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Dos delitos e das penas

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Universidade Paulista – UNIP 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dos Delitos e das Penas 
Resumo da Obra 
 
Talita Bachega de Loiola Osório 
RA: B719460 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo/SP 
 
2024 
 
 
Introdução: 
 
 O livro “Dos Delitos e das Penas” escrito por Cesare Beccaria, apesar de se tratar de uma 
obra antiga (1764), as ideias nele contidas ainda 
repercutem no meio criminal. Detalhadamente, o autor vai evidenciando as divergências que 
ocorrera em sua época no âmbito criminal, cujos castigos eram cruéis e não eram voltados, 
atribuídos, ao bem público, de modo que a crueldade do castigo era inútil. No século em que 
se passa a criação deste livro, o autor diz que ainda não havia dissipado todos os preconceitos 
que as pessoas daquela época alimentavam e que poucas delas procuraram reprimir os abusos 
do poder, não houvera ninguém que se erguera contra o absurdo das penas que estavam em uso 
nos tribunais, e ninguém que procurara reformar a irregularidade dos processos criminais. 
 
 O autor começa sua obra dizendo que as vantagens da sociedade devem ser distribuídas 
equitativamente entre todos os seus membros, mas não é isso que acontece, pois vê-se a 
tendência contínua de concentrar os privilégios, o poder e a felicidade nas mãos de poucos e 
deixar para sua grande maioria a miséria e debilidade. Apenas com boas leis podem impedir 
esses abusos, pois essa é a função da legislação, a de evitar esses abusos, já mencionados, e 
injustiças dentro de uma certa sociedade. Mas a sociedade acaba por fazer pouco caso da 
criação de leis sábias e justas, que as leis quase sempre não foram mais do que o instrumento 
das paixões da minoria ou fruto do acaso e do momento, e nunca a obra de um prudente 
observador da natureza, que tenha sabido orientar todas as ações da sociedade com esta 
finalidade única: todo o bem-estar possível para a maioria. 
 
 Felizes as nações que por meio das leis sábias fez a passagem do exceder-se do mal para uma 
norma para o bem. O autor afirma que depois de tanta injustiça, os homens resolveram remediar 
os males que os atormentavam, por isso a importância das leis. 
 
 
 
Origem das penas e do direito de punir 
Segundo o autor, a lei [e a moral política] deve estar “baseada em sentimentos indeléveis do 
coração do homem”. Ninguém faz graciosamente o sacrifício de uma parte de sal liberdade 
apenas visando o bem comum. Na origem das agrupações, as liberdades foram sacrificadas 
para haver mais segurança; entra, então, em cena o poder soberano. O depósito destas 
liberdades seria a lei; a qual não é o suficiente para evitar o despotismo. Por este fato, e para 
este motivo, foram criadas penas a estas leis. 
Estas penas devem ser sensíveis, segundo o autor, pois deste modo impediriam que as paixões 
particulares superassem o bem comum. Por dever ser posta de lado a liberdade, escolhe-se a 
menor parcela dela, somente a que se faz necessária. A reunião das pequenas parcelas [de 
todos] fundamenta a possibilidade de punir do Direito. Quando não houver este fundamento, 
não haverá justiça e nem poder de direito; é um poder de fato, porém, usurpado. 
“As penas que vão além da necessidade de manter o deposito da salvação pública são injustas 
por sua natureza; e tanto mais justas serão quanto mais sagradas e invioláveis for a segurança 
e maior a liberdade que o poder soberano propiciar aos súditos. 
 Consequência desses princípios 
• 1º) As leis [penais] podem indicar penas de cada delito, e o direito de estabelecê-las cabe 
ao legislador, apenas. O magistrado não pode aplicar pena não prevista em lei (“nulla 
poena sine praevia lege”); ele é injusto, também, quando é mais severo que a lei, 
aumentando, por exemplo, o efeito da lei.2º) Deve haver intermédio do magistrado para 
decidir se o soberano ou o acusado está correto quanto a um determinado caso, pois a 
terceira pessoa é imparcial. Ao soberano não compete julgar. 
• 3º) a crueldade nos castigos é inútil, sendo, então, odiosa e injusta. 
Da Interpretação das leis 
“As leis tomam sua força da necessidade de guiar os interesses particulares para o bem geral” 
Beccaria, logo após essa afirmação, coloca o poder soberano como intérprete da lei; verifica-
se, então, com o juiz se fora cometido algum delito. O juiz deve fazer um silogismo; a premissa 
maior seria a lei; a ação, a menos; e a sentença; a consequência. Se houve excesso a esta ação, 
há incerteza quanto ao julgamento. Para Beccaria, consultar o espírito das leis [penais] é um 
erro, devendo manter-se apenas às letras delas. 
Deve haver essa prisão ao texto da lei, pois cada homem tem uma opinião, pode haver paixões 
decidindo e julgando, e há frequente mudança de ideias e ideais; logo a lei assegura que o delito 
seja julgado e punido da mesma maneira em dois tribunais diferentes, faz com que haja uma 
mesma justiça. 
Seguindo, literalmente, a lei o cidadão é protegido de abuso de tiranos e, também, pode desviar-
se da prática criminosa ao identificá-la de tal forma, pois o texto da lei diz. 
Da Obscuridade das Leis 
A obscuridade das leis é um mal tanto quanto é a arbitrariedade, pois aquela precisa ser 
interpretada. Para livrar o domínio da lei de um pequeno grupo, deve-se traduzir os códigos 
legais, e tornar a lei conhecida do povo; assim, com “o texto sagrado das leis nas mãos do 
povo”, há menos delitos. Com isso é esperado que o conhecimento e a certeza das penas freiem 
as paixões, que levam ao cometimento de delitos. 
Não haverá sociedade com forma fixa de governo pela força força de um corpo político sem a 
disseminação do conhecimento legal, somente haverá força dos que compõe esse grupo. Se não 
há instante estável no pacto social, não existirá resistência quanto ao tempo e as vontades 
humanas. Essa disseminação é feita através da imprensa, que faz do público o depositário das 
leis; assim como foi, segundo o autor, a imprensa que fez a Europa deixar o estado de barbárie. 
Neste capítulo, Beccaria ainda critica expressivamente a nobreza e o claro. 
Da Prisão 
Trata-se do direito de prender os cidadãos de modo discricionário, poder que tem o magistrado. 
Deste modo, a prisão continua tendo o caráter essencial que a penas à lei cade indicar, 
entretanto, é indicado pelo juiz. Esclarece-se aqui que a lei deve estabelecer fixamente quais 
indícios de delito um acusado pode ser preso. 
Ainda neste capítulo, o autor afirma que serão possíveis prisões com provas mais fracas quando 
as penas forem mais suaves e as prisões não forem um lugar horrível de desespero e fome. 
Aponta-se alguns erros na justiça criminal: há emprego de força e poder, não justiça; há, na 
mesma prisão, detentos inocentes (suspeitos) e criminosos convictos; entre outros. 
“As leis e os usos de um povo estão sempre atrasados vários séculos em relação aos progressos 
atuais (...)” 
 Dos indícios do delito e da forma dos julgamentos 
Há dois tipos de provas quanto à quantidade, as de um fato que se apóiam todas entre si, e as 
que independem uma das outras. Às primeiras não importam o número de provas, pois 
destruindo uma (mais verossimilhante) as outras não valem; ao segundo tipo, quanto mais 
provas melhores. Quanto à qualidade, também, há outros dois grupos, perfeitas e imperfeitas. 
As perfeitas não existem possibilidade de inocentar o acusado, as imperfeitas mantêm a 
possibilidade de inocência. 
Ao juiz cabe a constatação dos fatos, quando a lei é clara e exata; quando necessárias destreza 
e habilidade na investigação das provas, o bom senso é suficiente ao magistrado. O melhor 
julgamento, de fato, seria o feito por iguais, não ocorrendo, então, sentimentos de desigualdade; 
o julgamento deve, ainda, ser público e obter legitimidade. 
 Das Testemunhas 
A confiança que se deposita em uma testemunha deve ser medida pelo interesse que ela tem 
em dizer ou não a verdade; deve-se, portanto, ceder à testemunha maior ou menor confiança, 
na proporção do ódio ou da amizade que tem ao acusado e deoutras relações mais ou menos 
estreitas que ambos mantenham. Houve abusos diversas vezes cometidos, como considerar 
nulos os testemunhos de condenados e de mulheres. 
Arrolar testemunhas pode parecer adiar um processo, entretanto, procrastinações são 
necessárias, pois, assim, não há arbítrio do juiz e faz o povo entender que julgamentos são 
feitos formalmente e não pelo interesse. 
Há necessidade de que não seja apenas uma testemunha. É dada maior importância às 
testemunhas quanto mais atrozes os crimes. O discurso da testemunha é, também, muito 
importante, pois se ele tiver a intenção de incriminar e não puder ser repetido com a mesma 
intensidade e tonalidade não pode ser considerado. 
Dos interrogatórios sugestivos 
O único interrogatório deve ser sobre a forma do cometimento do crime e de suas 
circunstâncias. Quem se negar a responder o interrogatório ao juiz deve sofrer pena pesada 
estabelecida por leis; deve ser muito pesada devido a ofensa para a justiça. Assim como as 
confissões não são necessárias quando provas comprovam a autoria do crime; também não são 
necessários interrogatórios quando se foi verificado o crime. 
Dos Juramentos 
O juramento é uma contradição entre leis e sentimentos naturais, não há como exigir de um 
acusado que diga a verdade, quando seu interesse é esconder. Destrói-se a força do sentimento 
religioso [ao jurar em nome de Deus]; por este motivo, entre outros, o juramento é uma mera 
formalidade, tanto é inútil que o juramento nunca faz com que o acusado diga a verdade. 
 Da tortura 
A tortura é uma barbárie consagrada pelo uso na maioria dos governos até a época de Beccaria; 
porém, ela demonstra o direito da força, pois infringe pena ao cidadão quando não se sabe se é 
inocente ou não. Pode haver crime certo ou incerto, se é certo deve ser punido pela lei fixa, se 
não deve ser considerado inocente. Esta prática [tortura] assemelha-se ao ordálio, usado no 
direito divino (Direito Canônico na Idade Média), a única diferença é que o foco da tortura é a 
confissão, enquanto no ordálio as marcas eram provas de crime. 
Este método faz o inocente “confessar” crimes também, ou seja, o meio de separação de 
inocentes e culpados une as duas classes. O resultado pode ser trágico quando o inocente fraco 
confessa e o culpado forte é tido como inocente. Portanto, o aquele está numa situação 
desfavorável; enquanto este, numa situação favorável. 
Pode ser usado para conhecer cúmplices, pois quem acusa a si mesmo acusa a outros mais 
facilmente. Porém, o autor acreditava que, uma vez sob o risco de serem pegos, os cúmplices 
manteriam-se longe do crime e a sociedade de novos atentados. Há exemplos de que isso não 
acontece, como no caso de grupos criminosos, onde o réu, mesmo confessando, não acusa 
cúmplices por medo de sanção maior do grupo. 
Beccaria crê que a origem tenha sido religiosa, até pelo ato da confissão. 
Da duração do processo e da sua prescrição 
“Cabe tão-somente às leis determinar o espaço de tempo que se deve utilizar para a investigação 
das provas do crime, e o que se deve conceder ao acusado para que se defenda.” 
Para crimes hediondos não deve haver qualquer prescrição em favor do culpado. 
O tempo que é empregado na investigação das provas e o que determina a prescrição não devem 
ser aumentados em virtude da gravidade do delito que se persegue. Separa- se então duas 
categorias de delitos: Grandes e Pequenos. São separados, dentre outros critérios, pela 
verossimilhança, sendo o primeiro menos verossimilhante e o segundo mais. 
Dos crimes iniciados; dos cúmplices; da impunidade 
O princípio de um crime deve ser castigado, mas de forma mais branda, por se tratar da vontade 
de cometer um crume. Busca-se prevenir até tentativas iniciais do crime; porém, a punição 
deve ser mais branda para também fazer com que a pessoa que iniciou o crime não busque 
completá-lo. 
Há tribunais que oferecem impunidade para cúmplice que trair seus colegas, considerado uma 
covardia do legislativo e, logo, do soberano, mas que pode funcionar. A impunidade pode 
encorajar o povo e prevenir grandes delitos; propõe que seja feita lei geral para isto, ao invés 
de declaração especial num caso particular. 
 Da moderação das penas 
A função dos castigos é de impedir o culpado de tornar-se futuramente prejudicial à sociedade, 
e afastar a sociedade do caminho do crime, ou seja, a função da pena é utilitarista. “Quanto 
mais terríveis forem os castigos, tanto mais cheio de audácia será o culpado em evitá-los. 
Praticará novos crimes, para subtrair-se à pena que mereceu pelo primeiro. 
” Historicamente, verifica-se que onde as penas foram mais cruéis, foram os lugares onde 
cometeu-se maior número de crimes hediondos. Nota-se que para surtir efeito, o mal causado 
pela pena deve superar o bem retirado pelo crime. 
Porém, a crueldade das penas tem dois resultados: é difícil estabelecer proporção entre delito e 
pena, pois sempre haverá superação do limite humano; os tormentos mais terríveis podem 
provocar impunidade. O autor expõe que o rigor das penas deve estar de acordo com o atual 
estado do país. 
Da pena de morte 
Esta pena não é baseada em direito algum, é, apenas, uma guerra considerada necessária contra 
um cidadão da sociedade; fora isto, ela nunca pôs fim ao cometimento de delitos. Este castigo 
tem menos efeito do que uma pena de longa duração; uma pena perpétua pode afastar o crime 
de qualquer cidadão. O que a pena de morte proporciona é um arrependimento fácil de última 
hora, a perpetuidade da pena daria uma comparação dos males praticados. Para finalizar, é dito 
que nenhum homem tem direito legítimo sobre a vida de outro. 
Do banimento e as confiscações 
É discutido se deve ser feita confiscação de bens devido ao banimento, a perda de bens é pena 
maior que o exílio. Se a lei determinar que todos os laços entre o condenado e a sociedade estão 
quebrados, pode haver confiscação. Porém, isto pode fazer de um inocente um criminoso. 
Da infâmia 
Não é uma pena que decorre das leis, mas do povo; deve ser rara para não abalar o poder da 
opinião pública, e sua própria força. Também, não deve recair sobre muitas pessoas. 
 Da publicidade e da presteza das penas 
“Quanto mais rápida for a aplicação da pena e mais de perto acompanhar o crime, tanto mais 
justa e útil será.” Trata-se da prisão preventiva, encarceramento tempo suficiente para a 
instrução do processo. Tratando do processo, o autor indica o contraste entre a demora do 
magistrado e a pressa do acusado. “Uma pena muito retardada torna menos estreita a união 
dessas duas ideias: crime e punição.” 
Dos asilos 
Para o autor, há pouca diferença entre impunidade e asilo, que é abrigo contra a ação das leis. 
Porém, ele entende que um crime deve ser castigado somente no país em que foi cometido. 
Do uso de pôr a cabeça a prêmio 
Entre os diversos argumentos do autor, os que mais são gravados são: o que ele tece quanto a 
debilidade da nação que precisa de ajuda para se defender, por não ter força; e o da criação de 
mais cem crimes para a prevenção de um. 
Que as penas devem ser proporcionais aos delitos 
O meio utilizado pela legislação para prevenir o crime deve ser mais forte à medida que é mais 
danoso ao bem público. Busca-se uma proporção entre delito e pena. Se não há essa proporção 
não se faz na mente da população diferença entre crimes. É necessário que sejam estabelecidas 
divisões principais na distribuição das penas proporcionadas aos crimes. 
Da medida dos delitos 
A exata medida é o prejuízo causado à sociedade. A intenção não infere na grandeza do crime, 
pois tal sentimento varia em todos os homens e no próprio indivíduo. 
Divisão dos delitos 
São considerados delitos somente ações que tendam à destruição da sociedade ou aos que a 
representam, ações que afetam o cidadão quanto à existência, bens ou honra, ou ações que 
executem atos contrários aos determinados em lei ou executematos os quais a lei proíbe – 
visando o bem público. 
Dos crimes de lesa-majestade 
Grande crime, prejudicial à sociedade. Deve ser considerada a moral e, também, o local do ato. 
Dos atentados contra a segurança dos particulares e sobretudo das violências 
Existem atentados contra existência, contra honra e contra propriedade. Beccaria inclui no 
primeiro grupo violências por parte da nobreza e dos juízes. O autor afirma que as penas devem 
ser as mesmas independentemente da posição social. 
Das injúrias 
Elas são punidas pela infâmia, a punição tem força vinda da opinião pública; esta evita os males 
que não podem ser evitados pela lei. A injúria tem como fundamento a honra, que é algo 
complexo, composto tanto de ideias complexas como de ideias simples. É possível a ação da 
opinião pública num ambiente de extrema liberdade política, no caso, as monarquias modernas, 
com tirania controlada pela lei. 
Dos duelos 
O autor defende que quem incitou o duelo deve ser castigado, enquanto o outro participante 
não, por, apenas, defender sua honra. 
Do roubo 
É feita a divisão entre roubo com violência e sem o que dá base para a diferença entre assalto 
e furto. O primeiro deve ser punido com pena em dinheiro, não tendo essa possibilidade – para 
não gerar pobreza e mais violência – pode ser punido com a escravidão. Ao segundo deve ser 
acrescido pena corporal. 
Do contrabando 
O contrabando produz ofensa ao soberano e à nação, mas não deve haver infâmia, pois não 
afeta suficientemente o povo para provocar sua indignação. A vantagem do contrabando é 
diretamente proporcional ao número de direitos existentes. 
Das falências 
Faz-se diferença entre a falência por ação de má-fé e de boa-fé. Portanto, há de existir em lei a 
distinção entre faltas graves e leves, não se pode deixar à arbitrariedade de um magistrado. 
Deste modo, previnem-se as falências por fraude, e recuperam-se a economia dos homens de 
boa-fé. 
Dos crimes que perturbam a tranquilidade pública 
“(...) os cidadãos devem conhecer o que precisam fazer para serem culpados, e o que necessitam 
evitar para serem inocentes.” 
Da ociosidade 
Não se admite ociosidade por parte do governo, devendo ele ser partícipe nas relações sociais; 
porém, há um tipo de ociosidade que é aceitável e pode ser vantajosa, dando maior liberdade e 
riqueza ao cidadão. 
Do suicídio 
Embora seja um crime, o autor acredita que não é um delito que deve ser punido pelo homem, 
mas sim por Deus, que é o único que pode punir após a morte. Sendo assim, a pena ou lei para 
este delito é injusta e sem utilidade, porque a pena recairia sobre a família, que é inocente. 
De alguns delitos difíceis de serem constatados 
Trata-se do adultério, da pederastia e do infanticídio. O primeiro é comum porque as leis não 
são fixas e porque é natural a atração pelo sexo oposto, não deve haver – embora exista – quase 
punição, pois ela é um incentivo. A pederastia é um desvio das paixões do homem escravizado 
pela sociedade. As leis não procuram prevenir estes delitos com os melhores meios possíveis. 
De uma espécie particular de crime 
Trata aqui da Inquisição, ou Tribunal do Santo Ofício. Diz-se que somente religiões com 
fundamentos pouco estáveis recorrem à força. E que, por vezes as punições religiosas 
perturbam a calma pública. 
De algumas fontes gerais de erros e de injustiças na legislação 
- E, antes de tudo, das falsas ideias de utilidade 
Um exemplo de falsa ideia de utilidade é observar mais as necessidades particulares que as 
públicas. Sendo assim, essas falsas ideias são fonte de erros e injustiça. As injustiças são 
próprias da sociedade, e não da natureza; o delito cometido em natureza é vantajoso, por vezes, 
em sociedade não há proveito no prejuízo de outrem. 
Do espírito de família 
É fonte de injustiças na legislação; quanto ao legislador, ele considerou a sociedade um 
conjunto de famílias e não de indivíduos para criar barbaridade e vícios. Pelas leis serem obras 
dos chefes de família, a sociedade é dividida por família, assim o espírito monárquico penetra 
na república. Assim como na república, os filhos numa família mantêm-se sob o domínio ou 
proteção dos pais pela vantagem que lhes é oferecida. 
Do espírito do fisco 
Anteriormente à época do autor, as penas eram, apenas, de ordem pecuniária. A preocupação 
do juiz era em conseguir confissão do acusado para benefício do fisco; buscava-se, assim, um 
culpado no réu, e não a verdade. 
Dos meios de prevenir crimes 
É preferível prevenir os delitos a puni-los, tenta-se proporcionar o máximo possível de bem 
aos homens e livrá-los do máximo de males. Atos não prejudiciais que são tidos como proibidos 
fazem, simplesmente, com que ocorra novos crimes. A melhor maneira de prevenir os delitos 
seria a formulação de legislação com maior clareza; a legislação exata substitui a incerteza da 
lei – através de revoluções. Porém, para que houvesse um permanente estado de sociedade, 
sem retorno à barbárie, foi preciso a utilização da religião, e a ilusão de uns poucos que erraram 
com boa intenção. Somente a religião seria capaz de fazer os homens obedecerem às leis a 
princípio. 
Conclusão 
A pena deve conter as seguintes características: publicidade, prontidão, utilitarismo, a menor 
possível dependendo de cada caso, proporcional ao crime e prevista em lei 
 
	Consequência desses princípios
	Da Interpretação das leis
	Da Obscuridade das Leis
	Da Prisão
	Dos indícios do delito e da forma dos julgamentos
	Das Testemunhas
	Dos interrogatórios sugestivos
	Dos Juramentos
	Da tortura
	Da duração do processo e da sua prescrição
	Dos crimes iniciados; dos cúmplices; da impunidade
	Da moderação das penas
	Da pena de morte
	Do banimento e as confiscações
	Da infâmia
	Da publicidade e da presteza das penas
	Dos asilos
	Do uso de pôr a cabeça a prêmio
	Que as penas devem ser proporcionais aos delitos
	Da medida dos delitos
	Divisão dos delitos
	Dos crimes de lesa-majestade
	Dos atentados contra a segurança dos particulares e sobretudo das violências
	Das injúrias
	Dos duelos
	Do roubo
	Do contrabando
	Das falências
	Dos crimes que perturbam a tranquilidade pública
	Da ociosidade
	Do suicídio
	De alguns delitos difíceis de serem constatados
	De uma espécie particular de crime
	De algumas fontes gerais de erros e de injustiças na legislação
	Do espírito de família
	Do espírito do fisco
	Dos meios de prevenir crimes
	Conclusão

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