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PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO introdução Psicologia = psychè (sopro de vida/alma); logos (ciência/estudo) Ciência que estuda o comportamento humano, a partir da análise de fatores condicionantes (circunstanciais) e determinantes (de natureza biológica e histórica) a fim de predizer, controlar, prevenir e intervir Desenvolveu métodos para alcançar tais objetivos baseados no discurso e prática científicas de diferentes áreas em distintos momentos históricos (paradigmas) A formação do psicólogo habilita atuar em diversos contextos – clínica/ambulatorial, hospitalar, escolar, organizações, trabalho – e sobre temas específicos – saúde mental, relacionamentos interpessoais e grupos, recursos humanos, cognição, reabilitação, educação. A constituição da ciência psicológica Fase pré-científica/filosófica (séc. VI a. C. a 1879): Idade Antiga – Fase Cosmológica (Monismo/atomismo) - Thales de Mileto (água). - Pitágoras (conceitos matemáticos são imutáveis -> Pedagogia dogmática ‘magister dixit’). -Anaxágoras (Magma continha sementes, separadas e ordenadas em tudo o que existe). Demócrito (o universo composto por átomos indivisíveis). Parmênides (Imutabilidade do ser) x Heráclito (fogo). Tó thaumázein (Platão) Via Láctea Olavo Bilac "Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!" e eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto... E conversamos toda a noite, enquanto A Via-Láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. Direis agora: "tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?" E eu vos direi: "amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas". https://www.letras.mus.br/olavo-bilac/ Canto noturno de um pastor errante da Ásia, de Giacomo Leopardi [...] Mas tu, sozinha, eterna peregrina, Que tão pensativa és, talvez entendas Este viver terreno, O sofrer nosso, o suspirar, que seja; [...] Amiúde, ao te ver Muda assim sobre campos que, desertos, Lá na distância com o céu confinam; Ou então a viajar Comigo e meu rebanho tão de perto; E quando olho a amplidão, de estrelas cheia, Penso e digo comigo: Por que tanta candeia? Por que estes ares infinitos, este Infinito profundo, sereno, esta Imensa solidão? E eu, que sou eu? [...] Fase Antropocêntrica – Sofistas "Como conhecemos" é uma das primeiras e centrais questões desse período. Em seguida, questiona-se "como é possível conhecer?”. A preocupação de ordem epistemológica, com o tempo, se transforma em psicológica. Os primeiros pensadores a se ocupar com essas questões foram os sofistas - professores ambulantes que percorriam as cidades, ensinando ciências e artes aos jovens, com finalidade prática. Tentavam substituir a educação tradicional que visava formar guerreiros e atletas por uma educação direcionada à formação do cidadão. Daí ter sido uma tarefa revolucionária, pois ensinava o cidadão a exercer uma função crítica. A eloquência e a destreza para dissertar e convencer as massas levaram ao novo tipo de mestre, cuja função não se esgota na retórica, ou seja, a arte de bem falar, mas se estende à busca de conclusões racionalmente aceitas. Sócrates (436-336 a.C.) Atenas, Grécia O conhecimento do meio que nos cerca é imperfeito porque nos vem através dos sentidos, via imperfeita, sujeita a ilusões. Um único tipo de conhecimento pode ser obtido: o do próprio eu. Este é o único conhecimento necessário, pois permite ao ser humano levar uma vida virtuosa. (Razão x Instintos) “Conhece-te a ti mesmo" é seu princípio e método filosófico (introspecção). Para Sócrates, o fim da filosofia é a educação moral do ser humano. O reto conhecimento das coisas o leva a viver de acordo com os preceitos morais, pois quem sabe o que é bom também o pratica. Dessa forma, o sábio não erra. A maldade resulta da ignorância, enquanto a virtude, do saber, sendo que a virtude é a própria felicidade. A filosofia e a psicologia socráticas estão intimamente relacionadas à ética. A pedagogia de Sócrates consiste na parturição de ideias – maiêutica - diálogo voltado à descoberta da verdadeira essência das coisas. O seu procedimento didático parte do princípio "sei que nada sei". Em outras palavras, a sua sabedoria consiste em ter consciência da própria ignorância. Ter consciência que não se sabe é o ponto de partida da ciência e do conhecimento. Platão (427-347 a.C.) Acreditava que o conhecimento que nos vem dos sentidos é imperfeito e acrescenta a esse conceito a existência de um reino das ideias que é o permanente e o perfeito, o qual existe fora do homem e é independente dele. Embora essas ideias pertencessem a um outro mundo, seriam inatas no homem. A alma (localizada na cabeça, sede da razão)antes de se encarnar contemplou o mundo das ideias. Ao unir-se ao corpo pela medula, porém, esqueceu-se delas, pois o corpo é um obstáculo ao conhecimento. A experiência, então, deve trazê-las de volta à consciência através da educação. Conhecer seria, assim, um processo de lembrar o que está dentro e não de apreender o que está de fora. O mundo material é uma cópia imperfeita do mundo ideal. Tudo o que é real se encontra em constante mutação. Só o mundo das ideias é perfeito, imutável e eterno. Há um mundo imaterial que seria a mente e o material, o corpo. A alma seria imortal, mas, unida ao corpo e teria três partes: uma sensual, ligada às necessidades corpóreas; outra ligada aos afetos, impulsos e emoções, e a terceira, a racional, que inclui a inteligência e a vontade livre. Essa divisão seria o que mais tarde foi chamada de faculdades da alma. Mito da Caverna Aristóteles (384-322 a.C.) A criança, ao nascer, não traz nenhuma bagagem de conhecimento. Vem como um “papel em branco” – no qual nada foi escrito: uma "tabula rasa". É através da experiência que adquire conhecimento, pois, nada há na inteligência que não tenha passado pelos sentidos. Os primeiros degraus na escala da aquisição do conhecimento, são: os órgãos dos sentidos e as sensações. Os órgãos dos sentidos, quando estimulados, provocam reações, impressões, por exemplo, de bem-estar, de mal-estar, gustativas, visuais, térmicas, etc. Essas impressões são o que se denomina de sensações. As sensações seriam, assim, os elementos mais simples e primitivos do conhecimento. Ideia bem desenvolvida na Idade Moderna por John Locke, David Hume e Thomas Hobbes, é denominada de empirismo inglês em oposição ao nativismo platônico. De seu mestre, Aristóteles retomou e ultrapassou o dualismo, mente x corpo. Para ele, mente e corpo são indivisíveis como forma e matéria. A matéria seria a forma potencial, enquanto o objeto é a forma atualizada (o mármore é a matéria para a estátua). Santo Agostinho (354-430 d.C.), Tagasta - Argélia, África Cisão entre alma e corpo – alma imortal, sede do pensamento Confissões (primeira autobiografia a inspirar a criação da clínica psicológica) No estudo sobre o tempo, S. Agostinho distingue a presença do passado, presente e futuro. A presença do passado é coberta pela memória; a presença do presente é a própria percepção; a presença do futuro é a prospecção. Estuda o hábito, dizendo que é uma forma inferior de memória e tem base física, enquanto a verdadeira memória é essencialmente espiritual. No estudo da memória trata do esquecimento, definindo-o como a "presença de uma ausência". A Escolástica A escola que marcou a época foi a Escolástica, em que a grande figura foi Santo Tomás de Aquino (1224-1274), Castelo de Roccaseca - Nápoles - Itália, chamado o doutor angélico. Retoma, na Idade Media, as ideias de Aristóteles, diferença entre essência e existência e trata da potência e do ato. A realidade concreta se organiza numasequência tal que seria impossível dizer onde é pura matéria ou pura forma. O objetivo da matéria é adquirir forma. A forma final deve ser o alvo de toda a natureza (filosofia da essência). O nível mais alto seria a forma pura e, o mais baixo, a matéria. Apenas o Ser Supremo seria forma pura, forma imaterial. No ser humano, a forma é identificada como atividade, uma atividade específica e pensante. É essa forma que cria o homem, dando-lhe uma forma original. A ação educativa deve atuar, tendo em vista a forma humana que se pretende alcançar, buscando a sua essência. A educação deve ultrapassar a matéria que o homem tem à sua disposição. E por isso que a concepção aristotélica constitui um dos fundamentos da pedagogia da essência. Aristóteles admitia que a alma era imortal, era uma espécie de intelecto ativo, imaterial. Ponto de vista que se tornou o centro de interesse dos teólogos da Idade Média. A alma, nesse sentido, era aquilo por que se vive, pensa e percebe, "causa e princípio do corpo vivo." Santo Tomás de Aquino Estrutura da personalidade (S. Tomás) Alma é a forma substancial do corpo. Várias afecções do corpo residem na alma e vice-versa Potências – inteligência (raciocínio - verdade) e vontade (motivação) Sentidos internos Sentidos externos O epicentro do ser humano é a inteligência que integra todas as potências e estruturas anímico-corporais/psico-físicas – capacidade de entrar na relação entre as coisas – há muitas inteligências (técnica, ciência, sabedoria, prudência) Por características de disposição do organismo, uma pessoa pode ser mais hábil a um tipo de inteligência Difere de inteligência como capacidade de solução de problemas – inteligência múltiplas de Gardner Estrutura do Eu Conjunto de evidências originárias •Nasce da integração Eu- Outro (Emmanuel Levinàs) Feixe de exigências elementares •Falta/vazio; tristeza/tédio •Desejo – infinito •Justiça, verdade, liberdade, beleza, amar e ser amado... Renascimento Estruturalismo Leipzig Alemanha, 1879 – Wilhelm Wundt – primeira investigação sobre o tempo de reação. Velocidade com que os indivíduos respondem a estímulos do ambiente e realizam as atividades solicitadas, considerando a complexidade das atividades mentais e o tempo entre compreensão e execução. Introspecção – é o exame sistemático das experiências mentais subjetivas que requer que as pessoas inspecionem e relatem o conteúdo dos seus próprios pensamentos. Através desta experiência seria possível identificar todos os elementos básicos da experiência até catalogar os elementos constitutivos da consciência e subsidiar o conhecimento da psicologia. A experiência consciente pode ser subdividida em seus componentes subjacentes básicos. Duas problemáticas levaram ao abandono da instrospecção 1: o sistema sensorial perceptivo difere entre os indivíduos, é subjetivo. 2: Há uma diferença entre a experiência em si e o relato sobre o que é experimentado. Embora o método da instrospecção não seja confiável, esses esforços foram válidos para compor a ciência psicológica. Associacionismo – Edward Thorndike Relação entre punição e reforçamento: lei do efeito Para entender a psicologia humana, é necessário estudar a aprendizagem dos animais não humanos. Caixa experimental com porta que se abria após o gato apertar a alavanca – por acidente o gato aperta a alavanca e consegue se alimentar. Da segunda vez, o tempo é bem menor e assim por diante. Thorndike conclui que o gato que se pressionar a alavanca, a porta se abre e recebe o alimento como reforçador. O reforçador tende a aumentar a tendência a que o comportamento volte a acontecer Funcionalismo – William James A consciência não pode ser separada em elementos, pois é bem mais complexa do que seus elementos isolados. Ela resulta de elementos flutuantes e cambiantes, e por seu dinamismo não é possível tornar a consciência estática no tempo, ou seja, paralisar a consciência para que seja estudada. Como a mente opera, como se apresenta nos diferentes ambientes? Funcionalismo é a abordagem que se preocupa com o propósito adaptativo da mente. Inspirado em Darwin, entende que as alterações da consciência ao ambiente exigem adaptação. As mudanças funcionais ao longo do tempo possibilitam a sobrevivência no tempo da evolução. Os animais que conseguem fazer adaptações lidam melhor com o ambiente e sobrevivem. Os problemas vividos por nossos ancestrais promoveram adaptações no cérebro e no comportamento. Preocupa-se também com as adaptações para lidar com a cultura e quais são as funções adaptativas do ser humano. Ciência psicológica É o estudo científico da mente, do cérebro e do comportamento. Cada conceito possui definições específicas e relação fundamental entre eles Mente – são todas as atividades mentais como percepções dadas pelo sentidos e sensações até atividades complexas como pensamento, memoria, sentimento resultado de processos biológicos que acontecem no cérebro Comportamento – todas as ações observáveis realizadas por uma pessoa. O conhecimento científico é dado por uma pesquisa científica comprovada por evidências e raciocínio lógico. A ciência psicológica exige certo tom de ceticismo. Evidência bem sustentada é essencial para dados complexos