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Electronic copy available at: https://ssrn.com/abstract=3007203 Reações oscilantes na Biofísica (Oscillating reactions in Biophysics) Anderson Ferreira Sepulveda1 1Instituto de Física – Universidade de São Paulo Resumo Esse trabalho pretende descrever alguns avanços sobre reações químicas oscilantes aplicadas em Biofísica, especificamente tratando da Física da mecânica celular. As oscilações de concentração em reações químicas sobre condições longe do equilíbrio têm sido sujeitos de interesse considerável, em parte por causa da sua relação com relógios biológicos e com a diferenciação dinâmica de vários tecidos. Abstract This work intends to describe some advances on oscillating chemical reactions applied in Biophysics, specifically dealing with the Physics of cellular mechanics. The oscillations of concentration in chemical reactions on conditions far from equilibrium have been subjects of considerable interest, partly because of their relationship with biological clocks and with the dynamic differentiation of various tissues. Introdução Nós todos sabemos que reações químicas são essenciais à existência a qualquer ser vivo. Porém, muitas das reações vitais mostram certa periodicidade, alguns processos orgânicos, como a divisão celular e o padrão de respiração, acontecem em ciclos regulares. Esses processos cíclicos ou oscilatórios frequentemente representam sistemas de controle onde outros processos podem controlar o período de oscilação. (Tomita & Kitahara, 1975). Foram feitas tentativas para começar a entender os mecanismos de oscilações químicas. No entanto, os mecanismos de reações heterogêneas são extremamente complicadas, já que envolvem transições de fase e processos de transporte. Reações homogêneas são muito mais simples. Alfred Lotka propôs modelos de reações químicas oscilantes em processos autocatalíticos irreversíveis. O primeiro modelo inclui um passo autocatalítico e resulta em oscilações amortecidas: Electronic copy available at: https://ssrn.com/abstract=3007203 A → a, a + b → 2b, b →. O segundo modelo representou um maior avanço na química oscilatória. Ele contém dois passos autocatalíticos consecutivos, resultando em oscilações não amortecidas: A + a → 2a, a + b → 2b, b →. Os modelos de Lotka conectaram duas importantes características dos sistemas biológicos: multiplicação e oscilações nas densidades de população. Acreditava-se que oscilações de sistemas químicos homogêneos eram impossíveis, porém Bohnoeffer, em 1948, estabeleceu que sistemas heterogêneos são mais convenientes para oscilações, mas não mais importantes (Zhabotinsky, 1991). É fácil imaginar oscilações em sistemas heterogêneos. Por exemplo, uma superfície de reação está ativo, logo ocorre a inibição por causa dos produtos da reação e então a reação para. Em seguida, quando começa a retirada do inibidor da superfície de um volume, essa superfície se torna livre e ativa novamente. Em sistemas homogêneos, não há movimentos no espaço, somente variações de concentração no tempo. Em 1951, Belousov observou uma oscilação da cor de uma solução durante a oxidação de ácido cítrico pelo bromato, catalisado por cério. Ele logo compreendeu a importância de suas observações e encontrou as condições para oscilações estáveis e distintivas. Entre outras coisas, ele mostrou que os períodos de oscilação diminuem com o aumento de temperatura. No entanto, Belousov incorretamente atribuiu as oscilações na cor da solução ao aparecimento e desaparecimento de bromo livre no sistema (Zhabotinsky, 1991). Zhabotinsky substituiu o ácido cítrico por ácido malônico para melhorar o contraste das oscilações de cor. Ele demonstrou que essas oscilações resultam das oscilações da concentração de íons de cério e que bromo livre não aparece em quantidades detectáveis durante a reação. Também foi demonstrado que um inibidor da oxidação catalítica de íons de cério por brometo é produzido durante a fase de ciclo oscilatório quando a concentração de íons de cério diminui por causa da redução pelo ácido malônico. A Figura 1 mostra um mecanismo básico de reação oscilante. A reação consiste de duas partes principais: a oxidação autocatalítica de íons de cério pelo bromato e a redução de íons de cério pelo ácido malônico. Derivados do bromo são produzidos durante a reação global. A redução do íon cério é acompanhada pela produção de íon brometo a partir dos derivados de bromo. Íon brometo é um forte inibidor da oxidação autocatalítica porque há uma rápida reação com o autocatalista, que é presumivelmente ácido de bromo ou algum radical livre de óxido de bromo. Um ciclo oscilatório pode ser qualitativamente descrita. Supondo que alta concentração de íon cério está presente no sistema. Então, íon brometo será produzido rapidamente e sua concentração também será alta. Como resultado, oxidação autocatalítica é completamente inibida, e a concentração de íon cério é diminuída devido a sua redução pelo ácido malônico. A concentração de íon brometo diminui juntamente com a do íon de cério. Quando [Ce4+] alcança seu limiar inferior, a concentração de íon brometo cai abruptamente. A rápida oxidação autocatalítica começa e aumenta a concentração de íon de cério. Quando essa concentração chega ao seu limiar superior, [Br-] aumenta bruscamente, inibindo completamente a oxidação autocatalítica. E a reação se repete. Para checar a homogeneidade do sistema, Zhabotinsky conduziu um estudo em que reações oscilantes foram realizadas em reatores feitos de diferentes materiais, e com razão do volume do reator com sua superfície mudada várias vezes. Porém, as características da oscilação não eram afetadas por diferentes métodos. Portanto, havia evidencia experimental da existência de uma reação química oscilante e homogênea. Mais tarde essa reação foi chamada de reação de Belousov-Zhabotinsky. Na mesma época, surgiram trabalhos mostrando oscilações glicolíticas em leveduras, constituindo o começo de um período de estudo intensivo de oscilações bioquímicas. As equações diferenciais não-lineares descrevendo um conjunto de reações são esperadas, sob determinadas condições, ter uma solução que revela um comportamento cíclico. Esse tipo de ordem dinâmica surge somente sob certas condições e que, o que causa mais interesse, pode-se controlar a situação mudando as condições limite do sistema. É esperado que tais mecanismos de controle são sempre operantes em sistemas biológicos. O entendimento dos mecanismos pode levar a um ajuste externo das condições nesses sistemas (Tomita & Kitahara, 1975). Figura 1: esquema básico da reação de Belousov-Zhabotinsky. Adapatado de Zhabotinsky (1991). Bro3 - (1/2Br2) x Ce 3+ Ce 4+ Br - BMA Mecânica celular O trabalho de Nakagaki et al. (2000) descreve a relação entre a forma celular e a atividade de contração rítmica do plasmódio Physarum polycephalum. A contração rítmica é quase sincronizada no organismo, mas a sincronia tem variação no espaço e tempo. Certa pressão hidrostática é gerada entre diferentes partes do organismo e consequentemente produz extensão do protoplasma. Nesse modelo, uma mudança da forma da célula é regulada por um padrão de contração. Por outro lado, há evidência que a própria extensão celular afeta o ritmo de contração, e uma ação insuficiente do protoplasma causa uma relação antifásica entre as partes. Dessa forma, o padrão de contração e a extensão protoplásmica são ligados. Até agora, mudanças de forma da célula não têm sido levados em conta, apesar do fato que vias intracelulares (ou, como são chamadas no artigo, “veias”) são canais de fluxo e troca protoplásmica. Nakagaki e colaboradores consideraram três tipos de organização dessas veias, em relação aos seus padrões de contração. As veias se desenvolvem ao longo da diferença de fase do padrão de contração.Primeiro, quando os períodos de contração eram constantemente diferentes entre as partes mais interna e a periférica, veias grossas foram formadas aproximadamente ao longo do diâmetro da célula. Segundo, quando o padrão de contração não era constante, isotropia da rede de veias apareciam. Terceiro, quando o padrão de contração parecia desordenado no espaço e tempo, uma estrutura de veia não era aparecia mais. Portanto, a correspondência da estrutura da veia e o padrão de contração são consistentes com vários tipos diferentes de formas celulares que se desenvolvem naturalmente. Um mecanismo possível para a construção dessas veias devido à diferença de fase da contração rítmica está descrito. A diferença de fase motiva o fluxo de protoplasma. Fibras de actina são regularmente arranjadas em uma camada da veia e consideradas como uma estrutura básica da veia. O arranjo também pode ser induzido uma carga externa de tensão. No caso do padrão de formação das contrações rítmicas, um mecanismo possível foi baseado no modelo do oscilador não linear acoplado. O modelo de ritmo de contração intracelular em plasmódios, como do P. polycephalum, é mostrado na Figura 2. Cada oscilador significa oscilação química local. O acoplamento por difusão é aplicado para a interação entre os osciladores mais próximos, por causa das interações químicas entre periodicidades intracelulares. Quando se assume que a orbita de um oscilador não linear é um anel por simplicidade, a equação da evolução em cada oscilador é dada como dinâmica de fase somente. Logo, o modelo de oscilador acoplado é expresso pelo uso de osciladores em anel, como se segue: �� = Δ�� + � � ��+1 − �� + � � ��−1 − �� 1 para i = 2, …, N – 1, �� = Δ�� + � � ��+1 − �� 1 para i = 1, �� = Δ�� + � � ��−1 − �� 1 para i = N, com Δ�� = �� − �� 1 para i = 1, …, N. Cada N osciladores é identificado pelo índice posicional i. Aqui, �� e �� denotam a fase e a frequência angular, que são características do i-ésimo oscilador; t significa tempo. Nas equações de 1a a 1c, a evolução do tempo da fase é descrita em coordenadas polares com uma frequência angular arbitrária �� . A constante de acoplamento D é positiva e assumida ser comum ao todo o sistema por simplificação. Um sistema molecular de contração é formado pelo sistema actina-miosina (ou moléculas motores), que é imobilizada na parte mais externa da célula. O sistema que gera a força que move o sistema de contração interage com reações metabólicas oscilantes (Mogilner & Oster, 2003). As oscilações químicas podem ser oscilações primárias, desde que ocorram na ausência de oscilações mecânicas. Sistema oscilador acoplado �1 �1 ��−1 ��−1 �� �� ��+1 ��+1 �� �� D D D D D D ... ... Ambiente Considerando a interação espacial das oscilações químicas, substâncias difundem-se na parte mais externa da célula e são transportados de e para a parte mais interna. O fluxo da parte mais interna da célula promove uma interação rápida entre os osciladores de contração localizados na parte mais externa. Segundo Nakagaki, como a veia intracelular é um canal, o fluxo determina a maneira das interações espaciais entre os osciladores intracelulares. Portanto, a arquitetura do sistema pode estar relacionado ao desenvolvimento de comportamentos complexos do plasmódio. Sistemas reação-difusão O citoplasma bacteriano pode ser visto como um tubo de ensaio microscópico onde enzimas podem se difundir livremente. Uma maneira de reduzir a taxa de difusão é por ligação na membrana, e muitas proteínas localizadas nos polos da célula são direta ou indiretamente associadas à membrana celular. Esse é o caso das proteínas DivIVA e MinCD. No entanto, a questão que permanece é como proteínas formam padrões de localização especificas. Alan Turing descreveu como duas reações químicas podem levar a padrões estáveis quando (i) eles se influenciam reciprocamente, e (ii) quando os componentes da reação se difundem com taxas diferentes (Strahl & Hamoen, 2012). Inicialmente, os elementos da reação são dispersos homogeneamente, mas diferenças nas taxas de difusão causam distúrbios locais que são amplificados pelas reações de feedback. Reações das enzimas com seus complexos mecanismos de feedback, reações acoplados e a cinética variável da difusão provêm componentes ideais para o padrão modelo formando sistemas reação-difusão. Na bactéria Escherichia coli, as proteínas Min não são estáticas como em B. subtilis, mas eles oscilam entre os polos da célula com uma frequência de segundos. Isso requer a interação entre MinD e MinE, uma influenciando a outra a ligar-se à membrana celular. Essa oscilação pode ser modelada usando equações de reação-difusão (Kagan et al., 1989; Strahl & Hamoen, 2012). Essas equações de reação-difusão também são usadas para explicar a localização polar de DivIVA. Referência bibliográfica Kagan, ML; Kosloff, R.; Citri, O; Avnir, D. Chemical formation of spatial patterns induced by nonlinearity in a concentration-dependent diffusion coefficient. J. Phys. Chem 93(1989). Mogilner A; Oster, G. Force generation by actin polymerization II: the elastic ratchet and tathered filaments. Biophysical Journal 84(2003). Miyake, Y; Yamaguchi, Y; Yano, m; Shimizu, H. Environment-dependent self-organization of positional information in coupled nonlinear oscillator system. IEICE Trans. Fundamentals E76- A (1993). Nakagaki, T; Yamada, H; Ueda, T. Interaction between cell shape and contraction pattern in the Physarum plasmodium. Biophysical Chemistry 84(2000). Strahl, H; Hamoen, LW. Finding the corners in a cell. Current Opinion in Microbiology 15 (2012). Tomita, K; Kitahara, K. A model for oscillating chemical reactions. Biophysical Chemistry 3. (1975). Zhabotinsky, A.M. A history of chemical oscillations and waves. Chaos: An Interdisciplinary Journal of Nonlinear Science 1, 379 (1991).