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Abordagem Clínica do Bruxismo Infantil


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ABORDAGEM CLÍNICA DOS FATORES RELACIONADOS AO BRUXISMO INFANTIL
Layana Regina Ferreira Costa[footnoteRef:1] [1: Acadêmico(a) do curso de Odontologia da Faculdade Anhanguera – Polo Teixeira de Freitas – Ba.] 
Alaina Fioravante[footnoteRef:2] [2: Orientador(a). Docente do curso de Odontologia da Faculdade Anhanguera – Polo Teixeira de Freitas – Ba.
 ] 
RESUMO
O bruxismo é caracterizado como sendo um movimento involuntário dos músculos mastigatórios, provocando atrito entre os dentes. Sua sintomatologia mais comum está associada com dores, desconforto, desgaste dos dentes, sensibilidade e zumbido nos ouvidos. Existe uma maior predisposição ao desenvolvimento do bruxismo em crianças, quando comparado com a incidência em indivíduos adultos. Este trabalho teve como objetivo geral descrever com base na literatura os aspectos da abordagem clínica dos fatores relacionados ao bruxismo na infância. A metodologia utilizada na construção do trabalho foi baseada em uma pesquisa bibliográfica realizada por meio de uma revisão de literatura, cujo levantamento de dados considerou as publicações nacionais entre os anos de 2008 a 2022, obtidas nos seguintes bancos de dados: Scientific Electronic Library Online (Scielo), Google Acadêmico, além de contar com consultas a periódicos, livros didáticos, revistas e outras fontes disponíveis relacionadas com o tema em análise. Chegou-se à conclusão de que a abordagem clínica odontológica, por parte dos profissionais de odontologia, no que se refere tanto à prevenção quanto ao tratamento do bruxismo infantil, requer do profissional uma atualização constante a respeito dos aspectos desta condição, buscando conhecer os fatores que podem estar influenciando no quadro, e objetivando minimizar os incômodos por meio do tratamento, não só das causas como também das consequências geradoras do quadro patológico.
Palavras-chave: Bruxismo infantil. Fatores. Abordagem clínica.
1 INTRODUÇÃO 
O bruxismo é um hábito parafuncional que consiste em comprimir e/ou ranger os dentes, e que pode acontecer durante o sono, se denominando, nestes casos, bruxismo do sono (BS), ou durante o dia, sendo conhecido nesta hipótese como bruxismo em vigília (BV) ou diurno. A frequência deste distúrbio é maior em crianças, provavelmente devido ao fato de as mesmas serem mais expostas a fatores geradores de ansiedade e estresse emocional.
	Especialistas sugerem que as crianças descontam suas tensões diárias no ambiente bucal por meio de hábitos parafuncionais. De acordo com a literatura especializada, o bruxismo possui uma etiologia multifatorial, podendo ter origem local, sistêmica, psicológica, hereditária, ocupacional, ligada distúrbios do sono, dentre outros. É essa etiologia diversa que faz com que seja necessário um tratamento mais amplo e bem administrado.
	Existem vários questionamentos relacionados com a escolha do melhor tratamento para o bruxismo infantil, sendo sempre necessário compreender os aspectos relacionados com a sua fisiopatologia e a realização do diagnóstico correto, realizado por profissionais capacitados, no sentido de que possa ser elaborado um plano eficaz de tratamento para estes pacientes por meio de uma abordagem clínica que leve em consideração os diversos aspectos etiológicos.
	Além disso, uma anamnese detalhada poderá oferecer informações a respeito da história dentária da criança e, juntamente com a análise de outros sinais, como o desgaste dentário, os estalos, a tonicidade dos músculos mastigatórios, e também a histórica médica e familiar é possível oferecer o melhor tratamento com base na abordagem fatores que contribuem para o surgimento ou persistência do referido problema.
Desta forma, o trabalho aqui apresentado teve como questão norteadora o seguinte questionamento: Como devem ser abordados clinicamente os fatores relacionados com o bruxismo na infância? A pertinência do questionamento se concentra no fato de que a elaboração de um material acadêmico pode trazer novas informações a respeito das características deste tipo de abordagem, discutindo um tema tão importante para a odontopediatria. A apresentação das causas que contribuem para esses quadros é também importante por demonstrar fatores relacionados com a epidemiologia, a prevalência e a fisiopatologia do bruxismo em crianças.
O objetivo geral consistiu em descrever com base na literatura os aspectos da abordagem clínica dos fatores relacionados ao bruxismo na infância. No que se refere aos objetivos específicos, consistiram em: apresentar a conceituação dos tipos de bruxismo e suas classificações, discorrer sobre a os fatores relacionados com o bruxismo na infância e identificar as características da abordagem clínica relacionada com o diagnóstico e tratamento dos casos de bruxismo infantil.
2 DESENVOLVIMENTO 
2.1 Metodologia
A metodologia utilizada para a construção do trabalho foi baseada em uma pesquisa bibliográfica realizada por meio de uma revisão de literatura, cujo levantamento de dados considerou as publicações nacionais entre os anos de 2008 a 2022, obtidas nos seguintes bancos de dados: Scientific Electronic Library Online (Scielo), Google Acadêmico, além de contar com consultas a periódicos, livros didáticos, revistas e outras fontes disponíveis relacionadas com o tema em análise. Os descritores utilizados na pesquisa foram: bruxismo infantil, fatores, abordagem clínica. Os critérios de inclusão adotados foram: artigos nacionais e internacionais publicados entre 2008 e 2022; artigos e outras publicações sobre o tema disponíveis em bancos de dados como LILACS, SciELO e Google Acadêmico. Foram excluídos aqueles que não correspondiam ao assunto abordado.
2.2 Resultados e Discussão
2.2.1 Conceito e classificações do bruxismo
O termo bruxismo se origina do vocábulo grego brychein, que significa ranger ou triturar os dentes, e da palavra mania, cujo significado é compulsão. Em 1907, passou a ser usado o termo “bruxomania” na literatura odontológica, e só posteriormente que tal nomenclatura foi substituída pelo termo “bruxismo”. Esta parafunção também é denominada briquismo, neuralgia traumática, ranger de dentes, parafunção oral e apertamento (SILVA; CANTISANO, 2009).
	Segundo Comisso;Martínez-Reina; Mayo (2014, p.22) “esse tipo de parafunção pode acometer a maior parte da população em algum momento das suas vidas”. Ocorre praticamente em todas as faixas etárias, podendo ser um hábito que persiste durante toda a vida do indivíduo, acontecendo durante a fase da dentição e até mesmo durante a utilização de próteses (MIAMOTO et al, 2011).
	Como se depreende da referência acima, não se trata de uma patologia atribuída a uma determinada faixa etária, não estando a sua incidência ligada nem mesmo a um determinado período da dentição humana. Desta forma, é possível deduzir que o bruxismo pode ter diversas causas que trazem consigo a necessidade de uma avaliação holística por parte do profissional de odontologia.
	No bruxismo, o indivíduo costuma apertar ou ranger os dentes, em uma ação involuntária e parafuncional do sistema mastigatório, capaz de produzir contrações do masseter e também de outros músculos mandibulares. Essa é uma atividade muscular repetitiva da mandíbula, que se caracteriza por esse rangimento dos doentes ou manter a mandíbula, sem tocar os dentes, em uma mesma posição, durante o sono ou vigília (LOBBEZOO et al., 2013).
	No ranger, o contato abarca movimentos de mandíbula e também sons desagradáveis. Já o apertamento, por outro lado, diz respeito a um contato silencioso e forte dos dentes que não é acompanhado por movimentos mandibulares. Como, se vê, há uma diferença clara entre as duas ações. Neste sentido, Macedo (2008) apresentou as seguintes classificações para o bruxismo:
O bruxismo diurno é uma atividade voluntária da mandíbula, de apertar os dentes enquanto a pessoa se encontra acordada, e na qual não ocorre geralmente o ranger dos dentes, relacionada a um hábito ou tique. Já o bruxismo do sono se caracteriza por ser uma atividade inconsciente de apertar ou rangerdentes, produzindo sons, durante o sono do indivíduo (MACEDO, 2008, p. 22).
	Uma pesquisa literária a respeito do consenso de bruxismo, empreendida por Lobbezoo et al. (2018), explica que o bruxismo do sono está relacionado com o sistema nervoso central, nos momentos de microdespertares que levam à taquicardia e ao movimento dos músculos da mastigação, sugerindo, desta forma, que a pessoa não necessita apresentar necessariamente o encostar dos dentes para se designar o bruxismo.
	 Os termos bruxismo do sono (BS) e bruxismo em vigília ou acordado (BA) são as denominações mais utilizadas. O bruxismo do sono se caracteriza por apertar e ranger os dentes e o bruxismo em vigília pelo apertamento dos mesmos (CASTROFLORIO et al., 2013). O bruxismo em vigília pode ocorrer de maneira isolada ou concomitantemente com o bruxismo do sono.
	O bruxismo do sono pode estar associado a fenômenos complexos de micro-escitação que acontecem durante ao sono, já o bruxismo em vigília pode estar relacionado com fatores psicológicos e sociais, além de uma série de outros sintomas psicopatológicos (MANFREDINI et al., 2015). Nota-se, portanto, que fatores de diversas ordens podem incidir diretamente nesta ação, e que devem ser observados tanto os sintomas quanto as causas dos mesmos.
	Um trabalho publicado por Lobbezoo et al em 2018, sugeriu que fosse retirada a classificação única de bruxismo, pois o bruxismo do sono e o bruxismo de vigília são considerados geralmente como sendo comportamentos distintos. O bruxismo do sono é uma atividade mastigatória muscular durante o sono, caracterizado como rítmico ou não rítmico, e não como um distúrbio do sono ou do movimento.
	Quanto ao bruxismo em vigília, em indivíduos saudáveis se trata de uma atividade muscular mastigatória que se caracteriza por contato dentário contínuo ou repetitivo da mandíbula e não um movimento ligado a uma desordem articular (CABRAL et al., 2018). Esse tipo de bruxismo está relacionado também com fatores anatômicos que podem ser investigados no sentido de promover uma melhoria na qualidade de vida dos pacientes.
	Segundo Raphael, Santiago e Lobbezoo (2016, p. 22), “o bruxismo pode ser considerado um comportamento que, em muitos casos, pode ter origem fisiológica e não necessariamente necessitar de um tratamento”. Durante a atividade mandibular parafuncional, como é o caso do bruxismo, podem ser geradas forças em excesso por períodos longos, excedendo 20 minutos de contato funcional entre os dentes, tais como a mastigação e a deglutição.
O bruxismo noturno é capaz de gerar forças oclusais, muitas vezes, significativamente maiores do que um esforço realizado conscientemente por um indivíduo durante as horas em que se encontra em vigília. Desta forma, o bruxismo é um fenômeno clínico bastante significativo, sento considerado também o mais prejudicial dentre as parafunções do sistema estomatognático, pois pode causar lesões nos dentes (FEU; CHATINO; QUINTÃO; ALMEIDA, 2013).
	É possível que o bruxismo leve ao desgaste dentário na forma de atrito, contribua para o surgimento de dores de cabeça na zona temporal, fratura de restaurações, fadiga dos músculos mastigatórios, perda de implantes dentários, agravamento de patologias periodontais, além de representar um grande risco para o aparecimento de distúrbios temporomandibulares (CASTROFLORIO et al., 2013).
Nos casos de bruxismo do sono, quando ocorrem relatos de dor ou cansaço nos músculos da face ou quando há cefaleia, esse hábito costuma cessar durante o decorrer do dia (SERRA-NEGRA et al., 2012). O bruxismo pode ainda ser classificado, de acordo com sua etiopatogenia, como primário ou secundário, tudo isso a depender dos fatores que desencadearam a parafunção.
2.2.2 Fatores relacionados ao bruxismo na infância
	O Bruxismo infantil é muitas vezes identificado por causa dos relatos dos pais que observam alguns ruídos que decorrem do ranger de dentes. No entanto, a falta de consciência a respeito da qualidade do sono das crianças, atrelada à falta de informações sobre essa patologia, são fatores que limitam o diagnóstico quando são considerados o relatórios parentais (SERRA-NEGRA et al., 2017).
	Por ter uma etiologia complexa e muitas vezes controversa, o bruxismo possui diversos fatores de riscos associados. Assim como nos adultos, os fatores relacionados ao desenvolvimento do bruxismo em crianças podem abarcar elementos sistêmicos (gástricos ou respiratórios), hereditários, emocionais e/ou associados com algum tipo de distúrbio do sono (FEU; CATHATINO; QUINTÃO; ALMEIDA, 2013). 
	Considerando que os traços de personalidade na infância estão ligados às maneiras individuais de lidar com situações diferentes, crianças com determinados traços de personalidade ligados ao estresse tendem a liberar a tensão que se acumula durante o dia através do bruxismo do sono. Assim, reações de raiva e ansiedade podem demonstrar importantes características do bruxismo do sono na infância (CASTROFLORIO et al., 2013).
	Entretanto, a ideia de que o estresse por si só seja um fator relacionado com o início ou o agravamento do bruxismo na infância vem perdendo força diante dos avanços nas pesquisas, que apontam para a existência de um envolvimento sistêmico, como: problemas gastresofágicos e obstrução das vias aéreas (MANFREDINI et al., 2015). Assim, os fatores psicológicos são levados em consideração, porém, não mais como os mais importantes nessa questão.
	Neste sentido, Sampaio et al (2018, p. 12) afirmam que “o estresse a e ansiedade podem agravar o bruxismo infantil, não sendo a sua principal causa”. Desta forma, entende-se que mesmo quando a criança apresenta sinais de ansiedade, é necessário que sejam pesquisados outros fatores como sendo possíveis causas.
	Quando o bruxismo infantil apresenta forte relação com a obstrução das vias aéreas, como em casos de rinite e sinusite, a condição surge como uma tentativa de abrir espaço aéreo, ocorrendo uma movimentação na mandíbula da criança com um ranger ou apertar inconsciente dos dentes, gerando uma pressão que objetiva melhorar a respiração (SAITO et al., 2016).
	Crianças alérgicas também podem desenvolver bruxismo, pois as mesmas tendem a dormir de boca aberta, e isso diminui a quantidade de saliva e a necessidade de deglutição, fazendo com que haja um amento na tendência de ranger os dentes durante a noite. Um estudo realizado por Marks (1980), demonstrou que existe uma incidência maior de bruxismo em crianças que sofrem de alergias respiratórias, se comparadas com crianças sem processos alérgicos.
	Quanto ao envolvimento dos fatores gástricos no desenvolvimento do bruxismo infantil, tem-se como parâmetro o estudo de Ohmure et al. (2011) que constatou um aumento do apertar e do rangido dos dentes em crianças com refluxo gastresofágico. Segundo os autores, após o líquido ácido voltar do estômago, ocorre a indução do bruxismo do sono devido à infusão ácida do conteúdo estomacal. Isso acontece, segundo os mesmos, para que ocorra uma elevação no Ph, por meio da estimulação das glândulas salivares no sentido de aumentar a salivação.
	Ainda sobre as causas do bruxismo na infância, estudo clínicos relatam que mais de 21% de crianças com bruxismo do sono tem pelo menos um membro direto da família que rangia os dentes na infância (LAVIGNE et al., 2008). No entanto, até o momento, não foi identificado nenhum marcador genético para o bruxismo, havendo apenas uma associação da sequência de DNA do receptor 5-HT 2, pertencente à família da serotonina como o bruxismo do sono e fatores ligados ao comportamento humano (ABE et al., 2011).
	De acordo com Kato et al (2013, p. 22) “crianças com bruxismo apresentam uma maior prevalência de microdespertares, e isso aumenta a atividade rítmica dos músculos de mastigação”. Distúrbios do sono em crianças estão fortemente associados como bruxismo em diversos estudos, sendo que até mesmo pesadelos em crianças podem estar relacionados alterações nos mecanismos neuropsicológicos e desencadeamento de um possível bruxismo do sono nesta fase da vida.
2.2.3Abordagem clínica odontológica 
Os resultados obtidos no tratamento do bruxismo em crianças irão depender fortemente do método diagnóstico utilizado na detecção desta condição nessa fase da vida. Além disso, é possível observar uma diminuição na prevalência desta condição com o avançar da idade. No entanto, parece existir um consenso a respeito de que o conhecimento sobre o bruxismo é baixo e, muitas vezes, subinformado (IERARDO et al., 2021).
Os protocolos diagnósticos mais comuns para o bruxismo são constituídos basicamente de: questionário sobre o histórico clínico do paciente, existência de outros hábitos parafuncionais, alterações neurológicas e/ou sistêmicas, como desgastes dentários, presença de dores na região temporomandibualar, dentre outros (SAITO et al., 2016).
Existem vários questionamentos sobre a escolha do tratamento mais eficaz para o bruxismo, porém, é necessário que haja a compreensão a respeito da sua fisiopatologia e, principalmente, a realização do diagnóstico correto, que seja realizado por profissionais capacitados, para que seja possível a elaboração de um bom tratamento, especialmente quando se trata de crianças (BEDIS et al., 2018).
	É possível também recorrer a métodos auxiliares para diagnosticar o bruxismo. Podem ser realizados alguns exames como a polissonografia (PSF), que é considerada a melhor forma de diagnóstico, já que mede a atividade eletromiográfica dos músculos mastigatórios. O diagnóstico também deve levar em conta o ruído do rangimento dentário, presente durante o período do sono em ao menos cinco noites por semana nos últimos 3 a 6 meses (GIANNASI et al, 2014).
Quanto à PSF, mesmo sendo o padrão de referência para o diagnóstico do bruxismo do sono, capaz de identificar possíveis complicações e avaliando a qualidade do sono, trata-se de uma exame de alto custo, e isso limita o seu uso de maneira considerável. Desta forma, o protocolo de avaliação clínica e questionário é bem mais utilizado rotineiramente (BULANDA et al., 2021).
	Os sinais clínicos como a redução do esmalte e da dentina com algum tipo de perda de coroa, o desgaste dentário, diagnóstico poligráfico positivo e a hipertrofia muscular masseteria são sinais clínicos que não podem ser deixados de lado para que possa se chegar ao diagnóstico mais completo possível (CARRA; HUYNH; FLEURY; LAVIGNE, 2015).
	O tratamento deve ser específico para a alteração que o paciente apresenta. Existem controvérsias entre os clínicos no que diz respeito à escolha da melhor conduta terapêutica, tendo em vista que o bruxismo apresenta uma etiologia multifatorial. Os autores que alegam que há uma tendência de diminuição quando a criança está entre os 09 e 10 anos, também sugerem somente terapias no sentido de evitar maiores danos e aliviar os sintomas, de maneira não intervencionista e observacional (LOBBEZOO et al., 2013).
	As crianças também devem ser conscientizadas a respeito desta para função e também orientadas para monitorar o bruxismo, objetivando sua interrupção. Os portadores também devem ser orientados a buscar auxílio médico caso verifiquem alterações e distúrbios do sono, alterações respiratórias, distúrbios psicológicos, dentre outros (SATO; SLAVICEK, 2012).
	Caso haja suspeita de que o bruxismo esteja associado a distúrbios respiratórios, o cirurgião dentista deve orientar os responsáveis para procurarem um médico no sentido de avaliar possíveis alterações das vias superiores e verificar se existe influência de tais fatores. Nos casos em que for constatada obstrução respiratória devido a hiperplasia da amídala, a adenotonsilectomia pode ser uma opção de tratamento. (SERRA-NEGRA et al., 2017).
	Também são opções consideras as terapias de expansão palatina com o objetivo de expandir o complexo nasomaxilar e tratar as desordens respiratórias durante o sono, já que além de corrigir a má oclusão, esse procedimento também pode aumentar o volume da cavidade nasal melhorando a respiração do paciente. Um estudo realizado com crianças bruxômanas demonstrou que 65% elas apresentaram melhoria dos sintomas respiratórios após a expansão maxilar, sugerindo que essa pode ser uma terapêutica eficaz (MANFREDINI et al., 2015).
Caso necessário, devem ser realizadas terapias psicológicas voltadas para a mudança de hábitos, tanto no que diz respeito aos pais quanto à criança, visando um estilo mais saudável de vida, para que não venha a ocorrer recidiva. Métodos de aconselhamento, hipnose, autossugestão, exercícios de relaxamento, além do uso de medicamentos miorrexalantes e placebos, também são sugeridos no tratamento psicoterápico (GIANNASI et al, 2014).
	É possível considerar também a indicação de ansiolíticos que podem induzir o relaxamento muscular. No entanto, ainda são muitas as controvérsias sobre a indicação desses medicamentos, já que os mesmos podem levar ao bruxismo secundário, e os benzodiazepínicos podem gerar sonolência, dependência e confusão mental (DIFRANCESCO et al., 2014).
	Quando a etiologia for derivada de deficiência nutricional, podem ser indicados suplementos, embora exista ainda vários questionamentos sobre a dosagem ideal. Os pacientes, principalmente as crianças, devem ser orientados para evitarem o uso de goma de mascar durante o dia, pois isso pode gerar um reflexo durante a noite (SAMPAIO et al., 2018).
	No que se refere à prevenção, também podem ser sugeridos procedimentos de boa higiene do sono, no quais as crianças devem diminuir o uso do rádio, TV, videogame, celular, ou qualquer atividade estimulante antes de dormir. Considerando e etiologia multifatorial do bruxismo, não existe nenhum tipo de tratamento específico (FEU; CATHATINO; QUINTÃO; ALMEIDA, 2013). Válido ressaltar, que mesmo não havendo especificidade no tratamento, o conhecimento das causas pode levar a excelentes resultados no tratamento, principalmente quando é feita uma anamnese correta no início da abordagem clínica.
Foi possível perceber que além das terapias farmacológicas como antidepressivos, ansiolíticos e placas oclusais, também tem sido feito uso da toxina botulínica, uma substância bastante conhecida na área de medicina estética, e que agora passou a ser utilizada na Odontologia com fins terapêuticos no controle do bruxismo (PATEL; CARDOSO; MEHTA, 2019) A substância é administrada no músculos mastigatórios de forma injetável, com o objetivos de proporcionar o relaxamento muscular e levar à diminuição dos sintomas.
	A injeção da toxina botulínica pode ser eficaz na diminuição do apertamento e do ranger dos dentes, porém, não possui nenhuma evidência científica que ateste os seu efeitos a longo prazo, principalmente em crianças. No entanto, em crianças que apresentam alterações neuromotoras, como a paralisia cerebral, o uso da toxina botunínica integra o programa de reabilitação, principalmente por causar a diminuição da espasticidade muscular apendicular (BONIFÁCIO, 2020).
	Assim, é fundamental que os pais ou responsáveis sejam esclarecidos sobre os aspectos dessa parafunção, e que seja feita uma avaliação individual de cada paciente, buscando sempre uma intervenção conservadora e reversível que possa evitar alterações prejudiciais ao desenvolvimento infantil (MACHADO; DAL-FABBRO; CUNALI; KAIZAER, 2014). Isso demonstra a importância do trabalho em conjunto entre família e profissional de odontologia para que o tratamento possa ser abrangente e eficaz.
Deste modo, pesquisa bibliográfica encontrou diversos dados referentes ao bruxismo na infância, mostrando que já existem diversas publicações que apresentam porcentagens de incidência dessa condição nesta fase da vida. Além disso, notou-se que têm sido feitos estudos longitudinais que buscam entender a extensão dos sintomas até a fase adulta.
	Autores como Castroflorio et al (2015) e Serra et al (2015) trazem diversas consequências do bruxismo, falando dos efeitos diversos e também da etiologia complexa dessa parafunção. Os mesmos trazem a questão da multifatorialidade do bruxismo e relatam que fatores, tanto físicos quanto psicológicos influenciam nestes casos.
	Autorescomo Giannasi et al (2014) falam da importância dos métodos auxiliares para diagnosticar o bruxismo. Neste sentido, vê-se que a polissonografia é tida pela literatura especializada como o melhor método de diagnóstico, pois mede a atividade dos músculos mastigatórios. Além disso, a observação dos sinais clínicos é enfatizada, principalmente no que diz respeito ao desgaste dentário e à hipertrofia do músculo masseter.
	Quanto às medidas terapêuticas destinadas ao tratamento do bruxismo na infância, autores como Junqueira et al (2012) trazem à discussão a questão da subjetividade na interpretação dos critérios de avaliação dos casos. Esses estudiosos falam da importância da realização de perguntas aos pais e/ou responsáveis e sua eficácia quando aliada aos exames médicos.
	Serra-Negra et al (2017) e Manfredini et al (2015) trazem as associações do bruxismo a distúrbios respiratórios, e falam da necessidade de que o cirurgião dentista preste as orientações nos casos em que seja preciso procurar um médio devido a possíveis alterações das vias áreas. Nestes casos, os autores falam de expansão palatina e também da correção da má oclusão como terapias a serem consideradas.
3 CONCLUSÃO 
	A apresentação do conceito de bruxismo e suas classificações demonstraram que não há um consenso no que se refere à definição objetiva desta condição. No entanto, há uma convergência no que se refere ao fato de tratar-se de uma atividade mastigatória que se caracteriza por apertar ou ranger os dentes, e também de que o bruxismo pode ocorrer durante a vigília e o sono. Assim, nota-se que em muitos aspectos relacionados com a elucidação desses casos já estão definidos pela literatura especializada.
	Quanto aos fatores relacionados com o bruxismo na infância, foi possível inferir, com base nos autores utilizados na pesquisa, que a etiologia é multifatorial e bastante ampla, podendo abarcar, desde fatores hereditários, respiratórios e gástricos, ou até mesmo estar ligada a questões emocionais e distúrbios do sono.
	No o que se refere a abordagem clínica relacionada com os casos de bruxismo na infância, entende-se que o cirurgião dentista deve avaliar os sinais clínicos do paciente e prescrever um tratamento específico par cada caso. Quanto à conduta terapêutica, o que se tem é que a etiologia multifatorial do bruxismo pode tornar o tratamento mais demorado e requerer uma atenção minuciosa e uma conscientização dos pais e das crianças para que se possa buscar a interrupção destes quadros.
Nota-se, portanto, que a abordagem clínica odontológica, por parte dos profissionais de odontologia, no que se refere tanto à prevenção quanto ao tratamento do bruxismo infantil, requer do profissional uma atualização constante a respeito dos aspectos desta condição, buscando conhecer os fatores que podem estar influenciando no quadro, e objetivando minimizar os incômodos por meio do tratamento, não só das causas como também das consequências geradoras do quadro patológico.
	Conclui-se, desta forma, que já existem muitas informações a respeito do bruxismo da infância, principalmente no que diz respeito à sua etiologia e às melhores condutas a serem tomadas pelos profissionais de odontologia nestes casos. No entanto, apesar de não esgotar este tema de tamanha relevância, o trabalho aqui apresentado pode servir como base para futuros trabalhos acadêmicos sobre o tema.
REFERÊNCIAS
ABE, Y.; et al. Association of genetic, psychological and behavioral factors with sleep bruxism in a Japanese population. Journal of Sleep Research, [s. l.], v. 21, n. 3, p. 289-296, 1 Oct. 2011.
BEDDIS, H., PEMBERTON, M., DAVIES, S. Sleep bruxism: an overview for clinicians. British Dental Journal, v. 226, n. 6, p. 498-512, 2018
BONIFÁCIO, Thalia Ariadne Fernandes. Bruxismo na infância e adolescência: revisão de literatura.Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Odontologia) - Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos, 2020.
BULANDA, ILCZUK-RYPULA, NITECKA-BUCHTA, NOWAK, BARON, POSTEK-STEFANSKA. Sleep Bruxism in Children: Etiology, Diagnosis, and Treatment—A Literature Review. International. Journal of Environmental Research and Public Health, v. 18, n. 18, p. 1- 9, 2021.
	
CABRAL, L. C.; et al. Bruxismo na infância: fatores etiológicos e possíveis fatores de risco. Faculdade de Odontologia de Lins/Unimep, São Paulo, v. 28, n.1, p.42-56, 2018.
CARRA, M. C.; HUYNH, N.; FLEURY, B.; LAVIGNE, G. Overview on Sleep Bruxism for Sleep Medicine Clinicians. Sleep Medicine Clinicians, [s. l.], v. 10, n. 4, p. 375-384, Sept. 2015.
CASTROFLORIO T, MESIN L, TARTAGLIA GM, SFORZA C, FARINA D. Use of Electromyographic and Electrocardiographic signals to Detect Sleep Bruxism Episodes in a Natural Environment. Journal of Biomedical and Health Infomatics, v, 18, n. 6, 2013.
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COMMISSO, M. S.; MARTÍNEZ-REINA, J.; MAYO, J. A study of the temporomandibular joint during bruxism. Internationa. Journal Of Oral Science, v. 2, n. 22, p. 116-246. jun. 2014.
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