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MANEJO DE TOXICIDADE: · Cisplatina: câncer de colo de útero → náuseas · Esquema FOLFOX (5-fluoruracila, folinato de cálcio [leucovorina] e oxaliplatina): câncer de cólon → eritema e úlceras na mucosa oral · Esquema capecitabina: câncer de mama → síndrome mão-pé 1.NÁUSEAS E VÔMITOS INDUZIDOS POR QT: · Piora funcional, de qualidade de vida, motivo de procura médica, pode diminuir a aderência ao tratamento · Principal preditor de risco: potencial emetogênico intrínseco do quimioterápico · Outros: jovens, feminino, hx de náuseas na gravidez, antecedente de náuseas em regimes QT prévios, expectativa pré-tratamento, estado de desempenho baixo e doença peritoneal · Um exemplo é a cisplatina Êmese aguda: 24 horas iniciais → faz-se tratamento profilático Êmese tardia: após as 24 horas Êmese antecipatória: pré-QT **Preditor de êmese tardia e persistente: vômito nas 24h iniciais - geralmente são os pacientes que não responderam ao tto profilático Potencial emetogênico: Nível 4 (alto risco > 90%): cisplatina e ciclofosfamida em doses altas (> 1,5 g/m², usado em Ca mama) Neurofisiologia: · Aferência para vômito é por meio das fibras vagas e esplâncnicas (alteração na vida do 5-HT3), do sistema vestibular (receptores histamínicos H1 e muscarínicos colinérgicos), da região postrema da medula e de dores e emoções · A indução de náusea e vômito pela QT acontece por causa do SNC e das vias aferentes vagais abdominais. A QT estimula as células enteroendócrinas, na mucosa do intestino delgado, estimulando a liberação de mediadores que vão atuar nas vias aferentes do SNC · Mediadores são: 5-HT, substâncias P e CCK · Receptores das vias terminais: 5-HT3, NK1 e CCK-1 · Dependendo da via principal ativada, escolhemos os antieméticos É muito importante fazer dx diferencial: Suboclusão intestinal Gastroparesia (pacientes DM) Vestibulopatia Uremia Tosse excessiva Candidíase oral ou esofágica Gastrite Insuficiência hepática Desequilíbrio eletrolítico (hiperglicemia, hiponatremia) Eventos adversos de outras medicações, como opioide, antidepressivos, antibióticos → tramal causa muita náusea e vômito Ansiedade, principalmente se for antecipatória, tratando muitas vezes com BZD Hipertensão intracraniana Constipação ITU Metástase cerebral Cetoacidose Obs: nem sempre é por causa da QT, pensar em outras situações que podem causar esses sintomas Classes de antieméticos: ANTI-H1: Dimenidrinato Cinarizina Prometazina Meclizina Prometazina Difenidramina Escopolamina Obs: dimenidrinato, meclizina e difenidramina são principalmente usados no esquema pré-QT Efeitos colaterais: sedação, sonolência, turvação visual, secura de boca e mucosas, retenção urinária, bradicardia ou taquicardia, confusão mental e alucinações, alteração do equilíbrio, tremores e tontura Indicações: cinetoses (viagens de navio, carro, etc), doenças vestibulares, pós-operatórios ANTIDOPAMINÉRGICOS (ANTI D1/D2): Metoclopramida (Plasil) Bromoprida Domperidona Clorpromazina Efeitos colaterais: sedação, galactorreia, ginecomastia, redução da libido (esses 4 primeiros são mais a longo prazo), erupções cutâneas, urticária, cefaleia, diarreia e cólicas Em especial, usando metoclopramida e bromoprida, pode ter alterações do SNC, como síndromes extrapiramidais Indicações: cinetose, náusea induzida por enxaqueca e como pró-cinético ANTAGONISTAS 5-HT3: Dolasetron Granisetron Ondansetron Tropisetron Palonosetron Efeitos colaterais: cefaleia, elevação de TGO/TGP e constipação (principalmente como esquema pré-QT) Maior efeito ocorre em pacientes com êmese aguda (24h iniciais) Palonosetron tem ½ vida prolongada (1 semana), devido a sua maior afinidade ao receptor ANTAGONISTAS DA NK-1: Aprepitant (emend) via oral Fosaprepitant endovenoso Efeitos colaterais: fadiga, astenia, soluço, dispepsia Metabolizada via citocromo P450, que é a mesma dos corticoides e de alguns QT, então pode ter interações medicamentosas Melhora a prevenção da êmese cerca de 13% na fase aguda e 21% na fase tardia, quando comparado na associação de antagonistas do 5-HT3 + dexametasona Porém tem alto custo e não está disponível no SUS CORTICOSTERÓIDES: São medicamentos utilizados porque as doenças oncológicas envolvem muitas vezes vias de inflamação. Além disso, a QT também faz um cenário inflamatório O corticoide ajuda na questão anti-inflamatória e também age no SNC aumentando a ação dos antieméticos São efetivos tanto na êmese aguda quanto na tardia Faz-se esquema pré-QT Dexametasona é a mais utilizada e estudada Efeitos adversos: hiperglicemia, dispepsia e insônia BAIXO ÍNDICE TERAPÊUTICO: Medicamentos que não são a primeira escolha, porque não tem efeito tão importante nesse cenário, mas podem ser usados em QT que têm poucas chances de causar náuseas e vômitos Ex: metoclopramida, butirofenona (haloperidol quando o paciente é ansioso), fenotiazina, olanzapina (superior à metoclopramida), canabinóides, benzodiazepínicos e difenidramina Classificação da toxicidade: · Classificação deve ser feita sempre que o paciente vem para o próximo ciclo de tratamento · QT em dias/semanas consecutivos ou VO tendem a ser menos emetogênicas · QT combinada ou de ciclo longos (21 dias) têm potencial emetogênico maior, por exemplo, só a cisplatina tem menos potencial · Êmese antecipatória é um reflexo condicionado, é interessante acionar a terapia e/ou usar BZD · Controlar náusea é importante 2.DIARREIA: Causas: QT, drogas alvo, procedimento cx (dumping, derivação do intestino), irradiação pélvica e abdominal Principais agentes QT: a. Fluoropirimidinas: considerar deficiência de G6PD em casos de diarreia, mucosite e pancitopenia severas e de difícil manejo. Droga base para o tratamento de câncer de cólon b. Irinotecano: causa uma diarreia aguda, associada a sintomas colinérgicos (utiliza atropina pré QT, para tentar aliviar/manejar os sintomas), ou tardia. Muito utilizada para tumores TGI c. Inibidores tirosina quinase (TK1) ou anticorpos monoclonais: como Cetuximabe, Pertuzumabe Denosumabe, muito utilizados para ca de pulmão Classificação de toxicidade: · De acordo com a graduação, pode olhar a orientação que o medicamento tem na bula Avaliação inicial: · Determinar o início e duração · Quantificar o número de episódios · Caracterizar o aspecto das fezes · Verificar dx diferenciais · Definir grau de toxicidade · Identificar medicamentos em uso e alimentos · Identificar diarreia complicada: grau 3 ou 4 OU grau 1 ou 2 + um dos sintomas, como cólicas moderadas ou severas, náuseas/vômitos grau ≥ 2, estado geral comprometido, febre, sepse, neutropenia, sangramento e desidratação. Tratamento: Diarreia não complicada: modificações dietéticas (muitas vezes isso já ajuda), ingestão hídrica adequada, refeições fracionadas e suspensão de produtos hiperosmolares (como lactose, cafeína e álcool) · Medicamentos: loperamida (dose de ataque de 4 mg e manutenção de 2 mg VO de 4/4h, ou após cada evacuação, com dose máxima é de 16 mg/dia, indicando suspensão se o paciente ficar 12hs sem diarreia). Se em uso de Irinotecano, considerar altas doses de Loperamida (como 2 mg VO de 2/2h, ou 4 mg de 4/4h). Além disso, também pode usar a Racecadotrila (associada ou isoladamente) na dose de 100 mg VO de 8/8h Se persistência da diarréia por mais de 24 horas: iniciar antibioticoterapia, sendo o atb de escolha Ciprofloxacino 500 mg VO de 12 em 12 horas. Além da Loperamida 2 mg 2/2h por até mais 24h. Se persistência de diarreia por mais de 48 horas: avaliação médica para exame clínico, solicitar exames laboratoriais, reposição de fluidos e eletrólitos, suspender Loperamida, iniciar Octreotide 100-150 mcg SC 8/8h. E considerar necessidade de admissão hospitalar Diarreia complicada: admissão hospitalar, ressuscitação volêmica, iniciar Octreotide 100-150 mcg SC de 8/8h (até 500 mcg SC de 8/8h), e atb. Os exames laboratoriais a serem realizados são hemograma, eletrólitos, pesquisa de sangue oculto nas fezes, leucócitos nas fezes e pesquisas específicas para Clostridium difficile, Salmonella, Escherichiacoli e Campylobacter jejuni nas fezes. Suspender a QT até resolução completa dos sintomas 3.ALTERAÇÃO DA PELE E FÂNEROS Hiperpigmentação: · Os QT podem causar alterações na coloração da pele, unhas, cabelos e mucosas. Em casos mais raros, a hiperpigmentação nas gengivas pode ser permanente, mas na maioria há melhora com a suspensão do tto. Também pode acontecer alterações discretas como hiperemia leve · A hiperpigmentação é bastante relacionada à utilização de antracíclicos. No momento da infusão da QT, pode acabar ocorrendo hiperpigmentação do caminho venoso que ela percorre. Também pode ter alterações de coloração em dobras Xerose cutânea: · É comum · Para esses pacientes, é importante recomendar hidratação via oral adequada e a hidratação da pele, com componentes ricos em uréia, preferencialmente dermocosméticos Alteração ungueal: · As unhas podem ficar fracas e escuras, frágeis, quebradiças e cair · Orientar a respeito de se evitar infecções, por meio do uso de luvas ao lavar a louça, limpar a casa ou trabalhar com jardinagem. Também orientar a respeito da não utilização de produtos irritantes e da importância de se evitar machucar as cutículas - pode pintar a unha, mas não usar esmalte escuro, que pode nos atrapalhar para identificar as alterações ungueais · É bastante comum de haver ondulações (onicodistrofia), descolamento, paroníquia, o aspecto quebradiço e o estabelecimento de infecções fúngicas Síndrome mão-pé: · É bastante comum e pode ser chamada de eritrodisestesia palmo-plantar · Esse efeito é ocasionado pela toxicidade de alguns quimioterápicos nos pequenos vasos sanguíneos das palmas das mãos e das plantas dos pés - causado principalmente por Capecitabina · Podem surgir sensação de queimação, vermelhidão, inchaço, formigamento, bolhas, dor (pode ser intensa), descamação, coceira - em geral, aparecem após as primeiras semanas do tratamento · Com menos frequência, as lesões podem surgir em outros locais, como joelhos e cotovelos. Nos casos mais intensos, podem ocorrer feridas de difícil cicatrização, descolamento da unha e mesmo dificuldade para usar as mãos ou caminhar. Para prevenir, tomar os mesmos cuidados das alterações ungueais. Em alguns casos, podemos fazer uso de corticóide Acne: · Também pode ser um efeito adverso dos tratamentos oncológicos · No caso dos anticorpos monoclonais, o principal efeito colateral do Cetuximabe é a acne - nele, até relacionamos a resposta do paciente à medicação com o surgimento da acne. O tratamento é iniciado com o uso de cuidados locais -sabonete -, podendo ser necessário uso de ATB tanto tópico quanto VO, além do uso de corticoide, em casos mais graves 4.Mucosite · Importante que haja prevenção · Mucosas são muito suscetíveis aos efeitos da QT, podendo apresentar vermelhidão, fissuras ou feridas dolorosas → mucosite · Com a dor, pode ocorrer dificuldade na alimentação e na deglutição - é semelhante à síndrome mão-pé-boca da pediatria, em que a criança sente tanta dor em cavidade oral que não consegue deglutir e chega desidratada no hospital · Higiene dentária adequada e o uso de algumas medidas profiláticas podem ajudar na prevenção e no tratamento, sendo importante consulta ao dentista antes de iniciar QT · Mucosite pode ser desde lesões pequenas, como aftas e lesões que impossibilitam o paciente de abrir a boca · Esses pacientes podem ter lesões em todas as mucosas, como ocular, nasal, gastrintestinal etc. MEDIDAS GERAIS: prevenir o desenvolvimento de mucosite · Evitar alimentos salgados, ácidos ou secos · Ingesta hídrica, sendo que em graus avançados de mucosite pode ser necessário por via parenteral · Higienização oral com escova macia (fator de proteção contra infecção secundária) · Saliva artificial pode ser utilizada se sensação de boca seca · Evitar uso de dentaduras, para minimizar lesões traumáticas · Bochechos com água bicarbonatada podem ajudar a manter a higiene oral · A quebra da barreira mucosa pode favorecer infecção secundária bacteriana, fúngica ou viral. Depois de instalada a mucosite, o uso de agentes de revestimento da mucosa reduz o desconforto, como o Omcilon orabase, Ad-Muc, ou mesmo cápsula de vitamina E - rompe-se a cápsula e passa-se o gel nas mucosas da cavidade oral lesionadas. MANEJO: · Analgesia · Lidocaína 2% tópica · Morfina 2% · Saliva artificial · Crioterapia para prevenção de mucosite oral · Laserterapia (caráter preventivo e iniciar no início dos sintomas) 5.ALOPÉCIA · Tem um impacto psicossocial muito grande na vida dos pacientes e está relacionado à depressão, auto-estima, dificuldade de retorno ao trabalho, sexualidade · Quando o paciente está em vigência da maior parte dos esquemas de QT, esse evento adverso vai acontecer, podendo acontecer em maior ou menor grau, pode cair não só o cabelo, mas também sobrancelhas e cílios · Normalmente, acontece após 10 a 14 dias da administração da QT. Por conta disso, é preciso um plano de ação para minimizar esse efeito, além de conversar bem com o paciente sobre isso, para que ele enfrente isso da melhor forma possível · É importante fazer o paciente entender que a alopecia é sim um efeito que pode acontecer. Às vezes, o cabelo é a marca registrada dessa pessoa → lidar com esse assunto da forma mais humana possível · Crioterapia é uma maneira de reduzir até 80% a queda de cabelo, sendo uma touca térmica utilizada antes, durante e após a QT, na infusão do tratamento. O couro-cabeludo é submetido a um congelamento. Pode ser desconfortável. Não é eficaz para todos os tipos de protocolos e tratamento · Contraindicada em tumores hematológicos, porque afeta a penetração do quimioterápico no couro-cabeludo e em SNC 6.EVENTOS IMUNOMEDIADOS · São eventos relacionados ao uso de imunoterapias · Apesar de terem efeitos diferentes dos da QT, também podem causar efeitos adversos em qualquer parte do corpo do paciente · Basicamente, pode dar inflamação em qualquer lugar - é o mundo das ITEs. Qualquer alteração de origem inflamatória pode estar relacionada ao uso da imunoterapia · Normalmente, interrompemos o tratamento e inicia-se o corticóide. · Dependendo grau, o manejo é feito de forma sintomática 7.RADIOTERAPIA: · Efeitos no local da aplicação, seja cabeça/pescoço; região torácica; região pélvica image5.jpg image1.jpg image8.jpg image3.jpg image7.jpg image6.jpg image4.jpg image2.jpg