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Desequilíbrios na Infância I Júlia Santos, Medicina Objetivos 1. Diferenciar vômito de regurgitação, reconhecendo suas possíveis causas. 2. Diferenciar o refluxo fisiológico da doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), destacando sua fisiopatologia e relacionando com o vômito cíclico. 3. Reconhecer o quadro clínico e diagnóstico, associando aos critérios de ROMA. 4. Entender como se aplica o manejo no DRGE, RGE e vômito cíclico, associando aos seus tratamentos, farmacológico e não farmacológico. Conceitos Vômito O vômito pode ser conceituado como o ato de expulsão violenta de conteúdo gástrico pela boca, podendo ser precedido por náuseas, sudorese, sialorreia (produção excessiva de saliva), taquicardia e taquipneia. O vômito está presente apenas na doença do refluxo gastroesofágico, não sendo encontrada no processo fisiológico. Regurgitação A regurgitação é definida como o retorno passivo e sem esforço, do conteúdo estomacal pela boca, não sendo precedido por náuseas. A regurgitação é caracterizada pela duração menor que 3 minutos, ocorrendo principalmente em lactentes no primeiro ano de vida, podendo acontecer até três vezes ao dia. Aplicando aos conceitos do refluxo gastroesofágico, a regurgitação pode ocorrer tanto no processo fisiológico quanto na patologia do refluxo. Síndrome dos Vômitos Cíclicos Os vômitos cíclicos, periódicos ou cetonêmicos é uma síndrome idiopática, ou seja, não há causas ou uma origem bem definidas. São caracterizados por episódios de vômitos intensos, ocorrendo em um ciclo de 4 a 12 episódios por ano, os quais surgem após o segundo ano de vida e duram entre 24 a 48 horas. Os principais sintomas associados são dor abdominal difusa, náuseas, cefaleia e desidratação, sendo mais comuns dos 2 aos 6 anos de idade. No intervalo dos surtos, não há sintomas dos vômitos cíclicos, os quais tendem a desaparecer com o início da puberdade. Após esse período, pode surgir enxaqueca como principal sintoma. O diagnóstico é feito por exclusão de outros acometimentos orgânicos, como alterações do TGI, lesão neurológica compressiva e doenças metabólicas. Importante ressaltar que o tratamento é sintomático. Já seu diagnóstico diferencial inclui anomalias do TGI (má rotação, cistos de duplicação e cistos do colédoco), distúrbios do SNC (neoplasia, epilepsia e patologia vestibular), doenças metabólicas, apendicite crônica e doença inflamatória intestinal. A avaliação laboratorial é baseada em uma anamnese e em um exame físico cuidadoso, podendo incluir, se indicado, endoscopia, radiografia com contraste do TGI, RNM cerebral e estudos metabólicos. Manejo Na síndrome dos vômitos cíclicos, os fatores desencadeantes e as situações de estresse devem ser identificados e abolidos. Para prevenir as crises, relata-se o uso de ciproeptadina, amitriptilina, eritromicina, fenobarbital, sumatriptano ou propranolol com resultados adversos. A ondansetrona ou a eritromicina usadas como terapia abortiva nos pro ́dromos tornam-se mais eficazes. Sedativos ansiolíticos, diazepam e lorazepam atuam como antieméticos e são de ajuda no início do distúrbio. Refluxo Gastroesofágico Processo fisiológico comum em todas as fases da vida, podendo ocorrer até mais de uma vez por dia. Caracteriza-se por durar menos que 3 minutos, sendo comum após as refeições. Diferentemente da doença do refluxo gastroesofágico, o RGE não causa sintomas associados ou atrapalha o sono do paciente. No lactente, o RGE fisiológico é muito frequente (afetando mais de 60%), sendo acompanhado pela regurgitação do conteúdo gástrico, principalmente após as mamadas. Importante ressaltar que a RGE não causa redução do ganho de peso ou outras manifestações clínicas. Dessa forma, os lactentes são chamados de regurgitadores felizes, pois não há sintomas de desconforto. Conceito principal: movimento retrógrado do conteúdo gástrico para o esôfago, podendo atingir boca e vias aéreas superiores. Pode ocorrer em todas as faixas etárias, várias vezes por dia, sem haver sintomas associados. Causas principais: por ser um distúrbio gastrointestinal transitório, o RGE é causado pela imaturidade funcional do aparelho digestivo durante o primeiro ano de vida. Dessa forma, cerca de 90% a 95% dos RGE são resolvidos até o primeiro ano de vida. Períodos: normalmente, se inicia nas primeiras 8 semanas de vida, tendo seu pico principal entre os 2-4 meses. Fisiopatologia Os principais fatores da fisiopatologia da RGE são a imaturidade funcional do aparelho digestivo e hábitos e fatores posturais. Imaturidade dos mecanismos antirrefluxo: o TGI do lactente tem muitas diferenças funcionais do TGI adulto. Ressalta-se o peristaltismo imaturo, o menor comprimento e tônus do esfíncter da cárdia, um ângulo de Hiss mais obtuso, o esôfago abdominal mais curto, a menor produção salivar e a perda do efeito gravitacional por passar muito tempo em decúbito horizontal. Hábitos e fatores posturais: o lactente normalmente se mantém em decúbito horizontal, além da alimentação primordialmente líquida. Desequilíbrios na Infância I Júlia Santos, Medicina Clínica Perfil do lactente: paciente saudável, mantendo um bom aumento de peso ponderal; normalmente ocorre após a terceira semana após o nascimento, findando aos 12 meses de vida. Sinais e sintomas: 2 episódios diários de regurgitação por mais ou menos 3 semanas. Não há sintomas associados e irritativos, como náuseas, hematêmese, broncoaspiração, apneia, déficit de ganho ponderal, dificuldade de amamentação ou postura anormal. DIAGNÓSTICO: essencialmente clínico, sem necessidade de investigações por imagem de rotina. É indicado fazer exames apenas se as regurgitações forem acompanhadas por vômito ou se o RGE ultrapassarem o primeiro ano de vida, buscando anormalidades anatômicas. Nesses casos, indica-se o EED (radiografia contrastada de esôfago, estômago e duodeno). Tratamento O TRATAMENTO FARMACOLÓGICO É DESNECESSÁRIO! O que pode ser feito é orientar os pais ou cuidadores sobre alguns meios de tentar evitar ou diminuir o quadro de RGE. Posturais: Manter o lactente em posição vertical por 20-30 min após as mamadas; Dormir em decúbito dorsal com elevação da cabeceira a 30-40º. NÃO SE RECOMENDA DECÚBITO LATERAL, POIS ESTÁ ASSOCIADO COM A MORTE SÚBITA DO LACTENTE. Dietéticas: Fracionar as refeições do lactente com volumes menores. Ambientais: Reduzir a exposição ao tabagismo passivo (é bastante associado ao relaxamento do esfíncter pilórico). Doença do Refluxo Gastroesofágico O refluxo gastroesofágico é a passagem de conteúdo gástrico para o esôfago, com ou sem regurgitação ou vômito. Pode ser fisiológico, quando não há sintomas associados, ou patológico, quando provoca sintomas e complicações primordialmente associados à morbidade. Nos lactentes, a DRGE causa outras manifestações além da regurgitação, como vômitos intensos, diminuição do ganho de peso, irritabilidade, choro excessivo, dificuldades no momento da amamentação, alterações da posição cervical, e até manifestações extra-gastrinestinais. Nas crianças maiores, os principais sinais e sintomas são azia e dor epigástrica. Fisiopatologia Os principais fatores fisiopatológicos da DRGE podem ser divididos e conceituados naqueles que prejudicam a competência dos mecanismos antirrefluxo e os que estão relacionados ao aumento da lesividade da mucosa gastrointestinal. Fatores que prejudicam os mecanismos antirrefluxo Alterações do peristaltismo esofágico; Hipotonia do esfíncter esofagiano inferior; Relaxamento transitório do esfíncter esofagiano inferior; Retardo do esvaziamento gástrico; Aumento da pressão intra-abdominal; Efeitos posturais. Etiologia Fatores de risco principais da DRGE: 1. Doenças neurológicas; 2. Prematuridade; 3. Fibrose cística; 4. Displasia broncopulmonar; 5. Obesidade; 6. Histórico familiar de DRGE;7. Malformações congênitas do TGI alto (fístula traqueoesofágica, atresia de esôfago, hérnia hiatal, hérnia diafragmática). Nível Etiologia Primária Disfunção exclusivamente esofagogástrica. Secundárias Hérnia de hiato, obstruções duodenogástricas, malformações congênitas e lesões do sistema nervoso central. Clínica O quadro clínico da Doença do Refluxo Gastroesofágico é variável com a idade. Pode haver manifestações típicas, atípicas e complicações no decorrer da evolução da doença. Manifestações típicas Lactentes: Vômitos propulsivos; Recusa alimentar; Déficit de ganho ponderal; Choro frequente; Irritabilidade; Dificuldade no sono; Alteração na posição cervical. Pré-escolares: Vômitos intermitentes. Escolares/adolescentes: Azia ou pirose; Dor retroesternal; Dor epigástrica; Náuseas; Plenitude pós-prandial (após a alimentação). Com o tempo, há melhora dos sintomas do RGE, por causa do amadurecimento dos mecanismos antirrefluxo, a modificação postural para a postura ereta e as modificações alimentares para alimentos pastosos e sólidos. Desequilíbrios na Infância I Júlia Santos, Medicina Manifestações atípicas (extraesofageanas) Pulmonares: tosse crônica, traqueite, asma de difícil controle, pneumonias recorrentes; bronquiectasia, fibroses pulmonares idiopáticas; Otorrinolaringológicas: roquidão, disfonia, sinusite, otite, faringite, laringite crônica, estenose subglótica, lesão das cordas vocais e laringoespasmos; Orais: erosão de esmalte dentária, halitose, aftas e ruminação; Outras: síndrome da morte súbita do lactente durante o sono. Complicações Pode haver complicações locais, como esofagite, úlceras esofágicas, estenose esofágica, hemorragias digestivas altas e o esôfago de Barret (metaplasia do tecido esofágico por causa da ação danosa do ácido gástrico no esôfago). Menos comumente, há a Síndrome de Sandifer, caracterizada pela postura anormal causada pela hiperextensão cervical e lateralização da cabeça. Essa síndrome cursa principalmente em lactentes com DRGE grave. Diagnóstico O exame laboratorial não é o grande delimitador do diagnóstico. Pelo contrário, para determinar se o paciente tem DRGE é necessário considerar a história clínica e o exame físico. Nos lactentes, o diagnóstico é ainda mais difícil, pois não há como determinar a maioria dos sintomas, já que eles não sabem dizer o que sentem. Além disso, choro, irritabilidade e recusa alimentar não são suficientes para diagnosticar. Os exames possibilitam encontrar sinais de RGE e de alguma complicação gastroesofágica. Raio X do tipo EED A radiografia contrastada de esôfago, estômago e duodeno é um exame de baixo custo e de fácil execução. Porém, não é o ideal para o diagnóstico de DRGE, pois avalia, de forma até exemplar, apenas os episódios de RGE pós- prandial imediato. Primeiro administra-se contraste baritado, tirando várias radiografias seriadas para análise da anatomia, buscando principalmente anormalidades estruturais anatômicas, como forma de diagnóstico diferencial. Seu grande objetivo é avaliar a anatomia do trato digestório alto. Dessa forma, indica-se o EED em casos de disfagia, vômitos biliosos ou suspeita de volvo, obstrução, estenose, membrana. Cintilografia Gastroesofágica Administra-se um radioisótopo para avaliar o esvaziamento gástrico e se há aspiração pulmonar. Porém, não é indicado em casos de pacientes lactentes. Além disso, não é um exame tão sensível ou específico, não sendo indicado como exame de rotina. A cintilografia gastroesofágica, assim como o EED, avalia o RGE pós-prandial imediato. Porém, tem algumas vantagens, como identificar o RGE com pH neutro, avaliar o esvaziamento gástrico, detectar aspiração pulmonar (normalmente realizado com imagem tardia (24 horas). ESVAZIAMENTO GÁSTRICO LENTO PODE SER UM SINAL DE DRGE, MAS NÃO É CRITÉRIO DIAGNÓSTICO! Ultrassonografia esofagogástrica A USG esofagogástrica não é um exame de rotina para diagnóstico de DRGE. Porém, é um importante exame para o diagnóstico diferencial da estenose hipertrófica do piloro, mesmo que não seja tão específico para DRGE. Ou seja, a USG não diferencia RGE de DRGE. Porém, é extremamente pertinente como diagnóstico diferencial das anormalidades anatômicas, assim como a EED, que podem influenciar no quadro clínico de DRGE. PORÉM, AINDA SIM NÃO É EXAME DIAGNÓSTICO PARA REFLUXO! PHmetria esofágica – Padrão “Ouro” Passagem de um cateter esofágico no paciente, monitorando a atividade intraluminal durante 24h. É um exame que avalia a frequência e duração dos episódios de refluxos ÁCIDOS, gerando um índice de refluxo. O índice de refluxo é quantificado a partir do tempo total de exposição esofágica a componentes ácidos. Valores anormais do índice de refluxo: para os menores de 1 ano, o anormal é acima de 10%, e as crianças acima de um ano, é anormal o índice estar acima de 5%. Indicação: Crianças com sintomas atípicos de refluxo; Necessidade de avaliar resposta ao tratamento em pacientes não- responsivos; Quando for preciso avaliar o pré e o pós de uma cirurgia no TGI alto. A DESVANTAGEM DA PHMETRIA É QUE O EXAME AVALIA APENAS EPISÓDIOS DE REFLUXO ÁCIDOS. Impedanciometria esofágica intraluminal É colocado um cateter esofágico durante 24h na criança, monitorando as mudanças da impedância elétrica. É um exame extremamente sensível para identificar tanto os refluxos ácidos quanto os não ácidos, além da altura esofágica que o refluxo consegue atingir, e qual sua duração. Desequilíbrios na Infância I Júlia Santos, Medicina Infelizmente, é um exame caríssimo. Dessa forma, seria o padrão ouro para a DRGE se fosse mais disponibilizado, além de que não há limites normais de pH em relação às idades. Manometria esofágica É um exame extremamente importante para avaliação da motilidade do esôfago. A principal indicação é quando há suspeita de dismotilidade, acompanhada de um quadro clínico com disfagia e odinofagia. Costuma ser útil em pacientes não responsivos à supressão ácida. Endoscopia digestiva alta com biópsia É um exame que avalia aspectos como lesões na mucosa esofágica, sendo indicada principalmente quando há suspeita de complicação (esofagite, esôfago de Barret, úlceras). A endoscopia NÃO dá o diagnóstico de DRGE, pois se o exame dá negativo para esofagite, não garante que não há a doença do refluxo. Há pacientes que são NERD (non-erosive reflux disease).. Sua principal contraindicação para lactentes é a necessidade de sedação, por ser um procedimento bastante invasivo, e como avalia complicações, são raros os casos de complicação em crianças menores, sendo a escolha inadequada. A biópsia endoscópica é fundamental, nesse grupo de pacientes, para diagnóstico diferencial com outras doenças, como a EoE. Supressão Ácida O teste terapêutico empírico com supressão ácida é realizado em pacientes com sintomas típicos de DRGE, porém sem sinais de alerta. O exame é feito com fármacos inibidores da bomba de prótons, durante 4 a 12 semanas, esperando-se uma melhora clínica da azia, da dor epigástrica em queimação, da tosse crônica, das náuseas, da regurgitação, da dor torácica ou da dispepsia. ROMA Distúrbios gastroduodenais funcionais – da náusea e do vômito Náusea idiopática crônica: náusea significativa, ocorrendo pelo menos algumas vezes na semana; habitualmente não está associada com vômito; Ausência de anormalidades na endoscopia digestiva superior ou doença metabólica que explique a náusea. Os sintomas avaliados são dos últimos 3 meses com início dos sintomas pelo menos 6 meses antes do diagnóstico. Vômito funcional: Um ou mais episódios de vômito por semana; Ausência de critério para distúrbio alimentar, ruminação ou distúrbio psiquiátrico; Ausência de vômito auto-induzido, uso crônico de canabioide, ausência de anormalidades no SNC ou doenças metabólicas associadasao vômito. Os sintomas avaliados são dos últimos 3 meses com início dos sintomas pelo menos 6 meses antes do diagnóstico. Síndrome do vômito cíclico: Episódios de vômito que se repetem de forma semelhante, considerando-se o início (agudo) e a duração (menos de 1 semana); Três ou mais episódios distintos no ano anterior; Ausência de náusea e de vômito entre os episódios. Os critérios de apoio são história familiar de enxaqueca. Tratamento Farmacológico Normalmente, não é indicado para lactentes, pois há grande responsividade aos métodos não farmacológicos. Isso também se explica pelo fato de que os principais medicamentos são antiácidos, mas o refluxo nos lactentes é levemente ácido. As principais indicações são nos casos de complicações (esofagites, úlceras), sintomas graves, dificuldade alimentar e desaceleração ponderal. Procinéticos: como os antagonistas dos receptores D2. Os procinéticos aumentam o tônus da mucosa esofágica, melhorando o clareamento e a depuração esofágica e aumentando a velocidade do esvaziamento gástrico. Contudo, não são eficazes em diminuir a frequência dos relaxamentos transitórios do EEI. Para lactentes, não são utilizados de rotina, pois causam irritabilidade, sonolência e aumentam o intervalo QT. Metoclopramida: aumenta a pressão no EEI e melhora o peristaltismo esofágico, além do esvaziamento gástrico. A estreita margem entre seus efeitos terapêuticos e seus efeitos adversos no SNC dificulta o seu uso na DRGE da criança. Bromoprida: por apresentar efeitos colaterais neurológicos, como os extrapiramidais, não é indicado como tratamento de rotina da DRGE. Domperidona: aumenta a pressão no EEI e melhora a motilidade, mas seu uso é limitado em pediatria. Entre os efeitos colaterais importantes, está a agitação e o aumento das cólicas nos lactentes, que muitas vezes pioram o quadro clínico ou confundem mais o pediatra. Também podem ocorrer manifestações cardiovasculares. Antiácidos: são mais utilizados para sintomas esporádicos ou diminuição da acidez noturna. Os principais são a ranitidina (antagonista do receptor H2) e o omeprazol (inibidor da bomba de prótons). Ambos aliviam os sintomas do refluxo, permitindo a cicatrização da mucosa esofágica. O teste terapêutico dura entre 4 a 6 semanas em crianças. Tem alguns efeitos adversos, como cefaleia, tontura, fadiga, hipovitaminose B12 e osteoporose. Antagonistas dos receptores H2 (ranitidina): Diminuem a acidez gástrica por inibição dos receptores de histamina nas células parietais gástricas. O pH gástrico começa a aumentar dentro de 30 minutos, o que possibilita seu uso para alívio rápido dos sintomas. Sua eficácia na cicatrização das lesões erosivas é maior nos casos leves e moderados. Como efeitos colaterais, alguns lactentes podem apresentar cefaleia, sonolência, ato de bater a cabeça e outros, que podem ser erroneamente interpretados como sintomas persistentes de refluxo, resultando em um aumento inapropriado da dose. Não há evidências para justificar o tratamento empírico com supressores de ácidos em lactentes e crianças menores, já que os sintomas de DRGE são menos específicos. Inibidores da bomba de prótons (omeprazol): Estão indicados nos casos de esofagite erosiva, estenose péptica ou esôfago de Barrett, bem como nas crianças que necessitam de um bloqueio mais efetivo da secreção ácida, como as portadoras de doença Desequilíbrios na Infância I Júlia Santos, Medicina respiratória crônica grave ou problemas neurológicos. Obs.: em comparação aos bloqueadores de H2, o efeito do IBP não diminui com seu uso crônico. Além disso, mantém o pH acima de 4 por períodos mais longos e inibe a secreção ácida provocada pela alimentação. A sua potente supressão ácida acarreta diminuição do volume intragástrico, o que facilita o esvaziamento e diminui o volume do refluxo. Importante ressaltar que não se usa fármacos em caso de pacientes com sintomas atípicos extraesofágicos. Não-farmacológico Indicação de medidas que não envolvem fármacos, apenas técnicas de manejo terapêutico. Postura: elevação da cabeceira da cama em 30-40º; Refeição: fracionamento das refeições, cada uma em menor volume, além de não comer algumas horas antes de dormir; Redução de peso em pacientes obesos; Em caso de crianças maiores, indica-se dormir em decúbito lateral esquerdo e com a cabeceira elevada; Líquidos: EVITAR consumo de líquidos durante as refeições; Evitar alimentos que relaxem o esfíncter esofageano inferior, como cafeína, chocolates, condimentos, molhos picantes, bebidas gaseificadas, sucos cítricos; Uso de fórmulas antirregurgitação ou espessantes: técnica puramente ESTÉTICA. Não trata o refluxo, apenas espessa o alimento ou líquido, diminuindo o volume regurgitado VISIVELMENTE. Ou seja, NÃO REDUZ OS EPISÓDIOS DE REFLUXO, APENAS OS EPISÓDIOS VISÍVEIS. Exclusão da proteína do leite de vaca da dieta do paciente, por 2 a 4 semanas, como meio de diagnóstico diferencial para alergia à proteína do leite de vaca. É importante essa hipótese ser bem avaliada, pois 40% dos lactentes com histórico de refluxo, têm alergia à proteína do leite de vaca. Os sintomas principais desses casos são: recusa alimentar, irritabilidade extrema, desaceleração do ganho ponderal, presença de sangue nas fezes, antecedentes de outras atopias. Cirúrgico Há indicação para o tratamento cirúrgico nos casos de refratariedade ao tratamento medicamentoso ou manifestações com risco de morte. Comumente, os pacientes que se utilizam da cirurgia são aqueles com fatores de risco para DRGE grave. A técnica cirúrgica utilizada é a fundoplicatura de Nissen laparoscópica.
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