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ACIDENTE DO TRABALHO À LUZ DO DIREITO PREVIDENCIÁRIO BREVE HISTÓRICO DO ACIDENTE DE TRABALHO E EVOLUÇÃO LEGISLATIVA NO BRASIL O acidente do trabalho, com o passar dos tempos, vem aprimorando suas leis de acordo com a real necessidade dos trabalhadores. Pode-se perceber que os acidentes decorrentes do trabalho vem afetando cada vez mais a vida das famílias no mundo. Com a evolução das ferramentas utilizadas para a produção cada vez maior e em maior escala dos bens de consumo para satisfação das necessidades humanas, surge à revolução industrial, com a utilização de máquinas de complexo funcionamento, o que inevitavelmente gera um grande índice de trabalhadores acidentados e a preocupação das companhias e governos de estabelecer normas de como amparar os empregados acidentados. A Alemanha no ano de 1884 foi o primeiro país a estabelecer definições quanto ao acidente do trabalho. No Brasil, em 1850, o Código Comercial Brasileiro foi o primeiro documento a tratar da matéria, com orientações gerais sobre o acidente de trabalho. Previa a manutenção por três meses consecutivos dos salários aos empregados acidentados por motivos imprevistos e inculpados conforme art. 79 deste, que dispõe: Art. 79: Os acidentes imprevistos e inculpados, que impedirem aos prepostos o exercício de suas funções, não interromperão o vencimento do seu salário, contanto que a inabilitação não exceda a 3 (três) meses contínuos. (Artigo revogado pela Lei nº10.406/02). A Lei nº 3.724 de 1919, foi a primeira a tratar sobre acidente do trabalho. Estabelece que, não havendo a necessidade de determinar o culpado pelo acidente do trabalho, que o responsável por indenizar o acidentado era sempre do empregador Art. 1º Consideram-se acidentes no trabalho, para os fins da presente lei: a) o produzido por uma causa súbita, violenta, externa e involuntária no exercício do trabalho, determinando lesões corporais ou perturbações funcionais, que constituam a causa única da morte ou perda total, ou parcial, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho: b) a moléstia contraída exclusivamente pelo exercício do trabalho, quanto este for de natureza a só por si causa-la, e desde que determine a morte do operário, ou perda total, ou parcial, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.12A Lei já previa as doenças profissionais, excluindo-se as doenças concausas. O acidente somente não ocorria nos casos de força maior, dolo do próprio acidentado ou de terceiros, mas não no caso de culpa da vítima no art. 2º da lei supra citada, que diz: Art. 2º O acidente, nas condições do artigo anterior, quando ocorrido pelo facto do trabalho ou durante este, obriga o patrão a pagar uma indenização ao operário ou à sua família. exceptuados apenas os casos de força maior ou dolo da própria vítima ou de estranhos. Apenas os empregados que exerciam atividades perigosas, desde que houvesse a utilização de motores, inclusive as agrícolas, eram amparadas pela lei. O evento deveria ser comunicado a autoridade policial, que deveria apurar o acidente de trabalho e enviar os autos ao juízo competente. As atividades comerciais eram excluídas do acidente de trabalho. O seguro era facultativo. A partir de então, surgiram leis e decretos (Decreto nº 24.637/34, Decreto-lei nº 7.036/44, Decreto-lei nº 293/67, Lei nº 5.316/67, Lei nº 6.195/74, Lei nº 6.367/76, Decreto nº 83.080/79), aperfeiçoando, melhorando e amparando os trabalhadores acidentados de diversos seguimentos. Em 24 de julho de 1991 vem ao mundo jurídico a Lei nº 8213, estabelecendo as regras para o segurado ter direito aos benefícios da Previdência Social. Com a Lei 8.213, a legislação de acidente do trabalho foi incorporada à legislação de benefícios da previdência social, não mais existindo uma lei própria para tratar o tema. A Lei 8.213/91 em seu artigo 19 com a atual redação conceitua o acidente do trabalho na seguinte forma: Art.19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço de empresa ou de empregador doméstico ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho. (BRASIL, Lei nº 8.213 de 24 de julho de 1991 – Previdência Social. SARAIVA, 2014, p.1534). Porém, complementando o conceito de acidente do trabalho, há a importância de se destacar um prévio conceito de nexo causal “O nexo de causalidade ou nexo causal constitui o elemento imaterial ou virtual da responsabilidade civil, constituindo a relação de causa e efeito entre a conduta culposa – ou o risco criado –, e o dano suportado por alguém.” (TARTUCE, 2017, p. 545), havendo, portanto, uma interligação de uma conduta com o dano causado e consequentemente sofrido. Portanto conclui-se, para que ocorra um acidente do trabalho é necessária a relação empregatícia e de forma vinculante, a existência de uma concausa, chamada de nexo de causalidade, ou seja, um fato ou ato lesivo à saúde do empregado relacionado ao trabalho, o que leva à redução ou perda total da capacidade laborativa. Incapacidade laborativa é a impossibilidade de desempenho das funções específicas de uma atividade, função ou ocupação habitualmente exercida pelo segurado, em consequência de alterações morfopsicofisiológicas provocadas por doença ou acidente. Deverá estar implicitamente incluído no conceito de incapacidade, desde que palpável e indiscutível no caso concreto, o risco para si ou para terceiros, ou o agravamento da patologia sob análise, que a permanência em atividade possa acarretar. O conceito de incapacidade deve ser analisado quanto ao grau, à duração e à profissão desempenhada. [...]. Quanto ao grau, a incapacidade laborativa pode ser: I - parcial: limita o desempenho das atribuições do cargo, sem risco de morte ou de agravamento, embora não permita atingir a meta de rendimento alcançada em condições normais; ou II - total: gera impossibilidade de desempenhar as atribuições do cargo, função ou emprego. [...]. Quanto à duração, a incapacidade laborativa pode ser: I - temporária: para a qual se pode esperar recuperação dentro de prazo previsível; ou II - indefinida: é aquela insuscetível de alteração em prazo previsível com os recursos da terapêutica e reabilitação disponíveis à época. [...]. A avaliação da incapacidade laborativa do requerente é feita pela Perícia Médica e destina-se a permitir resposta aos quesitos estabelecidos, atendidos os conceitos e os critérios legais e regulamentares. [...]. A invalidez pode ser conceituada como a incapacidade laborativa total, permanente ou com prazo indefinido, omniprofissional/multiprofissional e insuscetível de recuperação ou reabilitação profissional, em consequência de doença ou acidente. (BRASIL, Instituto Nacional do Seguro Social, 2018, p. 26-27). 1.3.1 Acidente típico O acidente do trabalho típico é o que resulta de evento repentino e violento, no qual se identificam, facilmente, o dano e o nexo causal. O acontecimento deverá ser brusco, instantâneo, traumatizante e ter relação com as condições do trabalho, ou seja, resultar do próprio exercício da atividade laboral. (AYRES, CORRÊA, 2017, p. 35). 1.3.2 Acidente de trajeto Previsto no artigo 21, inciso IV, alínea “d” da Lei 8.213/91: Art. 21. Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para efeitos desta Lei [...]- IV - o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de trabalho: [...]. d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado. (BRASIL, Lei nº 8.213 de 24 de julho de 1991 – Previdência Social. SARAIVA, 2014, p. 1534). Para caracterização do acidente de trajeto um dos fatores que se deve levar em consideraçãoé o caminho percorrido diariamente pelo empregado e o tempo normalmente gasto, sendo que qualquer alteração no percurso poderá haver a descaracterização do acidente de trajeto. Desta forma, o empregador deverá comunicar o acidente de trabalho à previdência Social – INSS através da emissão de CAT, para que o colaborador possa, em caso de afastamento, usufruir do benefício previdenciário de auxílio doença acidentário. (BOEGER, 2018, disponível em: https://bit.ly/2PzDvDT). 1.3.3 Acidente comum Por acidente comum é de se considerar todos aqueles que ocorrem corriqueiramente no ambiente trabalhista. 1.3.4 Acidente por equiparação Conforme dispõe o artigo 21 da Lei 8.213/91: Art. 21. Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para efeitos desta Lei: I – o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua recuperação; II - o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, em consequência de: a) ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro de trabalho; b) ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa relacionada ao trabalho; c) ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro ou de companheiro de trabalho; d) ato de pessoa privada do uso da razão; e) desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou decorrentes de força maior; III - a doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de sua atividade; IV - o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de https://bit.ly/2PzDvDT trabalho: a) na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa; b) na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuízo ou proporcionar proveito; c) em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando financiada por esta dentro de seus planos para melhor capacitação da mão-de-obra, independentemente do meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do segurado; d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado. § 1º Nos períodos destinados a refeição ou descanso, ou por ocasião da satisfação de outras necessidades fisiológicas, no local do trabalho ou durante este, o empregado é considerado no exercício do trabalho. § 2º Não é considerada agravação ou complicação de acidente do trabalho a lesão que, resultante de acidente de outra origem, se associe ou se superponha às consequências do anterior. (BRASIL, Lei nº 8.213 de 24 de julho de 1991 – Previdência Social. SARAIVA, 2014, p.1534 - 1535). 1.4 Conceito de doenças ocupacionais Doenças ocupacionais são as que estão diretamente relacionadas à atividade desempenhada pelo trabalhador ou às condições de trabalho às quais ele está submetido. “A Lei n. 8.213/91 equiparou a acidente do trabalho determinadas patologias (entidades mórbidas) ligadas ao exercício do trabalho. São as doenças ocupacionais, que tanto podem ser as doenças profissionais como as doenças do trabalho” (LEITÃO, 2018, p. 355). De modo que para completar, as doenças ocupacionais são entidades mórbidas, igualadas em comparação aos acidentes, devendo os devidos benefícios concedidos pela Previdência Social. 1.4.1 - Doença profissional A doença profissional está encaixada no primeiro inciso do artigo 20 da Lei 8.213/91: Art. 20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as seguintes entidades mórbidas: I - doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social. (BRASIL, Lei nº 8.213 de 24 de julho de 1991 – Previdência Social. SARAIVA, 2014, p.1534). 1.4.2 - Doença do trabalho Ademais, as doenças do trabalho estão elencadas no mencionado artigo 20 da Lei 8.213/91, porém em seu segundo inciso. Art. 20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as seguintes entidades mórbidas: [...] II - doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I. (BRASIL, Lei nº 8.213 de 24 de julho de 1991 – Previdência Social. SARAIVA, 2014, p. 1534) 1.4.3 - Doenças excluídas A própria lei previdenciária excluiu algumas doenças, elencadas presentes no artigo 20, parágrafo 1º, alíneas “a”, “b”, “c” e “d”: [...] § 1º Não são consideradas como doença do trabalho: a) a doença degenerativa; b) a inerente a grupo etário; c) a que não produza incapacidade laborativa; d) a doença endêmica adquirida por segurado habitante de região em que ela se desenvolva, salvo comprovação de que é resultante de exposição ou contato direto determinado pela natureza do trabalho. (BRASIL, Lei nº 8.213 de 24 de julho de 1991 – Previdência Social. SARAIVA, 2014, p. 1534). Procedimentos a serem adotados em caso de acidente Para todo acidente ocasionado, é necessário que haja o serviço médico imediatamente sendo formulado um prévio relatório, com sua devida comunicação interna. O ambulatório do serviço médico é onde todos os que sofrem algum tipo de ferimento devem comparecer. É onde deve ser formalizada a “Comunicação Interna de Acidente do Trabalho”. Podem-se desenvolver diversas formas de comunicação de acidente a partir do ambulatório. Um dos meios é a adoção de um formulário em três vias, que possibilita registrar informações das principais fontes envolvidas. (ZOCCHIO, 2002, p. 211-212). Após deverá ser emitido a CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho), legalmente regida pelo dispositivo 169 da CLT, pela empresa e enviado à Previdência Social conforme estabelecido no artigo 22 de sua referida lei. Ademais, com a inexistência da CAT, a formalização pode ser realizada pelo acidentado, os dependentes, o sindicato competente, o médico ou qualquer outra autoridade pública, mesmo sem a observância do prazo previsto em lei. De modo, as prestações devidas podem ser o auxílio doença, acidente e aposentadoria por invalidez. Art. 59. O auxílio-doença será devido ao segurado que, havendo cumprido, quando for o caso, o período de carência exigido nesta Lei, ficar incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de 15 (quinze) dias consecutivos. (BRASIL, Lei nº 8.213 de 24 de julho de 1991 – Previdência Social. SARAIVA, 2014, p. 1541). Art. 60. O auxílio-doença será devido ao segurado empregado a contar do décimo sexto dia do afastamento da atividade, e, no caso dos demais segurados, a contar da data do início da incapacidade e enquanto ele permanecer incapaz. [...] § 3º Durante os primeiros quinze dias consecutivos ao do afastamento da atividade por motivo de doença, incumbirá à empresa pagar ao segurado empregado o seu salário integral. § 4º A empresa que dispuser de serviço médico, próprio ou em convênio, terá a seu cargo o exame médico e o abono das faltas correspondentes ao período referido no § 3º, somente devendo encaminhar o segurado à perícia médica da Previdência Social quando a incapacidade ultrapassar 15 (quinze) dias. (BRASIL, Lei nº 8.213 de 24 de julho de 1991 – Previdência Social. SARAIVA, 2014, p. 1541). Da perícia médica previdenciária O exame médico pericial tem como finalidade a avaliação da capacidade laborativa do examinado, para fins de enquadramento na situação legal pertinente, e o motivo mais frequente é a habilitação a um benefício pretendido. Fundamentos da perícia médica no INSS: Alegações; Comprovações; Exame médico pericial; Perícia médica. Oexame deverá ser o mais detalhado possível, levando-se em observação as alegações e comprovações do segurado, pois assim poderemos avaliar a incapacidade que possa existir no exame psicofísico. O exame médico pericial deve conter a descrição das lesões apresentadas de maneira precisa, objetiva, morfológica e funcional, e objetivar a comprovação ou não das queixas do segurado, visando aos elementos que guardam relação direta com a atividade laborativa. Pesquisar na entrevista sobre o uso de medicamentos, benefícios anteriores, recursos, ações judiciais e outros de relevância para a análise pericial. No laudo da perícia médica é imprescindível considerar as seguintes informações: Diagnóstico da doença; com a fixação da data do início da doença e da data do início da incapacidade. Tipo de atividade ou profissão. Dispositivos legais pertinentes. Viabilidade de reabilitação profissional. O médico perito não tem que fazer investigação diagnóstica, nem tratamento, e, menos ainda, ajudar ou prejudicar as pessoas. Todos que veem à perícia médica do INSS alegam não poder trabalhar. Cabe-lhes comprovar estas alegações através de documentação idônea, através de um exame físico com dados positivos descritos com fidelidade e minúcia pelo perito (laudo pericial). (EPIPHANIO, VILELA, 2017, p. 248-249).