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Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 72543 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.7, p.72543-72557 jul. 2021 Concreto leve não estrutural com substituição parcial de seixo por caroço de Açaí Lightweight non-structural concrete with partial replacement of pebble with Acaí seed DOI:10.34117/bjdv7n7-436 Recebimento dos originais: 20/06/2021 Aceitação para publicação: 20/07/2021 Marco Antonio Barbosa de Oliveira Mestre em Engenharia Civil pela Instituição UFPA Instituição de trabalho: Docente no IFPA (Campus Belém) Instituição: Universidade Federal do Pará (Doutorando) Endereço: Av. Alm. Barroso, 1155, Bairro Marco – Belém, Pará, CEP: 66093-020 E-mail: marco.ufra@gmail.com Ruan Pinheiro Costa Técnico em Estradas pela Instituição IFPA Endereço: Av. Alm. Barroso, 1155, Bairro Marco – Belém, Pará, CEP: 66093-020 E-mail: ruan02costa@outlook.com Stefany Costa Brandão Tecnóloga em Saneamento Ambiental pela Instituição IFPA Endereço: Av. Alm. Barroso, 1155, Bairro Marco – Belém, Pará, CEP: 66093-020 E-mail: stefanycostabrandao@hotmail.com Marcos Vitor Mescouto Miranda Técnico em Estradas pela Instituição IFPA Endereço: Av. Alm. Barroso, 1155, Bairro Marco – Belém, Pará, CEP: 66093-020 E-mail: marcosvitormiranda@gmail.com Carlos Alberto da Costa Marques Técnico em Estradas pela Instituição IFPA Endereço: Av. Alm. Barroso, 1155, Bairro Marco – Belém, Pará, CEP: 66093-020 Alisson Aleixo Caldas Técnico em Estradas pela Instituição IFPA Endereço: Av. Alm. Barroso, 1155, Bairro Marco – Belém, Pará, CEP: 66093-020 Welton Raiol de Assunção Doutorando em Engenharia Civil pela Instituição UFPA Instituição: Universidade Federal do Pará (Doutorando) Endereço: Rua Augusto Corrêa, 01, Guamá, CEP: 66075-970), Belém, Pará, Brasil E-mail: wra_engenharia@yahoo.com.br Patrícia da Silva Chaves Mestra em Engenharia Civil pela Instituição UFPA Instituição de trabalho: Docente no IFPA (Campus Conceição do Araguaia) Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 72544 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.7, p.72543-72557 jul. 2021 Endereço: Rua Augusto Corrêa, 01, Guamá, CEP: 66075-970), Belém, Pará, Brasil E-mail: patricia.chaves@ifpa.edu.br Lêda de Azevedo Racanelli Mestra em Engenharia de Processos pela Instituição UFPA Instituição: Universidade Federal do Pará (Doutorando) Endereço: Rua Augusto Corrêa, 01, Guamá, CEP: 66075-970), Belém, Pará, Brasil E-mail: lbsracanelli@hotmail.com RESUMO A produção da polpa de açaí tem caráter significativo no Estado do Pará, que acarreta geração de resíduo de caroço açaí, que requer atenção a destinação. Nos locais onde se prepara esse alimento, encontram-se os caroços secos amontoados, representando um resíduo a ser destinado. Com a finalidade de reduzir a quantidade de resíduos direcionados aos canais e bueiros, que obstruem e causam alagamentos, tem ocorrido a uma procura por usos alternativos do caroço. Este estudo tem objetivo de avaliar o caroço de açaí como agregado graúdo leve para aplicação em concreto leve não estrutural, sendo sua aplicação imprescindível para a redução de resíduo que seria descartado inadequadamente. A avaliação do concreto leve não estrutural com a utilização do caroço de açaí em substituição parcial ao seixo na proporção de 30/70 (caroço/seixo) ocorreu a partir de determinação da consistência pelo abatimento de tronco de cone (slump test), conforme NBR NM 67 (ABNT, 1998), massa específica, segundo a NBR 9833 (ABNT, 2008) e a NBR 9778 (ABNT, 2005), e compressão axial, em consonância com a NBR 5739 (ABNT, 2018). Verificou-se que o concreto leve não estrutural com caroço de açaí submetido à fervura obteve os melhores resultados de massa específica e resistência à compressão. E que há diferença estatística significa apenas entre as médias de resistência à compressão, quando comparadas as famílias (CLIN), (CLCCA) e (CLF). Desta maneira, este estudo indicou uma alternativa tecnológica para uso do caroço de açaí em concreto leve não estrutural. Palavras-Chave: Caroço de Açaí, Seixo, Agregado Graúdo, Concreto Leve. ABSTRACT The production of açaí seed has a significant character in the State of Pará, which leads to the generation of açaí seed waste, which requires attention to its destination. In the places where this food is prepared, the dry seed are found in heaps, representing a waste to be disposed of. In order to reduce the amount of waste sent to channels and manholes, which obstruct and cause flooding, there has been a search for alternative uses of the seed. This study aims to evaluate the açaí seed as a light coarse aggregate for application in non-structural lightweight concrete, its application being essential for the reduction of waste that would be improperly discarded. The evaluation of non-structural lightweight concrete with the use of açaí seed in partial replacement of pebble in the proportion of 30/70 (stone/pebble) occurred from the determination of consistency by slump test, according to NBR NM 67 (ABNT, 1998), specific mass, according to NBR 9833 (ABNT, 2008) and NBR 9778 (ABNT, 2005), and axial compression, in line with NBR 5739 (ABNT, 2018). It was verified that the non-structural lightweight concrete with açaí seed submitted to boiling obtained the best results for specific mass and compressive strength. And that there is statistical difference only between the averages of compressive strength, when comparing the families (CLIN), (CLCCA) and (CLF). Thus, this study indicated a technological alternative for the use of açaí seed in lightweight non-structural concrete. Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 72545 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.7, p.72543-72557 jul. 2021 Keywords: Açaí Seed, Peblle, Coarse Aggregate, Ligthweigt Concrete. 1 INTRODUÇÃO O açaizeiro (Euterpe Oleracea) é nativo da Amazônia brasileira, do seu fruto é extraído o suco, polpa ou simplesmente açaí, como é conhecido na região, representando um importante alimento para populações locais, com produção anual de frutos no Brasil por volta de 219.885 t/ano (IBGE, 2017). Durante o beneficiamento, a polpa representa 15% do peso total do fruto e é aproveitado de forma tradicional, no consumo alimentar, sorvetes e outros produtos derivados e o caroço correspondem a 85%. Levando isso em consideração, seu beneficiamento produz um resíduo em quantidade exorbitante, resíduo que se tornou um inconveniente para os moradores da região metropolitana de Belém, principalmente ao que se refere ao seu descarte. Segundo Marins et. al. (2014) açaí gera muito rejeito, pois o seu caroço constitui cerca de 83% do fruto e é um material orgânico rico em carbono. O destino do resíduo da produção do açaí é um fator muito importante, pois a produção diária deste resíduo é abundante e deve-se ter um destino para evitar danos ao meio ambiente. Em contrapartida, segundo Cervi (2014) a construção civil utiliza muitas matérias-primas não renováveis da natureza, que provocam vários impactos ambientais no processo de extração e utilização, por exemplo, toxicidade, não reutilização, transformação da natureza, etc. A construção civil precisa buscar sustentabilidade na cadeia produtiva de seus processos, pois ocupa a terceira posição no ranking quanto a contribuição de emissão de gases para efeito estufa da atmosfera (NERI, 2015). A construção civil tem que adotar uso de materiais recicláveis, eficiência energética, etc. para ser caracterizada como indústria sustentável (GONÇALVES, 2014). A retirada de agregados graúdos do leito de rios ocorre a partir de extração mecânica, que promove uma grande preocupação ambiental no mudo todo (SILVA et. al., 2013). Deste modo, torna-se necessário uso de materiais sustentáveisde origem natural, local, reutilizáveis, recicláveis, a fim de propiciar menores níveis de energia para processamento, de maneira a reduzir desperdícios. Entre eles, tem-se fruto do açaí, em que apenas 17% dele é comestível e destinada para extração do suco ou polpa, e desta maneira aproximadamente 83% apresentam-se como caroço, fibra e semente oleaginosa. Alguns estudos têm buscado a utilização do caroço de açaí a partir da confecção de artesanato, fertilizante orgânico e potencial para biossorvente de íons metálicos de Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 72546 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.7, p.72543-72557 jul. 2021 soluções aquosas (RECH, 2014). Na Indústria da Construção Civil, como por exemplo, a análise da utilização do caroço do fruto do açaí como agregado graúdo no revestimento da pavimentação em misturas tipo concreto asfáltico (CA), baseado em estudo realizado antes por Silva et. al. (2011). Cruz (2011) realizou estudos com granulado de caroço de espiga de milho para isolamento térmico e acústico. O caroço de espiga de milho pode ser utilizado com agregado para utilização em concreto leve não estrutural (PINTO; PEREIRA; PAIVA, 2015). Hoffmann (2016) realizou um estudo com caroço de dendê que apresentou características físicas e químicas que apontam a possibilidade de utilização em compósitos cimentícios, que por apresentar parcialmente amorfo e baixa atividade pozolânica poderia ser utilizado como carga em pequenos teores em substituição a areia para a produção de argamassa. No estudo de concreto leve para camada de regularização com agregado de granulado e fatiado de caroço da espiga de milho verificou-se apresenta densidade e desempenho térmico semelhante ao concreto leve com argila expandida, entretanto obteve-se resistência a compressão menores e ciclo de secagem mais lentos (PINTO; PEREIRA; PAIVA, 2015). Faustino et. al. (2014) também atingiu resultados satisfatórios de desempenho e resistência ao fogo para a utilização de concreto leve com agregado granulado de caroço de espiga de milho. Pinto, Pereira e Paiva (2015) caroço de espiga de milho foi caracterizado por uma elevada heterogeneidade, que se deve ao fato de material orgânico e natural, bem como, com propriedades que apresentam potencial de aplicação como material de construção. É constituído por três camadas diferenciadas entre si para a forma, textura, densidade e cor. A microestrutura, composição química e densidade apresentam-se semelhantes em relação a outros materiais de isolamento térmico, como a cortiça e da argila expandida. A caroço de espiga de milho tem uma absorção de água com resistência à água aceitável para certas aplicações de construção e ainda tem um desempenho de condutibilidade térmica similar ou melhor aos demais materiais isolantes térmicos, quando submetido ao fogo. Deste modo, apontou para a utilização como agregado em substituição a argila expandida para concreto leve não estrutural, sendo assim como matéria-prima para a produção de elementos de isolamento térmico, paredes divisórias leves, painéis de revestimento de tetos, portas interiores, mobiliário. Este estudo tem a finalidade de contribuir na avaliação de concreto com substituição de seixo rolado de rio por caroço de açaí “in natura” ou tratado com cinza de caroço de açaí ou fervido a partir de ensaios no estado fresco (slump test e massa Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 72547 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.7, p.72543-72557 jul. 2021 específica) e estado endurecido (massa específica e resistência à compressão), e ainda se houve ou não diferenças significativas estatísticas entre as médias quando comparadas as famílias de concreto (CLIN), (CLCCA) e (CLF) com as categorias das variáveis de modo individual por meio de Análise de Variância (ANOVA). 2 METODOLOGIA 2.1 MATERIAIS Inicialmente houve a coleta do caroço de açaí, conforme a NBR NM 26 ABNT: 2001(15), que estava armazenado em maxis sacos “big bag” de polipropileno provenientes do box da feira, localizada na Av. 25 de setembro no Município de Belém do Para (Figura 1). Figura 1 - Local de coleta do Caroço de Açaí Em seguida, ocorreu à lavagem para retirada de fibras moídas durante processo de extração do suco ou polpa de açaí (Figura 2). E espalhou-se sobre lona à temperatura ambiente para secagem por uma semana (Figura 3). Por conseguinte, houve secagem em estufa à temperatura de 50ºC com verificação de constância de massa a cada 24 horas para perda apenas de umidade. Obteve-se massa constante após terceiro dia desse procedimento de secagem com ciclo de 24 horas. Figura 2 - Lavagem do Caroço Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 72548 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.7, p.72543-72557 jul. 2021 Figura 3 – Secagem do Caroço 2.1.1 Cimento Para a realização das análises, foi utilizado cimento Portland do tipo CP II-E-32. Possui fácil aquisição na Região Metropolitana de Belém e por não ser objeto de estudo nesta pesquisa a interação química entre cinza e cimento Portland. 2.1.2 Agregado Miúdo O agregado miúdo (areia) é proveniente do Município de Castanhal no Estado Pará. A caracterização física está apresentada na Tabela 1 e composição granulométrica mostrada na Figura 4. Tabela 1 – Propriedades físicas do agregado miúdo Propriedades Resultados Método de Ensaio Modulo de finura 2,06 ABNT NBR NM 248 (2006) Massa Unitária (g/cm³) 1,48 ABNT NBR NM 45 (2006) Índice de Vazios (%) 43,30 Massa Específica (g/cm³) 2,64 ABNT NBR NM 52 (2003) Material Fino (%) 0,01 ABNT NBR NM 46 (2003) Absorção de Água (%) 0,56 ABNT NBR NM 30 (2000) Dimensão Máxima Característica (DMC) 1,18 mm ABNT NBR NM 248 (2006) Figura 4 – Composição granulométrica do agregado miúdo Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 72549 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.7, p.72543-72557 jul. 2021 2.1.3 Agregado Graúdo O agregado graúdo (seixo de rio) é proveniente do Município de Ourém no Estado do Pará. A caracterização física está apresentada na Tabela 2 e composição granulométrica mostrada na Figura 5. Tabela 2 – Propriedades físicas do agregado graúdo Modulo de finura 6,55 ABNT NBR NM 248 (2006) Massa Unitária (g/cm³) 1,52 ABNT NBR NM 45 (2006) Índice de Vazios 42,4 Massa Específica (g/cm³) 2,50 ABNT NBR NM 53 (2009) Dimensão Máxima Característica (DMC) 19,0 mm ABNT NBR NM 248 (2006) Figura 5 – Composição granulométrica do agregado graúdo 2.1.4 Caroço de Açaí O caroço de açaí foi coletado de maxis sacos “big bag” de polipropileno provenientes do box da feira, localizada na Av. 25 de setembro no Município de Belém 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 < 0,150,150,300,601,182,364,756,309,50 P o rc e ta g e m [ % ] Abertura das Peneiras [mm] Composição Granulométrica - Agregado Miúdo Massa Retida Massa Passante Acumulada Massa Retida Acumulada Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 72550 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.7, p.72543-72557 jul. 2021 do Para. Apresenta-se a caracterização física na Tabela 3 e a Figura 6 mostra a curva granulométrica, conforme citado anteriormente, que foram obtidos no projeto de pesquisa inicial. Tabela 3 – Propriedades físicas do caroço de açaí Modulo de finura 0,99 ABNT NBR NM 248 (2006) Massa Unitária (g/cm³) 0,64 ABNT NBR NM 45 (2006) Massa Específica (g/cm³) 1,49 ABNT NBR NM 53 (2009) Dimensão Máxima Característica (DMC) 12,5 mm ABNT NBR NM 248 (2006) Figura 6 - Curva granulométrica do caroço de açaí 3 MÉTODOS 3.1 CAROÇO DE AÇAÍ COMO AGREGADO LEVE Houve a caracterização granulométrica, massa unitária e específica, respectivamente, conforme a NBR NM 248 (ABNT,2003), NBR NM 45 (ABNT, 2006) e NBR NM 53 (ABNT, 2009), conforme é utilizada para agregado graúdo normal. Posteriormente houve enquadramento do caroço de açaí na faixa granulométrica e massa unitária, de acordo com a ASTM C330/330M (2017a). 3.2 CONCRETO COM SUBSTITUIÇÃO PARCIAL DE SEIXO POR CAROÇO DE AÇAÍ O estudo de proporções ocorreu com a determinação da massa constante de partida de seixo e variação da massa de caroço de açaí “in natura” com a finalidade de identificar maiores resultados de massa unitária e específica e, por conseguintes menores índices de vazios entre as proporções de agregados, conforme apresentado na Tabela 4 e mostrado na Figura 7. A proporção com melhores resultados dos parâmetros foi utilizada para 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 1 10 100 % R e ti d a A c u m u la d a Abertura das Peneiras (mm) Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 72551 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.7, p.72543-72557 jul. 2021 produção do concreto leve não estrutural, segundo método de dosagem da ABCP com traço definido (1:2,69:0,65:0,97:0,6), teor de argamassa de 75,3% (α) e consumo de cimento de 353,3 kg/m³. Houveram a combinação de agregados miúdos normal, agregados graúdos normal e leve na dosagem. Segundo ACI 213R (2003) para combinação de agregados normal e leve recomenda-se consumo mínimo de cimento de 335 kg/m³ para concreto por bombeamento. O slump test do concreto leve para aplicação em piso deve estar entre 75 mm e 125 mm, com a finalidade de garantir uma trabalhabilidade e coesão satisfatória. E se for por bombeamento deve ficar entre 100 mm e 150 mm. Em detrimento da matéria orgânica presente no caroço de açaí houve tratamento superficial com cinza de caroço de açaí e fervura do caroço “in natura” por 1 hora e 30 minutos. E desta maneira houve para cada família de concreto leve não estrutural com caroço de açaí a moldagem de 03 corpos de prova, estabelecidas por CLIN (concreto leve com caroço de açaí in natura), CLCCA (concreto leve com caroço de açaí tratado com cinza de caroço de açaí) e CLF (concreto leve com caroço de açaí tratado com fervura). A preparação do concreto ocorreu em consonância com a NBR 12821 (ABNT, 2009). A moldagem, adensamento, e cura imersa em água, conforme a NBR 5738 (ABNT, 2015). No estado fresco houve a determinação da consistência pelo abatimento de tronco de cone (slump test) de 100 ± 10 mm, de acordo com a NBR 16889 (ABNT, 2020), conforme mostra a Figura 8, e massa específica no estado fresco, segundo NBR 9833 (ABNT, 2008). No estado endurecido houve ensaio de compressão axial, conforme a NBR 5739 (ABNT, 2018) e massa específica aos 28 dias, conforme NBR 9778 (ABNT, 2009). Para verificar se há ou não influência das variáveis e se suas categorias nas famílias de concreto utilizou-se a análise de variância (ANOVA) a partir da comparação das categorias das variáveis, e quando verificada diferenças estatísticas, foi utilizado teste de Tukey para verificação do efeito das categorias de variáveis: CLIN, CLCCA e CLF. Foi adotado um nível de confiança de 95% e erro aceitável de significância α = 5% para todos os testes realizados. Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 72552 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.7, p.72543-72557 jul. 2021 Tabela 4 – Proporção de misturas Figura 7 - Curva de proporção de mistura Figura 8 – Ensaio de abatimento (slump test) 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 CONCRETO LEVE NÃO ESTRUTURAL COM SUBSTITUIÇÃO PARCIAL DE SEIXO POR CAROÇO DE AÇAÍ Conforme apresentado na Tabela 4 observa-se que no estudo de proporção houve maior resultado de massa unitária e menor índice de vazios para a proporção de açaí/seixo 40 45 50 55 60 65 70 75 10 20 30 40 50 60 70 80 90 Ín d ic e d e v a zi o s (% ) Proporções (seixo/açai) Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 72553 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.7, p.72543-72557 jul. 2021 (50/50), entretanto em decorrência da resistência e presença de matéria orgânica no caroço de açaí optou-se por utilizar a proporção de 30/70 (açaí/seixo). Os resultados de slump test, massa específica no estado fresco e endurecido (ρ – EE) e resistência à compressão (fck) aos 28 dias de idade são apresentados na Tabela 5 e mostrados na Figura 10. Em que se pode observar um aumento da massa específica no estado endurecido à medida que cresceu a resistência à compressão, conforme pode ser observado na ASTM 330/C330M (2017a). No entanto verifica-se que menores resultados massa específica no estado fresco para concreto leve não estrutural com caroço in natura e submetido à fervura, isto, pode ser explicado pela presença de maiores volumes de poros permeáveis, que conseguiram absorver mais água, enquanto concreto leve não estrutural tratado cinza de caroço de açaí apresenta maiores resultados de massa específica no estado fresco, tendo em vista que os poros permeáveis foram preenchidos com cinza de caroço de açaí, que ocasionou menores níveis de absorção de água. De acordo com ACI 213R (2003) a massa específica no estado fresco do concreto leve tem influência das proporções de mistura, teor de ar, consumo de água, massa específica dos materiais e teor de umidade absorvido pelo agregado leve. O menor resultado de massa específica obtida (1950 kg/m³) no estado endurecido está acima do mínimo estabelecido pela ASTM 330/C330M (2017a), que corresponde a 1840 kg/m³ para a condição de combinação entre agregado normal e leve. Entretanto, ainda se encontra abaixo da massa específica do concreto normal, que possui aproximadamente valores acima de 2400 kg/m³. Conforme ACI 213R (2003), quando a massa específica do concreto leve estiver acima de 1920 kg/m³ pode ser denominado de concreto com densidade especificada. Ademais, não houve diferença estatística significativa (ρ = 0,442), (ρ = 0,651) e (ρ = 0,06), respectivamente, entre os valores médios de abatimento no slump test, massa específica no estado fresco e endurecido, quando comparadas as famílias de concreto leve (CLIN), (CLCCA), (CLF). No entanto houve diferença estatística significativa (ρ = 0,002 – F = 19,2 | Fcr = 5,1) entre as médias de resistência a compressão, quando comparadas as famílias de concreto leve (CLIN), (CLCCA) e (CLF), e ainda quando analisadas as médias de resistência a compressão, quando comparadas as famílias de concreto leve (CLIN) e (CLCCA) (ρ = 0,006 – F = 7,8 | Fcr = 7,7), e comparadas (CLCCA) e (CLF) (ρ = 0,003 – F = 10,2 | Fcr = 7,7), conforme mostra a Figura 10. Ainda foi possível constata-se que as amostras de concreto leve com caroço de açaí “in natura” apresentaram fissuras durante cura imersa em água, conforme mostra Figura 9, nesse caso, caroço de açaí tem a capacidade de absorver água e Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 72554 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.7, p.72543-72557 jul. 2021 desenvolver processo de germinação, que fica inibida pelo tratamento com cinza de caroço de açaí ou fervura, que neste último de caso proporciona redução da matéria orgânica apesar de aumentar número de poros. A ACI 213R (2003) relata que concreto leve com baixa resistência possui a possibilidade de atingir maiores níveis de contração em relação a resistências mais elevadas. Alguns estudos como realizado por Scobar (2016) com a utilização da proporção de 30/70 (argila expandida/brita) e relação a/c de 0,60 obteve resistência à compressão de 13,85 MPa e massa específica de 1436,1 kg/m³, em média, para concreto leve. Rosário (2013) desenvolveu uma pesquisa com a proporção de (50/50) para agregado de lama vermelha/seixo de rio, consumo de cimento de 345 kg/m³, slump test de 80 mm, relação a/c de 0,58 atingiu massa específica noestado fresco e endurecido, respectivamente, de 2150 kg/m³ e 2050 kg/m³, em média, bem como, resistência à compressão de 23,20 MPa, em média, aos 28 dias de idade para concreto leve. Figura 9 – Moldagens iniciais de concreto leve com caroço de açaí in natura Tabela 5 – Propriedades no estado fresco e endurecido das famílias de concreto leve Família Slump Test (mm) Massa Específica (kg/m³) fck (MPa) Estado Fresco Estado Endurecido CLIN 100,0 2100,0 1950,0 4,0 CLCCA 90,0 2160,0 2100,0 6,0 CLF 90,0 2080,0 2185,0 9,0 Figura 10 – Propriedades no estado fresco e endurecido das famílias de concreto leve 0 2 4 6 8 10 12 14 CLIN CLCCA CLF 0 20 40 60 80 100 fc k (M P a) S lu m p T es t (m m ) fck (MPa) Slump Test (mm) Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 72555 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.7, p.72543-72557 jul. 2021 5 CONCLUSÃO O caroço de açaí apresenta características que habilitam como agregado leve e utilização na dosagem de concretos como agregado graúdo leve, contudo é necessária uma análise das proporções de agregado graúdo normal/caroço de açaí e tratamento por ser matéria orgânica, para que a se tenha um resultado mais exato dos benefícios da utilização do caroço de açaí em concreto leve não estrutural. Deste modo, dentro das condições e análises experimentais dessa pesquisa, pode-se concluir que é possível a utilização do caroço do açaí como substituto parcial do seixo para concreto leve não estrutural. O estudo atende critérios ambientais e sustentabilidade. 3 6 9 12 15 18 21 24 CLIN CLCCA CLF 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200 fc k ( M P a ) ρ - E E ( kg /m ³) ρ - EE (kg/m³) fck (MPa) R² = 0,4681 0 2 4 6 8 10 12 1500 1750 2000 2250 2500 fc k (M P a ) ρ - EE (kg/m³) 0 2 4 6 8 10 CLIN CLCCA CLF fc k (M P a ) c b a [a,b] F (7,8) = Fcr (7,7) | ρ = 0,05 [b,c] F (10,2) = Fcr (7,7) | ρ = 0,03 Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 72556 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.7, p.72543-72557 jul. 2021 REFERÊNCIAS AMERICAN CONCRETE INSTITUTE. ACI. ACI 213R-03. Guide For Structural Lightweight Aggregate Concrete, ACIA Manual of Concrete Practice, 2003. AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM C330/ASTM C330/330M-17a. 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