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História da Igreja

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A n d r e w M iller
H istöria
*TT DA
anos 0 a Î.000 d.C.
Volume 1
P refá cio
C omo é de conhecimento geral, a História chega até nós por meio dos 
livros. Eu examinei com cuidado os autores mais reconhecidos neste 
país1 e que considerei mais confiáveis. E embora haja muitas referências 
ao volume e página de onde foram extraídas, isso de forma alguma indica que 
todas as citações foram recolhidas dos livros que consultei. Seria impossível dizer 
quantos pensamentos, palavras e frases desses autores estão entrelaçados com os 
meus. As referências foram dadas não tanto para verificação, mas para induzir o 
leitor a estudá-las ou para que possa aproveitá-las de alguma maneira, quando 
tiver oportunidade. Os materiais são tão variados e abundantes que a dificuldade 
consiste em fazer uma seleção deles, mantendo uma linha histórica continua e 
desprezando o que não é proveitoso nem interessante.
Alguns de meus mais antigos e valiosos amigos, tais como Greenwood, 
Milman, and Craigie Robertson, concluíram seus livros sobre o século XIV; 
Waddington, DAubigne, and Scott, sobre os meados do século XVI; e Wylie 
encerrou sua História do Protestantismo com o estabelecimento deste no reinado 
de William e Mary. As histórias e biografias do Dr. M'Crie são extremamente 
valiosas; assim também com a História do Protestantismo na França, escrita 
por Felice, a História da Reforma no Países Baixos, de Brandt, a História 
Resumida da Idade Média e da Reforma, de Hardwick e também a História de 
Cunningham sobre a Igreja escocesa. No entanto, bons livros sobre a primeira 
parte do século XVI até o século XIX são difíceis de encontrar.
Meu objetivo e bem maior que fazer um relato histórico. O meu desejo 
é conectá-lo com Cristo e Sua Palavra para que o leitor receba a verdade e a
Nota do Tradutor: o autor se refere ao seu país de origem, ou seja, à Inglaterra.
bênção, através da graça, em sua alma. Como fica evidente, comecei com o 
propósito revelado pelo Senhor para Sua Igreja em Mateus 16. Outras partes 
do Novo Testamento foram examinadas meticulosamente no que diz respeito à 
implantação dos primeiros alicerces da Igreja. Tentei traçar a história da igreja 
cristã à luz das cartas dirigidas às sete igrejas na Ásia. Isso, é óbvio, teve de ser 
feito de uma maneira bem geral, pois desejei dar ao leitor uma visão da história 
eclesiástica tão ampla quanto possível, consistente, entretanto, com meu projeto 
e concisão.
Que as bênçãos do Senhor acompanhem o volume que está agora 
publicado.
4 I A Hlstúria da Igreja - Prefácio
Londres, Andrew Miller
Í n d ic e
Introdução......................................................................................9
As Sete Igrejas da Ásia ............................................................................... 11
1 A Pedra Angular..........................................................................15
A Fundação da Igreja ................................................................................ 16
A Abertura do Reino dos Céus ................................................................ 21
O Princípio Divino do Governo da Igreja ..............................................25
2 O Dia de Pentecostes................................................................ 31
A Ressurreição e Ascensão de Cristo .................................................... 33
A Descida do Espírito Santo ....................................................................34
O Chamado Dirigido aos Gentios ...........................................................39
O Primeiro Mártir Cristão ........................................................................43
3 A Perseguição e a Dispersão dos Discípulos....................47
Jerusalém e Samaria Unidas pelo Evangelho ........................................... 50
A Conversão de Saulo de Tarso................................................................ 53
4 Os Primeiros Missionários da Cruz....................................... 59
Os Doze Apóstolos ....................................................................................60
A Linhagem Real Herodiana .................................................................... 65
85
..87
..89
...92
111
114
120
126
147
151
1 c~»
154
161
180
187
190
198
201
203
206
209
216
219
229
238
241
244
O Apóstolo Paulo................................................
A Primeira Visita de Saulo a Jerusalém .............................
A Primeira Viagem Missionária de Saulo ..........................
A Terceira Visita de Paulo a Jerusalém ..............................
A Visita de Paulo a Atenas .................................................
A Terceira Viagem Missionária de Paulo.........
Paulo deixa Éfeso e parte para a Macedonia.....................
A Quinta Visita de Paulo a Jerusalém ...............................
Paulo diante do Sinédrio ....................................................
O Martírio de Paulo ...........................................................
O Incêndio de Roma...........................................
A Primeira Perseguição sob os Imperadores ......................
A Queda de Jerusalém ........................................................
A Verdadeira Causa da Perseguição ....................................
As Perseguições na França ..................................................
A História Interna da Igreja (107 a 245 d.C.)
Os Pais Apostólicos.............................................................
A Origem da Distinção entre Clero e Leigos ...................
A Origem das Dioceses ......................................................
De Cômodo à Ascensão de Constantino.........
A Perseguição na África ......................................................
A Mudança na Abordagem ao Cristianismo .....................
O Estado Geral do Cristianismo ......................................
Um Exame na Condição da Igreja....................................
Constantino..........................................................
A Condição na qual Constantino Encontrou a Igreja .....
Os Efeitos do Favor Real ...................................................
O Batismo e a Morte de Constantino ..............................
11 O C oncílio de N ic é ia ......................................................................253
O Concílio de T iro .................................................................................258
Os Invasores Bárbaros ............................................................................ 267
12 A H istória Interna da Igreja (2 4 5 a 451 d .C .) ..................... 273
Reflexões sobre a História do Batismo Infantil .................................... 278
A Primeira Sociedade dos Ascetas ..........................................................285
Reflexões sobre as Calamidades de R om a.............................................292
13 A Epísto la à Igreja de T iatira ......................................................305
Leão I, o Grande .................................................................................... 312
O Zelo Missionário de Gregório........................................................... 317
A Hierarquia Católica Estabelecida na Inglaterra ................................. 323
14 A Expansão do Cristianism o na E u ro p a ................................. 329
Os Primeiros Pregadores do Cristianismo na Irlanda............................ 330
Os Primeiros Pregadores do Cristianismo na Escócia ............................334
O Prenúncio do Homem da Iniquidade ...............................................345
15 M aom é, o Falso Profeta da A ráb ia ...........................................349
A Religião do Islã .................................................................................... 351
Os Sucessores de Maomé........................................................................354
O Segundo Concílio de Nicéia ............................................................. 365
16 A Linha Prateada da G raçaS o b e ra n a ..................................... 367
A Origem do Paulicianismo ...................................................................369
As Guerras Religiosas de Carlos Magno ................................................375
O Sistema Hierárquico Feudal ............................................................... 382
17 A P ropagação do C ristian ism o ................................................... 389
Luís, o Piedoso .........................................................................................391
Os Eslavônios Recebem o Evangelho .................................................... 393
Inglaterra, Escócia e Irlanda....................................................................395
In t r o d u ç ã o
Sabemos que muitos de nossos leitores não têm tempo nem 
oportunidade de ler os numerosos livros que são, periodicamente, 
escritos sobre a história da Igreja. No entanto, uma vez que ela tem sido 
o lugar da ação de Deus pelos últimos dois mil anos, sua História tem de ser 
objeto do mais profundo interesse por parte de Seus filhos. Falaremos da Igreja 
não como esta é apresentada na História, mas como está descritas nas Escrituras. 
Ali a vemos em seu caráter espiritual, como Corpo de Cristo, e como “habitação 
de Deus no Espírito” (Efésios 2:22).
Temos de ter em mente ao lermos o que se chama de História da Igreja 
que, dos dias dos apóstolos até agora, existem duas classes de pessoas totalmente 
diferentes na Igreja professa: os cristãos meramente nominais e os cristãos 
genuínos - os verdadeiros e os falsos. Isso foi predito. O apóstolo Paulo disse: 
“Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não 
pouparão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando 
coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles” (Atos 20:29-30). Sua 
Segunda Epístola a Timóteo também está cheia de advertências e orientações 
acerca das variadas formas nas quais o mal se manifesta abertamente. Uma 
rápida mudança para pior aconteceu desde que Paulo escreveu a Timóteo pela 
primeira vez. Ele exorta aos piedosos que se mantenham separados dos que têm 
apenas uma capa de piedade, mas que negam o poder dela. “Destes afasta-te”, 
é a recomendação do apóstolo (2 Timóteo 3:5). Tais exortações são sempre 
necessárias e aplicáveis - tanto hoje quanto no tempo em que foram escritas. 
E impossível nos separarmos da cristandade professa sem, ao mesmo tempo, 
renunciarmos ao cristianismo. Mas podemos - e temos de - nos separar daqueles 
que o apóstolo chama de “vasos de desonra”. A promessa é que “se alguém se
purificar dessas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do 
Senhor, e preparado para toda a boa obra” (2 Timóteo 2:21).
É interessante — apesar de doloroso - perceber a nítida diferença entre a 
Primeira e a Segunda Epístola a Timóteo. Na Primeira, a Igreja é vista andando 
aqui no mundo de acordo com seu verdadeiro caráter e abençoada posição. E 
vista como casa de Deus — a coluna e firmeza da verdade para a humanidade 
(3:15). A Segunda Epístola mostra no que se tornou por causa do fracasso 
daqueles em cujas mãos Deus a confiou.
Tomemos uma passagem de cada Epístola como exemplo: (1) 1 Timóteo 
3:15: “Escrevo-te estas coisas, esperando ir ver-te bem depressa; mas, se tardar, 
para que saibas como convém andar na casa de Deus... a coluna e firmeza da 
verdade”; (2) 2 Timóteo 2:20: “Ora, numa grande casa não somente há vasos de 
ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, 
para desonra”. Aqui tudo mudou - trágica mudança! Ao invés da ordem divina 
existe uma confusão desesperadora; ao invés de “casa de Deus, coluna e firmeza 
da verdade”, há uma “grande casa” - praticamente o “mistério da iniqüidade”. 
Em vez da casa ser mantida de acordo com a vontade de Deus e adequada a 
Ele, ela está arranjada e ordenada segundo a vontade do homem, para a própria 
vantagem e exaltação dos seres humanos. Portanto, desde o princípio houve 
males, que foram e são o pecado e a desgraça da cristandade. Porém isso servirá 
para o bem. O Espírito de Deus, em Sua grande misericórdia, tem nos suprido 
de claros direcionamentos para enfrentarmos o dia mais escuro da História da 
Igreja, e nos apontado o caminho da verdade em meio à pior época de todas, de 
um modo tal, que não temos desculpas. Os tempos e as circunstâncias mudam, 
mas não a verdade de Deus.
Os E r r o s d o s H i s t o r i a d o r e s em G e r a l
Alguns historiadores, infelizmente, ao fazer seus relatos não levam em 
consideração essa triste mistura de vasos de honra e desonra — os verdadeiros 
e os falsos cristãos. Eles próprios não são homens cuja mente é espiritual. 
Consequentemente, elegeram como principal objetivo registrar os abundantes 
e ímpios erros dos cristãos professos. Trabalham exaustiva e minuciosamente 
com as heresias que perturbam a Igreja, com os abusos que a maculam, e com 
as controvérsias que a desviam da rota. Ao invés disso, nos esforçaremos para 
localizar, por todas as longas e sombrias páginas da História, a linha prateada 
da graça de Deus na vida dos verdadeiros cristãos; embora, por vezes, os metais 
vis misturados ao celeste minério sejam tão predominantes que este se torna 
quase imperceptível.
10 I A H i s t ó r i a d a I g r e ja - Introdução
In t r o d u ç ã o j 11
Deus jamais deixa a Si mesmo sem testemunho. Ele tem os Seus amados 
e escolhidos, embora ocultos, em todos os lugares e épocas. Nenhum olho, 
além do de Deus, podia contemplar os sete mil que não se prostraram diante 
de Baal em Israel, nos dias de Acabe e Jezabel. Assim também com os milhares 
que mesmo durante a era das mais densas trevas do cristianismo, farão parte 
da “gloriosa Igreja”, a qual Cristo apresentará a Si mesmo no tão aguardado dia 
de Suas núpcias. Muitas pedras preciosas dentre a escória da “Idade Média” 
refletirão Sua graça e glória naquele dia sem par.
Abençoado pensamento! Ele enche a alma com júbilo e prazer. Senhor, 
apresse esse maravilhoso dia por amor de Seu próprio nome!
Os cristãos genuínos são instintivamente humildes. Em geral são reservados e 
a maioria deles não se destaca na multidão. Não há humilhação tão profunda e real 
como a produzida pelo conhecimento da graça. Tais cristãos humildes e anônimos 
ocupam um espaço ínfimo nas páginas históricas. Porém, os hereges agradáveis ou 
fervorosos e os fanáticos barulhentos e visionários fazem muito alarde; é impossível 
deixar de percebê-los. Por essa razão, os historiadores têm registrado com tanto 
cuidado os princípios tolos e as práticas malignas de tais pessoas.
Agora iremos mudar de assunto um pouco e entrar na primeira parte de 
nosso tema, que começa com as sete igrejas da Ásia.
Á s Sete Ig reja s d a Á sia
Essas sete epístolas irão guiar nossos estudos futuros. Cremos que não 
são apenas históricas, mas também proféticas. Sem dúvida, essas sete igrejas 
existiram de fato nas sete cidades mencionadas e nas condições descritas aqui. 
Isso tem de ser levado em consideração ao estudarmos o caráter profético dessas 
mensagens. Mas fica igualmente claro que Aquele que conhece o fim desde o 
início intencionou que tais cartas tivessem tanto uma aplicação histórica quanto 
um significado profético. Elas foram selecionadas entre muitas, dispostas e 
descritas para prenunciarem o que virá. Limitar a aplicação da mensagem às 
sete igrejas literais da Ásia seria desfigurar a unidade do Apocalipse, e perder a 
bênção prometida. “Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras 
desta profecia” (Apocalipse 1:3). A característica do livro inteiro é ser profético e 
simbólico. O segundo e terceiro capítulos não são exceção. Eles são apresentados 
pelo próprio Senhor no caráter místico deles. “O mistério das sete estrelas, que 
viste na minha destra, e dos sete castiçais de ouro. As sete estrelas são os anjos das 
sete igrejas, e os sete castiçais, que viste, são as sete igrejas” (Apocalipse 1:20).
Onúmero sete é peculiar. Ele marca um ciclo completo dos pensamentos ou 
guerras de Deus em um determinado tempo. Daí termos, os sete dias da semana, 
as sete festas de Israel, as sete parábolas do reino dos céus. Esse número é utilizado 
várias vezes por todo o livro, apontando judeus, gentios e a Igreja de Deus como 
responsáveis sobre essa terra. Temos sete igrejas, sete estrelas, sete candelabros, 
sete anjos, sete selos, sete trombetas, sete ais ou sete últimas pragas. Apenas nos 
capítulos 2 e 3 a Igreja é tida como responsável sobre a terra e como objeto do 
governo divino. Dos capítulos 4 a 19 ela já é vista nos céus. Ali ela aparece em plena 
glória manifesta com seu Senhor. “E seguiam-no os exércitos no céu em cavalos 
brancos, e vestidos de linho fino, branco e puro” (Apocalipse 19:14).
No corpo do livro, especialmente a partir do capítulo 6, os judeus e 
gentios são colocados em evidência, e judicialmente tratados diante do trono 
de Deus nos céus. Isso não acontecerá até que a Igreja - a verdadeira Noiva 
de Cristo - seja arrebatada do mundo, e o falso e corrompido sistema religioso 
venha ser finalmente rejeitado.
A divisão do livro em três partes, feita pelo próprio Senhor, torna a ordem 
dos eventos quase óbvia e tem imenso peso como um princípio de interpretação 
no estudo de Apocalipse. No capítulo 1:19, Ele nos dá o conteúdo e o plano 
do livro inteiro: “Escreve as coisas que tens visto, e as que são, e as que depois 
destas hão de acontecer”. “As coisas que tens visto” se refere à revelação de Jesus 
mostrada a João no capítulo 1; “as que são” ao tempo e à condição da cristandade 
professa apresentados nos capítulos 2 e 3. “As que depois destas hão de acontecer” 
são mostradas do capítulo 4 até o final do livro. A terceira divisão começa no 
capítulo 4. Uma porta é aberta no céu, e o profeta é convidado a entrar por 
ela. “Sobe aqui, e mostrar-te-ei as coisas que depois destas devem acontecer.” A 
mesma frase está registrada no capítulo 4:1 e no 1:19. As coisas que são e as que 
acontecerão depois disso não podem ocorrer simultaneamente. E preciso que 
uma termine antes do início da outra.
Quando o número sete é usado em um sentido simbólico, sempre 
significa perfeição. Portanto, é desse modo que ele é usado nos capítulos 2 e 3. 
Havia muitas outras igrejas além das mencionadas; porém, apenas sete foram 
escolhidas e reunidas para apresentar uma figura completa do que se desenvol­
veria futuramente na história da Igreja sobre a terra. O Senhor previu que os 
mais importantes elementos morais que existiam então reapareceriam ao longo 
do tempo. Deste modo, temos uma figura perfeita, divina e composta de sete 
partes dos sucessivos estágios da Igreja professa durante todo o período de sua 
responsabilidade no mundo.
Agora iremos examinar de maneira resumida o perfil das sete igrejas, e ter 
uma idéia geral dos diferentes períodos na História aos quais elas se aplicam.
1 2 I A H is t ó r ia da Ig r e ja - Introdução
In t r o d u ç ã o 1 1 3
P erfil das Sete Igrejas
Éfeso. Em Éfeso o Senhor detecta a raiz da decadência. “Deixaste o teu 
primeiro amor”. Ela é ameaçada com a remoção do candelabro a menos que haja 
arrependimento. Período histórico - da era apostólica até o segundo século.
Esmirna. A mensagem de Éfeso é geral, já a de Esmirna é específica. E 
embora dirigida à assembléia que ali se reunia naquele tempo, seu conteúdo 
anuncia de maneira surpreendente as repetidas perseguições pelas quais os 
cristãos iriam passar debaixo das ordens de imperadores cruéis. Contudo, Deus 
pode ter usado o poder do mundo para deter o progresso do mal dentro da 
Igreja. Período histórico - do segundo século a Constantino.
Pérgamo. Aqui temos o estabelecimento do cristianismo como religião oficial 
do Estado. Isso foi realizado por Constantino. Ao invés de perseguir os cristãos, ele 
os favoreceu. Desse momento em diante, o declínio da Igreja foi rápido. Sua profana 
aliança com o mundo promoveu sua mais triste e profunda queda. Foi então que 
ela perdeu o verdadeiro senso de seu relacionamento com Cristo no céu, e de seu 
caráter de peregrina e forasteira neste mundo. Período histórico - do começo do 
quarto século ao sétimo século, quando o papado foi instituído2.
Tiatira. Em Tiatira temos a representação do poder papal durante a Idade 
Média, praticando todo tipo de impiedade, perseguindo os santos de Deus e 
isso sob um disfarce de zelo religioso, simbolizado por Jezabel. Entretanto, havia 
um remanescente temente a Deus em Tiatira; a quem o Senhor conforta com 
a brilhante esperança de Sua vinda, e com a promessa de poder sobre as nações 
quando Ele estabelecer Seu reino. Mas a palavra de exortação aos restantes é “O 
que tendes, retende-o até que eu venha”. Período histórico - do estabelecimento 
do papado até a vinda do Senhor. Ele continua até o fim, mas é particularmente 
caracterizado pela “Idade das trevas”.
Sardes. Aqui vemos a parte protestante da cristandade que levou a cabo a 
grande obra da Reforma. As tolas características do papado se desvanecem, mas o 
novo sistema não tem vida em si mesmo. “Tens nome de que vives, e estás morto.” 
Mas existem santos nesses sistemas inertes, e Cristo conhece todos eles. “Mas 
também tens em Sardes algumas pessoas que não contaminaram suas vestes, e 
comigo andarão de branco; porquanto são dignas disso.” Período histórico - do 
turbulento século XVI em diante. Protestantismo após a Reforma.
2 De acordo com o Dicionário de Datas de Haydn, o título “Papa” foi primeiramente adotado 
por Higino em 139. O Papa Bonifácio III induziu Flavius Phocas Augustus, imperador 
bizantino, a restringi-lo aos prelados de Roma em 606. Também com a conivência de Phocas, 
a supremacia do Papa sobre a Igreja cristã foi estabelecida.
Filadélfia. A Igreja de Filadélfia representa o fraco remanescente, mas 
que é fiel à palavra e ao nome do Senhor Jesus. A principal característica desse 
pequeno grupo era guardar a palavra da paciência de Cristo e não negar o Nome 
dEle. A condição deles não era marcada por nenhuma demonstração de poder 
nem nada externamente maravilhoso, mas por uma íntima comunhão pessoal 
com o Senhor. Ele estava no meio deles como o Santo e o Verdadeiro, e é repre­
sentado como Administrador da casa. Ele tem a “chave de Davi”. Os tesouros da 
palavra profética estão destrancados para os que habitam dentro de Sua casa. Os 
fiéis dessa igreja também compartilham de Sua paciência e esperam Sua vinda. 
“Como guardaste a palavra da minha paciência, também eu te guardarei da hora 
da tentação que há de vir sobre todo o mundo, para tentar os que habitam na 
terra - Ap 3:10.” Período histórico - especialmente desde a primeira parte do 
século XX, mas movimentos em todas as áreas estão rapidamente progredindo 
para as últimas fases da cristandade sobre o mundo.
Laodicéia. Em Laodicéia temos mornidão - indiferença - tolerância 
religiosa com as falsas religiões; temos também altas pretensões, um espírito 
vaidoso, e enorme auto-suficiência. Esse é o último estado dos que ostentam o 
nome de Cristo nessa terra. Só que isso é intolerável a Ele. O julgamento final 
se aproxima. Tendo separado para Si os poucos cristãos genuínos das corrupções 
da cristandade, o Senhor Jesus vomita o resto. Aquilo que era para ser doce ao 
Seu paladar se tornou nauseante e será expelido para sempre. Período histórico - 
começa após o tempo de Filadélfia, e registra, de modo especial, a cena final.
Tendo, portanto, uma visão geral das sete Igrejas, agora vamos nos 
esforçar, com a ajuda do Senhor, para visualizar essas diferentes fases na História 
da Igreja. E nosso propósito é examinar com mais detalhes cada uma das sete 
cartas à medida que avançarmos. Assim, por meio dessas mensagens poderemos 
averiguar que luz é lançada sobre os diversos períodos históricos; e até que ponto 
os fatos da História da Igreja ilustram o relato bíblico desses dois capítulos. Que 
o Senhor conduza, renove e abençoe Seus amados.
1 4 I A H is t ó ria d a Ig r e ja - Introdução
Capítulo 1
A P e d r a A n g u l a r
) iniciar o estudo de qualquer objeto, é bom averiguar suas origens -
a intenção ou plano original, e os primeiros passos em sua história. Em
nas Santas Escrituras. Ali estão não apenas a intenção original, mas os planos e 
especificações do Deus ETERNO, e a história primitiva da obra sob Sua direção. 
A fundação foi colocada e a obra continuou; mas o próprio Senhor ainda é o 
único Construtor: por isso, desde então, tudo tem sido real e perfeito.
Ao final da dispensação judaica, o Senhor acrescentou o remanes­
cente salvo de Israel à Igreja recém-formada. Porém, ao término desta atual 
dispensação, ou seja, a crista, Ele levará todos os que crêem em Seu nome para 
o céu com corpos glorificados. Nem sequer uma única pessoa que faz parte da 
Igreja será acrescentada à congregação dos santos no milênio. “Porque o mesmo 
Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de 
Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que 
ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar 
o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor” (1 Tessalonicenses 
4:16-17). Essa será a maravilhosa cena final da história da igreja, a verdadeira 
Noiva de Cristo, sobre a terra: os mortos ressuscitarão, os vivos serão transfor­
mados e todos juntos, em seus corpos de glória, serão reunidos para encontrar o 
Senhor no ar. Portanto, temos os limites da Igreja definidos, e todo o período da 
história dela diante de nós. Agora voltaremos aos primórdios de seu surgimento 
no mundo.
relação à Igreja, temos isso de maneira totalmente clara e detalhada
1 6 A H is t ó r ia d a Ig r e ja - capítulo 1
& * °k
A Fu n d a ç ã o d a Ig r eja
Utilizando a figura de um edifício, o Senhor apresenta o tema da Igreja. 
Suas palavras são infinitamente preciosas, e podemos usá-las como lema de toda 
a sua história. Elas têm sustentado o coração e reavivado a esperança de Seu povo 
em todas as eras e circunstâncias. Para sempre serão o lugar fortificado sobre o 
qual a fé poderá se apoiar. O que mais pode ser tão abençoado, tão animador 
e tão tranqüilizador que as seguintes palavras de Jesus: “SOBRE ESTA PEDRA 
EDIFICAREI A MINHA IGREJA, E AS PORTAS DO INFERNO NÃO PREVALECERÃO 
CONTRA ELA” (Mateus 16:18).
Em Mateus 16, o Senhor questiona Seus discípulos quanto à opinião do 
povo sobre quem Ele era. Isso resultou na confissão de Pedro acerca de Sua 
divindade, e na graciosa revelação do Senhor concernente à Sua Igreja. Iremos 
reproduzir toda a conversa em nossas páginas, pois se relaciona de maneira 
intrínseca com o nosso tema.
“E, chegando Jesus às partes de Cesaréia de Filipe, interrogou os 
seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens ser o Filho do homem? E 
eles disseram: Uns, João o Batista; outros, Elias; e outros, Jeremias, ou um 
dos profetas. Disse-lhes ele: E vós, quem dizeis que eu sou? E Simão Pedro, 
respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. E Jesus, respondendo, 
disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne 
e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus. Pois também eu te digo que tu és 
Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não 
prevalecerão contra ela” (Mateus 16:13-18).
Temos aqui os dois principais elementos relacionados ao edifício planejado
- a Pedra angular (ou Pedra que serve de base, como referência, ao todo da 
construção), e o Construtor divino. “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja.” 
Mas alguns podem se perguntar ao que ou quem “esta pedra” se refere. A resposta 
é bem clara; a pedra se refere às palavras de Pedro e não ao próprio Pedro, como 
os apóstatas ensinam. De fato, havia uma pedra - uma pedra viva no novo templo. 
“Tu és Pedro” — ou seja, Pedro era uma pedra. No entanto, a revelação que Deus 
deu a Pedro acerca da glória da Pessoa de Seu Filho é a verdadeira fundação sobre 
a qual a Igreja é edificada. “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.” Porém, a glória 
da Pessoa de Seu Filho na ressurreição ainda é uma verdade encoberta aqui. “Bem- 
aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas 
meu Pai, que está nos céus.” Logo após a confissão de Pedro, o Senhor anuncia Seu 
intento de edificar Sua Igreja, e garante a eterna segurança dela. “Sobre esta pedra 
edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.”
V e r d a d e s F u n d a m e n t a is 1
Ele mesmo, a Fonte da vida, não poderia ser vencido pela morte; mas, 
ao morrer, voluntariamente, como Substituto pelos pecadores, triunfou sobre a 
morte e a sepultura, e está vivo para sempre, como afirmou ao apóstolo João 
após Sua ressurreição: “Eu sou o primeiro e o último; e o que vivo e fui morto, 
mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém. E tenho as chaves da morte 
e do inferno” (Apocalipse 1:17-18). Que palavras majestosas e triunfantes! São 
palavras de um conquistador — de Alguém que tem poder, poder sobre a vida, a 
morte e o Hades: lugar dos espíritos separados da presença de Deus. As chaves
- símbolos de autoridade e poder - estão em Suas mãos. O ataque da morte 
pode recair sobre o cristão, mas o aguilhão dela foi retirado. Ela se torna uma 
espécie de mensageira de paz para conduzir os cansados peregrinos ao descanso 
da casa celestial. A morte, portanto, não mais governa sobre o cristão, ela o serve. 
“Tudo é vosso; seja Paulo, seja Apoio, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja 
a morte, seja o presente, seja o futuro; tudo é vosso; e vós de Cristo, e Cristo de 
Deus” (1 Coríntios 3:21-23).
Portanto, a Pessoa de Cristo, o Filho do Deus vivo - em Sua glória da 
ressurreição - é a fundação, sólida e imperecível, sobre a qual a Igreja é edificada. 
Como aquele que “foi morto e reviveu” (Apocalipse 2:8), Ele transmite vida 
ressurreta a todos os que estão edificados nEle. E isso o que fica evidente na 
mensagem da primeira epístola de Pedro. “E, chegando-vos para ele, pedra 
viva... Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual” (1 Pedro 
2:4-5). E no mesmo capítulo, ele afirma: “E assim para vós, os que credes, é 
preciosa” ou “uma honra”, em outras versões (v. 7). Que possamos entender 
essas duas mais preciosas verdades relacionadas à nossa “Pedra Angular” - a 
vida divina e a divina preciosidade. Ambas são dadas e se tornam posse de todos 
os que colocam sua confiança em Cristo. “Chegando-vos para ele”, e não para 
alguma coisa; é à Pessoa de Cristo que nos achegamos e nos relacionamos. Sua 
vida - vida ressurreta - se torna nossa. A partir desse momento, Ele é nossa vida. 
“E, chegando-vos para ele, pedra viva... Vós também, como pedras vivas, sois 
edificados casa espiritual.” A própria vida de Cristo, como Homem ressurreto, e 
tudo o que Ele herdou é nosso. Maravilhosa, extraordinária, abençoada verdade! 
Quem não deseja, sobre todas as coisas, esse tipo de vida, uma vida além do 
poder da morte — além das portas do Hades? A vitória eterna está gravada na 
vida ressurreta de Cristo, e ela jamais pode ser testada novamente; essa é a vida 
daquele que crê em Cristo.
No entanto, existe mais que vida para as pedras desse templo espiritual. 
Há também a preciosidade de Cristo. “E assim para vós, os que credes, é 
preciosa” (1 Pedro 2:7). Portanto, assim como a vida de Cristo se torna nossa 
quando passamos a crer nEle, assim ocorre com Sua preciosidade. O princípio é
o mesmo. A vida pode ser vista como nossa capacidade de desfrutar; e a precio­
sidade como nosso título para possuir ou herdar as riquezas do alto. As honras, 
títulos, dignidade, privilégios, posses e glórias de Cristo são nossas - todas 
nossas porque estamos nEle. “E assim para vós, os que credes, é preciosa.” Que 
pensamento surpreendente! “Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou 
por ela” (Efésios 5:25). Essa, portanto, é nossa Pedra Angular, e a felicidade de 
todos os que estão na Rocha.Todo o panorama das riquezas celestiais em graça 
e glória passou diante de Jacó na antiguidade, quando peregrino e estrangeiro 
descansou sobre a rocha no deserto (Gênesis 28).
C r ist o , 
o Ú n ic o C o n st r u t o r d a Ig r eja
Mas Cristo é também o Construtor de Sua Igreja. O edifício contra o 
qual nenhum artifício ou poder do inimigo pode prevalecer é obra do próprio 
Cristo, embora vários edificadores tenham participado do mesmo. “Sobre esta 
pedra edificarei a minha igreja.” Esse ponto tem de ficar bem claro, a fim de 
que não confundamos o que o homem constrói com o que Cristo constrói. 
Haverá grande confusão, em relação à verdade de Deus e ao presente estado da 
cristandade, a menos que essa distinção seja feita. E imprescindível que compre­
endamos que Cristo é o único Construtor de Sua Igreja; Paulo, Apoio, e todos os 
verdadeiros evangelistas são pregadores por meio dos quais os pecadores crêem. 
A obra do Senhor na alma dos crentes é perfeita. E uma obra real, espiritual e 
pessoal. Por intermédio de Sua graça no coração, eles se achegam a Cristo, como 
pedras vivas, e são edificados nEle, que ressuscitou dentre os mortos. Eles têm 
experimentado a graça divina. Tais são as pedras vivas com as quais o Senhor 
está edificando Seu santo templo; e as portas do inferno jamais podem prevalecer 
contra ele. Por essa razão, o próprio Pedro, todos os apóstolos e os verdadeiros 
crentes são edificados casa espiritual. Quando Pedro se refere a esse templo 
em sua primeira epístola não menciona nada sobre ser ele mesmo o construtor. 
Cristo é o Construtor. A obra é dEle, exclusivamente dEle. “Edificarei a minha 
igreja”, Ele afirma.
Vejamos agora na Palavra de Deus o que o homem edifica, quais materiais 
utiliza e como faz a obra. Em 1 Coríntios 3 e 2 Timóteo 2 temos essas coisas 
reveladas diante de nós. “Uma grande casa” é erguida pela instrumentalidade 
humana. Em certo sentido, ela também é a Igreja, e a casa de Deus. Em 1 
Timóteo 3:15, Paulo usa a expressão “casa de Deus, que é a igreja do Deus 
vivo”. Em Hebreus 3:6 fala-se sobre a casa de Cristo: “a qual casa somos nós”.
1 8 I A H ist ó r ia d a Ig r e ja - capítulo 1
Mas repentinamente, a casa se toma terrivelmente corrompida pela fraqueza 
humana e patente impiedade. A autoridade da Palavra de Deus foi colocada de 
lado, e a vontade humana se tornou suprema. O efeito das filosofias sobre os 
ensinamentos de Cristo foi dolorosamente manifesto. Porém, a madeira, feno e 
a palha jamais podem ser misturados ao ouro, prata e pedras preciosas. A casa 
se torna grande no mundo; como a árvore de mostarda, em cujos galhos muitos 
encontram um abrigo conveniente. Estar ligado à “grande casa” dá às pessoas 
certo status no mundo, ao invés da rejeição e desprezo que o Mestre experimen­
tou aqui. O arcebispo está em uma posição próxima à realeza. Porém, a igreja 
professa não é apenas grande exteriormente, é mais ambiciosa e quer colocar o 
selo de Deus em sua própria obra profana. Essa é a maior impiedade dela e a 
fonte de sua cegueira, confusão e mundanismo.
Paulo, como o escolhido do Senhor para realizar tal obra, lançou as 
fundações do “edifício de Deus” em Corinto, e outros construíram sobre tais 
bases. Mas nem todos os materiais eram divinos. A fundação estava correta, e 
cada homem tem de prestar atenção como edifica depois disso. Alguns podem 
edificar com ouro, prata e pedras preciosas, outros com madeira, feno e 
palha. Ou seja, há pessoas que podem ensinar a sã doutrina, e que procuram a fé 
viva em todos com os quais têm comunhão; há também quem ensine doutrinas 
mentirosas e receba na comunhão da igreja pessoas que não têm a genuína fé — a 
mera observância de rituais substitui a fé e a vida eterna. É nessa situação que a 
instrumentalidade, responsabilidade e fracassos humanos aparecem. Contudo, 
o próprio construtor pode ser salvo se tiver fé em Cristo, mas sua obra será 
destruída.
Existe, porém, outra e terrível classe de construtores, que corrompem o 
templo do Senhor e destroem a si mesmos. Para a conveniência do leitor, iremos 
apresentar a passagem inteira, pois nada pode ser mais claro. “Segundo a graça 
de Deus que me foi dada, pus eu, como sábio arquiteto, o fundamento, e outro 
edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele. Porque ninguém 
pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo.
E, se alguém sobre este fundamento formar um edifício de ouro, prata, pedras 
preciosas, madeira, feno, palha, a obra de cada um se manifestará; na verdade 
o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja 
a obra de cada um. Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse 
receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas 
o tal será salvo, todavia como pelo fogo. Não sabeis vós que sois o templo de 
Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo 
de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo”
(1 Coríntios 3:10-17).
V e r d a d e s F u n d a m e n ta is | 1
Observemos também as palavras do Senhor: “Sobre esta pedra edificarei 
a minha igreja”. O Senhor Jesus não disse a Pedro que tinha edificado, ou que 
estava edificando. Ele lhe comunicou o que iria fazer. Ele edificaria a Igreja, e 
começou essa obra no dia de Pentecostes.
Mas existe outra verdade ainda mais intimamente conectada com a 
história da Igreja, ligada à condição e ao caráter dela sobre a terra, que temos de 
compreender antes de continuar analisando a mesma 1. Referimo-nos à verdade 
contida na seguinte expressão:
As C h av es d o R e in o d o s C éus
Isso leva à “grande casa” - já mencionada - da profissão de fé meramente 
externa. Ao mesmo tempo, temos de ter em mente que, embora intimamente 
ligados, o reino dos céus e a grande casa são totalmente distintos. Por direito, o 
mundo pertence ao Rei. “O campo é o mundo.” Seus servos estão prestes a iniciar 
a colheita. Mas na prática temos a “grande casa”, ou seja, a cristandade3.
Quando tudo o que é meramente nominal na cristandade for varrido pelo 
juízo divino, o reino será estabelecido em poder e glória. Isso será o milênio.
Ainda falando com Pedro sobre a Igreja, o Senhor acrescentou: “E eu te 
darei as chaves do reino dos céus” (Mateus 16:19). A Igreja edificada por Cristo e 
o reino do céus aberto por Pedro são duas coisas completamente diferentes. Esse 
é um dos maiores e mais comuns erros da cristandade: usar termos intercambia- 
velmente como se tivessem o mesmo significado. Teólogos de todas as épocas, ao 
assumirem que essas duas coisas são sinônimas, têm escrito de maneira confusa 
tanto sobre a Igreja quanto sobre o reino. A menos que tenhamos um conhe­
cimento sobre os caminhos dispensacionais de Deus, nunca poderemos dividir
20 I A H i s t ó r i a d a I g r e ja - capítulo 1
3 Os termos “igreja”, “reino dos céus” , e “grande casa” são bíblicos e têm significados um 
pouco diferentes dependendo de quem os utiliza: se é o Senhor ou os apóstolos. A expressão 
“minha igreja” , usada pelo Senhor, abrange apenas os membros genuínos e vivos. O primeiro 
pensamento quanto ao “reino de Deus” certamente remete à autoridade do Senhor ressurreto. 
E todos os que se sujeitam a Ele são admitidos em Seu reino. N a “grande casa” vemos o mal 
em atividade, corroendo o corpo professo através da falha humana. Portanto, na prática, o 
resultado é sua coexistência com o reino dos céus e a igreja professa. Mas há outro termo 
em constante uso que não é encontrado na Bíblia. Esse termo é cristandade. Tal expressão é 
eclesiástica, e originalmente englobava todos os que foram cristianizados, ou aqueles lugares 
do mundo nos quais o cristianismo prevalece, em distinção aos países ímpios e às nações de 
maioria muçulmana. Mas hoje é usado como sinônimo dos três outros termos já considerados. 
De maneira geral, as quatro expressões são utilizadas intercambiavelmente, apesar de serem 
diferentes quanto ao significado e aplicação.corretamente Sua Palavra. Não podemos confundir o que Cristo está edificando 
com o que os servos estão edificando, por assim dizer, através da pregação e 
do batismo. A Igreja, corpo de Cristo, está fundamentada na confissão de que 
Ele é o Filho do Deus vivo, glorificado na ressurreição. Cada pessoa realmente 
convertida tem de se relacionar primeiramente com Cristo antes de ter algo a 
dizer à Igreja. O reino é um lugar mais amplo, e abrange cada indivíduo batizado
— todo o cenário cristão, quer seja verdadeiro ou não.
Cristo não estava dizendo a Pedro que lhe daria as chaves da Igreja ou as 
chaves do céu. Se o tivesse feito, haveria algum respaldo para o ímpio sistema do 
papado. Ele apenas disse: “E eu te darei as chaves do reino dos céus” - isto é, da 
nova dispensação. As chaves, como já dissemos, não são para construir templos, 
mas para abrir portas; e o Senhor incumbiu Pedro de abrir a porta do reino 
primeiro para os judeus, depois para os gentios (Atos 2, 10). Mas a linguagem 
de Cristo quando fala sobre Sua Igreja é de uma outra ordem. É simples, bela, 
enfática e inconfundível. “Minha igreja.” Que profundidade, que plenitude há 
nessas palavras: “Minha igreja” ! Quando o coração está em sintonia com Cristo 
acerca de Sua Igreja existe uma compreensão de Seus sentimentos em relação a 
ela que nenhuma palavra é capaz de expressar. Por isso, amamos ouvir essas duas 
palavras, “Minha igreja” ! Mas quem é capaz de perscrutar quanto do coração de 
Cristo está revelado nelas? Pensemos novamente em outras duas palavras: “Esta 
pedra”. E como se Ele estivesse dizendo que a glória de Sua Pessoa e o poder 
de Sua vida ressurreta formassem a sólida base de “Sua igreja”. E mais uma 
vez: “Edificarei”. Portanto, nessas cinco palavras vemos que tudo está nas mãos 
do próprio Cristo, pois Ele é “cabeça da igreja, que é o seu corpo, a plenitude 
daquele que cumpre tudo em todos” (Efésios 1:22-23).
* * *
A A b e r t u r a d o R e in o d o s C éus
A administração do reino do Senhor foi conferida a Pedro de uma maneira 
especial, como vemos nos primeiros capítulos de Atos. O termo é extraído do 
Antigo Testamento (Daniel 2 e 7). No capítulo 2 temos o reino; no capítulo 
7 temos o Rei. A expressão “reino dos céus” ocorre somente no Evangelho de 
Mateus, onde o evangelista escreve especialmente para os israelitas.
O estabelecimento do reino dos céus em poder e glória na terra, personifi­
cado na figura do Messias, era a expectativa natural de todo judeu piedoso. João 
Batista, como precursor do Senhor, pregou que o reino dos céus estava às portas. 
Mas, em vez dos judeus receberem seu Messias, eles O rejeitaram e O crucifi­
I
V e r d a d e s F u n d a m e n ta is | 21
caram; consequentemente, o reino, de acordo com as expectativas judaicas, foi 
colocado de lado. No entanto, o reino foi apresentado de outra forma. Quando
0 Messias rejeitado subiu para os céus, e tomou Seu lugar à destra de Deus, 
após ter triunfado sobre todos os Seus inimigos, o reino dos céus sobre a terra 
teve início. Agora o Rei está no céu, e como Daniel disse: “o céu reina” (4:26), 
embora não abertamente. E desde o tempo em que Ele subiu até quando retornar 
de novo, é o reino em mistério (Mateus 13:11). Quando Ele vier em poder e 
grande glória, será o reino manifesto.
Na nova dispensação, no novo sistema, Pedro teve o privilégio de abrir 
a porta para os judeus e gentios. E isso ele fez em suas pregações aos judeus 
(Atos 2), e em suas pregações aos gentios (Atos 10). Mas novamente, queremos 
chamar a atenção para o fato de que a Igreja, ou assembléia de Deus, e o reino 
dos céus não são a mesma coisa. Para começar, vamos ser bem claros quanto 
a esse ponto fundamental. Misturar os dois conceitos tem produzido grande 
confusão e pode ser considerado a origem do papado, do puseísmo4, e de todo 
sistema humano na cristandade. Os comentários abaixo sobre o campo de joio, 
extraídos dos Estudos sobre o Evangelho de Mateus, de William Kelly, tratam 
exatamente desse assunto, embora se refiram a um período posterior ao relatado 
nos primeiros capítulos de Atos.
A Pa r á b o la d o J o io
“Mateus 13:24-25: ‘Propôs-lhes outra parábola, dizendo: O reino dos céus 
é semelhante ao homem que semeia a boa semente no seu campo; mas, dormindo 
os homens, veio o seu inimigo, e semeou joio no meio do trigo, e retirou-se.’ E 
isso o que tem acontecido com os que professam a Cristo. Existem dois requisitos 
necessários para a invasão do mal no meio dos cristãos. O primeiro é o descuido 
dos próprios cristãos. Eles ficaram desatentos, caíram no sono, e o inimigo veio 
e semeou o joio. Isso começou nos primórdios da cristandade. Encontramos 
essas sementes até em Atos dos Apóstolos e mais evidentes ainda nas epístolas.
1 Tessalonicenses foi a primeira epístola inspirada que o apóstolo Paulo escreveu, 
a segunda foi escrita logo depois. Paulo diz aos tessalonicenses que o mistério 
da iniqüidade já estava operando, que outras coisas iriam acontecer, como a 
apostasia e o aparecimento do homem do pecado, e que quando a impiedade se 
manifestasse plenamente (ao invés de se manter oculta), então o Senhor colocaria 
um ponto final no iníquo e em tudo o que estivesse relacionado a ele. O mistério
22 I A H i s t ó r i a d a I g r e ja - capítulo 1
4 O movimento que visa aproximar as igrejas anglicanas e católica romana”. O termo é pouco 
conhecido no Brasil, de modo geral.
da iniqüidade parece intimamente conectado à semeadura do joio relatada aqui. 
Algum tempo depois, ‘quando a erva cresceu e frutificou’, quando o cristianismo 
começou a se espalhar com tremenda velocidade sobre a terra, ‘apareceu também 
o joio’. Mas fica evidente que o joio foi semeado quase imediatamente após a 
boa semente. Não importa onde a obra de Deus esteja, Satanás sempre está no 
encalço dela. Quando o homem foi feito, ele deu ouvidos à serpente e caiu. 
Quando Deus deu a Lei, ela foi quebrada mesmo antes de ter sido confiada a 
Israel. Essa é sempre a história da natureza humana.
“O dano no campo foi feito, e jamais reparado. O joio não será tirado 
agora do campo: nesse momento ainda não haverá julgamento para ele. Isso quer 
dizer que temos de ter joio na igreja? Se o reino dos céus significa a igreja, não 
deve haver disciplina: a impureza da carne ou do espírito será permitida. Aqui 
está a importância de percebermos a distinção entre igreja e reino. O Senhor 
proíbe que o joio seja arrancado do reino dos céus: ‘Deixai crescer ambos juntos 
até à ceifa’ (v. 30), ou seja, até que o Senhor venha para julgar. Eu repito, caso o 
reino dos céus correspondesse à igreja, isso significaria uma coisa: que nenhum 
mal, flagrante ou comum, será extraído da igreja até o dia do julgamento. 
Vemos, portanto, a importância de fazer tal diferenciação, para a qual muitos 
não atentam. Ela é imprescindível para a verdade e santidade. Não existe nem 
mesmo uma única expressão na Palavra de Deus que possamos ignorar.
“Qual é, portanto, o significado dessa parábola? Ela não tem relação 
alguma com a questão da comunhão da igreja. E o ‘reino dos céus’ que está 
em evidência aqui - a totalidade dos que confessam a Cristo, quer essa confissão 
seja falsa ou genuína. Assim gregos, coptas, nestorianos, católicos romanos, 
protestantes, estão no reino dos céus; não apenas os verdadeiros crentes, mas 
também os ímpios que professam o nome de Cristo. Qualquer pessoa, não 
judia nem pagã, que confessa exteriormente o nome de Cristo está no reino dos 
céus. Pode ser imoral ou herege, ela não será tirada do reino dos céus. Mas seria 
correto recebê-la na mesa do Senhor? Deus proíbe tal coisa! Se uma pessoa que 
vive obstinadamente em pecado estiver na igreja, será excluída dela; mas não há 
como removê-la do reino dos céus. Isso só pode ser feito tirando-lhe a vida; pois 
significa arrancar o joio pela raiz. E foi nesse erro que o cristianismo mundano 
caiu, não muito tempo depois da morte dos apóstolos. As punições temporais 
surgiram para disciplina: leis foramfeitas com o propósito de submeter os 
obstinados ao poder civil. Se não honrassem a assim chamada igreja, aos deso­
bedientes não seria permitido viver. Deste modo, o mesmo mal contra o qual o 
Senhor estivera protegendo os discípulos, continuou; o imperador Constantino 
usou a espada para reprimir os ofensores da igreja. Ele e seus sucessores introdu­
ziram as punições temporais no intuito de lidar com o joio, prová-lo e arrancar 
suas raízes. Veja a igreja de Roma, onde se confunde totalmente a igreja com
V e r d a d e s F u n d a m e n ta is I
A H is t ó r ia d a Ig r e ja - capítulo 1
o reino dos céus: ela afirmou que se alguém fosse considerado herege, deveria 
ser levado aos tribunais para ser queimado. Nunca confessou nem corrigiu seus 
próprios erros, pois se julga infalível. Supondo que as vítimas dela fossem mesmo 
joio, isso seria expulsá-las do reino. Se você arranca o joio do campo, você o 
mata. Pode haver pessoas profanando o nome de Deus; mas temos de deixar o 
próprio Deus lidar com elas.
“Isso não anula a responsabilidade cristã para com aqueles que estão à 
volta da mesa do Senhor. Encontraremos instruções quanto a isso nos escritos 
sobre a igreja. ‘O campo ê o mundo’, a igreja engloba apenas os membros do 
corpo de Cristo. Examinemos 1 Coríntios, onde o Espírito Santo mostra a 
verdadeira natureza da disciplina eclesiástica. Suponhamos que haja cristãos 
professos vivendo na prática de pecado; enquanto tais pessoas estiverem nessa 
condição, não pertencerão ao corpo de Cristo. Qualquer santo pode cair em 
pecado, mas a igreja, sabendo disso, é obrigada a intervir com o propósito de 
expressar o juízo de Deus sobre o pecado. Se ela deliberadamente permitisse 
a tal indivíduo participar da mesa do Senhor, na verdade faria do Senhor um 
cúmplice do pecado. A questão não é se tal pessoa é convertida ou não. Os 
não-convertidos não têm relação alguma com a igreja; quanto aos convertidos, 
o pecado não é para ser ignorado. Os culpados não são expulsos do reino dos 
céus, mas são retirados da igreja. O ensino da Palavra de Deus se torna ainda 
mais claro acerca dessas duas verdades. E errado usar punições mundanas para 
lidar com um hipócrita, mesmo quando este é descoberto. Devemos procurar 
o bem da alma dessa pessoa, porém isso não é desculpa para puni-lo. Mas se 
um cristão é culpado de pecado, a igreja não tem de suportá-lo, embora seja 
chamada para ser paciente no julgamento. Temos de deixar os culpados que não 
são convertidos serem julgados pelo Senhor em Sua vinda.
“Esse é o ensinamento da parábola do joio; e ela nos dá uma profunda 
visão do cristianismo. Tão certo como o Filho do homem semeou a boa semente, 
Seu Inimigo também semeou a má, que brotaria com o restante, e esse mal não 
pode ser retirado, pelo menos por enquanto. Existe uma solução para o mal que 
entre na igreja, mas não para o mal que está no mundo.”
Fica perfeitamente claro, tanto bíblica quanto historicamente, que o maior 
erro no qual o corpo professo incorreu foi ter confundido essas duas coisas - joio 
e trigo; ou seja: a Igreja concedeu todos os privilégios temporais e oficiais da 
igreja professa a certos indivíduos, simplesmente por terem passado pelo batismo, 
junto com os que realmente se converteram e se submeteram a Deus. Porém, a 
maior diferença entre o que chamamos de sistema sacramental e o sistema vital 
fica patente e pode ser claramente distinguida se estudarmos a história da igreja 
corretamente.
V e r d a d e s F u n d a m e n t a is
Como consequência, outro erro, igualmente sério, ocorre. O grande e 
visível corpo professo se tornou - aos olhos e na linguagem dos homens —, a igreja. 
Homens piedosos caíram nessa armadilha, e, portanto, a diferença entre igreja 
e reino rapidamente foi apagada. Todos os mais sagrados lugares e privilégios, 
no corpo professo, foram compartilhados tanto por pessoas piedosas quanto por 
ímpios. A Reforma fracassou totalmente em limpar a igreja dessa triste mistura. 
Isso também nos foi legado e os sistemas anglicanos, luteranos, presbiterianos, 
bem como as diversas formas de batismo e admissão de membros são provas 
cabais dessa herança. Em nossos dias, os sistemas sacramentais prevalecem de 
maneira abrangente e alarmante e estão aumentando rapidamente. O real e o 
formal, os vivos e os mortos estão mesclados indistintamente nas várias formas 
de protestantismo. Infelizmente, e como isso é sério, há muitos na igreja professa
- no reino dos céus - que jamais entrarão no próprio céu. Aqui encontramos o 
joio e o trigo, os servos maus e os fiéis, virgens néscias e virgens sábias. Embora 
todas as pessoas que se batizaram sejam incluídas no reino dos céus, apenas 
aquelas que foram vivificadas e seladas pelo Espírito Santo pertencem à Igreja 
de Deus.
Existe mais uma coisa relacionada com a igreja professa que merece um 
breve comentário aqui. E o princípio divino do governo da Igreja.
* * *
O Pr in c íp io D iv in o 
d o G o v e r n o d a Ig r eja
O Senhor não apenas deu a Pedro as chaves para que ele abrisse as portas 
da nova dispensação, mas também lhe confiou a administração interna da igreja. 
As palavras do comissionamento foram: “Tudo o que ligares na terra será ligado 
nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mateus 
16:19). A questão é o que elas significam. Cremos que significam autoridade e 
poder vindos de Deus para serem exercidos na e pela igreja, limitados em seus 
resultados a este mundo. Não há nas palavras do Senhor nenhuma insinuação 
sobre a igreja decidindo algo nos céus. Essa é uma interpretação falsa e um 
poderoso engano da apostasia. A igreja na terra pode não ter nada a dizer ou a 
fazer quanto ao que acontece no céu na questão de ligar e desligar. A esfera de 
sua atuação se restringe aos seus próprios limites e, quando age de acordo com 
a comissão de Cristo, ela tem a promessa de ratificação nos céus.
Temos de acrescentar que também não existe aqui nenhuma menção 
da igreja ou de qualquer de seus oficiais no papel de intermediário entre as
pessoas e Deus no que tange ao perdão eterno ou ao juízo eterno. Essa é a 
ousada blasfêmia de Roma. “Quem pode perdoar pecados, senão Deus?” 
(Marcos 2:7). Ele reserva esse poder somente para Si mesmo. Além disso, os 
indivíduos que estão sob o governo da igreja já são perdoados, ou, pelo menos, 
têm direito ao perdão. “Não julgais vós os que estão dentro?” Isso se aplica 
unicamente aos que estão no seio da igreja. “Mas Deus julga os que estão de fora” 
(1 Coríntios 5:12-13). É dito acerca de todos os crentes que estão no amplo 
terreno da cristandade: “Com uma só oblação aperfeiçoou para sempre os que 
são santificados” (Hebreus 10:14). Por esta razão, a atribuição da igreja de reter 
ou perdoar pecados é apenas para o momento presente, e tem um caráter estrita­
mente administrativo. Esse é o princípio divino de receber pessoas para fazerem 
parte da assembléia de Deus, devido ao bom testemunho de conversão, doutrina 
sã, e santidade de vida; e também é o princípio de expulsar os pecadores impe­
nitentes até que sejam restarurados pelo arrependimento verdadeiro.
Porém, alguns de nossos leitores podem ter a impressão de que tal poder 
foi concedido somente a Pedro e aos demais apóstolos e, consequentemente, 
cessou quando eles morreram. Isso é um erro. E verdade que ele foi dado a Pedro 
em primeiro lugar, como já vimos; e não há dúvidas que nos dias dos apóstolos 
foi manifestado um tamanho poder, como jamais havia sido visto antes. Mas 
a autoridade não era maior ou menor. A igreja tem a mesma autoridade agora 
que tinha naquele tempo no tocante à disciplina na assembléia, embora hoje lhe 
falte o poder. A palavra do Senhor permanece imutável. Cremos que apenas um 
apóstolo poderia falar como Paulo em 1 Coríntios 5. “Em nome de nosso Senhor 
Jesus Cristo, juntos vós e o meu espírito, pelo poder de nosso Senhor Jesus Cristo, 
seja entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no 
dia doSenhor Jesus” (w. 4-5). Essa foi a manifestação do poder espiritual sobre 
um indivíduo, não para julgamento da igreja5. O mesmo apóstolo, em referência 
ao mesmo caso, diz à assembléia: “Tirai, pois, dentre vós a esse iníquo” (5:13). 
O ato de tirar não era um ato exclusivo do apóstolo, mas de toda a assembléia. 
Nesse caso, e dessa maneira, oa pecados da pessoa excomungada eram retidos,
5 “Entregar a Satanás é um ato de poder; expulsar uma pessoa é uma tarefa da assembléia 
vinculada à fidelidade. Sem dúvida alguma, excluir alguém da assembléia de Deus é algo 
muito sério e nos deixa expostos à dor e a vários transtornos vindos do inimigo; mas entregar 
uma pessoa diretamente a Satanás é um ato de poder inegável. Isso foi feito no caso de Jó 
para o bem deste. Isso foi feito por Paulo em 1 Coríntios 5, embora ele estivesse agindo 
dentro do contexto de uma assembléia estabelecida. Neste caso, o objetivo era a destruição 
da carne. Em 1 Timóteo 1, Paulo também entregou Himeneu e Alexandre a Satanás para 
que aprendessem a não blasfemar. Toda disciplina tem como alvo a correção do indivíduo, e 
também a manutenção da santidade da casa de Deus, e da pureza da consciência dos próprios 
santos” - trecho extraído do livro Present Testimony, volume 1.
2 6 j A H is t ó r ia d a Ig r e ja - capítulo 1
V e r d a d e s F u n d a m e n ta is 27
embora, evidentemente, ela fosse convertidoa Em 2 Coríntios 2, encontramos tal 
homem totalmente restaurado. O arrependimento dele é aceito pela assembléia e 
seus pecados são perdoados. O extravasar do coração do apóstolo nessa ocasião 
e suas exortações à igreja são lições valiosas para todos os que estão envolvidos 
na administração da igreja. O alvo de Paulo era remover a terrível desconfiança 
com a qual na maioria das vezes os irmãos que erraram são reintegrados aos 
privilégios da assembléia. “Basta-lhe ao tal esta repreensão feita por muitos. De 
maneira que pelo contrário deveis antes perdoar-lhe e consolá-lo, para que o tal 
não seja de modo algum devorado de demasiada tristeza. Por isso vos rogo que 
confirmeis para com ele o vosso amor” (2 Coríntios 2:6-7). Aqui temos um 
caso pontual, ilustrativo do governo da assembléia de acordo com a vontade de 
Cristo. “Tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares 
na terra será desligado nos céus.”
Esse P r in c íp io de G o v er n o d a Ig r eja 
A in d a é A plicável
A dificuldade de muitas pessoas é saber se e como tais princípios ainda 
podem ser aplicados hoje. Para isso temos de voltar à palavra de Deus. Temos 
de ser capazes e estarmos dispostos a proclamar: “Porque nada podemos contra 
a verdade, senão pela verdade” (2 Coríntios 13:8).
A autoridade administrativa e o poder sobre os quais falamos não foram 
dados apenas para Pedro e os demais apóstolos, mas também para a igreja 
como um todo. Em Mateus 18 temos a prática de um princípio estabelecido no 
capítulo 16: “E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutar a 
igreja, considera-o como um gentio e publicano. Em verdade vos digo que tudo 
o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será 
desligado no céu... Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, 
aí estou eu no meio deles” (Mateus 18:17-20).
Portanto, aprendemos que os atos de dois ou três, reunidos no nome de 
Cristo, têm a mesma sanção divina que a administração de Pedro. E novamente 
em João 20, o Senhor entrega o mesmo princípio de governo aos discípulos, não 
somente aos apóstolos, e isso após a ressurreição, onde a assembléia está realmente 
unida a Cristo como o Homem ressurreto. Isso é de suprema importância. O 
espírito de vida em Jesus Cristo torna os discípulos livres — cada discípulo livre
— da lei do pecado e da morte (Romanos 8:2). E a igreja é edificada sobre “esta 
rocha” - Cristo ressurreto, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. 
“Chegada, pois, a tarde daquele dia, o primeiro da semana, e cerradas as portas
onde os discípulos, com medo dos judeus, se tinham ajuntado, chegou Jesus, e 
pôs-se no meio, e disse-lhes: Paz seja convosco. E, dizendo isto, mostrou-lhes as 
suas mãos e o lado. De sorte que os discípulos se alegraram, vendo o Senhor. 
Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco; assim como o Pai me enviou, 
também eu vos envio a vós. E, havendo dito isto, assoprou sobre eles e disse-lhes: 
Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados lhes são 
perdoados; e àqueles a quem os retiverdes lhes são retidos” (João 20:19-23).
Podemos considerar que aqui o Senhor estabelece e inicia de fato a nova 
criação. Os discípulos são cheios e revestidos de paz e do Espírito de vida em 
Cristo Jesus. Eles serão enviados como Seus mensageiros, partindo de Seu túmulo 
vazio devido à ressurreição, levando a abençoada mensagem de paz e vida eterna 
a um mundo devastado pelo pecado, dor e morte. O princípio da administra­
ção interna dessa nova criação também é estabelecido claramente: é exatamente 
essa administração que sempre dará à assembléia crista um caráter distintivo e 
celestial, tanto na presença de Deus quanto na presença dos homens.
O P r in c íp io de R eceber P essoas 
n o In íc io d a Ig r eja
Por ser este princípio a base correta para todas as congregações cristãs, 
é bom nos determos para observar como ele operava nos dias dos apóstolos. 
Certamente eles entendiam seu significado e como aplicá-lo.
No dia de Pentecostes, e por algum tempo depois disso, não parece que 
os novos convertidos fossem submetidos a algum exame quanto à realidade de 
sua fé, seja da parte dos apóstolos ou de outros. “De sorte que foram batizados 
os que de bom grado receberam a sua palavra; e naquele dia agregaram-se quase 
três mil almas” (Atos 2:41). Portanto, receber a palavra era a base do batismo e 
da comunhão, pois nesta ocasião a obra estava inteiramente nas mãos do próprio 
Cristo. “E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de 
salvar” (v. 47). A tentativa de enganar os apóstolos maquinada por Ananias e 
Safira foi detectada. Pedro fez o que deveria fazer, mas o Espírito Santo agiu com 
poder e majestade, e Pedro reconheceu isso. Por essa razão ele disse a Ananias: 
“Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito 
Santo...?” (Atos 5:3).
Mas esse virgem estado de coisas logo acabou. As falhas começaram - o 
Espírito Santo foi entristecido, e se tornou necessário examinar os que se diziam 
cristãos para verificar se as motivações, objetivos e estado de alma deles estavam 
de acordo com a mente de Cristo. Agora estamos nas condições descritas em 2
2 8 ) A H is t ó r ia da Ig r e ja - capítulo 1
V e r d a d e s F u n d a m e n t a is |I
Timóteo 2. Temos de ter comunhão apenas “com os que, com um coração puro, 
invocam o Senhor” (v. 22).
Depois que a igreja se tomou tão misturada devido à presença daqueles 
cuja confissão de fé era apenas nominal, um grande cuidado tormou-se 
necessário ao receber pessoas para participarem da comunhão. Não basta que 
alguém diga que se converteu e peça para fazer parte da igreja baseado em 
seu próprio discurso: tal candidato tem de se submeter ao exame de cristãos 
experientes. Quando um indivíduo diz que sentiu convicção de pecado, e foi 
levado ao arrependimento diante de Deus e à fé no Senhor Jesus Cristo, sua 
confissão tem de ser investigada por pessoas que passaram pelo mesmo tipo 
de experiência. E mesmo quando a conversão for notoriamente genuína, um 
cuidado piedoso e gentil tem de ser exercido na admissão desse indivíduo, pois 
alguém que desonre a Cristo, que seja prejudicial à própria congregação e que 
a enfraqueça, pode também ser acolhido, embora inconscientemente. Nesse 
momento é necessário discernimento espiritual. E essa é a maior manifestação 
de bondade ao candidato, e o imprescindível zelo pela honra de Cristo e pela 
pureza da comunhão. A comunhão cristã chegaria ao fim se as pessoas fossem 
recebidasbaseadas apenas nas opiniões delas mesmas.
Em Atos 9 vemos a prática desse princípio no caso da recepção do 
próprio apóstolo. E certamente se ele mesmo não foi oficialmente aceito sem 
um testemunho adequado, quem pode reclamar? E obvio que o caso dele foi 
peculiar, mas ainda pode ser tomado como ilustração prática do assunto que 
estamos tratando.
Encontramos Ananias em Damasco e toda a igreja em Jerusalém ques­
tionando a veracidade da conversão de Saulo, embora esta fosse miraculosa. É 
claro que ele foi um inimigo declarado dos que proclamavam o nome de Cristo, e 
isso tornava os discípulos ainda mais cautelosos. Ananias hesitou em batizá-lo até 
que estivesse plenamente convencido da conversão dele. Ele consultou ao Senhor 
sobre o assunto, e após ouvir Suas palavras, foi diretamente a Saulo; Ananias lhe 
assegurou que fora enviado pelo mesmo Jesus que aparecera a Saulo no caminho 
de Damasco, e confirmou a verdade do que ocorrera. Saulo foi grandemente 
reconfortado, recobrou a visão e foi batizado.
Então, quanto à reação da igreja em Jerusalém lemos: “E, quando Saulo 
chegou a Jerusalém, procurava ajuntar-se aos discípulos, mas todos o temiam, 
não crendo que fosse discípulo. Então Barnabé, tomando-o consigo, o trouxe 
aos apóstolos, e lhes contou como no caminho ele vira ao Senhor e lhe falara, e 
como em Damasco falara ousadamente no nome de Jesus” (Atos 9:26-27). Paulo 
é um modelo para a igreja em muitas coisas, e nisso também. Ele é recebido
na assembléia - como todos os candidatos deveriam ser recebidos - com base 
em um testemunho condizente com a verdade de seu cristianismo proclamado. 
Porém, enquanto toda cautela piedosa tem de ser tomada para que pessoas 
como Simão, o mago (Atos 8), possam ser detectadas, é preciso demonstrar 
toda paciência e ternura para com os tímidos e fracos na fé. Porém, imediata­
mente após a recepção, a vida em Cristo e a consistência têm de serem buscadas 
(ver Romanos 14:15; 1 Coríntios 5 e 2 Coríntios 2). O caminho da igreja é 
sempre apertado.
O Papado mostra sua desesperada impiedade no uso indevido que 
tem feito da prerrogativa da igreja de reter ou perdoar pecados, daí todas as 
abominações da absolvição sacerdotal. O protestantismo foi para outro extremo
- provavelmente por temer a aparência do papado - e tem quase desprezado a 
disciplina. O caminho da fé é seguir a palavra de Deus.
O dia de Pentecostes - primeiro momento da história da igreja na terra - é 
a base que esclarece os grandes princípios fundamentais da igreja e do reino. A 
menos que compreendamos os princípios do cristianismo, jamais entenderemos 
sua história.
30 I A H i s t ó r i a d a I g r e ja - capítulo 1
Capítu lo 1
O D ia d e P e n t e c o st e s
A festa judaica de Pentecostes pode ser chamada de o dia do nascimento 
da igreja cristâ. Essa era também a data em que se comemorava a 
^entrega das tábuas da lei a Moisés, no monte Sinai. Aparentemente, 
os judeus não comemoravam esse evento. Cinquenta dias após a ressurreição 
do Senhor, a igreja foi formada e sua história teve início. Os santos do Antigo 
Testamento não faziam parte dessa igreja do Novo Testamento. Ela nunca 
existiu de fato, até o dia de Pentecostes.
Todos os santos, desde o início, tiveram direito a mesma vida eterna, já que 
todos são filhos do mesmo Deus e Pai, e todos morarão no mesmo céu; mas os 
santos do Antigo Testamento pertencem a outras dispensações, que aconteceram 
antes da vinda de Cristo. Nas Escrituras, cada dispensação tem seu início, desen­
volvimento, declínio e término e todas terão seu próprio reflexo no céu. Tanto 
as pessoas quanto as dispensações em que elas viveram serão indistintas lá.
Por isso, em Hebreus 11, ao falar sobre os antigos heróis da fé, o apóstolo 
diz: “E todos estes, tendo tido testemunho pela fé, não alcançaram a promessa, 
provendo Deus alguma coisa melhor a nosso respeito, para que eles sem nós não 
fossem aperfeiçoados” (vv. 39-40). Obviamente, se Deus proveu alguma coisa 
melhor para nós, tem de ser alguma coisa diferente também. Não nos oponhamos 
à própria palavra de Deus. Além disso, em Mateus 16 diz: “Sobre esta pedra 
edificarei a Minha igreja” (v. 18). E ao mesmo tempo, Ele deu as chaves para 
Pedro abrir as portas da nova dispensação. Até então, Ele não tinha edificado 
Sua igreja, e as portas do reino não estavam abertas. Mas a diferença entre o
antigo e o novo se tornará mais evidente quando falarmos dos grandes eventos 
do dia de Pentecostes. Vamos começar com os tipos de Levítico 23.
Foi ordenado aos fdhos de Israel que levassem ao sacerdote um feixe das 
primícias da colheita deles, para que ele o movesse diante do Senhor, a fim 
de que o povo fosse aceito por Deus (w. 9-11). Acreditamos que esse ritual 
prenunciava a ressurreição de nosso Senhor, na manhã seguinte ao sábado judeu, 
base da aceitação cristã diante de Deus no Cristo ressurreto. “Fala aos filhos de 
Israel, e dize-lhes: Quando houverdes entrado na terra, que vos hei de dar, e 
fizerdes a sua colheita, então trareis um molho das primícias da vossa sega ao 
sacerdote; e ele moverá o molho perante o Senhor, para que sejais aceitos; no dia 
seguinte ao sábado o sacerdote o moverá” (veja Mateus 28 e Marcos 16).
A festa de Pentecostes era celebrada sete semanas após o mover dos feixes. 
A oferta das primícias era considerada o primeiro dia da colheita na judéia, 
supostamente no dia de Pentecostes celebrava a colheita final do milho como 
totalmente realizada. Então eles tinham uma santa convocação. Dois pães, feitos 
com a farinha da nova colheita, caracterizavam essa festa. Os pães tinham de 
conter fermento e de serem trazidos de cada casa. Alguns pensam que esses dois 
pães prefiguravam a convocação para formar a igreja, composta tanto por judeus 
quanto pelos gentios. Pode ser, mas o que importa aqui é o número. Em Israel 
eram necessárias duas pessoas para validar um testemunho. O fermento indica, 
sem dúvida, o pecado que habita dentro do crente e, é claro, na igreja, vista em 
sua condição temporal.
Juntamente com a oferta movida - belo tipo do ressurreto Cristo puro 
e santo — eram oferecidos sacrifícios de aroma suave, mas nenhum sacrifício 
pelo pecado. Já com os dois pães — tipo dos que estão em Cristo - uma oferta 
pelo pecado se faz necessária, pois o pecado está presente e tem de ser coberto. 
Embora o perfeito e definitivo sacrifício de Cristo resolvesse totalmente a questão 
da natureza pecaminosa e dos pecados cometidos ao longo da vida, ainda na 
prática e na experiência, o pecado habita em nós e habitará enquanto estivermos 
neste mundo. Todos reconhecem isso, embora nem todos possam compreender a 
perfeição da obra de Cristo. O cristão foi aperfeiçoado para sempre através de uma 
única oferta, ainda que tenha de se humilhar e confessar a Deus cada falha.
O significado simbólico de Pentecostes ficou evidenciado de maneira 
notável na descida do Espírito Santo. Ele desceu para reunir os filhos de Deus 
que se achavam espalhados (João 11:52). Devido a esse grande evento, o sistema 
do judaísmo foi colocado de lado, e um novo vaso do testemunho - a igreja 
de Deus - foi introduzido ao mundo. Agora observe a ordem dos eventos. Em 
primeiro lugar, temos a ressurreição e ascensão de Cristo.
32 I A H i s t ó r i a d a I g r e ja - capítulo 2
D e P e n t e c o s t e s a o M a r t ír io d e E st ev ã o I
* * *
A R essu r r eiç ã o e A scensão de C r ist o
Encarnação, Crucificação e Ressurreição são os grandes fatos ou 
verdades fundamentais da igreja e do cristianismo. A encarnação foi necessária 
à crucificação e ambas à ressurreição. E uma verdade bendita que Cristo morreu 
na cruz por nossos pecados, porém, é igualmente verdade que o crente morreu 
em Sua morte (Romanos 6; Colossenses 2). A vida cristã é vida na ressurreição. 
A igreja está edificada sobre o Cristo ressurreto. Nenhuma verdade pode ser 
mais abençoada e maravilhosa que a encarnação e a crucificação, mas a igreja 
está associada com a ressurreiçãoe glorificação de Cristo.
Em Atos 1 temos um quadro do que está relacionado à ressurreição e 
ascensão do Senhor; e também com os atos dos apóstolos antes da descida 
do Espírito Santo. O maravilhoso Senhor ainda fala e age por intermédio do 
Espírito Santo. Foi “pelo Espírito Santo” que Ele deu ordenanças aos apóstolos 
que escolhera. Isso é digno de nota por nos ensinar duas coisas:
1. O caráter de nossa união com Cristo; o Espírito Santo no cristão e no 
Senhor ressurreto os une um ao outro de maneira extraordinária. “Mas 
o que se ajunta com o Senhor é um mesmo espírito” (ICoríntios 6:17). 
Pelo “mesmo Espírito” ambos são unidos.
2. Esse importante fato chama a atenção para a abençoada verdade de 
que o Espírito Santo habita e age no cristão, também após este estar 
efetivamente na ressurreição. Naquele momento, Ele não terá — como 
tem agora - a carne em nós para combater, mas irá nos conduzir sem 
qualquer impedimento às glórias do céu - à jubilosa adoração, ao 
abençoado serviço, e à plenitude da vontade de Deus.
O Senhor ressurreto ordena aos apóstolos a aguardarem em Jerusalém 
pela “promessa do Pai, que (disse ele) de mim ouvistes. Porque, na verdade, João 
batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito 
depois destes dias” (Atos 1:4-5). Não se trata mais de uma questão de promessas 
temporais a Israel, isso será adiado para um dia futuro . A promessa do Pai em 
relação ao Espírito Santo era uma coisa inteiramente distinta, e com resultados 
radicalmente diferentes.
O Senhor falou muitas coisas relativas ao reino de Deus com Seus 
apóstolos, subiu aos céus e então uma nuvem impediu que eles O vissem. A 
volta do Senhor também é prenunciada de maneira clara e cristalina nessa 
mesma ocasião. “E, quando dizia isto, vendo-o eles, foi elevado às alturas, e uma 
nuvem o recebeu, ocultando-o a seus olhos. E, estando com os olhos fitos no
céu, enquanto ele subia, eis que junto deles se puseram dois homens vestidos de 
branco. Os quais lhes disseram: Homens galileus, por que estais olhando para 
o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim 
como para o céu o vistes ir” (Atos 1:9-11). A partir dessas palavras fica evidente 
que Ele subiu pessoal, visível e corporalmente, e que é dessa mesma forma que 
Ele deverá vir - Ele aparecerá novamente entre as nuvens, e será manifesto aos 
povos sobre a terra, pessoal, visível e corporalmente; mas dessa vez com poder 
e grande glória.
Os apóstolos e discípulos tiveram de aprender duas coisas:
1. Que Jesus foi tomado desse mundo e levado aos céus.
2. Que Ele virá novamente. O testemunho deles se baseava sobre esses 
dois grandes fatos. Jerusalém seria o ponto de partida do ministério 
apostólico, e para isso teriam de esperar pelo poder de cima. Agora 
chegamos ao segundo grande evento, e mais importante de todos, que 
se relaciona à condição humana neste mundo - o dom do Espírito 
Santo. Já não seria Deus por nós, mas Deus em nós. Isso aconteceu no 
dia de Pentecostes.
* í; *
A D esc id a d o Espír it o Sa n t o
O tempo determinado chegara. A redenção tinha sido cumprida, Deus 
tinha sido glorificado - Cristo estava à destra do Pai no céu, e o Espírito Santo 
descera à terra. Deus inaugura a igreja e o faz de maneira condizente com Sua 
sabedoria, poder e glória. Um poderoso milagre foi realizado, um sinal exterior 
foi dado. O grande evento é registrado como segue abaixo.
Atos 2. “E, cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos concordemente 
no mesmo lugar; e de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e 
impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles 
línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E 
todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme 
o Espírito Santo lhes concedia que falassem. ” E bom fazermos uma pausa aqui 
para percebermos algumas coisas relacionadas à descida do Espírito Santo e à 
demonstração de Seu poder nesse importante dia.
Em primeiro lugar houve a consumação da promessa do Pai; o próprio 
Espírito Santo foi enviado dos céus. Essa era a grande verdade de Pentecostes. Ele 
veio do alto para habitar na igreja - o lugar preparado para Ele pela aspersão do
34 I A H i s t ó r i a d a I g r e ja - capítulo 2
D e P e n t e c o s t e s a o M a r t ír io d e E stev ã o
sangue do Jesus Cristo. Houve também o cumprimento da palavra do Senhor 
aos apóstolos: “Vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois 
destes dias” (Atos 1:5). Os discípulos não tinham a menor idéia do significado 
dessa palavra, mas o fato estava consumado. A revelação total da doutrina de 
“um só corpo” aguardava os ensinamentos de Paulo. “Pois todos nós fomos 
batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer 
servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito” (1 Coríntios 12:13).
Porém, além dos vários dons concedidos para o serviço do Senhor, temos 
algo mais bendito da perspectiva pessoal e inteiramente novo sobre a terra. O 
próprio Espírito Santo veio para habitar, não apenas na igreja, mas também 
em cada indivíduo que crê no Senhor Jesus. E, louvado seja o Senhor, que 
isso é tão verdadeiro hoje como foi no primeiro dia. Ele habita agora em cada 
crente que descansa na obra consumada de Cristo. Tendo em mente esse dia, o 
Senhor disse: “Vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós” (João 
14:17). Esses dois grandes aspectos da presença do Espírito foram cumpridos 
na íntegra no dia de Pentecostes. Ele veio habitar em cada cristão e na igreja, 
e agora - gloriosa verdade - sabemos que Deus não apenas é por nós, mas em 
nós e conosco.
Quando “Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com 
virtude” (Atos 10:38), Este apareceu em forma de pomba - belo emblema da 
pureza imaculada, da bondade e da humildade de Jesus. Ele não fazia ouvir Sua 
voz nas ruas, ou esmagava a cana quebrada, nem apagava o pavio que fumega 
(Isaías 42:3). Mas no caso dos discípulos que esperavam em Jerusalém, o que 
aconteceu foi totalmente diferente. O Espírito desceu como línguas de fogo e 
pousou sobre cada um. Isso foi característico. Foi uma demonstração do poder 
de Deus, não apenas para Israel, mas um prenúncio para todas as nações da 
terra. A Palavra de Deus também julgou tudo o que ocorreu antes disso - as 
línguas eram de fogo. O julgamento de Deus em relação ao homem por causa 
do pecado foi judicialmente expresso na cruz, e agora esse solene fato se tornará 
conhecido por toda a parte, devido ao poder do Espírito Santo. No entanto, a 
graça reina - reina através da justiça, da vida eterna por Cristo Jesus. O perdão 
é proclamado para o culpado, a salvação para o perdido, a paz para o atribulado, 
o descanso para o cansado. Todos os que crêem são, e sempre serão abençoados 
no e com o ressurreto e glorificado Cristo.
A surpresa e a consternação do Sinédrio e do povo judeu, sem dúvida 
foram enormes com o reaparecimento, em tal poder, dos seguidores do Jesus 
crucificado. Eles haviam concluído que, agora que o Mestre estava morto, 
os discípulos não iriam fazer mais nada. A maioria daqueles homens eram 
pessoas simples, sem educação. Mas como o povo deve ter ficado espantado
ao ouvir esses homens modestos pregando ousadamente nas ruas de Jerusalém, 
e convertendo milhares a um relacionamento vivo com Jesus! Mesmo sob o 
ponto de vista histórico, essa cena é cheia do mais emocionante interesse, e não 
encontra nenhum paralelo nos anais do tempo.
Jesus fora crucificado e, segundo a opinião popular, Suas declarações 
de que Ele era o Messias tinham sido sepultadas junto com Seu corpo. Os 
soldados que guardavam Seu sepulcro foram subornados para espalhar um falso 
testemunho acerca de Sua ressurreição; a excitação das pessoas já tinha passado; 
a cidade e a adoração no templo haviam retornado ao ritmo normal, como se 
nada tivesse acontecido. Porém, da parte de Deus, as coisas não

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