólido em relação à massa total de uma determinada amostra. Ou seja, a avaliação da composição gravimétrica procura traduzir cada componente presente no lixo em relação ao seu peso total. A tabela abaixo ilustra a composição gravimétrica dos resíduos sólidos produzidos noBrasil e em outros países do mundo: Composição gravimétrica dos resíduos sólidos gerados em algumas nações do globo (%) Tipo de Resíduo Brasil México Canadá EUA Alemanha China Reino Unido Índia Japão Quênia Matéria Orgânica 51,4 52,4 28,7 24 51,2 52,9 20,2 41,8 42,3 53 Vidro 2,4 5,9 4,4 5,3 11,5 2,4 9,3 2,1 2,9 2,1 18 19 Metal 2,9 2,9 10,4 8 3,9 0,7 7,3 1,9 5,1 2,3 Plástico 13,5 4,4 8 11 6,1 7,9 10,2 3,9 11,2 12,6 Papel 13,1 14,1 37,7 35 19,9 5,7 37,1 5,7 25 16,8 Rochas e solo 0,46 - - - 2,9 18,9 6,8 40,3 - - Borracha, Tecido - 1,5 - 7,4 1,5 2,5 2,1 3,5 5,5 2,6 Madeira - - - 5,8 - 6,7 - - - - Outros 16,7 18,9 10,3 3,4 3,1 2,3 7 0,8 8 10,6 Fonte: IBGE, 2010; CABRAL, 2012 Por meio da tabela acima, que dispõe sobre a composição gravimétrica aproximada de alguns países do mundo, podemos identificar que o Brasil, gera, predominantemente, matéria orgânica (51,4%). Além de matéria orgânica o Brasil também gera um grande volume de outros resíduos sólidos como plástico e papel. Segundo (SOARES), o conhecimento da composição gravimétrica possibilita estabelecermos: Uma avaliação preliminar (diagnóstico) da degradabilidade, do poder de contaminação ambiental, das possibilidades de reutilização, reciclagem, valorização energética e orgânica dos resíduos sólidos urbanos. Sendo, portanto, de grande importância na definição das tecnologias mais adequadas ao tratamento e disposição final dos resíduos. A seguir, serão abordados os impactos ambientais desencadeados pelo descarte ambientalmente incorreto desses resíduos. Resíduos Sólidos e Impactos Ambientais Associados A vertiginosa geração de resíduos sólidos, o aumento da complexidade de sua composição gravimétrica, o aumento da geração de resíduos perigosos e de menor biodegradabilidade, a indevida disposição final de resíduos etc., todos esses aspectos acarretam severos impactos à saúde ambiental e humana. Os impactos ambientais desencadeados pelo incorreto gerenciamento de resídu- os são difusos, sobretudo quando a disposição final é realizada em lugares inapro- priados e isentos de infraestrutura apropriada (ex: lixões e aterros controlados). Ou seja, esse fenômeno nocivo pode propiciar impactos difusos, atingindo os diversos ambientes terrestres, tais como: hidrosfera, litosfera (solo) e atmosfera. Impactos dos Resíduos Sólidos nos Corpos Hídricos (Hidrosfera) A disposição final dos resíduos sólidos em lugares inapropriados pode propor- cionar a contaminação dos corpos hídricos superficiais (rios, lagos e reservatórios) e subterrâneos (aquíferos). 19 UNIDADE Caracterização dos Resíduos Sólidos Essa contaminação se dá por meio de dois processos. O primeiro ocorre por meio da infiltração de um material líquido oriundo da decomposição dos resíduos sólidos, denominado como “Chorume”, no solo, chegando até os lençóis freáticos subterrâneos ou aquíferos. O segundo processo de contaminação ocorre quando os resíduos sólidos são transportados até os corpos hídricos superficiais por meio da ação da chuva ou quando são lançados, arbitrária e indevidamente, nos corpos hídricos superficiais. Esses dois processos de contaminação geram impactos ambientais em larga escala nos corpos hídricos aquáticos, sendo necessário um grande dispêndio econômico para o tratamento desse importante recurso natural. Importante! O termo Disposição Final, segundo a Lei nº 12.305/10, consiste na “distribuição ordenada de rejeitos em aterros, observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos”. Você Sabia? Impactos dos Resíduos Sólidos no Solo (litosfera) A contaminação do solo, devido ao incorreto gerenciamento dos resíduos sólidos, ocorre por meio processo semelhante àquele abordado no tópico anterior. O solo é contaminado pelo “Chorume” proveniente da decomposição dos resíduos sólidos. Além de ser contaminado também por gases como o metano, que por sua vez fica aprisionado nas camadas do subsolo. Essas duas formas de contaminação ambiental estão ilustradas na figura a seguir: Ilustração de contaminação do solo e aquíferos – Lixo, 2008 Fonte: Adaptado de Pólita Gonçalves 20 21 Impactos dos Resíduos Sólidos na Atmosfera Os resíduos sólidos, além de serem geradores do material líquido denominado como “Chorume”, também produzem gases ao longo de seu processo de decomposição. O principal gás produzido no processo de decomposição dos resíduos sólidos é o metano (CH4). O gás metano (CH4) é classificado como um gás de efeito estufa (GEE), logo a sua emissão, indiscriminada, na atmosfera acarreta expressivos impactos ambientais tanto em escala local quanto global (MCTI, 2014). Vimos que as atividades cotidianas desenvolvidas pelo ser humano geram uma infinidade de resíduos sólidos, como por exemplo: rejeitos, resíduos orgânicos e perigosos. Esses resíduos sólidos podem gerar grandes impactos ambientais, quando não gerenciados, tratados e dispostos de forma ambientalmente correta. Os resíduos sólidos podem gerar impactos ambientais configurados na forma de contaminação e poluentes de todos os ambientes da Terra. Gestão dos Resíduos Sólidos no Brasil Vimos que os resíduos sólidos antropogênicos exigem uma adequada gestão, pois podem produzir uma série de impactos ambientais. Logo, a gestão dos resíduos sólidos gerados pelas atividades antrópicas é um instrumento de gestão ambiental importante, pois busca prevenir e mitigar uma série de impactos ambientais associados ao descarte incorreto desse material no meio ambiente. No âmbito nacional, apesar de inúmeros esforços dos diversos segmentos da sociedade brasileira, a gestão de resíduos sólidos no nosso país ainda é um tema que gera muitos desafios para a sociedade civil e gestores públicos. Ou seja, ainda nos deparamos com uma realidade preocupante, onde os resíduos sólidos ainda são dispostos ou lançados de forma incorreta no ambiente (exe.: lixões e vazadouro), como podemos ver no gráfico abaixo: Ano DESTINO FINAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS, POR UNIDADES E DE DESTINO (%) VAZADOURO A CÉU ABERTO ATERRO CONTROLADO ATERRO SANITÁRIO 1989 88,2 9,6 1,1 2000 72,3 22,3 17,3 2008 50,8 22,5 27,7 Fonte: Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Com o intuito de combater essa problemática ambiental, o Brasil desenvolveu um Modelo de Gestão de Resíduos Sólidos que se caracteriza como um conjunto de diretrizes e referências político-estratégicas, institucionais e legais, que buscam nortear as ações relativas ao gerenciamento de resíduos sólidos no país. 21 UNIDADE Caracterização dos Resíduos Sólidos Segundo (LEITE, 1997), o Modelo de Gestão de Resíduos Sólidos do Brasil é composto por três aspectos: 1. Arranjos institucionais: Instituição de diversos órgãos ambientais nas três esferas administrativas (federal, estadual e municipal) designados para as tomadas de decisões na área de resíduos sólidos; 2. Instrumentos legais: Aprovação de leis, decretos, resoluções, normas, dentre outros instrumentos normativos, relativos ao gerenciamento e tratamento de resíduos sólidos; 3. Mecanismos de financiamento: Fundos e linhas de financiamento que oferecem suporte financeiro para a implementação de atividades relacionadas ao gerenciamento de resíduos sólidos. No próximo capítulo serão abordados os principais órgãos ambientais brasileiros responsáveis por traçar diretrizes e tomar decisões sobre o gerenciamento de resíduos sólidos no Brasil. Além desses órgãos abordaremos também as principais normas e leis relacionadas ao gerenciamento de resíduos sólidos. 22 23 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites IBGE – Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2008 Tópico: Manejo de Resíduos Sólidos https://goo.gl/XorkGk Livros Armas, Germes e Aço: Os Destinos das Sociedades DIAMOND, J. Armas, germes e aço: Os destinos das sociedades.15ª ed. Rio de Janeiro. Record, 2013. História do Lixo: A Limpeza Urbana através dos Tempos EIGENHEER, E. M. A História do Lixo: A limpeza urbana através dos tempos. Rio de Janeiro: Ed. Campus, 2009 Leitura Waste Production Must Peak this Century HOORNWEG, D.; BHADA-TATA, P.; KENNEDY, C. Waste production must peak this century. Nature, v. 502, p. 615-617, 2013. 23 UNIDADE Caracterização dos Resíduos Sólidos Referências Associação Brasileira da Indústria do Plástico (ABIPLAST). Dados institucionais. Disponível em: http://www.abiplast.org.br/ Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT. NBR 10.004. Resíduos sólidos. Classificação: Rio de Janeiro, 2004. ________, ABNT. NBR 10.007. Amostragem de resíduos sólidos: Rio de Janeiro, 2004. Associação Brasileira do Alumínio (ABAL). Dados institucionais. Disponível em: http://www.abal.org.br/ Associação Nacional de Vidraçarias (ANAVIDRO). Dados institucionais. Disponível em: http://www.anavidro.com.br/ AUGUSTO, F. Ciclo da Borracha: dos primórdios até 1920. Disponível em: http:// historiainte.blogspot.com.br/2013/06/ciclo-da-borracha-dos-primordios-ate.html BRASIL, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Segundo Inventário Brasileiro de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases de Efeito Estufa - Relatório de Referência: Emissões de Gases de Efeito Estufa no Tratamento e Disposição de Resíduos. Brasília, 2014. 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São Carlos. Tese de D.Sc., Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo (USP). São Carlos, 1997. PINHEIRO, E. L. Plano de gerenciamento integrado de resíduos de equipamentos elétricos, eletrônicos (PGIREEE). Belo Horizonte: Fundação Estadual do Meio Ambiente: Fundação Israel Pinheiro, 2009. SANTOS, F. H. S. Resíduos de origem eletrônica. Rio de Janeiro: CETEM/ MCT, 2010. SOARES, E. L. S. F. Estudo da Caracterização Gravimétrica e Poder Calorífico dos Resíduos Sólidos Urbanos. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE, 2011. SOUZA, M. Breve História da Amazônia. São Paulo: Marco Zero, 1993 Sites http://www.abal.org.br/ http://citrus.uspnet.usp.br/fau/deptecnologia/docs/bancovidros/histvidro.htm http://www.lixo.com.br/ http://www.plastico.com.br/ http://www.recicloteca.org.br/ 25