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Hematologia Clínica Hematologia Clínica P ro f ª D r ª S u e l e n C r i s t i n a d e L i m a DOENÇAS LINFOPROLIFERATIVAS CRÔNICAS Unidade III Objetivos de aprendizagem ▪ Definir e caracterizar as principais doenças linfoproliferativas crônicas; ▪ Reconhecer os aspectos clínicos das leucemias linfocíticas crônicas; ▪ Reconhecer a classificação das leucemias linfocíticas crônicas; ▪ Entender os critérios de diagnóstico laboratorial das doenças linfoproliferativas; ▪ Conhecer os métodos diagnósticos dos linfomas de Hodgkin e não Hodgkin; ▪ Compreender as características clínicas e laboratoriais do mieloma múltiplo. Leucemias linfoides crônicas As neoplasias hematológicas são proliferações clonais, originadas de uma linhagem celular pluripotente e que sofreram mutações na sequência de DNA, rearranjos cromossômicos e/ou inibição dos mecanismos fisiológicos de proliferação. Essas células alteradas substituem progressivamente as células normais e se infiltram na maioria dos tecidos. Leucemias linfoides crônicas De modo geral, as leucemias são classificadas quanto à sua cronicidade, em leucemias agudas e crônicas, que, por sua vez, se subdividem de acordo com a origem do clone, em linfoide ou mieloide. Leucemias linfoides crônicas As leucemias crônicas apresentam uma progressão mais lenta, permitindo o crescimento de um maior número de células, uma vez que a sua capacidade de maturação não é afetada. Sendo assim, as leucemias crônicas são caracterizadas pela presença de blastos e células com diferentes graus de maturação no sangue periférico. Leucemias linfoides crônicas Existem várias neoplasias hematológicas que estão incluídas no grupo das leucemias linfoides crônicas, cuja principal característica é o acúmulo de linfócitos maduros no sangue de tipo celular B ou T. De modo geral, essas neoplasias apresentam linfocitose crônica persistente como uma característica em comum, porém elas se diferem pela morfologia celular, pelo imunofenótipo e pelas análises citogenéticas. Leucemias linfoides crônicas O Quadro 1 mostra a classificação das leucemias linfoides crônicas: Leucemia linfocítica crônica A leucemia linfocítica crônica (LLC) é a principal e mais comum das leucemias linfoides crônicas, cuja maior incidência ocorre entre 60 e 80 anos, predominantemente no sexo masculino. É importante entender que esse tipo de leucemia não está associado à radiação ionizante, substâncias químicas, drogas e infecções. Leucemia linfocítica crônica Neste caso, as células neoplásicas são pequenas células B com aspecto maduro, que expressam antígenos específicos, como o CD5, CD19 e CD23. Morfologicamente, os linfócitos B pequenos encontrados no sangue periférico apresentam alta relação núcleo-citoplasma, cromatina condensada em blocos ou em mosaico, membrana nuclear regular, nucléolo ausente e citoplasma escasso e pálido. Leucemia linfocítica crônica A LLC pode ser classificada de acordo com os aspectos morfológicos dos linfócitos em: • LLC comum: predomínio de linfócitos maduros pequenos; • LLC mista: proporção variável de linfócitos atípicos e menores que 10% de pró-linfócitos; • LLC com transformação pró-linfocítica: pró-linfócitos maiores que 10% e menores que 55%; • LLC pró-linfocítica: pró-linfócitos maiores que 55%. Leucemia linfocítica crônica A Figura 1 apresenta um esfregaço sanguíneo da LLC, composta por uma população de linfócitos pequenos e maduros, com borda delgada de citoplasma, arredondados, com cromatina nuclear grosseira e raros nucléolos. Leucemia linfocítica crônica Além disso, também é possível observar a presença de células esmagadas típicas (células em cesto ou restos nucleares, também chamadas de manchas nucleares de Grumprecht), que indicam uma fragilidade dessas células, que acabam se rompendo durante o processo de confecção da lâmina. A LLC também é caracterizada por outros achados laboratoriais que auxiliam no seu diagnóstico, tais como: • Linfocitose crônica relativa (acima de 70% de linfócitos maduros) e absoluta (acima de 5000 linfócitos//μL); • Leucometria: 25.000 e 100.000 leucócitos//μL, podendo chegar a valores superiores a 300.000 leucócitos//μL; • Trombocitopenia, mas também podem ser encontrados contagens normais de plaquetas e trombocitose (mais raro); • Anemia normocítica e normocrômica, com grau de variabilidade; • Medula óssea com hiperplasia da linhagem linfoide, com o percentual de linfócitos acima de 30% entre as células nucleadas; Leucemia linfocítica crônica • Citogenética e genética molecular: as alterações cromossômicas mais frequentes são deleção de 13q14 (mais encontrada e de prognóstico mais favorável), trissomia 12 (risco intermediário), deleções 11q23 e 17p (prognóstico desfavorável). É importante destacar que a deleção no braço longo do cromossomo 13 está relacionada com a resistência à apoptose dos linfócitos acometidos. Leucemia linfocítica crônica O diagnóstico da LLC também pode ser confirmado com a detecção de um imunofenótipo característico na citometria de fluxo do sangue periférico. As células da LLC são tipicamente positivas para CD5, CD19 e CD23 e fracamente positivas para CD20, enquanto são negativas para CD10, ciclina D1 e CD103. Os crité rios de diagnóstico da leucemia linfocítica crônica estão descritos no Quadro 2: Leucemia linfocítica crônica Leucemia linfocítica crônica O estadiamento clínico é útil para determinar a extensão da doença e para a escolha do tratamento, podendo ser realizado pelos sistemas de classificação de Binet ou Rai- Sawitski, conforme mostra o Quadro 3: Leucemia linfocítica crônica De modo geral, os casos iniciais de LLC são assintomáticos, sendo que o diagnóstico é feito por meio de um hemograma de rotina. No entanto, os pacientes com LLC acabam desenvolvendo linfonodomegalias (aumento simétrico de linfonodos cervicais, axilares ou inguinais), hepatomegalia e esplenomegalia. Além disso, pode haver sinais e sintomas de anemia, e pacientes com trompocitopenia podem apresentar manifestações púrpuras. Leucemia prolinfocítica A transformação para leucemia prolinfocítica (LPL) pode ocorrer tardiamente em cerca de 10% dos pacientes com leucemia linfocítica crônica. Desse modo, na fase inicial, a leucemia prolinfocítica é semelhante à leucemia linfocítica crônica, mas seu diagnóstico é realizado por meio do predomínio de prolinfócitos no sangue periférico. As principais características da LPL incluem a esplenomegalia (sem linfadenopatias) e a contagem elevada de linfócitos. Leucemia prolinfocítica As leucemias prolinfocíticas são classificadas de acordo com o tipo de linfócito afetado: • Leucemia prolinfocítica de células B (B-LPL): é um tipo de leucemia mais rara, cuja principal característica é o predomínio de linfócitos grandes, geralmente CD5- , com núcleo jovem e nucléolo bem evidente. A progressão é rápida, com esplenomegalia acentuada e má resposta à quimioterapia; • Leucemia prolinfocítica de células T (T-LPL): predomínio de linfócitos de tamanho médio com ou sem nucléolos parentes. As células são geralmente CD4+ . Os pacientes podem apresentar lesões cutâneas e efusões nas serosas. Leucemia prolinfocítica A Figura 2 mostra um esfregaço de sangue periférico de um paciente com leucemia prolinfocítica, em que é possível observar prolinfócitos com nucléolo central proeminente e citoplasma abundante e pálido: Os pacientes com LPL apresentam hepatomegalia, adenomegalia, envolvimento do sistema nervoso central, ascite e derrame pleural (HAMERSCHLAK, 2010). Além disso, a anemia é sinal de mau prognóstico. Leucemia de células pilosas A leucemia de células pilosas (LCP), também denominada de leucemia de células cabeludas (hairy cell) ou tricoleucemia, é uma variante de leucemia de células B. Esse tipo de leucemia é caracterizado pelapresença de células com projeções citoplasmáticas e infiltração difusa de medula óssea e baço. Leucemia de células pilosas O diagnóstico da LCP é confirmado por meio da avaliação morfológica do sangue periférico e da medula óssea. Os principais achados laboratoriais são: • Pancitopenia e monocitopenia acentuada; • Anemia normocítica; • Contagem de leucócitos raramente superior a 20.000/μL, com neutropenia; • Trombocitopenia moderada; Leucemia de células pilosas • As células da LCP são linfócitos B grandes e com evidentes projeções ou franjas citoplasmáticas. O núcleo pode ser redondo, oval, em formato de halteres ou bilobulado; • Medula óssea é hipercelular, com infiltração difusa e aspecto de fibrose (leve a moderada). Vale ressaltar que essa fibrose dificulta a obtenção do aspirado medular; • Imunogenotipagem positiva para CD11c, CD25, CD22, FMC7 e CD103; • Imunofenotipagem negativa para CD5, CD10 e CD23. Leucemia de células pilosas A Figura 3 mostra um esfregaço de sague periférico na leucemia de células pilosas, cujos linfócitos apresentam citoplasma abundante com margens irregulares e finas projeções de aspecto piloso: Leucemia de células pilosas Vale ressaltar que, inicialmente, o paciente com LCP não apresenta acha dos clínicos anormais e o diagnóstico é feito pela presença de citopenias. No entanto, as principais manifestações clínicas incluem: anemia, esplenomegalia (raramente linfoadenopatia) e infecções causadas pela neutropenia. A LCP possui uma forma variante que, embora apresente aspectos clínicos semelhantes, ela se difere pelos aspectos hematológicos, citológicos e imunofenotípicos. Leucemia de células pilosas O Quadro 4 mostra alguns aspectos que permitem a distinção entre a LCP e a sua forma variante Leucemia de células pilosas Na Figura 4, é possível evidenciar que as células neoplásicas da forma variante apresentam características citoplasmáticas semelhantes às da LPC, porém o seu nucléolo é vesicular e proeminente: Leucemia de células T do adulto e leucemia de linfócitos grandes e granulares A leucemia de linfócitos grandes e granulares (L-LGG) é caracterizada por linfocitose (entre 4000 e 20.000/μL), cujos linfócitos apresentam citoplasma abundante e grânulos azurófilos. As células envolvidas são derivadas da linhagem de linfócitos T citotóxicas ou da linhagem de linfócitos natural killer (NK). Leucemia de células T do adulto e leucemia de linfócitos grandes e granulares Morfologicamente, os linfócitos grandes e granulares possuem citoplasma abundante fracamente basófilo, grânulos azurófilos finos ou grossos e com núcleo pequeno com cromatina condensada, conforme mostra a Figura 5: Leucemia de células T do adulto e leucemia de linfócitos grandes e granulares As principais características da L-LGG incluem a presença de mutações STAT3 (50% dos casos), citopenias (principalmente neutropenia), anemia, es plenomegalia (leve a moderada) e artropatia (artrite reumatoide). A imunofenotipagem é um exame utilizado quando há dúvidas em relação ao diagnóstico, além de ser útil para a distinção entre L-LGG de células T e célu las NK. Nos casos dos linfócitos T, há expressão de CD3, CD8, CD16 e CD57, mas não de CD4 e CD56. Em casos de linhagens NK há expressão de CD11b, CD16, CD56 e CD57 e não há expressão de CD3, CD4 e CD8. Leucemia de células T do adulto e leucemia de linfócitos grandes e granulares A leucemia/linfoma de células T no adulto (LLTA) é uma neoplasia hematológica que está relacionada a um retrovírus humano (HTLV-1, do inglês human T-cell lymphotropic vírus), que é endêmico em algumas áreas do Japão e Caribe. O vírus HTLV-1 leva a uma proliferação descontrolada de linfócitos T com fenótipo CD4+ , em vez de destruí-los. Leucemia de células T do adulto e leucemia de linfócitos grandes e granulares O hemograma caracteriza-se por linfocitose, com presença de linfócitos com morfologia alterada e núcleo convoluto com formato de folha de trevo, conforme mostra a Figura 6. A imunofenotipagem também é útil para o diagnóstico diferencial, uma vez que, em geral, o CD25 é positivo na LLTA e negativo em outras leucemias de células T maduras. Leucemia de células T do adulto e leucemia de linfócitos grandes e granulares É importante ressaltar que somente 5% das pessoas infectadas com o vírus desenvolvem a doença e, em geral, isso ocorre após um longo período de latência. O quadro clínico da LLTA envolve hipercalcemia, lesões de pele, hepatoesplenomegalia e linfonodopatias. Leucemia de células T do adulto e leucemia de linfócitos grandes e granulares As manifestações clínicas da LLTA podem ser divididas em quatro grupos: • Indolente: presença de 5% ou mais de linfócitos T anormais, ausência de linfocitose, desidrogenase lática (LDH) aumentada e envolvimento de fígado, baço, sistema nervoso central e trato gastrintestinal; • Crônica: presença de linfocitose, aumento do LDH e envolvimento linfonodal, do fígado, baço, pele e/ou pulmão; • Linfomatosa: linfadenomegalia, sem linfocitose e com 1% ou menos de linfócitos T anormais; • Aguda: forma mais agressiva, caracterizada pela presença de hipercalcemia, hepatoesplenomegalia e lesões cutâneas. Nessa condição, pode ocorrer evolução rápida para o óbito. Linfomas Os linfomas formam um grupo de neoplasias causadas por linfócitos malignos que se acumulam nos nódulos linfáticos e podem, por muitas vezes, invadir o sangue periférico e a medula óssea. Antes de conhecer os principais tipos de linfomas, vamos ver, brevemente, a estrutura dos linfonodos, que são envolvidos externamente por um tecido conectivo denso, que, por sua vez, se projeta para o seu interior formando trabéculas. Linfomas O parênquima do linfonodo é dividido em duas regiões: • Região cortical: o córtex é altamente celular e o espaço subcapsular é chamado de seios corticais. O córtex periférico é composto pelos folículos primários constituídos por linfócitos pequenos, que se proliferam e se diferenciam, formando os folículos secundários (centros germinativos). Ambos os folículos possuem linfócitos B responsáveis pela produção de imunoglobulinas. Além disso, nos centros germinativos são encontrados os centroblastos (células grandes e ativadas) e os centrócitos (células pequenas); Linfomas • Região medular: a medula apresenta menor celularidade e o espaço subcapsular é denominado de seios medulares. Essa região é formada por agregados de linfócitos dispostos em forma de cordões, onde se encontram as células plasmática. Linfomas De modo geral, os linfomas podem ocorrer em qualquer estágio da vida, mas costumam ser mais comuns em adultos, principalmente do sexo masculino. Os linfomas podem ser divididos em dois grupos principais: linfomas de Hodgkin e linfomas não Hodgkin. Linfoma de Hodgkin O linfoma de Hodgkin é uma neoplasia do sistema linfático derivada de linfócitos B, que é caracterizada pela presença de células de Hodgkin e Reed-Sternberg, que são células anormais com falta de expressão de vários antígenos associados à linhagem B. Linfoma de Hodgkin As células de Reed-Sternberg apresentam citoplasma abundante com dois ou mais núcleos e dois nucléolos grandes, conforme mostra a Figura 7. Em relação à imunofenotipagem, as células de Reed-Sternberg são positivas para CD15 e CD30, e negativas para a expressão de antígenos B, como CD19, CD20 e CD79a. Linfoma de Hodgkin A classificação histológica permite dividir os linfomas de Hodgkin em duas categorias principais: linfoma de Hodgkin de predominância linfocítica nodular e linfoma de Hodgkin clássico. Linfoma de Hodgkin O Quadro 5 mostra o sistema de estadiamento mais utilizado, que é o de Ann Harbor: Linfoma não Hodgkin Os linfomas não Hodgkin formam um grupo de neoplasias linfoides clonais bastante heterogêneo, que podem derivar tanto de proliferaçãode células B maduras (85%) quanto de células T maduras ou natural killer (15%). De modo geral, os linfomas não Hodgkin se caracterizam por um padrão de disseminação irregular e que evolui significativamente como doença extranodal. Linfoma não Hodgkin As manifestações clínicas dos linfomas não Hodgkin dependem do grau de comprometimento da medula óssea, que é o local mais comum da doença, bem como o comprometimento de outras regiões e órgãos, como, por exemplo, fígado, baço, linfonodo retroperitoneais e mesentéricos. Mieloma Múltiplo O mieloma múltiplo, também denominado de mieloma plasmocítico, é uma neoplasia hematológica (cerca de 10 a 15% dessas doenças) caracterizada pela proliferação e acúmulo de plasmócitos anormais na medula óssea e pela produção excessiva de imunoglobulinas ou cadeias leves monoclonais (proteína M ou paraproteína), que se depositam nos tecidos e provocam, principalmente, destruição óssea. Mieloma Múltiplo É importante entender que, geralmente, os pacientes com mieloma múltiplo desenvolvem essa doença a partir de uma condição pré-maligna clonal de plasmócitos secretores de imunoglobulina denominada de gamopatia monoclonal de significado indeterminado (GMSI). Aspectos clínicos De modo geral, o diagnóstico de mieloma múltiplo é realizado por meio da infiltração de plasmócitos clonais na medula óssea, da detecção e quantificação de proteína monoclonal (proteína M) no sangue e na urina, além da avaliação da presença de lesões nos órgãos-alvo (por exemplo, lesões renais). Achados laboratoriais O aspirado de medula óssea apresentado na Figura 8b mostra a presença de infiltração de plasmócitos imaturos com elevado tamanho celular, citoplasma abundante e basofílico, além da presença de nucléolos visíveis: Achados laboratoriais É muito importante diferenciar o mieloma múltiplo (sintomático) de outras duas condições, que são a gamopatia monoclonal de significado indeterminado e o mieloma assintomático (smouldering). Os principais critérios para o diagnóstico diferencial do mieloma múltiplo estão descritos no Quadro 8: Nesta unidade, foi possível estudar: PRÓXIMOS PASSOS UNIDADE IV Estudem!!! LEUCEMIAS AGUDAS E AVALIAÇÃO DA HEMOSTASIA Hematologia Clínica Bons Estudos!