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onde tudo que existe, existe em paz. Velho amor Em "Velho amor", o poeta faz uma homenagem ao amigo Rodrigo M. F. de Andrade, na época diretor da Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, e chefe de Carlos Drummond de Andrade, que ocupava um cargo de chefia da Seção de História na instituição. O velho amor citado pelo título é o amor do amigo pela Arte Antiga do Brasil, e seu zelo pelo nosso patrimônio artístico, conforme convém, naturalmente, a um diretor do DPHAN. Nos três últimos poemas encontramos: "Queixa de maio" retoma o tom amargo do poeta em relação ao fluir do tempo, ou em relação ao que a vida nos promete e não cumpre, metaforizado aqui no mês de maio, que ao invés do florir do céu, ou do solar banho de ouro, trouxe chuva e lama; ao invés do frio discreto, trouxe esse gelo cinza e triste; ao invés de Ingrid Bergman (bela atriz de cinema), trouxe pão velho; prometeu poema e trouxe entrevista de mau humor, sem para-raio, prejudicando até o amor: Ó namorados de galochas! O tempo, em seu cavalo baio, varre o azul e o amor, a galope... Não é maio! "Lira romantiquinha" é uma singela e delicada composição de amor em sete quadrinhas de versos de cinco sílabas (redondilhas menores) e rimas alternadas. É uma declaração de amor de um eu lírico masculino ao ciumento objeto amoroso feminino. Se ela não atende a seus apelos e seus protestos de amor eterno, que se sensibilize pelo menos com sua tentativa de poetar: Minh'alma chove frio, tristinho. Não te comove este versinho? Para fechar a Antologia, o poeta brada um fervoroso pedido de que não o perturbem mais em "Apelo a meus dessemelhantes em favor da paz". O eu lírico declara solenemente que não quer ler mais, não quer saber de fazer prefácios nem posfácios. O poeta não está para ninguém, sua empregada recebe a ordem de proferir as terríveis palavras que o afastam definitivamente do contato com o mundo, palavras que o repórter Sebastião Martins teve que enfrentar: O senhor saiu. Hora que volta? Nunca. Nunca de corvo, nunca de São Nunca. Saiu pra não voltar O urso-polar, que se declara tão velho que viveu sua juventude na era A.C. , vai além: não quer sorrir para ninguém, não quer agradecer nada, não quer participar de noites de autógrafos, nem responder nada a garotos de colégio, não quer saber de fotos, quer que o esqueçam: Quero a paz das estepes a paz dos descampados a paz do pico de Itabira quando havia pico de Itabira a paz de cima das Agulhas Negras A paz de muito abaixo da mina mais funda e esboroada de Morro Velho 124