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CASOS CLÍNICOS EM NEUROLOGIA 391 de avaliação de cefaleias. Pacientes com epilepsia apresentam com frequência cefa- leias pós-ictais, mas a cefaleia como queixa primária seria bastante incomum. Uma punção lombar (PL) é essencial se a cefaleia é parte da avaliação de uma hemorragia subaracnóidea (caso a TC revele nada). No entanto, a PL não tem uma função de rotina na avaliação das cefaleias primárias. Tratamento e manejo O tratamento da enxaqueca concentra-se em dois conceitos: alívio da dor aguda (terapia abortiva) e prevenção da cefaleia (terapia profilática). Há um número sempre crescente de medicamentos disponíveis, que podem ser usados para a tera- pia abortiva, com poucos estudos controlados, para ajudar na tomada de decisão. O ibuprofeno e paracetamol são, talvez, os medicamentos mais bem estudados e demonstraram ser seguros e eficazes em crianças. Muitos pacientes já devem ter experimentado esses medicamentos antes de consultar seu médico, mas frequen- temente foram subdosados ou administrados muito tardiamente na evolução da cefaleia, deixando-os menos eficazes. Nesses pacientes, vale a pena testar o ibupro- feno, dosado adequadamente (10 mg/kg), ou o paracetamol (15 mg/kg), adminis- trados o mais rápido possível após o início da dor. Se esses medicamentos forem ineficazes, está indicada uma tentativa com agonistas do receptor hidroxitriptami- na (os triptanos). Esses agentes estão disponíveis em várias formulações e também diferem entre si em termos de meia-vida. Atualmente, os melhores dados pediá- tricos apoiam o uso do sumatriptano em spray nasal, como um agente abortivo em crianças. Até o momento, formulações orais e injeções subcutâneas não foram submetidas a ensaios adequados em crianças. Para pacientes com enxaquecas frequentes (p. ex., duas ou mais vezes ao mês) ou que apresentam enxaquecas com duração particularmente longa, deve ser con- siderado uma medicação profilática diária, com a meta terapêutica de diminuir a frequência das cefaleias. Às vezes, evitar os desencadeantes pode diminuir de forma significativa a frequência da cefaleia, tornando os medicamentos profiláticos des- necessários. Uma simples modificação do estilo de vida, como manter um horário regular de alimentação e sono, evitando desencadeantes, pode reduzir a cefaleia. Se a medicação for necessária, são usadas várias classes de agentes farmacológicos: be- tabloqueadores, antidepressivos tricíclicos, anti-histamínicos, bloqueadores do canal de cálcio e anticonvulsivantes. Como no caso das terapias abortivas, existem dados muito melhores para o uso de medicamentos profiláticos em adultos. A ciproeptadina tem sido bastante usada em crianças mais jovens com esse propósito, mas os dados de apoio baseiam-se em estudos retrospectivos não mascarados. Da mesma forma, a amitriptilina é sedativa, embora costume ser bem tolerada, mas sua eficácia tem sido demonstrada somente em estudos retrospectivos. O uso de anticonvulsivantes, par- ticularmente o topiramato, para a profilaxia da enxaqueca está aumentando, tanto em pacientes adultos quanto pediátricos. Embora estudos clínicos de boa qualidade apoiem o uso em adultos, ainda não existem estudos clínicos adequados em crianças. Toy - Neurologia.indd 391 21/8/2013 15:20:55