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O governo planeja ter vacina suficiente para imunizar 5% de sua população de 1,3 bilhão de habitantes até o fim do ano. Fonte: www.oglobo.globo.com A seguir, apresentamos um texto no qual os objetos de discurso são explicitados, a fim de demonstrar que nem sempre isso ocorre. TEXTO EXPLICATIVO No texto acima, temos a introdução do objeto de discurso 'vacinação' representado pela expressão referencial primeiras vacinações. Ao longo do texto, ocorre a progressão referencial por meio da manutenção deste referente a partir de várias expressões referenciais, como: o programa de vacinação, da vacina, a vacinação, a vacina, vacina suficiente. Do mesmo modo, o texto apresenta referentes para o objeto de discurso 'gripe suína', por exemplo, que é expresso e mantido por meio dos referentes gripe suína, a gripe suína, da gripe suína, da doença. Isso ilustra o que chamamos de referenciação, entendendo com Modada e Dubois (2003) que os objetos de discurso são entidades abstratas construídas mentalmente e que geralmente se manifestam no texto. Porém, essa manifestação pode ou não ser textualizada, ou seja, ser claramente expressa no cotexto, pois a referenciação se caracteriza como uma construção discursiva e, para tanto, não deve se valer apenas da presença de expressões referenciais, mas também de um conjunto de indícios que estabeleçam a coerência textual. Assim, no exemplo analisado anteriormente, podemos afirmar a existência do objeto de discurso 'prevenção', embora nenhum referente o tenha explicitado. Os leitores poderão inferir esse objeto de discurso por meio de uma série de pistas deixadas pelo autor do texto, que, por sua vez, pressupõe que seu(s) interlocutor(es) partilhe(m) de práticas discursivas e cognitivas social e culturalmente situadas que permitam a sua apreensão. Mas, que pista(s) você segue para confirmar a existência do objeto de discurso 'prevenção'? Certamente, não podemos apontar diretamente quais expressões permitem tal compreensão, pois nem sempre elas serão as mesmas para cada leitor específico, se considerarmos seu repertório sócio-histórico-cultural. Além disso, um conjunto de fatores entre os quais o conhecimento enciclopédico e o conhecimento partilhado, autorizam-nos inferir que o texto também remete à "prevenção contra a doença". De igual modo, é também possível que um leitor em potencial não ative tão facilmente esse objeto de discurso, tendo em vista sua bagagem cultural. A não explicitação do referente é bastante comum em diálogos, pois falamos de algo e nos entendemos sem mesmo explicitá-lo. Assim, os objetos de discurso podem ou não ser expressos no texto, ou seja, eles são introduzidos no discurso, quer sejam formalmente realizados ou não. Desse modo, afirmamos com Cavalcante (no prelo) a referenciação não se restringe à mera localização de sintagmas nominais no texto, que seria uma manifestação no cotexto, mas também pode estar no contexto, em uma dimensão discursiva e amparada por elementos diversos no texto. EXERCITANDO 15