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MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO I Roberta Centofante Corrosão, agressividade e efeitos da água na obra Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Definir a importância do efeito corrosivo em materiais de construção. � Avaliar o impacto da agressividade das águas na obra. � Analisar o impacto da umidade e da acidez do solo na obra. Introdução Neste capítulo, você verá que a vida útil dos materiais é limitada por sua suscetibilidade aos agentes que estão ou serão expostos durante sua utilização. A extensão em que a vida útil é reduzida é, no entanto, difícil de estimar, visto que depende de vários fatores. Assim, o conhecimento dos processos e dos efeitos corrosivos aos quais esses materiais serão submetidos constitui uma base fundamental para saber a extensão da vida útil. Entre os fatores analisados, é importante conhecer o impacto da agressividade das águas e da umidade e da acidez do solo nas obras. Efeito corrosivo em materiais de construção A influência das variáveis atmosféricas compreende um fator determinante na durabilidade dos materiais de construção e, consequentemente, de suas obras. De acordo com Souza et al. (2017), em locais onde a amplitude térmica é elevada, os materiais são submetidos às variações dimensionais de origem térmica com maior intensidade, em que, em um mesmo dia, a temperatura pode atingir, por exemplo, um valor mínimo em torno de 10°C e um máximo superior a 20°C, alternância que impacta diretamente a durabilidade dos ma- teriais. Locais com alternância de períodos ensolarados e com chuva resultam no mesmo cenário de variação volumétrica, além de fornecerem a lixiviação e a precipitação de sais em cerâmicas porosas. Há, ainda, situações peculiares associadas às variáveis atmosféricas, como nas regiões litorâneas, em que a elevada e constante umidade relativa do ar, aliada à grande concentração de sais, provoca a corrosão de alguns metais e a deterioração de materiais porosos. São inúmeras as possibilidades e condições de exposição dos materiais, o que torna as variáveis atmosféricas parâmetros de fundamental importância no estudo da durabilidade dos materiais e do projeto das construções. Segundo Lunt et al. (2002), países industrializados, como os Estados Unidos, apresentam prejuízos da ordem de 300 bilhões de dólares anuais associados a problemas de corrosão, o que supera catástrofes como enchentes e queimadas. Já Rieder et al. (2009) mencionam que, no Brasil, apesar de não existirem estudos completos sobre os problemas causados pela corrosão, estimam-se prejuízos superiores a 30 bilhões de dólares anuais. Gentil (2011), em um aspecto muito difundido e aceito universalmente, define corrosão como a deterioração de um material, geralmente metálico, por ação química ou eletroquímica do meio ambiente associada ou não a esforços mecânicos. A deterioração causada pela interação físico-química entre o material e o seu meio operacional representa alterações prejudiciais indesejáveis, sofridas pelo material, como desgaste, variações químicas ou modificações estruturais, tornando-o inadequado para o uso. Já a deterioração de materiais não metálicos, como concreto, borracha, polímeros e madeira, pela ação química do meio ambiente pode ser também considerada corro- são. Assim, tem-se que a deterioração do cimento Portland, empregado em concreto, por ação de sulfato compreende um caso de corrosão do concreto, a perda de elasticidade da borracha por oxidação por ozônio pode também ser considerada corrosão, e a madeira exposta à solução de ácidos e sais ácidos perde sua resistência em virtude da hidrólise da celulose, fato admitido como corrosão da madeira. Em armaduras de estruturas de concreto armado, a corrosão se dá pela ação de cloretos, o que constitui um dos principais processos de deterioração das estruturas de concreto armado, o qual consiste no ingresso de íons de cloro, que levam à corrosão da armadura de aço e, ainda, a uma subsequente redução na estética, resistência e vida útil do material e obra. Além disso, pode resultar na necessidade de reparação ou substituição prematura da estrutura, de acordo com Souza et al. (2017), dependendo do processo de degradação sofrido (Figura 1). Corrosão, agressividade e efeitos da água na obra2 Figura 1. Corrosão do concreto e de armaduras. Fonte: Pramoonm/Shutterstock.com. Se, em geral, a corrosão é um processo espontâneo (GENTIL, 2011), ela está́ constantemente transformando os materiais metálicos de modo que a durabilidade e o desempenho deles deixam de satisfazer os fins a que se destinam. Em sua totalidade, esse fenômeno assume uma grande importância na vida moderna, que não pode prescindir dos metais e de suas ligas. Algumas dessas ligas estão presentes em: � estruturas metálicas enterradas ou submersas, como minerodutos, oleodutos, gasodutos, adutoras, cabos de comunicação e de energia elétrica, píeres de atracação de embarcações, tanques de armazena- mento de combustíveis (p. ex., gasolina, álcool e óleo diesel, emissários submarinos); � meios de transportes, como trens, navios, aviões, automóveis, cami- nhões e ônibus; � estruturas metálicas sobre o solo ou as aéreas, como torres de linhas de transmissão de energia elétrica, postes de iluminação, linhas tele- fônicas, tanques de armazenamento, instalações industriais, viadutos, passarelas, pontes; 3Corrosão, agressividade e efeitos da água na obra � equipamentos eletrônicos, torres de transmissão de estações de rádio, de TV, repetidoras, de radar, antenas, etc; � equipamentos como reatores, trocadores de calor e caldeiras. Entre os ambientes corrosivos existentes — a atmosfera, as soluções aquo- sas, os solos, os ácidos, as bases, os solventes inorgânicos, os sais fundidos, os metais líquidos e até mesmo o corpo humano —, de acordo com Souza et al. (2017), a umidade do ar, contendo oxigênio dissolvido, e a precipitação são os que mais atuam na durabilidade dos metais, e, em ambos, é a água que atua como fonte para a corrosão. Considerando o emprego de materiais de construção, e que estes resistam à ação do meio corrosivo, os processos de corrosão podem ser classificados em eletroquímicos (corrosão aquosa), corrosão química ou corrosão eletrolítica (oxidação). Além disso, é importante destacar que, em ambientes próximos ao oceano, em razão do teor de sais existentes na atmosfera, a corrosão se torna mais intensa. Esse processo ainda depende de fatores como a composição química do metal, o ambiente aquoso e a temperatura, e a intensidade de exposição ao meio, ou seja, a corrosão diminui a vida útil do material por redução de suas propriedades mecânicas. De acordo com Sade et al. (2019), no caso dos metais, o processo de corro- são envolve, simultaneamente, reações de oxidação e redução, ocorrendo na superfície do material em contato com um agente oxidante. Ainda, pode se dar um mecanismo eletrolítico, como o caso de processos corrosivos espontâneos nas superfícies dos materiais metálicos, em que este funciona como agente redutor que sofre ação dos agentes oxidantes. Essa reação ocorre quando da transferência de cargas ou elétrons por uma interface metal-eletrólito, ocorrendo quando o material metálico está em contato com meio aquoso ou atmosférico, isto é, nesse tipo de corrosão, forma-se uma pilha eletrolítica com geração de corrente elétrica. Ainda segundo Souza et al. (2017), os processos corrosivos de natureza eletroquímica apresentam mecanismos idênticos, pois sempre serão constitu- ídos por áreas com ânions e cátions, entre as quais circulam uma corrente de elétrons e uma corrente de íons. A corrosão aquosa dos metais se dá quando átomos metálicos se dissolvem como íons em meio aquoso. Já a oxidação representa a reação química direta entre o metal e o oxigênio atmosférico. Corrosão, agressividade e efeitos da água na obra4 Dessa forma, as medidas de prevenção ou redução do processo de corrosãonos metais passam pela escolha dos materiais, a adequação/conhecimento do ambiente em que eles serão utilizados, o uso de inibidores sobre a superfície dos metais e, ainda, as verificações de projeto e da aplicação de proteção sobre as superfícies metálicas. Existem, ainda, formas recuperar essas estruturas metálicas, porém são onerosas e necessitam de constante manutenção. Saiba mais sobre o assunto lendo a dissertação de mestrado “Efeito da corrosão na integridade estrutural da ponte metálica Marechal Hermes”, de autoria de Fabiana Malta Brink. Já os materiais cerâmicos têm boa resistência mecânica, elevada dureza e altos pontos de fusão e ebulição, propriedades a partir das quais podem ser utilizados em ambientes corrosivos; e os materiais ferrosos apresentam como desvantagens a suscetibilidade à corrosão. A corrosão, a degradação dos componentes metálicos, resulta em prejuízos econômicos decorrentes da reposição de peças, interrupção de obras, etc. A chuva, assim como a umidade do ar, pode causar danos aos materiais da construção civil, como o processo da corrosão, efeitos que podem ser intensificados em locais onde ocorre chuva ácida. Segundo Callister Junior (2008), os metais não apresentam a mesma es- tabilidade química das cerâmicas, uma vez que a mobilidade dos elétrons livres facilita a ocorrência de reações químicas deletérias, as quais resultam em corrosão, um processo que não é observado nas cerâmicas, nas quais a ação de deterioração pelas variáveis atmosféricas causa nos metais uma perda efetiva de material ou gera uma camada de material não metálico sobre a peça em processo de deterioração. Portanto, independentemente do tipo de processo corrosivo atuante, há um comprometimento da vida útil do material, o que torna evidente a impor- tância da análise do local de utilização do material e de sua adequação aos condicionantes atmosféricos existentes. 5Corrosão, agressividade e efeitos da água na obra Impacto da agressividade das águas na obra Sabe-se que o nível de agressividade em uma obra está atrelado ao ambiente em que a estrutura está localizada — vibrações, calor, frio, umidade, entre outros fatores, são considerados agentes nocivos, que acarretam danos e prejudicam a durabilidade de determinados materiais em obras de construção civil, como concreto, aço, etc. Para Bauer (2019), vários constituintes químicos podem reagir com o cimento: quando ele está no estado endurecido, os mais comuns são sílica, alumina e óxido de ferro, fato capaz de diminuir a resistência do cimento endurecido ou, até mesmo, fazê-lo desaparecer. De acordo com Souza et al. (2017), quanto maior a temperatura do ar, maior será a sua capacidade em manter vapor d’água, ou seja, são grandezas diretamente proporcionais; assim, regiões mais quentes tendem a ser também mais úmidas. Outra maneira de expressar a umidade atmosférica se dá por meio da umidade relativa do ar, que representa a quantidade de vapor d’água necessária para que o ar atinja a saturação, ou seja, para estar com todo o conteúdo de vapor d’água. Portanto, áreas que apresentam uma atmosfera constantemente úmida podem sofrer com a proliferação de fungos, capazes de promover o apodrecimento de utensílios de madeira e processos químicos que podem corroer o aço. Desse modo, o local onde a edificação será construída torna-se deter- minante para o nível de agressividade que essa construção sofrerá, o que influenciará, diretamente, nas especificações e proteções necessárias para obter a durabilidade pretendida. De acordo com a norma ABNT NBR 6118, as estruturas de concreto devem ser projetadas e construídas a fim de se submeter às condições ambientais previstas na época do projeto, conservando, quando utilizadas e conforme preconizado em projeto, sua segurança, estabilidade e aptidão em serviço durante o período correspondente à sua vida útil (ASSO- CIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2014). Ainda, segundo a norma, a agressividade do meio ambiente está relacionada às ações físicas e químicas que atuam sobre as estruturas de concreto, independentemente das ações mecânicas, das variações volumétricas de origem térmica, da retração hidráulica e outras previstas no dimensionamento das estruturas. Corrosão, agressividade e efeitos da água na obra6 Nos projetos das estruturas correntes, devemos classificar a agressividade ambiental de acordo com o Quadro 1, avaliada, simplificadamente, segundo as condições de exposição da estrutura ou de suas partes. É importante lembrar que o responsável pelo projeto estrutural, tendo os dados relativos ao ambiente em que será construída a estrutura, pode ainda considerar uma classificação mais agressiva que a estabelecida pela norma. Fonte: Adaptado de Associação Brasileira de Normas Técnicas (2014). Classe de agressividade ambiental Agressividade Classificação geral do tipo de ambiente para efeito de projeto Risco de deterioração da estrutura I Fraca Rural Insignificante Submersa II Moderada Urbana1;2 Pequeno III Forte Marinha1 Grande Industrial1;2 IV Muito forte Industrial1;3 Elevado Respingos de maré 1 Pode-se admitir um microclima com uma classe de agressividade mais branda (um nível acima) para ambientes internos secos (sala, dormitórios, banheiros, cozinhas e áreas de serviço de apartamentos residenciais e conjuntos comerciais ou ambientes com concreto revestido com argamassa e pintura). 2 Pode-se admitir uma classe de agressividade mais branda (um nível acima) em: obras em regiões de clima seco, com umidade relativa do ar menor ou igual a 65%, partes da estrutura protegidas de chuva em ambientes predominantemente secos, ou regiões onde chove raramente. 3 Ambientes quimicamente agressivos, tanques industriais, galvanoplastia, branqueamento em indústrias de celulose e papel, armazéns de fertilizantes, indústrias químicas. Quadro 1. Classes de agressividade ambiental (CAA) 7Corrosão, agressividade e efeitos da água na obra Em concretos, por exemplo, de acordo com a ABNT NBR 6118, “a durabi- lidade das estruturas é altamente dependente das características do concreto e da espessura e qualidade do concreto do cobrimento da armadura” (AS- SOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2014, p. 18). Assim, diante do tipo e da classe de agressividade previstos em projetos, os ensaios comprobatórios de desempenho da durabilidade da estrutura devem estabe- lecer os parâmetros mínimos que precisam ser atendidos. Se não houver tais parâmetros, e pelo fato de existir uma forte correspondência entre a relação água/cimento e a resistência à compressão do concreto e sua durabilidade, permite-se a adoção dos requisitos mínimos expressos no Quadro 2. Fonte: Adaptado de Associação Brasileira de Normas Técnicas (2014). Concretoa Tipob,c Classe de agressividade I II III IV Relação água/ cimento em massa CA ≤ 0,65 ≤ 0,60 ≤ 0,55 ≤ 0,45 CP ≤ 0,60 ≤ 0,55 ≤ 0,50 ≤ 0,45 Classe de concreto (ABNT NBR 8953) CA ≥ C20 ≥ C25 ≥ C30 ≥ C40 CP ≥ C25 ≥ C30 ≥ C35 ≥ C40 a O concreto empregado na execução das estruturas deve cumprir com os requisitos estabelecidos na ABNT NBR 12655. b CA corresponde a componentes e elementos estruturais de concreto armado. c CP corresponde a componentes e elementos estruturais de concreto protendido. Quadro 2. Correspondência entre a classe de agressividade e a qualidade do concreto O uso da cerâmica na construção civil é antigo, iniciado como alvenaria por meio do adobe (blocos de argila) e modernizado, depois, para tijolo cerâmico. Atualmente, o setor cerâmico é bastante amplo, utilizado desde a fabricação de telhas para coberturas até o uso de pisos cerâmicos e louças sanitárias. No caso das cerâmicas, sabe-se que, no Brasil, a ação da formação de gelo em materiais porosos não é crítica, uma vez que não há muitas regiões do país Corrosão, agressividade e efeitos da água na obra8 onde ocorre congelamento da água por baixas temperaturas. Na forma sólida (gelo), a água dilata-se em 9%, conforme Souzaet al. (2017), fato que promove tensões internas capazes de gerar fissurações nas cerâmicas, e o mesmo ocorre quando a água transporta, para o interior dos materiais cerâmicos, alguns tipos de sais solúveis. Ainda segundo Souza et al. (2017, p. 11): Em alguns casos, dependendo da composição do material cerâmico, estes sais podem fazer parte da composição do material, e se solubilizar com o ingresso de água limpa no interior dos poros. A dissolução propriamente dita dos sais não é fator deletério para as cerâmicas, entretanto, quando estes cristalizam durante um processo de secagem, os sais no estado sólido podem causar ex- pansão e tensões internas capazes de ocasionar fissuras no material. Por esse motivo é que algumas cerâmicas não resistem à ação constante de molhagem e secagem, pois estes ciclos de solubilização e cristalização de sais ocorrem repetidas vezes, até desagregar o material. Diferentemente dos materiais cerâmicos e metálicos, a água não costuma ser o agente agressivo preponderante em materiais poliméricos, ainda que, de acordo com Souza et al. (2017), as madeiras utilizadas na construção civil possam sofrer processos de degradação por incidência de radiação e, também, calor. Quando expostas a variáveis atmosféricas, como radiação solar, umidade do ar, precipitação, temperaturas altas e chuva ácida, as madeiras são afetadas e sofrem algum processo de degradação, normalmente limitada à superfície desse material — por exemplo, quando exposta a um ambiente sem nenhuma proteção, a madeira tende a escurecer. Os insetos são os responsáveis por grande parte da degradação da madeira, sobretudo os cupins, para os quais, em algumas espécies, a umidade elevada representa uma condição favorável de proliferação, e, para outras, as condições para proliferação apresentam níveis de umidade em torno de 10 a 13%, o nível usual de umidade de aplicação e uso da madeira. Saiba mais sobre o assunto lendo o artigo “Tratamentos preservantes naturais de madeiras de floresta plantada para a construção civil” (SOUZA; DEMENIGHI, 2017). 9Corrosão, agressividade e efeitos da água na obra Impacto da umidade e da acidez do solo na obra A caracterização do solo ocupado para a construção de uma obra tem papel essencial no desenvolvimento do seu projeto, visto que a interação solo- -estrutura pode afetar a vida útil da construção. Toda estrutura da obra é sustentada pelo solo que está em sua base, motivo pelo qual, antes mesmo do início do dimensionamento do projeto, deve-se realizar o estudo geotécnico. Uma das mais importantes fases preliminares em qualquer tipo de construção consiste na investigação sobre as características do terreno. A geotecnia é o campo da engenharia civil que estuda os solos e as rochas. O solo, suporte de qualquer obra, é considerado um material heterogêneo e com propriedades variáveis, que, além de utilizado em aterros compactados para os mais diversos fins, constitui a base de terrenos de fundação de obras de edifícios, casas, entre outras obras ligadas à construção civil. Assim, os diferentes solos e as suas propriedades podem afetar tanto o seu comporta- mento quanto a estrutura a ser construída. Um solo argiloso, por exemplo, é altamente denso quando não há umidade ou presença de água e, ao umidificar- -se, torna-se viscoso. Sabe-se que o terreno é parte integrante de qualquer construção, pois é ele que dá sustentação ao peso da estrutura a ser construída e determina as características fundamentais do projeto em função de seu perfil e de carac- terísticas físicas, como a drenagem. Por isso, torna-se necessário realizar sondagens nos solos para verificar o nível das camadas mais resistentes e de suas propriedades. Geralmente, a melhor camada para fundações é o leito rochoso ou logo acima dele, mas deve-se analisar esse fator separadamente em cada projeto. De acordo com Prado Filho (2018, documento on-line), a caracterização do solo é imprescindível para obter conclusões sobre a qualidade do solo e a sua capacidade de suporte. Ao se ignorar essa etapa, provoca-se risco iminente de desastres, passíveis de prevenção com avaliações da resistência do solo, das variações de umidade e volume, e dos índices de acidez do solo. E, segundo Araújo et al. (2012), os indicadores químicos de um solo são, normalmente, agrupados em variáveis relacionadas ao teor de matéria orgânica do solo, ao conteúdo de nutrientes, às relações com a saturação e à acidez do solo. Corrosão, agressividade e efeitos da água na obra10 O ataque de ácidos ao concreto pode se dar tanto ao concreto exposto ao ar quanto àquele em contato com o solo. Fundações de concreto podem apre- sentar patologias sérias para a obra quando atacadas por ácidos, motivo pelo qual é importante verificar se o solo da obra não contém poluentes e agentes nocivos, casos que devem ser analisados com mais rigor em áreas industriais com focos ou histórico de contaminação do solo. O solo ainda pode ter uma acidez natural, que deve ser estudada — conforme Bauer (2019), a maioria dos ácidos ataca o cimento do concreto por formarem sais de cálcio facilmente solúveis, o que se dá de forma lenta, embora também possam ser inofensivos, visto que a insolubilidade desses sais, capazes de aumentar a impermeabilidade à água do concreto. A nocividade dos ácidos varia de acordo com a sua força: os ácidos minerais fortes, como o clorídrico, o sulfúrico e o nítrico, solubilizam os constituintes do cimento formando sais de cálcio, alumínio e ferro; e os ácidos fracos, como o carbônico, apenas formam sais com a cal. É importante lembrar que a cal dissolvida em ácido carbônico pode ser encontrada nas águas de fontes, que têm um papel importante no ataque ao concreto. Podemos chamar a acidez de um solo de reação do solo ou, ainda, alcalini- dade de um solo, correspondendo, segundo Ronquim (2010), ao grau de acidez dos solos, que influencia a estrutura das partículas desse solo, a atividade de microrganismos e a absorção de íons pelas plantas. Além disso, a acidificação dos solos consiste em um processo químico natural, visto que todos os solos sofrem intemperismo, envelhecimento do qual a acidez faz parte. A acidez do solo pode surgir em decorrência do material de origem e da intensidade da ação de agentes de intemperismo, como clima e organismos, um parâmetro avaliado por meio de seu pH (NOVAIS et al., 2007). De acordo com Ronquim (2010), o pH fornece indícios das condições químicas gerais do solo, pois a composição dos solos com acidez alta (i. e., com pH baixo) geralmente apresenta cálcio e magnésio, sendo pobres em bases, ou seja, o pH do solo representa um indicador de uma situação biológico-físico-química. Além disso, para corrigir a acidez de um solo, deve-se utilizar um elemento que libere ânion e que forme um ácido fraco com o hidrogênio, processo no qual o calcário é uma das substâncias mais utilizadas. Para solos tropicais, podemos encontrar os materiais empregados na correção da acidez na natureza em forma de rochas (Figura 2), as quais são moídas e peneiradas para sua posterior aplicação ao solo. No Brasil, a quantidade necessária para neutralizar a acidez do solo é calculada, principalmente, pelo método de saturação de bases (DONAGEMA et al., 2011). 11Corrosão, agressividade e efeitos da água na obra Figura 2. Pedras de calcário. Fonte: Cyrustr/Shutterstock.com. Segundo Bauer (2019), é possível reconhecer os solos agressivos, na maior parte das vezes, pela coloração que varia do castanho ao castanho-amarelo dos solos normais. São considerados suspeitos os solos de coloração negra até cinza, especialmente quando apresentam manchas de ferrugem vermelho- -castanhas. As camadas de cor cinza-claro até branca, sob os solos vegetais castanho-escuros até negros, indicam um caráter ácido do solo de fundação. Ainda, devemos nos precaver em situações nas quais, por exemplo, na base dos mapas geológicos ou dos mapas de tipos de solo, o concreto seja capaz depenetrar nas camadas de solo que contenham gesso, anidrita ou sulfatos. Em geral, a principal vantagem da análise do solo reside na relação de custo-benefício de uma obra, já que, se essa etapa não for contemplada, o nível de instabilidade da obra aumentará drasticamente e, por consequência, haverá uma possível perda de verba com a correção de algum problema, sem contar as chances de ruptura da obra. Portanto, fica claro que o papel de caracterizar o solo antes de uma construção é insubstituível e tem uma importância imensurável não somente para o futuro estabelecimento, mas também para os seus arredores. Corrosão, agressividade e efeitos da água na obra12 ARAÚJO, E. A. et al. Qualidade do solo: conceitos, indicadores e avaliação. Revista Brasileira de Tecnologia Aplicada nas Ciências Agrárias, Guarapuava, v. 5, n. 1, p. 187–206, 2012. Disponível em: https://revistas.unicentro.br/index.php/repaa/article/view/1658. Acesso em: 24 dez. 2019. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 6118: projeto de estruturas de concreto: procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2014. 238 p. BAUER, L. A. F. Materiais de construção. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2019. v. 1. 568 p. CALLISTER JUNIOR, W. D. Ciência e engenharia de materiais: uma introdução. Rio de Janeiro: LTC, 2008. 705 p. DONAGEMA, G. K. et al. (org.). Manual de métodos de análise de solos. 2. ed. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2011. 230 p. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca- -de-publicacoes/-/publicacao/990374/manual-de-metodos-de-analise-de-solo. Acesso em: 24 dez. 2019. GENTIL, V. Corrosão. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2011. 376 p. LUNT, T. T. et al. Spatial interactions among localized corrosion sites. Journal of The Electrochemical Society, Pennington, v. 149, n. 5, p. B163–B173, 2002. NOVAIS, R. F. et al. (ed.). Fertilidade do solo. Viçosa: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2007. 1017 p. PRADO FILHO, H. R. A geotecnia nos projetos de construção civil. Revista Digital AdNormas, São Paulo, 18 dez. 2018. Disponível em: https://revistaadnormas.com. br/2018/12/18/a-geotecnia-nos-projetos-de-construcao-civil/. Acesso em: 24 dez. 2019. RIEDER, E.S. et al. Investigação dos principais processos de corrosão em estações de energia elétrica do Estado do RS. Matéria, Rio de Janeiro, v. 14, n. 3, p. 1000–1014, 2009. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1517- -70762009000300012&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 24 dez. 2019. RONQUIM, C. C. Conceitos de fertilidade do solo e manejo adequado para as regiões tropicais. Campinas: Embrapa Monitoramento por Satélite, 2010. 26 p. (Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, 8). Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/ publicacao/882598/conceitos-de-fertilidade-do-solo-e-manejo-adequado-para-as- -regioes-tropicais. Acesso em: 24 dez. 2019. SADE, W. et al. Investigação da corrosão eletrolítica em telhas de aço recobertas com zincalume. Matéria, Rio de Janeiro, v. 24, n. 1, e-12278, 2019. Disponível em: http://www. scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1517-70762019000100307&lng=pt&nrm =iso&tlng=pt. Acesso em: 24 dez. 2019. 13Corrosão, agressividade e efeitos da água na obra SOUZA, R. B. et al. Influência das variáveis atmosféricas na degradação dos materiais da construção civil. REEC – Revista Eletrônica de Engenharia Civil, Goiânia, v. 13, n. 1, p. 1–19, 2017. Disponível em: https://www.revistas.ufg.br/reec/article/view/41448. Acesso em: 24 dez. 2019. SOUZA, R. V.; DEMENIGHI, A. L. Tratamentos preservantes naturais de madeira de flo- resta plantada para a construção civil. Mix Sustentável, Florianópolis, v. 3, n. 1, p. 84–92, 2017. Disponível em: http://nexos.ufsc.br/index.php/mixsustentavel/article/view/1824. Acesso em: 24 dez. 2019. Leitura recomendada BRINCK, F. M. Efeito da corrosão na integridade estrutural da ponte metálica Marechal Hermes. Orientadores: Luiz Cláudio Cândido; Francisco de Assis das Neves. 2004. 227 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil, área de concentração Construção Me- tálica) – Departamento de Engenharia Civil, Escola de Minas, Universidade Federal de Ouro PretoOuro Preto, 2004. Disponível em: https://www.repositorio.ufop.br/ handle/123456789/6637. Acesso em: 24 dez. 2019. 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