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Medicina - uma história (2)

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MEDICINA: UMA HISTÓRIA
Marcos Rogério de Castro Frank
Claudete Rempel
I S B N 9 7 8 - 6 5 - 8 6 6 4 8 - 7 6 - 8
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Marcos Rogério de Castro Frank
Claudete Rempel
Medicina: uma história
1ª edição
Lajeado, 2022
MEDICINA: UMA HISTÓRIA
Marcos Rogério de Castro Frank -- Claudete Rempel2
E59
Medicina : uma história / Marcos Rogério de Castro Frank, 
Claudete Rempel – Lajeado : Editora Univates, 2022.
83 p.
ISBN 978-65-86648-76-8
1. Medicina. 2. História. I. Frank, Marcos Rogério de Castro. II. 
Rempel, Claudete. III. Título.
CDU: 61(091)
Catalogação na publicação (CIP) – Biblioteca Univates
Bibliotecária Maria Helena Schneider – CRB 10/2607
As opiniões e os conceitos emitidos, bem como a exatidão, 
adequação e procedência das citações e referências, são de exclusiva 
responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a 
visão do Conselho Editorial da Editora Univates e da Univates.
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Reitora: Profa. Ma. Evania Schneider
Vice-Reitora e Pró-Reitora de Ensino: Profa. Dra. Fernanda Storck Pinheiro
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Prof. Dr. Carlos Cândido da Silva Cyrne
Editora Univates
Coordenação: Prof. Dr. Carlos Cândido da Silva Cyrne
Editoração: Marlon Alceu Cristófoli
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MEDICINA: UMA HISTÓRIA
Marcos Rogério de Castro Frank -- Claudete Rempel 3
PREFÁCIO
Todos sabemos que não foram poucas as contribuições dos antigos gregos à civilização 
ocidental. Uma delas foi libertar o conhecimento médico da superstição e da religião e trazê-lo 
para as causas naturais. Embora hoje tal afirmação possa parecer banal, ela é responsável por 
uma guinada radical no conhecimento: primeiro, das causas e, mais tarde, quanto ao tratamento 
das patologias.
A descrição dos sintomas feita por Hipócrates era tão acurada, que até nos dias de hoje 
pode ser usada. Vejam, por exemplo, sua descrição da melancolia (a atualíssima depressão): 
“aversão à comida, falta de ânimo, insônia, irritabilidade e inquietação”. Na explicação das 
causas, nada de deuses ou demônios, mas, sim, o desequilíbrio orgânico.
Infelizmente, a Europa Medieval foi sítio de pragas terríveis como a peste negra e de um 
retrocesso no pensamento científico, que teimava em dividir o mundo entre pios e pecadores. 
Não havia hospitais, e as pessoas eram tratadas em suas casas: rezas, ervas, ar fresco e comidas 
leves. Sobreviver e ficar velho (quarenta anos) não era nada fácil naqueles dias.
Surge a renascença. Onde os velhos clássicos gregos podem ser estudados com mais 
tranquilidade. Os primeiros hospitais são mais para segregar do que para curar, já que lá eram 
depositados também os leprosos e os lazarentos. Não tinham fins lucrativos; por isso, são os 
embriões dos nossos hospitais de caridade.
Mas o tempo não para. Lá pelos idos de 1550, já havia uma cultura médica escrita, 
principalmente em latim (o início do uso do jargão), enquanto a universidade de Pádua inovava 
com as disciplinas de matéria médica e anatomia.
Após as publicações de Willian Harvey sobre circulação em 1628, houve uma explosão 
de escolas médicas por toda a Europa. As cidades cresceram, os costumes mudaram e o médico 
era visto não mais como um prático, mas, sim, como o detentor de um saber científico.
Ele ainda não curava muitos males, mas sabia explicar direitinho como aconteciam.
O século XIX trouxe inúmeras mudanças. Marx e Engels publicaram o manifesto 
comunista, enquanto Charles Darwin falava da origem das espécies: evolução e não criação 
divina. Na área médica, Rudolph Wirchow proclamava “omnis cellula e cellula”: todas as células 
se originam de outras células e todas as doenças são doenças de células. O mundo estava pronto 
para aceitar os invisíveis seres de Pasteur e Koch, os germes.
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De lá para cá, a física e a química se encarregaram de armar os médicos. Não mais 
espectadores, mas, sim, atores, os médicos experimentaram um reconhecimento nunca antes 
provado. Seu conhecimento, a linguagem indecifrável, o acesso a novos medicamentos e a novos 
exames, as roupas brancas e a possibilidade jamais sonhada de trocar órgãos em seres vivos os 
transformou numa espécie de semideuses.
Arrogantes como Ícaro, os médicos do século XX não sugeriam, afirmavam como fazer. 
Diagnóstico e tratamento não eram coisas para discutir com esses pobres mortais, os pacientes. 
Embora, nesta descrição, o leitor ainda possa enxergar muitos que estão na ativa, os tempos são 
outros. Afinal, já estamos no século XXI.
Até há poucos anos, a imagem do médico trazia à mente um homem branco, com 
autoridade inquestionável. A liberação feminina, a luta das minorias e o surgimento de novas 
categorias profissionais ligadas à saúde mudaram drasticamente esse panorama. Por outro lado, 
a geração pós-guerra (os baby-boomers) e o aparecimento dos planos de saúde transformaram os 
pacientes em clientes ou, por que não dizer, em consumidores.
A imagem paternalista ruiu. Cada vez pior remunerado pelos planos de saúde, 
amedrontado pelos processos judiciais e intimidado por clientes repletos de informações, o 
médico tenta reinventar-se. Não dita mais o tratamento, antes expõe as opções. Diminuído o 
valor do seu trabalho, espreme seu horário e, no meio de tantos pacientes, sacrifica o humano 
pelo técnico. Assustado com a pressão judicial, tenta dividir a responsabilidade com mais 
colegas. O médico desse novo milênio é um ser encurralado.
Pontos para os pacientes? Não é o que parece. Sua nova responsabilidade de escolher o 
melhor tratamento também amedronta e surge a pergunta: o que o senhor faria no meu lugar? 
Com tanta informação agora disponível, como separar o joio do trigo? A escolha do médico 
também deixou de ser livre. Afinal, o mais competente nem sempre atende pelo convênio do 
paciente. O papel do paciente/cliente neste novo milênio é paradoxal: repleto de informações, 
mas abandonado. Ele não se relaciona mais com o seu médico. Ele agora pertence a um plano 
de saúde.
Os textos apresentados são baseados em leituras, viagens, filmes dos autores; por 
isso, muitas vezes, não apresentam citações precisas das fontes utilizadas para o relato das 
informações.
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SUMÁRIO
MEDICINA PRIMITIVA....................................................................................................................... 7
A magia como parte do dia a dia ...................................................................................................... 7
MEDICINA EGÍPCIA .........................................................................................................................10
MEDICINA CHINESA .......................................................................................................................12
China Antiga ....................................................................................................................................12
A era imperial chinesa ......................................................................................................................13
1973 - O Mundo Descobre a Medicina Tradicional Chinesa .............................................................18
Diagnóstico em MTC .......................................................................................................................18
Tratamento em MTC ........................................................................................................................19
MEDICINA GRECO-ROMANA ........................................................................................................ 20MEDICINA GREGA ......................................................................................................................... 22
MEDICINA NO MUNDO ÁRABE ..................................................................................................... 27
MEDICINA NA IDADE MÉDIA ......................................................................................................... 30
MEDICINA NO RENASCIMENTO ....................................................................................................37
MEDICINA PRÉ-COLOMBIANA ...................................................................................................... 40
Astecas ........................................................................................................................................... 40
Maias .............................................................................................................................................. 42
Incas ............................................................................................................................................... 44
MEDICINA DOS SÉCULOS XVII E XVIII ..........................................................................................47
MEDICINA DO SÉCULO XIX ...........................................................................................................51
HISTÓRIA DA MEDICINA DE URGÊNCIA .......................................................................................57
MEDICINA DO SÉCULO XX ........................................................................................................... 62
HISTÓRIA DA MEDICINA NO BRASIL ............................................................................................67
HISTÓRIA DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE ................................................................................. 79
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 83
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MEDICINA PRIMITIVA
Medicina é uma palavra derivada de mederi (do latim), que significa curar, cuidar, medicar. 
Desde o início da formação de espécies humanas, há cerca de um milhão de anos, o homem 
se preocupa com a cura de seus males. A doença é mais antiga que o homem, provavelmente, 
existe desde que surgiu a vida no planeta. As bactérias, que habitam a terra há 3,8 bilhões de 
anos, estão entre os principais agentes etiológicos das doenças. Nosso mais antigo ancestral com 
evidências de doença óssea era um Homo erectus, de 800.000 anos atrás.
As lesões ósseas são as mais claramente vistas: exostoses, sinais de artrites, traumas, 
tumores e malformações congênitas podem ser observados em fósseis do homem que viveu 
no paleolítico. As múmias egípcias, com cerca de 4.000 anos, são as fontes mais ricas para 
estes estudos. Nelas, estão bem documentadas lesões como tuberculose óssea (mal de Pott), 
mastoidites, doença de Paget dos ossos e pé torto congênito. Nas partes moles e vísceras, tem 
sido possível identificar arteriosclerose, pneumonia, pleurites, cálculos renais, biliares, além de 
apendicites e lesões cutâneas, semelhantes às da varíola e da esquistossomose.
Ao conjunto das crenças e práticas relacionadas à tentativa consciente do homem de 
combater as enfermidades, dá-se o nome de medicina primitiva. Já o estudo dos vestígios 
destas ações médicas é chamado de Paleomedicina.
No entanto, por falta de registros, o estudo da medicina primitiva manteve-se em nível 
de conjecturas. As evidências escassas e duvidosas dificultam a avaliação de como o homem do 
neolítico realmente se tratava.
Pesquisas de paleontologia e de antropologia apontam para uma medicina ligada 
a práticas mágicas e sacerdotais. Já quanto ao emprego de drogas ou plantas medicinais, é 
impossível responder com certeza.
Por outro lado, a partir do estudo de esqueletos, é possível afirmar que as fraturas 
foram reparadas por imobilizações, conservando o eixo dos ossos partidos, ainda que com 
o cavalgamento dos fragmentos, o que demonstra a ausência da tração necessária para o 
alinhamento correto.
A magia como parte do dia a dia
Entre os povos primitivos, não havia distinção clara entre religião, mágica e medicina. 
No entanto, esses povos eram capazes de reconhecer e fazer a distinção entre condições comuns 
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(envelhecimento, tosse, cansaço) e doenças causadas por espíritos ou forças malignas. Como 
acreditavam em poderes sobrenaturais, esses povos estavam psicologicamente preparados para 
os efeitos da magia. Dependendo da sociedade, os espíritos eram divididos em bons e maus, ou 
eram maus quando zangados e bons quando estavam em paz. 
No mundo primitivo, pessoas doentes ou debilitadas eram tratadas de forma diferente, 
de acordo com a cultura do povo. Algumas eram tratadas com carinho e aceitação. Já outros 
povos as tratavam de maneira hostil, induzindo-as ao abandono, ao suicídio ou mesmo ao 
canibalismo.
Entre os esquimós, em tempos de fome, os velhos e doentes eram abandonados, 
desabrigados. Já entre os índios norte-americanos (navajos e cherokees), eles eram aceitos e 
tratados de forma gentil.
Os doentes mentais eram vistos de maneira semelhante. Algumas culturas os 
consideravam espíritos maus, que deveriam ser expulsos ou mortos, enquanto outras os viam 
como forças espirituais que deveriam ser respeitadas. Entre os esquimós, por exemplo, ter um 
ataque psicótico podia qualificar alguém para ser o xamã da tribo.
Naqueles tempos, o cuidador dos doentes era chamado de Shaman (Xamã) entre os 
índios norte-americanos e bruxo, entre os africanos do Congo. Eles possuíam poderes políticos 
e sociais diferenciados. Os xamãs também eram responsáveis por protegerem seu povo de 
catástrofes naturais, da perda de colheitas e até mesmo do mau tempo.
Em algumas tribos, um xamã era responsável por todos os eventos e doentes. Em 
outras, havia “especialistas”. No Congo, havia um bruxo para cada evento ou doença. O mesmo 
acontecia com os índios do Arizona, onde havia especialistas para o clima, para as doenças, para 
traumas e para picada de cobra.
Esses médicos primitivos se diferenciavam dos demais humanos da época: na Sibéria, os 
xamãs usavam um tambor, um chapéu especial, máscaras e um casaco com elementos mágicos 
e simbólicos. Já os “medicine man” carregavam em seu saco (muitas vezes um escroto humano), 
partes de corpos de animais e humanos, plantas, pedras e paus.
Se fôssemos comparar com a medicina atual, a dinâmica da medicina primitiva seria 
assim:
» Causas das doenças: deuses, espíritos ou magia.
» Diagnóstico: determinar a ofensa cometida e por quem.
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» Terapêutica: após a anamnese, o “doutor”, normalmente em transe, consultava os 
deuses.
» Métodos auxiliares do diagnóstico: ossos, reação de animais, contas.
» Tratamento: cerimônias, cânticos, sinais místicos, feitiços, sangramentos, fumigação, 
banhos de vapor
Embora a explicação sempre fosse sobrenatural, havia um empirismo em algumas 
técnicas curativas utilizadas, como, por exemplo, as massagens e a utilização de drogas. Muitos 
povos já tinham conhecimento do poder curativo de plantas.
A cirurgia entre os primitivos consistia no tratamento de feridas e de fraturas. 
Embora fossem aplicados unguentos e outras substâncias sobre as feridas, as infecções eram 
extremamente comuns. Hemorragias eram controladas por pressão, torniquete ou cauterização 
e a retirada de lanças e flechas era realizada com grande habilidade. Entre os índios americanos, 
fraturas eram tratadas com a imobilização por talas de madeira.
Mecanismos para a redução da dor, a grande inimiga de todos os tempos, já estavam 
presentes nesses tempos imemoriais. Na África Central, eram utilizadas bebidas com álcool, 
para diminuir os sentidose aliviar as dores da ferida. Havia também algumas plantas que, 
quando aplicadas sobre a pele, provocavam amortecimento e permitiam suportar o calor das 
cauterizações ou a dor de instrumentos cortantes.
Trepanações eram realizadas entre algumas culturas primitivas, principalmente, nas 
andinas, com objetivos ritualísticos ou, então, era uma maneira de deixar os espíritos partirem. 
Outra preocupação constante era o nascimento dos filhos. O parto, normalmente, ficava em 
mãos femininas. Os grupos nômades tinham menos preocupação com a puérpera que os grupos 
assentados. Nos primeiros, a mulher já voltava ao trabalho logo após o nascimento do filho; já 
no segundo grupo, havia um intervalo de dias ou semanas até o retorno às atividades.
Muitas doenças eram contagiosas e podiam liquidar com uma população. Muito 
antes do período colonial, tribos africanas praticavam um método de vacinação chamado 
de variolação, que consistia em colocar secreção das feridas da varíola debaixo da pele, para 
provocar imunidade contra a doença.
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MEDICINA EGÍPCIA
O conhecimento da medicina egípcia provém basicamente de dois documentos: o 
Papiro de Ebers e o Papiro de Smith. Esses documentos datam de meados do segundo milênio 
a.C., mas codificam conhecimentos muito mais antigos. O Papiro de Ebers detalha não apenas 
os encantos a serem usados para doenças específicas, mas também relaciona vários remédios 
práticos. Os tratamentos medicamentosos incluem o uso de óleo de castor como laxante e 
folhas de salgueiro e casca de árvores (que continham ácido acetilsalicílico, princípio ativo da 
aspirina), para acelerar a cura.
O mesmo papiro ainda relata conhecimentos avançados em reprodução e anticoncepção: 
“para permitir à mulher cessar de conceber por um, dois ou três anos”(...) se indicava “juntar 
partes iguais de acácia, caroba e tâmaras, moer junto com um henu de mel, um emplastro 
é molhado nele e colocado em sua carne”. Um “henu” equivale a cerca de 450 mililitros. A 
acácia continha goma arábica, que, com a fermentação e a dissolução em água, resulta em ácido 
lático, ainda hoje utilizado em algumas geleias contraceptivas. O mel, que também aparece no 
papiro Kahun, pode ter tido alguma eficácia, já que seu efeito tende a diminuir a mobilidade do 
espermatozoide.
Quando havia suspeita de gravidez, eram feitos testes com a urina. A mulher urinava 
num recipiente com uma variedade de cevada. Se ela germinasse, a gravidez estava confirmada. 
Independentemente do percentual de acertos, o mais notável é o conhecimento da relação entre 
a composição da urina e a gravidez, há milhares de anos antes de Cristo.
Outro costume entre os egípcios era o hábito de tomar o pulso do paciente como forma 
de avaliar sua saúde. Essa técnica também é descrita no papiro Ebers, que data de 1550 a.C.: “O 
batimento cardíaco deve ser medido no pulso ou na garganta”.
Já o Papiro de Smith nos fornece relatos de casos detalhados e descreve a remoção de 
cistos, a circuncisão masculina, o reposicionamento de ossos e o estancamento de hemorragias 
por pressão.
Esses documentos descrevem cirurgias delicadas, o engessamento de membros com 
ossos quebrados e todo o sistema circulatório do corpo humano. Supostamente, os egípcios 
aprenderam muito sobre a anatomia humana, a partir da prática de mumificar corpos. Os 
papiros mostram que eles entendiam as funções da maioria dos órgãos, embora tenham 
invertido os papéis do cérebro e do coração. Os egípcios acreditavam que o cérebro bombeava o 
sangue e o coração controlava sentimentos e pensamentos.
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O desenvolvimento da medicina foi motivado, principalmente, pela quebra de um mito 
em relação à violação do corpo humano. Outros povos da época, como sumérios e assírios, 
acreditavam que, se o corpo fosse aberto, a alma escaparia. Obviamente, essa crença sempre foi 
um impedimento para experimentos médicos.
Um dos melhores exemplos disso é o conhecimento sobre o sistema circulatório. O 
corpo de Ramsés II (1279 a.C. a 1212 a.C.) teve suas veias e artérias retiradas, mumificadas 
e recolocadas. Esse conhecimento da circulação sanguínea é responsável por um costume que 
persiste até hoje: o uso da aliança de casamento. Para os egípcios, do coração partiam veias que 
o ligavam diretamente a cada um dos membros. Na mão esquerda, essa veia terminava no dedo 
anular. Acreditando que o coração era o centro de tudo e que ele está ligeiramente deslocado 
para o lado esquerdo do peito, os casais passaram a colocar uma fita no dedo anular esquerdo, 
como forma de prender o coração do amado.
O uso de anestésicos era prática comum dos médicos da época. Era conhecido um 
processo de adormecimento de partes do corpo, feito com a utilização de uma mistura de pó de 
mármore e vinagre. Havia também os anestésicos à base de opiáceos, que eram ingeridos. Esses 
antecessores da morfina só voltaram a fazer parte dos procedimentos cirúrgicos, há cerca de três 
séculos, na Europa. Os egípcios dominavam métodos avançados de amputação de membros 
e de cauterização e davam pontos para fechar incisões. Acredita-se que foram os primeiros a 
utilizar essa técnica.
A prática médica era altamente organizada, pelo menos, para a elite da sociedade. Os 
médicos, chamados de swnu, especializavam-se em determinados órgãos do corpo ou em 
doenças. Alguns, por exemplo, tratavam dos olhos; outros, dos dentes; outros, dos intestinos. 
Também havia swnu mulheres. A especialização incluiu o surgimento dos odontólogos, que já 
usavam brocas, drenavam abscessos e faziam próteses de ouro.
No topo da hierarquia médica, estavam os médicos-sacerdotes. O mais celebrado foi 
Imhotep, que servia como vizir-chefe ao faraó Zoser, no início do 3º milênio a.C. Ele era 
sacerdote e astrólogo, projetista de pirâmides e um médico renomado. Imhotep, posteriormente, 
recebeu status de divindade. Os santuários dedicados à sua devoção se tornaram centros de cura.
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MEDICINA CHINESA
China Antiga
Neste período, três dinastias iniciaram o processo de ocupação territorial e a formação 
étnica do povo chinês. A primeira delas é conhecida como Xia (2200 a.C. - 1750 a.C.). Os Xia, 
que ocuparam o Vale do Rio Amarelo (considerado o berço da civilização chinesa), foram os 
precursores do sistema de escrita, criado na dinastia Shang, além de introduzirem a agricultura, 
a medicina, o comércio e o casamento.
A distinção entre alimentos venenosos e comestíveis e a descoberta do fogo que facilitou 
a digestão dos alimentos são algumas das descobertas dos Xia. Também são dessa época, os 
primeiros relatos sobre a moxabustão e a acupuntura.
A segunda foi a Dinastia Shang (1750 a.C. – 1040 a.C.), que desenvolveu o uso de 
peças de bronze e formou uma vasta civilização caracterizada pela divisão da sociedade entre 
os nobres, habitantes das cidades-palácios, e os camponeses. Sua organização política era 
monárquica, embora o poder do monarca, na prática, se limitasse ao campo religioso. Além 
disso, essa dinastia ficou conhecida, principalmente, pelo desenvolvimento do sistema de escrita 
gravado em peles de animais. Durante o reinado dos Shang, foram inventados o calendário 
chinês e o arco e a flecha.
Os Shang acreditavam que a sua existência estava intimamente ligada ao universo e que 
eles estavam localizados no centro, com o céu posicionado acima e a terra posicionada embaixo. 
Eles também acreditavam que a terra era “lisa e dividida em três quadrados concêntricos”. 
O “Conceito de Universo” foi usado para explicar as leis da natureza. Eles estabeleciam 
relações entre o cosmos e os humanos. Por exemplo, a pele do corpo humano correspondia à 
textura lisa da terra; os cinco órgãos internos, aos cinco elementos, madeira, fogo, água, terra e 
metal; os olhos e os ouvidos, ao o sol e à lua nos céus.
A dinastia Shang, enfraquecidapela pressão dos povos vizinhos, foi substituída pela 
dinastia Zhou (1100 a.C. – 771 a.C.). Reconhecida como a principal fundadora da civilização 
chinesa, esta dinastia controlou a região do chamado Reino Médio. Os Zhou foram responsáveis 
pelas primeiras criações de peças com ferro, que ajudaram a conter as ameaças às fronteiras, e 
pela elaboração de distintos sistemas de pensamento filosófico: o confucionismo e o taoísmo.
MEDICINA: UMA HISTÓRIA
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Confúcio (557 a.C. - 479 a.C.), um reformista social e professor, queria restaurar 
a ordem nesta altura do caos. O seu contemporâneo, Lao-tsé (nascido em 590 a.C.), foi o 
fundador do Taoísmo. Os ensinamentos taoístas eram mais filosóficos, enquanto que os de 
Confúcio eram mais práticos. Ainda hoje, as duas filosofias, que ajudaram a moldar a prática da 
Medicina Chinesa, são importantes na cultura chinesa.
Segundo a filosofia do tao (“caminho”, em chinês), a natureza é harmônica e organizada, 
mas, em constante mutação. Ela influenciou fortemente o budismo e o confucionismo, além de 
outras fontes da medicina chinesa. 
Na visão dos orientais, tudo o que existe no Universo é feito de energia, inclusive, o ser 
humano. Sendo assim, para que haja saúde física e mental, a energia deve fluir e circular pelo 
corpo em equilíbrio e harmonia - os dois estados responsáveis pela ordem das coisas na natureza. 
“Quando há bloqueio ou estagnação de energia no organismo, surgem as doenças”. Sob essa 
perspectiva, nenhuma parte do corpo ou da psique pode ser levada em conta individualmente.
Os orientais chamam a energia universal de qi (pronuncia-se tchi). Por volta do ano 
50 d.C., o filósofo taoísta Wang Chong assim definiu a vida e a morte: “O qi forma o corpo 
humano da mesma forma que a água se transforma em gelo. E, assim como o gelo derrete, o 
corpo que morre volta a ser espírito”. 
Um médico notável deste período foi Bian Que. As suas habilidades eram baseadas 
fundamentalmente em quatro procedimentos de exame da Medicina Chinesa: ele observava 
a língua, a orelha, a face, os olhos, a boca e a garganta do seu paciente; ouvia a fala dos seus 
pacientes, a tosse, além de outras vibrações corporais; anotava a história completa do problema 
do paciente e, por fim, sentia o pulso do paciente. Bian Que também achava que a doença era 
causada pelo desequilíbrio do Yin e do Yang.
A era imperial chinesa
A Primeira Era Imperial inicia-se com a ascensão da dinastia Qin (221 a.C. - 206 a.C.), 
que foi de vital importância para a China. Ela lançou as bases do império, formou grande parte 
do atual território chinês e foi responsável pelo processo de centralização político-administrativa 
que garantiu a unidade dos territórios. 
A dinastia Han (206 a.C. a 220 d.C.) manteve grande parte da estrutura político-
administrativa implementada pelos Qin. Os Han também adotaram uma política expansionista 
que resultou na conquista de vários territórios e coincidiu com um período de expansão 
comercial e agrícola. No campo ideológico, essa dinastia fez do confucionismo, a doutrina 
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oficial do estado, enquanto a Literatura e as Artes tiveram intenso desenvolvimento. 
Importantes avanços tecnológicos também fizeram parte deste período, com a invenção do 
papel e da porcelana.
A aprendizagem era uma via importante para educar os novos médicos na Dinastia 
Han. Essas aprendizagens eram essencialmente ensinadas pelas famílias. O prestígio de um 
médico era baseado na quantidade de gerações que a família praticava Medicina. A seleção 
dos aprendizes era feita através de processo escrito. Outra maneira de se tornarem médicos era 
o estudo das prescrições feitas por outros médicos nas farmácias ou por uma medicina com 
autoestudo.
Os exames para o recrutamento de médicos qualificados foram introduzidos na Dinastia 
Han. O Imperador Yuan, em 43 a.C. pediu que todos os seus assistentes oficiais que eram 
médicos fossem testados. 
É interessante observar que este exame não era necessariamente baseado em 
conhecimentos médicos, mas na capacidade de ser “simples na vida, honesto, político na vida 
social e bom na conduta”. Um serviço médico básico também foi introduzido nesta Dinastia. 
Os médicos eram divididos em dois grupos: os médicos da corte imperial, que atendiam o 
Imperador; e os que atendiam o exército e as pessoas comuns.
Um dos livros médicos mais importantes da Medicina Chinesa apareceu na Dinastia 
Han. Shennong Bencaojing (Classic of Herbal Medicine) foi escrito entre o 1º e o 2º século 
a.C., considerado a primeira Farmacopeia Chinesa completa. Este livro lista um total de 356 
medicamentos chineses, dos quais, 252 são de origem vegetal, 67 de animais e 46 de minerais. 
Wang Shuhe (265 d.C. - 317 d.C.) escreveu o Maijing, que era uma compilação de 
todo o conhecimento sobre o diagnóstico pelo pulso. Na Medicina Chinesa, sentir o pulso é, 
provavelmente, a técnica de exame mais importante, porque, como o pulso flui, indica diferentes 
patologias. Neste livro, foram identificados 24 diferentes tipos de pulso. 
Na Segunda Era Imperial, a China passou por um processo de reunificação territorial e 
de reorganização política, econômica e social, empreendido pela dinastia Sui (589 d.C. – 618 
d.C.). Os Sui conduziram um intenso processo de centralização política e a criação de um 
rigoroso sistema de contribuição social, que incluía o pagamento de impostos e a participação 
em trabalho compulsório.
Sun Simiao, um dos médicos mais influentes da história da Medicina Chinesa, 
distinguiu-se por aplicar o código ético na medicina. O seu interesse pela medicina surgiu 
devido ao seu frágil estado de saúde (ele foi seu primeiro paciente). Seus conhecimentos em 
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medicina, no Budismo, no Confucionismo e no Taoísmo, contribuíram para que fosse procurado 
pelos imperadores, mas ele preferiu continuar servindo o povo.
Ele acreditava que a melhor maneira de curar um paciente era prevenindo a doença. Os 
seus trabalhos mais conhecidos são: Qianjin Yaofang e Qjianjin Yifang. Após ter tratado 600 
casos de lepra, foi considerado o primeiro perito na matéria. Ele achava que a vida poderia ser 
prolongada com medidas como exercícios de respiração (Qi Gong), exercício físico regular e 
massagem terapêutica.
Depois desta fase, marcada pela descentralização política, a Dinastia Song (960 d.C. 
– 1279 d.C.) conseguiu reimplantar a unificação dos territórios. Ao estabelecer sua dinastia, 
os Song elevaram o crescimento econômico e estimularam o desenvolvimento cultural, com 
a difusão de textos impressos, a renovação das doutrinas confucionistas e a ascensão do 
neoconfucionismo. A força desse conjunto de ideias foi responsável por um período de grande 
estabilidade nos campos político, social e ideológico na China.
Nessa época, surgiu a teoria das três causas. Chen Yan escreveu que existem três tipos de 
agentes patogênicos (sanyin): os endógenos, os exógenos e os que não são nem um nem outro. 
Essas influências conduzem a um desequilíbrio entre o Yin e Yang no corpo, entre a energia 
vital (Qi) e o sangue, ou desemparelham funções dos órgãos e meridianos que conduzem a 
doenças.
Os estudantes também ficaram mais familiarizados com a anatomia, depois que foram 
disponibilizadas as ilustrações desenhadas pelo físico/poeta Yang Jie (1068 -1140 d.C.), a partir 
de autópsias feitas em prisioneiros. Outro avanço na educação médica foi a construção de duas 
estátuas de bronze do tamanho de um homem, por Wang Weiyi (987 -1067 d.C). Essas estátuas 
tinham 657 pontos de acupuntura que estavam cheios de água e fechados com cera. Quando o 
estudante acertava no ponto, saía água.
Zhang Congzeng (1150 - 1228 d.C.) trouxe uma abordagem inovadora no tratamento. 
Era um médico militar, que escreveu o livro Rumen Shiqin (Therapies for Scholars), baseado 
em observações e pesquisas. Contudo,a sua teoria mais conhecida é as “seis portas e os três 
métodos”. As “seis portas” referem-se às seis influências (vento, calor, verão, umidade, fogo, 
secura e frio). Já os três métodos referem-se aos regimes terapêuticos usados para induzir a 
transpiração, o vômito e a purgação. Ele achava que as influências maléficas vinham do céu, da 
terra e do comportamento humano; logo, para curá-las, era preciso expeli-las.
A invasão mongol na China e a dominação do território chinês, em meados do século 
XIII, consolidaram uma nova fase da história política da China. Kublai Khan derrotou os Song 
MEDICINA: UMA HISTÓRIA
Marcos Rogério de Castro Frank -- Claudete Rempel16
e unificou todo o território chinês, estabelecendo a Dinastia Yuan (1279 – 1368 d.C.). Os 
mongóis nômades estavam constantemente envolvidos em atividade militar, o que facilitou o 
desenvolvimento da medicina externa. Durante a Dinastia Yuan, Qi Dezhi, no seu trabalho 
Waike Jingyi (The Essentials of External Medicine), descreve vários métodos usando cirurgias 
menores, mas também lista remédios, fazendo uso de decocções, comprimidos, pós e pomadas. 
Ele acreditava que os problemas de pele eram uma consequência do desequilíbrio do yin e do 
yang. 
Fica como sugestão o filme “Marco Polo”, de 2007, dirigido por Kevin Connor, que 
descreve a viagem de Marco Polo, um comerciante veneziano, à China, onde ele é aceito como 
emissário dentro da corte de Kublai Khan. 
Wei Yilin, um contemporâneo de Qi Dezhi, especializou-se em ortopedia. Foi pioneiro 
no método de suspensão para a redução das articulações. Somente em 1927, este método foi 
introduzido no ocidente, pelo inglês Davis. A Dinastia Qing (1644 - 1911 d.C.) alcançou o 
poder, num período delicado na China, tendo em vista as contradições geradas pela visão de 
mundo isolacionista dos Ming, os problemas de ordem interna e a aproximação dos países 
capitalistas ocidentais. Durante essa dinastia, a população chinesa cresceu bastante e realizou 
importantes expansões territoriais. 
Em virtude dessas expansões e com a chegada dos europeus, durante o século XVI, deu-
se início ao contato dos chineses com o Ocidente e com a medicina Ocidental. Esse contato 
com povos estrangeiros somente era aceitável por motivos comerciais. No âmbito cultural, os 
valores das demais nações eram vistos como inferiores à cultura chinesa.
Tang Zonghai (1846-1897) foi considerado o pai da convergência, por ter tido o 
benefício de estudar ambas as medicinas. No livro de 1892, Zhongxi Huitomg Yijing Jingjyi, ele 
juntou as convergências e formou um único sistema. Listou as vantagens e as desvantagens de 
cada sistema e apoiou as mudanças da Medicina Chinesa Ocidental. 
Em 1949, Mao Tse Tung e seu partido comunista venceram a guerra civil e proclamaram 
a República popular da China. Em 1958, no início da campanha “Mao’s Great Leap Forward”, 
a Medicina Chinesa novamente sofreu alterações. Mao revelou a sua visão de Zhong xi yi jiehe, 
que quer dizer “Integração da Medicina Ocidental e Oriental”. 
A sua ideia era inserir algum rigor da ciência moderna no desenvolvimento futuro 
da Medicina Chinesa. Essa ideia conduziu a uma escolha de 2000 médicos chineses muito 
treinados na Medicina Ocidental, para receberem seminários especiais dedicados ao estudo da 
Medicina Chinesa, durante um período de dois anos. Apenas 200 se formaram neste programa. 
MEDICINA: UMA HISTÓRIA
Marcos Rogério de Castro Frank -- Claudete Rempel 17
A partir dessa política de integração de Mao, a prática de Medicina Tradicional Chinesa 
nos departamentos dos hospitais e a educação da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) foram 
reestruturadas, para introduzir algumas instruções da Medicina Ocidental. Na época, muitos 
doentes recorriam à MTC, quando as terapias Ocidentais falhavam.
Em 1966, Mao e seus aliados lançaram a Revolução Cultural, um programa de controle 
cultural, político e ideológico que duraria até a morte de Mao. Essa revolução foi fundamental 
para depurar o partido, afastando do poder os elementos moderados e estimulando o espírito 
revolucionário do povo. A revolução cultural paralisou o progresso material e tecnológico do 
país.
A Revolução Cultural (1966-1976) foi usada por Mao Tse Tung, para tentar voltar a 
ganhar poder e influência na área política. Ele jogou com a sensibilidade do povo para alcançar 
seu intento. Como resultado, a cultura tradicional, pensamentos e perspectivas foram esmagados. 
Os acadêmicos, professores, doutores e aqueles que tiveram uma boa educação tornaram-se 
alvos de campanhas, enquanto os agricultores, trabalhadores e pessoas sem instrução ganharam 
poder e influência nestes anos. 
Entre os anos de 1966 e 1971, não foi permitida a entrada de novos estudantes nas 
instituições acadêmicas. As escolas foram fechadas e centenas de estudantes foram enviados 
para o campo, para serem reeducados de acordo com os princípios do Mao.
Consequentemente, o currículo médico antigo foi apagado e a maioria dos praticantes 
médicos foi ou morta ou enviada para escolas de reeducação. As portas da aprendizagem agora 
estavam abertas aos trabalhadores e a outras pessoas de classes não privilegiadas. A admissão era 
baseada no conhecimento familiar. O estatuto político e os livros estavam cheios de cotas dos 
trabalhos realizados por Mao. Os que passavam por este sistema recebiam um treino mínimo 
em Medicina Chinesa e Ocidental. Este movimento permitiu a existência de “Médicos de pés 
descalços” que tinham muito pouco conhecimento médico. 
Os praticantes da Medicina Chinesa sofreram muito com este movimento. Um líder 
em Medicina Chinesa, Ren Yingqiu, foi banido para a Província Qing Hai (uma área ligada 
à Sibéria), com autorização para levar somente um livro, a Farmacopeia Li Shizen’s (Bencao 
Gangmu). A classe de 1963 foi a última a completar o currículo de MTC completo. Após o final 
da Revolução Cultural, em 1976, com a morte de Mao, os acadêmicos, artistas, profissionais e 
médicos de MTC e Ocidentais começaram, lentamente, a reemergir na sociedade.
MEDICINA: UMA HISTÓRIA
Marcos Rogério de Castro Frank -- Claudete Rempel18
1973 - O Mundo Descobre a Medicina Tradicional Chinesa
Baseados no conceito de que a saúde do homem é fruto do equilíbrio da energia vital, 
os chineses desenvolveram os métodos terapêuticos que compõem seu repertório: além da 
acupuntura, a fitoterapia (o uso de plantas medicinais em forma de chás, extratos e cápsulas); 
a dietoterapia (que combina cores e sabores dos alimentos); as massagens (como o tui na e o 
shiatsu) e os exercícios físicos, (como o tai chi chuan e o lian gong).
Diagnóstico em MTC
» observar (望 wàng);
» ouvir e cheirar (聞 wén);
» perguntar sobre o histórico do paciente (問 wèn);
» palpar o pulso, o tórax e o abdômen, várias partes do corpo, os canais e os pontos 
(切 qiè).
Tomada do pulso, da artéria radial do paciente, em seis posições distintas, para avaliar o 
fluxo de energia em cada meridiano.
Observação da face do paciente.
Observação da aparência dos olhos do paciente.
Observação da aparência da língua do paciente.
Observação superficial da orelha.
Observação do som da voz do paciente.
Palpação do corpo do paciente, especialmente, do abdômen.
Comparações da temperatura em diferentes partes do corpo do paciente.
Observação da veia do dedo indicador em crianças pequenas.
Tudo mais que possa ser observado sem instrumentos e sem ferir o paciente, como uma 
conversa levantando seu histórico de saúde e suas queixas atuais.
A partir das informações reunidas desta forma pelo terapeuta, é elaborado um 
diagnóstico usando como referência um sistema para classificar os sintomas apresentados. 
MEDICINA: UMA HISTÓRIA
Marcos Rogério de Castro Frank -- Claudete Rempel 19
Tratamento em MTC
A Tui Na é uma forma de massagem chinesa. O tratamento acupuntuterápico consiste 
no diagnóstico e na aplicação de agulhas em pontos definidos do corpo. 
Moxabustão: uma espécie de acupuntura térmica, feita pela combustão da erva Artemisia 
sinensise Artemisia vulgaris.
Ventosaterapia: É um tipo de terapia adotado em diversas correntes da medicina 
tradicional que emprega ventosas.
Fitoterapia:
Terapia alimentar chinesa:
Exercícios físicos:
MEDICINA: UMA HISTÓRIA
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MEDICINA GRECO-ROMANA
A medicina greco-romana diz respeito àquela que era praticada pelos médicos gregos 
nos tempos do império romano. De fato, muitas personalidades que se destacaram na medicina 
greco-romana, tanto na área da medicina propriamente dita como na área da matéria médica, 
eram de origem grega.
Podemos dividir a medicina grega em três períodos históricos importantes: 
» Período pré-hipócrates – vai desde o início da medicina propriamente dita até 460 
a.C. 
» Período clássico – de 460 a.C. até 146 a.C. 
» Período greco-romano – de 146 a.C. até 476 d.C.
Para entender melhor esse período, é preciso conhecer e entender a mitologia grega.
O deus chefe da medicina era Apolo (filho de Zeus): deus do sol. No sentido racional, 
havia uma certa lógica no fato de Apolo ser o principal deus, pois, desde a antiguidade, o Sol 
é associado ao crescimento das plantas, à purificação e ao bom estado de saúde em geral. Na 
mitologia, ele também é o médico dos deuses gregos, cujas feridas e doenças ele cura com a raiz 
de peônia.
A lenda também diz que Apolo e Ártemis, sua irmã gêmea e deusa da caça, transmitiram 
o seu conhecimento médico ao centauro Quíron, filho de Cronos, que, diferente dos outros 
centauros, era inteligente e bondoso. Ele, por sua vez, foi responsável pela educação de vários 
heróis como Jasão, Hércules e Aquiles. Um dos seus protegidos foi Asclépio (Esculápio), filho 
de Apolo e da ninfa Coronis.
Diz também a lenda que a ninfa traiu o deus com outro homem, enquanto estava grávida 
de Asclépio, tendo sido morta por Apolo. Todavia, enquanto o corpo da ninfa estava para ser 
cremado na pira funerária, Asclépio nasce e o deus arranca o bebê dali, salvando-o de uma 
morte certa. Através desta história, podemos perceber o principal objetivo da medicina antiga: 
a vitória da vida sobre a morte. 
Depois disso, Quíron ficou encarregado da educação do filho de Apolo. À medida que 
Asclépio ia crescendo, Quíron percebeu que ele manifestava talento e interesse na arte de curar 
e ensinou tudo o que sabia a Asclépio. Com o tempo, Asclépio ganhou mais conhecimento e 
reputação, tendo sido considerado pelos gregos como o melhor médico que já existiu.
MEDICINA: UMA HISTÓRIA
Marcos Rogério de Castro Frank -- Claudete Rempel 21
Todavia, por efetuar várias ressurreições, foi acusado por Hades (o deus dos mortos), 
irmão de Zeus, de diminuir as sombras que povoavam o seu reino; por isso, Zeus o matou com 
um raio. Quando Apolo tomou conhecimento do sucedido, insistiu com Zeus para que o filho 
fosse devolvido à vida, que assim o fez e o consagrou como deus da medicina.
Asclépio tinha duas filhas, Hygieia e Panacea, e dois filhos, Machao e Podalirio, 
que, inclusive, foram descritos na Ilíada, por Homero. O seu símbolo era um caduceu com 
uma serpente verde, enrolada cinco vezes em volta deste, e um cão. Depois da sua morte e 
ressurreição, Asclépio passou a ser objeto de adoração, tendo sido construídos vários templos 
em sua honra, por toda a Grécia.
Estes templos, construídos sobre colinas ou em encostas de montanhas próximas de 
nascentes termais, foram os primeiros centros de cura da Grécia. O doente era recebido pelo 
sacerdote do templo e, depois de rezas e oferendas ao deus, era induzido no sono através da 
administração de poções até o doente dormir.
Acreditava-se que, durante o sono, o deus aparecia no templo, em sonhos, para curar os 
doentes. Nos períodos mais antigos, quando os templos foram pela primeira vez abertos, o deus 
aparecia com os seus animais – serpente e cão -, que lambiam e tratavam as zonas doentes do 
doente, que ficava curado. À medida que a medicina avançava em termos de conhecimento, o 
deus já aparecia em sonhos mais elaborados e administrava poções e ervas para curar as maleitas.
Verdade ou não, a partir destes templos, surgiram as primeiras escolas médicas, nas quais 
se destacaram inúmeras personalidades e personagens da história da medicina greco-romana.
MEDICINA: UMA HISTÓRIA
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MEDICINA GREGA
Para além da mitologia, os gregos inventaram a medicina racional. Pela primeira vez, 
a medicina se via livre da magia e da religião e baseava seus princípios nas causas naturais. 
Contudo, no princípio, essa nova medicina era mais filosofia do que medicina. Podemos dividir 
a medicina grega em três períodos históricos importantes: 
» Período pré-hipócrates – vai do início da medicina propriamente dita até 460 a.C. 
» Período clássico – 460 a.C. até 146 a.C. 
» Período greco-romano – 146 a.C. até 476 d.C.
O primeiro grande colaborador da medicina grega foi Alcmeon (Séc. VI a.C.). Este 
grande mestre em anatomia e fisiologia descobriu os nervos ópticos e a trompa de Eustáquio, 
fez a distinção entre artérias e veias e formulou uma primeira e rudimentar explicação para as 
doenças, baseada em desequilíbrios do corpo. Foi o primeiro que caracterizou a saúde como 
sendo o equilíbrio de qualidades opostas (como o frio e o quente, o úmido e o seco, o doce e 
o amargo), no corpo humano, sendo a doença, o predomínio de uma delas; baseia-se também 
nas ideias de Pitágoras (560 a.C.-480 a.C.) sobre o equilíbrio, fundamentadas em proporções 
numéricas definidas.
Outro médico importante foi Empédocles (492 a.C.-?). Apesar da sua grande 
arrogância e de ter se dedicado a outras áreas, contribuiu para a medicina antiga com a teoria 
dos humores, baseada na teoria dos quatro elementos, que orientou todo o pensamento médico 
até o início do século XVIII.
Hipócrates (460 a.C.-370 a.C), considerado o pai da medicina, é o maior de todos os 
médicos da antiguidade. Criou, a partir da sua experiência, uma medicina prática, baseada na 
observação clínica e em métodos de diagnóstico baseados na inquirição, na análise do estado 
do doente – pulso, temperatura, excreções, dores específicas e movimentos do corpo - e no 
raciocínio.
Escreveu várias obras sobre ética médica, publicou estudos sobre doenças, saúde pública 
e nutrição e compilou as obras escritas pelos seus discípulos e mestres. Foi o primeiro médico 
da antiguidade a afirmar e a justificar a existência das patologias como distúrbios nos fluidos 
corporais - humoralismo. Finalmente, foi ele o primeiro a separar a filosofia de medicina.
A emancipação da medicina da mágica e da superstição nasceu em Mileto. Dali vem a 
convicção de que o homem é um produto do seu meio, feito das mesmas substâncias e sujeito 
MEDICINA: UMA HISTÓRIA
Marcos Rogério de Castro Frank -- Claudete Rempel 23
às mesmas leis físicas, totalmente independente da interferência sobrenatural. Hipócrates viveu 
nesse meio.
Depois dele, vieram os médicos dogmáticos, que diziam seguir as opiniões de Hipócrates 
de Cós e eram, em grande parte, tributários do pensamento de Platão. Sustentavam que a 
razão se sobrepunha à observação e que os sintomas eram evidências da causa das doenças, que 
classificavam de acordo com a teoria dos humores. Téssalo, Draco e Pólibo, respectivamente, 
filhos e genro de Hipócrates de Cós, foram considerados fundadores da escola de Galeno.
Diocles (375 a.C.–295 a.C) foi um célebre médico grego, nascido em Carystus, uma 
cidade grega. Diocles viveu não muito tempo depois de Hipócrates. Plínio dizia que tinha fama 
próxima a de Hipócrates. Não se conhece muito de sua vida a não ser que viveu e trabalhou em 
Atenas, onde escreveu o primeiro tratado médico da Atica. Seu mais importante trabalho foi 
em medicina prática, especialmente, sobre dieta e nutrição. Ele também escreveu o primeiro 
texto sistematizado de anatomia animal, segundo Galeno, além de ser influenciado pelas ideias 
de Aristóteles; portanto, acredita na doença como alteração no balanço entre os elementos. Ele 
também já recomendavaescovar os dentes.
Praxágoras de Cós (n. - 340 d.C.) acreditava que existiam onze humores, em vez de 
apenas quatro, como também distinguiu as artérias das veias. Acreditava que as artérias saíam 
do coração e levavam o pneuma, espécie de ar circulante necessário ao funcionamento dos 
órgãos, que entrava pelos pulmões. Segundo ele, as veias provinham do fígado e carregavam o 
sangue, produto da digestão, até os órgãos. Seu discípulo, Plistônico, escreveu um tratado sobre 
anatomia.
Outra grande escola médica grega foi a de Alexandria. Herófilo (Calcedônia, 335 
a.C. - 280 a.C.) foi um médico grego, nascido em Chalkedon (Calcedônia), na Ásia Menor. 
É conhecido como o primeiro anatomista da história. Junto com Erasístrato fundou a famosa 
Escola de Medicina de Alexandria. Herófilo, considerado o pai da anatomia, foi um dos primeiros 
a basear suas conclusões na dissecação de cadáveres. Ele estudou o cérebro e reconheceu este 
órgão como o centro do sistema nervoso e da inteligência. Dissecou e descreveu sete pares 
de nervos cranianos. Também distinguiu nervos de vasos sanguíneos e os nervos motores dos 
sensitivos. Outros objetos de estudo foram os olhos, o fígado, o pâncreas, as glândulas salivares 
e o trato alimentar, bem como os órgãos genitais. Também foi um estudioso de Hipócrates e 
escreveu um tratado sobre o método hipocrático. Seus trabalhos se perderam, mas Galeno o 
citava muito, no segundo século d.C.
O médico e anatomista Erasístrato, que viveu entre 304 a.C e 250 a.C, trabalhou junto 
com Herófilo, em Alexandria, onde ambos conduziram uma série de pesquisas anatômicas em 
MEDICINA: UMA HISTÓRIA
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cadáveres, possivelmente, pela primeira vez na história. Celso informa que ambos realizaram 
vivissecções em criminosos, mas Galeno não confirmou essa controvertida informação. É 
considerado o primeiro patologista da história.
O livro conhecido como Dioscurides Neapolitanus contém o trabalho de Pedânio 
Dioscórides, médico grego, que nasceu em Anazarbo, perto de Tarso, na Cílica (atual Turquia) 
e viveu no primeiro século d.C., durante o reinado do Imperador Nero. Dioscorides escreveu 
o tratado Perì ules iatrichès, conhecido em latim como “De Materia Medica”, em cinco livros, 
considerado o manual médico e a farmacopeia mais importantes da Grécia e da Roma antiga. 
Foi altamente usado na Idade Média, tanto no mundo árabe quanto no ocidental. O tratado é 
sobre a eficácia terapêutica de substâncias naturais originárias do reino animal, vegetal e mineral.
O último grande médico grego com contribuição significativa para a medicina 
ocidental antiga foi Cláudio Galeno (129-216 d.C.). Baseado nos estudos de outros médicos, 
desenvolveu e expandiu o modelo anatômico humano, elaborou vários tratamentos baseados, 
principalmente, na alopatia (tratamento pelos opostos), adotou a teoria dos três pneumas para 
explicar muitas doenças (sem descartar a teoria dos humores) e desenvolveu várias dietas e 
drogas para melhorar a eficácia dos tratamentos.
Foi considerado o pai da farmácia, mas também trabalhou como oftalmologista, 
nutricionista, esteticista, dentista e cirurgião plástico. Pode ser considerado o pai da medicina 
experimental, por causa dos seus estudos do corpo humano, através de dissecações. O modelo 
de circulação de Galeno foi utilizado por séculos. De acordo com Galeno, o sangue formar-
se-ia no fígado e seria transportado para todo o corpo, onde seria utilizado como ingrediente 
principal na formação da carne e de outras substâncias. Uma pequena parte dele seria depois 
conduzido para os pulmões, onde seria misturado com o ar e encaminhado para o ventrículo 
direito do coração. Em seguida, passaria para o esquerdo, através de poros existentes no septo. 
Finalmente, seria canalizado ou para o resto do corpo, onde desempenharia outras funções, ou 
para o crânio, onde seria refinado e transformado no pneuma físico: uma substância material 
que conduziria as sensações por todo o corpo, através dos nervos. Este modelo tinha coerência e 
capacidade explicativa muito forte, tendo, por isso, prevalecido por muito tempo.
O apogeu da medicina grega ocorreu no século II d.C., com as contribuições de Cláudio 
Galeno. A medicina greco-romana não era assim tão diferente da atual, como inicialmente os 
historiadores pensaram. Para além dos habituais amuletos e rezas aos deuses, os arqueólogos 
encontraram métodos de diagnóstico e intervenções cirúrgicas tão avançadas para a época, que 
não se repetiram em mais de 1500 anos. Segundo os escritos antigos, o apogeu da medicina em 
Roma foi muito semelhante ao experimentado pela medicina ocidental e oriental, no século 
MEDICINA: UMA HISTÓRIA
Marcos Rogério de Castro Frank -- Claudete Rempel 25
XVI. A principal teoria que regia todo o diagnóstico médico e a análise patológica continuava 
sendo a teoria dos quatro humores de Empédocles.
A teoria dos quatro humores fundamenta-se na ideia de que a vida do homem ou de 
qualquer outro ser vivo apoia-se no equilíbrio entre líquidos intracorporais: o sangue, a fleuma/
linfa, a bílis amarela e a bílis negra, provenientes, respectivamente, do coração, do cérebro, do 
fígado e do baço. Esses líquidos eram a representação humana dos quatro elementos, visto que 
cada um deles derivava da sua junção em determinadas proporções.
Segundo esta teoria, a doença seria derivada de um desequilíbrio entre os humores. 
Esse desequilíbrio era causado, principalmente, por alterações na dieta alimentar do paciente, 
que consumia alimentos que produziam humores em excesso. Em resposta ao excesso, o corpo 
tentava eliminá-los naturalmente. Por exemplo, a febre seria uma causa direta da tentativa do 
corpo para eliminar os humores em excesso.
Os médicos da antiguidade acreditavam que esse desequilíbrio se processava em três 
fases: a apepsia ou o aparecimento do desequilíbrio; a pepsis ou inflamação provocada pelo 
desequilíbrio e a reação do organismo a ele; e a crisis/lysis ou a eliminação brusca dos humores 
a mais. Assim, o papel da terapia seria ajudar o corpo ou a physis a seguir os mecanismos 
normais, ajudando a expulsar os humores em excesso ou a contrariar as suas qualidades.
Esta teoria serviu de base a todo o pensamento médico greco-romano, tendo sido alvo 
de pequenas e várias alterações que a enriqueceram. Algumas delas foram feitas por Cláudio 
Galeno. Dentre essas alterações, as mais significativas e peculiares dizem respeito à ideia 
de que o corpo trabalharia como uma máquina única, perfeitamente sincronizada, e que os 
desequilíbrios provocados pelos humores podiam ser localizados em certas partes do corpo.
A medicina greco-romana diz respeito à que era praticada pelos médicos gregos nos 
tempos do império romano. De fato, muitas personalidades que se destacaram na medicina 
greco-romana, tanto na área da medicina propriamente dita como na área da matéria médica, 
eram gregos, na sua origem.
Segundo Plínio, o primeiro médico grego a se estabelecer em solo romano foi o 
especialista em feridas Archagathus, de Esparta, em 219 a.C. No começo, ele foi aclamado 
pela população, mas, mais tarde, como usava selvagemente o cautério e o bisturi, foi apelidado 
de carniceiro (carnifex). 
Antes deles, a medicina romana era exercida de forma empírica pelos pais de família 
que conheciam a dita medicina tradicional romana. Já a medicina grega era baseada em dietas, 
regimes e cirurgia. Em 46 a.C, Júlio César concedeu cidadania a todos os praticantes de 
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Marcos Rogério de Castro Frank -- Claudete Rempel26
medicina de Roma. Na época, dos 180 médicos da cidade, apenas 15 eram descendentes de 
famílias tradicionais romanas. Em 162 d.C., Galeno chega a Roma.
Em Roma, antes da implementação da legislação reguladora da atividade médica pelo 
imperador Augusto, qualquer pessoa que falasse bem (um filósofo qualquer) poderia exercer 
a profissão. Após a regularização da atividade, essa facilidade deixou de existir e os médicos 
passaram,pela primeira vez na história ocidental, a constituir uma classe trabalhadora 
profissional.
Além da regularização, o imperador dividiu os médicos em duas classes bem definidas: 
os médicos militares, que prestavam cuidados às tropas terrestres e marítimas e aos prisioneiros 
capturados, e os médicos públicos, que prestavam auxílio aos cidadãos em geral e aos escravos. 
Também ordenou que cada município do império, isto é, cada núcleo habitacional considerável 
possuísse obrigatoriamente, pelo menos, um médico oficial que tivesse tido educação em alguma 
das principais universidades do império, como as de Roma ou Alexandria.
Os principais locais de trabalho de um médico romano eram os templos de Asclépio, 
os vários consultórios espalhados pelo império, além dos hospitais, que eram estruturas 
especializadas unicamente no tratamento e na cura de doentes, onde trabalhavam os médicos 
mais capazes do império. Inicialmente, essas estruturas eram unicamente militares, mas, mais 
tarde, tornaram-se instituições públicas. Eram muito importantes para uma cidade, tanto que 
só as mais importantes possuíam ao menos um.
Todos os conhecimentos herdados dos gregos somados com as descobertas romanas 
culminaram na saúde pública romana. Os romanos acreditavam que a limpeza conduzia à saúde 
sendo, um meio de prevenção de várias doenças. Tal crença se explica pelo fato de eles terem 
conhecimento de que as taxas de incidência das doenças eram maiores nas zonas pantanosas e 
sujas do que em zonas mais próximas de cursos de água fresca.
MEDICINA: UMA HISTÓRIA
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MEDICINA NO MUNDO ÁRABE
Após a queda do Império Romano, as ideias gregas sobre a medicina passaram a ser 
preservadas e transmitidas com mais precisão no império Islâmico. Sob o califado de Abbasid, 
um centro foi criado em Bagdá, especificamente, para a tradução de uma ampla gama de textos 
não islâmicos para o árabe.
Sábios de todo o império Islâmico (incluindo árabes, persas e judeus) não apenas 
codificaram a medicina grega, incluindo as ideias de Galeno, mas também incorporaram 
escritos médicos do Talmud, ensinamentos ocultos do Egito e ideias ayurvédicas da Índia. 
Tanto o Carakasamhita quanto o Susrutasamhiat, por exemplo, foram traduzidos para o árabe, 
ilustrando bem a natureza prática do mundo árabe.
Grandes desenvolvimentos na área médica foram possíveis nesta época. Muitas doenças, 
como a varíola, a asma e a alergia, foram descritas e tratadas. Conhecimentos mais aprofundados 
de anatomia, farmacologia e fisiologia foram adquiridos, entre os quais, a anatomia e a fisiologia 
da mulher, inclusive, o desenvolvimento fetal e da gravidez.
Também foram desenvolvidos instrumentos e técnicas cirúrgicas sofisticadas para a 
época. Salienta-se que, antes dos árabes, as cirurgias eram feitas pelos barbeiros. A partir dos 
árabes, tornaram-se práticas desenvolvidas e ensinadas em escolas médicas.
O matemático e filósofo inglês Bertrand Russel defendeu a ideia de que o papel 
principal dos Árabes na história da ciência e da civilização foi precisamente o de serem os 
intermediários entre a Grécia Antiga e a Revolução Científica, mas que lhe faltaria o fulgor da 
grande criação. Um dos gênios da porção oriental do califado foi o persa Al-Razi (conhecido 
no Ocidente como Rhazes - Ano 860-930), que escreveu o Guia Abrangente de Medicina 
(Liber ad Almansorem), no século IX . Ele distinguiu a varíola do sarampo; reconheceu reações 
alérgicas; percebeu que a febre era uma das formas de o corpo combater doenças; introduziu o 
uso de entranhas de animais para suturar feridas e do gesso de Paris, para ataduras.
Ibn Sarabiyun foi um médico nestoriano, conhecido na Europa como Serapião de 
Alexandria, autor de On Simple Medicines, um compêndio de plantas medicinais e práticas 
médicas. Serapion, um cristão que escrevia em aramaico, trabalhava com um grupo de 
estudiosos cristãos e muçulmanos, que traduzia clássicos gregos para o árabe e o aramaico, 
dando ímpeto à medicina islâmica do século X ao XII. Mais tarde, no século XV, On Simple 
Medicines foi traduzido para o latim junto com outros textos médicos árabes, o que ajudou no 
desenvolvimento da medicina ocidental, no final da Idade Média.
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Marcos Rogério de Castro Frank -- Claudete Rempel28
Ali Ibn al-Abbas al-Majusi (falecido em 994) é mais conhecido pelo seu nome ocidental, 
Haly Abbas. Ele nasceu no Irã, no início do século X. Pouco se sabe da sua história pessoal, 
mas seu apelido, al-Majusi, sugere que seu pai seguia a religião do zoroastrismo. Ele estudou 
medicina em Bagdá e foi médico do rei Adud al-Dulwa (falecido em 983), a quem seu livro 
é dedicado. O livro contém 20 capítulos: dez teóricos e dez práticos. Haly Abbas é conhecido 
por sua descrição da pleurisia, seu entendimento do sistema circulatório e da importância que 
concedia à alimentação, ao descanso e aos exercícios físicos, para a manutenção da saúde. The 
complete art of medicine é seu único trabalho conhecido, que foi traduzido para o latim, em 1089.
Ibn Sina ou Avicenna (980–1037 d.C), persa do século XI, codificou o conhecimento 
médico da época. Seu trabalho (Canon of Medicine), constituído de cinco livros, foi usado em 
universidades europeias durante séculos. Entre 1500 e 1674, foram lançadas 60 edições do livro, 
a maior parte voltada para o ensino médico. Entre suas maiores contribuições está a descoberta 
da natureza contagiosa de doenças infecciosas e a introdução de quarentenas para limitar sua 
disseminação. Ele também introduziu a experimentação sistemática.
Dentre as doenças descritas por Avicenna, podemos citar várias desordens centrais como 
a mania, alucinações, pesadelos, demência, epilepsia, derrame, paralisias, tremores, inclusive, 
distúrbios sexuais. Avicenna descreveu diversas estruturas anatômicas, regiões do cérebro cujos 
nomes são utilizados ainda hoje na neuroanatomia e na neurofisiologia moderna. Ele foi o 
primeiro cientista a relacionar regiões do cérebro com funções específicas do organismo, o que 
até hoje continua sendo objeto de estudos na neurofisiologia e na neurociência. Além disso, ele 
acreditava e frequentemente utilizava métodos psicológicos para tratar seus pacientes. 
Um pouco da história deste período e deste médico pode ser conferida no filme “O 
Físico”, de Philipp Stölzl (2014), baseado na história do livro de Noah Gordon, com o mesmo 
título.
No califado ocidental ou espanhol, Al-Zahrawi ou Albucasis (936-1013 d.C.) produziu 
o primeiro tratado sistemático e ilustrado sobre a cirurgia, publicado mais ou menos no ano 
1000, inclusive, com muitos instrumentos que ele criou ou melhorou.
Ibn Zohr ou Avenzoar (1091-1161) também desafiou muitas das noções de Galeno. 
Ele enfatizou a importância da experiência sobre a doutrina e foi o primeiro a descrever com 
precisão as doenças escabiose e pericardite. Um contemporâneo de Ibn Zohr foi Maimônides 
(1135-1204), o grande médico judeu medieval. Seus escritos incluem um influente trabalho 
sobre higiene. Maimônides acabou indo para o Oriente para tornar-se o médico do famoso 
sultão Saladin.
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No século XIII, um árabe chamado Ibn Al Nafis (1213-1288) foi o primeiro a descrever 
a circulação de sangue pelos pulmões, o que desafiou a noção de Galeno sobre a passagem direta 
do sangue entre os ventrículos do coração. A partir de uma herança rica vinda dos tratados de 
Hipócrates e Galeno, a medicina árabe inovou em diferentes aspectos e transformou-se numa 
medicina de alto nível, desenvolvida nos grandes centros da época. Foi exatamente por causa 
das grandes cidades que os árabes desenvolveram o conceito de hospital, ou seja, um lugar 
onde se reuniam especialistas empenhados no tratamento de doentes, na prática e no ensino da 
medicina.
Nestes locais, também se desenvolveram as farmácias, onde se reuniam diversos agentes 
terapêuticos. Devido aos avanços na pesquisa química ena busca do elixir terapêutico, os 
árabes tornam-se responsáveis pela descrição de grandes farmacopeias (coleção de elementos 
detalhadamente descritos quanto ao seu aspecto, obtenção e uso terapêutico). Os avanços na 
química também permitiram não só o tratamento das doenças, mas também os preparados 
químicos, em busca do equilíbrio e do bem-estar.
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MEDICINA NA IDADE MÉDIA
A Idade Média pode ser definida como o período compreendido entre a queda do 
Império Romano do Ocidente, em 476 d.C., e a queda de Constantinopla, capital do Império 
Bizantino, que foi conquistada pelos turcos-otomanos, em 1453. Ela é dividida em dois 
períodos. O primeiro é o da Alta Idade Média, compreendido entre os séculos V e XI; já o 
segundo é o da Baixa Idade Média, entre os séculos XII e XV.
A Alta Idade Média, iniciada com a queda do Império Romano no Ocidente, em 
decorrência das invasões dos povos bárbaros, foi marcada pelo processo de ruralização da 
sociedade europeia. Nesse período, formaram-se os reinos bárbaros, como o Reino dos Francos, 
que, após o processo de unificação de algumas regiões, deu origem ao Império Carolíngio. 
Também, na Alta Idade Média, a Igreja Católica passou a ter a supremacia religiosa e cultural 
do continente, transformando-se na grande instituição dominante do período, já que também 
possuía grandes quantidades de terras.
Um bom retrato deste período foi descrito por Umberto Eco, no livro “O nome da 
Rosa”, de 1980, e retratado também no filme do mesmo nome, dirigido por Jean-Jacques 
Annaud (1986). A história retrata o que se passa num mosteiro na Itália medieval, com uma 
rica biblioteca inacessível, inclusive para os frades. 
A vida quase sempre insegura e economicamente difícil dessa primeira parte do período 
medieval mantinha o homem voltado para as dificuldades do dia a dia. O estudo da natureza 
era buscado mais por motivos práticos do que como uma investigação abstrata: a necessidade 
de cuidar dos doentes levou ao estudo da medicina e de textos antigos sobre remédios; o desejo 
de determinar a hora correta para rezar levou os monges a estudar o movimento das estrelas; 
a necessidade de computar a data da Páscoa os levou a estudar e a ensinar os movimentos do 
Sol e da Lua e rudimentos da matemática. Não era incomum o mesmo texto discutir tanto os 
detalhes técnicos quanto o sentido simbólico dos fenômenos naturais.
No final do século VIII, houve uma primeira tentativa de reerguimento da cultura 
ocidental. Carlos Magno conseguira reunir grande parte da Europa sob seu domínio. Para 
unificar e fortalecer o seu império, decidiu executar uma reforma na educação. O monge inglês 
Alcuíno elaborou um projeto de desenvolvimento escolar que buscou reviver o saber clássico, 
estabelecendo os programas de estudo 7, a partir das sete artes liberais: o trivium ou ensino 
literário (gramática, retórica e dialética) e o quadrivium ou ensino científico (aritmética, 
geometria, astronomia e música).
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A partir do ano 787, foram emanados decretos que recomendavam, em todo o império, 
a restauração de antigas escolas e a fundação de novas. Institucionalmente, essas novas escolas 
podiam ser monacais, sob a responsabilidade dos mosteiros; catedrais, junto à sede dos bispados; 
e palatinas, junto às cortes.
Essas medidas teriam seus efeitos mais significativos apenas séculos mais tarde. O 
ensino da dialética (ou lógica) fez renascer o interesse pela indagação especulativa; dessa 
semente, surgiria a filosofia cristã da Escolástica. Além disso, nos séculos XII e XIII, muitas 
escolas estruturadas por Carlos Magno, especialmente as escolas catedrais, deram origem a 
universidades.
No aspecto da organização econômica e social, foi na Alta Idade Média que se 
consolidou o feudalismo, enquanto sistema de produção. As relações de servidão entre senhores 
e camponeses e as relações de vassalagem entre distintos senhores feudais fortaleceram-se nesse 
longo período da história europeia.
A Baixa Idade Média foi o período em que se iniciou a desintegração do mundo feudal 
europeu. As consequências das cruzadas no âmbito comercial proporcionaram o renascimento 
do comércio com o Oriente, a partir do século XII. Outro renascimento do período foi o urbano, 
decorrente do comércio nas feiras do interior do continente, que levou à expansão das cidades. 
Essas mudanças resultaram, aos poucos, na diminuição do poder cultural católico, abrindo 
espaço ao conhecimento baseado no que sobrou da cultura produzida por gregos e romanos, 
que passou a ser difundido nas universidades criadas a partir do século XII.
Em 1348, a Peste Negra levou este período de intenso desenvolvimento científico a 
um fim repentino. A praga matou um terço da população europeia. Por quase um século, novos 
focos da praga e outros desastres causaram contínuo decréscimo populacional. As áreas urbanas, 
geralmente o motor das inovações intelectuais, foram especialmente afetadas.
Nessa Europa cristã medieval, a medicina (do latim medicina, que também deu origem 
à palavra mezinha) - enquanto teoria da doença e prática terapêutica – claramente havia 
retrocedido em relação ao legado greco-romano e árabe.
Em função disso, imperavam o dogmatismo e a superstição. O prognóstico era regulado 
pela astrologia, tal como na Babilônia. O diagnóstico era praticamente limitado à observação 
das águas (urina) e, depois da Renascença, à tomada dos pulsos. A observação clínica havia sido 
posta de lado. O conhecimento da anatomia e da fisiologia do corpo humano era grosseiro, já 
que a dissecação de cadáveres era expressamente proibida pela Igreja. Quanto à terapêutica, 
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resumia-se à magia e às orações, com algumas ervas no meio e, sobretudo, ao uso de purgantes 
e sangrias.
Por outro lado, não existiam hábitos de higiene pessoal, nem de saúde pública. As 
condições sanitárias ambientais eram péssimas. As cidades medievais não tinham sistemas 
de saneamento básico. Os despejos domésticos eram feitos na via pública. Por seu turno, a 
tradição romana dos banhos públicos, de algum modo valorizada pela medicina judaica e árabe 
na península ibérica, foi duramente combatida pelo cristianismo. São Jerônimo (343-420), por 
exemplo, não via razões válidas para um cristão tomar banho depois do batismo.
Além disso, a teoria demoníaca da doença, inclusive das devastadoras epidemias que 
assolavam a Europa, tinha muita ascendência sobre o pensamento da época. O bode expiatório 
eram geralmente os judeus, os próprios médicos, os comerciantes ricos, a nobreza e o clero, que 
sempre tinham mais meios de fugir das zonas assoladas pela peste.
O ensino da medicina, por sua vez, era escolástico, ou seja, dominado pelo espartilho 
filosófico-teológico, que não permitia aos médicos questionar dogmas católicos. Apesar disso, 
houve a criação e um certo florescimento de algumas escolas médicas.
Para entender melhor essa parte da história, é preciso conhecer o pensamento de Santo 
Agostinho. Ele foi basilar ao orientar a visão do homem medieval sobre a relação entre a fé 
cristã e o estudo da natureza. Ele reconhecia a importância do conhecimento, mas entendia 
que a fé em Cristo vinha restaurar a condição decaída da razão humana, sendo, portanto, mais 
importante.
No essencial, o ensino da medicina limitou-se, durante séculos, mais à reprodução 
sucessivamente deformada dos clássicos, especialmente Galeno e Avicena. Já a aprendizagem 
dos seus métodos empíricos de diagnóstico e da terapêutica, baseada na observação e até na 
experimentação ficou esquecida.
Hipócrates e os demais autores gregos só serão redescobertos e lidos no original a partir 
da Renascença. Contudo, em relação a eles, praticamente nada se acrescenta de novo, até o Séc. 
XVI.
Na medicina árabe, destaca-se Avicena (980-1037), filósofo e médico, cujo cânone damedicina (ou inventário das doenças do ser humano) é uma das referências fundamentais para 
o ensino médico e a respectiva prática, até muito para lá da Renascença.
Todavia, o mais famoso médico da Idade Média, infelizmente, sucumbiu, na opinião de 
Sournia, à “embriaguez de um unicismo total”. Para Avicena, “é o movimento dos astros que 
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regula a data das sangrias e o prognóstico das doenças, a geometria dos polígonos determina a 
cicatrização das feridas, e o pulso, contado através da clépsidra de água, orienta o diagnóstico”.
Já o cristianismo sustentava sua própria concepção de doença, frequentemente, 
considerada um resultado do pecado. Como exemplo, cita-se a lepra, na qual estava implícita a 
maldição bíblica. Diz o Levítico, livro do Antigo Testamento: “Quem quer que tenha lepra será 
pronunciado impuro e deverá morar sozinho”. Verificada a doença – e o diagnóstico, como se 
pode imaginar, era muito impreciso, incluindo certamente outras doenças da pele –, o leproso 
era considerado morto. Rezava-se a missa de corpo presente e ele era enviado a um leprosário, 
instituição que se multiplicou na Idade Média, ou tinha de vagar pelas estradas, usando roupas 
características e fazendo soar uma matraca, para advertir a outros da sua contagiosa presença.
Já as epidemias eram consideradas um castigo divino para os pecados do mundo 
(outra ideia bíblica). Mas, sendo um castigo, a doença podia funcionar como penitência e 
absolvição; uma vida virtuosa levaria então à cura resultante da graça divina. Ou seja, a religião 
proporcionava um sentido para o sofrimento.
O poder divino da cura poderia ser delegado aos reis, por exemplo. Essa foi a origem 
de um procedimento conhecido como “toque real”, usado no caso da escrófula, a tuberculose 
dos gânglios linfáticos. Essa doença, muito comum na época, sobretudo, em crianças, era 
transmitida pelo leite de vacas com mastite tuberculosa (hoje, graças à pasteurização do 
leite, um procedimento que mata os micróbios da tuberculose, praticamente desapareceu). 
A escrófula não era uma doença mortal, mas causava um grande transtorno ao paciente: os 
gânglios, situados em geral no pescoço, fistulizavam, isto é, formava-se um canal que se abria 
na pele, de onde saía uma substância viscosa, o cáseo, resultante da infecção. A criança doente 
era levada, em determinado dia, ao rei, que lhe punha as mãos, dizendo: “Eu te toco, Deus te 
cura”. Por causa disso, a doença era conhecida como “mal du roi” na França e “the king’s evil” na 
Inglaterra. 
Ao lado do cristianismo e da corrente mística que ele carregava, a Idade Média herdou 
tradições e práticas supersticiosas surgidas com o declínio do Império Romano. Acreditava-se, 
por exemplo, que as doenças eram causadas por emanações de regiões insalubres, os chamados 
miasmas. A denominação “malária” vem daí e significa “maus ares”. A propósito, essa concepção 
não estava totalmente equivocada. De fato, o mosquito transmissor da malária se prolifera em 
regiões pantanosas, em que o odor não é dos melhores. 
Se havia superstições para explicar as doenças, havia também crendices que visavam 
promover a cura. O livro De Medicina Praecepta (“Acerca dos Preceitos da Medicina”), escrito 
por Serenus Sammonicus, famoso médico da Roma antiga, recomenda que os doentes usem 
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um amuleto com a palavra mágica abracadabra. Sextus Placidus, médico do Séc. V, tratava as 
febres com uma felpa de madeira de uma porta por onde teria passado um eunuco. O “doutor” 
Marcellus Empiricus, que viveu na França entre os séculos IV e V, cuidava de lesões oculares, 
tocando-as com três dedos e cuspindo.
Era comum também a associação entre as doenças e os astros ou constelações. Assim, 
Aquário estava ligado aos joelhos, Libra aos rins, Peixes aos pés. Saturno, o planeta mais 
distante e de rotação mais lenta (a astronomia e a indústria de telescópios também não eram 
tão evoluídas), condicionava o surgimento da melancolia. Também se recorria à numerologia – 
os números correspondentes ao nome do paciente indicariam se o prognóstico da doença era 
favorável ou não. Com relação à medicina como ciência e mesmo quanto às medidas higiênicas, 
havia desconfiança – quando não, franca hostilidade.
Tertuliano dizia que o Evangelho tornava desnecessária a especulação científica. 
Para São Gregório de Tours, era blasfêmia consultar um médico em vez de ir à tumba de 
São Martinho. Avisava São Jerônimo àquele cuja pele mostrava-se áspera pela falta de banho: 
“quem se lavou no sangue de Cristo não precisa lavar-se de novo [...]”.
Os médicos, além de poucos, também não inspiravam muita confiança. Como as escolas 
de medicina somente surgiram no final da Idade Média, até então, o aprendizado era empírico 
e excluía importantes conhecimentos, como o da anatomia. 
Dissecar cadáveres era uma prática severamente restrita, sobretudo, por motivos 
religiosos. Considerava-se que a sacralidade do corpo de Cristo estendia-se aos demais corpos, 
vivos, ou não. Por isso, a medicina continuava se baseando nos trabalhos de Galeno, que não 
associava as doenças a órgãos ou a sistemas. Além disso, em sua obra, erros de anatomia não 
eram raros. As raras cirurgias daquela época eram conduzidas por barbeiros, sem anestesia e 
sem qualquer assepsia.
Até hoje existe, diante de antigas barbearias inglesas, uma espécie de mastro com listras 
brancas e vermelhas, lembrando essa antiga atividade: o vermelho simboliza o sangue e o branco 
as bandagens usadas nos operados. 
Os barbeiros também faziam a sangria, um dos procedimentos mais comuns na época. A 
sangria era usada para tratar a “pletora”, uma situação na qual o corpo tinha excesso de sangue. 
O tratamento clínico não era muito melhor. John Arderne, autor de uma Arte da 
Medicina e médico de reis da Inglaterra, tratava cólicas renais com um emplastro quente untado 
com mel e fezes de pombos.
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A ineficácia dos procedimentos mágicos ou religiosos era compensada com a caridade. 
Foi assim que surgiram na Idade Média as instituições precursoras dos modernos hospitais, os 
xenodochia, asilos para doentes (e também para viajantes), nos quais os pacientes recebiam se 
não o tratamento adequado, pelo menos conforto espiritual.
No final da Idade Média, as coisas começam a mudar. O ensino da medicina torna-se 
mais institucionalizado. Nessa época, surge a famosa Escola de Salerno (Itália), que funcionou 
do Século X ao XII. Eram quatro anos de estudo mais um de prática, sob a supervisão de um 
médico. O mais famoso professor em Salerno foi Constantino Africanus, que viveu no século 
XI, natural de Cartago, então uma cidade árabe.
Na Escola de Salerno, foi elaborado o Regimen Sanitatis Salernitanum, um código de 
saúde que continha regras simples, práticas e sensatas para uma vida saudável. Detalhe curioso: 
essas recomendações eram em versos, para serem mais facilmente lembradas. Salerno e depois 
Montpellier, no sul da França, eram os pilares da educação médica na época. Mesmo assim, a 
sangria seguia como principal procedimento terapêutico.
“A vida humana está no sangue”, diz a Bíblia, uma afirmativa que a medicina medieval 
levava muito a sério, complementando-a: a vida humana está no sangue, e as ameaças à vida 
também. Que ameaças eram essas? 
Em primeiro lugar, o “excesso” do próprio sangue, que podia resultar em riscos à 
saúde. Mas o sangue era apenas um dos quatro humores que, segundo a medicina hipocrática, 
regulariam o funcionamento do organismo e também o temperamento. Os outros três humores 
eram a linfa, a bile amarela e a bile negra. 
Aos quatro humores, correspondiam quatro temperamentos: o sanguíneo, vivaz 
e energético; o linfático ou fleumático, contido, reservado; o colérico, capaz de irritar-se 
facilmente; e o melancólico, predisposto à tristeza. Desses quatro humores,

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