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JEJUM DE DOPAMINA MITO OU MITO OU VERDADEVERDADE Existe amor à Existe amor à primeira vista?primeira vista? Cortar todos os seus prazeres momentâneos? Não é bem assim! PRA PENSARPRA PENSAR Não é porque está na Não é porque está na internet, que é verdade! internet, que é verdade! GREEN FLAGSGREEN FLAGS Os sinais para Os sinais para reconhecer uma reconhecer uma relação saudávelrelação saudável MITO OU VERDADE Existe amor à primeira vista? R$ 9,90 Mente Afiada - Ano 2, Nº 14 - Maio, 2024 editorial sumário O EQUILÍBRIO É A CHAVE… PRODUÇÃO GRÁFICA DA CAPA Roberta Lourenço ILUSTRAÇÃO Alphavector e tanuha2001/Shutterstock Images AUTOCONFIANÇA A importância de se comprometer consigo mesmo MAPA DA MENTE As últimas e mais curiosas descobertas da ciência MITO OU VERDADE Amor à primeira vista realmente acontece? OS DALTÔNICOS EMOCIONAIS A vida com o transtorno de personalidade antissocial DAR VOZ A QUEM NÃO SABE O QUE FALA A internet deixa o caminho livre para espalhar a desinformação JEJUM DE DOPAMINA: FUNCIONA OU NÃO? Essa substância do cérebro interfere nos comportamentos impulsivos SÃO AS GREEN FLAGS QUE QUEREMOS! Saiba como reconhecer os sinais de que o seu relacionamento é saudável HISTÓRIAS DE SUCESSO TE MOTIVAM? O “viés de sobrevivência” pode supervalorizar o sucesso e subestimar o fracasso A dopamina é um neurotransmissor res- ponsável por diferentes funções cerebrais, dentre elas, a motivação. O ‘problema’ pode estar na forma com que você se re- laciona com essa substância, já que, para além das atividades saudáveis, a sensa- ção de recompensa imediata causada por ela pode ser o primeiro passo para desen- volver algum tipo de vício. Mas calma, não é preciso cortar todas as atividades praze- rosas da sua vida, você vai entender tudo na nossa matéria de capa! Por aqui você também irá encontrar uma conversa superlegal com a psicólo- ga Larissa Fonseca sobre a importância de desenvolvermos a autoconfiança, que só pode ser construída quando aprende- mos a cumprir o que assumimos com nós mesmos em nome dos nossos objetivos (principalmente pessoais!). Também vamos explorar a lenda do amor à primeira vista: será que isso real- mente acontece? Além disso, nas próximas páginas você vai aprender a reconhecer al- gumas green flags, os sinais de um relacio- namento saudável. Bora afiar as mentes? Boa leitura, Ana Kubata (anabeatriz.kubata@astral.com.br) DIREÇÃO João Carlos de Almeida e Pedro José Chiquito CONTATO atendimento@astral.com.br ENDEREÇO Rua Joaquim Anacleto Bueno, 1-70, Setor M83 - Jardim Contorno, Bauru - SP - CEP: 17047-281 Ano 2, nº14 - maio 2024 ©2024 EDITORA ALTO ASTRAL LTDA. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. PROIBIDA A REPRODUÇÃO. COORDENADORA DE REVISTAS DIGITAIS Hérica Rodrigues (herica.rodrigues@astral.com.br) REDAÇÃO Ana Carvalho (ana.carvalho@astral.com.br), Ana Kubata (anabeatriz.kubata@astral.com.br), Fernanda Villas Bôas (fernanda.villasboas@astral.com.br) e Gabrielle Aguiar (gabrielle.aguiar@astral.com.br) DESIGN Eugênio Tonon (eugenio.tonon@astral.com.br) e Roberta Lourenço (roberta.lourenco@astral.com.br) MARKETING DIGITAL Marcelo Monico (marceloluiz.monico@astral.com.br) INÊS249 Texto: Ana Kubata Ilu st ra çã o: k ly ak su n/ Sh ut te rs to ck Im ag es MAPA DA MENTE ENTRE UM VÍDEO E OUTRO… O hábito de rolar a tela do celular, com seu fluxo contínuo de conteúdos varia- dos, pode ser viciante devido à interação entre nossos impulsos de busca por pra- zer e recompensa imediata, e a parte do cérebro responsável por controlar esses impulsos. É o que diz Éilish Duke, pro- fessora de psicologia na Universidade Leeds Beckett, no Reino Unido. Este comportamento é agravado por fatores ambientais, como o design dos aplicativos, que mantêm nossa atenção e nos mantêm engajados. O VOCÊ SE LEMBRA DOS SONHOS? Um estudo conduzido pelo Laboratório de Sono e Cognição da Universidade da Califórnia em Irvine, e publicado na re- vista Scientific Reports, revelou que as pessoas que relatam sonhar têm maior processamento de memória emocional. Isso sugere que os sonhos desempe- nham um papel ativo na regulação emo- uso excessivo do celular pode resultar em dificuldades para controlar os im- pulsos, especialmente em jovens, cujo córtex pré-frontal ainda está em desen- volvimento. Entramos em um estado de fluxo ao rolar a tela, onde perdemos a noção do tempo e nos envolvemos pro- fundamente com o conteúdo. Embora a dependência do celular não seja ofi- cialmente reconhecida como um distúr- bio psiquiátrico, é importante monitorar nossos próprios hábitos e buscar ajuda se percebermos um impacto negativo significativo em nossa vida diária. cional e na consolidação da memória. Os pesquisadores observaram que os participantes que se lembraram de seus sonhos mostraram melhor regulação emocional e memória ao reagir a expe- riências negativas do dia anterior, em comparação com aqueles que não lem- braram dos sonhos. INÊS249 TESTE PARA ALZHEIMER Uma pesquisa da Universidade de Loughbo- rough, no Reino Unido, sugere que a perda de sensibilidade visual pode ser um indicador precoce da doença de Alzheimer. Os pesqui- sadores acompanharam mais de 8 mil pes- soas por 13 anos e descobriram que aquelas com sensibilidade visual reduzida apresen- tavam maior probabilidade de desenvolver demência. O teste de sensibilidade visual usado no estudo mostrou resultados signifi- cativos na detecção precoce da doença. Ilu st ra çã o: le m on o/ Sh ut te rs to ck Im ag es PSILOCIBINA PARA ANOREXIA Além dos estudos que já destacam a ver- satilidade da psilocibina, derivada de co- gumelos, em tratamentos de dependência química, como alcoolismo e tabagismo, uma pesquisa recente revelou que a subs- tância demonstra eficácia no tratamento da anorexia nervosa, oferecendo melhorias significativas na manutenção do peso cor- poral e na flexibilidade cognitiva em ratos de laboratório. Esta condição, caracteriza- da por comportamentos alimentares res- tritivos e exercícios excessivos, apresenta uma das maiores taxas de mortalidade en- tre as doenças psiquiátricas. A pesquisa, publicada na revista Molecular Psychiatry, identificou um mecanismo cerebral espe- cífico pelo qual a psilocibina atua, abrindo caminho para terapias direcionadas. Ilu st ra çã o: D ic ky A rn an da /S hu tt er st oc k Im ag es INÊS249 Texto: Ana Kubata AUTOCONFIANÇA NÃO NASCE, É CONSTRUÍDA E está diretamente ligada à habilidade de cumprir os compromissos que assumimos com nós mesmos Ilu st ra çã o: ta nn ik ar t/ Sh ut te rs to ck Im ag es INÊS249 ça fazem com que você acredite que não será capaz de superá-los. “Essa falta de confiança pode nos levar a nos subestimar e a aceitar menos do que merecemos também em nossas vidas pessoais e profissionais”, aponta a es- pecialista. TE DISTANCIA DE CHEGAR ONDE QUER O problema em procrastinar vai além de simplesmente adiar uma tarefa ou outra no trabalho. “A procrastinação pode adiar ações importantes. O medo do fracasso pode paralisar a iniciativa e a persistência necessária para alcan- çar objetivos pessoais”, destaca Laris- sa, que também aponta outros grandes obstáculos nesse processo: “O auto questionamento pode minar a confian- ça pessoal; a falta de autoconhecimen- to pode levar a metas pouco realistas e incompatíveis com as necessidades individuais; enquanto a pressão dos pa- drões sociais pode levar a compromis- sos não autênticos.” Ilu st ra çã o: e am es Bo t/ Sh ut te rs to ck Im ag es S e pedirmos para o Google defi- nir o que é autoconfiança, a ex- plicação será simples: ‘acredi- tar que você consegue atingir seus objetivos, buscando fazer o seu melhor’. Mas sabia que a autoconfiança tem tudo a ver com os compromissos que assu- mimos com nós mesmos? Afinal, ela só pode existir quando temos autonomia o suficiente para resolver os próprios pro- blemas, ou melhor, entendero porquê optar por resolução x, e não y. Calma que vai ficar mais fácil de entender… AUTOSSABOTAGEM: O MAIOR VILÃO Larissa Fonseca, psicóloga clínica há 15 anos, explica que viver sem autoconfian- ça é como se estivéssemos tentando construir uma casa em um terreno ins- tável, e isso afeta diretamente a forma como nos comprometemos conosco e com nossos objetivos. “A falta de con- fiança pode nos fazer duvidar de nossas próprias capacidades e nos levar a evi- tar compromissos importantes. Quando não confiamos em nós mesmos, é difícil estabelecer metas realistas e nos com- prometer com elas”, afirma. É por isso que muitas vezes você acaba procrastinando ou desistindo facilmente diante do pri- meiro obstáculo, pois as crenças limitan- tes e despidas de autoconfian- INÊS249 NADA DE IGNORAR OS SENTIMENTOS A autoconfiança é construída através de muitos pontos de partida. É o que pode ser chamado de ‘trabalho de for- miguinha’, além de ser importante con- tar com a ajuda de familiares, amigos e, principalmente, profissionais da área de saúde mental, é preciso lembrar que trata-se de uma evolução. Acontece aos poucos, com cuidado, paciência e muita observação. Ou seja, anular as próprias emo- ções está fora de questão. “Quando nos deparamos com momentos de dú- vida e insegurança, é essencial acolher esses sentimentos com compaixão. Portanto, aceitar tal insegurança e de- safiar pensamentos negativos, quando estabelecemos metas realistas, ajuda superar esses momentos”, esclarece a psicóloga. “Aceitar: sempre que fazemos algo novo, sentimos certo frio na barriga, insegurança. Mesmo que esse desconforto exista, continue e se desafie.” NÃO DEFINE O MOMENTO, E SIM A VIDA O mais importante de tudo é entender que cultivar a autoconfiança não é algo para ser trabalhado por um tempo e de- pois esquecido. Essa é uma habilidade essencial para o crescimento e desen- volvimento ao longo da vida, pois fun- ciona como um alicerce sólido que sus- tenta nossas realizações e conquistas, como afirma Larissa. “A autoconfiança nos dá a coragem necessária para en- frentar desafios, experimentar novas oportunidades e buscar nossos obje- tivos. Ela nos capacita a superar obs- táculos, aprender com nossos erros e seguir em frente com determinação.” “A autoconfiança fortalece nossa resiliência emocional, permitindo-nos lidar melhor com as adversidades e rejeições que encontramos ao longo do caminho.” AS RELAÇÕES TAMBÉM PEDEM AUTOCONFIANÇA Ainda de acordo com a psicóloga, cul- tivar essa segurança em si mesmo não apenas influencia positivamente o de- senvolvimento pessoal, mas também tem um impacto significativo nos rela- cionamentos interpessoais - em qual- quer esfera da vida - assumindo um pa- pel crucial na qualidade e na natureza dessas interações. “Nos relacionamen- tos pessoais, indivíduos autoconfiantes tendem a estabelecer vínculos mais profundos, possibilitando uma comuni- cação mais objetiva e direcionada. Isso contribui para a construção de relacio- namentos sustentáveis ao longo do tempo”, descreve. INÊS249 Já no contexto profissional, a es- pecialista diz que a autoconfiança é percebida como uma qualidade de va- lor. “Isso acontece pois é uma postura associada a eficácia no desempenho e a liderança assertiva nas relações inter- pessoais. Indivíduos autoconfiantes são mais propensos a assumir riscos calcu- lados, buscar oportunidades de desen- volvimento e alcançar metas profissio- nais”, pontua. SEJA REALISTA… MAS TENHA COMPAIXÃO POR VOCÊ! Como já dito, estabelecer metas realis- tas é fundamental, porque ao delinear objetivos mensuráveis e alcançáveis, fragmentando-os em tarefas menores, você pode gradualmente consolidar sua confiança à medida que cada eta- pa é concluída com sucesso. Porém, essa não é a única estratégia indica- da para trabalhar essa segurança em você mesmo. “A prática da autocompaixão tam- bém se revela essencial”, aponta a profissional, que explica o porquê da afirmação: “Ao adotar uma postura com- passiva consigo mesmo, reconhecendo e aceitando as falhas como oportunida- des de aprendizado, a autoconfiança é cultivada de maneira mais resiliente.” E SEJA POSITIVO Por fim, mas não menos importante, pre- cisamos valorizar os pensamentos posi- tivos sobre nós mesmos, e mais que isso, desafiar nossa mente quando as ideias negativas tomarem conta dela. “Ao ques- tionar e substituir padrões autodeprecia- tivos por narrativas mais realistas e cons- trutivas, a autoconfiança é fortalecida”, orienta Larissa. Celebrar conquistas, por menores que sejam, é igualmente relevan- te nesse processo. “Reconhecer e valori- zar os progressos alcançados contribui para a construção de uma autoimagem positiva e segura”, conclui a especialista. Ilu st ra çã o: O ly aO K /S hu tt er st oc k Im ag es INÊS249 Texto: Ana Carvalho AMOR À PRIMEIRA VISTA: MITO OU VERDADE? Fomos desvendar a maior lenda dos contos de fadas Ilustração: mentalmind/Shutterstock Images INÊS249 A MENTE APAIXONADA O especialista explica que diversas áreas do cérebro se ativam para cada sentimento afetivo. “Quando há atra- ção, áreas como amígdala e hipotálamo são acionados. Já na paixão, o circuito mesolímbico dopaminérgico atua com maior intensidade, enquanto no amor de longo prazo, gânglios da base e núcleos da rafe no tronco cerebral operam com maior frequência”, explica. É por isso que quando estamos apai- xonados, ficamos mais elétricos só de ver a pessoa que amamos, essa “eletri- cidade” é fruto das descargas de dopa- mina, também chamada de hormônio da recompensa. Enquanto aquele amor de anos é bem mais tranquilo. “Na paixão à primeira vista, a nora- drenalina provoca uma sensação de extrema expectativa e ansiedade, já a dopamina produz uma sensação de prazer, e a serotonina em níveis mais baixos produz uma escolha obsessiva por algo romântico, e é tudo isso que causa esse comportamento e sensa- ção de grande significado já depois de um primeiro encontro, por exemplo” adiciona o profissional. EMOCIONADO NÃO, ESTIMULADO! Se você é do tipo que pensa que encon- trou o amor da vida ao menos duas vezes por ano, saiba que a explicação pode ser neurológica! “Pessoas que se apaixo- nam mais do que outras podem ter uma predisposição a um recrutamento mais Ilu st ra çã o: N ad ya _A rt /S hu tt er st oc k Im ag es A h, o amor! Se não é a maior ins- piração para canções, filmes, livros e novelas mundo afora, definitivamente está entre as maiores. Mas além de ser motivo para tantas cria- ções, esse sentimento também está li- gado a diversos mitos e um dos princi- pais é sobre a existência do amor à primeira vista… Mas será que é mito mesmo? A Mente Afiada conversou com Fernando Gomes, neurocientista e pro- fessor livre docente da Faculdade de Medicina da USP, para descobrir! INÊS249 Ilu st ra çã o: M Pe tro vs ka ya /S hu tt er st oc k Im ag es facilitado do circuito mesolímbico dopa- minérgico, sendo mais sensíveis ao estí- mulo de afetividade com outra pessoa”, explica Fernando. Agora você pode usar essa sempre que seus amigos te acusa- rem de ser emocionado… MAS E PARA CIÊNCIA: EXISTE OU NÃO AMOR À PRIMEIRA VISTA? Para o terror dos não românticos, a res- posta é sim! Mas calma. Um exemplo entre os animais, é o arganaz do campo, que demonstra a formação de um víncu- lo afetivo duradouro e estável já após o primeiro encontro. “Já entre humanos, só o tempo vai di- zer se virou amor, mas a atração física é a porta de entrada para que isso perdure, e ela pode vir com diversas explicações, como um rosto familiar, um tom de voz ou um determinado padrão de beleza, cheiros, enfim, elementos que tragam a sensação de familiaridade”, finaliza. DUAS CURIOSIDADES SOBRE AMOR Um beijo para… Alimentar? Em al- guns locais da Papua Nova Guiné, na Oceania, o beijo serve para que os pais mastiguem os alimentos e os passem às crianças pequenas. Já en- tre ospovos inuítes, é o famoso ‘bei- jo de esquimó’, com os narizes, que realmente demonstra intimidade. Mono vs Não Mono: A discussão que reina no X (antigo Twitter), tam- bém ocupa o reino dos animais… Bem, mais ou menos: no time dos mono- gâmicos, teremos os lobos, cisnes, urubus e albatrozes. Já no time dos que não terão somente um parceiro sexual, estão a maioria dos peixes, dos anfíbios e até dos mamíferos. Os leopardos, por exemplo, preferem uma vida mais solitária e terão par- ceiros somente enquanto acasalam ou criam os filhotes. INÊS249 Texto: Ana Kubata OS DALTÔNICOS EMOCIONAIS O transtorno de personalidade antissocial (TPAS) gera falta de empatia e torna muito difícil construir relações sólidas transtorno de personalidade antissocial (TPAS) é uma de- sordem neuropsiquiátrica que, segundo estudos acadêmicos mais re- centes, atinge por volta de 1% a 2% da população mundial. Isso significa que OO uma a cada cem pessoas convive com o transtorno e, de acordo com estes dados, no Brasil teríamos por volta de 2 a 4 mi- lhões dessas pessoas que, tomando aqui uma liberdade com as palavras, podemos chamar de ‘daltônicos emocionais’. Ilustração: woocat/Shutterstock Images INÊS249 O QUE É O TPAS Segundo Danielle H. Admoni, psiquiatra geral e da Infância e Adolescência, pes- quisadora e supervisora na residência de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM) e espe- cialista pela ABP (Associação Brasilei- ra de Psiquiatria), o transtorno de per- sonalidade antissocial acompanha a pessoa ao longo da vida. “Basicamen- te, o indivíduo sente dificuldade de se relacionar e ter empatia com as outras pessoas”, explica a médica. “O que mais chama a atenção é essa falta de empatia que nós, como seres humanos, que convivemos em sociedade, obrigatoriamente precisamos ter.” A FALTA DE EMPATIA Assim, quem é portador do TPAS opta por fazer tudo em sua vida para benefí- cio próprio, mesmo que isso signifique ‘passar por cima’ de outras pessoas e machucá-las, às vezes até fisicamente. Ilu st ra çã o: s ne g/ Sh ut te rs to ck Im ag es “É como se ela fosse o centro do univer- so e os outros estivessem ali em fun- ção dela”, acrescenta Danielle. Segundo a psiquiatra, algumas pes- soas com o transtorno de personalidade antissocial são muito inteligentes e con- seguem conviver em sociedade, mas, na verdade, não têm relações sólidas, se- jam afetivas ou de amizade. “Às vezes podem até acabar cometendo crimes, para justificar o que elas acham certo, tudo em benefício próprio”, aponta. TRAUMAS DO LAR Ainda de acordo com Danielle, não há estudos suficientes que definam, de fato, a possível causa do TPAS nos indi- víduos, o que existem são algumas teo- rias. “Sabemos que se você tem pai ou mãe com transtorno de personalidade, tem uma chance maior de ter também. Ou se sofreu algum trauma importante na infância, como um abandono, uma violência muito grave ou uso de subs- tâncias na gestação. Mas ainda não há nada bem definido.” INÊS249 Ilu st ra çã o: c os m aa /S hu tt er st oc k Im ag es ta a profissional. “É importante buscar psicoterapia, a terapia analítica, ou a Cognitivo-Comportamental (TCC), e a orientação familiar. As pessoas têm que aprender a lidar com essa pessoa, mas não há uma cura, é algo que acompanha a pessoa ao longo da vida”, conclui. “O que sabemos é que essas pessoas dificilmente vêm de famílias funcionais e amorosas, em geral têm uma história familiar na infância bastante difícil.” NÃO É TEA! Há uma confusão bastante equi- vocada do senso comum que re- laciona o transtorno de personali- dade antissocial com o transtorno do espectro autista. A psiquiatra especialista explica que são condi- ções completamente diferentes. “A pessoa com espectro autista tem uma cognição social alterada do outro, podendo ter dificuldade em compreender as emoções alheias. Mas é bem diferente do antisso- cial, porque no primeiro caso exis- te, sim, uma empatia, não é alguém que justifica as coisas apenas den- tro do que ela acredita”, detalha. “Uma coisa é o transtorno de per- sonalidade antissocial, onde não existe empatia em relação ao outro, e outra é o transtorno do espectro autista, onde existe empatia, mas há uma dificuldade de compreen- são do outro”, reforça Danielle. TEM CURA? Infelizmente, não há cura para o trans- torno de personalidade antissocial, que pode acompanhar a pessoa durante toda a vida. Mas tem, sim, como alcan- çar algum tipo de melhora, como orien- Ilu st ra çã o: Ic on ic B es tia ry /S hu tt er st oc k Im ag es INÊS249 Texto: Ana Kubata O PERIGO DE DAR VOZ A QUEM NÃO SABE O QUE FALA Ao mesmo tempo em que há muita informação importante sendo democratizada, a internet deixa o caminho livre para a desinformação Que as redes sociais abriram um leque de possibilidades para buscar informação, não dá pra negar. O ambiente vir- tual é um espaço onde profissionais, pesquisadores e estudiosos sobre de- terminados temas podem utilizar como AA meio de compartilhar conhecimentos, descobertas, e até criar um espaço para discussão - e tudo isso é muito positi- vo quando pensamos em democratizar sabedoria. Mas será que essa liberdade realmente tem gerado bons resultados? Muitas vezes, não. Ilu st ra çã o: A lp ha ve ct or /S hu tt er st oc k Im ag es INÊS249 ONDE O PROBLEMA COMEÇA Apesar da informação chegar fácil, há também o outro lado da moeda, em que muitas pessoas aproveitam essa liber- dade de forma equivocada e até prejudi- cial. Quem nunca rolou o feed e se depa- rou com algum conteúdo sobre saúde, política, ou até questões de comporta- mento, vindo de alguém sem nenhuma propriedade para falar sobre o assunto? Ou pior, alguém com autoridade, mas passando informações incorretas? É so- bre isso que vamos falar aqui. MOVIMENTO DE DESCREDIBILIZAÇÃO O sociólogo, filósofo e escritor Luiz Feli- pe Gonçalves diz que devemos levar em conta que até certo tempo atrás - antes do advento e crescimento desenfreado da internet e suas tecnologias - quem detinha o monopólio da informação e de criação de paradigmas eram institui- ções oficiais. “Com a fragmentação dos canais de comunicação, a sociedade vem perdendo as referências desses pa- radigmas, e por isso buscam seus valo- res de outras formas “outras formas, em outros meios”, comenta o profissional. Em outras palavras, significa que, para que isso tenha ocorrido (e continue), as instituições de autoridade em um as- sunto específico passaram a ser desa- creditadas, principalmente por meio de teorias da conspiração. “Na pandemia da COVID-19, por exemplo, vimos ata- ques à credibilidade das instituições de saúde, desde a OMS, até à própria ciên- cia”, pontua Luiz.Ilu st ra çã o: G oo dS tu di o/ Sh ut te rs to ck Im ag es INÊS249 “Ao minar as fontes de referência, cria-se um vácuo para que novas referências sejam imputadas. E como as fontes hoje são fragmentadas e de nicho, criam-se quantas verdades são desejadas.” A FONTE DO PROBLEMA Para Luiz Gonçalves, as redes sociais têm um papel central nessa proble- mática por três principais motivos: 1 dissemina o enfraquecimento de instituições de autoridade cien- tífica; 2 oferece os meios para que in- formações alternativas sejam publicadas; 3 repete para o público insistente- mente as informações desejadas – e não necessariamente as verda- deiras – por meio dos algoritmos. “Além disso, os algoritmos pro- movem uma polarização: não só o leigo, paradoxalmente, formula uma opinião sobre uma verdade científica, mas também cria hostilidade contra quem pensa diferente”, acrescenta o sociólogo. É ‘FÁCIL’ FALAR QUALQUER COISA, EM QUALQUER LUGAR Luiz Felipe Carvalho, formado em neu- rociências pela Logos University Inter- national, traz uma visão complemen- tar sobre o assunto, e concorda que a tecnologia foi o grande fator que im- pulsionou esse processo.“A facilidade em se ter um palanque virtual para fa- lar com milhares, às vezes até milhões de pessoas, permite suprir a necessi- dade - já desregulada - de dopamina de uma forma muito negativa”, destaca. Ele também alerta para os riscos cognitivos e a longo prazo que esse com- portamento pode causar. “A repetição de discursos rasos contribui para a dis- seminação de informações incorretas, o que prejudica a tomada de decisões bem fundamentadas e a compreensão adequada de determinados temas, além de limitar a percepção da pessoa sobre temas importantes.” OS APROVEITADORES ESTÃO ON-LINE Para Luiz Carvalho, muitas pessoas que disseminam essas pseudoinformações fazem isso de forma quase que… ino- cente. Não há maldade, a princípio, nes- sa atitude. “Elas acreditam que estão ajudando outras pessoas, e se sentem impelidas a compartilhar justamente por elementos usados no conteúdo, como gatilhos mentais estratégicos”, aponta o neurocientista. Por isso é preciso tomar muito cui- dado com o conteúdo consumido, pois a internet está cheia de gente que só quer se aproveitar da desinformação ou ingenuidade alheia, e utilizam sua imagem e voz para mentir, alienar e até aplicar golpes (emocionais ou financei- INÊS249 ros). “Muitos praticam manipulação de- liberada e como, na maioria das vezes não há ganho direto, o grande objetivo é chamar a atenção.” É CONFORTÁVEL PERMANECER NO ERRO O sociólogo Luiz Gonçalves também atribui essa onda de desinformação a um outro viés, o de que as ‘verdades’, ao contrário do que podemos pensar, têm muito mais apelo à emoção do que à ra- zão. “As pessoas preferem estar certas do que erradas”, pontua. Além disso, a base para que as pessoas formem uma opinião costuma ser mais pautada na própria experiência, do que na análise de várias outras, como seria feito em um trabalho científico mais rigoroso. Como exemplo, Luiz cita um pensa- mento muito compartilhado no senso co- mum: “A avó da minha vizinha fumou a vida inteira, e nunca teve nenhum proble- ma de saúde”. De acordo com ele, essa tendência é uma porta aberta a vieses de confirmação. “Ser contrariado por uma verdade científica pode pressionar por uma mudança de hábitos, de ideologias, de igreja, etc. Dessa forma, buscamos in- formações que confirmem os conceitos ou hábitos que já temos”, explica. O EFEITO DUNNING-KRUEGER: JÁ OUVIU FALAR? Para elucidar um pouco mais esse ce- nário, Luiz Gonçalves contou a história do estudo feito por dois cientistas: David Dunning e Justin Krueger. Foram feitos dois testes para dois grupos diferentes, sendo um para especialistas e outro para não-especialistas sobre um deter- minado assunto. Um teste era sobre o quanto a pessoa achava que sabia sobre a matéria, e o outro era um teste de proficiência sobre o tema em questão. “Obviamente, os especialis- tas foram muito melhor que os leigos na proficiência, e, surpreendentemente, pior no quanto achavam que sabiam sobre o assunto”, pontua o sociólogo. “A conclusão do Efeito Dunning- Krueger é: quanto menos se sabe sobre algo, mais se acha que se sabe, e vice-versa.” Im ag em : M ic ro O ne /S hu tt er st oc k Im ag es INÊS249 Texto: Fernanda Villas Bôas JEJUM DE DOPAMINA: FUNCIONA OU NÃO? Entenda como essa substância do cérebro interfere nos comportamentos impulsivos e saiba como se programar para garantir mais saúde mental S erá que uma mudança de há- bitos pode regular a ação dos neurotransmissores a ponto de promover uma melhoria no funcio- namento do cérebro? Essa é uma per- gunta de milhões! A resposta, que não é tão simples, vem gerando um debate entre defensores e opositores de um método que ficou conhecido como je- jum de dopamina. Tudo começou em 2019. Naquele ano, o psiquiatra estadunidense Came- ron Sepah, da Universidade da Califórnia, em São Francisco (EUA), publicou um estudo em que defendeu um método – o jejum de dopamina. Ele propôs que as pessoas reduzissem comportamentos considerados impulsivos, capazes de atrapalhar o dia a dia e o próprio equilí- brio emocional. E listou uma relação de atividades, associadas à sensação de bem-estar, que poderiam se transformar em vícios: comer para aliviar dores emo- cionais; acessar a internet para jogar ou verificar redes sociais; fazer compras num ritmo excessivo; consumir mate- rial pornográfico regularmente; buscar novidades a todo instante (sobretudo, no meio digital); e usar drogas com fi- nalidade recreativa. INÊS249 nervoso central. Também chamada de mensageiro químico, ela é responsável por diferentes funções cerebrais, como controle de movimentos, capacidade de concentração, formulação de desejos e ativação de impulsos. E também por uma função que deve ter interessado ao autor da expressão “jejum de dopami- na”: a motivação. Motivação gera prazer, bem-estar. Por exemplo: quando você começa a fazer exercícios físicos e nota a perda de quilos na balança, pode sentir um entusiasmo redobrado para continuar batendo ponto na academia e pres- tar mais atenção ao que come. Nesse caso, tanto o treino quanto a refeição serão detonadores de gratificação, por- que estarão carregando um propósito – a tal motivação. Ilu st ra çã o: s ol ar 22 /S hu tt er st oc k Im ag es Em outras palavras, se as pessoas passassem, por exemplo, a restringir o uso do celular e revisassem a quali- dade da alimentação poderiam inibir a dependência que os abusos dessas ati- vidades provocam. Sepah fez mais: re- comendou a aplicação da chamada te- rapia cognitiva-comportamental (TCC) para fundamentar seu método. Essa abordagem psicoterapêutica, criada nos anos 1960, convida o paciente a modificar pensamentos e atitudes para aliviar o sofrimento emocional. GATILHO DO PRAZER E o que isso tem a ver com a dopamina? Tudo. Mas vamos por partes. Dopami- na é um neurotransmissor, ou seja, um composto que articula a comunicação entre os neurônios, as células do sistema INÊS249 Da mesma forma, ler um bom livro pode incrementar o repertório intelectual, o que talvez não aconteça se dedicarmos horas e horas do nosso tempo livre aos joguinhos virtuais. Nas duas situações, o cérebro vai responder com gratificação – cabe a cada um discernir o que é mais favorável para a saúde física e mental. Isso significa que o tal jejum de do- pamina, de fato, funciona? Ou seja, ele- ger atividades cotidianas associadas a satisfações menos instantâneas pode mesmo melhorar o funcionamento do cérebro? “Recompensas fáceis e imedia- tas, como prazeres que não requerem esforço, podem, de fato, sequestrar o nosso processamento cerebral e reduzir nossa motivação para gestos construti- vos mais complexos, que só trariam be- nefícios mais adiante”, explica Bruno. Faz parte dessas recompensas fá- ceis tudo o que foi relacionado pelo psi- quiatra californiano como atividades vi- ciantes, incluindo excesso de álcool, de smartphone e até de estímulos sexuais.Ilu st ra çã o: B lu ea st ro /S hu tt er st oc k Im ag es Isso acontece, porque a dopamina está vinculada ao sistema de recom- pensa do cérebro. Porém, não é papel do cérebro atribuir valor ou hierarquizar o tipo de estímulo ao qual iremos rea- gir. Ou seja, treinar na academia pode ser tão satisfatório como devorar um prato de salgadinhos fritos em frente à TV. Nos dois casos, lembrar essa expe- riência pode nos levar a repeti-la para reconquistar a sensação de prazer, cer- to? Depende. “Quando nos mantemos motivados para alcançar um objetivo e, assim, es- tabelecemos disciplina, aí está uma das atividades da dopamina”, esclare- ce o médico neurocirurgião funcional com formação pelas universidades de Oxford e Florida, Bruno Burjaili. Ele ensi- na que, para priorizar práticas que pro- vocam bem-estar, é preciso reconhecer os resultados positivos que decorrem de cada uma delas. Assim, frequentar a academia é benéfico para a saúde; co- mer de forma descontrolada, não. QUÍMICA DO CÉREBROFELIZ Ocitocina Serotonina Endorfina Dopamina INÊS249 ERRO DE INTERPRETAÇÃO Mas é claro que isso não significa ra- dicalizar e manter distância eterna de uma sobremesa saborosa ou do sho- pping em semana de liquidação. O se- gredo, dizem os especialistas, é a pon- deração. Por isso, o jejum sugerido pelo médico não é exatamente uma absten- ção de rotinas que geram prazer, e sim um controle dessas rotinas. O fato é que nem todo mundo enten- deu assim quando Cameron Sepah divul- gou o jejum de dopamina. Nos últimos anos, a proposta do psiquiatra se trans- formou em um atalho para alavancar a produtividade entre os profissionais do Vale do Silício, em São Francisco, reco- nhecido como um dos principais pólos tecnológicos do mundo. Muitos desses profissionais levaram as instruções de Sepah ao pé da letra e passaram a avaliar a possibilidade de espaçar mais as atividades prazerosas entre os compromissos diários, ava- liando que menos celular, menos sexo e menos diversões interativas elevaria a qualidade dessas experiências cada vez que elas fossem retomadas, já que eles estariam “estocando” dopamina no cérebro. Acreditaram também que essa de- sintoxicação de prazeres poderia fa- vorecer as ações cognitivas, já que as distrações as encolheriam, o que seria muito oportuno para quem deseja tra- balhar mais e melhor num ambiente al- tamente competitivo. 8 CURIOSIDADES SOBRE A DOPAMINA 1. É um neurotransmissor. Ou seja, faz a comunicação entre os neurônios; 2. Movimentos, desejos, impulsos, prazer e concentração dependem da dopamina; 3. À medida que envelhecemos, os ní- veis de dopamina no cérebro caem. Na verdade, o envelhecimento afeta o fun- cionamento cerebral como um todo; 4. A produção de dopamina é redu- zida em pessoas que desenvolvem Parkinson. Também há disfunção da dopamina em quem apresenta TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hi- peratividade) e dependência química; 5. A dopamina foi descoberta em 1959 pelo farmacologista sueco Ar- vid Carlsson; 6. Essa descoberta rendeu um prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia a Carl- sson, uma vez que fomentou a pesqui- sa de medicamentos contra a doença de Parkinson; 7. O tratamento de pessoas que so- frem de Parkinson com movimentos comprometidos inclui uma espécie de reposição da dopamina: o levodopa; 8. O uso experimental de levodopa em pacientes com Parkinson aparece no filme Tempo de Despertar (1991), com Robert de Niro no papel do pa- ciente e Robin Williams como o médi- co que administra a medicação. Eles protagonizam uma amizade marcada por reveses, surpresas e superações. INÊS249 Sepah tratou logo de desfazer o mal- -entendido. No Health Blog, que perten- ce à Faculdade de Medicina da Univer- sidade de Harvard (EUA), aparece um trecho de uma entrevista em que ele comenta a interpretação equivocada do seu método. O psiquiatra admite ter criado um título atraente para despertar o interesse das pessoas, sem imaginar que elas absorveriam o sentido literal da expressão “jejum de dopamina” (em inglês, dopamine fasting). O blog reforça que, apesar de o nível de dopamina aumentar no cérebro após a realização de uma prática que gera satisfação, o inverso não é verdadeiro: “A dopamina não diminui quando você evita atividades superestimulantes, por- tanto, um ´jejum´ de dopamina não re- duz, de fato, os níveis de dopamina”. APRENDA A APROVEITAR O MÉTODO Uma vez que a abstenção de atividades prazerosas não é o caminho para o cé- rebro funcionar melhor, como utilizar de maneira prática o jejum de dopami- na? O blog da Universidade de Harvard destaca que Cameron Sepah aconselha pequenas ações no dia a dia. O mais indicado é que essas ações não pertur- bem nem descaracterizem o estilo de vida de cada um. Uma das sugestões é se afastar das práticas viciantes uma a quatro horas por dia. Outra alternativa é eleger o sába- do ou o domingo para não utilizar a inter- net nem fazer compras desnecessárias. Nesse dia, o ideal seria interagir mais com pessoas próximas, visitar parques, ler, meditar, ouvir música e experimentar treinamentos que expandam a espiritua- lidade ou promovam vivências de sensi- bilização – terapias corporais, escutas, artesanato. Dessa forma, ficaria muito mais fácil estreitar o contato com gente querida, alegrar-se com coisas simples, praticar o autoconhecimento e, finalmen- te, assumir o controle da própria vida. SEIS HÁBITOS VICIANTES O método jejum de dopamina propõe a redução das seguintes atividades: • Comer para aliviar sofrimento ou pressão emocional; • Acessar a internet por longos períodos para jogar ou acompanhar redes sociais; • Comprar compulsivamente; • Consumir material pornográfico com regularidade; • Dar vazão à avidez por novida- des (bombardeio de informações) • Usar drogas recreativas. Ilu st ra çã o: N ad ia S no pe k/ Sh ut te rs to ck Im ag es INÊS249 SAÚDE EMOCIONAL EXIGE EXERCÍCIO DE CONCILIAÇÃO Como preservar a saúde emocional diante de tantos estímulos, sobretu- do tecnológicos? “Em uma palavra, amor”, diz o neurocirurgião Bruno Burjaili. Ele compreende esse termo como um exercício de conciliação. “Devemos entender o amor como a nossa capacidade de sustentar con- tradições e analisá-las sem impulso, por um desfecho melhor para o todo”. Pense numa torta holandesa: ela é apetitosa, vistosa, convidativa. O lado instintivo do seu cérebro vai forçar você a consumi-la: a ingestão de açú- car combinado com gordura represen- ta uma explosão de prazer ao paladar. “Mas esse doce pode atrapalhar uma refeição balanceada e predispor à obe- sidade se for consumido no momento errado e em excesso. Com isso, em última instância, ser um passo para o infarto, o AVC (acidente vascular cere- bral), o câncer”, adverte o médico. Ou seja, o melhor é reconsiderar e ouvir aquele outro lado do cérebro que en- coraja decisões racionais. Burjaili compara o cérebro a uma orquestra com vários músicos, que tocam instrumentos diferentes e acompanham partituras distintas. Devemos regê-la com sabedoria e sensibilidade: “Um bom maestro consegue dirigir esse processo para que a música seja agradável ao final. Redes cerebrais brigando geram dor e infelicidade. A saúde mental depen- de da nossa capacidade de construir pontes produtivas entre elas para que possam processar informações em conjunto, em paz”. “Redes cerebrais brigando geram dor e infelicidade. A saúde mental depende da nossa capacidade de construir pontes produtivas entre elas.” Fo nt es : h tt ps :// on lin el ib ra ry .w ile y. co m e h tt ps :// w w w .h ea lth .h ar va rd .e du /b lo g Ilu st ra çã o: B ur av le va s to ck /S hu tt er st oc k Im ag es INÊS249 Texto: Gabrielle Aguiar SÃO AS GREEN FLAGS QUE QUEREMOS! Saiba como reconhecer os sinais de que o seu relacionamento é saudável Ilu st ra çã o: N ad ya _A rt /S hu tt er st oc k Im ag es A internet adora fazer brincadei- ras de como ignoramos as red flags, ou bandeiras vermelhas em tradução literal, de alguém, o que faz com que, muitas vezes, entremos em relacionamentos que não são sau- dáveis. Mas se o certo é que fiquemos atentos as red flags, para que possa- mos fugir a qualquer sinal de que algo está errado, também devemos prestar atenção às green flags – bandeiras ver- des – para podermos identificar os si- nais positivos de que o relacionamento é saudável. Se você já sofreu muito no amor, a Mente Afiada pediu ajuda a Karine Bon- fim Pereira, psicóloga supervisora da Conexa, ecossistema digital de saúde integral, para te ensinar os pontos que devemos reconhecer. INÊS249 feitas de pessoas reais. É importante entender o que faz parte de uma relação saudável, incluindo desentendimentos e discordâncias, e reconhecer aquilo que ultrapassa os limites do respeito e da individualidade de cada membro da relação”, indica. NÃO ESTOU VENDO! Assim como temos dificuldade para re- conhecer as red flags de alguém,nós também temos dificuldade em reconhe- cer um relacionamento saudável, que nos faz bem. Mas por que isso aconte- ce? Karine explica que os modelos de relacionamento na atualidade muito se assemelham à lógica descrita pelo fi- lósofo Zygmunt Bauman em sua obra Amor Líquido, de 2003. “Neste livro, o autor explora a fragili- dade das relações humanas, permeadas por incerteza e ausência de compromis- so, além de serem facilmente voláteis. Isso gera uma percepção previamente negativa sobre o modo de se relacionar e de perceber a interação com o outro, fazendo as pessoas ficarem mais de- fendidas com a ideia de se entregar a uma relação. Neste estado defensivo, é mais fácil esperar sempre pelo ‘pior’, como uma forma de defesa, impossibili- tando enxergar aquilo que é benéfico, as green flags. Além disso, quando aspec- tos positivos são percebidos, podem ser vistos com certa suspeita, refletindo a dificuldade de estabelecer uma relação de confiança entre as pessoas.” Ilu st ra çõ es : N ad ya _A rt /S hu tt er st oc k Im ag es QUAIS SÃO AS GREEN FLAGS PARA RECONHECER QUE O RELACIONAMENTO É SAUDÁVEL? “Acredito que um relacionamento sau- dável é aquele que, em essência, os par- ceiros respeitam a individualidade um do outro, mutuamente”, pontua a psicó- loga. “É um ambiente em que você pode ser autêntico, sem medo do julgamento ou sem precisar se moldar ao desejo do outro, sentindo-se bem consigo mes- mo, confiante e seguro”, completa. Em resumo, Karine indica que o me- lhor “indicador” para saber se um rela- cionamento é ou não saudável está em perceber como essa relação influencia seu bem-estar. A resposta para essa pergunta está dentro de cada um que está lendo essa matéria, e apenas você poderá respondê-la. “Isso não significa que 100% do tempo nos sentiremos bem e satisfeitos, afinal, relações são INÊS249 que leva à repetição de padrões anterio- res. O processo terapêutico, neste sen- tido, também é um excelente espaço na compreensão desse aspecto, uma vez que oferece a possibilidade de identifi- car as origens e influências que impac- tam em suas escolhas atuais. Por meio da terapia, é possível identificar traumas e modelos anteriores de relacionamen- to presentes na história do indivíduo, au- xiliando na construção de insights para lidar de forma mais consciente na es- colha de um parceiro, promovendo mu- danças significativas, rumo a uma rela- ção mais saudável”, finaliza. Ilu st ra çõ es : N ad ya _A rt /S hu tt er st oc k Im ag es VOCÊ MERECE! Muitas pessoas que passaram por re- lações ruins enfrentam dificuldades em entender que merecem estar em um novo relacionamento, mas dessa vez saudável. A psicóloga explica que para reverter esse pensamento, a me- lhor pergunta para iniciar uma reflexão é: “Por que você acredita que merece algo tão negativo? Por que você mere- ceria um relacionamento ruim, que te faz sentir mal?”. “Com frequência, estar em relacio- namentos tóxicos leva as pessoas a se sentirem responsáveis e culpadas pelos comportamentos prejudiciais do parceiro. Nestas relações, o parceiro tóxico pode transferir ao outro a culpa por seus comportamentos impulsivos e agressivos, fazendo com que a outra pessoa sinta-se mal, por erros e agres- sões (de qual natureza forem) que lhe são infligidas. O processo psicotera- pêutico é um potente aliado na recons- trução da autoestima, autoconfiança e na quebra destas crenças que ficam enraizadas. Ao compreender e valo- rizar suas qualidades, você fortale- ce sua autoestima e passa a buscar relacionamentos que estejam ali- nhados com seus valores e desejos.” ADEUS, PADRÕES REPETITIVOS E para finalizar essa matéria, Karine ofe- rece uma dica de ouro para evitar come- ter padrões repetitivos em novos relacio- namentos. “É necessário compreender o INÊS249 Texto: Gabrielle Aguiar ada nos motiva mais do que uma boa história de sucesso alheio. “Brasileira realizou seu sonho de abrir o restaurante na França!”, dá até um arrepio, né? Mas, cadê a parte em que ela fracassou diversas vezes an- tes de chegar ao sucesso? NN Isso é o que a psicologia chama de “viés de sobrevivência”, que, de acordo com Tatiane Paula, Psicóloga Clínica, é uma tendência psicológica em focar nas histórias de sucesso e ignorar as expe- riências de fracasso. “Essa teoria desta- ca como nossa mente é naturalmente Ilu st ra çã o: E ly m as /S hu tt er st oc k Im ag es HISTÓRIAS DE SUCESSO TE MOTIVAM? A psicologia vê o “viés de sobrevivência” como um fenômeno que pode supervalorizar o sucesso e subestimar o fracasso INÊS249 inclinada a se concentrar nas narrativas positivas, muitas vezes deixando de lado os desafios e as dificuldades encontra- das no caminho para o sucesso”, pontua. OK, MAS ISSO É BOM OU RUIM? É muito ruim! Tatiane te explica o porquê: “Focar apenas em histórias de sucesso pode ser perigoso, pois cria expectativas irreais e nos deixa despreparados para lidar com falhas e frustrações. É impor- tante reconhecer que o sucesso, muitas vezes, vem acompanhado de tentativas fracassadas e que a falha também é uma parte importante do processo de aprendi- zado e crescimento”. Para a especialista, evitamos olhar para histórias de fracasso, muitas vezes, por medo de nos sentirmos desencora- jados ou de repetir os mesmos erros. “A sociedade nos pressiona a buscar cons- tantemente o sucesso, o que pode nos levar a evitar confrontar nossas próprias falhas. No entanto, entender e aprender com os fracassos é crucial para o crescimento pessoal e profis- sional”, diz. Além disso, a psicó- loga enfatiza a impor- tância de desenvolver habilidades cognitivas para lidar com a pressão social em relação ao conceito de sucesso, e também para gerenciar nossas próprias frustrações. “Entendo que lidar com frustrações é uma parte es- sencial do processo de autodescoberta e crescimento emocional”, completa. MAS, PODEMOS USAR PARA O LADO POSITIVO Histórias de sucesso de outras pessoas podem nos inspirar, motivar e ensinar li- ções valiosas.“No entanto, é importante lembrar que cada jornada é única e que o sucesso de outra pessoa não garante o mesmo resultado para nós. Comparar nossas vidas com as dos outros pode ser prejudicial, pois cada um tem seu próprio ritmo e desafios a enfrentar”, enfatiza. Tatiane conta que podemos apren- der a olhar para os dois lados de uma mesma história praticando a resiliência e a flexibilidade mental, mas o que isso significa? “significa reconhecer tanto os sucessos quanto os fracas- sos como oportunidades de aprendizado, desenvolven- do uma mentalidade de crescimento que nos permite adaptar-nos Ilu st ra çã o: V ik to ria K ur pa s/ Sh ut te rs to ck Im ag es INÊS249 às circunstâncias e enfrentar os desafios com confiança e determinação.” DICAS! Tatiane separou algumas dicas para en- carar histórias de sucesso de uma ma- neira que não nos influencie negativa- mente, mas sim como parte do processo de amadurecimento emocional, incluindo sucesso e fracassos. • Desenvolver pensamento crítico: Uma das melhores maneiras de lidar com o viés de sobrevivência é cultivar o pensa- mento crítico. “Isso envolve questionar ativamente as histórias de sucesso que encontramos e analisar cuidadosamente o contexto em que ocorreram. Ao fazer isso, podemos evitar cair na armadilha de pensar que o sucesso é a norma e o fra- casso é uma anomalia.” • Praticar a autoconsciência: É importan- te estar ciente de nossas próprias tendên- cias cognitivas e emocionais. “Reconhe- cer quando estamos sendo influenciados pelo viés de sobrevivência nos permite to- mar medidas para corrigir esses padrões de pensamento e tomar decisões mais informadas.” • Buscar diversidade de experiências: Expor-nos a uma variedade de experiên- cias e perspectivas nos ajuda a obter uma visão mais equilibrada da realidade. “Isso inclui diversificar as fontes de infor- mação que consumimos e buscar fee- dbackde pessoas com diferentes pontos de vista. Ao fazer isso, podemos evitar a armadilha de nos concentrarmos apenas em histórias de sucesso isoladas.” • Praticar a aceitação: Aceitar que o su- cesso nem sempre é garantido e que o fracasso faz parte do processo de cresci- mento e aprendizado é fundamental para desenvolver uma mentalidade resiliente. “Em vez de temer o fracasso, podemos aprender a vê-lo como uma oportunidade de crescimento e autodesenvolvimento.” • Buscar apoio profissional: Por fim, bus- car apoio profissional de um psicólogo clínico pode ser extremamente benéfico para lidar com questões relacionadas ao viés de sobrevivência e outros padrões de pensamento enviesados. “Um psicó- logo pode fornecer orientação personali- zada e técnicas específicas para ajudar a desenvolver uma perspectiva mais equili- brada e saudável em relação ao sucesso e ao fracasso.” Ilu st ra çã o: S pi cy Tr uf fe l/S hu tt er st oc k Im ag es INÊS249 Capa Editorial e Índice Mapa da mente Autoconfiança não nasce, é construída Amor à primeira vista: mito ou verdade? Os daltônicos emocionais O perigo de dar voz a quem não sabe o que fala Jejum de dopamina: funciona ou não? São as green flags que queremos! Histórias de sucesso te motivam?