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Literatura Brasileira IV Aula 02: Clarice Lispector Tópico 03: A Marina de Rubião e o cachorrinho de Drummond Murilo Rubião Fonte [5] Murilo Rubião (1916-1991) é um contista cujas narrativas costumam ser classificadas como realismo fantástico. As ações nos contos geralmente conduzem a algum tipo de busca frustrada, a repisar na tecla da impossibilidade de esperança, de paz. O tempo e o espaço são simbólicos, adquirindo sentido no mundo deformado em que transitam seres angustiados e impotentes. Esses seres são invariavelmente manipulados por um sistema que lhes é superior, e ao qual de alguma forma terminam aderindo, seja por desânimo, por derrotismo ou até por esperança de compartilhar dele. A força das temáticas desenvolvidas nos textos de Rubião é ampliada pela presença constante de epígrafes tomadas da Bíblia. Embora tomadas da mitologia cristã, elas não acenam exatamente para um saber edificante, que normalmente é veiculado pela escrita religiosa. Elas são moléculas que vão se juntar a outras, estabelecendo outro tipo de tensão, que se encaminha para o insolúvel, ou não se encaminha, dando voltas irresolutas. Os sentidos dos contos serão então magnificados pelas provocações das epígrafes, e a leitura deles deve ser feita em transparência com as citações que lhes superpõem. No mundo muriliano, não há perdão nem glória, não há salvação. Os homens buscam saídas, soluções, perdem sua identidade nessa procura, têm dissolvida sua personalidade nessa peregrinação que não conduz a nenhum lugar. Para vegetarem nesse ambiente adverso, as pessoas usam máscaras que se incorporam a elas, numa tentativa de sobreviver nesse meio adverso, que admite a indiferença, a submissão, a subjugação e até a adesão, mas jamais a rebeldia. As narrativas não contêm uma conclusão, não ensinam nada, não contêm uma moral que aconselhe ou console. Os finais não arrematam, apenas sinalizam para a eternização de uma fala absurda e angustiada, compondo um quadro absurdo e nonsense. O discurso do fantástico em Murilo Rubião privilegia os meios em detrimento do fim, isto é, as ações permanecem inconclusas, enquanto a repetição dos processos ― gestos, ações, acontecimentos ― ocorre ad infinitum. 17