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VÔMITOS NO LACTENTE · Uma das queixas mais frequentes, podendo ser decorrente de um processo autolimitado ou ser a primeira manifestação de um processo grave Fisiopatologia: · Vômito é uma expulsão forçada de conteúdo GI através da boca · Para isso acontecer, inicialmente há ativação do centro do vômito por estímulos externos (olfatório, visuais, vestibulares, gustativos, palatofaríngeos, faríngeos e esofágico), emocionais ou tóxicos (álcool, medicamentos, infecções) · Zona quimiorreceptora do centro do vômito que os identifica e gera diversas respostas GI, como aumento de salivação, diminuição da pressão torácica, aumento da pressão intragástrica, contração do diafragma, contração do piloro e contração dos mm abdominais levando ao vômito Abordagem diagnóstica: · Não é possível se ter uma conduta padronizada, pois apesar de ser uma queixa frequente em pediatria, o dx diferencial varia com a idade · Só é possível com uma boa anamnese, exame físico e pesquisa do tipo de vômito · A partir disso, solicitando a investigação complementar · Conduta padronizada não é possível · Dx diferencial inclui diversas doenças que acometem aparelho digestório e outros sistemas: anormalidades anatômicas, distúrbios motores GI, infecções, doenças metabólicas/neurológicas/ renais, intoxicações, refluxo gastroesofágico, esofagite eosinofílica e alergias alimentares ANORMALIDADES ANATÔMICAS · Estenose hipertrófica do piloro · Atresias (esôfago, duodeno, íleo) · Má rotação intestinal com volvo · Cistos e duplicação intestinal · Ânus imperfurado · íleo meconial · Doença de Hirschsprung · Enterocolite necrotizante **Vômito bilioso é sempre um sinal de ALARME · Estenose hipertrófica do piloro: vômitos não biliosos, ondas peristálticas gástricas, oliva pilórica, alcalose metabólica, hipoclorêmica e hipocalêmica · Intussuscepção (invaginação intestinal): vômitos não biliosos que evoluem para biliosos, com dor abdominal, massa palpável e fezes sanguinolentas · Má rotação intestinal com volvo: início súbito, com dor abdominal. 80% dos casos no 1° mês · Atresias REFLUXO E DRGE · Mais comum · O refluxo fisiológico tem um pico de incidência, de 4-6 meses. Maioria dos casos tem evolução benigna e autolimitada · O refluxo fisiológico (RGE) é autolimitado, ocorre predominantemente até os 6 meses de idade, podendo ocorrer até os 18 meses sem ser considerado patológico. Isso ocorre, pois o esfíncter esofagiano inferior nessa fase ainda é incompetente. Durante a amamentação, o RN e o bebê mais novo usam toda a capacidade gástrica de 3 em 3 horas, logo, a regurgitação e certo nível de desconforto são normais, no entanto, se há complicação passa a ser considerado doença (DRGE). Quando há repercussão do DRGE (5% dos casos) pode aparecer a esofagite de refluxo · Refluxo (fisiológico): passagem do estômago para o esôfago, não causando repercussão · Regurgitações não volumosas · Pouca ocorrência de vômitos · BEG e boa aceitação alimentar · Ganho ponderal adequado · Pode chorar, mas não é doença · Se causar repercussão, é a doença do refluxo, podendo ser esofagita, esôfago de Barrett, etc, precisando de tratamento · Vômitos e náuseas · Choro excessivo · Postura anômala · Interrupção das mamadas · Dificuldade alimentar · Principal: desaceleração do ganho ponderal · Em lactentes: chama atenção o baixo ganho ponderal, vômitos recorrentes, recusa alimentar, choro excessivo/irritabilidade, arqueamento do tronco e cianose/apneia · Em crianças: náusea matinal, epigastralgia, plenitude pós prandial, eructação excessiva, pirose e vômitos Diagnóstico: hx e exame físico essenciais, mas podem fazer alguns exames complementares · O melhor exame depende da pergunta a ser respondida · Rx contrastado do EED: mais indicado para avaliação anatômica, mas não diferencia RGEF de DRGE. Altura da coluna de bário não correlaciona com a gravidade da DRGE ou grau de inflamação da mucosa esofágica · Cintilografia gastroesofágica: esvaziamento gástrico e aspiração pulmonar, mas também não diferencia a doença do refluxo · ES esofagogástrica: padrão para estenose hipertrófica de piloro, mas não diferencia também · Manometria esofágica: para dismotilidade gástrica · pHmetria: quantifica e correlaciona episódios de RGE com sinais e sintomas. Não detecta episódios de RGE não ácidos. Sintomas atípicos ou extradigestivos · Impedância elétrica intra-luminal: RGE com sinais e sintomas, detecta episódios ácidos e não ácidos · EDA: dx de esofagite erosiva, ajuda a estabelecer gravidade/grau e exclui dx diferencias de esofagite eosinofílica · Teste terapêutico empírico com supressão ácida em crianças a partir dos 5 anos e adolescentes: sintomas típicos e sem sinais de alerta. Usa-se IBP por 2 semanas e se positivo, manter por 4-12 semanas → não muito indicado, pois, na criança, é subjetivo. Nos lactentes, não indicado Sinais de alarme: · Vômito > regurgitação · Vômito bilioso · Choro excessivo · Recusa alimentar · Postura anômala · Perda ou ganho ponderal insuficiente · Sangramento digestivo · Febre · Anemia · Letargia · Convulsão · Suspeita de síndrome metabólica ou genética · Diarreia, constipação e distensão abdominal **Não existe pediatria sem curva de crescimento e peso · Sem sinal de alarme: sem necessidade de exames, medicamentos ou modificações na dieta (se usa fórmula, pensar na anti regurgitação, com resolução do quadro até 18 meses) · Com sinal de alarme: Investigação! · Baixo ganho ponderal: · Pensando na baixa ingestão calórico: questionar se há LM suficiente, o preparo da fórmula, como é a sucção e deglutição e dieta complementar · Ingestão normal: investigar! Tratamento: Não medicamentoso: lactentes · Orientação e suporte: não usar roupas apertadas, sugerir troca de fraldas s antes da mamada, evitar uso de fármacos que exacerbam o refluxo e evitar tabagismo passivo · Medidas posturais: posição supina (SBP) após a mamada. Não é a melhor, mas a pronação tem risco de morte súbita pela broncoaspiração · Dieta: não trocar leite materno pela fórmula, só se mudar para a anti regurgitação Medicamentoso: · Antiácidos para sintomas · Procinéticos: · Aumentam a pressão EEI, melhoram o esvaziamento gástrico e estimulam o peristaltismo esofágico. · Não melhoram o relaxamento transitório do EEI, não cicatriza mucosa e não tem efeito anti-GE · Possuem muitos efeitos colaterais: letargia, irritabilidade, agitação, alterações extrapiramidais, arritmia ventricular (aumento do intervalo QT) · Efeitos colaterais superam os benefícios · Antagonistas dos receptores H2 da histamina: · Eficácia: esofagite leve · Diminui secreção ácida com efeito em 6h · Conclusão: os efeitos colaterais são os mesmos de DRGE, não justifica uso rotineiro · Inibidores da bomba de prótons: · Inibe a secreção ácida por períodos mais longos, promove alívio dos sintomas e cicatrização da mucosa · Efeitos colaterais: cefaléia, constipação, náusea, diarreia, interação com outras drogas, hipergastrinemia e hipocloridria. · Hipocloridria: aumentam a chance de pneumonia adquirida na comunidade, gastroenterites em crianças, candidemia, enterocolite necrosante em RN prematuro, desenvolvimento de alergias; · Conclusão: não tem evidência que justifique o uso, precisando de uma justificativa Como investigar: 1. Vômito + sinais de alarme 2. RGEF x DRGE → diferenciar na anamnese e exame físico 3. Alterações anatômicas → rx contrastado EED 4. Complicações esofágicas → EDA / biópsia 5. Sinais atípicos → pHmetria / impedâncio Orientações aos pais dos lactentes fisiológicos: · Correção de erros alimentares. Se usar fórmulas, ver se não está tomando demais. Se já se alimenta, evitar alimentos que relaxam o esfíncter esofágico · Incentivo ao aleitamento materno · Indicação racional de exames e medicamentos · Não usar IBP sem dx estabelecido, principalmente em lactentes · Considerar dx diferenciais Considerações finais: · Vômito é sintoma de várias doenças · RGE é uma condição fisiológica que deve ser diferenciada criteriosamente de DRGE · Vômitos biliosos é ALARME: internamento parainvestigação e cirurgia urgente image5.png image2.png image4.png image1.png image3.png