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1 Claudia Corrêa de Almeida Moraes Interpretação do Patrimônio Turístico 2 Interpretação do Patrimônio Turístico 3 MINISTÉRIO DO TURISMO PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL Luíz Inácio Lula da Silva MINISTRO DE ESTADO DO TURISMO Celso Sabino de Oliveira SECRETÁRIA-EXECUTIVA Ana Carla Machado Lopes SECRETÁRIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO, SUSTENTABILIDADE E COMPETITIVIDADE NO TURISMO Milton Sergio Silveira Zuanazzi DIRETORA DE QUALIDADE, SUSTENTABILIDADE E AÇÕES CLIMÁTICAS NO TURISMO Renata Sanches COORDENADORA-GERAL DE QUALIDADE NO TURISMO Débora Vieira Barboza COORDENADORA DE QUALIFICAÇÃO DE PRESTADORES DE SERVIÇOS TURÍSTICOS Angela Cascão COORDENADORA DE QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL DO TURISMO Jéssica de Oliveira Queiroga Interpretação do Patrimônio Turístico 4 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE REITOR Antonio Claudio Lucas da Nóbrega VICE-REITOR Fabio Barboza Passos DIRETORA DO CEAD/UFF Regina Célia Moreth Bragança DIRETOR DA FACULDADE DE TURISMO E HOTELARIA João Evangelista Dias Monteiro CHEFE DO DEPARTAMENTO DE TURISMO Fábia Trentin COORDENADORA DO PROJETO Fábia Trentin Vice-coordenador Carlos Lidizia Equipe LabPGTUR Beatriz Cardoso Lays Evangelista Maria Eduarda Teixeira Rafaellen Franklin Revisoras: Nathália de Ornelas N. de Lima Camila Louzada Coutinho Capa e Designer: Paulo Carvalho Interpretação do Patrimônio Turístico 5 Direitos desta edição reservados ao Laboratório de Políticas, Governança e Turismo (LabPGTUR) e a Coordenação de Educação a Distância (CEAD/UFF) Todo o conteúdo é de responsabilidade dos autores. É permitida a reprodução total ou parcial desta obra desde que citada a fonte. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Moraes, Claudia Corrêa de Almeida Interpretação do patrimônio turístico [livroeletrônico] / Claudia Corrêa de Almeida Moraes. --1. ed. -- Niterói, RJ : Laboratório de Políticas,Governança e Turismo (LabPGTUR) : Coordenação deEducação a Distancia (Cead/UFF), 2023. PDF Bibliografia. ISBN 978-65-84620-26-1 1. Patrimônio cultural 2. Patrimônio histórico 3. Turismo I. Título. 23-178205 CDD-338.4791 Índices para catálogo sistemático: 1. Turismo cultural : Planejamento : Economia 338.4791 Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129 Interpretação do Patrimônio Turístico 6 Interpretação do Patrimônio Turístico Claudia Corrêa de Almeida Moraes E-mail: ccamoraes@id.uff.br UFF 2023 Interpretação do Patrimônio Turístico 7 Claudia Corrêa de Almeida Moraes Estágio pós-doutoral em Turismo na Universidade de Aveiro-PT, doutora em Geografi a (Unesp), mestre em Comunicação Social – linha de pesquisa em turismo e lazer (USP), licenciada em História (Unicamp), bacharel em Turismo (PUC Campinas) e Guia de Turismo (Graffi t). Professora do Departamento de Turismo da Faculdade de Turismo e Hotelaria da Universidade Federal Fluminense. Pesquisa temas relacionados ao turismo e a cultura, eventos turísticos, planejamento e política de turismo. E-mail: ccamoraes@id.uff .br Lattes: http://lattes.cnpq.br/1956118479593590 Comunicação Social – linha de pesquisa em turismo e lazer (USP), licenciada em História (Unicamp), bacharel em Turismo Interpretação do Patrimônio Turístico 8 Interpretação do Patrimônio Turístico 9 Sumário Apresentação do módulo __________________________ 10 1. Interpretação do patrimônio natural e cultural: conceitos básicos _________________________ 11 2. Técnicas e instrumentos para a interpretação patrimonial _________________________ 19 3. Plano interpretativo ____________________________ 30 Considerações finais ______________________________ 34 Saiba mais _______________________________________ 34 Referências ______________________________________ 37 Interpretação do Patrimônio Turístico 10 Apresentação do módulo Neste módulo, vamos trabalhar com a temática da interpretação do patrimônio cultural e natural no contexto do exercício profissional do guia de turismo regional. A abordagem aqui proposta pretende, de maneira clara e objetiva, conceituar termos como patrimônio natural e cultural e interpretação patrimonial, além de apresentar técnicas e ferramentas que auxiliam na interpretação do patrimônio cultural e natural. Por fim, exibir um plano interpretativo para que o guia de turismo possa entender seu uso na mediação da visita guiada. Ao final deste módulo, esperamos que você seja capaz de: • explicar o conceito de patrimônio cultural e natural e de interpretação patrimonial cultural e natural; • compreender o uso da interpretação patrimonial cultural e natural no ofício do guia de turismo regional; • conhecer as técnicas e os instrumentos usados para a interpretação patrimonial cultural e natural; e • identificar o passo a passo de um plano interpretativo que possa ser usado no guiamento de atrativos turísticos culturais e naturais. Plano de Estudos Unidade 1 – Conceitos básicos e o uso da interpretação patrimonial. Unidade 2 – Técnicas e instrumentos para a interpretação patrimonial. Unidade 3 – Plano interpretativo Apresentamos, a seguir, o conteúdo que lhe permitirá ampliar seu conhecimento a respeito da interpretação do patrimônio e de sua aplicação, com a finalidade de auxiliar você a melhorar a sua atuação como guia regional. Se você teve pouco contato com o tema e quiser conhecer um pouco mais, deixamos alguns materiais no ‘saiba mais’ e nas ‘referências bibliográficas’. Bons estudos! 1. Interpretação do patrimônio natural e cultural: conceitos básicos Noções preliminares Neste tópico, vamos expor os conceitos que são importantes para a compreensão da relação da interpretação do patrimônio natural e cultural e o guiamento em turismo. Inicia-se com o conceito de patrimônio cultural e ambiental, seguindo para o conceito de interpretação ambiental e cultural e finaliza-se com a indagação sobre as vantagens de utilizá-la no ofício do Guia de Turismo Regional. De modo geral, o conceito de patrimônio, na cultura ocidental contemporânea, refere-se a bens de grande valor para as pessoas. Os patrimônios natural e cultural consistem em uma combinação entre natureza e cultura, pois, segundo Gerhardt e Nodari (2016, p. 67), eles “são duas faces da mesma realidade”. Para facilitar o seu entendimento, definimos separadamente os conceitos de patrimônio cultural e natural (Figura 1). Figura 1: Definições de patrimônio cultural e natural Fonte: Vianna (2016) e Scifoni (2017) Interpretação do Patrimônio Turístico 11 1. Interpretação do patrimônio natural e cultural: conceitos básicos Noções preliminares Neste tópico, vamos expor os conceitos que são importantes para a compreensão da relação da interpretação do patrimônio natural e cultural e o guiamento em turismo. Inicia-se com o conceito de patrimônio cultural e ambiental, seguindo para o conceito de interpretação ambiental e cultural e fi naliza-se com a indagação sobre as vantagens de utilizá-la no ofício do Guia de Turismo Regional. De modo geral, o conceito de patrimônio, na cultura ocidental contemporânea, refere-se a bens de grande valor para as pessoas. Os patrimônios natural e cultural consistem em uma combinação entre natureza e cultura, pois, segundo Gerhardt e Nodari (2016, p. 67), eles “são duas faces da mesma realidade”. Para facilitar o seu entendimento, defi nimos separadamente os conceitos de patrimônio cultural e natural (Figura 1). Figura 1: Defi nições de patrimônio cultural e natural Fonte: Vianna (2016) e Scifoni (2017) Figura 1: Defi nições de patrimônio cultural e natural PATRIMÔNIO CULTURAL Remete à riqueza simbólica, cosmológica e tecnológica de- senvolvida pelas sociedades e transmitida como herança ou legado. Diz respeito ao conjun- to de conhecimentos e realiza- ções de uma sociedade ou co- munidade que são acumulados ao longo de sua história e que lhe conferem os traços de sua identidade emrelação às outras sociedades ou comunidades. PATRIMÔNIO NATURAL É o legado de atrativos natu- rais com atributos intangíveis, referindo-se à soma total dos elementos da biodiversidade, incluindo fl ora e fauna, ecossis- temas e estruturas geológicas. Compreende áreas de impor- tância preservacionista e his- tórica, da paisagem, de beleza cênica ou áreas que transmitem à população a importância do ambiente natural. Interpretação do Patrimônio Turístico 12 Patrimônio cultural refere-se à esfera cultural e diz respeito ao conhecimento social e às ações produzidas pelo homem, denominados antrópicos. Patrimônio natural, por sua vez, está relacionado aos elementos naturais presentes no nosso planeta, denominados bióticos. Hoje, ao se tratar da natureza, também se versa como resultante da histórica e sociedade ao se considerar que as transformações impostas estão presentes no curso de um processo histórico de constituição de sua humanidade. Entretanto, a dimensão natural é mantida, já que os mecanismos reguladores de sua dinâmica são dados por condições próprias de suas leis naturais, por isso, ambos estão associados (SCIFONI, 2017). Agora que você já sabe os conceitos de patrimônio cultural e natural, vamos passar a entender o que significa interpretar o patrimônio. Antes de tratarmos da interpretação do patrimônio, segimoa para uma reflexão importante. Quais os motivos para se considerar bens culturais e naturais como parte de um patrimônio comum? Considera-se educação patrimonial como uma forma de valorizar e, por conseguinte, conservar e preservar um bem cultural ou natural. Um patrimônio só tem sentido para quem o reconhece e quando desperta nas pessoas um sentimento de pertencimento e o desejo de que ele permaneça Atividade 1 - Pergunta para você pensar a respeito Como a interpretação do patrimônio (IP) pode ser importante para valoração dos patrimônios? Resposta Comentada Houve uma época em que a preservação e a conservação de lugares, edifícios, objetos, fauna, flora e paisagens eram realizadas pelo seu valor em si mesmo, em um processo de reificação1 de “coisas”. Por exemplo: preservava-se uma igreja barroca colonial por ser bonita, ricamente decorada e antiga. Brandão (1996) analisa os motivos para se preservar e/ou conservar um monumento apenas por ser uma bela criação do passado e pela genial criatividade da humanidade. As novas discussões associam os bens culturais e naturais à vida cotidiana como criadora de símbolos, 1 Tratar ou considerar como coisa, reduzir a valores meramente materialistas. Interpretação do Patrimônio Turístico 13 à circulação de signifi cados, à busca por uma releitura daquilo que é tradicional e inserido no contexto, e não mais como algo imobilizado no tempo presente, mas como algo vivo na cultura e na natureza. Assim, os programas de preservação/ conservação do patrimônio são imprescindíveis para colaborar com os diversos setores presentes no território. As ações podem ser divididas em quatro: (i) de informação e assessoramento no mesmo lugar; (ii) de promoção e divulgação de valores; (iii) interpretativas para provocar o interesse e apoio; e (iv) educativas para facilitar o compromisso e a participação. O primeiro passo para sensibilizar pessoas para conservação e/ou preservação dos patrimônios (cultural e natural) é a educação patrimonial (EP). A EP visa promover o reconhecimento e a valorização das identidades comunitárias e da necessidade de mudanças de comportamento contra a vida, que levam a destruição das espécies e/ou de suas memórias, fazendo com que as pessoas ajam como produto e produtores dos patrimônios cultural e ambiental, em processo permanente de aprendizagem que respeitem todas as formas de vida, afi rmem valores e ações para a transformação humana e social. Desse modo, o educando torna-se um participante ativo e crítico nesse processo. O próximo passo é a coletivização das informações e dos conteúdos, denominada interpretação patrimonial (IP). O Serviço Nacional de Parques dos Estados Unidos (2001) conceitua interpretação como: “um catalisador para criar na audiência a oportunidade de formar suas próprias conexões intelectuais e emocionais com os signifi cados e a importância inerentes ao recurso”. É muito comum haver confusão entre as etapas EP e IP porque ambas usam técnicas e instrumentos comuns. No entanto, são duas etapas distintas do processo de preservação e conservação do patrimônio. A origem do termo “interpretação do patrimônio” está associada aos parques nacionais americanos. A fi losofi a interpretativa foi iniciada por Mills, solidifi cada com os princípios de Tilden e atualizada pelas propostas de Beck e Cable para o século XXI (COSTA, 2001). Interpretação do Patrimônio Turístico 14 Na década de 1970, a IP avança para além das unidades de conservação, caminhando para os patrimônios culturais dos centros urbanos. Já na década de 1980 o planejamento interpretativo ganha destaque, passando a ser questão habitual em conferências e publicações nas pautas sobre revitalização e promoção do patrimônio. Costa (2001) explica que, em 1999, a “Conferência Internacional: apresentação e interpretação”, ocorrida na Europa, difunde a necessidade de desenvolver o afeto com a interpretação, alterando seu entendimento. A interpretação auxiliou os visitantes de áreas naturais protegidas a terem maior aproximação com a natureza, por meio do guiamento por especialistas que conduziam pelo melhor caminho, evitando obstáculos, minimizando os riscos e auxiliando na visualização do ambiente com outros olhos. Foi essa nova forma de olhar, sentir e interpretar a natureza que deu origem à IP (VASCONCELOS, 1998). A IP é a última etapa do processo de conservação e/ou preservação e tem como objetivo coletivizar as informações, revelando o que está por trás dos fatos nos conteúdos relacionados aos bens culturais e naturais, e provocando as pessoas a explorar, de forma profunda, o que está sendo interpretado, com base em informações científi cas e históricas (adaptado de ALVES; COSTA-PINTO; MELLO-AFFONSO, 2023; TATINI, 2021). Tilden (2007) estabelece seis princípios fundamentais com o objetivo de identifi car a fi losofi a que sustenta a prática interpretativa e que, de certa forma, organiza as bases da interpretação. São eles: I. Qualquer interpretação que não relacionar o que está sendo mostrado ou descrito a algo da personalidade ou da experiência do visitante será estéril. II. Informação, por si só, não é interpretação. Interpretação é a revelação baseada na informação. Embora sejam completamente diferentes, toda interpretação inclui informação. III. Interpretação é uma arte que combina muitas artes, quer o material apresentado seja científi co, histórico ou arquitetônico. Toda arte pode ser ensinada em um certo grau. IV. O objetivo principal da interpretação não é a instrução, mas a provocação. V. A interpretação deve procurar apresentar um todo, ao invés de uma Interpretação do Patrimônio Turístico 15 O processo de CI pode ser usado para alfabetizar pes- soas quanto ao patrimônio? parte, e se dirigir à pessoa como um todo, ao invés de um aspecto dela. VI. A interpretação dirigida às crianças (até a idade de 12 anos) não necessita ser uma forma diluída da apresentação para adultos, mas deve seguir uma abordagem totalmente diferente. Para explorar todo seu potencial, requer um programa separado. O processo de sensibilização ou de educação a respeito do patrimônio cultural e natural inicia-se com a informação. A informação ocorre por meio da comunicação interpretativa (CI). A CI é destinada a estabelecer um trâmite de informações sobre o patrimônio cultural e natural, usando mensagem codifi cada em um sistema de sinais que é transportada para um destinatário por canais de comunicação (onde circula a mensagem). Porém, como apresentou Tilden (2007, p. 30), apenas informações não são o sufi ciente para sensibilizar e/oueducar as pessoas para a importância de se valorizar o patrimônio. É preciso ir além de comunicar os fatos e “revelar signifi cados e as relações por meio do uso de objetos originais, de experiências de primeira mão e de materiais ilustrativos”. Trata-se, pois, de comunicar temas, estórias e conceitos específi cos que sejam capazes de transmitir a essência do seu signifi cado e provocar o visitante e, com isso, permitir que ele tenha experiências ricas e memoráveis e que pense e refl ita sobre o que está vivenciando (GONÇALVES, 2012, p.17).Algumas questões sobre os preceitos da IP precisam ser esclarecidas, como a alfabetização cultural e ambiental. Interpretação do Patrimônio Turístico 16 Atividade 2 - Responda ao desafio apresentado Diante do que foi apresentado sobre a forma como a IP se desenvolve e atua, envolvendo os visitantes, a comunidade e os mediadores, pode-se pensar a CI como instrumento educativo alfabetizador durante o processo de IP? Resposta comentada No Brasil, por influência das leituras que se faziam sobre a EP, nos anos de 1980, considerava-se a IP como transmissão de conhecimentos sem reconhecer o participante do processo como protagonista. Afirmava-se que havia uma cultura superior que alfabetiza outra cultura, considerada inferior. Ximenes (2015) esclarece que no processo da IP a construção das informações é um ato dialógico2, participativo e coletivo, comprometido com a problematização e a intervenção na realidade. Desse modo, não se trata de alfabetizar as pessoas em relação ao patrimônio, e sim construir coletivamente reflexões e ideias sobre a temática que está sendo interpretada. Conhecer o patrimônio não significa exatamente que os envolvidos irão preservá-lo ou conservá-lo. Serão as reflexões críticas que poderão induzir a transformação da realidade (TOLENTINO, 2016). Os caminhos a serem trilhados (metodologia) são estabelecidos de acordo com o público participante, o ambiente, as especificidades e as peculiaridades de cada caso e o contexto em que a interpretação ocorra. Entre as vantagens de se usar a IP como ferramenta de manejo das Unidades de Conservação (UC) nas áreas naturais, podemos citar a redução dos impactos ambientais negativos e a potencialização dos impactos sociais positivos. Por meio da IP, ainda é possível verificar os impactos econômicos positivos produzidos de forma indireta, em razão da atividade de visitação. Quando a IP é aplicada de maneira proveitosa nas UC, o resultado pode ajudar a criar nos visitantes uma sensação de lugar (BROCHU; MERRIMAN, 2002, p. 21). Costa (2009, p.190) completa com a ideia de que, ao vivenciarem e experimentarem diretamente os bens patrimoniais por meio da mediação interpretativa, os visitantes participam de um “processo ativo de construção de conhecimento sobre o patrimônio e seu contexto histórico”. Esse esforço 2 Carrega em sua essência o significado de dialogismo, que consiste em construir uma reflexão sob a forma de diálogo. Interpretação do Patrimônio Turístico 17 comunicativo emite “sugestões e sensações que se conectam diretamente com as emoções inconscientes, de modo a seduzir para aumentar um espírito crítico e provocar comportamentos pró-ambientalistas e conservacionistas” (DELGADO; PAZOS, 2013). Atividade 3 - Reflita e responda sobre a questão a seguir Que exemplo poderia ser utilizado para referenciar a importância da IP para o patrimônio ambiental e/ou natural? Resposta Comentada São muitos os exemplos que poderiam ser citados. Ao responder, você precisa ter certeza de que a sua opção de exemplo é uma IP (natural/cultural) realmente significativa para o visitante. A IP deve não apenas trazer informações sobre o local, mas também relacioná-lo com o contexto do seu entorno, de maneira que faça o turista pensar sobre o que está vivenciando. O trabalho de mediação exercido pelo guia de turismo deve integrar as comunidades como produtoras/detentoras dos bens percebidos e associados aos lugares. A reflexão exercida na mediação precisa olhar o patrimônio • de forma crítica reconhecendo e respeitando a existência dos saberes locais; • percebendo a vivência das comunidades onde esse patrimônio é construído; • compreendendo a participação efetiva dos sujeitos; • entendendo a necessidade da tolerância para a diversidade cultural; • tendo sensibilidade às questões socioambientais relevantes para a conservação e para a qualidade de vida humana como princípios; • agindo na transformação do mundo e na mentalidade gerada pela crise ambiental Como a IP pode ser um ato positivo para o patrimônio natural e cultural? Interpretação do Patrimônio Turístico 18 O Instituto Brasileiro de Museus (2014) esclarece que o guia de turismo exerce um trabalho essencial, ao criar conexões emocionais e intelectuais entre o local visitado e o turista. Sendo assim, seu trabalho é uma parte muito importante na experiência do visitante. Biesek (2004) completa essa ideia ao considerar que a mediação do guia de turismo cria conexões por meio de informações sobre a importância do bem e o porquê da sua proteção, auxiliando na identifi cação do visitante com o bem, o que pode ocasionar um sentimento em relação ao lugar de visita e seu entorno. […] é muito mais do que dominar os conceitos de patrimônio. [Interpretar] demanda atores específi cos, conhecimento de público-alvo para defi nir as técnicas e, com isso, atender aos objetivos propostos e aos princípios gerais. Afi rma-se, assim, que a interpretação patrimonial é, sim, uma forma de planejar a visitação de maneira efi ciente, pois proporciona todas as vantagens da preservação do patrimônio, agregando uma experiência turística muito mais relevante para o visitante (CARDOZO, 2012, p. 191-192). Por exemplo, o que as pessoas sem uma formação específi ca veem em uma mata? Uma possibilidade é verem apenas o verde! Então, o papel do guia com a interpretação é levar a pensar sobre os matizes de verde, sendo que cada uma delas é uma história que pode criar nó para com o público na trama do tecido por ela composto. Mirar com atenção o que há à frente faz com que o verde, que parecia igual, passe a ter outro sentido, com várias histórias e novos entendimentos. Para manter o cuidado com o território é preciso despertar para novos vínculos! Assim, cria- se confi ança e gera-se curiosidade. Além disso, Como o guia de turismo pode ter um papel importante no desenvolvimento da IP? Interpretação do Patrimônio Turístico 19 ela vincula-se à natureza e à cultura, dando-lhes contexto, e gera um interesse maior sobre aquele patrimônio visitado. A interpretação também pode levar os moradores a despertarem sobre o valor do patrimônio do seu território que antes era despercebido, ao verifi carem que visitantes desembolsaram recursos para conhecê-lo. Atividade 4 - Pondere sobre o questionamento apresentado Como o guia de turismo pode ser um dos pilares para que a IP ocorra e dê resultados esperados? R esposta Comentada Recursos interpretativos, ao serem usados no trabalho dos guias, favorecem a existência de experiências mais profundas sobre os lugares, a cultura e as pessoas. Tais recursos também podem ser considerados uma medida dissuasiva, baseada na informação e na comunicação, muito útil em locais de interesse cultural muito sensíveis ou excessivamente visitados, bem como possibilitar outras alternativas lúdicas e atrativas no guiamento. Sob essa perspectiva, pode-se dizer que a IP é baseada em um conjunto de técnicas específi cas a fi m de proporcionar conhecimento sobre o local visitado e tornar a experiência do visitante e do turista única e especial. A seguir, vamos apresentar as metodologias da IP. Como sugestão de material complementar para este tema, indicamos a live streaming: “Como los guías intérpretes de Naturaleza mejoran la calidad del turismo y la conservación en el siglo XXI: ¿Interpretar para conservar o con- servar para interpretar?”, do Centrode Desenvolvimento Sustentável CDS UnB, ocorrida no dia 30 de abril de 2021. Disponível em: https://www.you- tube.com/ watch?v=CEETpS2VlJ4&list=PLWzwVQhkEcOGocFqgdLyVeBBXf- gRRGrUA&index=13. Acesso em: 10 jun. 2023 Interpretação do Patrimônio Turístico 20 2. Técnicas e instrumentos para a interpretação patrimonial Neste segundo tópico, vamos tratar das técnicas e dos instrumentos necessários para a IP. À vista disso, pretendemos explicitar como os elementos que formam a IP (lugar/recurso; naturais/culturais; tangíveis/intangíveis; visitantes/ atividade; guias/meios) se conectam por meio das experiências vivenciadas pela população local e pelos visitantes. Para isso, vamos apontar as técnicas e os instrumentos que provocam as conexões intelectuais e emocionais (persuasão emocional), capazes de criar um apelo à imaginação do visitante, transformando-o em um consumidor ativo. Assim, o principal tema deste tópico são as técnicas e ferramentas usadas para seduzir e induzir os turistas a ter comportamentos e hábitos – sem deixar de informar e potencializar o espírito crítico – a favor da conservação dos bens (GONZALEZ; LEZCANO e SERRANTES, 2014). Começamos apresentando a Figura 2, que contém um esquema com os elementos do processo de interpretação. Figura 2 - Esquema para uma boa interpretação para o turista Fonte: González, Lezcano e Serrantes (2014), baseado em Dawson (1999) e Garcia (1999) Os recursos e objetos patrimoniais se sustentam em um tripé de signifi cados: o funcional, o simbólico e o contextual (GARCIA, s/d). Assim, a IP é composta de informação (mensagens que se quer transmitir) e técnicas (processos de comunicação para que o público estabeleça as suas próprias conexões entre o que sabe e a sua experiência). Murta e Goodey (1995) apresentam como meios de interpretação do patrimônio cultural e natural: i. os textos e publicações; Visitante Atividade Lugar/ Recurso Guias/ Meios Contextual Funcional Simbólico SIGNIFICADO Interpretação do Patrimônio Turístico 21 ii. a interpretação a base do design; iii. interpretação ao vivo e meios animados de exibição. Textos e publicações: são considerados, nesta categoria, mapas ilustrados, guias (Figura 3) e roteiros, folhetos e cartões postais. Normalmente, são usados como forma de complementar as informações das exibições e servem como guias pessoais para os visitantes. Podem ainda ser entendidos como uma oportunidade a mais para a publicidade do atrativo e servir como souvenir a ser levado para casa. Os textos e representações gráficas constituem a base de vários meios interpretativos, como painéis, placas, letreiros, sinalizações e avisos. Figura 3 - Guia do Patrimônio Cultural Carioca: bens tombados (2014) e Folhetos. Fonte: Prefeitura do Rio de Janeiro (2014) e Programa de Conservação e Manejo Bicho-Preguiça II. Interpretação com base no design: pode ser dividida em meios estáticos de exibição e meios animados de exibição. Meios estáticos de exibição: podem ser placas, sinais e painéis interpretativos; modelos e reconstruções; objetos e documentos fixos e protegidos; e reconstrução do passado para apreciação passiva. Este tipo de meio de comunicação pode ser estático ou animado. Placas, sinais e painéis interpretativos: são compostos de textos, gráficos, fotos e desenhos que esclarecem informações sobre o patrimônio. Muito de seu conteúdo pode ser apresentado em forma de questionamentos para aguçar a curiosidade ou testar o conhecimento dos visitantes. Servem também para Interpretação do Patrimônio Turístico 22 sinalizar o patrimônio e indicar sua localização. Entre os meios estáticos de exibição, estão as placas para fachadas de monumentos, as placas interpretativas verticais, as placas interpretativas pequenas, as marcas de distâncias para rotas de pedestres, as placas interpretativas para mapas e os planos e totens verticais de trânsito para identificação de entrada no sítio (Figura 4). Figura 4 - Parâmetros essenciais para a sinalização elementos propostos. Fonte: IPHAN, 2013 As placas de fachadas de monumentos são muito usadas para indicar um acontecimento, a residência de um morador ilustre ou dados sobre o patrimônio (Figura 5 e 6). Figura 5 - Placas de fachadas de monumentos Fonte: SPTuris (2014) e Prefeitura do Rio de Janeiro Interpretação do Patrimônio Turístico 23 Figura 6: Painel de localização Fonte: Morato Arquitetura. Painéis (Figura 7), mesas interpretativas (Figura 8) e placas (Figura 9) constituem uma forma de facilitar a compreensão do bem patrimonial a ser interpretado. Geralmente, são uma forma rápida de comunicação, cujo objetivo é atrair e ser facilmente compreendida por públicos diversos (VASCONCELLOS, 2006). São úteis para recriar ambientes do passado, fotos ou desenhos de antes e depois. Figura 7 - Londres Fonte: Da autora Figura 8 - Urquhart Castle (Escócia) Fonte: Da autora Figura 9 - PEIG Ilha Grande Fonte: INEA, 2003 Interpretação do Patrimônio Turístico 24 Modelos e reconstruções: são uma distinta forma de comunicação por meios estáticos e se diversificam desde as miniaturas até cópias de figuras humanas em tamanho natural, com o objetivo de atrair e manter a atenção do visitante pela sua analogia com a realidade. Entre eles, estão os dioramas (Figura 10), montados tridimensionalmente, com tamanhos que diminuem gradativamente para criar a ilusão de perspectiva na montagem de uma cena. Há ainda nessa categoria as maquetes (Figuras 11 e 12), que também são tridimensionais, mas geralmente representam um edifício ou uma cidade, entre outros. − Reconstrução do passado para apreciação passiva: é um tipo de IP que se baseia em reconstrução da atmosfera histórica com cenários de época e modelos. Deve ser executada com base em uma pesquisa cuidadosa (Figuras 13, 14 e 15). Figura 10 - Bell Museum (EUA) Fonte: Cortina Production Figura 11 - Tartarugas (ES) Fonte: Projeto Tamar Figura 12 - Forte (Valença, PT) Fonte: Da autora Figura 13 - Mesa do restaurante do Cunard Line Royal -Liverpool Fonte: Da autora Figura 14 - Estúdio fotográfico Riverside Museum Fonte: Da autora Figura 15 - Espaço fabril Fonte: Museu de Portimão (PT) Interpretação do Patrimônio Turístico 25 Meios animados de exibição: constituem som; luz e imagem; e exibições interativas. Para esse tipo de IP são usados teatralização, ambientação com base histórica, instrumentos óticos, mecânicos e digitais, inteligência artificial e realidade aumentada. Esses meios permitem a interação do visitante com o que está sendo comunicado e aguçam os sentidos, trazendo mais realismo. Som: pode ser emitido por meio de instalações específicas para que o visitante possa escolher como ouvir, com fone de ouvido, repetidores fixos de mensagens, sonorização de uma instalação e narrativas (Figura 17 e 19). Há até a possibilidade de se criar uma música com o seu nome baseado nas obras de Mozart (Figura 18) ou ser recebido com monitores cantando uma música, referente à exposição (Figura 16). Figura 16 - Arca de Noé Riverside Museum Fonte: Farol Santander (2023) Figura 17 - MAP (Lima) Fonte: Da autora Figura 18 - Mozart Museum Fonte: Da autora Figura 19 - Oi Futuro Fonte: Zurita (2014) Interpretação do Patrimônio Turístico 26 − Luz e imagem: podem ser projetadas em painéis iluminados e combinadas com textos (Figura 20) e vídeos (Figura 21), ou, ainda, ser hologramas (Figura 23). Com essa técnica o visitante pode entender melhor a informação, identificando os pontos de destaque, os elementos dramáticos e os efeitos tecnológicos. Também podem ser narradas histórias e projetadas em paredes ou mesmo em água (Figuras 23 e 24), ou ainda com tecnologia mais recente usando telas de led. Figura 20 - Exposição Fonte: da Autora Figura 21 - MAP (Lima, PE) Fonte: Zurita, 2014 Figura 22 - Museu Wimbledon Fonte: Museu da Língua Portuguesa Interpretação do Patrimônio Turístico27 − Exibições interativas: o uso de meios animados e interativos ampliou com a possibilidade de novas tecnologias, como telas de led e/ou telas touch (Figuras 25 e 26). Outra tecnologia é a realidade aumentada (Figura 27). Figura 23 - Som Luz Museu Imperial de Petrópolis (RJ) Fonte: G1, 2022 Figura 24 - Som e Luz Missões (RS) Fonte: Prefeitura de Santo Ângelo,2023 Figura 25 - Um percurso de perguntas Fonte: Museu do Amanhã, 2023 Figura 26 - Totem digital Fonte: Ituanos (s/d Interpretação do Patrimônio Turístico 28 III. Interpretação ao vivo: pode ser denominada interpretação pessoal. Ela pressupõe um ator, um guia ou um expert contando casos, atuando, cantando, conversando, demonstrando, ilustrando e explicando temas e processos aos visitantes. Pode ocorrer no formato de um walking tour (Figura 28) e bike tour (Figura 29), tours motorizados, demonstrações, representações e performance. Entram, nesta categoria, as trilhas interpretativas guiadas das unidades de conservação, por exemplo (Figura 30). Figura 27 - Mãos de Barro Fonte: Galileu, 2014 Figura 28 - Walking tour (SP) Fonte: SP Walking Tour (2014) Figura 29 - Bike tour (RJ) Fonte: Imagina Rio de Janeiro Figura 30 - Trilha guiada Fonte: Fazenda Monte Alegre Interpretação do Patrimônio Turístico 29 Outra forma de interpretação, além da pessoal, é a coletiva. Muitas histórias vivas são ambientadas em épocas em que o patrimônio teve mais expressividade. Por exemplo, em Mdina, Malta, uma vez ao ano, é comemorado seu passado medieval com um grande espetáculo (Figura 31). Outra grande interpretação teatralizada ocorre em São Vicente, São Paulo, que é a Encenação da Vila de São Vicente (Figura 32), realizada pela população para comemorar a fundação da primeira vila brasileira. Figura 31 - Feira Medieval (Malta) Fonte: Da autora Figura 32 - Fundação de São Vicente Fonte: Prefeitura de São Vicente Interpretação do Patrimônio Turístico 30 Atividade 5 - A partir do que estudou responda Quais são as técnicas de interpretação patrimonial (IP) mais usadas por você em seus guiamentos e por que as usa? Você pensou em usar outras técnicas depois de conhecê-las um pouco mais? Resposta Comentada Não há uma única resposta, já que aqui depende da sua atuação como guia. Mas seria interessante procurar conhecer mais alternativas para aprimorar mais ainda o seu guiamento. 3. Plano Interpretativo Neste último tópico, vamos tratar do plano interpretativo. Para Carter (2001), o processo de planejamento interpretativo envolve reflexões que giram em torno dos seguintes questionamentos: i. O que se pretende comunicar aos visitantes? ii. Quem são os visitantes? iii. Qual a imagem do lugar e o que ele tem a oferecer? iv. O que mais acontece no entorno? v. O que se quer dizer sobre o local? vi. Como e onde será dito? A partir dessas reflexões, podemos desenvolver um planejamento interpretativo, com vistas a incorporar os anseios dos mais variados grupos que representam a comunidade e os visitantes. Devemos estabelecer no espaço uma rede de descobertas e de desfrute que ampliem as possibilidades de incremento de projetos turísticos e culturais (MURTA; GOODEY, 2002). O tema interpretativo é uma mensagem que está relacionada a uma ideia geral sobre a qual se deseja discorrer, o tópico interpretativo, podendo um São muitas as técnicas interpretativas que existem e são usadas em várias ocasiões diferentes Figura 34 - Fluxo interpretativo Fonte: Adaptado de González, Lezcano e Serrantes (2014) Interpretação do Patrimônio Turístico 31 mesmo tópico estar relacionado a diferentes temas (HAM, 1992). Assim, os tópicos dizem respeito ao objeto que está sendo apresentado, por exemplo: a vida de um artista, como Vinicius de Moraes, usada para explicar as técnicas interpretativas, ou, ainda, a criação da primeira Vila do Brasil, São Vicente, mas podem também ser elementos da fauna, como as tartarugas no Projeto Tamar. O tópico, portanto, signifi ca o ‘assunto’ a ser tratado. Não se recomenda restringir a interpretação a apenas ao tópico, mas procurar abarcar um sentido completo. Uma vez estabelecido um tema, faz-se necessário pontuar as principais informações que derivarão do tema e que serão organizadas na sequência lógica de apresentação (HAM, 1992). O guia deve sempre atentar que os temas e informações escolhidos precisam expressar o que se quer dizer do lugar e estar conectados com os fatos considerados especiais que se está interpretando (CARTER, 2021). Na sequência, apresentamos um fl uxo para o desenvolvimento do plano interpretativo. Identifi car a demanda. Promover inventários interpretativos. Revisar e monitorar frequentemente. Identifi car e desenvolver as facilidades e os serviços disponíveis para se pro- mover a interpretação. Selecionar e desenvolver temas interpretados. Analisar as alternativas de uso da área.Determinar objetivos. Desenvolver o plano e implementá-lo de forma gradual, sequencial e contínua Figura 34 - Fluxo interpretativo Fonte: Adaptado de González, Lezcano e Serrantes (2014) Interpretação do Patrimônio Turístico 32 Na maioria dos atrativos em que irá trabalhar (unidades de conservação, museus, centros culturais e interpretativos), o guia já terá seus próprios meios interpretativos. Caberá a ele conhecer o plano interpretativo e adaptá-lo ao seu público. No entanto, em alguns lugares não há IP, então, neste caso, o guia deverá fazer um plano para o seu guiamento. Ham (1992) explica que o plano interpretativo deverá ser: Pertinente - ter signifi cado para quem recebe Ameno - apresentar uma relação direta entre causa e efeito - metáforas visuais ou ilustrações que facilitem a leitura Temático - oferecer uma mensagem em forma de relato ou história Organizado - sequenciar as ideias, e não oferecer mais que cinco, atrelada s à ideia principal Como exemplo de um plano interpretativo, apresentamos o proposto por Raimundo; Sarti e Pacheco (2019), para o Parque da Ilha da Usina, em Salto (SP). Os autores apresentam uma descrição das características dos três estágios sucessionais da fl oresta atlântica encontrados no parque: inicial, médio e avançado. Neles, estabelecem oito pontos para se desenvolver a IP. A proposta de plano interpretativo pode ser consultada em: Raimundo, S; Sarti, A.C; Pacheco, R. T. Interpretação do Patrimônio Natural para o Turismo: o caso do Parque da Ilha da Usina, Salto, São Paulo, Brasil. Pasos, v. 17, n. 4, p. 795-810, julio-septiembre 2019. DOI: https://doi. org/10.25145/j.pasos.2019.17.055. Outro exemplo de plano interpretativo são os Itinerários guiados que podem ser usados pelos guias. Assim, se o papel do guia é facilitar a informação de uma maneira atrativa e fazer os visitantes participarem da experiência, primeiramente, ele deve analisar o terreno antes de iniciar a rota, para informar aos visitantes, ver o estado em que pode usá-la e preparar a visita de acordo com o plano interpretativo. Algo como “aquecer os motores”. Antes de iniciar a visitação: o guia deve estar no local 15 minutos antes P A T O Interpretação do Patrimônio Turístico 33 para receber o grupo e conversar sobre suas expectativas e características. Durante a visitação: o guia deve fazer a primeira parada a pouca distância do ponto de encontro, dando oportunidade de todos os visitantes se incorporarem ao grupo. Na primeira parada, o guia apresenta a si e a instituição que representa. Explica o que consiste o percurso e quanto tempo leva para fazê-lo e passa as normas do roteiro, assim como esclarece dúvidas que os visitantes possam ter. Ainda nessa primeira parada, ele introduz o tema com clareza. Nas etapas seguintes, ele deve ter duas preocupações: com o grupo de visitantes e com o processo de comunicação. As paradas devem ser planejadas em lugares onde o grupo possa estar seguro e cômodo e onde seja possível ouvir o guia e ver atrativo com tranquilidade. O número de paradas dependedo grupo e do tema a ser explorado. Depois, no final do itinerário (última parada), o guia deve reforçar o tema principal e fazer um resumo do que foi tratado no roteiro, podendo finalizar de forma criativa ou surpreendente. Ele deve procurar, se possível, finalizar em um local simbólico ou com alguma coisa especial, e fazer uma rápida avaliação com perguntas diretas ou convidando alguém para comentar livremente. Na despedida, ele deve agradecer a participação dos visitantes e informá-los sobre outras atividades ou coisas que podem ser feitas. Interpretação do Patrimônio Turístico 34 CONDISERAÇÕES FINAIS O objetivo deste módulo foi explicar o conceito de interpretação patrimonial cultural e natural e sua aplicação na atividade do guia de turismo, mostrando as possibilidades da IP a partir de suas técnicas e orientações de uso. Esperamos que, depois deste estudo, você tenha revisitado e/ou ampliado suas reflexões sobre a IP e que este material possa ajudar você a melhorar a sua atuação como guia. Para que você possa se aprofundar no tema, deixamos algumas sugestões de leitura nas referências. Boas aplicações dos conhecimentos em seus trabalhos. PARA SABER MAIS ASSOCIAÇÃO PARA A INTERPRETAÇÃO DO PATRIMÔNIO [AIP]. Disponível em: https://interpretaciondelpatrimonio.com/interpretacion/. GARCIA, F. R. 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Acesso em 10 jul. 2023. Interpretação do Patrimônio Turístico 35 DESAFIO DA INTERPRETAÇÃO PATRIMONIAL CULTU- RAL/AMBIENTAL Nos trechos selecionados do texto de Guimarães et.al. ‘Interpretação do patrimônio cultural por meio da roteirização turística da Avenida 7 de Setembro, Manaus, AM’. Interações, v.21, n.3, jul./set.2020. DOI: https://doi.org/10.20435/ inter.v21i3.2364, há reflexão sobre um estudo de interpretação patrimonial realizado por Porto, Leanza e Cascone (2012), no sudeste da Sicília (Itália) referente a Construções Tradicionais Rurais (TRBs) integrantes da paisagem agrícola. Os autores consideram que essa atividade interpretativa é uma maneira de promover as TRBs como patrimônio construído, transformando-as em atrações turísticas e também preservando as características dos edifícios. O estudo propõe que “Os meios de interpretação selecionados foram definidos com base nas informações obtidas por meio da análise das expectativas dos visitantes, e o roteiro estabelecido permitia aos visitantes explorar áreas rurais visitando TRBs, onde poderiam ter uma amostra dos produtos locais, ouvindo a narrativa de guias de turismo locais sobre a história e tradições, além de conhecer técnicas de construção das TRBs”. A proposta apresentada denota a importância do conhecimento das peculiaridades locais em termos de atratividade histórica e cultural como conteúdo para a formatação de roteiros turístico e como consequência, qualificam a visitação e a experiência do turista e a valorização cultural dos destinos turísticos visitados, incentivando a autoestima do residente. Seguindo os conceitos básicos definido pelo Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos) (2008) sobre a interpretação: 1. A interpretação se refere a todas as atividades realizadas para gerar conhecimento ao público sobre o patrimônio cultural, incluindo as publicações impressas e eletrônicas, as conferências, as instalações sobre o sítio, os programas educativos, as atividades comunitárias e os programas de formação, métodos e sistemas de valorização permanente. 2. A apresentação consiste no planejamento das maneiras de comunicar os conteúdos interpretativos, incluindo painéis informativos, exposições, tipo museus, trilhas sinalizadas, visitas guiadas, multimídias e páginas na web. 3. A infraestrutura interpretativa são as instalações físicas, equipamentos e os espaços patrimoniais. Interpretação do Patrimônio Turístico 36 4. Os intérpretes do patrimônio dizem respeito às pessoas encarregadas pela veiculação da informação ao público que visita o patrimônio, ressaltando o valor e o significado dele. 5. Sítio de patrimônio cultural faz referência a um local, uma paisagem cultural, um complexo arquitetônico, ou ainda uma estrutura reconhecida como sítio histórico. Escolha uma região que permita aplicar um roteiro turístico que leve a interpretação de uma avenida/rua, de uma praça, de um bairro, de uma região, uma trilha, etc e delineie o roteiro interpretativo. Exemplos para inspirar: O roteiro interpretativo criado por Guimarães et. al para a Av. 7 de Setembro de Manaus-AM. Disponível em: DOI: https://doi.org/10.20435/inter.v21i3.2364. O roteiro interpretativo para uma trilha criado por Bartsch, L. Elaboração de um roteiro interpretativo para trilha de ciclista da Floresta Estadual Edmundo Navarro de Andrade, Rio Claro/SP. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/ handle/11449/139008. Os roteiros interpretativos a partir do estudo da paisagem literária de Juiz de Fora-MG na obra de Murilo Mendes - A Idade do Serrote de Murilo Mendes – em manutenção – ver a obra depois. Os roteiros geo-turísticos criados em Belém- Pará - TAVARES, Maria Goretti da Costa; SERRA, Hugo Rogério Hage. Roteiros geo-turísticos. Disponível em: http://livroaberto.ufpa.br/jspui/handle/prefix/554. Ou https://revista.fct.unesp. br/index.php/formacao/article/view/5163/4401. Os roteiros de Leite e Gastal para a comunidade de Arroio Grande – Santa Maria/RS. Disciplinarum Scientia. Série: Ciências Humanas, v. 4, n. 1, p. 35-46, 2003. https://periodicos.ufn.edu.br/index.php/disciplinarumCH/article/view/1614 Interpretação do Patrimônio Turístico 37 Referências BIESEK, A. S. Turismo e interpretação cultural. 2004. Disponível em: https:// es.scribd.com/document/373161697/43-Turismo-e-Interpretacao-Cultural. Acesso em: 12 jul. 2020. BROCHU, L.; MERRIMAN, T. Personal interpretation. Singapore: National Association of Interpretation. 2002. BRANDÃO, C. R. Cultura, educação e interação: observações sobre ritos de convivência e experiências que aspiram torná-las educativas. In Quintas et al. 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