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AULA 7 O Ciclo de Políticas Públicas Fases de uma política pública Identificação do Problema Formação da Agenda Formulação de Alternativas Tomada de Decisão Implementação Avaliação Extinção Identificação do Problema • Diferença entre a situação real e a situação imaginada pelos formuladores de políticas. • Pode aparecer subitamente: uma catástrofe natural. • Problema público e os efeitos das não-decisões: o longo período de negligência pública de um problema (ex: déficit habitacional urbano; ausência de abastecimento de água e esgotamento sanitário) torna esse problema naturalizado no cotidiano das coletividades. • Caráter interdependente da solução dos problemas: visibilidade e percepção pública do problema • A delimitação do problema envolve definir quais são seus elementos, e sintetizar em uma frase a essência do mesmo. • Caráter subjetivo da definição dos problemas e diferentes formas de delimitá-los: políticos, burocratas e público. • Seleção de prioridades para a resolução do problema e fixação de uma agenda Formação da Agenda • A agenda é um conjunto de problemas ou temas entendidos como relevantes: programa partidário; programa de governo; planejamento orçamentário. • Agenda política (deliberativa): conjunto de problemas ou temas que a comunidade política percebe como merecedor de intervenção pública. • Agenda formal (decisória): também conhecida como agenda institucional, é aquela que elenca os problemas ou temas que o poder público já decidiu enfrentar. • Agenda da mídia: conjunto de problemas ou temas que recebem especial atenção dos diversos meios de comunicação (pode refletir problemas não tratados como prioritários pelo poder público ou pode ser meramente opiniática). • Existem três condições para que um problema entre na agenda política: – Atenção: mobilização dos atores coletivos e midiáticos – Resolubilidade: ações necessárias e factíveis (exequibilidade) – Competência: responsabilidade pública Formulação das Alternativas • A formulação de soluções passa pelo estabelecimento de objetivos e estratégias (potenciais consequências de cada solução alternativa). • Eric Schattschneider (1962) The SemiSovereign People: A Realist's View of Democracy in America. “ a definição de alternativas é o instrumento supremo do poder, porque a definição de alternativas é a escolha dos conflitos”. Quais conflitos importam para a tomada de decisões em uma democracia? • Estabelecimento dos objetivos: expectativas quanto aos resultados das políticas públicas (questão delicada do estabelecimento de metas; possíveis desapontamentos) • Avaliação ex ante das possíveis soluções para o problema público: consequências e custos das alternativas. • Um mesmo objetivo pode ser alcançados por diversos caminhos e pode ser feito com o suporte de três técnicas: – Projeções: observação de tendências; informações quantitativas e qualitativas (estatísticas já conhecidas, séries temporais; tendências de arrecadação tributária; padrões demográficos; informes, etc.) – Predições: uso de teorias ou analogias; predizer comportamentos a partir de modelos lógico-lineares. – Conjecturas: juízos de valor; aspectos intuitivos e emocionais dos policymakers ; conhecimento dos burocratas de “linha de frente” (street level bureaucrats). Michael Lipsky Tomada de Decisão • É o momento em que os interesses dos atores são equacionados e as intenções (objetivos e métodos) de enfrentamento de um problema público são explicitadas. • Modelos de racionalidade e políticas públicas. • Racionalidade completa: a decisão é considerada uma atividade puramente racional; supõe-se que todos os atores numa arena decisória ajam racionalmente e tenham as mesmas preferências; indivíduos calculistas e maximizadores de suas preferências • Racionalidade limitada: complexidade do ambiente e limitações cognitivas e informativas (assimetrias) dos tomadores de decisão (Herbert Simon). • Três dinâmicas de escolha de alternativas de solução para os problemas públicos baseados nos diferentes modelos de racionalidade: • 1) Os tomadores de decisão têm problemas em mãos e correm atrás de soluções: Problemas Soluções • 2) Os tomadores de decisão vão ajustando os problemas às soluções, e as soluções aos problemas: eventos simultâneos e “incrementalismo” das mudanças; equilíbrio pontuado (Charles Lindblom, 1959): Problemas Soluções 3) Os tomadores de decisão têm soluções em mãos e correm atrás de problemas: um empreendedor de política pública já tem predileção por uma proposta de solução existente, e então luta para inflar um problema na opinião pública e no meio político de maneira que sua proposta se transforme em política pública; “as soluções estão em busca de problemas”. Soluções Problemas • Modelo Garbage Can (lata do lixo) ou modelo dos fluxos múltiplos (Kingdon, 1984): confluência de problemas, soluções e condições políticas favoráveis; “conjunturas críticas”; papel dos empreendedores políticos. Fluxo das condições políticas favoráveis Fluxo das soluções Fluxo dos problemas Janela de oportunidade Política pública Implementação da Política Pública • A fase de implementação é aquela em que regras, rotinas e processos sociais são convertidos de intenções em ações. • Visualizar os obstáculos e as falhas que costumam acometer a política pública; resultados concretos da política pública. • A fase da implementação é a evidenciação dos conflitos entre política e burocracia; divergência de interesses; regras formais e informais. • Visualizar erros anteriores à tomada de decisão, a fim de detectar problemas mal formulados, objetivos mal traçados, otimismos exagerados. • Desenvolvimento temporal da implementação: objetivo mais descritivo do que prescritivo. • Protagonismo dos policymakers e "burocratas do nível de rua” - street level bureaucracy (Lipsky, 1980): compreender os elementos motivacionais dos demais atores envolvidos, os obstáculos técnicos e legais presentes, as deficiências organizativas, os conflitos potenciais, além de agir diretamente em negociações, construção de coalizões de apoio, coordenação entre diferentes implementadores e cooperação por parte dos destinatários. • É aqui que se observa a dissolução da rígida separação entre política e burocracia; instrumentos de política pública e relações de poder. Paul Sabatier: dois modelos de implementação de políticas públicas. • Modelo top-down Modelo bottom-up Avaliação da Política Pública • A avaliação da política pública é o “processo de julgamentos deliberados sobre a validade de propostas para a ação pública”. Três momentos da avaliação: 1) avaliação ex ante; 2) avaliação ex post; 3) A avaliação in itinere. IMPLEMENTAÇÃO Avaliação in itinere (monitoramento) Avaliação ex ante Avaliação ex post • Avaliação: o processo de implementação e o desempenho da política pública são examinados com o intuito de conhecer melhor o estado da política e o nível de redução do problema que a gerou (indicadores avaliativos, de desempenho, etc.). • Consequências da avaliação: • 1) continuação da política pública (constatação de pequenas adversidades) • 2) reestruturação marginal de aspectos práticos das políticas públicas: as adversidades constatadas exigem uma correção de rumos da política • 3) extinção da política pública: o problema público foi resolvido ou as falhas de implementação sugerem uma mudança total da política • Problemas da avaliação: multicausalidade (efeitos sociais produzidos pela política pública ou por outras causas externas); resistências dos burocratas em serem avaliados; tempo de maturaçãoda política pública (10 anos) Extinção da política pública • As causas da extinção de uma política pública são basicamente três: – Problema resolvido – Programas ou Leis foram avaliados como ineficazes – O problema perdeu progressivamente a importância Importante: as políticas públicas criam preferências e moldam os processos decisórios de uma democracia. • Efeitos inerciais das políticas públicas criadas. • As políticas públicas são path dependence: são altamente dependentes da sua configuração inicial; efeitos de aprendizagem; custos advindos da mudança na política. • Politicas sociais e redistributivas são fortemente inerciais: benefícios tangíveis; custos e benefícios concentrados. Ex: CLT • Politicas distributivas e regulatórias também tendem a ser inerciais. Ex: ANS Aula 8 Instituições e Atores no Processo Decisório das Políticas Públicas Instituições no Processo de Políticas Públicas • Dinâmica política da politica pública; seu contexto interativo. • Diversidade dos contextos onde ocorre a politica pública (contextos históricos, sociais e políticos; contextos decisórios e esferas de poder: Executivo, Legislativo, Judiciário; União, estados e municípios, etc.) • Diferentes marcos institucionais: sistemas políticos e partidários; sistemas representativos, etc. Instituições • Uma definição política: as instituições conformam um conjunto de regras formais e informais que auxiliam o comportamento dos agentes. • Celeuma intelectual: se as instituições determinam o comportamento dos agentes ou se o contrário é verdadeiro. • Correntes de interpretação das instituições no processo político: institucionalismo econômico ou escolha racional; institucionalismo histórico e sociológico. Uma obviedade da literatura especializada: “as instituições importam” • Institucionalismo cognitivo: instituições como esquemas cognitivos; importância das regras informais, das ideias e das crenças; variáveis culturais; difusão das ideias (bricolagem). Influências da antropologia, da psicologia social, da sociologia e da filosofia política. • Instituições como práticas sociais; um campo de interação permeado por aspectos cognitivos e normativos. • Papel da cultura política no processo de construção das políticas públicas. • Em suma, as instituições orientam o processo decisório conformando o campo de ação para as políticas públicas. Instituições e Políticas Públicas • Analista de políticas públicas: percepção dos diferentes contextos de ação. • O analista de políticas públicas e sua qualidade de dirigente público, dirigente político. • Adotar uma estratégia: diminuir a complexidade do meio institucional mediante o uso de esquemas analíticos. • Conhecimento da cultura política: predisposições coletivas interiorizadas; tradições societais e políticas; conhecimento do político e de sua práxis decisória. Atores no processo de políticas públicas • Todos aqueles que desempenham um papel na arena política; os que atuam na arena política: indivíduos, coletividades, partidos políticos, burocratas, etc. • Influenciar a opinião pública sobre os problemas públicos. • Analista de políticas públicas: analisar os padrões de interação entre os atores no processo decisório de uma determinada política pública. Quem são esses atores? • Atores governamentais: políticos, designados politicamente, burocratas e magistrados. • Atores não governamentais: grupos de interesse, partidos políticos, meios de comunicação, destinatários das políticas públicas, organizações do terceiro setor, stakeholders (organismos internacionais, think tanks, comunidades epistêmicas). • Cada arena política comporta atores específicos; os motivos que levam um ator a se engajar em uma política pública são os mais diversos. • Políticos: legitimidade e autoridade para tomar decisões; poder simbólico; identificam os problemas públicos; podem representar uma pluralidade de interesses específicos ou seus próprios interesses; construção do consenso; aprovação do orçamento e prioridade para os gastos públicos; atuam na designação do corpo burocrático; desempenho da política pública e estratégia de sobrevivência do político. • Designados politicamente: pessoas indicadas pelo político eleito para o desempenho de funções administrativas (Brasil: cargos de confiança – destinados aos burocratas de carreira - e cargos comissionados – destinados a pessoas recrutadas fora da burocracia, ex: ministros, secretários de estado, secretários municipais e estaduais). Tensões entre política e administração. • Burocratas: corpo de funcionários públicos; princípio da continuidade administrativa; requisitos: estabilidade no emprego, critérios meritocráticos de seleção, plano de carreiras, etc.; “burocracia weberiana”; emoção e desprendimento(Karl Mannheim); proximidade dos problemas públicos; forte influência dos burocratas em todo o ciclo de políticas publicas; burocracia “Black Box”; diversas motivações dos burocratas (muito mais políticos do que se imagina frequentemente). • Burocratas do nível de rua: contato direto com o público; relação próxima com os policytakers • Magistrados: papel ativo no processo de implementação; interpretar a legalidade ou ilegalidade dos atos da administração pública; forte papel nas politicas sociais, regulatórias e nas politicas sobre direitos fundamentais; tendência internacional: “judicialização da política” ( atuação do juiz como protagonista de uma política pública em termos de proferir sentenças sobre decisões que violem os direitos constitucionais). • Grupos de interesse: coletivos que se mobilizam para influenciar uma politica pública ( sindicatos, associações empresariais; grupos voluntários; grupos socioprofissionais; “novos movimentos sociais”); grupos de pressão e associações neocorporativas; problemas de ação coletiva: ausência de paridade organizativa entre os grupos que integram a sociedade civil; recursos empregados: financeiros, cognitivos, organizacionais, de mobilização, etc.; custos da ação coletiva; podem influenciar positiva ou negativamente no surgimento e resolução de um problema público ; lobby. • Partidos políticos: representação coletiva dos interesses; vários tipos de partidos (Maurice Duverger); motivações diversas, mas, no geral, atuam ideologicamente; importantes instituições para o dissenso organizado das democracias de massa (institucionalização do conflito); elaboram programas públicos e plataformas governamentais; máquinas partidárias e o problema da burocratização (partidos de massa e partidos profissionais). • Mídia: um importante veículo para a democracia; um dos fundamentos dos direitos liberais é a existência de uma imprensa livre; conferir visibilidade aos problemas públicos; riscos da concentração do poder midiático (quarto poder), a mídia corporativa, a tirania opiniática; forte poder de influência; abdicar do papel crítico e pedagógico, assumindo a “espetacularização”, o entretenimento puro e simples, o linchamento público. • Policytakers: são os destinatários das políticas públicas; indivíduos, grupos e organizações para os quais a política pública foi elaborada e implementada; público passivo ou ativo; podem assumir o papel de empreendedores políticos (policytakers/policymakers), atuam nas interfaces do processo decisório e da sociedade, especialmente quando as organizações da sociedade civil são chamadas para desempenhar funções de governo; assimetria de recursos entre os Policytakers; os grupos mais mobilizados estão articulados em redes de política pública. • Organizações do terceiro setor: organizações privadas sem fins lucrativos que lutam por algum interesse coletivo; grande diferença em relação a outros grupos societais organizados: se articulamem torno de interesses difusos; muitas vezes são chamadas para desempenhar funções de governo; problema e caráter dúbio dessas organizações. Redes de Políticas Públicas • Estrutura de interações , predominantemente informais, entre atores públicos e privados envolvidos na formulação e implementação de políticas públicas; • importância da interdependência das decisões; estrutura relacional; tematização dos interesses e formação de uma policy network pelas diversas comunidades de políticas públicas (policy communities) – redes de atores organizados que compartilham uma linguagem e um sistema de valor; • papel das crenças e das comunidades de especialistas (comunidades epistêmicas): grupos de intelectuais, acadêmicos e profissionais que compartilham do mesmo quadro de referência cognitivo – difusão das ideias ; redes temáticas (issue networks): redes de atores que se formam em torno de assuntos específicos.