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Processos Avaliativos no Ensino Superior Unidade 2 – Avaliação Diagnóstica e Autoavaliação Professora: Danielle Fabiana Cucolo Nagliate Realização: Secretaria Geral de Educação a Distância da Universidade Federal de São Carlos 1. Conceitos e práticas. A avaliação é parte integrante do processo de mediação pedagógica do professor e, além da dimensão cognitiva, envolve, também, aspectos afetivos e expressivos relacionados à emissão de julgamento de valor para a tomada de decisão. Esta afetividade não corresponde apenas ao contato físico, mas requer atenção às dificuldades e potencialidades do aluno, confiança nas capacidades deste e preocupação em adequar as atividades às suas possibilidades(1). Esta percepção ampliada do docente parece contribuir para o processo de ensino e, especialmente, para a avaliação da aprendizagem no sentido de torná-la mais democrática, emancipadora e transformadora da práxis contrapondo os instrumentos autoritários, disciplinadores e produtores de preconceito e exclusão. Em análise sobre as ações avaliativas, pesquisadoras(1) ressaltam que “o processo de avaliação da aprendizagem em sala de aula é um dos principais fatores determinantes da qualidade dos vínculos que se estabelecerão entre o sujeito e os objetos do conhecimento”, entretanto, identificam efeitos deletérios de práticas autoritárias na vida de estudantes do ensino médio e pré-vestibular. De acordo com as manifestações dos alunos, dentre os resultados adversos, estão: memorização sem sentido; medo e ansiedade; sentimento de incapacidade, revolta e punição; desmotivação para estudar; frustração, exclusão e preconceito. Em contraste, professores de licenciatura, indicados por alunos como bons avaliadores, também foram interrogados e, de acordo com os relatos(2), as ações positivas estão pautadas na humildade e no respeito, com valorização de atitudes críticas, bem como na preocupação com a qualidade do ensino ao invés da quantidade de conteúdos e, substancialmente, na avaliação da aprendizagem voltada para a formação do cidadão, para além do desenvolvimento profissional. A aproximação desses dois estudos - um trazendo a percepção negativa de estudantes “pré- universitários” e, por outro lado, as experiências de docentes reconhecidos como bons avaliadores por estudantes do ensino superior - incita vários questionamentos, dentre eles: i) o vínculo entre professor e aluno difere nos diferentes níveis de ensino?; ii) qual o impacto dos eventos adversos na vida pessoal, acadêmica e profissional de um aluno?; iii) quanto investimento é necessário para desenvolver bons avaliadores?; iv) quanto tempo levará para a lógica de a reprodutibilidade ser superada pelo mecanismo de reconstrução da história? e, v) por onde começar o desatar o nó deste novelo? As marcas do conservadorismo social e do paradigma tradicional de ensino renderam e, ainda, renderão frutos “saudáveis e outros feridos”. E, por isso, é preciso provocar educadores para se engajarem com mais afinco na redefinição da prática pedagógica e de novos modelos de avaliação. Neste sentido, destacam a avaliação diagnóstica como uma estratégia viável em favor do desenvolvimento do aluno a partir da reflexão e da tomada de decisão docente sobre as adequações necessárias às condições de ensino(1). Como uma ferramenta relacional e, portanto, que pondera essa interação afetiva entre professor e aluno desde o primeiro contato, a avaliação diagnóstica pode assumir uma função desbravadora. Deve ser desenvolvida no início de uma atividade para verificar se existem alunos que já possuem determinado conhecimento e habilidades previstas e, dessa forma, possibilita conhecer a situação de aprendizagem subsidiando a condução do processo educativo(3). De forma geral, muitos professores reconhecem as contribuições e necessidades de cada aluno ou grupo de alunos antes de iniciarem uma atividade, porém não se apropriam dessa ação como um mecanismo de avaliação e, tantas vezes, não sistematizam intervenções específicas para determinado aluno ou grupo redirecionando os temas e/ou estratégias propostas para atender essas necessidades. O tom sensível e humano parece perder espaço para a objetividade e a racionalidade conteudista. Já se sabe que esta concepção mais flexível e permeável de ensino depende da experiência pessoal e profissional do professor, das oportunidades que teve de refletir sobre tais questões, e dos valores e concepções que possui sobre o ensino e a aprendizagem. Portanto, um segundo caminho para mudar a lógica reprodutivista, provavelmente, possa se apoiar na autoavaliação. A autoavaliação compreende um recurso reflexivo que auxilia na reformulação de conceitos e aperfeiçoamento das práticas e, portanto, deve ser incorporada como técnica permanente dos docentes/avaliadores(2). Esta estratégia de ensino também se aplica aos alunos. Quando o aluno se autoavalia desenvolve maior autonomia e corresponsabilidade pelo seu desempenho no ensino. Nesse momento o aluno faz reflexões sobre suas necessidades individuais de aprendizagem, suas contribuições pessoais e coletivas e, portanto, possibilita elaborar, aperfeiçoar ou modificar o plano e as ações de aprendizagem(4). Além disso, é um dispositivo importante para os alunos refletirem e apontarem mudanças necessárias na disciplina, no método ou mesmo na atuação docente na tentativa de aprimorar o processo educativo(2). No entanto, esta prática avaliativa ainda não é amplamente utilizada. Uma das razões consiste na falta de confiança entre docentes e alunos para essa transição, uma vez que estão adaptados à avaliação centrada no professor e, ainda, distantes da avaliação centrada no aluno(4). Outro motivo, talvez, seja justificado pela falta de tempo do docente diante da quantidade de conteúdos a serem ministrados ou, ainda, o número elevado de alunos sob a responsabilidade de um único professor, o que dificultaria esse processo mais individualizado e inclusivo, entre outros. Mesmo diante de resistências e dificuldades, alguns professores saltam obstáculos e avançam. Estudos(5-6) evidenciam uma aproximação dessa perspectiva adotando o portfólio reflexivo como instrumento de autoavaliação da aprendizagem, produzido e (re)elaborado continuamente durante o cursar da disciplina, capaz de estimular o pensamento crítico e criativo do aluno, além de assegurar ao professor e ao educando uma maior compreensão entre o que foi ensinado e apreendido. Ademais, tanto na avaliação diagnóstica quanto na autoavaliação podem ser utilizadas perguntas especulativas (vivências e/ou expectativas dos alunos) que estimulem a reflexão crítica e sejam norteadoras do processo frente aos critérios de verificação adotados(7). Os desafios apresentados a seguir também instrumentalizam os docentes nessa caminhada. 2. Principais desafios. • Manter uma postura afetiva entre professor e aluno não significa adotar uma relação paternalista, permissiva e que, de certa forma, se torna pouco comprometida; • Assumir uma educação mais democrática e inclusiva exige, em muitos casos, (re)aprender a se posicionar diante do aluno iniciando pela ruptura da posição hierárquica e que coloca o professor como detentor de todo o conhecimento; • A mediação do processo de ensino e de aprendizagem é um exercício à docência na perspectiva da educação e da avaliação diagnóstica e emancipadora; • As avaliações devem instrumentar, portanto, o professor na revisão ou remodelagem das estratégias propostas sem perder de vista a centralidade necessária no aluno(7); • Para que se estabeleça um processo avaliativo qualificado é necessário firmar pactos de trabalho entre docente e alunos (7); • A devolutiva ao aluno em relação à sua avaliação retroalimenta todo o processo de ensino e de aprendizagem e reforça o vínculo necessário entre professore aluno no desenvolvimento do conhecimento e na formação como cidadão. 3. Considerações finais. Avaliar requer reflexão, mas antes disso existe um contexto onde se estabelecem as relações humanas. Essas interações dinâmicas e complexas, no processo de ensino e aprendizagem, têm sido amplamente estudadas, mas ainda não são práticas sustentadas no sentido da inclusão e da construção coletiva. É, portanto, um tema relevante, atual e importante de ser acessado e difundido nas instituições de ensino pelo país. Dentre os principais aspectos, ressalta-se o julgamento, atinente aos processos avaliativos, como um ato de transformação das práticas educativas na medida em que o docente inclui o aluno como protagonista da avaliação desenvolvendo autonomia e corresponsabilidade sobre o ensino e a aprendizagem. Trata-se de um momento crucial para o estabelecimento de vínculos, análise de potencialidades/necessidades e readequação da prática. Nesse sentido, o ensino tende a ser mais prazeroso e qualificado para ambos. Assim como, ao sistematizar a avaliação diagnóstica, o docente amplia o olhar sobre as necessidades e potencialidades de cada aluno adequando as estratégias pedagógicas a fim de alcançar o objeto do conhecimento. Conceitos e práticas avaliativas (diagnóstica e autoavaliação) também foram abordadas a partir de estudos de campo sobre o tema, além dos desafios importantes para a efetivação dessas, fundamentando contribuições para a área. Contudo, não exaurem o tema ou, tampouco, abarcam todas as discussões necessárias. Referências: 1. Leite SAS, Kager s. Efeitos aversivos das práticas de avaliação da aprendizagem escolar. Ensaio: aval. Pol. Públ. Educ [Internet]. 2009 [citado 2018 mar 17] 17(62): 109-34. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ensaio/v17n62/a06v1762.pdf> DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0104- 40362009000100006. 2. Vasconcellos MMM, Oliveira CC, Berbel NAN. O professor e a boa prática avaliativa no ensino superior na perspectiva de estudantes. Interface – Comunic. Saúde Educ. [Internet]. 2006 [citado 2018 mar 17] 10(20): 443-56. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/icse/v10n20/12.pdf> DOI: https://dx.doi.org/10.1590/s1414-32832006000200012. 3. Luckesi CC. Avaliação da aprendizagem escolar: estudo e proposições. 1ª ed. São Paulo: Cortez; 2013. 4. Domingues RCL, Amaral E, Zeferino AMB. Auto-avaliação e avaliação por pares: estratégias para o desenvolvimento profissional do médico. Rev. Bras. Educ. Med. [Internet]. 2007 [citado 2018 mar 16] 31(2):173-175. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/rbem/a/4xLvFM9SLB8GL6DdwgNM4yc/abstract/?lang=ptt> DOI: http://dx.doi.org/10.1590/s0100-55022007000200008. 5. Vieira VMO. Portfólio: uma proposta de avaliação como reconstrução do processo de aprendizagem. Psicologia Escolar e Educacional [Internet]. 2002 [citado 2018 mar 25] 6(2): 149-153. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/pee/a/9TFSpL6r85RKPcXy7qKN5dD/abstract/?lang=pt>. 6. Silva RF, Sá-Chaves I. Reflexive formation: teachers’ representations about the use of reflexive portfolio in the forming of medical doctors and nurses. Interface – Comunic. Saúde Educ. [Internet]. 2008 [citado 2018 abr 13] 12(27):721-34. Disponível em: <https://www.scielosp.org/pdf/icse/2008.v12n27/721-734>. 7. Bianchi P. Coleção educação e tecnologia. Curso de especialização: avaliação em processos de aprendizagem na EaD. São Carlos: Editora Pixel; 2016 [citado 2018 abr 13]. O trabalho Processos Avaliativos no Ensino Superior: Avaliação Diagnóstica e Autoavaliação de Danielle Fabiana Cucolo Nagliate está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-Compartilha Igual 4.0 Internacional. http://www.scielo.br/pdf/ensaio/v17n62/a06v1762.pdf http://dx.doi.org/10.1590/S0104-40362009000100006 http://dx.doi.org/10.1590/S0104-40362009000100006 http://www.scielo.br/pdf/icse/v10n20/12.pdf https://dx.doi.org/10.1590/S1414-32832006000200012 https://www.scielo.br/j/rbem/a/4xLvFM9SLB8GL6DdwgNM4yc/abstract/?lang=pt https://www.scielo.br/j/pee/a/9TFSpL6r85RKPcXy7qKN5dD/abstract/?lang=pt https://www.scielosp.org/pdf/icse/2008.v12n27/721-734 http://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0/ http://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0/