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Licenciado para - G ILB E R T O V IE IR A D A C O N C E IÇ Ã O - 56198515249 - P rotegido por E duzz.com Licenciado para - G ILB E R T O V IE IR A D A C O N C E IÇ Ã O - 56198515249 - P rotegido por E duzz.com Psicopatologia: Definições e conceitos 4 Bases da psiquiatria infantil 12 Desenvolvimento Infantil 14 Desenvolvimento afetivo 15 Desenvolvimento cognitivo 15 Desenvolvimento físico 16 Desenvolvimento social 16 Fases do desenvolvimento infantil 17 Psicologia do desenvolvimento infantil 19 Transtornos de ansiedade 28 Transtornos Menores 41 Distúrbios do sono 43 Transtornos do neurodesenvolvimento 57 Transtornos específicos de aprendizagem 83 Tipos de TDAH 90 Quadros clássicos 96 Família e Doença mental 129 Transtorno oposicional desafiante e transtorno da conduta 133 Transtorno de conduta e transtorno de personalidade antissocial 136 Tratamento 139 Referências 145 Licenciado para - G ILB E R T O V IE IR A D A C O N C E IÇ Ã O - 56198515249 - P rotegido por E duzz.com Psicopatologia: Definições e conceitos A Psicopatologia pode ser compreendida como um discurso ou um saber (logos) sobre a paixão, (pathos) da mente, da alma (psiquê). Ou seja, um discurso representativo a respeito do pathos psíquico; um discurso sobre o sofrimento psíquico sobre o padecer psíquico. A psychê é alada; mas a direção que ela toma lhe é dada pelo pathos, pelas paixões. (BERLINCK, 1998 apud CECCARELLI, 2005). A expressão Psicopatologia, que deu nome ao que muitos médicos faziam, principalmente na França, na Alemanha e na Inglaterra, durante todo o século XIX, inaugurou a tradição médica que se manifesta, até hoje, nos tratados de psiquiatria e de Psicopatologia médica. O aparecimento da Psicopatologia como disciplina organizada se dá com a publicação da Psicopatologia Geral Para Jaspers a Psicopatologia é uma ciência complexa: é uma ciência natural, destinada à explicação causal dos fenômenos psíquicos mediante os recursos e teorias acerca dos nexos extra conscientes que determinam esses fenômenos; e é ciência do espírito, voltada para a descrição das vivências subjetivas, para a interpretação das suas expressões objetivas e para a compreensão de seus nexos internos e significativos. A Psicopatologia deve considerar o indivíduo globalmente atentando sempre para os padrões de normalidade onde o indivíduo a ser questionado está inserido, não se deixando guiar “cegamente” pelos sintomas. Considerar um sintoma isolado é fazer com que o objetivo principal de o entender (compreender o indivíduo) seja esquecido (FIGUEIREDO, 1989 apud MENDOZA, 2007). Barlow & Durand (2008) também salientam que a Psicopatologia é um termo ambíguo: refere-se tanto ao estudo dos estados mentais patológicos, quanto à manifestação de comportamentos e experiências que podem indicar um estado mental ou psicológico anormal. Licenciado para - G ILB E R T O V IE IR A D A C O N C E IÇ Ã O - 56198515249 - P rotegido por E duzz.com Os transtornos psiquiátricos são descritos por suas características patológicas, ou Psicopatologia, que é um ramo descritivo destes fenômenos. A Psicopatologia como o ramo da ciência que trata da natureza essencial da doença mental - suas causas, as mudanças estruturais e funcionais associadas a ela e suas formas de manifestação. A Psicopatologia, em acepção mais ampla, pode ser definida como o conjunto de conhecimentos referentes ao adoecimento mental do ser humano (CAMPBELL, 1986 apud DALGALARRONDO, 2000). Baumgart (2006 apud FERNANDES, 2008) destaca que atualmente a Psicopatologia tem dificuldade de coesão teórica devido aos muitos discursos que abarca. Percebe-se que os conhecimentos a ela relativos parecem constituir-se apenas como um aglomerado de especialidades. A Psicopatologia está ligada a diversas disciplinas: as psicologias, as psiquiatrias e ao corpo teórico psicanalítico. Dentro da Psicologia, liga-se com Psicologia Clínica (direcionada ao diagnóstico, e ao estudo da personalidade), Psicologia Geral (noções de subjetividade, intencionalidade, representação, atos voluntários etc.), e ainda Psicologia ligada às neurociências, tradições hinduístas e outros. Considerando ainda que, a Psicopatologia perpassa e dialoga com diferentes campos do conhecimento (principalmente entre a Psicologia, Psicanálise, Neurologia e Psiquiatria) faz-se imprescindível também, uma melhor definição sobre os limites inerentes a essas áreas dentro das práticas e/ou atuações psicopatológicas; tanto diante dos estados mentais patológicos, quanto frente as suas manifestações comportamentais. Inserida nesse contexto, a Psicanálise é um procedimento investigativo dos processos mentais que são quase inacessíveis por qualquer outro modo, um método (baseado nessa investigação) para o tratamento de distúrbios neuróticos, e uma coleção de informações psicológicas obtidas ao longo dessas linhas, e que gradualmente se acumulou numa "nova" disciplina científica. A Psicologia, entretanto, é a ciência que se preocupa com o comportamento humano em seus aspectos e condutas observáveis, que possam ser medidos, testados, compreendidos, controlados, descritos e preditos objetivamente. (FREUD, 1923 apud HAAR, 2008). Por um lado, a psicanálise se diferencia da psicologia por ter como seu objeto de estudo específico os fenômenos psíquicos inconscientes. Enquanto o estudo da psicologia abrange os fenômenos conscientes e inconscientes: estes são os objetos de estudos específicos da psicanálise, a qual utiliza, com essa finalidade, uma metodologia própria e específica (FREIRE, 2002). Tanto a Psiquiatria quanto a Neurologia são especialidades médicas. A Psiquiatria lida com a prevenção, atendimento, diagnóstico, tratamento e reabilitação das doenças mentais em humanos, sejam elas de cunho orgânico ou funcional. Licenciado para - G ILB E R T O V IE IR A D A C O N C E IÇ Ã O - 56198515249 - P rotegido por E duzz.com A meta principal é o alívio do sofrimento psíquico e o bem-estar psíquico. Para isso, é necessária uma avaliação completa do doente, com perspectivas biológica, psicológica, sociológica e outras áreas afins. Uma doença ou problema psíquico pode ser tratado através de medicamentos ou várias formas de psicoterapia. A Neurologia estuda e atua nas doenças estruturais, provenientes do Sistema Nervoso Central (encéfalo e medula espinal), do Sistema Nervoso Periférico (nervos e músculos) e de suas estruturas invólucros (meninges). Uma doença estrutural, portanto, refere-se à existência de uma lesão identificável em nível genético-molecular (mutação do DNA), bioquímico (alteração de substância responsável pelas reações químicas mantedoras das funções dos tecidos, órgãos ou sistemas) ou tecidual (alteração da histológica ou morfológica própria de cada tecido, órgão ou sistema). (LAMBERT & KINSLEY, 2006). Em confluência com os diversificados conceitos, através do paradoxo proposto por Lantéri-Laura (1998 apud SALLET e GATTAZ, 2002) ao considerar a Psicopatologia como um fenômeno subjetivo que tramita entre a psicologia do patológico e a patologia do psicológico – verifica-se também, arelevância da Semiologia e das suas técnicas observacionais. Nesse aspecto, Dalgalarrondo (2000) elucida a diferença entre Semiologia e Semiotécnica: O Semiologia é a ciência dos signos, estando presente em todas as atividades humanas que incluam a interação e a comunicação entre dois interlocutores pelo uso de um sistema de signos (falas, gestos, atitudes, comportamentos não verbais etc.). Dedica-se ao estudo dos sintomas e sinais das doenças, permitindo ao profissional da saúde identificar alterações físicas e mentais, ordenar os fenômenos observados, formular diagnósticos e estabelecer métodos de tratamento. A Semiotécnica, por sua vez, refere-se a técnicas e procedimentos específicos da observação, coleta e descrição de sinais e sintomas. Sendo assim, é de essencial importância para a prática da Semiotécnica em Psicopatologia, a observação minuciosa, atenta e perspicaz do comportamento do paciente, do conteúdo de seu discurso e da sua maneira de falar, da sua mímica, da postura, do vestuário, da forma como reage e do seu estilo de relacionamento com o entrevistador, com outros pacientes e com seus familiares. Dentro desse contexto mostra-se igualmente importante, a compreensão sobre Nosologia e Nosografia. Segundo Karwowski (2015) esclarece, a Nosologia (do grego 'nósos', "doença" + 'logos', "tratado", "razão explicativa") é a parte da medicina, ou o ramo da patologia que trata das enfermidades em geral e as classifica do ponto de vista explicativo (isto é, de sua etiopatogenia). Enquanto a Nosografia as ordena desde o aspecto meramente descritivo (graphos = descrição). Dessa maneira, o diagnóstico nosológico é estabelecido através de um conjunto de dados que envolvem anamnese (pesquisa), exame físico e testes complementares. Licenciado para - G ILB E R T O V IE IR A D A C O N C E IÇ Ã O - 56198515249 - P rotegido por E duzz.com Consequentemente, revela-se necessários que os pressupostos básicos da Psicopatologia sejam submetidos a indagações concernentes as suas possibilidades. Isto significa que devem ser objeto de uma ciência primeira, conforme o psicanalista francês Pierre Fédida denominou de Psicopatologia Fundamental: uma Psicopatologia Primeira, convocada a dar conta da interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade inseridas nas Psicopatologias atuais (BERLINCK, 1998 apud CECCARELLI, 2005). A noção de fundamental deve ser compreendida no sentido de uma "fundamentalidade", uma "intercientificidade dos objetos conceituais". Trata-se de um projeto de natureza intercientífica, onde a comparação epistemológica dos modelos teórico-clínicos e de seu funcionamento propicia a ampliação do limite e da operacionalidade de cada um destes modelos e, consequentemente, uma transformação destes últimos. A Psicopatologia Fundamental é o fórum de toda a metaPsicopatologia (Ibidem). De acordo com Barlow & Durand (2008) o transtorno psicológico ou comportamento anormal é uma disfunção psicológica que ocorre em um indivíduo e está associada com angústia, diminuição da capacidade adaptativa e apresenta uma resposta que não é culturalmente aceita. Jaspers (2003) enumera ainda o que deve ser entendido como enfermidade: 1. Processos somáticos; 2. Acontecimentos graves que causam ruptura com a vida até então considerada sã; 3. Desvios grandes em relação ao normal estatístico e visto como indesejados pelo afetado ou seu meio. Segundo Leonhard (1997 apud SALLET e GATTAZ, 2002) as falsificações sensoperceptivas podem ser explicadas pela simbolização das representações. Em geral há uma forma singular de perturbação do pensamento abstrato: os pacientes mantêm a crítica para os acontecimentos do dia-a-dia e mostram-se adequados, mas falham nas tarefas que exigem abstração. As alterações sensoperceptivas também são características na alteração de humor e podem abranger todas as áreas do sentido, embora prevaleçam as alucinações auditivas. Entretanto, ainda que a excitação os doentes possam xingar contra as vozes, tal como os doentes paranoides, posteriormente eles sempre demonstram um claro juízo do caráter patológico das mesmas. BRITTO (2004) acentua que as discussões sobre juízo para fins psicopatológicos são tomadas como base os juízos de realidades, principalmente pelo fato dos juízos de valores serem definidos sócio historicamente. Licenciado para - G ILB E R T O V IE IR A D A C O N C E IÇ Ã O - 56198515249 - P rotegido por E duzz.com Dessa forma, uma patologia do juízo será sempre uma alteração no juízo de realidade. Um termo traduzido da palavra alemã Wahn ou Wahsinn que se refere a uma síndrome constituída por um conjunto de ideias mórbidas que traduzem uma alteração fundamental do juízo, no qual o doente crê com uma convicção inabalável. No delírio, por exemplo, os mecanismos associativos do indivíduo desviam-se da realidade ou da lógica, podendo conduzir a juízos e raciocínios anormais, levando à produção de alucinações, percepções delirantes e ideias delirantes. Entende-se por surto psicótico um estado mental agudo caracterizado por grave desorganização psíquica e fenômenos delirantes e/ou alucinatórios, com perda do juízo crítico da realidade. A capacidade de perder a noção do que é real e do que é fantasia, criação da mente da própria pessoa, é um aspecto muito presente nos quadros agudos da esquizofrenia. A pessoa adoecida pode criar uma realidade fantasiosa, na qual acredita plenamente a ponto de duvidar da realidade do mundo e das pessoas ao seu redor. Fala-se em Percepção Delirante quando o paciente atribui à uma percepção normal da realidade um significado anormal sem que para isso, existem motivos compreensíveis. Não existe, neste caso, uma verdadeira alteração da percepção, mas é a interpretação dessa percepção que sofre um juízo crítico distorcido e patológico. (BARBOSA, 2000 apud Ibidem). Jaspers (2000 apud IORIO, 2005) define o delírio com sendo um juízo patologicamente falseado e que deve, obrigatoriamente, apresentar três características: ● Uma convicção subjetivamente irremovível e uma crença absolutamente inabalável com impossibilidade de se sujeitar às influências de quaisquer argumentações da lógica; ● Um pensamento de conteúdo impenetrável e incompreensivo psicologicamente para o indivíduo normal; ● Uma representação sem conteúdo de realidade, ou seja, que não se reduz à análise dos acontecimentos vivenciais. Dalgalarrondo (2000) divide as funções psíquicas em: consciência, atenção, orientação, vivências do tempo e do espaço, sensopercepção, memória, afetividade, vontade e psicomotricidade, pe nsamento, juízo de realidade, linguagem. Além das funções psíquicas compostas, que são consciência e valoração do eu, esquema corporal e identidade, personalidade e inteligência. Definiu a sensação como o fenômeno elementar gerado por estímulos físicos, químicos ou biológicos variados, originados de fora para dentro do organismo, que produzem alterações nos órgãos Licenciado para - G ILB E R T O V IE IR A D A C O N C E IÇ Ã O - 56198515249 - P rotegido por E duzz.com receptores, estimulando-os. Já por percepção entende-se a tomada de consciênciade um estímulo sensorial. De acordo com Ballone (2005) a Sensopercepção é a Instância psíquica através da qual apreendemos o mundo externo, utilizando-nos de diversas variedades de estímulos, sendo esses visuais, táteis, auditivos, olfatórios ou gustativos. É a senso percepção que permite a aquisição dos elementos do conhecimento procedente do mundo exterior e do mundo interior, orgânico e psíquico. Ela requer a participação dos cinco sentidos externos (olfato, tato, visão, audição e paladar), dos sentidos internos (cenestésico, cinético e de orientação) e a percepção do mundo mental pela consciência. Esse mesmo autor salienta ainda que a sensação é o elemento primário do senso percepção. É o registro, na consciência, da estimulação produzida em qualquer dos aparelhos sensoriais. Elas podem ser externas (refletem propriedades e aspectos isolados das coisas e fenômenos que se encontram no mundo exterior) e internas (refletem os movimentos de partes isoladas do nosso corpo e o estado dos órgãos internos). As sensações internas são de 3 tipos: 1. motoras ou cinéticas (nos orientam sobre os movimentos dos membros e do nosso corpo); 2. de equilíbrio (provém da parte interna do ouvido e indicam a posição do corpo e da cabeça); 3. E orgânicas ou proprioceptivas (se originam nos órgãos internos). A percepção, todavia, relaciona-se diretamente com a forma da realidade apreendida, ao passo em que a sensação se relacionaria aos fragmentos esparsos dessa mesma realidade. Ao ouvirmos notas musicais, por exemplo, estaríamos captando fragmentos, mas a partir do momento em que captamos uma sucessão e sequência dessas notas ao longo de uma melodia, estaríamos captando a forma musical. Sendo assim, existem três estágios de percepções: A percepção anterior à realidade consciente é a percepção despojada de toda e qualquer subjetividade, é a objetividade pura. Ela é anterior a toda e qualquer interpretação, anterior a toda e qualquer compreensão e anterior a toda e qualquer significação. Ela permite a experiência da própria percepção em estado puro. Ela é radicalmente exterior ao sujeito, é a percepção do mundo exterior objetivo por Licenciado para - G ILB E R T O V IE IR A D A C O N C E IÇ Ã O - 56198515249 - P rotegido por E duzz.com excelência. É uma sensação vazia de subjetividade. A percepção que se transforma na realidade consciente é a percepção cuja objetividade já remete à uma subjetividade ou à um significado consciente real. Ela não se permite circunscrever apenas ao mundo exterior e passa a pertencer ao mundo interior do sujeito. Trata-se da ponte que une o objeto ao sujeito (o mundo objetal ao sujeito), tal como uma porta que introduz o mundo exterior para dentro da subjetividade. Entretanto, esta percepção que se transforma na realidade consciente é somente uma porta de entrada, e é sempre ao mesmo tempo uma passagem do objeto ao sujeito, é tanto a porta quanto o trânsito através dela, e sempre no sentido que conduz da percepção à subjetividade. A percepção posterior à realidade consciente é a percepção que não contém propriamente uma nova subjetividade, mas toca nela a partir de estímulos atuais. Ela reforça a subjetividade pré-existente e a partir dela, constrói novos elementos subjetivos. Portanto, enquanto a sensação oferece à pessoa o fundamental da realidade, na percepção esse fundamental se organiza de acordo com estruturas específicas, conferindo originalidade pessoal à realidade apreendida. A partir da percepção que se transforma na realidade consciente, o sujeito passa a oferecer às suas sensações um determinado fundo pessoal sobre o qual se assentarão as demais futuras sensações. Sim (2001), no entanto, considera a Psicopatologia como um método de estudo sistemático do comportamento, da cognição e da experiência anormais; o estudo dos produtos de uma mente com um transtorno mental. E conforme os preceitos estabelecidos por esse mesmo autor, essa análise inclui dois tipos de Psicopatologias: A Psicopatologia Explicativa, nas quais existem supostas explicações, de acordo com conceitos teóricos (p. ex., a partir de uma base psicodinâmica, comportamental ou existencial. A Psicopatologia Descritiva, que consiste na descrição e categorização precisa de experiências anormais, como são informadas pelo paciente, e observadas em seu comportamento. Licenciado para - G ILB E R T O V IE IR A D A C O N C E IÇ Ã O - 56198515249 - P rotegido por E duzz.com Figura 1. O Modelo das Psicopatologias propostas por Sim (2001). Sims (2001) distingue ainda que a Psicopatologia descritiva consiste por duas partes distintas: a observação do comportamento e a avaliação empática da experiência subjetiva. A observação acurada é extremamente importante e um exercício muito mais útil do que simplesmente contar os sintomas; às vezes o uso servil de listas de sintomas, para a verificação de sua presença ou ausência, tem impedido a observação clinica genuína. A objetividade é crucial, além da necessidade de observar mais do que apenas o comportamento. A outra parte da Psicopatologia descritiva avalia a experiência subjetiva através da empatia como termo psiquiátrico, que significa literalmente "sentir-se como". A Psicopatologia refere-se tanto ao estudo dos estados mentais patológicos, quanto às manifestações comportamentais, ou experiências que possam indicar um estado mental patológico (ou psicologicamente anormal). Percebe-se, entretanto, que a sua principal preocupação está direcionada com a doença da mente. Revela-se por isso, um tema vasto a partir do momento em que se defronta com questões subjetivas, como por exemplo: o que é considerado doença? Qual a definição exata de um comportamento atípico? O que é um estado mental patológico? Além disso, a Psicopatologia está diretamente ligada com diferentes áreas do conhecimento, sobretudo, com a Psicologia, Psicanálise, Neurologia e Psiquiatria. Dessa forma, devido aos muitos discursos que ela abrange demonstra uma grande dificuldade de coesão teórica. Licenciado para - G ILB E R T O V IE IR A D A C O N C E IÇ Ã O - 56198515249 - P rotegido por E duzz.com Bases da psiquiatria infantil Estudos epidemiológicos baseados em critérios diagnósticos do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 4ª edição (DSM-IV)1 apresentam a prevalência de transtornos psiquiátricos na faixa etária da infância e adolescência em torno de 10-15%, sendo mais frequentes os diagnósticos de transtornos de conduta/desafiador-opositivo (7,0%) e transtornos ansiosos (5,2%). Não há dados específicos sobre as principais causas de atendimento psiquiátrico emergencial nesta faixa etária no Brasil. Na literatura mundial, predominam: alterações de comportamento sem diagnóstico estabelecido, comportamento suicida, depressão, agressividade, abuso de substâncias e situações de violência. Possivelmente, estes resultados seriam replicados em nosso país. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), as taxas de suicídio entre 5-14 anos são de 1,5:100.000 em meninos e 0, 4:100.000 em meninas e na faixa de 15-24 anos, 22:100.000 para o sexo masculino e 4, 9:100.000 para o feminino. Nos últimos 50 anos, estas taxas aumentaram entre os mais jovens em relação aos mais velhos. Estes valores não contabilizam tentativas de suicídio, apenas óbitos reportados. Estima-se que o impacto dos atos suicidas, particularmente em adolescentes, seja consideravelmente maior do que os números relatados. Observa-se que muitas das situações de emergência psiquiátrica nesta faixa etária Licenciado para - G ILB E R T O V IE IR A D A C O N C E IÇ Ã O - 56198515249 - P rotegido por E duzz.com podem estar relacionadas a diferentes diagnósticos e podem tanto configurar o primeiro episódio de um transtorno psiquiátrico como o agravamento de um quadro pré-existente. Portanto, o atendimento emergencial é também o momento de diagnóstico diferencial. O curso é estruturado em três seções: avaliação psiquiátrica emergencial, apresentações clínicas e tratamento. Avaliação psiquiátrica A apresentação clínica de quadros psiquiátricos em crianças e adolescentes tende a ser distinta daquela de adultos. Numa avaliação, deve-se atentar para os sintomas apresentados, o impacto dos sintomas para o paciente e a família, fatores de risco e recursos para intervenção. Durante o exame psíquico, devem-se observar sinais que exijam intervenções imediatas, como agitação psicomotora, agressividade, alterações de nível de consciência e comportamento suicida. Os exames físico e neurológico são necessários para o diagnóstico de complicações clínicas de transtornos psiquiátricos, como intoxicações em dependentes químicos e alterações metabólicas em tentativas de suicídio ou transtornos alimentares, além do diagnóstico diferencial de doenças clínicas que podem apresentar manifestações psiquiátricas. Podem ser necessários exames complementares, como testagem para identificação de drogas, hemograma, perfil hidroeletrolítico, monitoramento cardíaco e tomografia computadorizada. O engajamento da família é fundamental desde a avaliação inicial, para obtenção de dados objetivos sobre a história e o ambiente do paciente, além da avaliação da situação familiar. A presença ou ausência de suporte familiar e social são fatores determinantes na avaliação de risco do paciente e podem determinar a decisão quanto à necessidade de internação. Licenciado para - G ILB E R T O V IE IR A D A C O N C E IÇ Ã O - 56198515249 - P rotegido por E duzz.com Desenvolvimento Infantil Os primeiros 1.000 dias de vida representam uma oportunidade única e decisiva para o desenvolvimento de todo ser humano. Durante essa janela crucial de oportunidades, as células cerebrais podem fazer até 1.000 novas conexões neuronais a cada segundo – uma velocidade única na vida. Essas conexões formam a base das estruturas cerebrais e contribuem para o funcionamento do cérebro e a aprendizagem das crianças e criam as condições para a saúde e a felicidade delas no presente e no futuro. A falta de atenção integral – que inclui acesso à saúde, nutrição adequada, estímulos, amor e proteção contra o estresse e a violência – pode impedir o desenvolvimento das estruturas cerebrais. Dessas conexões fundamentais. Avanços na neurociência provaram que quando as crianças passam seus primeiros anos – particularmente os primeiros 1.000 dias desde a concepção até os 2 anos de idade – em um ambiente estimulante e acolhedor, novas conexões neuronais se formam na velocidade ideal. Essas conexões neurais ajudam a determinar a capacidade cognitiva de uma criança, como elas aprendem e pensam, sua capacidade de lidar com o estresse, e podem até influenciar o quanto elas ganharão quando adultas. O desenvolvimento infantil é um processo de aprendizado pelos quais as crianças passam para adquirir e aprimorar diversas capacidades de âmbito cognitivo, motor, emocional e social. Ao conquistar determinadas capacidades, a criança passa a apresentar certos comportamentos e ações (como, por exemplo, Licenciado para - G ILB E R T O V IE IR A D A C O N C E IÇ Ã O - 56198515249 - P rotegido por E duzz.com dizer a primeira palavra, dar os primeiros passos, etc.) que são esperados a partir de determinada idade. O desenvolvimento infantil acaba por ser um conjunto de aprendizados que, pouco a pouco, vai tornando a criança cada vez mais independente e autônoma. Durante o processo de desenvolvimento, a criança evolui em diferentes aspectos de sua formação. A evolução não se dá somente no crescimento físico da criança, mas também na sua parte cognitiva e social, dentre outras. Desenvolvimento afetivo O desenvolvimento afetivo está relacionado aos sentimentos e às emoções e é perceptível por parte da criança desde a fase de bebê. Um bebê capaz de compreender a recepção de carinho e de amor, e também de amar e de criar laços afetivos com os pais e com outras pessoas próximas, principalmente com aquelas com as quais tem mais convívio. O estabelecimento dessas relações é fundamental para que a criança desenvolva sua inteligência emocional e não tenha, no futuro, problemas afetivos. Desenvolvimento cognitivo O desenvolvimento cognitivo refere-se à parte mais intelectual do ser humano. Diz respeito à atenção, ao raciocínio, à memória e à capacidade de resolver problemas. A cognição do ser humano é desenvolvida com o tempo. Licenciado para - G ILB E R T O V IE IR A D A C O N C E IÇ Ã O - 56198515249 - P rotegido por E duzz.com Enquanto bebê, uma pessoa não tem uma capacidade de memória muito aguçada. Em geral, as pessoas não têm, por exemplo, recordações de acontecimentos que tenham tido lugar antes dos seus dois anos de idade. O desenvolvimento cognitivo infantil permite que a criança interprete, assimile e se relacione com os estímulos do ambiente que a cerca e com a sua própria essência. Desenvolvimento físico O desenvolvimento físico é aquele através do qual as crianças desenvolvem habilidades e capacidades motoras como sentar, andar, ficar em pé, pular, correr, etc. Em atividades que requerem mais precisão, como por exemplo, escrever, o desenvolvimento físico fica também dependente do desenvolvimento cognitivo. Desenvolvimento social Com o desenvolvimento social, a criança aprende a interagir em sociedade. É com base nesse tipo de desenvolvimento que a criança estabelece com outras Licenciado para - G ILB E R T O V IE IR A D A C O N C E IÇ Ã O - 56198515249 - P rotegido por E duzz.com pessoas uma espécie de intercâmbio de informações, que permite adquirir cultura, tradições e normas sociais. A importância de brincar no desenvolvimento infantil está diretamente relacionada com esse tipo de desenvolvimento, pois através da socialização com outras crianças, são desenvolvidas certas capacidades de interação e noções de limites. Fases do desenvolvimento infantil As etapas do desenvolvimento infantil foram o principal tema de estudo dopsicólogo suíço Jean Piaget. Durante o tempo em que trabalhava em uma escola, Piaget se interessou por observar o raciocínio utilizado pelas crianças para responder as perguntas de seus professores. Posteriormente, passou a observar também os seus filhos e desta forma, acabou por subdividir as fases da infância. A teoria de Piaget considera que o desenvolvimento infantil consiste em quatro fases no que diz respeito à cognição: Sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório formal. Confira as fases do desenvolvimento infantil por idade: Sensório-motor: 0 a 2 anos Nessa fase do desenvolvimento, a criança desenvolve a capacidade de se concentrar em sensações e movimentos. O bebê começa a ganhar consciência de movimentos que, anteriormente, eram involuntários. Ele percebe, por exemplo, que ao esticar os braços pode alcançar determinados objetos. Durante esse período, ocorre o desenvolvimento da coordenação motora. Os bebês nessa faixa etária só têm consciência daquilo que podem ver e é por isso que choram quando a mãe sai do seu campo de visão, mesmo que ela esteja muito perto. Pré-operatório: 2 a 7 anos Licenciado para - G ILB E R T O V IE IR A D A C O N C E IÇ Ã O - 56198515249 - P rotegido por E duzz.com Esse é o período onde ocorrem representações da realidade dos próprios pensamentos. Nessa fase, algumas vezes a criança não tem a real percepção dos acontecimentos, mas sim a sua própria interpretação. Ao observar um copo fino e alto e um copo baixo e largo que comportam a mesma quantidade, por exemplo, a criança acredita que o copo alto comporte uma quantidade maior. Durante esse período também é possível notar uma fase bastante acentuada do egocentrismo e a necessidade de dar vida às coisas. É a fase dos “porquês” e da exploração da imaginação, ou seja, do dito faz de conta Operatório concreto: 8 a 12 anos Nessa fase começa a ser demonstrado o início do pensamento lógico concreto e as normas sociais já começam a fazer sentido para a criança. A criança é capaz de entender, por exemplo, que um copo fino e alto e um copo baixo e grosso podem comportar a mesma quantidade de líquido. Nessa faixa etária, o desenvolvimento da criança já contempla conhecimentos sobre regras sociais e sobre o senso de justiça. Operatório formal: a partir dos 12 anos Aos 12 anos a criança já possui a capacidade de compreender situações abstratas e experiências de outras pessoas. Mesmo que a própria criança jamais tenha vivido determinada experiência e nem mesmo nada parecido, ela passa a ter a capacidade de compreender através de situações vividas por outros, ou seja, a compreender situações abstratas. O pré-adolescente também já é capaz de criar situações hipotéticas, teorias e possibilidades e de começar a se tornar um ser autônomo. Os marcos do desenvolvimento infantil consistem em certos comportamentos ou capacidades que se esperam das crianças em determinadas faixas etárias. É importante referir que esses marcos podem acontecer mais cedo para umas crianças do que para outras, mas uma variação de tempo excessivamente grande pode significar algum distúrbio de desenvolvimento. Apesar da definição do conceito de fases do desenvolvimento piagetiano, o próprio Piaget defende que esse desenvolvimento poder ser beneficiado por certos estímulos e por um ambiente apropriado para crianças. Os principais fatores que podem impactar o desenvolvimento infantil são: ● Ambiente onde a criança vive. ● Hereditariedade. ● Alimentação. Licenciado para - G ILB E R T O V IE IR A D A C O N C E IÇ Ã O - 56198515249 - P rotegido por E duzz.com ● Problemas físicos. Psicologia do desenvolvimento infantil A psicologia do desenvolvimento infantil é responsável por estudar as alterações que ocorrem no comportamento do ser humano durante a infância e defende que ele precisa passar por algumas etapas de aprendizado para finalmente adquirir determinada capacidade. Esse estudo engloba não só o desenvolvimento emocional/afetivo (emoções e sentimentos), mas também o cognitivo (conhecimento/razão), o social (relações sociais) e o psicomotor (funções motoras e psíquicas). A psicologia do desenvolvimento busca estudar também os fatores que promovem as mudanças de comportamento que levam a determinado fim. O psicólogo suíço Jean Piaget, fez uma analogia entre o desenvolvimento infantil e o desenvolvimento de um embrião: ele considerou que o percurso do desenvolvimento infantil consistia em fases e que a conclusão de uma determinada fase era condição necessária para passar à fase seguinte, ou seja, defendia que o desenvolvimento ocorria de forma sequencial, sem pular etapas. Piaget definiu o desenvolvimento cognitivo como uma espécie de embriologia mental. A construção da criança enquanto indivíduo está diretamente relacionada com o ambiente que a cerca. A demanda do ambiente pode influenciar diretamente o alcance de determinadas capacidades. Essa condição estabelece algumas relações do desenvolvimento infantil com a aprendizagem: uma criança que não sofre estímulos, Licenciado para - G ILB E R T O V IE IR A D A C O N C E IÇ Ã O - 56198515249 - P rotegido por E duzz.com pode, por exemplo, desenvolver certas capacidades mais tarde ou até mesmo vir a não as desenvolver. Em outras palavras, se o ambiente não demanda, a criança pode não “reagir” e não “construir”. Em suma, a psicologia do desenvolvimento infantil defende que a construção acontece através da interação com o meio. Teoria de Piaget vs. teoría de Vygotsky No domínio da psicologia, Jean Piaget e Lev Vygotsky foram grandes estudiosos do desenvolvimento infantil. Ambos são considerados construcionistas e interacionistas, pois defendem que nada acontece sem uma interação e que tudo precisa passar por um processo de construção até alcançar determinado fim. A diferença entre a teoria de Piaget e a teoria de Vygotsky são as mediações utilizadas para abordar a interação. Piaget considera que a interação se dê por meio da ação da criança. Desta forma ocorre uma troca com o meio; a criança age e aprende por experiência própria, não há uma pessoa ensinando. Para Vygotsky, a mediação ocorre por meio de ferramentas culturais, ou seja, o aprendizado ocorre quando a criança interage ou coopera com pessoas que fazem parte do seu ambiente. Posteriormente, esses processos de aprendizados são internalizados e passam a fazer parte do desenvolvimento independente da criança. Em outras palavras, para Vygotsky o desenvolvimento infantil é resultado do convívio social. Exame Psíquico ou mental da criança Licenciado para - G ILB E R T O V IE IR A D A C O N C E IÇ Ã O - 56198515249 - P rotegido por E duzz.com Ao contrário do exame físico, que é descritivo, o exame psíquico tende a ser menos descritivo e mais compreensível, ou seja, a não se transformar em um observador e um observado. O entrevistador deve saber que ele é uma variável de grande significado e que o exame é uma interação entre duas pessoas. Seus sentimentos naquele momento se influenciam mutuamente,e grande parte dessa influência ocorre de uma forma que ambos não se dão conta, ou seja, inconscientemente. No exame psíquico da criança procura-se colher dados necessários para traçar o perfil de seu estado ou funcionamento mental. Este perfil será o resultado da observação de um conjunto de funções psíquicas que correspondem, na sua maior parte, à vida consciente da criança. Grande parte das funções psíquicas da criança está sob o domínio do ego, por isso são chamadas de funções do ego. Elas são responsáveis pelo controle das funções motoras, desenvolvimento da fala, memória, percepção, atenção, inteligência, noção de realidade e pensamento. No bebê estas funções estão embrionárias, mas ele possui uma predisposição genética para desenvolvê-las. No exame da criança interessa ao entrevistador a observação das funções psíquicas porque elas revelam, em parte, o caminho seguido pela criança e os fatores que estariam influenciando esse desenvolvimento. No transcorrer do exame psíquico, prioriza-se o funcionamento mental. O ideal seria que a criança fosse avisada, um ou dois dias antes da entrevista, de que irá ao médico e lhe seja informado também o motivo. As explicações deverão ser simples e claras, respeitando a idade da criança. Os pais deverão orientá-las de que se trata de uma consulta diferente, que o médico estará interessado em conhecê-la para poder ajudá-la em suas dificuldades. Dizer que o médico irá colocar à sua disposição jogos, material de desenho, brinquedos que poderá usar, ou, caso preferir, poderá conversar, e não será obrigada a fazer nada que não queira. O entrevistador deve estar atento ao que ocorre com a criança desde o momento de sua entrada na sala até a sua saída. No exame da criança, três variáveis importantes entram em jogo: o entrevistador, a criança e o próprio local do exame. Deve-se dar preferência a um consultório cujo ambiente lembre mais uma sala comum do que uma sala de exames com seu mobiliário convencional. O espaço deve ser suficiente para permitir que a criança brinque à vontade e sua localização deve protegê-la de estímulos sonoros intensos e desagradáveis que possam desviar a atenção da criança. Licenciado para - G ILB E R T O V IE IR A D A C O N C E IÇ Ã O - 56198515249 - P rotegido por E duzz.com O material que fica à disposição da criança deve estar contido em uma caixa, na qual deve ter: pequenos bonecos, animais selvagens e domésticos, carrinhos, blocos para construção, massa de modelar, lápis de cor, cola, papel, tesoura, tinta, pincel, pedaços de barbante. Alguns profissionais propõem a inclusão de jogos tipo pega-varetas, dominó, jogo da velha, que tem a preferência dos pré-adolescentes (PORTO, 1997). Em algumas circunstâncias, pode-se passear com a criança em volta da quadra ou ir a algum local de seu interesse, até mesmo a sua casa. Tanto o desenho e o brinquedo, como a linguagem, possuem um conteúdo manifesto ou narrativo e um conteúdo latente ou inconsciente. Na avaliação psiquiátrica e psicológica, ambos são importantes, ainda que se dê ênfase ao conteúdo simbólico dos mesmos. Mas é por meio de seu aspecto narrativo que se observa a facilidade de a criança transitar entre a realidade e a fantasia, sua capacidade de expressão ligada a seus estados maturativos, sua riqueza imaginativa ou a pobreza de representação, resultado neste caso de falhas ou déficit cognitivos de ordem cultural, intelectual ou de bloqueio emocional. É colocado à disposição da criança todo o material, e espera-se que ela tome a iniciativa, seja para utilizá-lo ou iniciar um diálogo, mas ela nem sempre o faz. Neste caso, ela não deve ser forçada a brincar, fazer ou dizer alguma coisa. Quando a criança está desacompanhada, no transcorrer da entrevista pode passar-se algo de natureza ansiogênica, consciente ou não, que lhe desperte a vontade de sair da sala. O entrevistador deve permitir, pois sabe que ela necessita se reassegurar junto à mãe de que tudo vai bem para prosseguir e voltar à sala. Com a criança pequena, a dificuldade maior está no início da entrevista. Uma vez obtida sua confiança, a entrevista transcorre dentro da livre iniciativa e espontaneidade de que a criança pequena é capaz. Na criança em fase de latência e nos adolescentes ocorre o contrário. Tenham vindo pela sua própria vontade ou não, eles comumente não se recusam a entrar no consultório para a entrevista, mas é justamente o seu desenrolar que se torna algumas vezes extremamente penoso. A criança até os cinco ou seis anos de idade é capaz de se exprimir espontaneamente e com naturalidade sobre sua vida, amigos, casa. Ela é mais liberal em revelar seus pensamentos e fantasias. Na criança maior, na latência, já começam a operar mecanismos de defesa que vão influenciar na expressão de sua vida de fantasia, empobrecendo-a. A criança, com frequência, torna-se incapaz de expressar fácil e vivamente suas imaginações. No exame da criança, é necessário investigar os seguintes itens: aparência geral; atitude geral; atividade motora; atenção e concentração; temperamento, afeto e humor; memória; orientação e percepção; pensamento; linguagem e fala; defesas, fantasia, imaginação e devaneio. Aparência geral: não é conveniente inspecionar formalmente a criança. Licenciado para - G ILB E R T O V IE IR A D A C O N C E IÇ Ã O - 56198515249 - P rotegido por E duzz.com A observação da aparência geral se faz ao longo do exame, por meio do “olhar de superfície”. Longe de ser objetivado como superficial, pouco sério, diz respeito a uma cuidadosa, porém discreta, observação da criança no que diz respeito ao seu aspecto físico, harmonia de traços, presença de lesões, anomalias. Verificar seu modo de vestir sugere bom trato ou desleixo, observar sua fisionomia e postura (apática, viva, alegre, triste, inibida, descontraída, ansiosa). Atitude geral: refere-se ao comportamento da criança durante o exame. Como se comporta na antessala? E ao entrar na sala? Entrou com facilidade? Quis sair antes do tempo? Interrompeu a atividade para ir ver a mãe? Mostrou-se hostil com o entrevistador? • Atividade motora: a suspeita de perturbações da psicomotricidade pode ser levantada, ou mesmo confirmada, a partir da observação das atividades espontâneas da criança ao brincar, desenhar, correr, pular ou andar. Deve ser observada sua marcha enquanto ela se movimenta. Tem boa coordenação para a idade? É lenta? Atenção e concentração: a criança se concentra em alguma atividade ou no diálogo? Passa de uma atividade a outra sem cessar e sem terminar a antecedente? A capacidade de atenção e concentração modifica-se com a idade. Na criança pequena, a atenção e a concentração estão intimamente ligadas ao seu interesse imediato e particular. Na criança maior, é esperado que ela consiga organizar-se e se manter em brincadeiras mais estruturadas e elaboradas. Vários fatores contribuem para este fim, entre eles a atenção e a concentração. Na criança pequena é normal ocorrerem desvios de tema, mudanças de assuntos,associações estranhas, pela falta de atenção e interesse, enquanto, no adolescente e adultos, isso pode ser a tradução de um distúrbio do pensamento. Temperamento, afeto e humor: referem-se aos sentimentos expressos durante o exame. Como variou e, se possível, o que motivou sua flutuação. Sua relação com as atividades verbais e não verbais da criança. Na criança maior e no adolescente é possível obter informações adicionais sobre como se sentem, seu humor e afetos pelos seus próprios relatos. Memória: uma queixa frequente nos consultórios diz respeito à memória e é expressa das mais diversas formas: “Ele esquece todos os seus objetos na escola”. “Aprende a matéria e no dia seguinte já esqueceu tudo”. “Ele não sabe onde colocar suas coisas”. Mesmo com queixas eloquentes, a memória não se torna a função-chave a ser pesquisada no sentido de detectar uma afecção orgânica. Estas lesões são raras na infância. Sabe-se que mecanismos psíquicos inconscientes estão operando ativamente neste período, interferindo na vida consciente da criança, e são observados no seu comportamento, como a indiferença, a falta de curiosidade, o esquecimento e o embotamento cognitivo. A Licenciado para - G ILB E R T O V IE IR A D A C O N C E IÇ Ã O - 56198515249 - P rotegido por E duzz.com memória está intimamente ligada à atividade da atenção e, portanto, distúrbios da atenção e a hiperatividade motora são fatores que podem comprometê-la. A consciência/vigilância interfere na atenção. Orientação e percepção: estas duas funções dizem respeito à capacidade da criança em perceber e compreender a realidade. O fator idade influencia decisivamente nesta capacidade. Na criança pequena, a fronteira entre a realidade e a fantasia, as noções de tempo e espaço, são vagas e imprecisas. Avaliar a orientação da criança é procurar saber se ela demonstra conhecimento sobre sua pessoa (quem ela é, seu nome, onde mora, sua idade, se estuda) e se tem noção de espaço e tempo. Na criança, estes dois últimos conceitos não estão muito claros e não se deve esperar que ela domine as relações de espaço e lugar (longe, perto, em frente, ao lado, fora da cidade, no centro) e do tempo (ontem, hoje, amanhã, mês, ano). Analisar a percepção é procurar saber em que medida a criança é capaz de diferenciar entre o real e a fantasia e, consequentemente, sua adaptação a esta realidade. Por exemplo: Uma criança de seis anos, intensamente perturbada, reagir com pavor, recusando-se a entrar na sala ao ver um buraco no teto. Em uma criança saudável desta idade, esse mesmo buraco despertaria curiosidade e uma série de perguntas. Em relação à percepção, é importante notar se a criança utiliza seus órgãos sensoriais de forma adequada e se estão organicamente intactos. Pensamento: o pensamento da criança, de modo geral, reflete-se na sua conversa, nas suas brincadeiras, jogos e produções. Ouvir a criança falar permite obter um grande número de informações. É importante lembrar que o pensamento da criança pequena tem características que a diferenciam do pensamento do adulto. Em razão de sua própria imaturidade, seu pensamento pode expressar-se por associações pouco claras, mal ordenadas, que fogem à lógica formal do pensamento do adulto. Baseia-se muito mais no seu modo pessoal e auto referente de ver a realidade. Na criança maior, por exemplo, na fase de latência, já são exigidas uma melhor ordenação e uma clareza maior do seu pensamento. Linguagem e fala: a fala também é objeto de observação, e seus distúrbios são frequentemente motivos de consultas. No exame psíquico, a atenção do entrevistador, muitas vezes, está dirigida ao modo como a criança usa a linguagem, porém ele não deve prescindir de observá-lo na sua forma efetora. Se a criança discursa, deve-se observar se a fala: a) é utilizada como meio de comunicação para se manter uma conversa e fornecer informações. Licenciado para - G ILB E R T O V IE IR A D A C O N C E IÇ Ã O - 56198515249 - P rotegido por E duzz.com b) é empregada como uma forma de se defender, evitar o contato, expressando se de forma restrita, lacônica e econômica. c) não tem relação com a comunicação. Neste caso, ela é manipulada como um objeto, um material sonoro. As palavras perdem seu sentido, são emissões sonoras reagrupadas ou remodeladas pela criança. Pode ser observada na linguagem do psicótico ou também fazendo parte de brincadeiras que crianças pequenas gostam de fazer aproximando as palavras, construindo frases por aproximações sonoras mesmo que eles não façam sentidos. É comum o uso de neologismos (criação ou modificação de algumas palavras). Se a criança não fala, deve-se observar se a criança: a) utiliza meios extra verbais, como gestos, expressões faciais ou linguagem escrita para se comunicar e se dirige sua atenção e seu olhar ao examinador de forma significativa. b) ou se a ausência da fala faz parte de um quadro em que o aspecto relacional, ou outras funções, também está comprometido. Defesas: são recursos utilizados pela criança de forma consciente ou inconsciente para evitar ou manter a ansiedade no nível mais baixo possível frente a situações antigênicas de origem interna ou externa (PORTO, 1997). São exemplos de recursos utilizados pela criança: ● A racionalização que um garoto de 11 anos utiliza quando tenta, por meio de explicações lógicas (pivetes, assaltantes), justificar a sua recusa de sair desacompanhado à rua, mesmo que seja até a esquina bem próxima à sua casa. ● A negação da criança pequena que, durante o exame, brinca somente com a mãe, tenta ignorar a presença do entrevistador e negar a situação de exame, utilizando um “faz de conta que estou só com a mamãe”. ● A regressão na criança que passa a falar de modo infantilizado. ● A adultização observada na criança que passa a falar de modo afetado, com frases bem elaboradas e rebuscadas, ou por meio de suas observações. Como, por exemplo, no menino de sete anos que olhando os brinquedos diz: “Quando eu era criança eu gostava de brincar com eles. Eu não brinco, é só para crianças pequenas”. A repressão pode ser a responsável pelo “branco” que dá na criança que não consegue brincar e à qual não ocorre nada para dizer durante a entrevista. Em outras, a repressão pode ser presumida não pela ausência de produções, mas pelo modo repetitivo e pobre com que se manifesta (PORTO, 1997). Licenciado para - G ILB E R T O V IE IR A D A C O N C E IÇ Ã O - 56198515249 - P rotegido por E duzz.com Avaliação Neuropsicológica A avaliação neuropsicológica é um procedimento que tem por objetivo investigar as funções cognitivas (conhecimentos complexos) e práxicas (atividade motora fina) dos pacientes, buscando elucidar os distúrbios de atenção, memória e sensopercepção, além de alterações cognitivas específicas como gnosias, abstração, capacidade de raciocínio, cálculo e planejamento, bem como seus diagnósticos diferenciais. Esta complexa avaliação é realizada por psicólogos e neurologistas treinados naavaliação das “funções nervosas superiores” e utiliza de testes neurológicos e psicológicos específicos, padronizados e validados, sendo realizados em etapas sucessivas, baseados em dados comparativos, segundo o esperado para cada faixa etária, nível socioeconômico e escolaridade. Esta extensa e minuciosa testagem, são solicitadas por médicos geriatras, neurologistas, psiquiatras e psicólogos, além de outros profissionais envolvidos com a área de reabilitação em geral, sendo usada para nortear indicações terapêuticas medicamentosas e de reabilitação, com técnicas específicas aplicadas a distúrbios por déficit de atenção, com ou sem hiperatividade associada, diagnóstico diferencial dos déficits cognitivos e avaliação de distúrbios mentais, assim como, as demências (isquêmica por multi infartos, Alzheimer e outras) sendo, também, útil para o diagnóstico diferencial de depressão. Licenciado para - G ILB E R T O V IE IR A D A C O N C E IÇ Ã O - 56198515249 - P rotegido por E duzz.com A avaliação neuropsicológica na Doença de Alzheimer (DA) é o principal instrumento para diagnosticar o tipo e a intensidade dos distúrbios de atenção, memória e desempenho intelectual, permitindo acompanhar, em exames sucessivos, a progressão mais rápida ou lenta da DA, oferecendo nas fases iniciais a possibilidade de diferenciar os sintomas da DA da depressão. O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade é bastante comum e se caracteriza por dificuldade em manter a atenção, inquietude acentuada (por vezes hiperatividade) e impulsividade. Ele também é chamado de Distúrbio do Déficit de Atenção. É mais comum na infância, embora, em muitos casos, o transtorno acompanhe o indivíduo na vida adulta. Nestes casos, os sintomas são mais brandos, quando comparados aos de crianças. A avaliação neuropsicológica permite, além do diagnóstico, a diferenciação de um distúrbio de atenção secundário apenas a ansiedade, nervosismo e preocupações, além de estimar a intensidade do problema e permitir, em exames sucessivos, o resultado do tratamento. A Epilepsia é uma alteração temporária e reversível do funcionamento do cérebro, que não tenha sido causada por febre, drogas ou distúrbios metabólicos. Durante alguns segundos ou minutos, uma parte do cérebro emite sinais elétricos incorretos, que podem ficar restritos a esse local ou espalhar-se. Por isso, algumas pessoas podem ter sintomas menos evidentes de epilepsia. Mas isso não significa que o problema tenha menos importância. Os sintomas epilépticos são: crises de ausência, distorções de percepção ou movimentos descontrolados de uma parte do corpo, medo repentino, desconforto abdominal, perda de consciência, confusão e alteração de memória transitórias. Em crises mais graves, o paciente primeiro perde a consciência e cai, ficando com o corpo rígido; depois, as extremidades do corpo se debatem involuntariamente. É comum que os pacientes epilépticos tenham queixa de episódios de “desligamentos” os quais não são necessariamente de natureza epiléptica. Nesses casos, tais desligamentos estar associado a ansiedade, o que pode ser identificado numa avaliação neuropsicológica. Os distúrbios da memória em pacientes epilépticos podem relacionar com alterações anatômicas ou funcionais de regiões do cérebro associadas à memória ou, então, serem decorrentes de distúrbio de atenção ou ansiedade. Isto é diferenciado pela avaliação neuropsicológica. Os pacientes candidatos à cirurgia de epilepsia passam pela avaliação neuropsicológica. O objetivo é indicar a possibilidade de sequelas que venham ser provocadas pela intervenção cirúrgica, como perda de memória e da fala. A Depressão é um distúrbio complexo do humor e não um quadro simples de tristeza. É uma doença do corpo como um todo, físico e mental, com alteração do humor e do pensamento. Uma doença depressiva não é uma "fossa" ou "um baixo astral" passageiro. Na Depressão observa-se perda de memória, desatenção, lentidão, incapacidade de tomar decisões, extrema irritabilidade, fadiga crônica, falta de apetite e dores Licenciado para - G ILB E R T O V IE IR A D A C O N C E IÇ Ã O - 56198515249 - P rotegido por E duzz.com sem explicação. A avaliação da memória, da atenção, da ansiedade e da depressão com aplicação na neurologia, psiquiatria e psicologia é feita com a avaliação neuropsicológica. A avaliação neuropsicológica na Doença de Alzheimer (DA) é o principal instrumento para diagnosticar o tipo e a intensidade dos distúrbios de atenção, memória e desempenho intelectual, permitindo acompanhar, em exames sucessivos, a progressão mais rápida ou lenta da DA, oferecendo, nas fases iniciais, a possibilidade de diferenciar os sintomas da DA da depressão. Transtornos de ansiedade Ansiedade é um sentimento vago e desagradável de medo, apreensão, caracterizado por tensão ou desconforto derivado de antecipação de perigo, de algo desconhecido ou estranho. Em crianças, o desenvolvimento emocional influi sobre as causas e a maneira como se manifestam os medos e as preocupações tanto normais quanto patológicos. Diferentemente dos adultos, crianças podem não reconhecer seus medos como exagerados ou irracionais, especialmente as menores. A ansiedade e o medo passam a ser reconhecidos como patológicos quando são exagerados, desproporcionais em relação ao estímulo, ou qualitativamente diversos do que se observa como norma naquela faixa etária e interferem com a qualidade de vida, o conforto emocional ou o desempenho diário do indivíduo.1 Tais reações exageradas ao estímulo ansiogênico se desenvolvem, mais comumente, em indivíduos com uma predisposição neurobiológica herdada. A maneira prática de se diferenciar ansiedade normal de ansiedade patológica é basicamente avaliar se a reação ansiosa é de curta duração, autolimitada e relacionada ao estímulo do momento ou não. Os transtornos ansiosos são quadros clínicos em que esses sintomas são primários, ou seja, não são derivados de outras condições psiquiátricas (depressões, psicoses, transtornos do desenvolvimento, transtorno hipercinético, etc.). Sintomas ansiosos (e não os transtornos propriamente) são frequentes em outros transtornos psiquiátricos. É uma ansiedade que se explica pelos sintomas do transtorno primário (exemplos: a ansiedade do início do surto esquizofrênico; o Licenciado para - G ILB E R T O V IE IR A D A C O N C E IÇ Ã O - 56198515249 - P rotegido por E duzz.com medo da separação dos pais numa criança com depressão maior) e não constitui um conjunto de sintomas que determina um transtorno ansioso típico (descritos a seguir). Mas podem ocorrer casos em que vários transtornos estão presentes ao mesmo tempo e não se consegue identificar o que é primário e o que não é, sendo mais correto referir que esse paciente apresenta mais de um diagnóstico coexistente (comorbidade). Estima-se que cerca de metade das crianças com transtornos ansiosos tenham também outro transtorno ansioso. Pelos sistemas classificatórios vigentes, o transtorno de ansiedade de separação foi o único transtorno mantido na seção específica da infânciae adolescência (CID-10, DSM-IV). O transtorno de ansiedade excessiva da infância e o transtorno de evitação da infância (DSM-III-R), passaram a ser referidos nas classificações atuais, respectivamente, como transtorno de ansiedade generalizada (TAG) e fobia social. Os transtornos ansiosos são os quadros psiquiátricos mais comuns tanto em crianças quanto em adultos, com uma prevalência estimada durante o período de vida de 9% e 15% respectivamente. Nas crianças e adolescentes, os transtornos ansiosos mais frequentes são o transtorno de ansiedade de separação, com prevalência em torno de 4%, o transtorno de ansiedade excessiva ou o atual TAG (2,7% a 4,6%) e as fobias específicas (2,4% a 3,3%). A prevalência de fobia social fica em torno de 1%10 e a do transtorno de pânico (TP) 0,6%. A distribuição entre os sexos é de modo geral equivalente, exceto fobias específicas, transtorno de estresse pós-traumático e transtorno de pânico com predominância do sexo feminino. A causa dos transtornos ansiosos infantis é muitas vezes desconhecida e provavelmente multifatorial, incluindo fatores hereditários e ambientais diversos. Entre os indivíduos com esses transtornos, o peso relativo dos fatores causais pode variar. De uma maneira geral, os transtornos ansiosos na infância e na adolescência apresentam um curso crônico, embora flutuante ou episódico, se não tratados. Na avaliação e no planejamento terapêutico desses transtornos, é fundamental obter uma história detalhada sobre o início dos sintomas, possíveis fatores desencadeantes (ex. crise conjugal, perda por morte ou separação, doença na família e nascimento de irmãos) e o desenvolvimento da criança. Sugere-se, também, levar em conta o temperamento da criança (ex. presença de comportamento inibido), o tipo de apego que ela tem com seus pais (ex. seguro ou não) e o estilo de cuidados paternos destes (ex. presença de superproteção), além dos fatores implicados na etiologia dessas patologias. Também deve ser avaliada a presença de comorbidade. De modo geral, o tratamento é constituído por uma abordagem multimodal, que inclui orientação aos pais e à criança, terapia cognitivo comportamental, psicoterapia dinâmica, uso de psicofármacos e intervenções familiares. Licenciado para - G ILB E R T O V IE IR A D A C O N C E IÇ Ã O - 56198515249 - P rotegido por E duzz.com Transtorno de ansiedade generalizada As crianças com TAG apresentam medo excessivo, preocupações ou sentimentos de pânico exagerados e irracionais a respeito de várias situações. Estão constantemente tensas e dão a impressão de que qualquer situação é ou pode ser provocadora de ansiedade. São crianças que estão sempre muito preocupadas com o julgamento de terceiros em relação a seu desempenho em diferentes áreas e necessitam exageradamente que lhes renovem a confiança, que as tranquilizem. Apresentam dificuldade para relaxar, queixas somáticas sem causa aparente e sinais de hiperatividade autonômica (ex. palidez, sudorese, taquipnéia, tensão muscular e vigilância aumentada). Tendem a ser crianças autoritárias quando se trata de fazer com que os demais atuam em função de tranqüilizá-las. Um caso típico é o de uma menina de 7 anos de idade que pergunta aos pais constantemente se o que eles dizem é verdade, se recusa aos prantos a iniciar qualquer atividade nova, pede para sua mãe verificar se ela fez a lição corretamente a cada trecho de lição terminada, mostra-se muito aborrecida e angustiada quando sua coleguinha de escola achou que ela havia mentido. Todo ou quase todo o tempo há algo que a preocupe, não são pensamentos repetitivos sobre o mesmo tema, mas são preocupações constantes que mudam de tema e geram ansiedade. Tornam-se crianças difíceis, pois mantêm o ambiente a seu redor tenso, provocam irritação nas pessoas de seu convívio pelo absurdo da situação, sendo difícil acalmá-las e ter atividades rotineiras ou de lazer com elas. O início deste transtorno costuma ser insidioso, muitas vezes os pais têm dificuldade em precisar quando começou e referem que foi se agravando até se tornar intolerável, época em que procuram atendimento. Tratamento Licenciado para - G ILB E R T O V IE IR A D A C O N C E IÇ Ã O - 56198515249 - P rotegido por E duzz.com A abordagem psicoterápica pode ser das mais diversas modalidades, não se tendo estudos comprovando a relativa eficácia entre elas até o momento. A terapia cognitivo-comportamental consiste basicamente em provocar uma mudança na maneira alterada de perceber e raciocinar sobre o ambiente e especificamente sobre o que causa a ansiedade (terapia cognitiva) e mudanças no comportamento ansioso (terapia comportamental). Esse método pode ter eficácia duradoura sobre os transtornos ansiosos em geral. Os pais participam ativamente dessa terapia com crianças, ao contrário do que é feito com adultos com o mesmo transtorno. No caso clínico citado como exemplo, seria feito um acordo com a criança e seus pais de que as perguntas exageradas não receberiam resposta, com reasseguramento à criança da necessidade disto para diminuir seu sofrimento. Nesse método, parte-se do pressuposto que quanto mais atenção se der a esse comportamento alterado (respostas tranquilizadoras ou agressivas na tentativa de controlar a ansiedade da criança) maior a chance de reforçá-lo e ampliá-lo; ao contrário, mantendo-se a calma e retirando-se a atenção do comportamento ansioso, ele tende a se extinguir. O TAG tem recebido pouca atenção dos pesquisadores em psicofarmacologia pediátrica. Em estudos abertos, observou-se melhora significativa dos sintomas, tanto com o uso de fluoxetina, como de buspirona. Pouco se sabe a respeito de benzodiazepínicos para TAG na infância; alguns autores recomendam o seu uso quando não há resposta a tratamentos psicoterápicos. Fobias específicas Fobias específicas são definidas pela presença de medo excessivo e persistente relacionado a um determinado objeto ou situação, que não seja situação de exposição pública ou medo de ter um ataque de pânico. Diante do estímulo fóbico, a criança procura correr para perto de um dos pais ou de alguém que a faça se sentir protegida e pode apresentar reações de choro, desespero, imobilidade, agitação psicomotora ou até mesmo um ataque de pânico. Os medos mais comuns na infância são de pequenos animais, injeções, escuridão, altura e ruídos intensos. As fobias específicas são diferenciadas dos medos normais da infância por constituírem uma reação excessiva e desadaptativa, que foge do controle do indivíduo, leva a reações de fuga, é persistente e causa comprometimento no funcionamento da criança. Tratamento Licenciado para - G ILB E R T O V IE IR A D A C O N C E IÇ Ã O - 56198515249 - P rotegido por E duzz.com Para fobias específicas, o tratamento mais utilizado tem sido a terapia comportamental, de acordo com a prática clínica. Apesar de amplamente utilizada, há muito poucas publicações sobre sua eficácia através de estudos controlados, com amostras de tamanho razoável, com procedimento diagnóstico padronizadoe seguimento sistemático da evolução. Resumidamente, as técnicas utilizadas requerem exposição da criança ao estímulo fóbico de maneira a produzir a extinção da reação exagerada de medo. A técnica que tem sido mais empregada é a de dessensibilização progressiva (programa de exposição gradual ao estímulo) de acordo com uma lista hierárquica das situações ou objetos temidos. Tratamentos baseados na exposição, com frequência se acompanham da combinação com outras técnicas cognitivo-comportamentais ("modelagem" ¾ técnica com demonstração prática pelo terapeuta e imitação pelo paciente durante a sessão; manejo de contingências ¾ identificação e modificação de situações relacionadas ao estímulo fóbico, que não o próprio estímulo; procedimentos de autocontrole e relaxamento). O tratamento farmacológico das fobias específicas não tem sido utilizado na prática clínica e são poucos os estudos sobre o uso de medicações nesses transtornos. Fobia social Da mesma forma que se observa em adultos, o medo persistente e intenso de situações onde a pessoa julga estar exposta à avaliação de outros, ou se comportar de maneira humilhante ou vergonhosa, caracteriza o diagnóstico de fobia social em crianças e adolescentes. Em jovens, a ansiedade pode ser expressa por choro, "acessos de raiva" ou afastamento de situações sociais nas quais haja pessoas não familiares. Crianças com fobia social relatam desconforto em inúmeras situações: falar em sala de aula, comer na cantina próximo a outras crianças, ir a festas, escrever na frente de outros colegas, usar banheiros públicos, dirigir a palavra a figuras de autoridade como professores e treinadores, além de conversas/brincadeiras com outras crianças. Nessas situações, comumente há a presença de sintomas físicos como: palpitações, tremores, calafrios e calores súbitos, sudorese e náusea. A depressão é uma comorbidade frequente em crianças e adolescentes com fobia social. Tratamento Licenciado para - G ILB E R T O V IE IR A D A C O N C E IÇ Ã O - 56198515249 - P rotegido por E duzz.com Uma série de procedimentos cognitivo-comportamentais têm sido descritos para o tratamento de medo de situações sociais ou de isolamento social em crianças. O tratamento cognitivo da ansiedade social foca inicialmente na modificação de pensamentos mal adaptados que parecem contribuir para o comportamento de evitação social. Auto diálogos negativos são comuns em crianças com ansiedade social (ex. "todo mundo vai olhar para mim"; "e se eu fizer alguma coisa errada?"). O tratamento comportamental baseia-se na exposição gradual à situação temida (ex. "uma criança incapaz de comer na cantina da escola por se sentir mal e ter medo de vomitar perto de outras crianças, tem como tarefa de exposição a permanência diária na cantina por períodos cada vez maiores, inicialmente sem comer e gradualmente comprando algum lanche e comendo próximo a seus colegas"). Os procedimentos dessa intervenção em crianças e adolescentes segue os mesmos princípios do tratamento de adultos, com exceção da graduação da exposição aos estímulos temidos, a qual deve ser planejada com um maior número de etapas. Até o momento, não há estudos de tratamento não medicamentoso controlados em crianças diagnosticadas com fobia social. Relatos iniciais indicam que o benzodiazepínico alprazolam pode ser útil na redução de evitação de situações sociais em crianças com fobia social. Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) As crianças são particularmente vulneráveis a violência e abuso sexual e tem havido um reconhecimento crescente que experiências traumáticas podem ter um impacto grave e duradouro sobre as mesmas. O TEPT tem sido evidenciado como um fator de risco para o desenvolvimento posterior de patologias psiquiátricas. O diagnóstico do TEPT é feito quando, em consequência à exposição a um acontecimento que ameace a integridade ou a vida da criança, são observadas alterações importantes no seu comportamento, como inibição excessiva ou desinibição, agitação e reatividade emocional aumentada, hipervigilância, além de pensamentos obsessivos com conteúdo relacionado à vivência traumática (em vigília e em pesadelos durante o sono). Licenciado para - G ILB E R T O V IE IR A D A C O N C E IÇ Ã O - 56198515249 - P rotegido por E duzz.com Também é observado comportamento de evitar estímulos associados ao evento traumático. Pelos critérios diagnósticos do DSM-IV, tais sintomas devem durar mais de um mês e levar a comprometimento das atividades do paciente. O paciente evita falar sobre o que aconteceu, pois isso lhe é muito doloroso, e essa atitude parece perpetuar os sintomas como em geral acontece com todos os transtornos ansiosos. Crianças apresentam uma dificuldade a mais, especialmente as mais jovens, que é a de compreender com clareza e discorrer sobre o ocorrido. Em crianças menores, os temas relacionados ao trauma são expressados em brincadeiras repetitivas. Tratamento Existe alguma evidência sobre a eficácia da abordagem cognitivo comportamental e da psicoterapia dinâmica breve no TEPT em crianças e adolescentes, porém com poucos estudos a respeito, em geral relatos de caso. Em crianças mais jovens, a terapia deve utilizar objetos intermediários como brinquedos ou desenho para facilitar a comunicação, evitando-se interpretações sem confirmações concretas sobre o que ocorreu, mas fornecendo subsídios que permitam a elaboração da experiência traumática. A abordagem cognitivo-comportamental tem sido focalizada sobre o(s) sintoma(s) alvo, com o objetivo de reverter o condicionamento da reação ansiosa, pela habituação ao estímulo. O terapeuta deve auxiliar a criança ou adolescente a enfrentar o objeto temido, discursando sobre o evento traumático, orientando o paciente a não evitar o tema ou os pensamentos relacionados (técnica de exposição). Há apenas um relato sobre o uso de medicações em TEPT em crianças usando propranolol, com resposta favorável. O planejamento terapêutico depende também da associação com outras patologias. Transtorno obsessivo-compulsivo O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é caracterizado pela presença de obsessões e compulsões. Obsessões são ideias, pensamentos, imagens ou Licenciado para - G ILB E R T O V IE IR A D A C O N C E IÇ Ã O - 56198515249 - P rotegido por E duzz.com impulsos repetitivos e persistentes que são vivenciados como intrusivos e provocam ansiedade. Não são apenas preocupações excessivas em relação a problemas cotidianos. A pessoa tenta ignorá-los, suprimi-los ou neutralizá-los através de um outro pensamento ou ação. Compulsões são comportamentos repetitivos ou atos mentais que visam reduzir a ansiedade e afastar as obsessões. Esses rituais frequentemente são percebidos como algo sem sentido e o indivíduo reconhece que seu comportamento é irracional. Geralmente a pessoa realiza uma compulsão para reduzir o sofrimento causado por uma obsessão. As obsessões mais comuns são: preocupação com sujeira ou secreções corporais, medo de que algo terrível possa acontecer a si mesmo ou a alguém
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