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Recategorização e Argumentação

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Linguística de Texto 
Aula 02: Referenciação 
Tópico 04: Orientação Argumentativa
Uma importante função do processo de referenciação diz respeito à 
orientação argumentativa. Essa orientação pode realizar-se pelo uso de 
termos ou expressões recategorizadoras, especialmente presente em 
gêneros opinativos.
Assim, assumindo que todo referente é, por definição, evolutivo, de vez que seu estatuto informacional 
está sempre se modificando na memória discursiva dos interlocutores, Ciulla e Silva (2008) descreve a 
recategorização como um recurso referencial pelo qual uma entidade já introduzida no universo do discurso 
sofre transformações que são perceptíveis pelo emprego de expressões referenciais renomeadoras. 
Cavalcante (no prelo) demonstra como essas transformações podem ocorrer mesmo sem o uso de 
expressões recategorizadoras.
De acordo com Cavalcante, a função de recategorizar referentes pode se somar a qualquer processo 
referencial, pois seu objetivo é fazer evoluir uma dada entidade dentro do discurso – uma circunstância 
natural, previsível e esperada, para um referente em qualquer texto.
A necessidade de renomear advém da sensação de inadequação de determinadas formas de designar, 
pois, como observa Mondada (1994), muitas vezes, quando o falante sente que um dado lexema fornece 
uma descrição insuficiente ou insatisfatória de um referente, ele apela para um sintagma nominal mais ou 
menos longo que atenda melhor a seus interesses enunciativos.
Com base em Jaguaribe (2005), uma noção de recategorização não completamente atrelada ao uso de 
expressões referenciais, mas como um processo cognitivo-discursivo mais amplo, em que as modificações 
por que passa o objeto referido se revelam em variados índices cotextuais e podem, por meio deles, ser 
reconstruídas pelo ouvinte.
Veja como a orientação argumentativa se dá por meio da recategorização abaixo:
Às vezes, ainda se ouve por aí alguém dizendo que sexo sem amor não dá. 
Soa um tanto ingênua a alegação, meio fora de tempo, como um simca 
chambord atrasando o tráfego. Amor, o que é isso? Coisa mais anos 50... (...) O 
que se quer dizer, quase sempre, não é que sexo precisa de amor, mas que sexo 
precisa de narrativa.Citado por MACHADO; LOUSADA; ABREU-TARDELLI (2004)
Nesse trecho, note que a expressão “sexo sem amor” é recategorizada como “um simca chambord”, 
para, a seguir, traduzir-se em “sexo precisa de narrativa”. Esse movimento conduz o leitor a rever uma 
categorização mais previsível que é a de “sexo sem amor não dá”. 
No texto a seguir, veja como o produtor do texto conduz o leitor a mudar seu ponto de vista com base 
na orientação argumentativa das expressões referenciais:
Chat, pra quem não sabe, é um lugar onde fica uma porção de chatos, todos 
com pseudônimos (homem diz que é mulher e mulher vira homem) a te 
perguntar: você está aí? Citado por MACHADO; LOUSADA; ABREU-TARDELLI 
(2004)
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