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CONTABILIDADE BÁSICA Fabiana Tramontin Bonho Notas explicativas Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Esclarecer o que são notas explicativas. Explicar como eram as notas antes das Normas Internacionais de Contabilidade. Estabelecer como são as notas explicativas conforme a NTG 1.000 (R1) para pequenas e médias empresas. Introdução As demonstrações contábeis devem ser preparadas e apresentadas de acordo com normas de órgãos regulamentadores, a fim de servirem com qualidade a todos os usuários. Assim, buscando resolver o desafio entre qualidade e quantidade de informações, as notas explicativas surgiram como complemento necessário dessas demonstrações. Neste capítulo, você vai estudar o conceito de notas explicativas, vai verificar como eram antes das Normas Internacionais de Contabilidade e vai explicar seu uso na contabilidade das pequenas e médias empresas (PMEs), conforme a NTG 1.000 (R1). O que são notas explicativas As notas explicativas oferecem informações complementares àquelas apresen- tadas no balanço patrimonial e nas demonstrações de resultado, de resultado abrangente, de lucros ou prejuízos acumulados (se apresentada), de mutações do patrimônio líquido e de fl uxos de caixa. Fornecem descrições narrativas e detalhes de itens apresentados nessas demonstrações, versando sobre situações não suficientemente evidenciadas ou esclarecidas. A função deste complemento é oferecer informações que esclareçam dúvidas quanto às operações que da empresa durante o ano. Marion (2006) diz que as notas explicativas são uma das formas de eviden- ciação ou disclosure e trazem informações complementares com o objetivo de enriquecer os relatórios e evitar que eles se tornem enganosos. Almeida (2005), afirma que as notas explicativas constituem informações para que os leitores tenham perfeito entendimento sobre as demonstrações contábeis. Neves e Viceconti (2006, p. 384) reforçam esse caráter complementar e esclarecedor ao estabelecer que “[...] as notas explicativas (NE) complemen- tam as demonstrações financeiras, esclarecendo os métodos e os critérios utilizados para avaliação do patrimônio e os elementos que contribuíram para a formação do resultado”. Bruni e Famá (2006, p. 142) esclarecem: As notas explicativas correspondem a um complemento das demonstrações contábeis, que, geralmente, detalham as informações contidas nesses relatórios de forma a esclarecer a situação patrimonial e dos resultados do exercício. Podem ser expressas sob a forma descritiva ou sob a forma de quadros analíticos. Podem, também, englobar outras demonstrações contábeis, caso sejam necessárias para um melhor esclarecimento das demonstrações financeiras. As notas explicativas também podem ser empregadas para descrever práticas contábeis empregadas pela empresa, fornecer explicações adicionais sobre determinadas contas ou operações específicas e, também, destacar a composição e os detalhes de certas contas. Assim, o objetivo principal das notas explicativas é apresentar informa- ções que, geralmente por conta de sua natureza não quantitativa, o corpo da demonstração não consegue expressar. Outro aspecto importante a ser consi- derado na formação desse conceito é que elas servem também para expandir as informações sobre fatos ocorridos que, de alguma forma, impactaram ou podem impactar na avaliação da companhia (MACHADO; NUNES, 2006). A melhor elaboração das notas explicativas é aquela que atinge o objetivo das demonstrações, ou seja, que, ao acrescentar informações relevantes e imperceptíveis quando apenas os números são examinados, contribui para a análise e avaliação de quem está apreciando os relatórios. A Resolução do CFC 1.185/09 — NBC TG 26 (R5), que trata da apresentação das demonstrações, faz menção à forma de estruturar as referidas notas explicativas e o que deve constar das mesmas. Assim, as notas explicativas devem oferecer informações sobre as bases de elaboração das demonstrações contábeis e das práticas utilizadas; divulgando as informações exigidas que não tenham sido apresentadas em outras partes do documento, mas sejam relevantes para compreendê-lo. Notas explicativas2 Apesar de não serem consideradas uma demonstração contábil, essas notas têm fundamental importância no conjunto da obra, pelo fato de trazerem à luz uma interpretação das informações contidas nas demonstrações. As notas explicativas devem ser apresentadas na seguinte ordem: 1. resumo das principais práticas contábeis utilizadas; 2. informações de auxílio aos itens apresentados nas demonstrações con- tábeis, na ordem em que cada uma é apresentada e na ordem em que cada conta aparece na demonstração; 3. quaisquer outras divulgações. Além disso, as empresas devem divulgar, no resumo das principais polí- ticas contábeis, a base de mensuração utilizada em sua elaboração e outras práticas que sejam relevantes para a compreensão do balanço. Também devem ser informados os critérios para julgamentos e estimativas empregados nas práticas da entidade e que tenham repercussão mais significativa sobre os valores reconhecidos nas demonstrações contábeis. Ainda, as notas explicativas devem informar sobre os principais pressu- postos frente ao futuro e a fontes importantes de incerteza das estimativas na data de divulgação, sempre que exista risco significativo de que provoquem modificação material nos valores contabilizados de ativos e passivos durante o próximo exercício financeiro. Também são necessárias informações que permitam aos usuários das demonstrações contábeis avaliarem seus objetivos, políticas e processos de gestão de capital. Assim, as entidades devem divulgar (na extensão em que isso não tiver sido feito em outro lugar no balanço): a) dados quantitativos resumidos sobre os valores classificados no patrimônio líquido; b) objetivos, políticas e processos de gerenciamento de sua obrigação de recompra ou resgate dos instrumentos quando requeridas a fazê-lo pelos detentores desses instrumentos, incluindo quaisquer alterações em relação a período anterior; c) fluxo de caixa de saída esperado na recompra ou no resgate dessa classe de instrumentos financeiros; d) informação sobre como esse fluxo de caixa foi determinado. 3Notas explicativas Com as notas explicativas, compõe-se o conjunto das demonstrações con- tábeis, que devem ser elaboradas em comprimento às exigências das Normas Brasileiras de Contabilidade. Outras divulgações em notas explicativas, conforme a resolução do CFC 1.185/09 — NBC TG 26 (R5) (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, 2017, documento on- line): 137. A entidade deve divulgar nas notas explicativas: (a) o montante de dividendos propostos ou declarados antes da data em que as demonstrações contábeis foram autorizadas para serem emitidas e não reconhecido como uma distribuição aos proprietários durante o período abrangido pelas demonstrações contábeis, bem como o respectivo valor por ação ou equivalente; (b) a quantia de qualquer dividendo preferencial cumulativo não re- conhecido. 138. A entidade deve divulgar, caso não for divulgado em outro local entre as informações publicadas com as demonstrações contábeis, as seguintes informações: (a) o domicílio e a forma jurídica da entidade, o seu país de registro e o endereço da sede registrada (ou o local principal dos negócios, se diferente da sede registrada); (b) a descrição da natureza das operações da entidade e das suas prin- cipais atividades; (c) o nome da entidade controladora e a entidade controladora do grupo em última instância; (d) se uma entidade constituída por tempo determinado, informação a respeito do tempo de duração. Notas explicativas e normas internacionais de contabilidade O setor público não possui obrigatoriedade na elaboração de notas explicativas. Em 2000, foi promulgada a Lei de Responsabilidade Fiscal – (LRF) (LC 101) que reforçou a necessidade de reconhecimento da despesa porcompetência (art. 50, II). No tocante às notas explicativas, somente as previu para os balanços Notas explicativas4 trimestrais do Banco Central do Brasil. A falta de exigência de notas explicativas nas principais leis que regem a contabilidade aplicada ao setor público desmotivou sua elaboração por parte dos contadores que atuavam nessa área. Em 2008, o Conselho Federal de Contabilidade - (CFC) emitiu as primeiras normas brasileiras de contabilidade aplicadas ao setor público, e, em 2016 as atualizou. Essas normas, que foram emitidas em contexto de alinhamento às IPSAS (normas internacionais de contabilidade aplicadas ao setor público), preencheram uma lacuna que existia na legislação do CFC e passaram a exigir a elaboração de notas explicativas nas demonstrações contábeis públicas. Portanto, desde a vigência da NBC T 16.6 (R1), os profissionais da contabilidade do setor público devem apresentar as notas explicativas como parte integrante das demonstrações contábeis. É mais antiga esta exigência para os profissionais que atuam no setor privado, pois a lei societária (Lei Federal nº. 6.404/76) prevê expressamente notas explicativas para essas demonstrações contábeis, em seu artigo 176. Art. 176 da Lei Federal nº. 6.404/76 (BRASIL, 1976, documento on-line): § 4º As demonstrações serão complementadas por notas explicativas e outros quadros analíticos ou demonstrações contábeis necessários para esclarecimento da situação patrimonial e dos resultados do exercício. § 5º As notas explicativas devem: (Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009) I — apresentar informações sobre a base de preparação das demonstrações financeiras e das práticas contábeis específicas selecionadas e aplicadas para negócios e eventos significativos; (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009) II — divulgar as informações exigidas pelas práticas contábeis adota- das no Brasil que não estejam apresentadas em nenhuma outra parte das demonstrações financeiras; (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009) III — fornecer informações adicionais não indicadas nas próprias demonstrações financeiras e consideradas necessárias para uma apre- sentação adequada; e (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009) IV — indicar: (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009) a) os principais critérios de avaliação dos elementos patrimoniais, especialmente estoques, dos cálculos de depreciação, amortização e exaustão, de constituição de provisões para encargos ou riscos, e dos ajustes para atender a perdas prováveis na realização de elementos do ativo; (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009) 5Notas explicativas A CVM — Comissão de Valores Mobiliários, a fim de orientar as empre- sas de capital aberto ou que possuem títulos negociados na bolsa de valores, também se manifestou sobre a importância das notas explicativas ao emitir o OFIC-CIRC 309/86, que reza o seguinte: Sendo a evidenciação (disclosure) um dos objetivos básicos da Contabi- lidade, de modo a garantir aos usuários informações completas e confi- áveis sobre a situação financeira e os resultados da companhia, as notas explicativas que integram as demonstrações financeiras devem apresentar informações quantitativas de maneira ordenada e clara. As notas explica- tivas deverão discriminar, com clareza e objetividade, os esclarecimentos necessários ao correto entendimento do conteúdo das demonstrações fi- nanceiras, a partir dos itens previstos no § 5º do art. 176 da Lei nº 6.404/76. Todas as responsabilidades não ref letidas nas demonstrações financeiras serão evidenciadas em notas ou em quadros demonstrativos. Os quadros demonstrativos deverão ser utilizados para discriminar investimentos rele- vantes, arrendamento mercantil, garantias, empréstimos e financiamentos e outras informações em que haja predominância do aspecto quantitativo. (COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS, 1986, documento on-line). Neves e Viceconti (2006, p. 609) elucidam o conteúdo mínimo das notas explicativas exigido pela CVM — Comissão de Valores Mobiliários, destacando, a identificação das subsidi-árias; informações sobre o patrimônio b) os investimentos em outras sociedades, quando relevantes (art. 247, parágrafo único); (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009) c) o aumento de valor de elementos do ativo resultante de novas avalia- ções (art. 182, § 3o ); (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009) d) os ônus reais constituídos sobre elementos do ativo, as garantias pres- tadas a terceiros e outras responsabilidades eventuais ou contingentes; (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009) e) a taxa de juros, as datas de vencimento e as garantias das obrigações a longo prazo; (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009) f) o número, espécies e classes das ações do capital social; (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009) g) as opções de compra de ações outorgadas e exercidas no exercício; (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009) h) os ajustes de exercícios anteriores (art. 186, § 1º); e (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009) i) os eventos subsequentes à data de encerramento do exercício que te- nham, ou possam vir a ter, efeito relevante sobre a situação financeira e os resultados futuros da companhia. (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009). Notas explicativas6 líquido; lucro ou prejuízo líquido das empresas do grupo; créditos e obrigações envolvendo investidoras, coligadas e controladas; dentre outras informações relevantes para que o usuário da informação contábil tenha uma visão ampla dos negócios existentes entre empresas de um mesmo grupo econômico. Com o advento das Leis nº. 11.638/07 e 11.941/09, as notas explicativas passaram a ter maior importância para o conjunto de demonstrações con-tábeis, devido à convergência das normas brasileiras de contabilidade com os padrões internacionais do IFRS, em que se contempla a contabilidade societária. São importantes principalmente para os usuários externos da con-tabilidade (bancos, acionistas, investidores, etc.) que não tem conhecimento das operações da empresa em dado período. Nessa época, o CPC (Comitê de Pronunciamentos Contábeis) passou a emitir os seus pronunciamentos, também orientando as companhias a divulgar, em notas explicativas, as in-formações que completam as demonstrações contábeis, gerando informações adicionais de suma importância. Assim, atualmente, as informações contábeis devem ser plenamente desenvolvidas conforme os padrões contábeis aceitos internacionalmente, os denominados IFRS (Internacional Financial Reporting Standards) no sentido de que se tenha o mínimo de divergências futuras, num processo que busca a conciliação dos sistemas contábeis dos diversos países (FRATTI; NAIDON, 2011). O processo de convergência das normas internacionais de contabilidade tem o envolvimento de diversos organismos em nível mundial, como o IASB (International Accounting Standards Board) órgão responsável pela intro-dução das IFRS, relatórios financeiros que objetivam a comparabilidade das informações contábeis produzidas pelas empresas situadas em países distintos, permitindo a compreensão e interpretação dos dados gerados por entidades de diferentes economias e tradições (NIYAMA, 2010). Conforme Hungarato et al. (2004), com a internacionalização da contabili-dade, tendem a minimizar-se as diferenças entre as demonstrações contábeis pelas empresas em todos os países que adotaram essas normas, principalmente as companhias estrangeiras que investem no Brasil e agora podem adotar uma única visão da contabilidade, aplicada aqui e em seu país de origem. 7Notas explicativas Notas explicativas para pequenas e médias empresas As pequenas e médias empresas (PMEs) aderiram às IFRS após o CPC aprovar e o Conselho Federal de Contabilidade homologar a resolução nº. 1.255/09, aprovada pela NBC TG 1000 (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, 2009). Assim, o CPC emitiu a norma para PMEs em separado, para aplicação às demonstrações contábeis para fins gerais de empresas de pequeno e médio porte, conjunto composto por sociedades fechadase sociedades às quais não sejam requeridas prestações públicas de suas contas (COMITÊ DE PRO- NUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2009). Atualmente a contabilidade brasileira passa por um processo de convergência às normas internacionais de contabilidade. Nesse sentido, o CFC editou, entre outras tantas, a Resolução nº. 1.255/09, aprovando a NBC TG 1.000 (R1) - Contabilidade para Pequenas e Médias Empresas. Em seu item 3.17, temos a identificação do conjunto completo das demonstrações contábeis que essas entidades devem elaborar, contemplando, na letra “f”, a inclusão das notas explicativas. Os itens 8.1 e seguintes dispõem sobre a sua estruturação: O item 8.1, da NTG 1000 (R1), dispõe sobre os princípios subjacentes às informações nas notas explicativas e como apresentá-las. As notas devem conter informa-ções adicionais àquelas apresentadas no balanço patrimonial, na demonstração do resultado, na demonstração do resultado abrangente, na demonstração dos lucros ou prejuízos acumulados (se apresentada), na demonstração das mutações do patrimônio líquido e na demonstração dos fluxos de caixa. Além disso, devem fornecer descrições narrativas e detalhes sobre itens que não se qualificam para reconhecimento nessas demonstrações. A norma refere, ainda, que, além das exigências desta seção, quase todas as outras seções exigem divulgações que são normalmente contempladas pelas notas explicativas. Estrutura das notas explicativas Segundo o item 8.2, as notas explicativas devem: (a) apresentar informações acerca das bases de elaboração das demonstrações contábeis e das práticas contábeis específicas utilizadas, de acordo com os itens 8.5 a 8.7; (b) divulgar as informações exigidas por esta norma que não tenham sido apresentadas em outras partes das demonstrações contábeis; e (c) prover informações que não tenham sido apresentadas em outras partes das demonstrações contábeis, mas que sejam relevantes para sua compreensão. Notas explicativas8 Dispõe o item 8.3, que a entidade deve, tanto quanto seja praticável, apre- sentar as notas explicativas de forma sistemática. Deve, ainda, indicar em cada item das demonstrações contábeis, a referência com a respectiva informação nas notas explicativas. No item 8.4, a norma faz referência à ordem que em que a entidade nor- malmente deve apresentar as notas explicativas: (a) declaração de que as demonstrações contábeis foram elaboradas em con- formidade com esta norma (ver item 3.3); (b) resumo das principais práticas contábeis utilizadas (ver item 8.5); (c) informações de auxílio aos itens apresentados nas demonstrações contá- beis, na ordem em que cada demonstração é apresentada e na ordem em que cada conta é apresentada na demonstração; (d) quaisquer outras divulgações. Divulgação das práticas contábeis O item 8.5 estipula que a entidade deve divulgar no resumo as principais práticas contábeis: (a) a base de mensuração utilizada na elaboração das demonstrações contábeis; (b) as outras práticas contábeis utilizadas que sejam relevantes para a com- preensão das demonstrações contábeis. Informação sobre julgamento Segundo o item 8.6, a entidade deve divulgar, no resumo das principais práticas contábeis ou em outras notas explicativas, os julgamentos, separadamente daqueles envolvendo estimativas (ver item 8.7), que a administração utilizou no processo de aplicação das práticas contábeis da entidade e que exerçam efeito mais signifi cativo nos valores reconhecidos nas demonstrações contábeis. Informação sobre principais fontes de incerteza das estimativas A entidade deve divulgar, nas notas explicativas, conforme o item 8.7, infor- mações sobre os principais pressupostos relativos ao futuro e outras fontes importantes de incerteza das estimativas na data de divulgação, que ofereçam 9Notas explicativas risco signifi cativo de provocar modifi cação material nos valores contabilizados de ativos e passivos durante o próximo exercício fi nanceiro. Com respeito a esses ativos e passivos, as notas explicativas devem incluir detalhes sobre: sua natureza; seus valores contabilizados ao final do período de divulgação. O Conselho Federal de Contabilidade (CFC) colocou recentemente em Audiência Pública a ITG 1.000 que trata do Modelo Contábil Simplificado para Microempresas e Empresas de Pequeno Porte. A ITG 1.000 visa desobrigar esse grupo de empresas da adoção da NBC TG .1000 (R1) — Contabilidade para PME (equivalente ao IFRS para PME). No entanto, menciona como demonstrações contábeis obrigatórias, além do balanço patrimonial e da demonstração do resultado do exercício, também as notas explicativas. Para as microempresas e empresas de pequeno porte, conforme a ITG 1.000, há algumas situações mínimas que precisam ser consideradas em notas explicativas, mas é recomendável que sejam atendidas outras situações relevantes para a correta interpretação da posição patrimonial da entidade. Assim, as notas explicativas devem incluir, no mínimo: declaração explícita e não reservada de conformidade com a ITG 1.000; descrição resumida das operações da entidade e suas principais atividades; referência às principais práticas contábeis adotadas na elaboração das demons- trações contábeis; descrição resumida das políticas contábeis significativas utilizadas pela entidade; descrição resumida das contingências passivas, quando houver; qualquer outra informação relevante para a adequada compreensão das demons- trações contábeis. Fonte: Zafra (2017); Conselho Federal de Contabilidade (2012, documento on-line). Assim, com base nos textos legais mencionados e de acordo com os novos entendimentos do próprio CFC, podemos afirmar que, desde a implantação do IFRS no Brasil, não existem mais demonstrações contábeis que não devam ser complementadas por notas explicativas. Essas passam a ser de elaboração obrigatória para todas as entidades, independentemente de porte, atividade ou forma de tributação. Notas explicativas10 O item 39 da ITG 1.000 estabelece a divulgação mínima de informações que a microempresa e a empresa de pequeno porte devem fazer por meio de notas explicativas, relacionando aquelas que, em geral, devem ser evidenciadas juntamente com as demonstrações contábeis anuais. ALMEIDA, M. C. Curso básico de contabilidade. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2005. BRASIL. Lei nº. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 17 dez. 1976. BRUNI, A. L.; FAMÁ, R. A contabilidade empresarial: com aplicações na HP 12C e Excel. São Paulo: Atlas, 2006. COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Ofício-Circular/CVM/PTE/nº 309/86 de 17.12.86. Disponível em: <http://sistemas.cvm.gov.br/port/atos/oficios/OF_CIRC_CVM_PTE_309. asp>. Acesso em: 16 dez. 2018. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Pronunciamento técnico PME: conta- bilidade para pequenas e médias empresas: Correlação às Normas Internacionais de Contabilidade — The International Financial Reporting Standard for Small and Medium- -sized Entities (IFRS for SMEs). Brasília: CPC, 2009. Disponível em: <http://portalcfc.org. br/wordpress/wp-content/uploads/2012/12/CPC_PME.pdf>. Acesso em: 16 dez. 2018. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução CFC nº. 1.255/09. Brasília: CFC, 2009. Disponível em: <http://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/Res_1255.pdf>. Acesso em: 18 set. de 2018. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução CFC nº. 1.418/12 (ITG 1000). Brasília, 5 de dezembro de 2012. Brasília: CFC, 2012. FRATTI, M. L.; NAIDON, R. Adoção das normas internacionais nas pequenas empresas na percepção dos escritórios contábeis de Santa Maria. 2011. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Contábeis) — Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2011. HUNGARATO, A. et al. Uma Contribuição para entendimento das notas explicativas das em- presas brasileiras do setor elétrico de distribuição sob a ótica da contabilidade societária. In: SIMPÓSIO FUCAPE DE PRODUÇÃO CIENTÍFICA,2., 2004, Vitória. Anais...Vitória: FUCAPE, 2004. MACHADO, N. P.; NUNES, M. S. A evidenciação das informações contábeis: sua importân- cia para o usuário externo. Business Review, Unifin, Porto Alegre, v. 1, n. 1, p. 111–121, 2006. 11Notas explicativas MARION, J. C. Contabilidade empresarial. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2006. NEVES, S.; VICECONTI, P. E. V. Contabilidade básica. 13. ed. São Paulo: Frase Editora, 2006. NIYAMA, J. K. Contabilidade internacional. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2010. ZAFRA, N. IFRS: contabilidade para microempresa, empresa de pequeno porte, pe- quenas e medias empresas (NBC TG 1.000 — PME), (ITG 1.000 — ME, EPP). A.I.C., 2017. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. NBC TG 1000 (R1) – Contabilidade para pequenas e médias empresas. 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CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Normas Internacionais de Contabilidade para o Setor Público. Brasília: CFC, 2010. Notas explicativas12 Conteúdo: ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO Leuter Duarte Cardoso Junior Gestão do capital de giro: modelo de Fleuriet Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Apresentar a origem do modelo de Fleuriet. Conceituar contas cíclicas e erráticas. Contextualizar a ocorrência de necessidade líquida de capital de giro. Introdução O capital de giro (CDG) é um dos elementos que influenciam as decisões estratégicas de uma organização e é alvo de muito estudos acadêmicos. O mundo está globalizado há décadas, e a competividade empresarial é o resultado desse fenômeno. Por essa razão, há uma preocupação por parte dos acadêmicos e gestores em aplicar análises e modelos sofisticados na área financeira. Assim, neste capítulo, você vai estudar o modelo tradicional de análise financeira, muito comum na literatura. Na sequência, você vai compreender o modelo de Fleuriet, que tem uma perspectiva distinta da tradicional, propondo uma análise dinâmica, que considera os ciclos operacional e financeiro da empresa. Por fim, você vai aprender sobre os contextos em que ocorre a necessidade líquida de CDG. 1 Modelo tradicional versus modelo de Fleuriet No modelo tradicional de análise econômico-fi nanceira, a análise está con- centrada nos índices decorrentes das demonstrações fi nanceiras. Assim, haverá uma relação lógica entre as contas fi nanceiras e contábeis, com o propósito de apresentar a condição fi nanceira da organização. Para o modelo tradicional, é importante destacar o conceito de capital de giro líquido (CGL). O CGL é resultado da diferença entre as contas patrimoniais de curto prazo. Assim, o resultado será a diferença entre as contas presentes no ativo circulante e as dívidas presentes no passivo circulante. Com esse conceito, é possível analisar a liquidez da empresa para o curto prazo. Nesse contexto, pode-se diferenciar o CDG e o CGL. O CDG corresponde aos recursos do ativo circulante, enquanto o CGL será a diferença entre o ativo circulante e o passivo circulante. Essa conceituação é fundamental para compreender as bases do modelo tradicional e depois distingui-lo do modelo de Fleuriet. Com a noção clara do CDG, é possível avançar o estudo dos aspectos de liquidez da empresa. Ao considerar as contas circulantes do balanço patrimo- nial, conseguimos medir a liquidez por meio dos seguintes índices: Liquidez corrente = (Ativo circulante) / (Passivo circulante) Liquidez seca = (Ativo circulante – Estoques) / (Passivo circulante) Liquidez imediata = (Disponível) / (Passivo circulante) Esses índices demonstram a capacidade do ativo circulante para honrar com as dívidas do passivo circulante. Quanto maior for o índice, melhor será a situação de liquidez da empresa para honrar as obrigações do passivo circulante. Por essa razão, uma empresa solvente, normalmente, terá bons índices de liquidez. Embora o modelo tradicional seja utilizado em larga escala e por diversos estudiosos e profissionais da área financeira, ele sofre algumas críticas de ordem metodológica. Para Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003), as contas patrimo- niais no modelo tradicional são classificadas de forma inadequada. O correto seria uma classificação considerando os ciclos que ocorrem nas operações da organização. Dessa forma, a análise financeira ocorreria por meio de um modelo dinâmico. É desse entendimento que partem os estudos de Michel Fleuriet, que resul- taram no modelo de Fleuriet. Este tem como propósito realizar uma análise financeira não estática. No modelo de Fleuriet, as contas do balanço patrimonial são reclassificadas em função da análise, que é voltada aos ciclos decorrentes das operações que ocorrem dentro de uma organização. Conforme os estudos de Theiss Júnior e Wilhelm (2000), o modelo de Fleuriet fornece medidas mais apuradas para a sensibilidade da empresa sobre as variações financeiras. Dentro dessa perspectiva, é proposto no modelo analisar os ciclos da empresa, para obter uma visão mais exata do desempenho operacional, econômico e financeiro ao longo do tempo. Gestão do capital de giro: modelo de Fleuriet2 2 Contas patrimoniais no modelo dinâmico de Fleuriet Nas análises fi nanceiras tradicionais, as contas são classifi cadas em circulantes e não circulantes. No modelo dinâmico, as contas passam a ganhar um novo caráter e, por isso, elas serão classifi cadas em operacionais (cíclicas), fi nanceiras (erráticas) e não circulantes (não cíclicas). No Quadro 1, observa-se a nova classifi cação das contas patrimoniais conforme a metodologia de Fleuriet. Fonte: Adaptado de Rocha, Klann e Hein (2010). Ativo Passivo Ativo circulante Passivo circulante - Contas erráticas: - Contas erráticas: Caixa Empréstimos e financiamentos Bancos Debêntures Aplicações financeiras Dividendos a pagar - Contas cíclicas: - Contas cíclicas: Clientes Fornecedores Estoques Obrigações tributárias Ativo não circulante Passivo não circulante - Contas não cíclicas - Contas não cíclicas Realizável a longo prazo Exigível a longo prazo Investimentos Imobilizado Patrimônio líquido (não cíclico) Quadro 1. Balanço patrimonial na perspectiva de Fleuriet As contas erráticas no ativo circulante são aquelas que envolvem o lado financeiro da empresa, como: caixa, bancos, aplicações financeiras, entre outras. Estas estarão vinculadas às atividades financeiras da organização no curto prazo. No ativo circulante, haverá também as contas cíclicas, ligadas às atividades operacionais, como as contas clientes, estoques, entre outras. Por fim, há o ativo não circulante, considerado como não cíclico. As contas 3Gestão do capital de giro: modelo de Fleuriet que normalmente o compõem são: realizável a longo prazo, investimentos, imobilizado e intangível. No lado do passivo, haverá as contas classificadas como erráticas, cíclicas e não cíclicas. As contas do passivo circulante ligadas a dívidas e compromissos com as instituições financeiras e outros credores financeiros no curto prazo serão classificadas como erráticas.Por exemplo, as contas empréstimos, finan- ciamento, debêntures e dividendos a pagar serão consideradas como erráticas. As obrigações do passivo circulante decorrentes das atividades operacionais serão classificadas como cíclicas. Nesse sentido, as contas fornecedor e salários a pagar serão entendidas como cíclicas no passivo circulante. Estas existem em função das operações e atividades afins da organização. O passivo não circulante e o patrimônio líquido serão classificados como não cíclicos. Essas contas têm uma rotatividade baixa ou até mesmo são per- manentes na empresa. Por esse motivo, serão consideradas como não cíclicas na análise financeira dinâmica do modelo. No modelo tradicional, considera-se apenas as contas circulante e não circulante. Já no modelo dinâmico, as contas são desmembradas em operacional, financeira e não circulante. Trata-se de uma nova forma de interpretar a dinâmica do ciclo operacional das organizações. Segundo Vieira (2008), a nova classificação das contas patrimoniais con- sidera os ciclos financeiro e econômico de uma organização. Esses ciclos são dinâmicos — por exemplo, uma mudança nas políticas de estocagem ou nas contas a pagar ou receber vai acarretar novos ciclos dentro da empresa. Na Figura 1, pode-se analisar os respectivos ciclos. Gestão do capital de giro: modelo de Fleuriet4 Figura 1. Ciclo financeiro e ciclo econômico. Fonte: Vieira (2008, p. 75). Conforme apresentado na Figura 1, o ciclo econômico corresponde ao período que a mercadoria permanece estocada até ser vendida. Já o ciclo financeiro será o intervalo de tempo entre o pagamento dos fornecedores e o recebimento das vendas. Esses ciclos representam as atividades operacionais (ciclo operacional) da empresa com seus stakeholders. Com o entendimento conceitual das contas patrimoniais e dos ciclos fi- nanceiro e econômico no modelo de Fleuriet, pode-se avançar para a análise dos indicadores econômicos e financeiros do modelo de Fleuriet. Estes são um meio de evidenciar a situação financeira de uma organização. Indicadores econômicos e financeiros do modelo de Fleuriet Os principais indicadores econômicos e fi nanceiros do modelo de Fleuriet são: CDG, necessidade de capital de giro (NCG) e saldo da tesouraria (ST). Cada um desses indicadores vai revelar a situação de liquidez da empresa no curto e no longo prazo. Para uma compreensão clara desses indicadores, vamos analisá-los em princípio de forma isolada. A NCG será a diferença entre o ativo circulante cíclico (operacional) e o passivo circulante cíclico (operacional). Assim, a equação 1 representa a NCG: NCG = Ativo circulante operacional – Passivo circulante operacional (1) O resultado será entendido da seguinte forma: a) um resultado positivo indica que as saídas de caixa ocorrem antes das entradas, e, por esse motivo, será necessário financiar o CDG por meio 5Gestão do capital de giro: modelo de Fleuriet da contratação de empréstimos ou financiamento (capital de terceiros) ou com recursos próprios da empresa; b) se o resultado for negativo, significa que o fluxo de caixa operacional é positivo, ou seja, as entradas de caixa ocorrem antes das saídas. Esse é um cenário favorável, e não haverá necessidade para captação de empréstimos e financiamentos ou injeção de recursos por parte dos sócios ou acionistas. Para Assaf Neto (2014), o resultado desse indicador será a quantidade de recursos necessários para financiar o ciclo das principais operações em- presariais, isto é, os ciclos de comercialização, compras e estocagem. Para Matarazzo (2003, p. 338), “[...] a necessidade de capital de giro é a chave para a administração financeira de uma empresa”. O CDG é entendido como os recursos permanentes da organização neces- sários para cobrir as NCGs. O CDG é obtido pela subtração das fontes de longo prazo (passivo não circulante e patrimônio líquido) pelas aplicações de longo prazo (ativo não circulante). A equação 2 é utilizada para o cálculo do CDG. CDG = (Passivo não cíclico + Patrimônio líquido) – (Ativo não cíclico) (2) Os resultados serão interpretados da seguinte forma: a) quando o resultado é positivo, entende-se que há fontes de longo prazo (passivo não circulante e patrimônio líquido) para cobrir as NCGs; b) quando o resultado é negativo, não há fontes de longo prazo suficientes para financiar as NCGs. Nessa condição, a empresa deverá buscar alternativas na sua estrutura financeira. O ST é a diferença entre o CDG e a NCG. Esse resultado será obtido pela subtração do ativo circulante errático pelo valor do passivo circulante errático. Esse saldo será calculado por meio da equação 3. ST = Ativo circulante financeiro – Passivo circulante financeiro (3) A interpretação desse resultado é descrita a seguir. a) Quando o ST tem um resultado negativo, a empresa vai utilizar as fontes de curto prazo (empréstimos e financiamento) para cobrir a sua NCG; assim, haverá uma quantidade maior do capital de terceiros na Gestão do capital de giro: modelo de Fleuriet6 empresa. Uma consequência dessa situação é o aumento das despesas onerosas (financeiras). b) Quanto maior o resultado, melhor será a situação da empresa, pois haverá uma menor dependência do capital de terceiros, e isso vai resultar em despesas onerosas menores e endividamento reduzido. Nessa situação, a empresa tem recursos de curto prazo suficientes para financiar as suas operações. Segundo Viera (2008, p. 86), “[…] quando os recursos de longo prazo originários do capital de giro não são suficientes para satisfazer à demanda operacional de recursos representada pela necessidade de capital de giro, a empresa precisa utilizar fonte de curto prazo, com o objetivo de complementar o financiamento das suas atividades”. O ST poderá ser utilizado como complemento. 3 Administração financeira do capital de giro líquido Com as análises e estudos verifi cados até este momento, pode-se perceber a importância da liquidez dentro das empresas. Sendo assim, uma análise mais crítica sobre o CDG é necessária, uma vez que ele está intimamente ligado ao grau de liquidez e solvência de uma organização. Para Vieira (2008), o CGL é uma medida da folga financeira da empresa para honrar as obrigações computadas no passivo circulante. Sob o aspecto da liquidez, entende-se que, quanto maior for o CGL, melhor será a situação financeira da empresa no curto prazo. O CGL será o resultado da diferença entre as contas do ativo circulante e do passivo circulante. A equação 4 representa o CGL. CGL = Ativo circulante – Passivo circulante (4) O resultado dessa equação poderá ser positivo, negativo ou nulo. Cada resultado vai indicar a situação financeira da empresa. Nas Figuras 2, 3 e 4 são apresentadas as três situações possíveis. Na situação apresentada na Figura 7Gestão do capital de giro: modelo de Fleuriet 2, o CGL é nulo, assim, os bens e direitos do ativo circulante são iguais às obrigações do passivo circulante. Figura 2. Capital de giro líquido nulo. Fonte: Adaptada de Assaf Neto e Silva (2002). Na Figura 3, pode-se observar uma situação financeira favorável, na qual o CGL é positivo. Figura 3. Capital de giro líquido positivo. Fonte: Adaptada de Assaf Neto e Silva (2002). O resultado positivo indica que o CDG é próprio, e, por essa razão, o ativo circulante é superior às obrigações existentes no passivo circulante para o mesmo período. Essa é uma situação financeira favorável e representa uma boa capacidade para o financiamento das dívidas com capital próprio. Quando o resultado é negativo, conforme mostra a Figura 4, o CGL no curto prazo é financiado pelo capital de terceiros (empréstimos e financiamentos), e o ativo circulante é inferior às obrigações presentes no passivo circulante. Essa é uma situação de alerta: o endividamento cresceu e as despesas também, assim, a solvência poderá ficar comprometida no longo prazo. Gestão do capital de giro: modelo de Fleuriet8 Figura4. Capital de giro líquido negativo. Fonte: Adaptada de Assaf Neto e Silva (2002). O CDG na análise financeira poderá ser classificado como fixo ou variável. Segundo Assaf Neto e Silva (2002), o CDG fixo será a quantidade necessária para manter o ativo circulante e garantir as operações da organização. O CDG variável corresponde aos recursos extraordinários para atender às necessidades sazonais, como antecipação das compras de insumo, maiores volumes de vendas em alguns períodos ou contingências não previstas. Conforme Matarazzo (2003, p. 337), a NCG “[...] é não só um conceito fundamental para a análise da empresa do ponto de vista financeiro, ou seja, análise de caixa, mas também de estratégias de financiamento, crescimento e lucratividade”. Sob esse contexto, entende-se que o CDG é um dos elementos que vão delinear o planejamento estratégico e operacional das organizações. Uma administração eficaz do CGL vai garantir uma solidez financeira, bem como resultados prósperos ao longo do tempo. Por conta disso, dimensionar e avaliar corretamente as fontes de financiamento será estratégico e vital. Para Matarazzo (2003), existem diferentes fontes de financiamento, como: capital circulante próprio; empréstimos e financiamentos bancários de longo prazo; empréstimos bancários de curto prazo; duplicatas descontadas. 9Gestão do capital de giro: modelo de Fleuriet Estas são as principais formas para financiar as NCGs, e cada uma delas tem suas peculiaridades para prazos, despesas e volumes. O uso dessas fontes deverá contribuir para ganhos positivos nos ciclos econômico e financeiro. Assim, a empresa terá condições suficientes para manter uma boa saúde financeira no curto e no longo prazo. A gestão do CDG é uma tarefa estratégica e que merece uma atenção ímpar, para proporcionar resultados econômicos e financeiros positivos, bem como criar valor para os negócios da empresa no curto e no longo prazo. Logo, a compreensão do modelo dinâmico de Fleuriet e as ferramentas para análise das necessidades líquidas do CDG ganham maior relevância. ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2014. ASSAF NETO, A.; SILVA, C. A. T. Administração do capital de giro. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2002. FLEURIET, M.; KEHDY, R.; BLANC, G. O modelo Fleuriet: a dinâmica financeira das empresas brasileiras. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. MATARAZZO, D. C. Análise financeira de balanços: abordagem básica e gerencial. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2003. ROCHA, I.; KLANN, R. C.; HEIN, N. Utilização do modelo Fleuriet na análise da gestão do capital de giro de empresas brasileiras do setor de siderurgia. In: CONGRESSO BRASI- LEIRO DE CUSTOS, 17., 2010, Belo Horizonte. Anais eletrônicos [...]. Disponível em: https:// anaiscbc.emnuvens.com.br/anais/article/download/835/835. Acesso em: 26 abr. 2020. THEISS JÚNIOR, F.C.; WILHELM, P.P.H. Análise do capital de giro: modelo Fleuriet versus modelo tradicional. In: ENCONTRO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO, 24., 2000, Florianópolis. Anais […]. Florianópolis: ENANPAD, 2000. VIEIRA, M. V. Administração estratégica de capital de giro. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2008. Leitura recomendada MARQUES, J. A. V. C.; BRAGA, R. Análise dinâmica do capital de giro: o modelo Fleuriet. Revista de Administração de Empresas, v. 35, nº. 3, p. 49–63, mai./jun. 1995. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rae/v35n3/a07v35n3.pdf. Acesso em: 26 abr. 2020. Gestão do capital de giro: modelo de Fleuriet10 Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. 11Gestão do capital de giro: modelo de Fleuriet CONTABILIDADE INTERMEDIÁRIA II Filipe Martins da Silva Notas explicativas: conteúdo informativo e elaboração Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer o conceito e a estrutura das notas explicativas. � Descrever a evidenciação das contas patrimoniais e de resultado nas notas explicativas. � Explicar a obrigatoriedade das notas explicativas como parte inte- grante das demonstrações contábeis. Introdução Neste capítulo, você vai conhecer as notas explicativas e qual seu objetivo, entender a importância das notas explicativas e como elas se interligam com as demonstrações contábeis, além de conhecer as informações obrigatórias que devem conter nelas. É muito importante compreender a importância de sua divulgação, pois sua finalidade é tornar mais claras as informações divulgadas pelas companhias. Sendo assim, as empresas são obrigadas a divulgar tais notas explicativas, pois, utilizando unicamente as demonstrações contábeis, nem todas as informações podem ser claras. Além disso, será apresentado um exemplo real de uma nota explicativa publicada, além de apresentar a legislação que a regulamenta e a torna obrigatória para as empresas. Notas explicativas: conteúdo e conceito O objetivo da contabilidade é fornecer informações úteis para que seus usuários possam tomar decisões, para isso são utilizadas as demonstrações contábeis. Ainda assim, os números por si só são insuficientes, para levar ao interessado das informações detalhes das operações ocorridas na empresa. As demonstrações contábeis devem ser complementadas por notas explicativas, quadros analíticos ou outras demonstrações contábeis necessárias à plena avaliação da situação e da evolução patrimonial da empresa (GELBCKE et al., 2018). Para complementar essas informações, a legislação prevê as notas explicativas. Elas se utilizam de textos, gráficos, quadros, entre outros recursos que são utiliza- dos para compreender aspectos relativos a determinados conjuntos de contas das demonstrações contábeis, e devem ser exibidas após a apresentação das demons- trações contábeis publicadas pela empresa, sendo parte integrante do conjunto completo das demonstrações contábeis (RIBEIRO, 2013). As notas explicativas são definidas nos parágrafos 4º e 5º do artigo 176 da Lei nº. 6.404/1976: “§ 4º As demonstrações serão complementadas por notas explicativas e outros quadros analíticos ou demonstrações contábeis necessários para esclarecimento da situação patrimonial e dos resultados do exercício” (BRASIL, 1976, documento on-line). Além do mencionado, as notas explicativas devem tratar também dos seguintes itens: 1. critérios de avaliação de estoques; 2. cálculos de depreciação; 3. critérios para constituição de perdas e provisões; 4. investimentos em outras sociedades; 5. obrigações de longo prazo, os credores, data de vencimento, juros; 6. número de ações que compões o capital social (GELBCKE et al., 2018). O CPC 26 (R1) (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2011, documento on-line) também disciplina as informações que devem conter nas notas explicativas, em seus itens 77 a 80A, como demonstrado a seguir: 77. A entidade deve divulgar, seja no balanço patrimonial seja nas notas explicativas, rubricas adicionais às contas apresentadas (subclassificações), classificadas de forma adequada às operações da entidade. 78. O detalhamento proporcionado nas subclassificações depende dos re- quisitos dos Pronunciamentos Técnicos, Interpretações e Orientações do CPC e da dimensão, natureza e função dos montantes envolvidos. Os fatores estabelecidos no item 58 também são usados para decidir as bases a se utilizar para tal subclassificação. As divulgações variam para cada item, por exemplo: (a) os itens do ativo imobilizado são segregados em classes de acordo com o Pronunciamento Técnico CPC 27 — Ativo Imobilizado; (b) as contas a receber são segregadas em montantes a receber de clientes comerciais, contasa receber de partes relacionadas, pagamentos antecipados e outros montantes; Notas explicativas: conteúdo informativo e elaboração2 (c) os estoques são segregados, de acordo com o Pronunciamento Técnico CPC 16 — Estoques, em classificações tais como mercadorias para revenda, insumos, materiais, produtos em processo e produtos acabados; (d) as provisões são segregadas em provisões para benefícios dos empregados e outros itens; e (e) o capital e as reservas são segregados em várias classes, tais como capital subscrito e integralizado, prêmios na emissão de ações e reservas. 79. A entidade deve divulgar o seguinte seja no balanço patrimonial, seja na demonstração das mutações do patrimônio líquido ou nas notas explicativas: (a) para cada classe de ações do capital: (i) a quantidade de ações autorizadas; (ii) a quantidade de ações subscritas e inteiramente integralizadas, e subscritas mas não integralizadas; (iii) o valor nominal por ação, ou informar que as ações não têm valor nominal; (iv) a conciliação entre as quantidades de ações em circulação no início e no fim do período; (v) os direitos, preferências e restrições associados a essa classe de ações, incluindo restrições na distribuição de dividendos e no reembolso de capital; (vi) ações ou quotas da entidade mantidas pela própria entidade (ações ou quotas em tesouraria) ou por controladas ou coligadas; e (vii) ações reservadas para emissão em função de opções e contratos para a venda de ações, incluindo os prazos e respectivos montantes; e (b) uma descrição da natureza e da finalidade de cada reserva dentro do patrimônio líquido. 80. A entidade sem capital representado por ações, tal como uma sociedade de responsabilidade limitada ou um truste, deve divulgar informação equivalente à exigida no item 79(a), mostrando as alterações durante o período em cada categoria de participação no patrimônio líquido e os direitos, preferências e restrições associados a cada categoria de instrumento patrimonial. 80A. Se a entidade tiver reclassificado (a) um instrumento financeiro com opção de venda classificado como ins- trumento patrimonial, ou (b) um instrumento que impõe à entidade a obrigação de entregar à contraparte um valor pro rata dos seus ativos líquidos (patrimônio líquido) somente na liquidação da entidade e é classificado como instrumento patrimonial entre os passivos financeiros e o patrimônio líquido, ela deve divulgar o montante reclassificado para dentro e para fora de cada categoria (passivos financeiros ou patrimônio líquido), e o momento e o motivo dessa reclassificação. A seguir, na Figura 1, é apresentado o exemplo de uma nota explicativa real publicada em um jornal de grande circulação. É importante destacar que as notas explicativas são publicadas juntamente com as demais demonstrações contábeis, como o balanço patrimonial, porém está sendo apresentado na Figura 1 apenas as notas explicativas publicadas. 3Notas explicativas: conteúdo informativo e elaboração Fi gu ra 1 . E xe m pl o de n ot as e xp lic at iv as p ub lic ad as . Fo nt e: N ot as e xp lic at iv as (2 01 8, p . 1 9) . Notas explicativas: conteúdo informativo e elaboração4 O CPC PME (R1, CPC, 2009, p. 34–35) também determina as notas ex- plicativas, e em seus itens 8.2 a 8.7, da seção 8 tratam sobre o assunto, como se segue: 8.2 As notas explicativas devem: (a) apresentar informações acerca das bases de elaboração das demonstrações contábeis e das práticas contábeis específicas utilizadas, de acordo com os itens 8.5 a 8.7; (b) divulgar as informações exigidas por este Pronunciamento que não tenham sido apresentadas em outras partes das demonstrações contábeis; e (c) prover informações que não tenham sido apresentadas em outras partes das demonstrações contábeis, mas que sejam relevantes para compreendê-las. 8.3 A entidade deve, tanto quanto seja praticável, apresentar as notas ex- plicativas de forma sistemática. A entidade deve indicar em cada item das demonstrações contábeis a referência com a respectiva informação nas notas explicativas. 8.4 A entidade normalmente apresenta as notas explicativas na seguinte ordem: (a) declaração de que as demonstrações contábeis foram elaboradas em conformidade com este Pronunciamento; (b) resumo das principais práticas contábeis utilizadas (ver item 8.5); (c) informações de auxílio aos itens apresentados nas demonstrações con- tábeis, na ordem em que cada demonstração é apresentada, e na ordem em que cada conta é apresentada na demonstração; e (d) quaisquer outras divulgações. Divulgação das práticas contábeis 8.5 A entidade deve divulgar no resumo das principais práticas contábeis: (a) a base de mensuração utilizada na elaboração das demonstrações contá- beis; (b) as outras práticas contábeis utilizadas que sejam relevantes para a com- preensão das demonstrações contábeis. Informação sobre julgamento 8.6 A entidade deve divulgar, no resumo das principais práticas contábeis ou em outras notas explicativas, os julgamentos, separadamente daqueles envolvendo estimativas (ver item 8.7), que a administração utilizou no pro- cesso de aplicação das práticas contábeis da entidade e que possuem efeito mais significativo nos valores reconhecidos nas demonstrações contábeis. Informação sobre as principais fontes de incerteza das estimativas 8.7 A entidade deve divulgar, nas notas explicativas, informações sobre os principais pressupostos relativos ao futuro, e outras fontes importantes de incerteza das estimativas na data de divulgação, que tenham risco significa- tivo de provocar modificação material nos valores contabilizados de ativos e passivos durante o próximo exercício financeiro. Com respeito a esses ativos e passivos, as notas explicativas devem incluir detalhes sobre: (a) sua natureza; e (b) seus valores contabilizados ao final do período de divulgação. 5Notas explicativas: conteúdo informativo e elaboração Pode-se observar que a finalidade das notas explicativas é proporcionar aos usuários um melhor entendimento das demonstrações contábeis apresentadas, tendo um caráter de apresentar informações descritivas, informando critérios de avaliação, mudanças de políticas e práticas contábeis, detalhamento de grupos do balanço, como imobilizado, que podem ser objetos de análises mais específicas (PADOVEZE, 2017). Deve-se entender que as notas explicativas são complementares às demons- trações contábeis, ajudando a compreensão mais detalhada das demonstrações contábeis e do funcionamento da empresa, porém são fundamentais para a análise das demonstrações financeiras pelos usuários externos, uma vez que explicitam as práticas contábeis e os critérios que foram utilizados, além de evidenciar informações de itens que não estão reconhecidos nas demonstrações contábeis, mas que poderão impactar na tomada de decisão, sendo assim, uma ferramenta de cunho estratégico. Mesmo as notas explicativas exercendo papel complementar às demonstra- ções contábeis é obrigatória divulgação, pois em um mercado cada vez mais globalizado e competitivo, as empresas precisam ter uma maior consciência além de cumprir o que está estabelecido nas legislação vigentes, e ao mesmo tempo estabelecer um diferencial e se comunicar diretamente com seus usuá- rios externos, compreender suas necessidades e se elas estão sendo atendidas, assegurando que eles tenham acesso às informações que necessitam (SAIBA como as notas..., 2018). Junto com as demonstrações contábeis, além das notas explicativas, também é pu- blicado o relatório da administração, sendo este relatório um texto preparado pelos gestores da empresa para avaliar o desempenho da organização. Ele traz informações corporativas e setoriais relacionadas ao ramo de atividade, análise financeira e outras informações que a administração julga de interesse para os seus acionistas e público em geral. Também pode ser denominado relatório da diretoria. Fonte: Desenvolve SP (2019). Notas explicativas:conteúdo informativo e elaboração6 Características das informações contábeis e estrutura das notas explicativas Conforme as Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC) T. 1, que trata das características qualitativas das demonstrações contábeis, toda demonstração contábil deve ter atributos que tornem as demonstrações contábeis úteis para os usuários (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, 2008), como as listadas a seguir. � Compreensibilidade: todas as informações contábeis devem ser en- tendidas por todos os usuários, e para esse fim é preciso que usuários tenham um conhecimento razoável dos negócios, atividades econômicas e contabilidade, e a disposição de estudar as informações com razoável conhecimento. Mas mesmo que uma informação seja de difícil com- preensão, não deve ser excluída das informações contábeis. � Relevância: para serem úteis, as informações deve ser relevantes, ou seja, influenciar as decisões econômicas dos usuários, ajudando-os a avaliar o impacto de eventos passados, presentes ou futuros. � Materialidade: a relevância das informações é afetada pela sua natureza e materialidade. Ou seja, uma informação é material se a sua omissão ou distorção puder influenciar as decisões econômicas dos usuários, tomadas com base nas demonstrações contábeis. � Confiabilidade: para ser útil, a informação deve ser confiável, ou seja, deve estar livre de erros ou vieses relevantes e representar adequada- mente aquilo que se propõe a representar (CFC, 2008). Porém, para atender as quatro características mencionadas na NBC TG Estrutura Conceitual (CFC, 2008), a empresa também deve, segundo essa mesma norma, proceder com os seguintes critérios. � Representação adequada: para ser confiável, a informação deve re- presentar adequadamente as transações e outros eventos que ela diz representar. Ou seja, o balanço patrimonial deve representar adequa- damente a situação patrimonial da empresa na data da apresentação. � Primazia da essência sobre a forma: para que a informação represente corretamente é necessário que essas transações sejam contabilizadas de acordo com a sua essência e realidade econômica, e não meramente sua forma legal, ou seja, não basta seguir a lei, deve representar sua essência. 7Notas explicativas: conteúdo informativo e elaboração � Neutralidade: para ser confiável, a informação contida nas demons- trações contábeis deve ser neutra, isto é, imparcial, não induzindo o usuário para uma tomada de decisão. � Prudência: os preparadores de demonstrações contábeis se deparam com incertezas que inevitavelmente envolvem certos eventos e circuns- tâncias, tais como a possibilidade de recebimento de contas a receber de liquidação duvidosa, que devem ser apresentadas. � Integridade: para ser confiável, a informação constante das demons- trações contábeis deve ser completa, pois uma omissão pode tornar uma informação falsa. � Comparabilidade: os usuários devem poder comparar as demonstrações contábeis de uma entidade ao longo do tempo, evitando alterações de critérios e avaliações que possam distorcer essa comparação. Ou seja, as notas explicativas devem atender a esses quesitos. A CPC 26 (R1) aprovada pela Deliberação CVM nº 676/2011 (2011, documento on-line), estabelece o que segue: 112. As notas explicativas devem: (a) apresentar informação acerca da base para a elaboração das demonstrações contábeis e das políticas contábeis específicas utilizadas, de acordo com os itens 117 a 124; (b) divulgar a informação requerida pelos Pronunciamentos Técnicos, Orien- tações e Interpretações do CPC que não tenha sido apresentada nas demons- trações contábeis; e (c) prover informação adicional que não tenha sido apresentada nas demons- trações contábeis, mas que seja relevante para sua compreensão. 113. As notas explicativas devem ser apresentadas, tanto quanto seja praticável, de forma sistemática. Cada item das demonstrações contábeis deve ter referên- cia cruzada com a respectiva informação apresentada nas notas explicativas. Notas explicativas: conteúdo informativo e elaboração8 Santos e Veiga (2014) complementam que a ordem de apresentação das notas explicativas deve ser: 1. contexto operacional; 2. declaração quanto à base de preparação das demonstrações contábeis; 3. bases de avaliação de ativos e passivos e práticas contábeis aplicadas; 4. informações adicionais para itens apresentados nas demonstrações contábeis; 5. contingências e outras divulgações de caráter financeiro; 6. divulgações não financeiras, tais como riscos financeiros da entidade. Cabe ressaltar segundo Iudícibus e Marion (2009) que as notas explicativas podem ser complementadas por quadros analíticos suplementares, apresentados dentro das próprias notas. Tais quadros apresentam detalhamento de infor- mações, como composição e tipos de ação do capital social, taxas de juros e prazos de vencimento de empréstimo, garantias de longo prazo, composição do estoque e imobilizado, entre outras. Para Iudícibus e Marion (2009), são exemplos de informações contidas nos quadros analíticos: � Composição dos estoques: será apresentado os valores de matéria-prima, produtos em andamento, produtos acabados, material de embalagem, peças de reposição, almoxarifado, entre outros que a empresa possa vir a possuir. � Composição do imobilizado: serão apresentados valores de terrenos, edifícios, máquinas, veículos, a depreciação acumulada individualizada por bem, construções em andamento, importação em andamento, entre outros. � Projetos em execução: descrição dos projetos que estão em andamento, informando prazo de entrega, capacidade de produção, comparação entre custos estimados e custos reais, financiamentos para executar o projeto, entre outros. 9Notas explicativas: conteúdo informativo e elaboração O § 5º do art. 176 da Lei das Sociedades por Ações (BRASIL, 1976, docu- mento on-line) regula as notas que devem ser incluídas, que são: I — apresentar informações sobre a base de preparação das demonstrações financeiras e das práticas contábeis específicas selecionadas e aplicadas para negócios e eventos significativos; II — divulgar as informações exigidas pelas práticas contábeis adotadas no Brasil que não estejam apresentadas em nenhuma outra parte das demons- trações financeiras; III — fornecer informações adicionais não indicadas nas próprias demonstra- ções financeiras e consideradas necessárias para uma apresentação adequada; e IV — indicar: a) os principais critérios de avaliação dos elementos patrimoniais, especial- mente estoques, dos cálculos de depreciação, amortização e exaustão, de constituição de provisões para encargos ou riscos, e dos ajustes para atender a perdas prováveis na realização dos elementos do ativo; b) os investimentos em outras sociedades, quando relevantes (art. 247, pa- rágrafo único); c) o aumento de valor de elementos do ativo resultante de novas avaliações (art. 182, § 3º); d) os ônus reais constituídos sobre elementos do ativo, as garantias prestadas a terceiros e outras responsabilidades eventuais ou contingentes; e) a taxa de juros, as datas de vencimento e as garantias das obrigações a longo prazo; f) o número, espécies e classes das ações do capital social; g) as opções de compra de ações outorgadas e exercidas no exercício; h) os ajustes de exercícios anteriores (art. 186, § 1º); i) os eventos subsequentes à data de encerramento do exercício que tenham, ou possam vir a ter, efeito relevante sobre a situação financeira e os resultados futuros da companhia. O relatório da diretoria é aplicado em companhias de grande porte e de capital aberto. As demais companhias, conforme a legislação vigente, devem apresentar um relatório informando aos acionistas que, de acordo com a legislação e os estatutos sociais, estão sendo apresentadas as demonstrações contábeis. Fonte: Santos e Veiga (2014). Notas explicativas: conteúdo informativo e elaboração10 Informações constantes nas notas explicativas As notas explicativasnão possuem grandes complexidades em sua elabora- ção. A NBC TG 1000 (CFC, 2009) apresenta um passo a passo que deve ser considerado em sua elaboração. Ao elaborar o balanço patrimonial, a entidade deve apresentar as seguintes informações: 1. a classificação do ativo imobilizado da entidade; 2. demonstração dos valores do grupo contas a receber, destacando os valores relativos a partes relacionadas e recebíveis gerados por receitas não faturadas; 3. composição dos estoques da empresa, demonstrando separadamente seus valores relativos ao seu objetivo, isto é, mantidos para venda, produção ou bens de consumo; 4. os valores dos fornecedores e contas a pagar, demonstrando separa- damente os valores a pagar para fornecedores, partes relacionadas e encargos incorridos; 5. provisões para benefícios a empregados e outras provisões, como trabalhistas; 6. a composição do patrimônio líquido, destacando os grupos que o com- põe, como reserva de lucros. Caso a entidade tenha seu capital social na forma de ações, ou seja, so- ciedade anônima, a NBC TG (R1) 1000 (CFC, 2016) determina que entidade deve divulgar: 1. a quantidade de ações autorizadas; 2. a quantidade de ações subscritas, integralizadas e não integralizadas; 3. o valor nominal por ação; 4. ações que não tenham valor nominal; 5. descriminação da quantidade de ações em circulação no início e no fim do exercício; 11Notas explicativas: conteúdo informativo e elaboração 6. direitos, preferências e restrições associados a essas classes, incluindo restrições na distribuição de dividendos ou de lucros e no reembolso do capital; 7. ações da entidade em posse da própria entidade ou por controladas e coligadas; 8. ações reservadas para emissão em função de opções e contratos para a venda de ações, incluindo os termos e montantes; 9. descrição de cada reserva incluída no patrimônio líquido. Porém, caso a entidade tenha seu capital representado em forma de quo- tas, ou seja, sociedade limitada, deve divulgar informações equivalentes às exigidas pela Sociedade Anônima, isto é, descrever as alterações ocorridas no patrimônio líquido no exercício; descrição do ativo ou grupo de ativos e passivos; o valor contabilizado dos ativos ou o valor contabilizado desses ativos e passivos. Exemplos de dados divulgados em notas explicativas As notas explicativas são obrigatórias para todas as empresas de todos os portes, inclusive para pequenas e médias empresas, fazendo parte do conjunto completo do conjunto das demonstrações contábeis elaboradas (SANTOS; VEIGA, 2014). A seguir, no Quadro 1, são apresentados alguns exemplos de dados que obrigatoriamente devem contar nas notas explicativas, caso a entidade possua tais movimentações. Notas explicativas: conteúdo informativo e elaboração12 Fonte: Adaptado de Santos et al. (2015). Dados a serem divulgados Exemplos Políticas contábeis Avaliações utilizadas no ativo e passivo, como custo histórico, custo corrigido, valor de realização, valor justo ou valor recuperável. Fontes de incertezas das estimativas Alguns ativos e passivos exigem uma estimativa de efeitos incertos no futuro, como ausência de preços de mercado, passando a ser necessário estimar o valor recuperável de um imobilizado; obsolescência tecnológica nos estoques; provisões sujeitas a resultado de litígio no futuro. Capital Descrição de elementos qualitativos sobre as políticas de gestão do capital; objetivos monetários da gestão do capital. Outras divulgações Montante de dividendos propostos, quantidade de dividendo preferencial, forma jurídica de entidade, endereço da sede, natureza das operações, se é entidade constituída com tempo determinado ou não. Quadro 1. Exemplos de informações divulgadas em notas explicativas Acesse o link para saber mais a respeito das notas explicativas. https://qrgo.page.link/3EuH 13Notas explicativas: conteúdo informativo e elaboração Nota 01 — Sumários das práticas contábeis As principais práticas contábeis adotadas pela sociedade são: a) Estoques — são avaliados ao custo médio de aquisição ou de produção, estando reduzidos, mediante a provisão evidenciada ao valor de mercado ou de realização, quando inferiores ao custo. b) Ativo imobilizado — é registrado ao custo de aquisição ou construção, reduzido da depreciação acumulada. As depreciações são calculadas pelo método linear, com base em taxas que levam em consideração a vida útil econômica dos bens, segundo parâmetros estabelecidos pela legislação tributária ou com base em laudo técnico de peritos avaliadores. As taxas de depreciação são as seguintes: � edifícios: 4%; � máquinas, equipamentos, instalações e móveis: 10%; � veículos e equipamentos de informática: 20%. c) Investimento — as participações relevantes em coligadas e controladas são ava- liadas pelo método de equivalência patrimonial. As demais participações em outras sociedades são registradas pelo custo de aquisição menos a provisão para perdas permanentes. d) Empréstimo e financiamentos — são atualizados pelas variações monetárias in- corridas até a data do balanço, e os respectivos juros transcorridos devem estar provisionadas. As variações monetárias e os juros são apropriados em despesas financeiras. e) Impostos de rendas e contribuições sociais — são calculados e contabilizados com base nas alíquotas vigentes no exercício a que se referem as demonstrações contábeis. Nota 02 — Responsabilidade e contingências Devem ser relacionados e, se for o caso, comentados os processos, contingências fiscais e reclamações trabalhistas que envolvem responsabilidade contingente da empresa. Deve-se reservar uma provisão para riscos fiscais e outras contingências no valor correspondente à perda provável máxima no caso de resultado negativo nessa pendência. Nota 03 — Empréstimos e financiamentos Descrevem-se os empréstimos e financiamentos efetuados pela empresa para a execução de projetos e capital de giro, as entidades concessoras, a data de resgate, os juros praticados, as garantidas oferecidas e demais detalhes considerados relevantes. Nota 04 — Capital Faz-se uma demonstração da composição do capital social (número de ações ordinárias e preferenciais para sociedades anônimas, ou quotas para sociedades limitadas), valor nominal e da distribuição dos dividendos. Nota 05 — Ajuste de exercícios anteriores Relacionam-se as ações referente ao ajuste de exercícios anteriores e seus efeitos sobre as demonstrações contábeis do exercício. Fonte: Quintana (2009). Notas explicativas: conteúdo informativo e elaboração14 Todas essas informações, em conjunto com as demonstrações contábeis, compreendem um resumo das políticas contábeis aplicadas pela empresa, bem como necessárias para a avaliação da situação patrimonial, financeira e econômica da entidade por parte dos gestores, investidores e acionistas (SANTOS, VEIGA; 2014). BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Lei nº. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações. Brasília, DF: 1976. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6404compilada.htm. Acesso em: 17 abr. 2019. COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS (CVM). Deliberação CVM nº. 488, de 03 de outubro de 2005. Aprova o pronunciamento do IBRACON NPC n. 27 sobre Demonstrações Contábeis — apresentação e divulgações. Rio de Janeiro, 2005. Disponível em: http:// www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/deliberacoes/anexos/0400/deli488.pdf. Acesso em: 26 mar. 2019. COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS (CVM). Deliberação CVM nº. 496, de 03 de janeiro de 2006. Prorroga a entrada em vigor da Deliberação CVM nº. 488, de 03 de outubro de 2005, que aprovou o pronunciamento do IBRACON NPC nº. 27 sobre Demonstrações Contábeis — apresentação e divulgações. Rio de Janeiro, 2006. Disponível em: http:// www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/deliberacoes/anexos/0400/deli496.pdf. Acesso em: 26 mar. 2019. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Pronunciamento técnico CPC 26 (R1): apresentaçãodas demonstrações contábeis. 2011. Disponível em: http://static. cpc. aatb.com.br/Documentos/312_CPC_26_R1_rev%2013.pdf. Acesso em: 17 abr. 2019. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Pronunciamento técnico PME: conta- -bilidade para pequenas e médias empresas. 2009. Disponível em: http://static.cpc. aatb.com.br/Documentos/392_CPC_PMEeGlossario_R1_rev%2011_alt.pdf. Acesso em: 17 abr. 2019. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE — CFC. Normas Brasileiras de Contabilidade NBC T 1: estrutura conceitual para a elaboração e apresentação das demonstrações contábeis. Brasília, DF, 2008a. Disponível em: http://www.portaldecontabilidade.com. br/nbc/t1.htm. Acesso em: 17 abr. 2019. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE — CFC. Normas Brasileiras de Contabilidade NBC TG 1000: contabilidade para pequenas e médias empresas. Brasília, DF, 2009. Disponível em: http://www.portaldecontabilidade.com.br/nbc/NBC-TG-1000.htm. Acesso em: 17 abr. 2019. 15Notas explicativas: conteúdo informativo e elaboração CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE — CFC. Normas Brasileiras de Contabilidade NBC TG 1000 (R1), de 21 de outubro de 2016. Altera a NBC TG 1000 que dispõe sobre a contabilidade para pequenas e médias empresas. Brasília, DF, 2016. Disponível em: http://www.contabilistassl.com.br/s-n/noticias-descricao.php?id_=OTQ2NzU0ODA- -1NDI=&o=fc9dc22ccbf2965c1a1d85a3cbd28b7350bdb810c1e057a784da89fe6bfb 769aa23f5bc5b4ddf58276c13c4cb08b499dc9277c4de4570429963e77e6e9ebfc84. Acesso em: 17 abr. 2019. DESENVOLVE SP. Relatório da administração. Disponível em: https://www.desen-volvesp. com.br/institucional/transparencia/prestacao-de-contas/relatorio-da--administracao/. Acesso em: 17 abr. 2019. GELBCKE, E. R. et al. Manual de contabilidade societária: aplicável a todas as sociedades. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2018. IUDÍCIBUS, S.; MARION, J. C. Contabilidade comercial. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2009. NOTAS explicativas. Jornal do Comércio, 29 mar./01 abr. 2018. 2. Caderno, p. 19. PADOVEZE, C. L. Manual de contabilidade básica: contabilidade introdutória e inter- -mediária. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2017. QUINTANA, A. C. Fluxo de caixa: demonstrações contábeis — de acordo com a lei 11.638/07. Curitiba: Juruá, 2009. RIBEIRO, O. M. Contabilidade básica fácil. 29. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. SAIBA como as notas explicativas podem ser estratégicas na contabilidade da empresa. 2018. Disponível em: https://www.classecontabil.com.br/saiba-como-as-notas-explica- -tivas-podem-ser-estrategicas-na-contabilidade-da-empresa/. Acesso em: 17 abr. 2019. SANTOS, F. A.; VEIGA, W. E. Contabilidade: com ênfase em micro, pequenas, e médias empresas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014. SANTOS, J. L. et al. Manual de práticas contábeis: aspectos societários e tributários. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. Leituras recomendadas BOHRER IBAÑEZ, M. (coord.). Contabilidade para pequenas e médias empresas. 2. ed. Porto Alegre: CRCRS, 2011. Disponível em: http://www.crcrs.org.br/arquivos/livros/ livro_contabilidadePME.pdf. Acesso em: 17 abr. 2019. MONTOTO, E. Contabilidade geral e avançada esquematizado. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. NOTAS explicativas às demonstrações financeiras. Disponível em: http://www.portal- -decontabilidade.com.br/guia/notasexplicativas.htm. Acesso em: 17 abr. 2019. Notas explicativas: conteúdo informativo e elaboração16 CONTABILIDADE INTERMEDIÁRIA II Filipe Martins da Silva Demonstração de lucros ou prejuízos acumulados: ajustes e constituição de reservas Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Definir a demonstração de lucros ou prejuízos acumulados (DLPA). � Descrever os elementos que compõem a estrutura da demonstração de lucros ou prejuízos acumulados. � Explicar o impacto, no balanço patrimonial, da constituição e reversão de reservas, dos ajustes de exercícios anteriores e do reconhecimento da distribuição de lucros. Introdução Neste capítulo, você conhecerá a demonstração de lucros ou prejuízos acumulados (DLPA) e compreenderá como ocorre a sua movimentação, quais contas a compõem e a importância dos itens da sua compo- sição — como, por exemplo, dividendos, que é a remuneração dos acionistas e sócios das empresas. O lucro obtido pela empresa nem sempre é integralmente distri- buído; muitas vezes, ele é reinvestido na própria empresa. Através da DLPA, será possível acompanhar a movimentação do lucro e distinguir a sua destinação. Além disso, você também conhecerá, com base na legislação vigente, quais são as reservas de lucro que uma entidade pode criar, os seus objetivos, e de que forma a empresa pode calcular seus dividendos. O que é a demonstração de lucros ou prejuízos acumulados? Para um acionista que deseja conhecer a situação da empresa em que está investindo, quanto maior o número de informações, melhores e mais exatas serão as suas interpretações, conclusões e, consequentemente, as suas tomadas de decisões. Para isso, além do balanço patrimonial e da demonstração do resultado do exercício, a empresa conta também com a DLPA, que contribui para a compreensão da situação econômica e financeira da empresa, além de explicitar a destinação dos lucros da companhia. A DLPA tem por finalidade apresentar as movimentações ocorridas na conta de lucros ou prejuízos acumulados, evidenciando as alterações ocorridas no saldo desta conta. Uma vez que inúmeras operações que se processam nesta conta fazem com que o lucro líquido do exercício, constante da demonstração do resultado do exercício, seja diferente do saldo final da conta de lucros ou prejuízos acumulados, a DLPA constitui-se, então, imperativa na apresentação de tais modificações (GELBCKE et al., 2018). A conta de lucros ou prejuízos acumulados, apresentada pela DLPA, pode ser obtida também pela demonstração das mutações do patrimônio líquido, a qual inclui uma coluna específica para evidenciar as movimentações que transitaram pela conta de lucros ou prejuízos acumulados. Segundo Padoveze (2017), a DLPA tem por objetivo apresentar as seguintes informações: � os lucros ainda não distribuídos ou transferidos; � os lucros ou prejuízos ocorridos no exercício; � as transferências para reservas e lucros distribuídos; � a absorção dos prejuízos de exercícios anteriores por novos lucros; � os prejuízos acumulados de exercícios anteriores não absorvidos por lucros. O art. 286 do Decreto nº. 9.580, de 22 de novembro de 2018, determina a obrigatoriedade da apuração da DLPA: Ao fim de cada período de apuração, o contribuinte deverá apurar o lucro líquido por meio da elaboração, em observância às disposições da lei comer- cial, do balanço patrimonial, da demonstração do resultado do período de apuração e da demonstração de lucros ou prejuízos acumulados (BRASIL, 2018, documento on-line). Demonstração de lucros ou prejuízos acumulados: ajustes e constituição de reservas2 Em seu item 6.5, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) PME define que a DLPA deve conter: (a) lucros ou prejuízos acumulados no início do período contábil. (b) dividendos ou outras formas de lucro declarados e pagos ou a pagar du- rante o período. (c) ajustes nos lucros ou prejuízos acumulados em razão de correção de erros de períodos anteriores. (d) ajustes nos lucros ou prejuízos acumulados em razão de mudanças de práticas contábeis. (e) lucros ou prejuízos acumulados no fim do período contábil (CPC, 2009, p. 35). O CPC-PME (R1) complementa, em seu item 3.18, que se as únicas alterações no patrimônio líquido durante os períodos para os quais as demonstrações contábeis são apresentadas derivarem do resultado, de distribuição de lucro, de correção de erros de períodos anteriores e de mudanças de políticas contábeis, a entidade pode apresentar a DLPA no lugar da demonstração do resultado abrangente (DRA) e da demonstração das mutações do patrimônio líquido (MONTOTO, 2018). O § 2º do art. 186 da Lei nº. 6.404, de 15 de dezembro de 1976 (BRASIL, 1976),