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Cognição social

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Cognição social refere -se aos proces-
sos cognitivos por meio dos quais as pessoas 
compreendem e explicam as outras pessoas 
e a si mesmas. Essa compreensão ocorre de 
forma instantânea, quase automática, mas 
também pode envolver considerações e aná-
lises detalhadas e lentas. Quando considera-
mos a complexidade das pessoas, a primeira 
característica que chama a atenção na cogni-
ção social é a rapidez com a qual compreen-
demos e julgamos os outros. Essa rapidez de 
julgamento tem seu preço: embora sejamos 
bons avaliadores em geral, também comete-
mos inúmeros erros quando julgamos o que 
são os outros e o que somos nós. Talvez o 
estudo da cognição social possa ajudar -nos 
a diminuir esses erros melhorando nosso 
autoconhecimento e nossa capacidade per-
ceptiva e interpretativa dos outros.
Plano do caPítulo
Este capítulo começa pela definição e evo-
lução da inteligência social humana e intro-
dução aos componentes básicos (schemas 
e atribuições) dos processos da cognição 
social. A inteligência social humana surgiu 
junto com o aumento do número de mem-
bros dos primeiros grupos de hominídeos. 
Os humanos desenvolveram “teorias da 
mente” para que pudessem julgar os com-
portamentos dos outros, especialmente 
os comportamentos de reciprocidade. Os 
schemas dizem respeito aos conteúdos (es-
truturas de conhecimentos armazenados na 
memória) de nossa cognição social. As atri-
buições são respostas às indagações das cau-
sas dos comportamentos que observamos e 
tentamos compreender.
Na segunda parte do capítulo, analisa-
remos os diferentes processos da cognição 
social: atenção, memória e inferência. Cada 
um desses componentes é analisado em ou-
tras áreas da psicologia, tais como a psicolo-
gia cognitiva, mas também são, com ajustes 
e adaptações, fundamentais para nossa au-
tocompreensão e para nossa compreensão 
dos outros.
cognição social: 
coMPreenden do os outros
De uma forma direta e simples, a cognição 
social pode ser definida como o pensar do 
indivíduo a respeito de si próprio e dos ou-
tros. Entretanto, embora a ênfase inicial 
tenha sido no pensar (cognição), os psicó-
logos sociais também procuram associar 
sentimentos e comportamentos à cognição 
social. O estudo das relações entre nossos 
pensamentos a respeito dos outros e de nos-
sos sentimentos, avaliações, emoções e com-
portamentos deu origem à distinção entre a 
“cognição quente” versus “cognição fria”, 
bem como à visão pragmática que relaciona 
a cognição ao comportamento: as ações são 
causadas pelos processos mentais envolvi-
dos no pensamento.
4
cOGniçãO sOciaL
bartholomeu t. tróccoli
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80 tOrres, neiva & cOLs.
Pensar sobre os outros é a atividade 
central de nossas vidas. Todos nós somos 
psicólogos amadores, pois estamos constan-
temente explicando nossas ações e as ações 
dos outros. Quando, por exemplo, alguém 
nos agride verbalmente em resposta a uma 
observação qualquer que acabamos de fazer, 
entendemos imediatamente que essa pessoa 
“pode ter se sentido ofendida ou ameaçada 
pela minha posição”. Estamos apenas reco-
nhecendo que o outro possui uma crença 
(acredita que tenho alguma intenção) e um 
desejo (quer evitar algo que considera nega-
tivo). A explicação das ações como resulta-
dos das crenças e desejos é o que define a 
chamada “psicologia senso comum” ou “psi-
cologia leiga”.
A psicologia leiga é produto do perío-
do formativo da espécie humana, período 
que começou depois da separação da linha-
gem humana da linhagem dos chipanzés 
há cerca de 6 milhões de anos1. Ambientes 
diferentes colocam problemas adaptativos 
diferentes, exigindo diferentes adaptações. 
Para compreender a evolução da mente hu-
mana, o ambiente social da espécie é mais 
importante do que o ambiente físico. Como 
os outros primatas, nossos ancestrais viviam 
inicialmente em pequenos grupos – mas que 
foram ficando maiores com as consequentes 
estruturas sociais cada vez mais complexas 
–, nos quais as questões colocadas pelas 
interações eram tão importantes quanto a 
sobrevivência aos predadores. Quais os pro-
blemas adaptativos enfrentados por nossos 
ancestrais? Vários autores (p. ex., Evans e 
Zarate, 1999; Buss, 2005) sugerem os se-
guintes:
•	 Evitar	predadores
•	 Achar	a	comida	certa
•	 Formar	alianças	e	amizades
•	 Ajudar	crianças	e	parentes
•	 Entender	a	mente	dos	outros
•	 Comunicar	‑se	com	os	outros
•	 Selecionar	parceiros	sexuais
Todos esses problemas colocaram 
obstáculos cruciais para a sobrevivência de 
nossa espécie, e o modelo predominante na 
psicologia evolucionista atual defende que 
a seleção natural provocou o surgimento de 
módulos mentais responsáveis pela supera-
ção desses obstáculos (Cosmides e Tooby, 
1992; Buss, 2005). O modelo da mente 
modular propõe que a mente é composta 
de vários módulos que se comunicam e in-
teragem como uma estrutura inata que se 
desenvolveu naturalmente e de forma se-
melhante aos órgãos biológicos. Para a psi-
cologia evolucionista, os diversos módulos 
mentais são adaptações que surgiram para 
resolver problemas adaptativos, permitindo 
a sobrevivência e a reprodução de nossa es-
pécie. Alguns módulos surgiram já nos an-
cestrais de nossos ancestrais e são comparti-
lhados com outros animais; outros são bem 
mais recentes e resultaram de adaptações 
a ambientes radicalmente diferentes dos 
ambientes de outras espécies. De qualquer 
maneira, os módulos não param de evoluir 
e todos foram se modificando durante o pe-
ríodo formativo da espécie humana.
Os problemas colocados pelo ambien-
te social foram inicialmente compartilhados 
pelos humanos assim como por todos os ou-
tros primatas. A luta por recursos escassos 
poderia ser enfrentada com o surgimento de 
coalizões formadas por dois ou três mem-
bros da espécie. No entanto, após a sepa-
ração de nossa linhagem da linhagem dos 
chipanzés, o tamanho dos grupos humanos 
foi aumentando cada vez mais, criando um 
valor também cada vez maior para a estra-
tégia de formação de alianças e coalizões. 
A associação com outros em busca de for-
mação de amizades passou a ser tão im-
portante quanto saber escolher a comida 
certa ou possuir a habilidade para detectar 
predadores. Mas a formação de alianças é 
uma tarefa difícil, porque envolve questões 
de altruísmo recíproco: a troca de favores só 
funciona se forem observadas regras do tipo 
“ajudo você agora e você me ajuda depois”. 
Existe sempre o risco de que um membro da 
aliança fique com os benefícios sem contri-
buir com nenhum dos custos envolvidos.
O problema da não reciprocidade é 
tão grave que a espécie que não desenvolver 
mecanismos para enfrentá -lo não sobrevive. 
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PsicOLOGia sOciaL: PrinciPais temas e vertentes 81
A questão é simples: o membro da espécie 
que não colabora com o pacto do altruísmo 
recíproco tem mais chances de sobreviver 
e reproduzir do que os que são facilmente 
enganados. Genes que favorecem esse tipo 
de comportamento vão ficar cada vez mais 
frequentes no pool genético da espécie e, 
eventualmente, todos serão egoístas e não 
altruístas. Como ninguém mais vai ajudar 
ninguém, as alianças se desfazem, ficando 
impossível viver em grupos.
Não surpreende, portanto, que todas 
as espécies que vivem em grupos descobri-
ram mecanismos para enfrentar a questão 
dos membros egoístas e aproveitadores. Ao 
analisar as soluções encontradas por diver-
sas espécies, Axelrod propôs, na década de 
1980 (p. ex., Axelrod, 1984), a existência 
de três condições, que, quando implemen-
tadas, neutralizam o problema dos apro-
veitadores: (1) organismos encontram os 
mesmos organismos repetidas vezes; (2) 
organismos podem reconhecer aqueles que 
já encontraram antes,diferenciando -os dos 
que são totalmente estranhos; e (3) orga-
nismos possuem memória suficiente para 
lembrar de como aqueles que já encontra-
ram os trataram nesses encontros prévios. 
Por que a existência dessas três condições 
elimina o risco do altruísmo não correspon-
dido? Porque os aproveitadores podem ser 
punidos e os cooperadores podem ser re-
compensados. Quem se recusou a retornar 
os favores pode ser punido com a expulsão 
do grupo ou com a recusa de qualquer ajuda 
posterior. Quem cooperou e retribuiu pode 
ser recompensado com ajuda contínua na 
hora da necessidade.
Todas as três condições foram surgindo 
em nossos ancestrais hominídeos ao longo 
de seu período formativo. A interação contí-
nua entre eles demonstrava que a existência 
desses grupos só era possível porque a evo-
lução tinha projetado tanto módulos sofisti-
cados de reconhecimento facial quanto uma 
boa memória para interações sociais. Todos 
nós somos extremamente sensíveis ao altru-
ísmo recíproco e mantemos uma espécie de 
“contabilidade social” para cada conhecido 
ou amigo. Se nossos registros indicam que 
alguém tem feito menos bem por nós (ou 
nossos amigos de alianças cooperativas) do 
que o fazemos por ele, então, na próxima 
vez que houver uma solicitação de ajuda, 
nos sentiremos bem menos inclinados – ou 
mesmo nos recusaremos – a ajudar. Essa 
contabilidade social também envolve me-
canismos mentais complexos, porque exige 
que, de alguma maneira, sejam atribuídos 
diferentes valores para diferentes ações. 
Quando uma pessoa doa seu bem para outra 
que está necessitada, os valores associados 
a essa ação de cooperação e a consequente 
retribuição vão depender de outros fatores 
contextuais. Neste caso, a contabilidade so-
cial levará em conta, por exemplo, a situa-
ção econômica de quem fez a doação ou 
empréstimo: a bondade de uma pessoa rica 
é valorizada de uma forma bem diferente da 
bondade de quem tem muito pouco e faz um 
grande sacrifício em favor do outro. O valor 
da ação também vai depender do custo para 
o doador e do benefício para o receptor da 
ação, mas os custos e benefícios de qualquer 
ato de bondade não podem ser fixados pre-
viamente, pois dependem do contexto no 
qual ocorrem2.
Esse é o ponto principal para a apre-
sentação da cognição social. Nós humanos 
desenvolvemos sistemas sociais complexos 
que só podem funcionar – no sentido do 
sucesso reprodutivo e da sobrevivência da 
espécie – se alicerçados em sistemas cogni-
tivos igualmente complexos que se manifes-
tam em nossa inteligência social.
cresciMento dos gruPos 
HuManos e o surgiMento 
da inteligência social
No período entre 6 milhões a 150 mil anos 
atrás, o tamanho médio dos grupos hominí-
deos saltou de cerca de 50 para 150 mem-
bros. Como já abordamos anteriormente, à 
medida que os grupos foram aumentando, 
vários módulos dedicados às trocas sociais 
foram evoluindo, favorecendo a formação 
de alianças estáveis que mantiveram os gru-
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82 tOrres, neiva & cOLs.
pos sociais coesos (o que também pode ser 
observado nos vários tipos de primatas). No 
caso dos humanos, entretanto, a evolução 
fez surgir um módulo bastante complexo e 
sofisticado: o “módulo de leitura da mente”, 
isto é, o módulo mental que permitiu que 
fizéssemos suposições ou inferências sobre o 
que as outras pessoas estão pensando, tendo 
por base suas ações, palavras e comporta-
mentos3.
Grupos maiores exigem mais capa-
cidade de memória para acompanhar os 
comportamentos dos outros, bem como 
capacidades de raciocínio social bem mais 
sofisticadas, que possibilitem manter equi-
líbrios delicados entre lealdades e amiza-
des conflitantes. Nesse ponto, já estamos 
considerando estratégias e jogos políticos 
bastante sofisticados, nos quais mentiras, 
promessas, jogos de cena e até mesmo sin-
ceridade e franqueza, ajudam -nos a manter 
nossos amigos e a enganar nossos inimigos. 
Aos poucos, surgem os psicólogos amadores 
armados com uma “teoria da mente”: uma 
teoria sobre como a mente humana funcio-
na. O principal axioma dessa teoria afirma 
que as ações são causadas por processos 
mentais, tais como crenças e desejos.
A explicação do surgimento da teoria 
da mente dentro de uma perspectiva evo-
lucionista de adaptação à seleção natural 
e sexual implica que a psicologia leiga não 
é uma invenção cultural. Ela é uma parte 
inata, herdada, da mente humana, que se 
desenvolve nos primeiros anos de vida até 
estar completa por volta dos 4 anos e meio. 
Nessa idade, a criança já consegue passar 
nos “testes de falsa crença”:
Uma psicóloga apresenta dois bonecos 
à criança. Os bonecos, chamados Sally e 
Ana, estão em um quarto de uma casa de 
brinquedo, junto de uma cama onde há 
almofadas. Primeiro, a criança observa 
Sally colocar alguns doces debaixo de 
uma almofada para logo em seguida sair 
do quarto. Enquanto Sally está fora, Ana 
tira os doces debaixo da almofada e os 
coloca em seu bolso. Quando Sally volta 
ao quarto, a psicóloga pergunta à criança 
“Onde Sally pensa que os doces estão?”. 
Antes dos 4 anos e meio, a criança respon-
de “no bolso da Ana” o que é uma resposta 
típica de quem ainda não desenvolveu 
uma teoria da mente. A criança não tem a 
noção de que os outros podem ter crenças 
diferentes de suas próprias crenças. Ela 
acha que todas as outras pessoas acredi-
tam no que ela acredita. E ela acredita no 
que ela viu: Ana colocou os doces no bol-
so. Portanto, Sally também tem a mesma 
crença. Após os 4 anos e meio, a resposta 
muda radicalmente: “Sally acredita que os 
doces estão debaixo da almofada”.
Com o surgimento da teoria da mente, 
a criança já compreende que outras pesso-
as podem manter crenças que são diferen-
tes das suas e que também podem manter 
crenças que são falsas. Só então a criança 
pode tentar manipular outras pessoas por 
meio da indução de falsas crenças, isto é, só 
então a criança aprende a mentir. E sem a 
capacidade para mentir, não é possível jogar 
os jogos políticos necessários para a vida em 
grupos sociais.
linguageM e altruísMo recíProco
Nossos ancestrais adquiriram a capacidade 
para usar linguagens complexas e sofisti-
cadas antes de deixar a África há cerca de 
100 mil anos. Na década de 1950, Noam 
Chomsky demonstrou que seria impossível 
para as crianças aprenderem uma língua de 
forma tão rápida apenas com os estímulos 
dados pelos pais e pelo ambiente cultural. 
A criança só aprende uma língua porque 
ela nasce pré -programada para este tipo de 
aprendizagem. Por que então nossos ances-
trais desenvolveram mais essa capacidade 
inata? Qual o problema adaptativo supera-
do com o uso da linguagem?
A teoria mais comum sugeria que a lin-
guagem é um sistema de comunicação que 
evoluiu para ajudar nossos ancestrais na caça 
e na defesa contra os predadores. De acordo 
com essa teoria, a função da linguagem era 
a de troca de informações sobre o ambiente 
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PsicOLOGia sOciaL: PrinciPais temas e vertentes 83
físico e ecológico, uma vez que sons são bem 
mais eficazes do que sinais visuais na escuri-
dão da noite e através de longas distâncias. 
Essa teoria, entretanto, foi contestada por 
Robin Dunbar (2004), quando propôs que 
a função básica da linguagem é a troca de 
informações sobre o ambiente social. Mais 
uma vez, a questão do altruísmo recíproco 
está na raiz de uma nova proposição para 
um mecanismo inato. Em grandes grupos, 
o altruísmo recíproco só funciona quando 
existe informação suficiente sobre quem é 
ou não é de confiança. Com grupos cada vez 
maiores, não é possível distinguir – apenas 
por meio da experiência direta, pessoal – 
entre os aproveitadores e os que cooperam. 
Sem a linguagem, isto é, sem um sistema de 
comunicação sofisticado, os grupos não po-
deriam crescer, ficando bastante limitados 
no número possível de membros. Existe um 
limite no número de pessoas que um indi-
víduo pode manter relações físicas diretas 
e constantes para que possa estimar quala 
probabilidade de cooperação futura4.
Para Dunbar (2004), a linguagem evo-
luiu para ajudar nossos ancestrais na ob-
tenção de informações sobre quem merece 
ou não confiança, principalmente quando 
não ocorre uma reciprocidade direta. Na 
reciprocidade indireta, o indivíduo é altruís-
ta com outra pessoa na esperança de esta-
belecer sua reputação como generoso e de 
confiança. Esse é um bom exemplo em que 
a linguagem ajuda na troca de informações 
sociais, permitindo que os humanos usufru-
am das vantagens de se viver em grandes 
grupos. Daí o fascínio humano pela fofoca: 
ela é a forma mais eficaz de comunicação 
para se obter informações sobre a confiabili-
dade dos outros.
características gerais 
da cognição social
Até agora, estabelecemos as bases evoluti-
vas de algumas das características do fun-
cionamento do cérebro humano, que surgi-
ram como adaptações às primeiras questões 
colocadas pelas interações sociais de nos-
sos ancestrais. Agora, descrevemos alguns 
dos princípios que norteiam os estudos da 
cognição social: (1) o indivíduo como um 
avarento cognitivo; (2) orientação para os 
processos; (3) pessoas como agentes cau-
sais; (4) percepção mútua; (5) centralida-
de do eu; (6) qualidade da percepção; (7) 
orientação pragmática (tático - motivada); e 
predominância dos processos automáticos 
(indivíduo como ator -ativado).
1. O indivíduo como um avarento cognitivo. 
As pessoas não gostam de pensar muito, 
exceto quando acham que é necessário. 
Elas procuram fazer render ao máximo 
o pouco do esforço cognitivo que conse-
guem exercer. Devido a essa tendência, 
Fiske e Taylor (1991; 2008) definiram as 
pessoas como “avarentas” no uso de seus 
recursos cognitivos. Não que as pessoas 
não consigam realizar trabalhos cogniti-
vos complexos. Elas o fazem quando eles 
são importantes e necessários. Mas o mun-
do é muito complicado, especialmente as 
outras pessoas e, frente a essa realidade, 
é melhor utilizar “atalhos cognitivos”, 
buscar simplificações e aproximações, em 
vez de proceder com análises minuciosas e 
bem fundamentadas. Vários dos processos 
que serão analisados mais adiante estão 
relacionados com a “sovinice cognitiva” 
das pessoas.
2. Orientação para processos. A abordagem 
da cognição social sempre utilizou a abor-
dagem predominante na psicologia cogni-
tiva, na qual os processos cognitivos são 
descritos como processos computacionais: 
as pessoas recebem informações (input), 
codificam o que receberam, armazenam 
na memória, recuperam da memória para 
realizar inferências e para gerar produtos 
(output). A psicologia cognitiva tende a 
definir os processos cognitivos como for-
mados por estágios sequenciais. O mesmo 
ocorre na cognição social. A sequência 
atenção → memória → julgamento, bem 
como outras sequências paralelas (atenção 
→ julgamento ou atenção → memória) 
são alguns dos principais referenciais 
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84 tOrres, neiva & cOLs.
des critivos da psicologia cognitiva e da 
abordagem da cognição social.
3. Pessoas como agentes causais. Parte funda-
mental da teoria da mente que recebemos 
por meio de nossa herança evolutiva é a 
percepção de que as pessoas são agentes 
causais. Percebemos as pessoas como 
sendo impulsionadas internamente em 
direção a suas ações e objetivos. Sentimos 
que os outros possuem agendas internas, 
não observáveis. Isso faz com que as 
pessoas fiquem bem mais interessantes 
e complexas como alvos de percepção e 
julgamento.
4. Percepção mútua. Outra característica que 
torna as pessoas interessantes e nossa 
percepção sobre elas em algo bem mais 
complexo, é que elas também retornam a 
percepção afetando o observador. Nossos 
impulsos naturais para compreender e 
explicar os outros se misturam com o 
que percebemos como a percepção e o 
julgamento deles a nosso respeito. A cog-
nição social é uma percepção mútua, um 
processo de mão dupla.
5. Centralidade do eu. Uma das consequên-
cias do processo de mão dupla mencio-
nada no item anterior é que a percepção 
de outra pessoa envolve o eu de quem 
percebe. O observador olha para outra 
pessoa e termina por também perceber a si 
próprio. As reações que a pessoa julga per-
ceber nos outros também define o que ela 
é: a adequação de seus comportamentos, 
opiniões e crenças, da maneira de vestir, 
etc. A centralidade do eu do observador 
é inevitável.
6. Qualidade da percepção. Todas as carac-
terísticas mencionadas até o momento 
chamam a atenção para a questão da 
exatidão e da qualidade do processo de 
observação de fenômenos não observá-
veis. Traços não observados são difíceis de 
comprovar, e este é também um grande 
problema em áreas como a psicologia da 
personalidade, por exemplo. Nas áreas 
da avaliação psicológica, são utilizados 
modelos e análises estatísticas comple-
xas em busca de algum tipo de validação 
dos traços não observados que possam 
descrever as pessoas. Qual a qualidade 
da psicologia leiga? Embora cometamos 
muitos erros, é evidente que, em média, 
chegamos a interpretações razoáveis, uma 
vez que conseguimos conviver razoavel-
mente bem. Uma das razões está no uso 
de opiniões alheias como técnica de va-
lidação de nossos julgamentos. É sempre 
possível confrontar nossa percepção com 
a percepção de um amigo em comum em 
busca de algum respaldo coletivo.
7. Orientação pragmática (tático ‑motivada). 
Seguindo William James, um dos lemas 
enfatizados na cognição social é que o 
“pensamento tem por objetivo a ação” 
(Fiske e Taylor, 1991, 2008). Como ana-
lisamos anteriormente, esta característica 
está profundamente alicerçada em nossa 
história evolutiva. O pensamento social 
das pessoas surgiu em função do planeja-
mento, da preparação e do ensaio prévio 
para as interações do indivíduo com seu 
grupo social de alianças e amizades. O 
indivíduo é um tático -motivado ao pensar 
para agir, escolhendo entre várias estraté-
gias políticas e sociais que garantam suas 
alianças e reciprocidade mútua. Para Fiske 
e Taylor (1991):
O contexto pragmático social do pensar 
sobre os outros significa que a cognição 
social tanto é causa quanto efeito da in-
teração social. A ligação com a interação 
social significa que (a) a qualidade e a 
exatidão das percepções das pessoas são 
suficientes para os propósitos do dia a dia; 
(b) elas constroem significados baseados 
nos traços, estereótipos e histórias mais 
úteis (convenientes e coerentes); e (c) 
seus objetivos determinam como pensam. 
(Fiske, 1995, p. 157)
8. Predominância dos processos automáticos 
(indivíduo como ator ‑ativado). Nos últimos 
anos, outro modelo do ser humano tem 
surgido na cognição social. O modelo 
indivíduo como ator -ativado considera 
que há uma predominância de processos 
afetivos e comportamentais automáticos, 
isto é, não acessíveis à consciência. A qua-
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PsicOLOGia sOciaL: PrinciPais temas e vertentes 85
se maioria das ações do tático -motivado 
não acontece como fruto de deliberações 
conscientes. Pelo contrário: associações 
inconscientes, ativadas em milésimos de 
segundos, ativam/preparam (priming 
effects) cognições, avaliações, afetos, mo-
tivações e comportamentos (Dijksterhuis 
e Bargh, 2001; Fazio e Olson, 2003).
eleMentos da cognição social
As pessoas usam suas estruturas cognitivas 
para chegar a uma compreensão rápida e 
bastante satisfatória a respeito dos outros e 
de si mesmas. Quais são os elementos que 
formam os conteúdos das estruturas cogni-
tivas? São dois os elementos principais que 
preenchem nossas estruturas cognitivas: 
schemas e atribuições.
Schemas
Os schemas são estruturas cognitivas com-
postas de conhecimentos sobre conceitos, 
objetos ou eventos, representados por seus 
atributos e pelas relações entre esses atri-
butos (Fiske, 1982; Fiske e Neuberg, 1990), 
os quais expressam pré -concepções ou teo-
rias sobre conceitos, objetos ou eventos. No 
nosso caso, os schemas que nos interessam 
são pré -concepções ou teorias a respeito 
das outraspessoas e de nós mesmos. Você, 
por exemplo, provavelmente tem um sche‑
ma sobre o que é uma pessoa extrovertida: 
quais são suas principais características? O 
que ela faria em uma situação tensa? É uma 
pessoa confiável? Amiga? Prestativa? Emo-
cionalmente Instável? Barulhenta? Por pos-
suir um schema “pessoa extrovertida”, você 
responde facilmente a estas perguntas por-
que você tem uma série de pré -concepções 
sobre ela. Para os psicólogos cognitivistas, 
um schema não passa de um termo com-
plicado para representar esse conjunto de 
conhecimentos ou pré -concepções. Pré-
-concepções possuem muitos elementos, 
informações conectadas entre si, formando 
uma teoria sobre “pessoa extrovertida” ou 
sobre quaisquer outros conceitos, objetos ou 
eventos. Uma implicação é que você pode 
não ter um schema sobre um conceito ou 
algo em particular.
Quais são os tipos de schemas? No 
exemplo acima, temos um schema de pessoa 
extrovertida. Mas as pessoas também pos-
suem todo tipo de schemas sobre traços de 
personalidade (estável, agressivo, cordial), 
ou de pessoas em uma determinada situa-
ção (comportamento em um restaurante, 
na sala de aula, no cinema). Neste caso, te-
mos o equivalente a scripts que descrevem 
ou prescrevem como a pessoa deve se com-
portar em certas situações. Outros tipos são 
os schemas sobre objetivos sociais (vingança, 
sedução, ajuda) e os schemas sobre papéis 
sociais que contêm os comportamentos e os 
atributos que esperamos de determinadas 
pessoas que ocupam posições sociais (che-
fes, líderes, administradores, professores, 
estudantes de graduação, estudantes de 
pós -graduação, membros de uma quadrilha, 
políticos, etc). Os schemas sobre papéis são 
schemas equivalentes a estereótipos.
Schemas sobre o próprio eu (self ‑sche‑
mas) constituem a base de nosso autoconcei-
to, mas também pode ser que não tenhamos 
nenhum schema sobre uma determinada di-
mensão de nosso eu. Se você nunca foi do 
tipo esportivo, por exemplo, não há como 
ter uma rede de conhecimentos e de pré-
-concepções sobre esse componente de seu 
eu. Como os self ‑schemas são bastante elabo-
rados, tendemos, entre outras coisas, a nos 
lembrar mais de informações que nos dizem 
respeito do que de informações que nos são 
indiferentes. (Kihlstrom, Cantor, Albright, 
Chew, Klein e Niedenthal, 1988).
Qual, então, são as funções dos sche‑
mas? Schemas influenciam a maneira como 
codificamos, relembramos e julgamos as 
informações que temos acesso sobre con-
ceitos ou eventos. Os schemas também di-
rigem nossa atenção para determinados as-
pectos das informações a que temos acesso. 
Um exemplo retirado de uma pesquisa de 
Owens, Bower e Black (1979) serve para 
ilustrar as funções dos schemas. Nessa pes-
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86 tOrres, neiva & cOLs.
quisa, três grupos de participantes leram 
cada um uma versão do seguinte relato:
Cris(tina) acordou sentindo -se enjoada 
novamente e ficou pensando se poderia 
estar grávida. Como iria dizer ao professor 
que ela estava namorando? E a questão 
do dinheiro ainda era outro problema... 
Cris foi para a cozinha, tirou a chaleira do 
armário, fez café, olhou o café e decidiu 
adicionar um pouco de leite e açúcar. 
Depois, vestiu -se e foi ao médico. Quando 
chegou ao consultório do médico, Cris foi 
examinada inicialmente pela enfermeira, 
que procedeu com os exames prelimina-
res rotineiros. Cris subiu na balança, e a 
enfermeira registrou seu peso. O doutor 
entrou na sala, examinou os resultados 
desses procedimentos, sorriu e disse 
“Bom, parece que todas as minhas ex-
pectativas foram confirmadas.” Cris foi 
embora e, quando foi chegando à sala de 
aula, decidiu sentar -se na primeira fila. 
Cris entrou na sala e sentou -se. O pro-
fessor foi para frente da sala e começou 
sua aula. Durante toda a aula, Cris não 
conseguiu se concentrar no que estava 
sendo dito. A aula parecia não terminar 
nunca. Mas, finalmente, terminou. Como 
o professor foi cercado pelos alunos logo 
após a aula, Cris saiu rapidamente da 
sala. No final daquela tarde, Cris foi a 
uma recepção no departamento e ficou 
olhando para ver quem estava lá. Cris foi 
até o professor, querendo conversar com 
ele, sentindo -se um pouco nervosa sobre o 
que dizer. Um grupo de pessoas começou 
a jogar alguns jogos. Cris foi até uma mesa 
onde estavam refrigerantes e salgadinhos. 
O lanche estava bom, mas Cris não se 
interessou por conversar com as outras 
pessoas presentes. Depois de certo tempo, 
Cris decidiu ir embora. (Owens, Bower e 
Black, 1979 apud Fiske, 1995, p. 163)
Um dos três grupos da pesquisa de 
Owen e colaboradores (1979) leu esta ver-
são da história. Agora, considere a mesma 
história com uma introdução diferente, 
substituindo as primeiras linhas até os três 
pontinhos (...): “Cris(tiano) acordou se per-
guntando quanto peso tinha ganho até o 
momento. O treinador de seu time de fute-
bol tinha dito que ele só seria escalado para 
o próximo jogo se ganhasse bastante peso e 
passasse no teste antidoping. A pressão era 
muito grande...” Continue com a mesma 
história já transcrita acima. Para o terceiro 
grupo, grupo controle, não foi fornecida 
nenhuma introdução, e a história se inicia 
depois dos três pontos (...).
Entre a primeira e a segunda versão da 
história, o significado muda radicalmente 
por conta dos schemas ativados. Na primei-
ra, temos o schema “gravidez indesejada” e, 
na segunda o schema “candidato a atleta”. 
Essa mudança radical ocorre porque nossos 
schemas para as duas situações levam a dife-
rentes codificações e à ativação de conheci-
mentos e reações emocionais adicionais que 
trazem para o que está escrito. Por exem-
plo, para entender melhor a influência do 
schema “gravidez indesejada” da primeira 
história, imaginemos que nossa persona-
gem tivesse tido oportunidade de conversar 
com o professor. Como ela estaria se sen-
tindo em uma situação dessas? Ansiosa? 
Desconfortável? Você não acha que teria 
sido melhor ter combinado um encontro 
com o professor em outro momento em vez 
de tentar conversar na recepção? Cristina 
ficou feliz quando descobriu que aumen-
tou de peso desde a última consulta? E na 
segunda versão da história, como Cristiano 
estava se sentindo com relação a seu pro-
fessor? Por que queria falar com o professor 
na recepção? Como ele estava se sentindo 
em relação a seu peso? Qualquer pessoa que 
tenha schemas ativados por essas histórias 
é capaz de compreendê -las, preenchê -las, 
imaginar caminhos e cenários alternativos, 
e assim por diante.
Para analisar mais ainda o papel dos 
schemas, Owen e colaboradores (1979) so-
licitaram, meia hora depois da leitura, que 
os participantes relatassem de memória 
tudo que tinham lido nas histórias, pro-
curando ser o mais fiel possível ao relato 
original. Os resultados mostraram que os 
dois grupos, cujas histórias ativaram sche‑
mas distintos, relembraram mais detalhes 
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PsicOLOGia sOciaL: PrinciPais temas e vertentes 87
na ordem correta e com menos erros e 
acréscimos de informações extras do que o 
grupo de controle. Os schemas ativados di-
rigem a atenção das pessoas para detalhes 
cruciais, guiam a memória e influenciam o 
julgamento.
A rapidez com a qual as pessoas jul-
gam as outras acontece porque o julga-
mento é feito automaticamente on ‑line. Os 
schemas permitem que façamos julgamentos 
e avaliações simplificadas, polarizadas e au-
tomáticas. Somos apresentados a alguém 
que nunca vimos antes e, imediatamente, 
temos reações positivas ou negativas já a 
partir do momento que começamos a re-
ceber informações (tom de voz, aparência, 
postura, conteúdo do que diz). Acontece 
que, quando encontramos alguém que ati-
va algum schema ligado a outra pessoa ou 
evento, ocorre uma reação ou transferência 
das mesmas reações de julgamento para a 
pessoa que acabamos de conhecer – sem que 
tenhamos nenhuma consciência disso. Pode 
ser até que o novo conhecido não nos lem-
bre ninguém em particular,mas venha de 
categorias de pessoas (ocupação, etnia, lo-
cal de nascimento) sobre as quais temos for-
tes reações afetivas ou de opinião (Andersen 
e Cole, 1990; Fiske, 1982; Devine, 1995). 
A categoria mais forte que existe é “nós” 
versus “eles”, uma divisão inter -grupos que 
sempre desencadeia julgamentos positivos 
para o nosso grupo e negativos para os de 
fora (Brewer, 1979; Mullen, Brown e Smith, 
1992). Não é de surpreender, portanto, que 
cada um de nós provoque reações tão diver-
sas nas outras pessoas.
Os schemas afetam nossa atenção, me-
mória e julgamentos, mas não são as úni-
cas influências em nossos pensamentos a 
respeito dos outros. Afinal, também temos 
outras evidências e informações que perce-
bemos ou recebemos de outras fontes. Os 
schemas atuam em confronto com as evidên-
cias; e o equilíbrio que surge dependerá de 
vários fatores. Em algumas situações, nossa 
motivação – quando temos pouco tempo, 
sobrecarga cognitiva, cansaço, por exemplo 
– nos leva a uma predominância de nossos 
schemas sobre as evidências (Brewer, 1988; 
Fiske e Neuberg, 1990; Gollwitzer, 1990; 
Hilton e Darley, 1991). Em outras situações, 
os fatores que influenciam esta relação são 
a congruência entre schemas e dados (Fiske, 
Neuberg, Beattie e Milberg, 1987) e o valor 
diagnóstico dos dados (Hilton e Fein, 1989; 
Leyens, Yzerbyt e Schadron, 1992). Trata-
-se, de fato, de uma questão de superação 
de nossos schemas e estereótipos em função 
dos dados e informações a respeito de uma 
determinada pessoa em particular. Os fa-
tores que podem diminuir a influência dos 
schemas e estereótipos são mais atenção e 
mais motivação para que possamos ir além 
das reações automáticas altamente influen-
ciadas por nossos schemas.
atribuições
Os schemas são definidos como um dos dois 
elementos básicos da cognição social. O ou-
tro são as atribuições. As pessoas são perce-
bidas como agentes causais e é importante 
saber como elas atribuem causas aos com-
portamentos dos outros e a seus compor-
tamentos. Não só atribuímos causas, como 
essas atribuições têm profundas influências 
sobre nossas reações afetivas e comporta-
mentos futuros. Esta é a razão pela qual as 
atribuições são parte fundamental de nossos 
pensamentos a respeito dos outros e de nós 
mesmos. Quando atribuímos disposições ou 
traços como causas de comportamentos ob-
servados, fornecemos toda informação ne-
cessária para ficar armazenada no schema 
relativo aos traços, comportamentos e rea-
ções afetivas em questão.
Weiner (2000; 2005) propõe duas teo-
rias para explicar as atribuições de causas 
a que o indivíduo recorre para explicar os 
próprios comportamentos (teoria da atribui‑
ção intrapessoal) e os comportamentos dos 
outros (teoria da atribuição interpessoal). 
Embora os modelos atribucionais de Weiner 
tenham sido desenvolvidos para explicar 
questões motivacionais nos comportamen-
tos de desempenho, vamos utilizar suas pro-
posições para descrever como as atribuições 
de causalidade são realizadas pelas pessoas 
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	Parte II - 
O indivíduo
	4. Cognição social

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